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Full text of "Corpo diplomático portugues, contendo os actos e relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo desde o século 16 até os nossos dias"

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3 

CIHU'O  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


CONTENDO 


lü 

DE  PORTUGAL 

COM  AS  DIVERSAS  POTENCIAS  DO  MUNDO 
DESDE  0  SECULO  XYI  ATÉ  OS  NOSSOS  DÍAS 

PUBLICADO 


DE 


ORDEM  DA  ACADEMIA  REAL  DAS  SCIEM1AS  DE  LISROA 


POR 


LUIZ  AUGUSTO  REBELLO  DA  SILVA 


TOMO   III 

s 


LISROA 

TYPOGRAPHIA  DA  ACADEMIA  REAL  DAS  SCIENCIAS 
M  DCCC  LXVIII 


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t.3 


CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTLGLEZ 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA 


REINADO  DE  D.  JOAO  III 


CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTl'GUEZ 

CONTENDO 

OS  ACTOS  E  RELA0ES  POLÍTICAS  E  DIPLOMÁTICAS 

DE  PORTUGAL 

COM  AS  DIVERSAS  POTENCIAS  DO  MUNDO 


A, 


.braca  o  lerceiro  Tomo  do  Corpo  Diplomático  Porlvguez,  que  hoje 
damos  á  estampa,  um  periodo  de  quatro  annos  apenas,  desde  1534  alé 
dezembro  de  1538,  mas  um  periodo  tao  interessante  para  a  hisloria  in- 
terna, e  para  a  historia  da  Europa  em  geral,  que  estes  quatro  annos  de 
seguidas  e  laboriosas  negociacoes  bem  podem  representar  pelo  seu  vulto 
decadas  inteiras  de  relacoes  ociosas,  ou  esteréis.  O  assumpto  mais  discu- 
tido entre  Portugal  e  a  Curia,  aquelle,  que  a  nossa  corte  anlepunha  a  to- 
dos os  que  seus  ministros  versavam  na  mesma  época  em  Roma,  foi  ainda 
o  do  estabelecimenlo  da  inquisicao.  D.  Joao  ni  e  o  seu  conselho  nao  des- 
cansaran] nunca  de  o  suscitar,  e  seus  agentes  empregavam-se  com  egual 
ardor  e  excessivo  zélo  em  vencer  as  repugnancias  e  os  obstáculos,  que  a 
cada  passo  Ihes  Ievantavam  as  diligencias  dos  chrislaos  novos  ameaca- 
dos,  -e  o  apoio,  nao  gratuito,  dos  protectores,  que  tinham  conseguido 
attrahir. 

Publicamos  no  volume  antecedente  os  documentos  relativos  á  con- 
cessao  da  primeira  bulla,  que  erigiu  no  reino  o  Tribunal  da  Fé.  Seguiu-se 
a  leí  de  14  de  junho  de  1532,  promulgada  em  Setubal,  a  qual,  fechando 
as  portas  do  paiz  aos  conversos,  que  o  queriam  deixar,  foi  como  um  fa- 
eno sinistro,  que  veiu  ¡Iluminar  a  voragem  aberta  debaixo  de  seus  pés, 

tomo  ni.  A 


revelando-Ihes  a  extensao  do  perigo.  A  rapidez  quasi  incrivcl,  com  que 
a  communicacao  da  lei  chegou  a  todos  os  ángulos  do  reino,  mostrava- 
Ihes,  além  d'isso,  que  suas  provisóes  nao  ficariam  em  letlra  moría.  O  ter- 
ror da  gente  de  raca  hebrea  devia  ser,  e  foi  na  realidade  profundo,  ven- 
do-se  repentinamente  encerrada  no  paiz,  como  dentro  de  urna  vasta  pri- 
sáo,  e  exposla  sem  defeza  á  malevolencia  popular,  de  que  recebéra  cruen- 
tas provas  nos  tumultos  de  Lisboa,  reinando  D.  Manuel,  ñas  desordens  de 
Gouveia,  e  ñas  perseguicóes  de  Olivenca  perpetradas  no  governo  de  seu 
filho.  O  odio  e  a  avareza  de  maos  dadas  nao  Ihes  promelliam  quartel,  e 
as  violencias  anteriores  inculcavam-lhes  claramcnle  o  que  deviam  esperar 
do  soberano.  Por  isso,  persuadidos,  de  que  a  inquísicao  significaría  para 
elles  em  um  porvir  próximo  a  morle  e  a  ruina,  como  o  eslava  sendo  para 
seus  irmaos  no  resto  da  Peninsula,  os  mais  previdentes  e  audazes  inlen- 
laram  esquivar-se  á  sorte,  que  os  aguardava,  mudando  de  patria,  e 
optando  pelo  exilio. 

A  vigilancia  das  auctoridades  reaes  frustrou  as  tentativas  de  muitos, 
castigando-as  severamente,  e  a  residencia  de  Portugal  lornou-se-lhes  tao 
insupporlavel,  que  reputavam  preferivel,  diziam  elles,  viver  na  Turquía  e 
alé  na  companhia  dos  demonios.  Em  tao  dolorosa  exlremidade  restava-lhes 
sómente  um  recurso.  Era  appellarem  para  a  Curia  romana,  visto  que  os- 
tensivamente lodo  o  negocio  se  resumía  n'uma  questao  religiosa.  Adopta- 
do este  ultimo  alvilre,  enviaram  a  Roma  o  homem,  que  suppozeram  mais 
apio  para  aproveilar  em  sua  defeza  as  armas  poderosas,  confiadas  d'elle, 
armas,  que  principalmente  consistiam  nos  avullados  cabedaes,  de  que  os 
conversos  associados  e  organisados  podiam  valer-se  com  largueza.  Esse 
homem  foi  Duarle  da  Paz,  cavalleiro  da  Ordena  de  Christo  por  seus  ser- 
vicos  em  África,  aonde,  ao  que  parece,  perderá  um  olho.  Ousado,  acti- 
vo, astucioso,  eloquente,  e  sem  escrúpulos,  o  procurador  da  gente  he- 
brea possuia  os  dotes  mais  eííicazes  para  rcalisar  na  Curia  ocommellimen- 
lo,  de  que  os  seus  o  encarregaram. 

Presidia  entáo  na  cadeira  de  S.  Pedro  o  Papa  Clemente  vn,  da 
casa  de  Mediéis.  Desde  que  as  negociacoes  para  o  estabelecimento  da  in- 
quisicao  haviam  lomado  mais  calor  a  corle  pontificia  conhecéra,  que  a 
presenca  de  um  homem  digno  de  confianca  e  revestido  do  carácter  de 
nuncio  era  absolutamente  necessaria  em  Portugal,  mas  vacíllou  muitos 
mezes  na  escolha.  Foi  por  fim  nomeado  Marco  Tigerio  della  liuvere,  bispo 


—  VII  — 

de  Sinigaglia,  o  qua!,  parlido  de  Roma  por  fins  de  maio  de  1532  já  se 
achava  no  reino  em  principios  de  outubro  do  mesmo  anno.  Por  sua  parte 
D.  Joño  ni,  quasi  pelo  mesmo  lempo,  Iraciava  de  substituir  o  seu  embaixa- 
dor  junto  á  Curia,  Braz  Nello,  por  pessoa  que  melhor  podesse  represen- 
tar suas  inlencoes,  e  que  fosse  capaz  de  envidar  com  energía  e  destreza 
os  esforcos  precisos  para  sustentar  a  nova  instituidlo  combatida  pelos 
christaos  novos.  Mereceu  a  preferencia  para  esta  melindrosa  missao  D. 
Marlinho  de  Portugal,  cujo  passado,  pelo  menos  na  apparencia,  afiancava  a 
mais  excessiva  intolerancia,  e  que  a  experiencia  provou  depois  ser  ho- 
mem  capaz  de  ludo,  mesmo  de  alraicoar  a  lealdade  devida  ao  soberano  e  á 
propria  consciencia.  I).  Martinho  conhecia  praticamenle  a  Curia  e  o  modo 
de  traclar  com  ella  os  negocios,  e  gosava  de  sufficiente  conceito  em  Roma. 
O  arcebispado  do  Funchal,  confirmado  por  Clemente  vu,  foi  a  recom- 
pensa com  que  o  monarcha  lhe  premeou  os  servicos  prestados,  procuran- 
do estimular  ao  mesmo  tempo  o  seu  zelo  para  de  futuro  os  realcar  aínda 
mais.  D.  Martinho  saiu  do  reino  nos  últimos  mezes  do  anno,  e  só  de- 
pois de  Janeiro  de  1533  é  que  nos  consta  haver  chegado  a  Roma. 

A  escolha  dos  tres  agentes,  que  acabamos  de  apontar,  nao  satisfez  a 
todos  os  intentos  dos  que  os  enviavam,  pelo  menos  os  dos  hebreus,  e  os  da 
corte  porlugueza.  Sinigaglia  pelo  seu  carácter  artificioso,  dúctil,  e  sem  ne- 
nhum  escrúpulo  era  de  cerlo  muí  adequado  para  grangear  os  inleresses  ro- 
manos e  os  proprios,  aproveitando  as  queíxas  e  as  lucias  inevitaveis  desde 
que  principiasse  a  inquisicao,  e  mesmo  anles,  para  tirar  vanlagem  da  de- 
pendencia do  rei  e  dos  conversos,  toreados  pela  propria  posicao  a  recor- 
rerem  frequenles  vezes  ásua  influencia.  Roma  tanto  podia  negociar  com  o 
oppulento  grupo,  que  invocava  a  tolerancia  disposto  a  remuneral-a,  como 
com  o  gremio  exclusivo  e  implacavel  dos  fanáticos,  que  advogavam  a  per- 
seguicao  com  os  olhos  no  céu  e  a  alma  mergulhada  na  cubica.  Inclinán- 
dole hoje  para  uns  e  ámanha  para  outros,  e,  obrigando  os  menos  fa- 
vorecidos a  multiplicar  as  diligencias,  conquistarla  dobrado  vigor  para  a 
intervencao  pontificia  sem  contar  a  gratidao  generosa  dos  que  triumphas- 
sem.  O  novo  nuncio  tomou  esla  politica  hábilmente  vacillante  por  norma, 
segundo  se  deprehende  dos  fados,  e  os  christaos  novos,  seguindo  as  en- 
tradas mais  sabidas  d'aquelle  animo,  depressa  alcancaram  ¡nsinuar-se 
na  sua  benevolencia.  As  riquezas,  que  possuiam,  a  imminencia  do  peri- 
go,  e  os  pactos  ¡lucilos  e  simoniacos  celebrados  em  sua  casa,  que  Marco 

A* 


della  Rovere  nao  receiava  lancar  nos  registros  da  nunciatura  sem  lemor 
de  futuras  accusacóes,  tudo  nos  denuncia,  que  a  proteccao  do  agente  ro- 
mano nao  devia  ser  gratuita.  Para  lhe  elevar  inais  o  valor  o  astuto  minis- 
tro affeclou  por  algum  lempo  absoluta  imparcialidade. 

Duarte  da  Paz,  pela  sua  parle,  linha-se  estreado  com  exilo,  e  os  (ru- 
cios já  ha\iam  comecado  a  responder  ás  esperanzas  dos  que  tinham  en- 
tregado em  suas  maos  a  propria  sorte  e  a  das  familias.  D.  Joao  m  foi  avi- 
sado pelo  cardeal  Sanliqualro,  Antonio  Pucci,  do  que  os  conversos  Ira- 
mavam,  mas,  caso  singular,  nao  só  nao  mandara  as  instruccóes^  pedidas 
por  Pucci,  auctorisando-o  a  rebaler  os  esforcos  de  Duarte  da  Paz,  como, 
parccendo  adormecer  depois  do  triumpho,  nem  ao  cardeal,  nem  ao  embai- 
xador  enviara  resposta  alguma.  Ignoram-se  as  causas  de  tilo  extraordina- 
rio silencio,  mas,  como  aflirma  o  sr.  A.  Herculano,  cujo  livro  admiravel 
estamos  resumindo,  nao  é  diííicil  conjecturar,  que  a  mesma  chave  oc- 
culta,  que  em  Roma  alcancara  devassar  todos  os  segredos  e  abrandar  as 
resistencias  mais  tenazes,  serviría  dentro  do  paiz  para  paralysar  os  con- 
selheiros  de  um  rei,  que  nada  sabia,  ou  potlia  fazer  sem  o  auxilio  d'elles. 
Ao  mesmo  tempo  por  outra  coincidencia  rara  freí  Diogo  da  Silva,  nomea- 
do  inquisidor  geral  por  proposta  da  nossa  corle,  quasi  na  hora,  em  que 
se  cuidava  da  execucao  das  provisoes  da  bulla  da  inquisicao,  declinou 
as  responsabilidades  do  encargo,  e  sua  renuncia,  tornando  indispensavel 
nova  nomeacao  e  urna  nova  bulla,  veiu  aggravar,  por  isso,  de  um  modo 
notavel  todas  as  didiculdades.  Conlribuiriam  os  christaos  novos  para  esle 
resultado  tao  útil  á  sua  causa?  Se  contribuirán),  a  inspiracao  foi  assás 
feliz.  N'aquelle  momento  o  que  mais  lhes  imporlava  era  demorar  a  exe- 
cucao da  bulla  de  17  de  dezembro,  e  a  recusa  de  D.  Diogo  da  Silva 
preenchia  csse  fim  inleiramente. 

Em  quanlo  D.  Joao  ni  pela  sua  inexplicavel  inaccao,  e  pela  opposicao 
occulla,  ou  manifesla  dos  elementos,  de  que  julgára  dispór,  se  vía  assim 
embaracado,  causavam  profunda  sensacao  no  espirito  de  Clemente  vil  as 
allegacoes  de  Duarte  da  Paz.  Urna  d'ellas,  principalmente,  a  despeito  de 
quaesquer  artificios  dialécticos,  era  de  si  mesma  lao  evidente,  que  urna 
consciencia  recta  e  um  juizo  claro  nao  podiam  deixar  de  a  altender.  Re- 
ferimo-nos  ao  argumento  deduzido  da  conversao  forcada  dos  judeus  por- 
luguezes.  A  lei  de  1  i  de  junho,  vedando  a  saida  do  reino  e  convertendo-o 
em  prisáo  da  gente  hebrea,  rematara  aquelle  acervo  de  atrocidades.  Na 


—  IX  — 

supplica  do  reí  ao  Papa  para  obler  o  cslabelecimenlo  da  inquisicao,  a  chan- 
cellaría de  D.  Joao  m  puzcra  o  maior  cuidado  em  nao  al  ludir,  nem  de 
longe,  áquelle  fado,  calando  com  a  mesma  pouca  lealdade  as  promes- 
sas  solemnes  de  D.  Manuel  revalidadas  por  seu  filho,  quando  ambos  as- 
seguraram  ás  victimas  moderacao  e  tolerancia.  Eslas  circumslancias,  que 
deslruiam  pela  base  os  fundamentos  da  supplica,  ministrando  mais  do  que 
um  protesto  plausivel,  offereciam  razoes  sobejas  para  a  bulla  de  17  de 
dezembro  ser  revogada,  ou  suspensa  pelo  menos  até  novo  e  mais  sincero 
exame. 

Foi  a  resolucao  que  o  Papa  abracou,  e  o  breve  de  17  de  oulubro  de 
1532,  dirigido  ao  nuncio  Sinigaglia,  firmou-se  n'ella  para  declarar  sem 
effeito  temporariamente  a  bulla  de  17  de  dezembro  e  quaesquer  diplomas 
pontificios  concernentes  ao  mesmo  assumplo,  sem  que  se  enlendesse  por 
isto,  que  a  Santa  Sé  desamparava  a  idea  de  proceder  de  um  modo  exce- 
pcional contra  os  offensores  das  doutrinas  catholicas. 

Duarle  da  Paz  lograra,  pois,  derrubar  o  primeiro  e  o  mais  forte 
obstáculo,  mas  reslava-lhe  obter  outra  concessao  mais  valiosa  ainda,  se 
é  possivel.  Era  o  perdao  absoluto  e  pleno  de  todos  os  culpados  de  erros 
contra  a  fé,  perdao  que  devia  despojar  a  nova  instituicao  de  lodo  o  effeito 
retroactivo.  Esta  segunda  prelensüo,  communicada  por  Braz  Neto  e  San- 
liquatro,  ainda  nao  conseguirá  quebrar  o  silencio  inexplicavel  de  D.  Joao  m, 
e  o  astuto  procurador  dos  christaos  novos,  que  provavelmente  conlava 
com  elle,  e  nao  ignorava  talvez  as  suas  causas,  redobrou  de  esforcos,  se- 
nhor  do  campo,  alé  decidir  a  maioria  dos  membros  influentes  do  Sacro 
Gollegio  a  prolegerem  Yertamente  a  causa  dos  conversos.  O  proprio  Puc- 
ci,  illudido,  esculou-o  a  principio  com  favor. 

D.  Marlinho  de  Portugal,  entrando  em  Roma,  veiu  encontrar  as  cou- 
sas já  tao  adiantadas  que  dilficÜmente  poderia  lisonjear-se  de  fazer  retro- 
gradar os  prósperos  resultados,  que  Duarle  da  Paz  com  tanta  arte  sou- 
bera  propiciar.  O  novo  embaixador  recebera  instruecóes  escripias  assás 
extensas,  mas  nao  se  descobre  n'ellas  urna  só  palavra  acerca  da  inquisicao. 
Procedía  a  inaecáo  da  forca  do  mesmo  poder  oceulto,  a  que  alludimos, 
e  que  parece  ter  sido  um  dos  meios  eííicazes  de  salvacao  para  os  christaos 
novos?  É  plausivel  e  até  natural  esta  hypothese.  O  que  nao  devia  sel-o, 
e  que  se  deu,  foi  que  o  procurador  dos  conversos,  ao  passo,  que  traba- 
lhava  activamente  no  bom  desempenho  da  sua  missao  tractasse  ao  mes- 


mo  lempo  de  se  congraear  com  elrei  pouco  depois  de  expedido  o  breve 
de  17  de  outubro,  encelando  com  elle  urna  correspondencia  secreta,  e, 
escrevendo  com  egual  fim  ao  seu  valido  o  conde  da  Caslanheira ;  o  que 
parece  incrivel  é  que  endurecido  em  deslealdades  e  dissimulacóes  ven- 
desse  a  ambos  os  segredos  dos  chrislaos  novos,  que  intentavam  fugir  de 
Portugal.  Nao  podia  tambem  suppor-se,  que  D.  Marlinho  de  Portugal, 
por  todas  as  razoes  inculcado  como  o  mais  enérgico  e  resoluto  campeao 
da  intolerancia  da  corte,  travasse  occullamenle  relacoes  com  Duarle  da 
Paz,  eacabassepor  trahir  os  interesses,  que  lora  incumbido  de  sustentar. 
Todavía  assim  o  attestam  os  documentos  e  por  um  modo  irrecusavel.  A 
corrupcao  immensa,  que  n'aquella  época  minava  a  sociedade,  explica  se- 
melhantes  rasgos  de  cynismo  e  de  venalidade,  embora  excedam  ludo  o 
que  a  imaginacao  mais  ardente  possa  fanlasiar. 

Estes  foram  os  termos,  em  que  o  'Lomo  II  do  Corpo  Diplomático 
Portuguez  deixou  as  nossas  negociacoes  com  a  Curia.  O  estabelecimento 
da  inquisicáo  suspenso,  mas  com  a  clausula  explícita,  de  que,  dadas  cer- 
tas circumstancias,  a  concessao  pontificia  do  Tribunal  da  Fé  se  renova- 
ría;  Duarte  da  Paz,  trahíndo  peranle  elrei  a  causa  que  defendía,  e  ao 
mesmo  tempo  suslentando-a  peranle  o  collegio  cardínalicio  com  a  insis- 
tencia do  perdao  geral.  Sinigaglia  principiando  a  abrir  os  ouvídos  ás  quei- 
xas  dos  conversos,  e  provocando  as  iras  dos  fanáticos ;  finalmente,  D. 
Marlinho  de  Portugal,  chegado  a  Roma  já  tarde,  nao  só  para  atalhar  a 
expedicao  do  breve  de  17  de  outubro,  Días  para  se  oppor  alé  á  bulla  de 
7  de  abril  pela  qual  o  Papa  concederá  o  perdao  geral  solicitado  pelos 
chrislaos  novos,  eis  o  estado  das  relacoes  até  ao  fim  do  anno  de  1533, 
anno  lao  pouco  favoravel,  como  o  anterior,  ao  éxito  das  pretensoes  de 
D.  Joao  ni  e  dos  admiradores  da  política  ultra  religiosa. 

Abre-se  o  Tomo  III  com  a  carta  de  D.  Joao  ni  a  Clemente  vir, 
acreditando  junto  d'elle  a  D.  Henrique  de  Menezes,  nomeado  nos  ullimos 
mezes  de  1534  em  missao  extraordinaria  para  juntamente  com  D.  Mar- 
linho de  Portugal  tractar  do  estabelecimento  do  Santo  Ofíicio  e  da  revo- 
gacao  do  perdao  geral.  Um  projecto  de  instruccoes  passadas  aos  dois  em- 
bajadores, c  os  aponlamentos  mandados  redigir  por  elrei  sobre  a  forma 
porque  desejavaque  fosse  expedida  a  nova  bulla  da  inquisicáo,  aeompa- 
nham  aquella  envialura.  Vé-se  que  o  monarcha,  obedecendo  á  necessida- 
de,  e  por  fim  acordado  do  somno  de  uns  poucos  de  annos,  rompe  o  si- 


—  XI  — 

!enc¡o,  depois  táo  exprobrado  por  Sanliqualro,  e  busca  restaurar  os  ne- 
gocios mais  do  que  arriscados  pela  sua  inaccao.  Ñas  instruccoes  a  corte  por- 
tuguezaqueíxava-se  da  Curia,  e,  eslranhando-lhea  volubilidade,  altenuava 
o  facto  da  conversao  forcada  com  exemplos,  e  mandava  insinuar  clara- 
mente a  Clemente  vn  ser  voz  publica  em  Portugal,  que  as  provisoes  con- 
trarias á  inquisicao  haviam  sido  obra  de  avultadas  peitas.  Nos  aponla- 
mentos  offerecia  elrei  ao  Papa  urna  verdadeira  transaccao,  propondo  mo- 
dificacoes,  nao  quanlo  a  idea  fundamental  da  instiluicao  do  Tribunal  da 
Fé,  mas  quanto  ao  modo  de  elle  se  regular  nos  primeiros  actos. 

Munido  d'eslas  instruccoes,  dos  apontamentos,  e  de  cartas  para  Santi- 
quatro  e  para  o  Papa,  D.  Henrique  de  Menezes  chegou  a  Roma  em  feve- 
reiro  de  1534,  e  logo  com  o  seu  collega  e  com  o  cardeal  Pucci  se  occupou 
do  assumpto,  de  que  vinha  encarregado.  A  forca  de  supplicas  e  de  ins- 
tancias os  tres  obtiveram  a  revisao  da  materia,  e  alcancaram  que  fosse 
commeltida  de  novo  aos  cardeaes  De  Cesis  e  Campeggio  homens  de  prova- 
da  sciencia  no  conceilo  do  Papa,  os  quaes  deviam  discutil-a  com  Sanliqua- 
tro  e  os  representantes  do  governo  portuguez,  assislindo  como  consultores 
ás  conferencias  theologos  e  canonistas  eminentes.  A  longa  exposicao,  publi- 
cada a  paginas  11  com  o  titulo  de  «allegacoes  proposlas  pelos  embaixa- 
dores  contra  a  bulla  do  perdao  geral  »,  e  redigida  em  harmonía  com  as  ins- 
truccoes vocaes  e  escripias  dadas  a  D.  Henrique,  serviu  de  base  aos  de- 
bates. Protrahiram-se  estes  por  muitos  dias,  empregando-se  de  parte  a 
parte  as  maiores  diligencias  para  ganhar  a  victoria ;  mas  a  grande  maio- 
ria  dos  cardeaes  e  das  pessoas  influentes  na  Curia,  apesar  dos  esforcos 
incessantes  do  cardeal  prolector  (Pucci),  e  dos  dois  embaixadores,  e  a  des- 
peito  das  cartas  de  Carlos  v  ao  Pontífice,  recommendando  vivamente  o 
negocio,  moslrou-se  inclinada  a  indulgencia,  e  a  política  de  tolerancia 
triumphou. 

Os  theologos,  que  linham  entrado  ñas  conferencias  refutaram  os  ar- 
gumentos da  exposicao  porlugueza  em  urna  extensa  dissertacao,  e  em  urna 
memoria,  e  as  duas  defezas  da  bulla  de  7  de  abril  estampadas  a  paginas  11 
e  19,  corlaram  pela  raíz  todas  as  esperancas  de  favoravel  solucao.  O  mais 
que  os  nossos  ministros  poderam  alcancar  foi,  que  o  breve  de  2  de  abril, 
expedido  para  compellir  D.  Joao  ni  a  aquiescer  á  bulla  do  perdao  geral, 
saisse  mais  suave  na  forma,  do  que  se  achava  redigido  na  primeira  mi- 
nula.  D.  Henrique  de  Menezes  desgostoso  pedíu  a  elrei,  que  o  mandasse 


—  XII  — 

recolher  por  ser  inútil  sua  prescnca  em  Roma,  avisando-o  ao  mesmo 
tempo  do  melindroso  estado  da  saude  do  Papa ;  mas  D.  Joao  ni,  cuja 
obslinacao  nao  esmorecia  com  as  contrariedades,  nao  só  nao  atienden  a 
supplica,  como  enviou  aos  embaixadores  outro  projecto  de  inslruccoes  se- 
gundo as  allegacóes  dos  letrados  porluguezes,  e  novos  aponlamentos  para 
serem  apresentados  ao  Ponlifice,  os  quaes  damos  a  paginas  90,  93,  e  111 
d'este  volume.  Estes  papéis  revelam  a  insistencia  e  o  calor,  com  que  a 
nossa  corle  entao  procurava  remediar  o  mau  resultado  dos  erros  e  negli- 
gencias commettidas. 

D.  Marlinho  de  Portugal,  elevado  á  dignidade  de  Primaz  do  Oriente, 
e  opposlo  quasi  sempre  em  opinioes  ao  seu  collega,  escrevéra  tambem  a 
elrei,  dando-lhe  conla  do  mau  éxito  da  ncgociacao,  e  sustentando  que 
elle  devia  altribuir-se  a  ter  sido  invocado  o  auxilio  de  Castella  contra  seu 
parecer,  aclo,  que,  nlío  trazendo  vantagem  de  vulto  ao  negocio,  servirá  só 
para  o  divulgar.  D.  Henrique  via  as  cousas  por  diverso  modo,  approvára 
a  inlervencao  de  Carlos  v,  e  ainda  nao  perdóra  de  lodo  as  esperaneas.  A 
variedade  de  votos  dos  dois  embaixadores  nascia  da  diversidade  dos  cara- 
cteres e  da  diíTerenca  das  posicoes.  D.  Marlinho,  astuto  e  hábil,  desejava 
prolongar  a  lucia  para  realisar  á  sombra  d'clla  seus  designios  ambiciosos, 
alcancando  o  bárrele  cardinalicio.  Duarte  da  Paz,  ja  ligado  com  elle  n'esta 
época  por  lacos  misteriosos  lucrava,  egualmente,  em  que  a  decisao  defi- 
nitiva se  demorasse  pelos  proventos  e  pela  importancia,  que  d'ahi  lhe  re- 
sultavam.  A  communhao  de  interesses  approximára  provavelmenle  o  mi- 
nistro de  Portugal  do  agente  dos  conversos.  Clemente  vn,  fallecendo,  fez 
mudar  o  aspecto  das  cousas,  perturbando  os  cálculos  e  manejos  tene- 
brosos de  ambos. 

A  saude  do  Papa  declinara  desde  a  sua  volla  de  Marselha,  e  elle  mes- 
mo se  mostrava  convencido,  de  que  a  morte  vinha  perlo.  O  estío  exacer- 
bou-lhe  os  padecimenlos.  Nao  era,  porém,  a  velhice,  que  lhe  cavava  o 
túmulo,  pois  contava  cincoenta  e  seis  annos  apenas.  Suspeilou-se  até  um 
envenenamento,  porque  a  Curia  delestava-o,  os  principes  nao  coníiavam 
n'elle,  e  sua  repulacao  era  geralmenle  má,  passando  por  tímido,  avaro,  e 
desleal.  Compensavam  estes  defeilos  as  qualidades  de  sagaz,  de  atilado,  e 
de  circumspeclo.  Nínguem  proferia  juizo  mais  seguro,  quando  o  temor,  ou 
as  paixoes  o  nao  assombravam.  Em  julho  repulavam-o  moribundo,  e  as 
semanas  decorridas  desde  esse  mez  atéseptembro,  em  que  expirou,  foram 


—  XIII  — 

para  elle  urna  longa  agonia.  Já  no  leito  da  dór,  quando  o  mundo  lhe  fu- 
gia  e  a  eternidade  se  avisinhava,  a  sos  com  a  verdade  e  com  a  conscien- 
cia  é  que  mandou  expedir  o  breve  de  26  de  julho,  pelo  qual  ordenou  a 
Sinigaglia,  que  fizesse  vigorar  a  bulla  de  7  de 'abril,  e,  se  a  nossa  corte 
oppozesse  obstáculos  insuperaveis  á  sua  publicaeiio,  que  absolvesse  os 
culpados  de  todas  as  penas  canónicas  impostas  nos  tribunaes  eclesiás- 
ticos. 

A  carta  escripia  a  elrei  por  D.  Henrique  de  Menezcs  acerca  do  con- 
clave e  das  probabilidades  da  sua  escolha  é  expressiva  pela  sinceridade 
rude.  Tinham  comecado  os  enredos,  e  so  a  13  de  oulubro  saiu  eleito  o 
cardeal  Alexandre  Farnese,  decano  do  Sacro  Collcgio,  com  o  nome  de 
Paulo  m.  A  pintura  do  novo  Pontifice,  feita  pelo  arcebispo  D.  Martinho 
no  despacho  de  1  i  de  marco  de  1535,  estampado  a  pagina  181  d'este  vo- 
lume,  pode  passar  por  um  retrato  acabado.  O  Papa,  nobre  e  rico  aspi- 
rara a  grandes  reformas,  nao  se  conhecia  pessoa  capaz  de  o  influir,  e 
resolvía  ludo  pela  propria  opiniao.  Tractava  os  embaixadores  com  menos 
considerado,  e  a  seus  olhos  valia  mais  um  cardeal,  do  que  todos  os  mi- 
nistros estrangeiros  juntos.  Tinha  e  merecía  a  reputacao  de  incurrupli- 
vel,  e  estabelecéra  como  regra  o  rcspeito  dos  actos  do  seu  antecessor. 
Cioso  em  extremo  da  aucloridade  e  regalías  da  Sé  Apostólica  nao  hesi- 
taría em  quebrar,  fosse  a  que  principe  fosse,  os  privilegios  offensivos  dos 
direitos  da  Curia. 

Paulo  ni,  apesar  de  pouco  fácil  em  conceder  audiencias  aos  embaixa- 
dores, escutou  por  varias  vezes,  logo  depois  da  sua  accessao,  o  conde 
de  Gifuentes,  enviado  de  Carlos  v,  Santiquatro,  D.  Martinho  de  Portugal, 
e  D.  Henrique  deMenezes;  mas  depois  de  os  ouvir  a  todos  limitou-se  a  or- 
denar urna  nova  informacao,  e  nada  deliberou  decisivamente.  As  inslruc- 
coes  recentes  de  D.  Joao  ni,  a  que  alludimos,  haviam  chegado  a  Roma  a  24 
de  septembro,  vespera  da  morle  de  Clemente  vn,  e  o  cardeal  Pucci  to- 
mara a  peilo  com  grande  ardor  a  defeza  da  corte  de  Portugal.  Sairam  esta 
vez  seus  esforcos  na  apparencia  menos  infelizes.  Cedendo  em  parte  o  Papa 
mandara  redigir  um  breve  para  suspender  a  bulla  de  7  de  abril,  e  em  ou- 
tro,  enderecado  a  elrei,  adverlia-lhe,  que  instituirá  urna  commissao  en- 
carregada  de  estudar  maduramente  o  assumpto,  devendo  abster-se  no  em- 
tanlo  os  inquisidores,  e  até  os  ordinarios  de  qualquer  procedimenlo  con- 
tra os  suspeilos,  ou  accusados  de  heresia.  Paulo  m  reconduziu  interina- 

TOMO  III.  b 


—  XIV  — 

menle  Sinigaglia  no  cargo  de  nuncio,  e  incumbiu-o  do  cumprimenlo  d'es- 
tas  provisóes. 

Os  coramissarios  escolhidos  pelo  Pontífice  para  rever  a  queslao  fo- 
ram  o  bispo  milivilano  Jeronymo  Ghinucci,  auditor  da  Cámara  apostó- 
lica, e  o  bispo  pisauricnse  Jacobo  Simonetta,  auditor  da  Rola,  ambos  pou- 
cos  mezes  depois  elevados  ao  cardinalato.  Em  urna  inslruccao  secreta  D. 
Joao  in  linha  auclorisado  os  seus  embaixadores  a  transigí rem  se  nao  fos- 
sem  plenamente  aceitas  as  modificacoes  propostas ;  mas  a  transaccao  era  só 
quanto  aos  relapsos  admiltidos  ao  beneficio  de  segunda  reconciliacao.  Em 
suas  cartas  ao  Papa,  abslendo-se  de  discutir  a  materia,  elrei  só  pedia  que 
nao  se  Ihe  rejeilassem  as  ultimas  bases  apresentadas,  e  pedia-o  pura  e  sim- 
plesmenle  como  graca  especial  da  Santa  Sé.  Esperava  a  nossa  corte  que 
Roma  cedesse,  mas  ordenava,  caso  succedesse  o  contrarío,  que  os  dois 
ministros  o  avisassem  logo  para  lhes  expedir  novas  inslruccoes,  recom- 
mendando,  que  se  Carlos  y  protegesse  outra  vez  o  negocio,  tractassem 
ludo  sempre  com  o  seu  embaixador  junto  da  Curia,  nao  recusando  ne- 
nhurn  servico  d'elle  bom,  ou  mau.  Nao  esqueceu,  egualmente,  avivar  o 
zélo  dos  cardeaes,  que  linham  favorecido  a  causa  da  chancellaría  portu- 
gueza,  escrevendo-Ihes  D.  Joao  m  para  mais  os  allrahir  aínda. 

No  seio  da  commissao  Sanliqualro,  notado  de  fallar  peitado  em  fa- 
vor da  nossa  corte,  empregou  todas  as  diligencias  para  que  ella  prevale- 
cesse ;  mas  Ghinucci,  que  havia  composlo  e  impresso  um  livro  em  de- 
feza  dos  christaos  novos,  e  que  sendo  nuncio  em  Castella  contemplara 
de  perlo  as  atrocidades  do  Tribunal  da  Fé,  nao  duvida\a  patrocinar  aber- 
tamente  a  causa  dos  conversos.  O  conde  de  Cifuenles,  como  enviado  de 
Carlos  v,  envidou  toda  a  sua  preponderancia  para  que  as  razoes  de  D. 
Joao  iu  fossem  atlendidas.  Reslava  o  auditor  Simonetta,  cuja  probidade 
e  sciencia  parecem  inconcussas,  c  este,  como  fiel  da  balanca,  conservou- 
se  sempre  ¡mparcial  e  desapaixonado.  Ouviu  a  commissao  em  varias  con- 
ferencias os  argumentos  dos  embaixadores,  concedendo  sempre  vista  de 
todas  as  suas  allegacoes  a  Duarte  da  Paz,  cujas  exterioridades  zelosas 
nunca  se  desmenliram.  No  meio  das  discussoes  suscitadas  o  destro  he- 
breu  apresentou  de  súbito  treslados  aulhenlicos  dos  diplomas,  em  que  D. 
Manuel  e  seu  filho  haviam  afiancado  aos  christaos  novos  sua  tolerancia, 
e  certidoes  dos  teslemunhos  dados  em  favor  d'elles  pelo  bispo  de  Silves 
D.  Fernando  Coutinho.  O  golpe  foi  decisivo.  Ghinucci  e  Simonetta  emmu- 


—  XV  — 

deceram  Santiqualro  e  os  embaixadores,  observando-lhes,  que  se  moslras- 
sem  a  falsidade  d'estes  documentos  por  si  mesma  cairia  a  defeza  dos  con- 
versos, mas  que  se  a  authencidade  dos  diplomas  nao  podesse  ser  contes- 
tada, a  corle  de  Roma  nao  podia  tomar  sobre  si  a  accao  odiosa  de  invali- 
dar os  effeitos  da  clemencia  dos  principes  portuguezes. 

As  conclusoes  que  a  commissao,  em  harmonía  com  estas  ideas,  ad- 
optou  como  base,  foram  quanto  ao  perdao  geral,  a  dislinccao  entre  os  ju- 
deus  convertidos  á  forca  por  D.  Manuel,  e  os  que  nao  podessem  allegar 
violencia.  Os  primeiros  nao  deviam  ser  considerados  como  relapsos  se  de- 
pois  de  indultados  reincidissem  ;  os  segundos  sel-o-iam.  Acerca  da  execu- 
cáo  da  bulla  de  7  de  abril  admittiam  que  fosse  encarregada  a  um  indivi- 
duo designado  pelo  rei,  mas  so  no  caso  de  nao  estar  ainda  publicada, 
porque,  estando-o,  deveria  vigorar  e  ser  juiz  executor  o  nuncio.  Por  ulti- 
mo, quanto  á  inquisicao  concordavam  em  que  se  sustenlasse,  porém  com 
duas  modificacoes  importantes  —  a  de  nao  exislirem  carceres  incommu- 
n  i  cavéis  por  espaco  de  oito  annos,  e  a  de  perlencerem  durante  doze  os 
bens  dos  sentenciados  a  seus  legítimos  herdeiros  christaos.  Levadas  estas 
decisoes  ao  conhecimento  do  Papa  renovaram  os  agenles  de  Portugal  suas 
instancias  auxiliados  pelo  embaixador  de  Carlos  v,  mas  em  vao.  Simo- 
nelta,  cuja  austeridade  de  principios  era  acalada,  conseguiu  fazer  respei- 
tar  o  seu  voto,  e  o  mais  que  D.  Marlinho  e  D.  Henrique  poderam  alean- 
car  fo¡  que  o  Papa,  resíabelecido  o  Tribunal  da  Fé,  reduzisse  os  dois  pra- 
zos  de  oito  e  doze  annos  a  sete  e  a  dez,  e,  mesmo  quanto  a  esta  derra- 
deira  concessao,  a  corte  de  Roma  nao  a  afiancou,  senao  reservando  para 
si  a  apreciacao  da  legítimidade  dos  confiscos  depois  de  expiraren)  os  dez 
annos.  Os  documentos  relativos  a  tíio  renhida  e  embaracosa  negociacao 
encontram-se  n'este  volume  desde  paginas  163  até  paginas  176  e  desde 
paginas  190  alé  paginas  202. 

Duarte  da  Paz  e  os  protectores  dos  christaos  novos  redobraram  tam- 
bem  por  seu  lado  os  esforcos  para  attenuarcm  os  effeitos  do  reslabeleci- 
mento  da  inquisicao,  e  Paulo  m  attendeu-os  geralmenle  em  parte.  A  in- 
fluencia do  procurador  dos  conversos  crescia,  pois,  e  era  necessario  dar 
em  Roma  urna  demonslracao  publica  de  desaggravo  contra  elle.  D.  Joao  n 
prescreveu  ao  arcebispo  D.  Marlinho  que  o  exauctorasse  do  habito  de 
Christo ;  mas  o  prelado  nao  o  fez,  ignoramos  porque,  e  D.  Henrique  de 
Menezes,  propondo-se  cumprir  as  novas  instruecóes  recebidas  a  este  res- 

B* 


—  XVI  — 

pello  nunca  pode  ¡Iludir  lambcm  a  ardileza  do  agcnle.  Na  impossibili- 
dáde  de  se  vingar,  o  embaixador  aconselhava  irado,  que  o  governo  per- 
seguissc  c  alemorisassc  em  Portugal  os  chefes  dos  chrisláos  novos,  que 
subminislravam  o  dinheiro,  de  que  se  valiam  junio  da  Curia  os  scus  de- 
fensores.  Ao  mcsmo  tempo  Sanliqualro  e  D.  Marlinho  de  Portugal  infor- 
mavam  a  nossa  corto  das  rcsolucocs  definitivas  do  Pontífice,  procurando 
fazer-lhe  concebor  claramente  o  verdadeiro  estado  das  cousas,  e  conven- 
cel-a  de  que  nenhum  d'elles  tinha  esquecido  meio  a'gum  de  promover  o 
triumpho.  D.  Henriquo  do  Menezes,  mais  áspero  e  violento,  nao  encu- 
bría no  seu  despacho  a  magoa  e  o  despeito ;  insistía  pela  demissao  por- 
que eslava  saciado  do  desprezos  o  humilhacocs ;  e,  referindo-se  á  Curia 
e  á  importancia  de  Duarle  da  Paz  perante  ella,  acrescenlava,  fallando  dos 
oardeaes,  «que  nao  eral»  principes,  nem  nada,  mas  peiores  que  merca- 
dores  o  belforinheiros,  e  que  nao  valiam  tres  reaes  prelos ;  homens  sem 
educacao,  que  se  moviam  só  pelo  medo,  ou  pelo  interesse  pessoal,  por- 
que do  espiritual  nao  curavam  nunca.»  Discorrendo  por  ultimo  sobre  o 
syslema  mais  opporluno  a  seguir,  ¡embrava  dous  arbitrios  —  negar  clrei 
a  obediencia  ao  Papa,  como  a  Inglaterra,  ou  aceitar  a  inquisicao  como  Iba 
oíTereciam,  o  proceder  o  novo  tribunal  com  juslica  e  moderacao,  porquo 
d'esle  modo  fácil  seria  depois  obler-se  tudo.  Estas  curiosissimas  confiden- 
cias, assim  como  o  breve  de  17  de  marco  de  1535  ínter  cadera,  com- 
municando  a  elrci  as  dccisOes  da  Santa  Sé,  e  enviando-lhe  copia  d'cl- 
l.is,  e  o  breve  Dudum  postquam,  commetlendo  ao  nuncio  Sinígaglia  a 
execuciío  da  bulla  de  7  de  abril,  lambem  se  acham  publicadas  n'esle 
tomo  desdi:  paginas  177  alé  paginas  220. 

Nao  se  ignorava  em  Boma,  que  a  bulla  de  7  de  abril  já  Iiavia  sido 
notificada  BOA  prelados  porluguezes,  e  por  isso  as  modificantes  da  mi- 
nula,  que  devia  subslituil-a,  nao  pasea va m  de  simples  a  ppa  rancia,  e  tanto 
o  sabia  a  Curia,  que  pelo  mesmo  oorreio,  era  que  remellia  a  minuta  ao 
nuncio,  avisando-o  de  <jue  o  Papa  i n deferirá  as  prelensoes  dos  cmbaixa- 
dores  de  Portugal,  I  lio  ordenava  quo  executasso  a  bulla,  c  considerasse 
como  anoullado  o  brevo,  que  suspendía  os  seus  cíTeitos.  Esla  conlradíc- 
cfo,  que  poderla  qualiflcar-ee  com  motivo  de  dobrez,  ó-nos  explicada  pe- 
las nariarücs  dos  christáos  novos.  As  impaciencias  do  fanatismo  naviera 
ministrado  DOVOfl  pretextos  a  (toma  para  favorecer  os  conversos.  Os  des- 
pachos de  Sinigaglia,  chegados  no  momento  mais  critico  da  negociadlo, 


—  XVII  — 

relalavam  o  que  succedera  era  Portugal  desde  as  primeiras  providencias 
de  Paulo  m.  Longe  de  obedecer  ao  breve  de  26  de  novembro,  soltando 
os  individuos  presos  nos  carceres  da  inquisicao,  a  nossa  corte  ordenara 
novas  arrestacoes.  A  resistencia  aberta  irritou  o  Papa,  e  Paulo  m  em  suas 
inslruccoes  ao  nuncio  exigiu  de  elrei  a  declaracao  calhegorica  da  aceita- 
cao,  ou  da  recusa  das  condicoes  com  que  determinara  auclorisar  o  res- 
tabelecimento  do  Santo  Oíu'cio,  insistindo,  egualmenle,  pela  revogacao  da 
lei  de  14  de  junho  de  1532,  que  inhibía  aos  christaos  novos  a  saida  do 
reino.  Dois  breves,  um  dirigido  a  elrei,  outro  ao  infante  D.  Alfonso,  si- 
gnificaran] a  ambos  o  desgoslo  e  estranheza  da  Santa  Sé  em  virtude  dos 
actos  praticados  contra  suas  prescripcoes. 

Os  conversos  nao  se  descuidavam  entretanto  de  suscitar  obstáculos 
ao  accordo  definitivo  sobre  a  queslao  entre  Roma  e  Portugal.  Nos  fins  de 
abril  de  1535  redigiam  elles  urna  obrigacao,  pela  qual  se  compromettiam 
a  dar  ao  papa  trinla  mil  ducados  se  este  accedesse  ás  proposlas  anne- 
xadas  ao  contracto.  Assignaram  a  obrigacao  os  dois  chefes  da  gente  he- 
brea Thomé  Serrao  e  Manuel  Mendes.  Sinigaglia,  consultado  por  elles, 
encarregou-se  de  levar  o  papel  ao  conhecimento  do  Pontífice,  o  que  eflecti- 
mente  cumpriu  no  primeiro  de  marco  d'aqnelle  anno.  Ao  mesmo  lempo 
comecavam  as  ultimas  communicacoes  de  Roma  a  produzir  em  Portugal  a 
sensacao,  que  era  de  esperar.  Declarado  o  governo  em  opposicao  clara  con- 
tra o  nuncio  impedia-o  de  execular  as  instruccoes  recebidas,  e  D.  Joao  m 
mandava  examinar  allenlamente  as  proposlas  definitivas  da  corte  de  Roma. 
Os  fautores  da  intolerancia  vacillaram  por  um  momento,  parecendo  in- 
clinados a  promessas  de  indulgencia  para  suster  a  emigracaio  dos  conver- 
sos, e  alé  a  um  accordo  com  elles  para  desarmar  em  Roma  suas  ins- 
tancias; mas  recobrando-se  logo  do  primeiro  desalentó,  optaram,  por 
meios  enérgicos,  renovando  a  lei  de  14  de  junho  de  1532,  e  arremes- 
sando  assim  a  luva  ás  faces  do  Pontífice,  que  exigía  a  sua  revogacao. 
O  resenlimenlo  do  Papa,  avivado  pelas  sombrías  cores,  com  que  o  nun- 
cio lhe  pintava  o  que  se  esta  va  passando  em  Portugal,  respondeu  ás 
provocacoes  com  o  breve  de  20  de  julho  Cum  sicut,  pelo  qual  conce- 
deu  aos  christaos  novos  a  liberdade  dos  reus  nomearem  quem  quizessem 
para  seus  advogados,  ou  procuradores,  reconhecendo-lhes  além  d'isso  o 
direíto  de  sair  do  paiz,  quando  lhes  aprouvesse,  direilo  que  D.  Joao  m 
lhes  negara. 


—  xvín  — 

Entretanto,  apesar  de  decidida  a  nao  aceitar  as  proposlas  da  Curia, 
e  a  nao  recuar,  nem  por  isso  a  nossa  corle  resolverá  suspender  os  meios 
diplomáticos,  embora  confiasse  pouco  no  resultado  d'elles.  EIrci  escrevendo 
n'este  sentido  a  seus  embaixadores,  mandou  que  elles  exigissem  a  remo- 
cao  de  Sinigaglia,  cuja  residencia  em  Portugal  reputara  damnosa  pelas 
perturbacoes,  que  suscitara,  e  prescrcvia-lhes  no  caso  do  Papa  nao  a 
facilitar  promptamente,  que  lhe  apresenlassem  contra  o  seu  represen- 
tante os  capítulos  de  queixa  que  remetlia.  Quanto  ás  minutas  das  novas 
bullas  do  perdao  e  da  inquisicao  subministrara  aos  seus  agentes  pretex- 
tos para  estes  poderem  prolrahir  indefinidamente  os  debates.  Por  ultimo 
concluía,  que,  certificando  sempre  ao  Pontífice  a  sua  obediencia,  mesmo 
na  hypolhese  de  Roma  nao  ceder,  empregassem  as  maiores  diligencias 
para  demorar  por  mais  tres  mezes  a  negociaeao,  mas  de  modo  que  nao 
se  desconfiasse  d'isso.  Os  documentos,  que  referem  todas  estas  circum- 
slancias  foram  inseridos  desde  paginas  225  até  paginas  239  do  presente 
volume,  e  a  carta  de  Sinigaglia  acerca  da  obrigacao  dos  trinta  mil  cruza- 
dos offerecidos  ao  Papa  pelos  conversos  acha-se  a  paginas  290. 

O  motivo  por  que  D.  Joao  ni  recommendára  a  demora  de  tres  me- 
zes na  prosecucao  dos  debates,  era  porque  tratava,  como  o  ineuleam 
os  fados  posteriores,  de  obter  a  influencia  irresistivel  de  Carlos  v  na  oc- 
casiao,  em  que  o  imperador  havia  de  vir  a  Roma  resolver  os  graves  assum- 
ptos,  que  entiio  preoecupavam  a  Europa,  mas  o  negocio  da  inquisicao,  em 
vez  de  parar,  precipilou-se.  A  irritacao  do  Papa  e  a  má  vonlade  de  Si- 
monetta  e  Ghinucci  contra  o  governo  porluguez  eram  grandes,  e  urna 
decisao  a  favor  dos  conversos  nao  podía  tardar.  De  feilo,  com  a  data  de 
12  de  outubro  foi  redigido  o  breve  Illius  mees,  o  qual,  suavisando  aínda 
as  provisóes  da  bulla  de  7  de  abril,  mandava  cessar  todos  os  processos 
pelo  crime  de  heresia,  tanto  no  foro  secular,  como  no  ecclesiaslico,  sol- 
tando os  presos,  revocando  os  desterrados,  facultando  a  entrada  da  pa- 
tria aos  foragidos,  e  suspendendo  os  confiscos.  Quanto  aos  reusjulga- 
dos  pela  inquisicao  obrigava-os  á  abjuracao  perante  qualquer  sacerdole, 
mas  eximia-os  de  penitencia  publica,  e  ordenara  que  fossem  restituidos 
á  liberdade.  O  que  mais  devia  espantar  n'esta  resolucíio  era  a  acquies- 
cencia  de  D.  Martinho  de  Portugal,  o  qual  a  oceultas  de  Sanliquatro, 
e  de  D.  ílcnrique  de  Menezes  instara  com  o  Pontífice  pela  publicacao 
d'estc  perdao  assim  pleno  como  único  meio  de  terminar  as  conlendas 


—  XIX  — 

entre  a  nossa  corte  e  a  Curia.  Entretanto  o  procedimenlo  do  astuto  pre- 
lado explica-se  perfeilamente  pelo  seu  caracler.  Trabalhára  com  ardor  por 
alcancar  a  realisacao  das  promessas  de  Clemente  vn,  na  concessiio  da 
purpura  cardinalicia,  e  acreditava  ler  obtido  o  resultado  de  seus  desi- 
gnios. D.  Henrique  de  Menezes,  advertido  de  suas  relaeoes  secretas  com 
Duarte  da  Paz,  e  dos  esforcos  envidados  para  conseguir  o  cardinalalo, 
seguira-lhe  os  passos,  e  avisara  elrei  do  que  se  Iramava. 

Nao  contente  com  islo  o  nosso  embaixador  apenas  se  avistou  com 
Santiquatro  soube  arrancar-lhe  o  segredo  dos  meneios  occultos  do  seu 
collega,  decidindo-o  a  oppor-se  ao  éxito  da  prelensao  já  a  essa  hora 
muito  adiantada.  Conformes  ambos  n'este  ponto  informaram  D.  Joao  ni 
das  intrigas  do  arcebispo,  pedindo-lhe  profundo  segredo.  D.  Marlinho, 
em  quanto  elles  eslavam  absorvidos  em  contrariar  suas  ambiciosas  es- 
peranzas, aproveitando  o  ensejo,  apressara  a  promulgacao  do  breve  de  12 
d'oulubro  de  modo,  que  tanto  Pucci,  como  o  embaixador  extraordinario 
sómente  averiguaram  com  certeza  a  sua  existencia  na  vespera  d'clle  ser 
affixado.  Mallogrados  assim  todos  os  esforcos,  e  perdida  a  questao  prin- 
cipal, a  residencia  de  D.  Henrique  tornava-se  em  Roma  assás  perigosa, 
porque  o  seu  collega  suspeilara,  ou  descobrira  o  que  havia  praticado 
contra  elle.  Requerendo,  pois,  de  elrei  sua  prompta  retirada  de  urna 
corle,  aonde  faltava  a  seguranca  pessoal,  e  tudo  se  fazia  sem  rebueo 
por  dinheiro,  o  ministro  nao  duvida  revelar  explícitamente  os  tractos  se- 
cretos do  arcebispo  com  Duarte  da  Paz  e  a  parcialidade  manifesta  do  Papa 
pelos  conversos.  Vejam-se  as  correspondencias  e  diplomas  publicados  desde 
paginas  254  alé  paginas  280. 

O  breve  Illius  mees  desanimara,  entretanto,  os  fautores  da  inquisicao, 
o  vulgo,  e  o  proprio  D.  Joao  m.  Abrangendo  no  perdao  geral  todos  os  reus 
de  judaismo  concedia-lhes  o  praso  de  um  anno  para  se  aproveitarem  do 
beneficio  de  suas  provisoes,  o  que  annullava  virtualmenle  o  Tribunal  da 
Fé ;  mas  o  desalentó  da  corte  durou  pouco.  Contrariado  pela  Curia,  trahido 
por  D.  Martinho  de  Portugal,  e  receioso  de  o  ver  elevado  ao  cardinalato, 
hombreando  com  os  infantes,  D.  Joao  m  depressa  creou  animo  e  novos 
brios.  A  impotencia  de  lodos  os  recursos  empregados  até  entao  mostra- 
va-lhe,  que  a  única  alavanca  capaz  de  alluir  e  de  arrancar  os  obstáculos  era 
a  vontade  omnipotente  de  Carlos  v.  Decidido  a  obler  em  seu  favor  a 
intervencao  do  cunhado  elrei  entrou  deliberadamente  n'este  caminho,  e 


—  XX — 

nao  omitliu   nada  do  que  o  podía  ajudar   a  trilhal-o  com    firmeza   e 
va  n  la  ge  m. 

O  arcebispo  do  Funchal  fo¡  chamado  pela  posta  a  Lisboa  com  o  pre- 
texto de  ministrar  informacoes  exactas  acerca  do  estado  dos  negocios,  e 
leve  de  sair  de  Roma  por  meiados  de  dezembro.  D.  Henrique  de  Mene- 
zes  recebeu  instruecóes  para  se  encaminhar  a  Ñapóles,  aonde  Carlos  v 
liavia  chegado,  e  para  conferir  com  o  imperador  sobre  o  modo  op- 
porluno  de  alcancar  o  reslabclecimento  da  inquisicao.  O  nosso  embaixa- 
dor  junto  á  corle  de  Castella,  Alvaro  Mendes  de  Vasconcellos,  tambem 
recebeu  ordem  para  coadjuvar  o  seu  collega  de  Roma,  devendo  ambos 
acompanhar  Carlos  v  á  capital  do  orbe  calholico,  quando  partisse  de  Ña- 
póles, aproveitando  todas  as  conjuncturas  de  adiantar  a  pretensao,  re- 
duzida  para  maior  facilidade  aos  termos  de  obter  do  Papa  acerca  do  per- 
dao  e  da  organisacao  do  Tribunal  da  Fé  o  mesmo  que  se  achava  esta- 
belecido  em  Castella.  O  imperador  tinha  promettido  auxiliar  elrei  e 
moslrou-se  diligente.  O  conde  de  Cifuenles  comecou  pedindo  a  revoga- 
cao  da  bulla  de  12  d'outubro,  e  Carlos  v  escreveu  a  Pier  Ludovico,  filho 
do  Papa,  exigindo  seus  bons  officios  para  o  mesmo  effeito.  Paulo  ni  redar- 
guiu  estar  disposto  a  concordar  no  que  aos  dois  principes  aprouvesse  quanlo 
á  materia  da  inquisicao,  mas  quanlo  ao  perdao  disse  que  resolverá  nao  ce- 
der. Esta  resposla  avivou  as  esperancas  dos  nossos  ministros,  que,  unidos 
com  o  secretario  de  eslado  hespanhol  Covos,  convenceram  o  nuncio  de 
Ñapóles  Paulo  Vergerio,  já  instado  pessoalmenle  pelo  imperador,  a  inter- 
vir  perante  a  sua  corle  para  as  maiores  diíüculdades  se  aplanarem,  o  que 
ludo  consta  das  correspondencias  de  Alvaro  Mendes  de  Vasconcellos  e  de 
D.  Henrique  de  Menezcs  a  paginas  283,  286  e  288  do  presente  volume. 

A  avareza  dos  conversos  n'esle  meio  lempo  veiu  duplicar  a  forca  a 
todas  estas  poderosas  influencias.  Os  peiores  adversarios  da  sua  causa 
n'aquelle  momento  foram  lalvez  os  proprios  christaos  novos.  Respirando 
com  a  suspensao  das  perseguicoes,  quando  Sinigaglia  exigiu  d'elles  o 
cumprimento  dos  contractos  occultos  ajustados  e  das  promessas  feitas  em 
Roma  por  Duarle  da  Paz,  responderán)  com  evasivas,  invectivando  con- 
tra o  seu  procurador,  e  jurando  que  nao  podiam  pagar  o  que  elle  aíian- 
cára.  Marco  della  Rovere  intenlou  persuadir-lhes,  que  pelo  menos  se  des- 
culpassem  com  a  insuficiencia  de  cabedaes,  mas  nem  isso  mesmo  alcan- 
cou.  Prestando-se  ao  pagamento  de  cinco  mil  escudos  negaram-se  a  ludo 


—  XXI  — 

o  mais,  e  um  cTelles,  mestre  Iorge  de  Evora,  até  chegou  a  confessar  o 
pació  a  elrei.  Notando  a  obstinacao  dos  chefes  da  gente  hebrea,  o  nuncio 
concluía  a  sua  carta  de  1  de  marco,  dizendo  que  se  elles  insislissem,  nao 
se  assegurando  a  peso  de  ouro  de  quem  podia  salval-os,  cumpria  provar- 
Ihes  que  eram  loucos,  arrancando  santa  e  justamente  a  mascara.  Assim 
o  demasiado  apego  as  riquezas  desarmava  os  conversos  na  occasiao  mais 
critica.  O  effeilo  da  carta  de  Sinigaglia  foi  decisivo  contra  elles,  especial- 
mente quando  Santiquatro  e  Alvaro  Mendes  acabavam  de  promelter  di- 
nheiro  ao  proprio  Papa,  promessa  nao  cumprida,  e  que  Paulo  m  teve  o 
brio  de  nunca  recordar. 

O  primeiro  acto,  que  denunciou  as  vantagens  obtidas  pelos  fautores 
da  inquisicao  foi  a  exoneracao  de  Ghinucci  da  junta  consultiva  encarre- 
gada  do  exame  da  queslao,  na  qual  foi  substituido  pelo  cardeal  prolector 
de  Portugal,  Pucci,  ao  mesmo  tempo  juiz  e  parle.  Simonetta,  illudido, 
deixou-se  vencer,  e  por  fim  a  23  de  maio  de  1535  saiu  da  chancella- 
ría romana  a  bulla,  que  insliluiu  definitivamente  a  inquisicao,  annullando 
na  essencia  a  de  12  d'outubro,  embora  affectasse  respeilal-a  na  appa- 
rencia.  As  clausulas  d'este  documento  importante  constam  do  seu  texto, 
que  damos  a  paginas  302. 

No  meio  do  triumpho  a  corle  de  Portugal  no  principio  quiz-se  in- 
culcar moderada.  No  dia  22  d'outubro  de  1535  é  que  foi  publicada  so- 
lemnemente a  bulla  Cum  ad  nihil  magis,  porque  a  aceilacao  do  cargo 
de  inquisidor  mor  pelo  bispo  de  Ceuta  so  a  5  do  mesmo  mez  se  ve- 
rificara. O  Papa  e  Santiquatro  haviam  recommendado  muilo  a  elrei  a 
maior  prudencia,  especialmente  quanto  aos  chrislaos  novos  violentados 
a  receber  o  baptismo,  e  parece  que  D.  Joao  m,  satisfeilo  o  capricho 
offendido,  se  conformou  com  os  bons  conselhos.  O  bispo  de  Ceuta  em  20 
de  novembro  publicou  o  monitorio,  que  regulava  o  systema  das  dela- 
cóes  acerca  dos  crimes  contra  a  pureza  da  fe,  monitorio,  que  a  poucos 
deixaria  a  esperanca  de  poderem  escapar  á  malevolencia  geral ,  mas  os  ef- 
feilos  no  principio  nao  corresponderam  á  grandeza  e  intensidade  da  ameaca. 
A  corte  devia  receiar  que  suas  violencia  dessem  forca  ás  represen tacóes 
dos  conversos  em  Roma,  e  os  hebreus  porluguezes,  cheios  de  terror  com 
o  edital  do  inquisidor  mor,  tinham  procurado  minorar  o  perigo,  promet- 
iendo a  elrei,  que  nenhum  christao  novo  fugiria  do  paiz  com  a  familia  e 
os  bens  movéis  se  sua  alteza  alcancasse  do  Papa  a  prorogacao  por  mais 

TOMO  III.  c 


—  XXII  — 

um  anno  do  prazo  concedido  na  bulla  de  12  d'outubro.  A  proposta  nao 
foi  aceila,  mas  influiu  de  certo  na  suavidade  relativa,  observada  durante 
o  tempo  que  o  bispo  de  Ceuta  exerceu  o  cargo. 

Entretanto,  principiaran!  a  soar  em  Roma  as  allegacoes  dos  conver- 
sos contra  o  eslabelecimenlo  do  Tribunal  da  Fe,  contra  a  escolha  dos 
primeiros  inquisidores,  e  contra  a  forma  de  processo  adoptada.  O  nuncio 
Marco  dejla  Rovere  protegía  em  Roma  estas  queixas,  e  conseguirá  até 
peitar  Ambrosio  Riculcati,  secretario  particular  do  Papa,  e  oulras  pes- 
soas  influentes.  Ao  mesmo  tempo  expunha  o  prelado  italiano  ao  Pontífice 
com  vivas  cores  os  inconvenientes  das  ultimas  concessoes  feitas  por  motivos 
politicos.  Paulo  ni  temía  indispor  contra  si  Carlos  v  e  D.  Joao  m,  mas 
as  suggeslóes  dos  que  o  rodeavam  faziam-o  vacillar.  Para  sair  da  perple- 
xidade  tomou  o  arbitrio  de  nomear  os  cardeaes  Ghinucci  e  Jacobacio, 
incumbindo-os  de  examinaren)  se  a  bulla  de  23  de  maio  devia  ser  mo- 
dificada. A  nomeacao  de  Ghinucci  era  indicio  evidente,  de  que  a  política 
da  Curia  tomava  nova  direccao.  A  presenca  de  Sinigaglia  ñas  conferen- 
cias tinha  egual  significacao.  O  resultado  foi  declararen)  os  dois  cardeaes, 
que  a  bulla  havia  sido  indevidamente  concedida,  e  convenceren)  Paulo  m 
da  necessidade  de  remediar  o  mal.  Para  encelar  o  caminho  decidiu  a 
corte  pontificia  enviar  novo  nuncio  a  Portugal,  e  escolheu  o  protonotario 
Jeronymo  Ricenali  Capodiferro,  cujo  breve  de  nomeacao  expediu  a  24 
de  dezembro  de  1536,  mas  que  só  partiu  em  fevereiro  de  1537,  munido 
de  duas  curiosas  inslruccoes,  urna  acerca  da  inquisícao,  e  oulra  sobre  o 
modo  de  se  apresenlar  peranle  a  nossa  corle  e  de  tratar  os  differentes 
negocios  de  que  vinha  incumbido.  A  esse  tempo,  e  talvez  mesmo  antes, 
achava-se  encarregado  dos  negocios  de  Portugal  em  Roma  Pedro  de  Sousa 
de  Tavora,  mas  esle,  porque  esperasse  ser  substituido,  porque  se  perdes- 
sem  suas  correspondencias,  ou,  finalmente,  porque  os  conversos  sou- 
bessem  tornal-o  indiferente,  nao  consta  que  se  esforcasse  por  contrariar 
as  novas  tendencias  da  Curia.  A  paginas  347,  354  e  355  do  volume  iíi 
se  encontram  os  documentos  relativos  a  este  incidente. 

O  intuito  das  inslruccoes  passadas  a  Capodiferro  era  hostil  á  inqui- 
sícao, e  os  christaos  novos,  em  harmonía  com  a  ultima  parte  d'ellas,  que 
nao.  ignoravam  de  certo,  dirigirán)  a  elrei  urna  extensa  supplica,  ponde- 
rando o  que  havia  de  tyrannico  e  de  alroz  na  lei  de  14  de  junho  de  1532, 
revalidada  em  1535,  e  pedíndo  a  liberdade  natural  dos  oulros  vassallos 


—  XXIII  — 

da  coróa,  nao  so  para  sairem  do  reino,  mas  para  venderem  os  bens  de 
raiz  e  levarem  comsigo  os  proprios  cabedaes.  O  verdadeiro  fim  da  sup- 
plica  envolvía  provavel mente  a  ideia  de  dar  maior  plausibilidade  á  crenca 
arreigada  em  Roma,  de  que  a  mente  de  D.  Joao  m  nao  era  manter  a 
pureza  e  integridade  da  fé  em  seus  estados,  mas  verter  o  sangue  de  mui- 
tos  subditos  oppulentos  para  se  apoderar  de  suas  riquezas  ;  mas  o  nuncio, 
porque  o  rei  soubesse  conciliar-lhe  a  benevolencia,  ou  porque  os  actos 
da  inquisicao  nao  lhe  minislrassem  motivos  sufficientes,  nao  usou  dos  lar- 
gos poderes  que  trazia.  No  emtanlo  havia  publicado  o  bispo  de  Ceuta  se- 
gundo edital.  Levantaran)  os  conversos  contra  elle  queixas  enérgicas,  e 
submetteram-as  ao  Papa.  Paulo  m  enviou  enlao  ao  seu  agente  mais  aper- 
tadas  recommendacoes,  prescrevendo-lhe,  que  procedesse  com  vigor ;  nao 
parece  comludo,  que  este  execulasse  a  vontade  pontificia,  lalvez  porque 
insinuacoes  secretas  assim  lh'o  determinavam.  Entre  oulros  aggravos  re- 
presenjavam  os  hebreus  portuguezes  contra  a  falta  de  cumprimento  do 
breve  de  20  de  julho  de  1535,  o  qual  absolvía  de  toda  a  cumplicidade 
no  delicio  o  fado  de  aceitar  procuracao  ñas  causas  de  judaismo.  A  Curia  re- 
solveu  altender  os  seus  clamores  n'esta  parte,  e  expediu  no  ultimo  d'agosto 
o  breve  Dudum  a  nobis,  redigido  para  restituir  ás  disposicóes  de  20  de 
julho  a  sua  inlerpellacao  genuina. 

A  isto  se  reduziu,  porém,  no  anno  de  1537  toda  a  sua  intervencao. 
A  gravidade  dos  negocios  geraes  da  Europa  obrigava  o  Papa  a  conlem- 
porisar  com  D.  Joao  ni,  e  mesmo  a  propiciar-lhe  o  animo,  insinuando 
ao  nuncio  que  se  houvesse  com  destreza,  favorecendo  os  christaos  novos, 
sem  todavía  alienar  por  isso  absolutamente  a  benevolencia  do  rei.  Ao 
mesmo  tempo  disputava  a  junta  creada  em  Roma  sobre  a  conveniencia 
de  ser  alterada,  ou  nao,  a  bulla,  que  reslebelecera  a  inquisicao,  e  natu- 
ralmente por  idénticas  razoes  nao  concluia  nada.  O  anno  de  1538  cor- 
rcu  assim  todo  n'estas  controversias  e  nos  obscuros  enredos,  que  deviam 
acompanhal-as.  A  corrupcao  de  Capodiferro,  animada  pelo  exemplo  do 
seu  antecessor,  Marco  della  Ruvere,  e  pela  certeza  de  que  o  oiro  lhe  as- 
seguraria  em  Roma  a  impunidade,  assumira  proporcoes  escandalosas.  O 
nuncio  negociava  descoberlamenle  com  os  christaos  novos  a  absolvicáo 
dos  hebreus,  que  os  inquisidores  condemnavam,  e  com  todas  as  classes  as 
dispensas  e  favores  da  Curia.  Segundo  D.  Joao  m  pouco  depois  aífirmava 
ao   Pontífice  estas  simonías  tocaram  tal  excesso,  que  a  sua    residencia 

c* 


—  XXIV  — 

tornava  impossivel  o  castigo  dos  crimes  religiosos  e  da  dissolucao  do 
clero.  Auctorisado  pelo  breve  de  9  de  Janeiro  de  1537  e  pela  lettra  de 
suas  instruccoes  para  rever  quaesquer  processos  Capodiferro  locuplela- 
va-se  sem  escrúpulo,  converlendo-os  em  mina  inexgolavel.  Os  documen- 
tos respectivos  a  estes  pontos  achar-se-hao  a  paginas  348  e  402  d'este 
volume. 

Outro  assumpto  importante  prendía  n'aquella  época  a  attencao  da 
corte  portugueza.  Era  a  imposicao  de  duas  decimas  ñas  rendas  ecclesias- 
ticas,  que  Paulo  ni  decidirá  arrancar  do  reino  pela  bulla  de  12  de  junho 
de  1537.  Apesar  do  seu  zelo  pelas  coisas  religiosas  D.  Joao  m  nao  hesi- 
tou  em  combater  a  pretensao  da  Curia,  oppondo-se  com  vigor  á  exe- 
cucao  da  bulla,  e  ordenando  ao  enviado  Pedro  de  Sousa  de  Tavora,  que 
acompanhasse  de  seus  officios  diplomáticos  este  negocio  importante.  Obri- 
gado  a  dissimular  os  abusos  de  Capodiferro  por  causa  da  complicacao 
dos  negocios  pendentes  com  a  Curia  el-rei  tinha  resolvido  substituir  Pe- 
dro de  Sousa  por  D.  Pedro  Mascarenhas,  mandando  partir  este  nos  fins  de 
1537.  As  instruccoes  passadas  em  29  de  dezembro  ao  embaixador  apon- 
tavam  entre  outros  assumptos,  como  principal,  o  da  imposicao  das  duas 
decimas,  e  logo  depois  o  da  escusa  pedida  á  Curia  para  só  assislirem  ao 
concilio  geral,  convocado  por  Paulo  ni,  os  prelados  portuguezes  que  o 
soberano  designasse. 

Chegou  D.  Pedro  Mascarenhas  a  Roma  depois  de  meiados  de  1538, 
porque  materias  de  ponderacao  tratadas  na  corte  de  Caslella  e  de  Franca 
o  linham  demorado,  e  veiu  encontrar  ambos  os  negocios  muito  mal  as- 
sombrados.  O  breve  Iiecepimus  Hileras,  de  30  d'agosto  de  1537,  era 
que  o  Pontífice  se  desculpava  de  nao  conceder  a  elrei  a  liberdade  de  es- 
colher  os  prelados,  que  deviam  concorrer  ao  concilio,  diíBcullava  qual- 
quer  oulra  solucao  pela  repugnancia  sabida  da  Curia  em  vollar  atraz 
nos  actos  consummados,  e  o  segundo  breve  Dicet  magestale  luae  de 
22  de  maio  de  1538,  em  que  o  Papa  insistía  na  primeira  decisao,  ainda 
menos  esperanzas  deixava,  de  que  elle  podesse  ceder.  Quanto  ao  ponto 
ainda  mais  grave  da  imposicao  das  decimas,  escrevendo  em  abril  de  1538 
a  D.  Pedro  Mascarenhas,  e  encarregando-o  de  sollicítar  da  Santa  Sé,  nao 
só  a  livre  disposicao  do  seu  producto  por  tres  annos,  mas  lambem  a  do 
producto  de  todas  as  rendas  dos  beneficios  vagos  e  da  venda  da  juris- 
diecáo  dos  vassallos  dos  arcebispados,   bispados,  conventos  do  reino,  e 


—  XXV  — 

a  conversao  em  fateusins  dos  prasos  de  vidas  pertencentes  ás  corpora- 
coes  religiosas,  D.  Joao  m  fallava  urna  linguagem  quasi  áspera,  invo- 
cando os  seus  servicos  na  diífusao  do  Evangelho  pelas  partes  da  Asia, 
da  África,  e  da  America,  e  as  immensas  despezas  prodigalisadas  nos  pre- 
sidios, armadas,  e  soldados  indispensaveis  para  sustentar  tao  vasto  im- 
perio. 

O  Papa  resistiu,  porém,  a  tudo  cobrindo-se  com  o  interesse  da  chris- 
tandade,  e  com  o  motivo  urgente  da  necessidade  de  fortificar  a  liga  con- 
tra os  turcos.  As  cartas  de  Santiquatro  e  de  D.  Pedro  Mascarenhas  de 
23  e  24  de  dezembro  de  1538  provam,  que  depois  de  largas  e  repeti- 
das conferencias,  nena  o  cardeal  prolector,  nem  o  ministro  porluguez  po- 
deram  arrancar  de  Paulo  ni  mais  do  que  a  concessáo,  pouco  satisfactoria, 
mas  tal  vez  opportuna  pelos  pretextos  de  dilacáo,  que  offerecia,  de  serem 
introduzidas  as  decimas,  mas  da  arrecadacao  correr  por  officiaes  da  Cu- 
ria e  d'elrei,  devendo  caber  do  producto  d'ellas  dois  tercos  a  Roma,  e 
sómente  um  a  elrei.  Os  documentos  d'estas  negociacoes  acham-se  es- 
tampados a  paginas  386,  399,  401,  406,  412,  433,'  438,  442,  460, 
e  463. 

Sao  estes  os  assumplos  de  maior  vulto,  de  que  encerra  noticia  o 
tomo  ni  do  Corpo  Diplomático  Porluguez.  Encontram-se  n'elle,  egual- 
mente,  as  bullas  de  4  de  marco  de  1534  provendo  D.  Diogo  da  Silva  no 
bispado  de  Ceuta,  as  de  3  de  novembro  do  mesmo  anno  erigindo  os  bis- 
pados  de  Angra,  de  S.  Thomé,  e  de  Goa,  a  de  26  de  julho  de  15*35 
narrando  o  procedimento  de  Henrique  vin  de  Inglaterra,  e  a  de  17  de 
dezembro  pedindo  a  D.  Joao  m,  que  empregue  a  sua  influencia  para  resol- 
ver o  imperador  a  mandar  sair  a  expedicao  contra  o  turco,  a  bulla  de  2  de 
junho  de  1536  annunciando  a  abertura  do  concilio  geral  em  Mantua,  as 
bullas  relativas  ao  processo  da  legitimidade  de  D.  Martinho  de  Portugal, 
a  de  11  d'abril  de  1537  provendo  D.  Joao  de  Albuquerque  no  bispado 
de  Goa,  a  de  24  d'agosto  do  mesmo  anno  provendo  D.  Goncalo  Pinheiro 
no  bispado  de  Saphim,  e  as  de  25  de  setembro  de  1538  provendo  D.  Ma- 
nuel de  Sousa  no  bispado  de  Silves  e  D.  Joao  no  de  Santiago  de  Cabo 
Verde. 

De  proposito  nos  demoramos  com  a  apreciacao  dos  monumentos  re- 
lativos ás  negociacoes  para  o  restabelecimento  do  Tribunal  da  Fe,  aprovei- 
tando  para  indicar  o  nexo  e  o  sentido  d'ellas  as  copiosas  informacoes 


—  XXVI  — 

ministradas  pelos  livros  m  e  iv  da  excellenle  obra  do  sr.  A.  Herculano 
Da  origem  e  esíabelecimento  da  inquisicao  em  Portugal,  seguindo  suas 
paginas  quasi  litleralmenle  em  muilas  partes,  e  abreviando-as  sómente 
n'aquellas  em  que  fomos  obrigados  a  resumir.  Sem  este  fio  difiícilmenle  po- 
deriam  os  leitores  desenredar-se  da  confusao  e  obscuridade  d'alguns  in- 
cidentes, para  formar  juizo  exacto  acerca  da  signiíicacao  de  muitos  di- 
plomas. O  periodo,  que  o  m  tomo  abrange,  curto  quanto  ao  numero  de 
annos,  foi  por  tanto  longo  e  fértil,  como  notamos,  em  resultados  quanto 
aos  factos  que  viu  e  consummou.  Os  documentos  do  seguinte  volume  nao 
serao  menos  instructivos,  nem  menos  repassados  de  verdadeiro  inleresse 
histórico.  Sem  esta  chave,  tantas  vezes  esquecida  nos  archivos,  fóra  mais 
do  que  temeridade,  fóra  louco  alrevimenlo  alé  querermos  devassar  os  se- 
gredos  das  geracoes  exlinctas  para  restituir  á  metade  mais  inquieta  e  mais 
fecunda  em  transformacoes  do  seculo  xvi  sua  physionomia  e  carácter  pro- 
prios.  Quando  se  abrem  os  túmulos  d'aquellas  grandes  épocas  sem  o 
poder  de  lhes  insuíflar  de  novo  uní  sopro  de  existencia  as  narracóes, 
frias  e  descoradas,  mostram  apenas  cadáveres  mu  mineados,  e  nao  vultos 
vivos  e  expressivos. 


CORPO  DIPLOMÁTICO  POMGUEZ 
RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA 


Carta  cTel-Rei  ao  Papa  Clemente  ¥11. 
15341— 


Muyto  sánelo  in  christo  padre  e  muito  bem  aventurado  senhor,  o 
voso  devoto  e  obidiente  filho  dom  Joham  etc.  com  toda  humildade  envió 
beijar  seus  santos  pees. 

Muyto  santo  in  christo  padre  e  muito  bem  aventurado  senhor,  eu 
sprevo  e  mando  a  dom  Martinho  etc.  e  a  dom  Anrique  de  Meneses,  meus 
enbaixadores,  que  falem  a  vosa  santidade  alguumas  cousas  sobre  a  Re- 
solucao  e  detriminacam  que  tomou  acerqua  do  perdam  dos  chrislaos  no- 
vos  e  Inquisicam,  que  me  pareceo  que  devia  asy  fazer  pelo  que  toca  a 
servico  de  noso  Senhor  e  descarego  de  Vosa  Santidade. 

Soprico  e  peco  muyto  por  merce  a  vosa  santidade  que  os  queira 
ouuir,  e  em  tudo  o  que  acerqua  diso  lhe  falarem  de  minha  parte  lhe  dar 
inteira  fee  e  crenca  ;  e  em  muy  singular  merce  o  Receberey  de  Vosa  San- 
tidade. 

Muyto  santo  etc ' 


1  Minuta  sem  data  no  Arch.  Nac.  Cartas  missivas,  Mac.  2,  n.°  104.  Parece  ser  esta 
a  credencial  de  D.  Henrique  de  Menezes,  o  qual  chegou  a  Roma  no  dia  10  de  Fevereiro 
de  1554. 

TOMO  III.  1 


CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Projecto  de  Instruccocs. 


1534  1 


ISTRUCÁO    DO   QUE  PARECE    QUE    SUA   ALTEZA    DEUE    MANDAR    ESPREUER 

AO   EMRAIXADOR  SORRE   A  MATERIA  DO  SORRESTAR  DA   INQUISICAM 

E  PERDAM   GERAL. 

ítem.  Parece  que  se  deue  dizer  ao  papa  como  sua  alteza  ora  tem 
visto  per  sua  bula  que  sua  Santidade  tem  mandado  de  sobreestar  na 
inquisicam,  que  á  muito  pouco  que  lem  concedida  a  sua  instancia  nes- 
tes  regnos,  e  asi  que  concede  perdam  geral  aos  chrislaos  nouos  dos  di- 
ctos  regnos ;  o  que  sua  alteza  nom  speraua  que  sua  Santidade  fezesse, 
asi  pela  calidade  dos  casos,  como  pela  dicta  inquisicam  ser  concedida  a 
sua  instancia,  maiormente  nom  auendo  causa  noua  nem  velha  justa  pera 
o  deuer  de  fazer.  E  que  ainda  o  modo  que  nisso  leue  he  indeuido  e  des- 
ordenado querer  pasar  as  dictas  prouisóes  a  piticam  das  partes,  sem  que- 
rer ouuir  primeiro  o  embaixador  de  sua  alteza,  que  he  presente  em  sua 
corte,  c  sem  querer  saber  a  verdadeira  enformacam  do  caso  de  sua  al- 
teza. E  se  ha  causas  justas  pera  se  nom  conccderem  taes  provisóes,  por- 
que, ainda  que  causas  justas  ouuera  pera  se  concederem  as  semelhantes 
prouisóes,  se  nom  deuem  conceder  sem  primeiro  se  saber  se  as  causas 
allegadas  som  justas,  ou  se  ha  outras  iuslas  rezois  em  contrairo  pera  se 
nom  concederem,  porque  ñas  cousas  menos  calificadas  e  concedidas  a  ou- 
tras pessoas  he  rezam  e  iuslica  nom  se  mudarem  a  piticam  das  partes 
contrairas  sem  has  ouuir,  quanto  mais  as  que  se  concedem  aos  principes 
e  Reis,  maiormente  sendo  tam  justas  e  em  fauor  da  fec  católica,  a  que 
sua  Santidade  tanta  obligacam  tem  de  fauorecer. 

ítem.  Parece  que  o  embaixador  deue  de  dizer  a  sua  Santidade  as 
causas  principaes  por  que  se  pedio  ha  Inquisicam,  pera  per  ellas  se  uer 
como  he  contra  toda  iuslica  mandar  em  ella  sobreestar,  c  asi  conceder 
perdam  geeral,  as  quacs  causas  saín  as  seguintes : 

Foi  sua  alteza  de  muitos  annos  a  esta  parle  per  muitas  vezes  en- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  3 

formado,  e  asi  Ihe  foi  notificado  per  pregadores,  confesores,  homeis  vir- 
tuosos e  dignos  de  muita  fee,  e  asi  por  prelados  e  outras  pesoas  de  muito 
crédito  de  seus  regnos,  que  os  chrisláos  nouos  delles  iudaizauam  e  co- 
metem  grandes  errores  contra  nosa  fee  calholica,  os  quaes  erros  come- 
tem  militas  vezes  desemvergonhadamenle  em  oprobrio  de  nosa  santa  fee 
e  com  escándalo  dos  chrisláos.  O  que  lambem  se  soube  per  sua  alteza 
per  alguuns  fectos  que  se  delles  julgaram  ;  e  pera  disso  ser  mais  cer- 
tificado quis  ver  com  letrados  e  pessoas  Religiosas  de  sam  consciencia 
algumas  inquiricóes  tiradas  pelos  ordinarios  sobre  has  heresias,  que  em 
sua  diócesi  se  cometem,  pelas  quaes  achou  ha  enformacam  que  Ihe  he 
dada  ser  verdadeira. 

E  .porque  as  semelhanles  ofensas  de  deus  e  erros  comitidos  contra 
ha  fee  nom  deuem  de  ser  desimulados  nem  consentidos,  ouue  sua  alteza 
conselho  com  prelados  e  alguns  grandes  de  seus  regnos,  e  com  pessoas 
letradas  e  religiosas  de  saas  consciencias ;  e  examinadas  todas  as  cau- 
sas, asi  as  que  fazem  pelos  dictos  chrisláos  nouos  e  por  elles  se  podem 
alegar,  como  as  que  contra  elles  sam,  determinou  com  parecer  de  todos 
que  se  deuia  pedir  ha  inquisicam,  e  ha  deuia  aver  pera  Remedio  de  tan- 
tos males  e  saluacam  das  almas  desla  gente,  e  pera  se  nom  coromper 
mais  a  christindade  nestes  regnos. 

E  auendo  hi  tanta  causa  pera  se  fazer  inquisicam,  o  papa  sendo  sa- 
bedor a  deuera  enuiar  e  conceder  sem  ser  requerido,  e  amoeslar  e  per- 
suadir a  sua  alteza  que  ha  consentirá  e  aiudara  e  fauorecera,  como  vi- 
gario  de  jesu  christo,  subcesor  de  sam  pedro,  protector  e  defensor  da  fee; 
e  a  sagrada  scriptura  e  santos  cañones  obligam  ao  papa  e  aos  bispos  e 
outros  prelados  prouerem  e  vigiarem  como  tirem  has  heresias  e  erros  da 
fe,  e  manda  aos  dictos  bispos  que  tirem  inquisicoes  em  suas  diócesis, 
onde  ha  infamia  dos  tais  crimes,  e  punem  os  prelados  que  sam  em  isso 
nigligentes,  e  excumugam  os  que  impidem  has  inquisicoes  e  que  contra 
ellas  aconselham  ;  e  esta  he  a  principal  cousa  a  que  o  papa  e  bispos  sam 
obligados,  maiormente  em  nosos  tenpos  em  que  por  nosos  pecados  ha 
tantas  heresias,  pelo  que  os  Reis  e  principes  christaos,  que  em  seus  re- 
gnos has  querem  euitar  e  castigar,  deuem  ser  muito  fauorecidos  e  aiu- 
dados  de  sua  Santidade. 

E  respondendo  ás  ocasioes  que  as  partes  alegam  que  se  querem  lo- 
mar por  causas  das  tais  prouisois  dando  nom  verdadeiras  enformacoes  a 

1* 


4  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

sua  Santidadc,  quanto  ao  que  dizem  que  foram  tornados  por  forca,  posto 
que  asi  fora,  a  tal  forca  fo¡  condicional  e  nom  absolluta,  e  no  tal  baplis- 
mo,  segundo  disposicaru  do  direilo  canónico,  foi  impresso  charater,  e  os 
baptizados  ficaram  obligados  a  guardar  a  fee  católica;  e  os  dictos  bapti- 
zados, depois  do  baptismo,  Receberam  os  santos  sacramentos  e  viueram 
como  chrislaos,  pelo  que  deuem  ser  competidos  a  guardar  nosa  fee,  e  po- 
dem  se  castigar  os  que  ha  nom  guardam,  como  foy  determinado  no  con- 
cilio tolelano,  e  decidido  per  muitas  decretáis  dos  que  foram  tornados 
per  forca  em  lempo  do  muito  Religioso  principe  sesebulo,  ao  qual  prin- 
cipe os  cañones  poem  nome  de  Religiosissimo,  pelo  que  parece  louuarem 
a  obra  que  fez,  e  nom  menos  ha  deuem  louuar  nos  outros  principes  que 
ha  tal  obra  fezeram. 

ítem.  Estes  de  que  se  tracta  ha  trinta  e  cinco  annos  que  foram  tor- 
nados chrislaos,  e  do  dicto  tenpo  pera  qua  conscnliram  no  santo  baptis- 
mo que  Receberam,  e  Recebem  os  sacramentos  da  crisma  e  eucareslia  e 
confisam,  e  muilos  tomaram  ordees  menores  e  outras  per  suas  puras  e 
liurcs  vontades,  pelo  que  he  muito  escusado  falar  na  tal  forca. 

ítem  :  teueram  muitos  tempos  pera  se  irem  e  sairem  fora  desles  re- 
gnos,  como  fezeram  muitos  que  se  foram  a  gulfo,  e  pera  outras  parles, 
pera  viuerem  em  seu  judaismo ;  e  os  que  se  nom  foram  consentirán)  se- 
rem  christaos,  e,  se  ho  nam  sam,  nom  sam  chrislaos  nem  judeus,  e  pa- 
rece que  nom  tem  nosa  fee  nem  sua  dañada  perfia  de  judeus,  e  nom  de- 
uem ser  permitidos  que  viuam  em  seus  errores  e  que  facam  escarnio  dos 
sacramentos  que  Recebem,  cousa  de  que  todo  christao  se  deue  muito  de 
doer,  e  nam  sam  dignos  de  misericordia  alguma1. 

perdoa  aos  obstinados  nos  pecados,  e  o  direilo  canónico  neste  caso  nom 
recebe  a  reconciliacam,  nem  manda  perdoar  senam  aos  de  que  se  pre- 
sume que  sam  verdaderamente  arrependidos  e  que  dcixam  seus  erros  e 
heresias,  e  expresamente  defende  que  aos  inpinitenles  se  nam  perdoe,  e 
aos  de  que  se  presume  que  fingidamente  pedem  reconciliacam  manda 
que  os  nom  recebam  ao  gremio  da  santa  madre  igreia ;  e  por  isso  per- 

1  Acaba  aqui  a  parte  escripta  da  pagina,  ficando  urnas  sete  linhas  cm  branco.  A 
folha  seguinte  comeca  abruptamente,  como  vai  no  texto.  Éprovavel  terse  extraviado  algu- 
ma folha  do  meio;  mais  é  certo  que  já  cm  1772  o  documento  estava  assim,  porque  urna 
copia  feita  n'esse  anno  apresenta  a  mesma  ¡acuna. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  5 

doar  geralmente  a  todos  de  que  nom  consta  serem  penitentes  nem  arre- 
pendidos  senam  per  confisóes,  que  podem  ser  fingidas,  e  per  confisam  se- 
creta perdoar  no  foro  contencioso,  he  contra  justica  e  rezao  e  direilo  di- 
uino  e  humano,  e  o  tal  perdam  será  causa  de  os  taes  perdoados  rema- 
necerem  nos  mesmos  erros,  e  Ihe  daría  ousadia  pera  iríais  pecar,  pois 
tam  fácilmente  sam  perdoados,  e  esperarám  de  o  serem  outras  vczes  asi. 

ítem :  do  tal  perdam  a  christindade  receberá  grande  escándalo,  o 
que  sua  santidade  deue  muilo  euitar,  maiormente  nestes  tempos. 

E  pera  os  que  se  querem  emendar  e  tirar  de  suas  culpas,  neste  caso 
abastam  as  prouisoes  e  beneficio,  que  o  direito  lhe  dá  e  a  samta  madre 
igreia,  e  o  custume  que  os  inquisidores  tem,  que  dam  tempo  de  graca  aos 
que  se  querem  arrepender  e  tirar  de  suas  culpas,  dentro  do  qual  os  Re- 
cebem  com  leues  penitencias  a  reconciliacam. 

E  quando  sua  Santidade  ouuesse  por  bem  de  ainda  vsar  com  estes 
de  mais  misericordia,  o  perdam  nom  ha  de  ser  geral,  mas  em  modo  que 
fose  modo  pera  estes  se  emendarem  de  suas  culpas,  e  nom  dado  aos  de 
que  nom  consta  serem  penitentes  e  arependidos.  E  auia  de  vir  per  capi- 
tulo na  mesma  inquisicam  comitido  ao  inquisidor  maior  e  inquisidores, 
na  forma  e  modo  abaixo  declarado :  que  podesem  perdoar  aos  que  \ies- 
sem  pedir  perdam,  que  specificadamente  confesassem  seus  erros  e  culpas 
e  has  declarassem,  e  que  dos  taes  erros  mostrasen)  arependimento  e  pe- 
nitencia ;  que  aos  taes  se  perdoassem  as  penas  do  direito  postas  aos  here- 
jes em  que  teuessem  encorido,  dando  lhe  algumas  penitencias  arbitrarias, 
ocultas  ou  publicas,  segundo  calidade  dos  casos  e  das  pessoas,  nom  sendo 
os  taes  relapsos ;  e  has  taes  confisOes  se  deuem  spreuer  per  notario  da 
inquisicam,  e  sospreuer  pelo  confitente  e  pelo  inquisidor  com  outra  pes- 
soa  ecclesiastica,  pera  que  se  saiba  os  erros  de  que  for  perdoado  :  e  desta 
forma  ainda  parece  que  4eria  rezam  alguma  o  perdam. 

ítem  :  em  todo  caso  deue  insistir  o  embaixador  que  cousa  que  a 
esta  materia  toque  se  nara  cometa  ao  nuncio  nem  a  pessoa  alguma,  saluo 
as  que  sua  alteza  ordenar,  nem  inquisicam  nem  modo  alguum  de  per- 
dam nem  diligencia  ;  e  deue  de  dizer  ao  papa  que,  fazendo  se  o  conlrai- 
ro,  sua  alteza  nom  será  rezam  consentilo,  porque  sabe  bem  as  pessoas 
a  quem  conuem  a  seruico  de  deus  e  bem  de  seus  regnos  as  tais  cousas 
se  cometerem. 

ítem.  Deue  muito  insistir  que  ha  inquisicam  se  conceda  como  he 


6  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

concedida  c  como  se  pede,  e  que  Reuogue  toda  prouisam,  se  he  pasada, 
em  conlrairo  :  e  aínda  parece  que  se  Ihe  deue  dizer  que  he  fama  nestes 
regnos  que  por  pe  i  la  grosa  de  dinheiro,  que  se  deu  cm  sua  corte,  se  ne- 
goceam  as  prouisoes  contra  lam  sania  e  tam  necesaria  obra ;  e  que,  in- 
pidindo  se  ou  \indo  prouisoes  contra  ella,  se  afirmará  por  estas  parles  e 
terá  por  certo  que  he  asi,  o  que  gerará  escándalo  aos  chrislaos1. 


Projccto  de  instrucf¿oe$. 


1534? 


EMFORMACAM  PERA  EXPEDIR  HA  RULA  DA   INQUISICAM  NA  FORMA 
QUE  ELREI  NOSO  SENHOR  HA  ORA  MANDA  PEDIR. 

A  instancia  de  sua  alteza,  o  santo  padre  concedeo  ha  inquisicam  e 
se  expedio  a  bula,  cuio  trelado  com  esta  vai,  na  qual  veo  comitida  a  di- 
cta inquisicam  ao  padre  frei  diego  da  silua,  confesor  de  sua  alteza.  E 
por  o  dicto  frei  diego,  por  algumas  causas,  se  escusar  do  dicto  cargo, 
pede  se  ora  por  parle  de  sua  alteza  que  Sua  Sanlidade  cometa  esta  in- 
quisicam ao  bispo  de  Lamego,  capelao  mor  do  dicto  Senhor  Rey,  asi  e 
da  maneira  que  ha  cometeo  ao  diclo  frei  diego,  com  mais  os  capítulos 
seguinles: 

ítem.  Primeramente,  auendo  respecto  a  algumas  calidades  que  neste 
caso  concorem,  parece  boa  equidade  que  na  bula  venha  huum  capitulo 
na  forma  della,  per  que  Sua  Sanlidade  ha/a  por  bem  que  loda  pesoa,  que 
for  morador  nestes  regnos  e  senhorios  de  sua  alteza  ao  tenpo  da  primeira 
publicacam  que  da  bula  que  ora  se  conceder  se  fezer,  e  que  em  elles  for 
presente,  que  dentro  do  tempo  da  graca,  que  os  inquisidores  daram  no 
lugar  onde  a  tal  pessoa  for  morador,  que  vicr  aos  inquisidores  pedir  per- 
dam  de  heresia,  apostasia  na  fee,  ou  blasfemea,  dezendo  soomenle  in  ge- 
nere que  cometeo  heresia  ou  apostasia  na  fee  ou  blasfemou,  sem  mais 
ser  obligado  a  declarar  aos  inquisidores  spicialmente  os  casos  e  circuns- 

1  Copia  ou  minuta  incorrecta  e  sem  dala  no  Arch.  Nac.  Gav.  2,  Mag.  2,  n.°  35. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  7 

tancias  dos  casos  em  que  pecou,  nem  a  quantidade  das  vezes,  seia  Re- 
cebido  a  reconceliacam,  e  seia  perdoado  de  lodas  as  culpas  pasadas  e 
alee  enlam  comelidas,  pelos  dictos  inquisidores,  com  lanío  que  se  \aa 
confesar  aos  sacerdotes  que  pera  isso  o  inquisidor  depular  e  ordenar,  e 
que  prometa  e  iure  perante  ho  inquisidor  que  de  hi  em  diante  \iuerá 
como  católico  christaó :  e  este  perdam  lhe  será  concedido,  posto  que  a 
íal  pesoa  que  o  pedir  no  dicto  tempo  seia  publicamente  infamado  de  he- 
reie  ou  d  apostatar  da  fee  ou  blasfemar,  e  posto  que  os  cnmes  desta  ca- 
lidade  estem  contra  ella  prouados  per  inquirieres  gerais  ou  speciaes,  com 
lanto  que  nom  seiam  ainda  aecusados  nem  presos  por  os  laes  crimes.  E 
dos  dictos  crimes  comitidos  antes  do  dicto  perdam  nom  posam  depois  ser 
em  algum  modo  aecusados  nem  punidos,  posto  que  delles  depois  conste 
em  juizo  ou  extra  per  as  dictas  inquisicoes  ou  em  outro  qualquer  modo. 

Ilem.  Que  aos  asi  perdoados  se  Ibes  conceda  o  dicto  perdam  e  re- 
conciliacam com  qualquer  leue  penitencia  arbitrio  do  inquisidor,  a  qual 
será  secreta ;  e  os  asi  perdoados  fiquem  com  suas  fazendas,  e  restituidos 
a  suas  honras,  dignidades,  beneficios  e  oficios,  priuilegios  e  liberdades, 
asi  como  si  os  tais  crimes  nom  teueram  cometidos. 

ítem  :  aos  dictos  confesores  sua  sanlidade  conceda  poder  de  absol- 
uer  os  tais,  que  a  elles  se  confesaren),  de  todos  os  dictos  pecados,  e  das 
escumunhoes  em  que  encoreram  a  iure  vel  ab  homine  por  causa  dos  di- 
ctos crimes,  eliam  pela  bula  cene  domini. 

E  os  que  forera  moradores  dos  dictos  Regnos  e  senhorios,  e  forem 
absentes  delles  ao  tempo  da  primeira  publicacam,  que  se  da  dicta  bula 
fizer  no  bispado  onde  o  tal  absenté  he  morador,  poderám  gozar  deste  be- 
neficio, \indo  dentro  de  huum  anno  a  pedir  o  dicto  perdam  na  dicta 
forma,  contado  do  dia  da  dicta  publicacam. 

Ítem  :  quanto  aos  que  iá  forem  aecusados  ou  presos  se  procederá 
como  for  direito,  e  nom  poderám  gozar  deste  beneficio ;  e  asi  se  proce- 
derá segundo  for  direito  contra  os  que  se  acharem  culpados  nos  dictos 
crimes,  que  nom  vierem  pedir  o  dicto  perdam  e  reconciliacam  no  dicto 
tempo  da  graca,  que  os  inquisidores  derem  em  hos  bispados  onde  os  cul- 
pados forem  moradores  ao  lempo  da  primeira  publicacam  desta  bula,  por- 
que somente  gozarám  deste  beneficio  os  que  vierem  nesle  primeiro  tempo 
de  graca  que  se  der  ao  tempo  da  dicta  primeira  publicacam. 

ítem  :  os  que  vierem  pedir  o  dicto  perdam  e  reconciliacam  serám 


8  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

espritos  em  huum  caderno  ou  liuro,  que  pera  isso  auerá,  pelo  notario 
que  da  inquisicam  for,  com  declaracam  do  dia  mes  e  anno  ;  o  qual  asento 
será  asinado  pelo  que  pedir  o  perdam,  e  per  ho  inquisidora  quem  o  pe- 
dir, e  per  duas  pessoas  religiosas,  perante  as  quaes  pessoas,  sem  mais 
serení  presentes,  se  poderám  pedir  e  conceder  os  tais  perdoes  e  reconci- 
liacocs;  e  a  estas  pessoas  se  mande,  soo  pena  de  excumunham  ipso  ta- 
cto, que  nom  descubram  nem  defamen)  os  que  asi  vierem  pedir  os  tais 
perdoes  e  reconciliacoes,  salluo  vindo  estes  perdoados  a  cometer,  depois 
de  perdoados  e  reconciliados,  crime  de  heresia  ou  apostasia  na  fee  ou 
blasfemea,  e  sendo  disso  acusados  ou  inquiridos. 

Com  declaracam  que  os  que  asi  forem  perdoados  e  reconciliados, 
se  depois  cometerem  crime  de  heresia  ou  aposthasia  na  fee,  se  proceda 
contra  elles  segundo  forma  do  direito  l. 

ítem :  conceda  se  que  o  dicto  inquisidor  principal  ás  pessoas  califi- 
cadas segundo  forma  da  bula,  que  elle  depular  por  inquisidores,  posa 
dar  comisam  in  tolum,  ou  reseruando  pera  si  alguuns  capítulos,  a  sa- 
ber, sentencas  finaes  e  condenacoes,  ou  outros  quaesquer  capítulos  ou  par- 
tes da  inquisicam  ou  processos,  que  Ihe  bem  parecer. 

ítem  :  que  estes  comisarios  ou  depulados  pera  inquisidores  posam 
ser  nom  somente  licenciados  in  altero  iurium,  mas  ainda  hachareis,  atento 
que  o  bacharelado  em  espanha  he  grao,  e  nom  se  concede  saluo  aos  que 
tem  cinquo  ou  sete  annos  d  esludo  segundo  stalutos  das  vniuersidades,  e 
será  difícil  acharem  se  doctores  e  mestres,  pelo  que,  pelo  muilo  custo 
dos  taes  graos  que  ñas  vniuersidades  fazem  hos  que  os  tomam,  fazemse 
poucos  doctores  e  mestres  nestas  partes  em  ellas. 

ítem :  que  o  dicto  inquisidor  e  seus  deputados  posam  condenar  e 
absoluer  finalmente,  e  meter  a  tormento,  e  condenar  a  carcere  perpetuo 
ou  temporal,  e  a  entregar  os  condenados  aos  juizes  e  braco  secular,  pro- 
ceder e  todo  oficio  da  inquisicam  exercitar,  sem  requerer  os  bispos  e  ou- 
tros ordinarios,  e  lhe  dar  parte  e  cumunicar  os  processos ;  e  derogue  se 
a  disposicam  do  texto  na  clemenlina  prima  de  herética2,  e  qualquer  di- 
reito em  contrario. 


1  Entre  este  %e  o  immediato  tem  á  margem  a  cota  seguinte:  Ate  aqui  sam  clausu- 
las que  tocam  ao  perdam. 

2  Vide :  Clemcntinarum,  Lib.  V,  TU.  III. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  9 

ítem:  conceda  se  que,  tanto  que  o  inquisidor  ou  inquisidores  depu- 
tados  comeearem  de  proceder  de  qualquer  caso  de  heresia  contra  alguma 
pessoa,  que  os  ordinairos  se  nom  posam  mais  do  tal  caso  entrometer  ncm 
tomar  conhecimento,  e  derogue  so  a  disposicam  do  texto  no  capitulo  Per 
hoc,  De  herelicis,  in  VI.01. 

ítem  :  com  poder  que  o  inquisidor  posa  auocar  a  si  todas  as  causas 
de  heresia,  que  nos  regnos  e  senhorios  de  sua  alteza  penderem  perante 
quaesquer  juizes  ecclesiasticos,  asi  ordinarios  como  delegados,  posto  que 
seiam  delegados  do  papa,  ou  nuncios  ou  legados,  etiam  de  latere,  em 
qualquer  ponto  e  estado  que  as  tais  causas  estem,  dummodo  nom  seiam 
findas  per  final  sentenca. 

ítem  :  que  posam  os  inquisidores  proceder,  appellatione  remota  etiam 
ab  interluculoriis,  porque,  podendo  appellar  das  interluculorias,  nom  se 
poderá  fazer  justica  com  appellacoes. 

ítem  :  conceda  se  poder  ao  inquisidor  principal  e  seus  deputados  que 
posam  absoluer  os  culpados  de  quaesquer  excomunhoés,  que  lenham  in- 
corridas  a  iure  vel  ab  nomine,  etiam  pela  bula  da  cea,  que  por  causa 
dos  diclos  crimes  de  heresia  e  apostasia  in  fide  tenham  encorrido,  e  dis- 
pensar sobre  irregularidade  encorrida  por  os  taes  excumungados  por  se 
ingerirem  nos  oficios  diuinos,  estando  pelos  diclos  crimes  excumungados. 

ítem  :  que  posam  ñas  reconciliacoes  e  abjuracoes  publicas  fazer  o 
dicto  inquisidor  e  seus  deputados  todos  os  autos  e  solenidades  e  absol- 
uicoés,  que  o  direito  requer,  sem  requererem  os  bispos  ordinarios,  e  sem 
outro  alguum  bispo. 

ítem :  que  posam  chamar  huum  soo  bispo,  qual  Ihes  parecer,  posto 
que  nom  seia  o  ordinario  do  lugar  ou  diócesi,  pera  depoer  e  degradar 
verbal  e  auctualmente  os  que  forem  condenados  por  herejes  que  forem 
clérigos  asi  de  ordees  menores  como  sacras,  etiam  presbiteratos,  que  se 
ouuerem  de  depoer ;  o  qual  bispo  por  elles  chamado  posa  fazer  a  dicta  de- 
posicam  e  degradacam  verbal  e  auclual  com  dous  religiosos  ou  clérigos 
seculares  constituidos  em  dignidade,  porque  seria  dificultoso  fazerem  se 
as  tais  deposicoes  e  degradacoes  pelos  bispos  ordinarios. 

ítem  :  que  o  dicto  inquisidor  principal  possa  punir  e  castigar  os  ou- 
tros  inquisidores  que  elle  deputar  e  ordenar,  e  os  outros  oíiciaes  da  in- 

1  Vide:  Sexti  Decrct.  Lib.  V,  Tit.  II,  Cap.  XVII. 
TOMO  111.  ü2 


10  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

quisicam,  se  delinquirem  em  os  dictos  oficios,  ou  fizerem  o  que  nom  de- 
uem  em  elles,  segundo  achar  que  suas  culpas  merecem  per  direilo  e  jus- 
tica,  posto  que  seiam  religiosos  e  exemplos  de  qualquer  ordem,  dado 
que  seiam  dos  mendicantes,  sem  embargo  de  seus  priuilegios  e  exem- 
pcoes. 

ítem  :  que  o  dicto  inquisidor  principal,  quando  quer  que  Ihe  pare- 
cer, ad  libitum  posa  reuogar  os  inquisidores  que  deputar  e  ordenar, 
etiam  nos  negocios  e  causas  que  ia  teuerem  comecados  ao  lempo  da  re- 
uogacam. 

E  porem,  sendo  caso  que  o  santo  padre  nom  aia  por  bem  de  con- 
ceder algumas  destas  faculdades  e  poderes,  que  ora  se  pedem,  alem  dos 
que  estam  na  bula  derigida  ao  dicto  frey  diego,  expida  se  a  bula  como 
estaua  concedida  com  os  que  mais  conceder  de  nouo  mudado  o  inquisi- 
dor, com  a  forma  e  modo  que  ácima  se  declara  do  perdam  e  capítulos 
que  em  elle  falam. 

ítem  :  que  esta  bula  se  expedirá  com  clausulas  derogatorias,  ñas 
quais  se  derogue  largamente  e  plenisimamente  a  bula,  per  que  Sua  San- 
tidade  concedeho  ho  perdam  aos  cristaaos  novos,  sub  data  vil  idus  apri- 
lis  ano  Incarnacionis  dominice  1533,  pontificatus  ano  10,  a  qual  latisi- 
mamente  se  derogue,  e  asy  quaesquer  outras  letras,  que  amle  desta  ema- 
naram  de  Sua  Santidade  e  de  seus  antecesores,  pelas  quaes  o  efeito  desta 
se  posa  impedir l. 


1  Copia  ou  minuta  sem  data  no  Arch.  Nac.  Gav.  2,  Mag.  1,  n.°  22.  Ñas  costas  do 
documento  lé-sc  a  cola  seguinte :  Instrugam  pera  a  expidieam  da  bula  da  inquisigam; 
e  por  outra  letra  tambem  contemporánea :  Ver  o  que  levou  dom  Ilanrique. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  11 


AJlcgacoes  propositáis  pelos  emliaixadoreis  contra 
a  bulla  do  perdáo  gcral  (a). 


1534 


RATI0NES  ALIAS  PRO  PARTE  REGÍS    ET  INQUISITORUM   ADDUCTAE 
IN  TOTA  ISTA  MATERIA. 

LE  RAGGIONI  DEL  RE 

Le  cause  principali,  per  che  il  Re  di  Portogallo,  obediente  figliolo 
di  Yostra  Sanlila,  gli  fece  chiedere  l'Inquisizione  sopra  li  Eretici  in  lo 
Reame  e  Domini  suoi,  sonó  le  infrascritte : 

E  slato  quella  Maesla  infórmala  spesse  uolte,  e  fattoli  toccar  con 
mano  da  Prelati l,  Predicalori,  et  uomini  di  gran  mérito  e  crédito,  che 
li  cristiani  nuovi,  quali  dal  Giudaismo  furono  alia  santa  fede  noslra  con- 
uersi,  e  loro  figlioli,  nepoli  e  descendenti,  Giudaizino  (tic)  e  commet- 
tono  grandi  errori  conlro  detla  fede  Cattolica,  Spesso  discopertamente  e 
senza  uergogna,  in  obbrobrio  della  fede  e  scandalo  delli  fedeli  Cristiani ; 
e  questo  ancora  l'ha  sapulo  delta  Maesla  per  processi  de  alquanti  di  delta 
progenie,  quali  delle  predette  Eresie  furono  accusati 2 ;  et  ollra  detto  si- 
gnore  Re,  per  megliore  informazione  sua,  si  fece  leggere  alcuna  Inqui- 

(a)  Este  e  outros  documentos,  que  extraíamos  da  Symmicta,  resentem-se  da  imperi- 
cia das  pessoas,  a  quem  foi  commettido  o  trabalho  de  os  copiar  do  Archivo  do  Vaticano. 
Conhecendo  o  perigo  que  ha  sempre  em  corrigir  copias  semelhantes,  nao  alteramos  o  tex- 
to, limitando-nos  a  lembrar  urna  ou  outra  vez,  entre  parentheses,  a  licao  que  julgamos 
prefcrivel,  e  a  acrescentar  em  itálico  a  palavra  ou  syllaba  que  suppomos  omittida  pelo 
copista,  ou  que  nos  parece  necessaria. 

As  observacoes  em  latim,  feitas  provavelmente  pelos  cardeaes  encarregados  do  exo- 
rne d'este  negocio,  estáo  á  margem  ñas  paginas  da  Symmicta. 

1  Episcopus  Ceptensis  potuit  bene  dicere  quid  fecit  quando,  denegatis  nominibus 
testium  impotentissimis  personis,  illas  indifensas  igni  tradidit. 

2  Quid  fuit  uisum  in  processibus  illorum  de  Gouvéa,  Chaves,  Insulae  de  la  Made- 
ra, ct  aliorum  quamplurium* 

2* 


12  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sitione  Genérale  fatle  (sic)  per  li  ordinarj,  quando  uisitano  sopra  le  Ere- 
sie,  che  si  commettono  in  loro  Vescouati,  per  le  quali  trouó  chiaro  la 
detta  informazionc  esser'uera. 

E  perché  le  simili  offese  d¡  Dio  et  errori  contro  Sua  Santa  fede  non 
deono  essere  dissimulate  né  permessi,  detta  maesla,  con  consiglio  de  al- 
quanli  Prelati  e  Magnati  de  suoi  Reami,  e  di  persone  religiose  litlerate 
e  di  sana  coscienza,  viste  le  raggioni,  cause  et  inconuenienti,  quali  per 
parte  de'conuersi  l,  e  cosi  quelle,  che  contra  loro  si  poleuano  allegare, 
ordino  chiedere  a  Vostra  Santita  detta  Inquisitione  in  quelli  Regni  per  ri- 
medio  e  correzzione  della  vita  e  costumi  di  detli  Ereclici,  e  salute  di  loro 
anime,  e  per  euitare  lo  scandalo,  che  li  fedeli  Christiani  de  simili  errori 
pigliano,  e  per  ovviare  che  non  si  corrompa,  6  in  parte  degeneri,  la  re- 
ligione  Cristiana  in  detti  Reami  e  Dominii. 

Et  il  dover'vuole  che  l'Inquisitione  si  faccia  contra  costoro  che  della 
gente  Ebrea  furono  conuersi,  come  contra  qualsiuoglia  Eretici,  benche 
per  parte  loro  uogliano  diré  che  furono  battezzati  per  forza,  perche  il 
contrario  é  la  verita2.  E  se  a  qualcheduno  fu  fatto  forza,  la  tal  forza, 
quale  dicono  esserli  falta,  é  stala  condizionale  e  non  precisa  et  assolula, 
onde  nel  tale  cosi  battezzato  fu  impresso  il  carattere,  et  de  jure  é  oblí- 
galo ad  osseruare  la  fede  cattolica,  al  che  dée  essere  astrelto;  e  doppo  lo 
tal  baltezimo  loro  hanno  molte  volte  riceuuti  li  sagramenti  dell'  Eucares- 
tia  e  confessione,  et  é  deciso  per  li  Sagri  Canoni  che  li  tali  debbano  es- 
sere astretti  all'  osseruazione  della  fede  Cattolica,  e  quelli,  che  non  Tos- 
seruarono,  casligali,  come  fu  deciso  contra  quelli,  che  furono  battezzati 
nel  tempo  del  Religiosissimo  Principe  Sisebulo,  a  cui  li  Canoni  chiamano 
religiosissimo  per  il  zelo  che  cosi  ebbe  alia  Religione  Cristiana. 

E  quesli,  de'  quali  si  tralla,  passa  35  anni  che  furono  fatli  Cristiani ;  e 
quelli  che  dicono  esser'  fatli  per  forza,  se  alcuni  sonó  stati,  de  tanto  tempo 
in  qua  hanno  consenüto  nel  santo  baltessimo,  e  riceuuto  li  Sagramenti 
della  Santa  Chiesa,  e  molli  di  loro  di  sua  sponlanea  uolontá  si  fecero  or- 
dinare  in  minoribus,  el  etiam  ad  Sacros  Ordines  promoueri,  Onde  la  tal 
forza,  se  é  stata,  non  é  suficiente  causa  di  farla  immune  [al.  farli  immuni) 

!  Non  est  ucrum  quod  istorum  causac  fucrint  uisae  ncc  considcratae ;  nam,  si  sic 
fucrat,  non  impetrarent  Inquisitionem  subrcptitic,  et  tacha  ucritate  conucrsionis  uio- 
lentae,  ac  priuilegiorum,  nccnon  occisionum,  et  aliorum.  .  .  . 

2  Non  cst  verum,  ut  constat  ex  publicis  ¡nslrumenüs. 


relacOes  com  a  curia  ROMANA  13 

dell'  Inquisizione,  e  per  queste  cause  et  altre  il  predetto  signore  Re  fece 
informare  Vostra  Santitá  per  suo  Ambasciatore  !  al  tempo  che  chiese  e  li 
fu  concessa  delta  Inquisizione,  sopra  che  fu  spedita  la  Rolla  e  mandata  a 
Sua  Maesta ;  et  essendo  cosi,  e  durando  le  medesime  cause,  e  multipli- 
cando ancora  de  ogni  uolta  piü,  la  Santita  Vostra  sospese  delta  Inquisi- 
zione, e  commando  che  cessasse  1'eíTetto  della  Rolla,  e  piü  ad  altri  con- 
cesse per  un'  altra  Rolla  venia  e  perdono  generalmente  di  tulle  l'Eresre 
sino  allora  cornmesse  alli  Eretici  di  detti  Reami  e  Dominj,  soltó  certa 
forma  prout  in  Bulla. 

Et  appare  che  non  ui  sia  causa  giusta  ne  raggioneuoile  per  dcuersi 
sospendere  delta  Inquisitione,  perché,  come  di  sopra  é  detto,  ui  sonó  an- 
cora le  cause  giustificatissime,  per  le  quali  Vostra  Santita  la  concesse, 
e  per  non  douersi  concederé  agí'  Eretici  cosi  ampia  Venia  e  perdonanza, 
perche,  se  si  concesse,  come  appare,  per  auersi  respello  a  quelli,  che 
della  Ebraica  progenie  furono  batlezzali  per  forza,  che  allegano  essergli 
falla,  non  si  dée  auere  simile  considerazione,  ne  anco  per  questo  rispelto 
concedersi  un'tanto  perdono,  perche,  se  forza  li  fu  in  alquanli,  oltrache 
la  tal  forza  é  stata  condizionale,  com'  é  detto,  é  tale,  che  non  li  scusa 
per  auer'  tanto  lempo  che  viuono  come  Christiani,  pigliando  li  sagra- 
menti ;  e  quelli  che  dicono  esser'  Palterali  (al.  batlezzali)  per  forza, 
se  alquanti  sonó  slali,  sonó  al  presente  pochissimi2,  Perche  per  essere 
trascorso  tanto  tempo,  sonó  la  piü  parte  morti,  e  gl'aUri,  quali  non  uol- 
sero  uiuere  come  Christiani,  si  partirono  di  quesli  Reami  ad  altre  bande 
per  poter'  uiuere  nel  suo  giudaismo ;  E  queli  che  al  presente  uiuono,  e 
non  si  partirono,  quali  non  essendo  Christiani  pigliano  li  Sagramenli  della 
Chiesa,  non  sonó  né  Christiani,  né  Giudei,  e  poiche  abbitano  in  questi 
Regni  per  loro  utilitá  temporale,  non  osseruando  la  nostra  fede,  né  anco 
la  loro  dannata  perfidia  Giudaica,  non  sonó  degni  di  misericordia  veni- 
na, anzi  piü  tostó  merilano  di  essere  grauemenle  punili,  perseuerando 
nelli  loro  errtfri,  per  Jante  biasteme  come  hanno  commessi  coníra  la  nos- 
Ira  Santa  fede,  e  tanto  vilipendio  delli  Santi  Sagramenli. 

E  quasi  tullí  quelli,  che  al  présenle  di  delta  progenie  si  trovano  in 

1  Quare  ergo  non  dixit  Orator  Regis  Pontifici  de  Violentia,  priuilegiis,  etaliiscum 
miseris  istis  conventis,  sed  subreptitie  impetravit  Inquisitionem? 

2  Non  est  verum,  ut  experientia  demonstrat. 


li  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

delli  Regni  e  Dominj  di  Sua  Maesta,  furono  battezzali  Putti,  e  figlioli  de 
Padri  quali  giá  al  tempo  de  loro  natiuila  erano  baltezzati  e  ripulati  come 
Crisliani,  et  altri,  quali  di  loro  libera  uolonta  *  sonó  slati  battezzatti  in 
quesli  Regni  et  in  Regni  di  Gastigla,  e  vennero  ad  abbitare  in  questi  di 
Porlogallo  per  timore  dell'  Inquisizione  concessa  nelli  detli  Regni  di  Cas- 
tigla,  et  alcuni  di  loro  vennero  sentendosi  gia  colpeuoli  per  li  Proccssi 
fattoli  adosso,  et  alcuni  doppo  d'essersi  riconciliali,  et  altri  giá  conden- 
nati,  donde  non  é  sufficiente  causa  allegarsi  delta  forza2,  se  qualchef/una 
e  interuenuta  gia  a  costoro,  contra  che  si  tiene  informazione  che  uiuono 
male,  non  fu  falta  forza  alcuna,  che  con  uerita  si  possa  diré  essergli  fatta 
nel  Ballesimo. 

ítem  :  come  é  detto,  passa  35  anni  che  fu  la  conuersione  genérale 
di  quesli  di  delta  progenie,  e  d'allora  in  qua  uiuono  come  Cristiani,  et 
odono  li  Uífizi  diuini  e  Predicazzioni,  e  si  confessano  e  sonó  instrutli  nella 
fede  nostra  per  li  Prelati  e  Rellori  delle  Ghiese3,  E  molti  di  quesla  Gente 
sonó  Preti  in  sacris  constituli,  e  sonó  letlerati  in  tulte  le  scienze,  Di  modo 
che  li  errori  suoi  non  procedono  da  ignoranza,  né  da  non  essere  instrutti, 
onde  non  merilano  perdono,  Poi  si  uede  che  peccano  per  malizia,  mas- 
sime  bastando  per  sua  dollrina,  se  loro  auessino  voluto  seguiré,  il  buon 
essempio  della  anlica  gente  Christiana  di  detti  Reami. 

ítem:  é  passato  gran  lempo  che  contra  loro  non  si  fece  Inquisizione 
delli  suoi  errori,  né  per  li  Ordinarii,  né  per  aulorila  Apostólica,  nel  qual 
tempo  hanno  ben'potuto  essere  insegnati  et  instrutti  nelle  cose  della  fe- 
de,  se  loro  non  auessino  abusato  detto  tempo,  per  che,  douendosi  in  quello 
instruiré  e  farsi  insegnare  la  Dottrina  Cristiana,  pigliarono  occasione  di 
mal  uiuere  e  di  commeltere  li  suoi  errori  piü  audacemente  e  piü  sfaccia- 
lamente,  per  il  che  non  sonó  degni  di  un'  simile  perdono4,  come  Vos- 

1  Etiam  cum  istis  de  jure  est  mitius  agendum. 

2  Non  solum  fuit  allegata  violentia,  sed  odia  populi  et  occisiones  contra  ipsos,  qui- 
bus  omncs  isti  miscri  sunt  astricti.  • 

3  Non  est  vcrum ;  imo  istos  omnes  absque  doctrina  per  longissimum  tempus  re- 
liquerunt,  ut  cxperienlia  ostcndit ;  Imo  loco  doctrinae  occisiones  in  istos  miseros  per- 
petrati  sunt. 

*  Tanto  magis  debet  moueri  PP.  misericordia  erga  istos,  quando  videtur  quod  non 
solum  ipsos  uiolenler  ad  fidem  conduxerunt,  sed  postmodum  quasi  in  medio  maris 
absque  velis  sine  doctrina  suaui  derelinquerunt,  ac  deinceps  crudelibus  mortis  {tic),  tor- 
mentis,  ct  persecutionibus  consumarunt. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  15 

tra  Santiia  li  concede,  perche  con  quello  pigliaranno  occasione  di  pecca- 
re,  secondo  che  in  sino  a  quesl'ora  hanno  fatto. 

Né  anche  non  dée  essere  causa  del  detlo  perdono  il  dirsi  che  li  an- 
tichi  Cristiani  hanno  in  odio  questi  conuersi,  Perche  é  cosa  molto  noto- 
ria esser'  detti  conuersi  in  questi  regni  accarezzati  e  fauoriti  tanto  dalli 
Ré,  quanto  daquelü,  che  sonó  posti  al  gouerno  della  giustizia,  e  ben  Irat- 
tati  et  onorati.  E  sonoli  concessi  giudicalure  e  gubernazione  de  Cilla  e 
terre1,  e  fra  loro  e  li  antichi  Crisliani  non  si  fa  differenza  per  loro  es- 
ser  'nuoui  Crisliani2,  e  non  é  dubbio  esser  loro  tanto  innanzi,  e  che  ua- 
leno  in  modo  nel  Paese,  che  ancora  che  altri  per  odio  li  uogliano  sopra- 
fare,  non  li  polranno  nocere3.  E  se  per  qualche  odio  1'antichi  Cristiani 
hanno,  non  é  se  non  contra  le  male  opere  e  mal'  uiuere  delli  Trisli, 
quali  con  loro  Eresie  et  orrori  scandalizzano  la  pia  mente  delli  fedeli 
Crisliani.  Et  il  tale  odio  é  certo  che  cessará  emendadosi  loro  delli  erro- 
ri,  e  cessando  di  perseuerare  neü'  Eresie,  con  le  quali  si  fanno  maluo- 
lere,  ma  puré  li  buoni  sonó  ben  uoluli  e  slimali  e  accarezzati. 

ítem  :  il  prefato  signore  Re  per  seruizio  di  Dio  e  discarico  di  sua 
coscienza,  e  bene  delli  suoi  Regni,  e  come  colui  a  chi  molto  importa 
conseruare  li  suddili,  preserlim  quesli  di  questa  nazione,  delli  quali  troua 
molta  utilila4  alli  delti  Regni  per  esser'  loro  tratíanli  el  artegiani  di  tutie 
le  arti,  per  il  negozio  dell'  Inquisizione  ha  eletto  et  é  per  eleggere  per- 
sone di  tanto  mérito  e  leltere  e  bona  coscienza  5,  che  cessa  ogni  sinistra 
oppinione  di  esser'  falta  a  nessuno  ingiuslizia,  e  che  molto  uegliaranno 
perche  non  sia  persona  alcuna  per  falsi  testimonj,  o  aitrimente,  condan- 
nata  a  torto,  e  che  faranno  giustizia  con  ogni  misericordia  et  equita:  Per 
il  che  é  superfluo  il  perdono  e  venia  che  si  concede. 

E  manco  dée  dar'  causa  a  sospendere  linquisizione,  et  a  concederé 
detlo  perdono,  e  (al.  il)  voler  diré  che  in  la  pelizione  di  delta  Inquisizione 
si  ebbe  rispelto  all'  inleresse  temporale,  quale  deila  confiscazione  della 
robba  de'  condannati  pub  seguiré,  perche  é  assai  lonlano  del  verissimile 

1  Non  est  verum. 

2  Absit  et. . . 

3  Occisiones  et  scandala  et  alia  inistos  miseros  perpelrata  hoc  possunt  attestari. 

4  Maior  utilitas  erat  in  coligendis  fructibus  ab  Inquisitione,  si  illam,  ut  crede- 
bant,  obtinuissent. 

5  Notum  bene  videatur  quos  crearunt  officiales. 


16  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pensare  d'un'  Re  tanto  Catlolico,  e  che  lanío  spende  ogni  di,  et  ha  spesso 
del  suo  per  ridurre  alia  cognizione  della  vera  fede  Maomeltawi,  Gentili, 
et  Idolalri  de  diuersi  Paesi,  e  lanío  lonlane  Prouincie.  Insuper  le  robbe 
di  questa  Gente  sonó  per  la  maggior  parte  in  monela,  argento,  gioie,  e 
mobili  \  le  quali  coloro,  che  si  sentano  colpeuoli,  gia  hanno  estralle  e  le- 
uate  da  questi  Regni,  et  ogni  di  le  leuano  per  paura  dell'  Inquisizione, 
e  le  quali  fácilmente  possono  occullare  et  inlurbare  in  modo  che  non  siano 
Irouale  per  auerse  delte  robbe  per  questo  timore  estratte  e  leuate  fuora ; 
e  per  la  cessazione  de'trafichi  hanno  palito  questi  Regni  gran  'danno  e 
sonó  l'Entrate  molto  scemate  2.  Di  modo  che,  se  il  rispelto  dell'  interesse 
temporale  ui  fosse,  molió  maggiore  riuscirebbe  d'auerli  promesso  uiuere 
per  il  passalo,  che  della  confiscazione  sopradetta,  della  quale  nessuna  uti- 
lita  e  per  seguiré,  e  per  uia  d'interesse  se  fosse  ilo  molto  piü  facile  é 
auerlo  da  loro,  perche  é  cosa  chiara  che  lo  daranno  grosso  sponté  accio- 
che  non  se  insista  in  la  inquisizione.  E  perche  questa  é  la  vera  informa- 
zione,  e  onestissima  e  raggioneuole  cosa  che  l'Inquisizione  ui  sia,  e  la 
sospensione  si  leui :  e  quanto  al  genérale  perdono  nel  modo  e  forma  che 
si  concesse,  Vostra  Sanlita  deve  comandare  per  seruizio  di  Dio  e  per  le 
cause  dette  che  non  abbia  eífelto. 

Praeserlim  perche  della  forma  e  modo  di  questo  perdono  nascono 
l'inconuenienti  infrascrilli  usandosi  prout  jacet. 

In  primis3  perche  la  Rolla  mostra  diré  che  Vostra  Santita  informata 
che  in  questi  Reami  uierano  fsicj  alcuni,  quali  aueuano  preso  l'acqua 
del  santo  battesimo  per  forza,  li  quali  dice  che  non  debbino  essere  ri- 
putati  per  membri  della  Ghiesa,  né  castigati  come  Christiani,  la  qual  cosa 
si  deue  intendere  in  li  battezzati  per  forza  assolula,  perché  d'altra  forza 

1  Non  est  verum,  quia  habcnt  immobilia  bona  quamplura. 

2  Non  credidcrunt  nec  putarunt  quod  in  istis  miseris  tanta  animorum  potentia  es- 
set,  ut  contra  eorum  Ucgom  et  Regnum  coram  Papa  ita  ardue  et  animóse  litigasscnt, 
quasi  credentes  uno  ictu  daré  Inquisitionem  et  Incarcerationem,  lcgis  istis  exitum  pro- 
hibentis  et  eorum  personarum  et  bonorum  único  contextu  ficri  Patronos,  ipsosquc  post- 
modum  posse  paulatim  et  pedetentim  euellere  et  exterminare;  si  enim  talia,  prout 
postmodum  euenerunt,  cogitassent,  nunquam  profccto  hac  via  contra  istos  miseros  usi 
fuissent. 

3  Ad  hace  omnia  inconuenicntia  inferius  annotata  respondetur  abundantissime 
nomine  CIcmentis,  ac  etiam  iidem  Theologi  respondent.  Ideo  ad  eorum  responsiones  est 
recurrendum. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  17 

» 

non  si  puo  intendere  ;  e  se  a  costoro  dona  indulgenza  e  perdono  per  mezzo 
della  confessione  sacraméntale,  é  grande  inconueniente  e  contra  Jus  Diui- 
num,  Perché,  giacché  cosloro  non  sonó  Crisliani,  non  se  gli  pub  daré 
sagramento  alcuno  della  Santa  Madre  Chiesa ;  et  altrimente  se  in  questi, 
che  preíendono  essere  ballezzati  per  forza  assolula,  non  s'intende  il  per- 
dono della  Bolla,  restaño  dichiarati  non  Cristiani  per  la  medesima  Bolla, 
quo  casu  non  si  da  rimedio  o  prouisione,  e  si  permelle  che  viuano  come 
per  il  passalo  pigliando  li  Sagramenti,  e  ministrandoli  se  sonó  ripulali 
sacerdote :  et  intentando  questi  tali  ad  uscire  del  rimedio  della  Bolla,  si 
entra  in  maggior  confusione  e  senza  poíere  con  loro  de  jure  ritoccare 
de  cose  passate. 

ítem  :  altro  inconueniente  nasce  ancora  di  questa  Bolla  del  perdono, 
quale  é  che  uuole  che  allí  non  colpeuoli  né  sospetti  di  Eresia,  confes- 
sandosi  e  scriuendosi  secondo  la  forma  datagli,  siano  date  le  cedole  qua- 
liter  se  sonó  confessati,  e  che  piü  non  possino  essere  accusati  né  inqui- 
siti  dell'  Eresie  e  Biasteme  sino  allora  commesse.  Del  che  seguila  che  li 
colpeuoli  potranno  fíete  confessarsi  non  confessando  colpa  alcuna,  com' 
é  da  presumere  che  facciano,  auendo  quarant'  anni  che  alcuni  lo  fanno 
e  si  confessano  fíete,  come  gia  consto  per  processi,  e  cosi  restaranno 
perdonati  et  assoluti  nel  Foro  contenlioso  de  quello,  che  non  hanno  chiesto 
perdono  né  nel  penitenziale  né  nel  conlenzioso  Foro,  e  restando  negl' 
errori  pristini  pigliaranno  e  traltarano  li  sagramenti  in  grand  obbrobrio 
di  nostra  santa  fede. 

L'altro  inconueniente  appare  che  abbia  seco  delta  Bolla  molto  grande 
che  dice  Vostra  Sanlila  essere  informata  che  molti  di  quelli,  che  nacquero 
de  Crisliani,  ouero  saranno  battezzali  sponlé,  per  indiscreta  conuersa- 
zione  o  diabólica  persuasione  incorsero  nelF  eresie  et  apostasie,  e  uolle 
che  tali  Erelici,  non  essendo  accusati  né  inquisiti,  né  altramente  li  loro 
eccessi  notoriamente  in  giudizio  manifesli,  ouero  non  essendo  publica- 
mente infamati,  la  quale  infamia  peruenga  alie  orecchie  del  Vescouo  Marco 
Vigerio,  Nunzio  di  Sua  Santita,  siano  perdonati  per  confissione  segreta, 
scriuendosi  nel  memoriale  secondo  la  forma  della  Bolla ;  e  senza  constare 
alia  Chiesa  nel  foro  contenzioso  come  li  tali  Eretici  chiesero  perdono  delle 
loro  Eresie,  e  senza  esser'  riconciliati  delle  colpe  passale,  commanda  che 
siano  ammessi  al  grembo  della  Santa  Madre  Chiesa,  et  alli  Sagramenti  et 
amministrazione  di  quelli,  potendo  constare  alia  Chiesa  di  loro  colpe  et 

TOMO  III.  3 


18  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

infamie  ncl  foro  contenzioso,  per  il  che  e  obligata  ad  euitarli ;  e  cosí  gli 
perdona  nel  foro  contenzioso,  nel  quale  non  consta  auer'  chiesto  perdo- 
no, del  che  seguirá  gran'  scandalo  alia  Ghiesa  e  fedeli  cristiani,  uedendo 
allí  tali  receuere  et  amministrare  li  sagramenti,  e  conseruati  nelle  di- 
gnita  et  Oílizi  Eeclesiastici  e  secolari  quelli,  i  quali  sanno  essere  Eretici, 
senza  constare  auer'  loro  chiesto  perdono  delle  loro  Eresie. 

ítem  :  é  da  credere  che  cosi  quelli,  che  non  sonó  infamati,  li  de- 
lilti  delli  quali  al  presente  sonó  oculli,  per  paura  che  imposterum  gli  sa- 
ranno  discoperti  per  l'ínquisizione,  b  altriraenti,  e  cosi  ancora  l'infamali 
ed  inquisiti,  li  eccessi  delli  quali  gia  sonó  manifesti,  e  cosi  li  condanna- 
ti,  e  tutti  li  altri,  che  usaranno  delli  rimedj  di  questa  Rolla  e  della  con- 
fessione  segreta,  com  timore  delle  pene,  che  di  raggione  incorrono,  che 
per  cuitarle  e  per  godere  delli  benefizj  di  detta  Rolla,  come  é  del  certo 
da  presumere  per  la  perseueranza  che  sino  al  presente  hanno  tenuto  in 
loro  errori,  usaranno  de  delti  rimedj  della  Rolla  e  della  confessione  ficta, 
e  pur  restaranno  immersi  nelli  loro  errori  senza  emenda  alcuna,  conser- 
uati nelli  onori  e  dignita  loro  con  non  poco  scandalo  delli  fedeli  Cris- 
tiani. 

ítem  :  la  Rolla  commanda  rilassare  delle  carceri  e  Priggioni  tutti 
quelli,  che  saranno  presi  per  questo  crimine  di  Eresia,  Aposlasia  e  Res- 
temia,  acciochó  possano  andaré  a  confessarsi  et  usare  delli  rimedj  dell' 
Indulgenza,  del  che  ne  puo  seguiré  un'  grand'  inconueniente,  perche  la 
Rolla  uuole  che  siano  rilassati  auanti  che  si  confessino  né  scriuano;  et 
osseruando  la  forma  di  essa,  et  essendo  cosi  rilassati,  se  trasferiranno 
doue  li  piacera  per  essere  in  sua  liberta,  senza  altrimente'far  quello  che 
la  bolla  ordina  e  commanda. 

ítem  :  appare  addurre  altro  inconueniente,  dal  quale  ponno  nascerne 
molli  altri,  perche  perdona  allí  condannati,  inquisiti  e  riconciliati,  quali 
in  questi  Regni  aueranno  domicilio,  ancoraché  in  essi  siano  venuli  d'al- 
tri  Regni :  sonó  abbilanti  at  hanno  domicilio  molli,  quali  sonó  inquisiti, 
et  altri  riconciliati  e  condannati  nelli  Regni  di  Castiglia ;  et  auere  questi 
in  Portogallo  per  perdonali,  c  commandare  che  non  gli  sia  tolto  la  robba, 
sarcbbe  occasione  del  scandalo  si  delle  giustizie  secolare  come  ccclesias- 
tiche  delli  liegni  di  Castiglia,  e  potrebbe  ancora  suscilare  scandalo  fra  Re- 
gno  e  Regno,  cosa  che  Vostra  Santila  molto  dourebbe  pensare  ad  euilare. 

ítem  :  sara  ancora  causa  questa  Rolla  che  delli  Regni  di  Castiglia 


relacOes  com  a  CURIA  ROMANA  19 

uengano  a  Portogallo  molti  colpeuoli  in  delti  eccessi,  quali  con  testimonj 
falsi  provaranno  abbilare  o  auer'  domicilio  in  questi  Regni  al  tempo  della 
publicazione  di  delta  Bolla  per  poter  godere  dell'  indulgenza  et  csenzione 
di  quella,  quel  che  etiam  sara  grande  scandalo  alie  persone  del  Re  di 
Castiglia,  et  alie  giuslizie  si  ecclesiastiche  come  secolari  delli  suoi  Regni, 
e  cause  di  gran'  discontento. 

ítem  :  sarebbe  ancora  causa  questa  Bolla  del  perdono  d'una  grande 
infamia  de  questi  Regni,  perche  potranno  diré  quelli  delli  Regni  vicini 
che  Portogallo  sia  ricetlacolo  sicuro  et  asilo  d'Ereíici. 

ítem  :  dice  la  Bolla  che  quelli  saranno  condannali  da  qualsiuoglia 
giudice,  ancora  che  siano  riconciliati  o  rilassi,  che  se  uorrano  mostrare 
dinanzi  al  detlo  Nunzio  che  sonó  stali  mal  condannati,  che  siano  uditi  di 
nuouo,  et  in  questi  Regni  commessi :  e  delli  sonó  molti,  che  furono  con- 
dannati e  riconciliati  nelli  Regni  di  Castiglia,  e  se  adesso  douessero  es- 
sere  uditi  di  nuouo  per  allro  a  mostrare  che  sonó  stati  mal  condannati 
per  l'Inquisitore  di  Castiglia,  gli  bisognarebbe  allegare  molte  cose,  le 
quali  tornarebbono  ad  infamia  de  detti  Inquisitori  et  Ordinarii  da  quali 
fossero  stati  condannati,  e  delli  testimonj ;  e  questo  loro  intento  ageuol- 
mente  potria  riuscirgli  con  testimonj  falsi  esaminati  contro  detti  Inquisi- 
tori et  Ordinarj,  e  testimonj  assenti,  quali  é  certo  che  non  saranno  chia- 
mati  né  vorranno  difendersi ;  e  questo  sarebbe  causa  di  gran  scandalo  ad 
essi  Inquisitori  di  Castiglia,  Arciuescoui,  Vescoui,  e  Cardinali,  et  altre 
persone  di  gran  dignila  e  crédito,  et  alli  testimonj ;  et  ollra  di  se  trattare 
del  pregiudizio  del  loro  onore  e  fama,  pub  generare  scandalo  e  diííerenze 
tra  l'uno  e  l'altro  Regno,  el  ancora  da  questo  ne  pub  seguiré  pregiudizio 
alP  onore  delli  Giudici  Ordinarii,  che  le  cause  delli  sopradetli  in  questi 
Regni  di  Portogallo  giudicaranno  fsicj  delli  quali  molti  sonó  morli. 

ítem  :  non  si  puo  l'Erelico  al  corpo  místico  di  Cristo  et  alia  Chiesa 
uniré,  perseuerando  il  tale  in  Eresia ;  e  perche  nessuno  si  pub  reinte- 
grare a  questa  unione,  se  non  ritornano  alia  fede  Catlolica,  non  si  pub 
dichiarare  per  reuerso,  se  non  costando  al  Papa  et  alia  santa  Chiesa  della 
reuersione. 

ítem :  per  la  sola  confessione  sagramentale,  quale  si  chiama  auri- 
culare,  non  consta  alia  Chiesa,  ne  pub  constare,  della  reuersione  dell' 
Erético,  dalo  che  il  confessore  día  al  confitente  cedola  secondo  la  forma 
della  Bolla. 

3  * 


20  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ítem  :  in  quanto  la  Bolla  dispone  che  delte  Cedole  si  diano  ancora 
a  quelli,  che  non  confessaranno  esser'  colpeuoli  di  Eresia,  né  sospetti, 
aceulta  piü  la  chiesa  la  riuersione  di  delli  Eretici,  e  da  occasione  che  si 
facciano  piíi  fíete  confessioni,  e  porta  conseco  grande  inconuenienle  con 
daré  occasione  che  qualchuno  sara  perdonato  nel  foro  contenzioso,  che 
nel  foro  della  coscienza  non  confessara  l'Eresie,  né  ha  auuto  di  quelle 
contrizione,  né  anco  nel  foro  contenzioso  chiese  perdono. 

ítem  :  questa  bolla,  in  quanto  dispone  che  li  Eretici  siano  perdonati 
mediante  detta  confessione,  non  appare  che  conceda  questo  perdono  in 
modo  conueniente  al  foro  misto  o  contenzioso,  non  potendo  per  il  tale 
perdono  constare  alia  Chiesa  della  reuersione  delli  Eretici,  constandogli 
gia  ó  potendogli  constare  nel  futuro  loro  colpe  nelli  delti  fori. 

ítem :  cum  sit  che  molto  sia  di  euilare  la  communicazione  delli  fe- 
deli  Cristiani  con  li  Erelici,  saluo  con  quelli,  da  chi  si  pub  sperare  bene, 
e  la  loro  reuersione  senza  pericolo  de  una  tale  parlecipazione,  per  essere 
il  crimine  dell'  Eresia  contaggioso  per  la  cupidila,  che  li  Erelici  tengono  di 
ridurre  tutti  alie  loro  false  opinioni,  Da  questo  perdono  ne  nasce  che  non 
si  possa  conoscere  per  la  Chiesa  e  per  li  fedeli  cristiani  l'Eretici,  per  eui- 
tare  la  tale  partecipazione  et  acautelarse  de  loro  fíete  e  triste  conuersa- 
zioni,  del  che  siegue  gran  pericolo  alli  semplici  et  indotli. 

ítem  :  del  tanto  facile  modo  di  perdonare  si  da  occasione  et  inecn- 
tiuo  alli  tristi  di  peccare,  perche  aueranno  speranza  d'un  altra  uolla  olle- 
nere  simile  perdono.  Et  il  non  essere  puniti  né  ripressi  delle  loro  colpe, 
in  modo  che  si  risenlino  e  si  uergognino  delle  colpe  passale,  da  causa  al 
non  si  leuare  da  quelle,  né  anche  emendarsi,  e  che  fácilmente  commelte 
delle  altre. 

ítem :  perdonandogli  le  colpe  passale  mediante  la  segreta  confessio- 
ne, tornando  doppoi  a  peccare  e  reincidere,  non  si  ponno  castigare  come 
Rilassi,  perche,  chiedendo  uenia  e  riconciliazione  delle  colpe  commesse 
doppo  la  detta  confessione,  hanno  ad  essere  rimesse  e  ridolti  al  grembo 
della  Santa  Madre  Chiesa,  II  che  gli  dará  occasione  et  audacia  a  non  us- 
cire  mai  dalli  loro  errori,  confidandosi  nella  tal  riconciliazione,  che  an- 
cora ponno  fare. 

Altro  grande  inconueniente  e  scandalo  se  seguita  de  della  Bolla,  in 
quanto  dona  venia  e  perdono  a  quelli  che  furono  batlezzati,  ma  ancora 
alli  anlichi  Cristiani,  II  che  appare  che  dimostra  che  li  anlichi  Cristiani 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  21 

lengono  necessita  di  (al  perdono,  ó  qualcuno  di  loro  !,  la  quale  induce  in- 
famia alia  Nazione  Portoghese,  quale  sempre  é  slala  Crislianissima,  come 
chiaramente  si  é  visto  e  saputo  per  tutta  la  Cristianita,  el  in  molte  altre 
Prouincie  de  Maomellani,  Gentiü,  et  allri  Infedeli,  del  che  danno  chiaro 
testimonio  la  morte  che  hanno  patito,  et  il  sangue  che  hanno  sparso  e  di 
continuo  spargono  detti  Portoghesi  per  la  fede  di  Cristo,  seguilando  di 
mano  in  mano  le  vestigie  dei  loro  anlecessori ;  e  cosi,  concedendogli  il 
tale  perdono,  sarebbe  supporre  loro  essere  involli  nelli  errori  delli  con- 
uersi  discendenti  della  progenie  Ebraica,  cosa  que  gli  antichi  Portoghesi 
Cristiani  non  potriano  sopportare  senza  graüe  scandalo2,  cum  sit  che  in 
questi  Regni,  per  la  somma  bonta  e  grazia  dell'  Omnipotente  Dio,  non  ci 
sonó  allri  che  habbino  bisogno  di  essere  come  Eretici  perdonati,  saluo 
quelli  che  dalla  Ebraica  Gente  discendano,  e  pero  é  cosa  scandalosa  e  non 
necessaria,  e  di  grand'  Infamia  al  Regno,  parlarsi  in  simile  materia  de 
altri  che  delli  detti  nouiter  conuersi. 

E  quello  che  piü  aggraua  et  accresce  delto  scandalo  é  che  la  Bolla 
parla  in  Maestri,  et  Arciuescoui,  e  Vescoui,  et  altre  Persone  coslituile 
in  dignita  Ecclesiastica  e  seculare,  essendo  li  detti  Maestri  delle  milizie 
del  Regno  le  Persone,  che  sonó,  e  li  Arceuescoui,  Vescoui,  et  altre  per- 
sone conslituite  in  dignita,  persone  Crislianissime,  e  di  grande  nobilla, 
et  anlica  prosapia,  nelli  d'ogni  macula  et  infamia  de  simili  peccati,  allí 
quali  sarebbe  vergogna  e  grande  incarico  esser  'nominati  in  tale  materia 
con  quelli,  che  dalla  Ebraica  Progenie  discendono. 

Ancora  nella  detta  Bolla  vi  é  altro  inconueniente  che  l'essecuzione  di 
quella  é  commessa  al  detto  nunzio  con  facolfa  d'Inquisitore  prout  in  Bul- 
la, e  qual  nunzio,  essendo  forasliero  in  quesli  Regni,  benché  sia  persona 
di  crédito  e  molió  letterata  e  che  molto  merita,  pur  simili  Officii  sempre 
si  sogliono  commeltere  alli  nalurali  e  Regnicoli,  che  hanno  piü.conos- 
cenza  delle  qualita  delle  persone,  tanto  delle  colpeuole  quanto  delli  tes- 
timonj,  e  conoscano  e  sanno  di  chi  s'hanno  da  confidare,  et  a  quelli  hanno 
da  dar  crédito,  e  sanno  ancora  capare  le  Persone  per  aiutarsi  nelli  Eser- 
cizi  delli  tali  Officii,  e  per  altre  cause  molte  e  raggioneuoli,  che  concer- 
nano  il  seruizio  di  Dio  et  il  bene  del  Regno,  non  si  deue  concederé  fa- 
culta d'Inquisitori,  saluo  alli  naturali  Regnicoli. 

1  Quod  veteres  christiani  portugalenses  non  indigent  venia  ab  haeresi. 

2  Quis  est,  qui  possit  dicere :  peccatum  non  habeo,  nec  venia  indigeo? 


22  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

Per  le  quali  raggioni  e  grande  inconueniente  Vostra  Santita  non 
deue  uolere  che  detla  bolla  del  perdono  si  publichi  né  abbia  efTetto,  per- 
che, publicandosi  nella  forma  concessa,  oltre  che  non  sara  di  seruizio  di 
Dio,  sara  causa  de  molti  scandali. 

Supplicasi  per  parte  del  Signore  Re  a  Vostra  Santita  che,  per  le 
cause  di  sopra  delte,  e  per  seruizio  di  Dio,  uoglia  che  si  usi  di  delta  In- 
quisizione  nelli  Regni  e  Dominj  suoi ;  e  piacendoli  concederé  venia  e  per- 
dono del  crimine  et  Eresia,  Apostasia  e  Biasteme  sino  al  presente  com- 
messe,  sia  solamente  a  quelli,  che  della  Ebraica  Gente  discendono,  quali 
furono  ballezzati  e  conuersi  nella  conuersione  genérale,  e  d'allora  in  qua, 
et  a  loro  figlioli  e  discendenti,  e  sia  in  modo  che  cessino  rinconuenienti 
delli  di  sopra  ;  e  che  costoro  siano  perdonati  delli  eccessi  di  questa  qua- 
lita  sino  al  presente  commessi,  e  restino  rilenuti  e  con  timore  accioché 
non  ardiscano  a  reincidere  nelli  detli  eccessi  e  peccati,  e  reincidendo  pos- 
sino essere  casligati  secondo  li  loro  delitti  meritaranno.  Itera  in  modo  che 
costi  alia  chiesa  nel  foro  misto  e  contenzioso,  doue  costa  e  puo  costare 
de  loro  colpe,  che  loro  chiesero  perdono,  e  uolse  rilornare  al  grembo 
della  santa  Madre  Chiesa,  che  non  si  dia  causa  a  che  si  facciano  confes- 
sioni  fíete. 

Et  il  modo  che  quella  Maesta  supplica  Vostra  Santita  che  si  debbia 
usare  nella  Inquisizione,  et  in  forma  et  in  che  si  pub  concederé  venia  e 
perdono  senza  1'inconuenienti  di  sopra  annotati,  é  l'infrascritto :  l 

In  primis  che  si  usi  delP  Inquisizione  come  era  concessa  al  Padre 
fra  Diego  di  Silua  Confessore  di  Sua  Maesta ;  e  perché  lui  per  cerle  cause 
si  scusa  di  non  potere  accettare  detto  oíüzio,  si  commella  detto  oífizio  al 
Vescouo  di  Lamego,  cappellano  maggiore  di  detto  Signore  Re,  con  la  fa- 
colta  et  autorilá  che  era  commesso  al  detto  fra  Diego,  e  con  la  forma  del 
perdono  e  capiloli  infrascritli,  cioé : 

Che  a  Vostra  Santita  piaccia  ch'ogni  persona  di  questa  progenie 
Ebraica,  quale  furono  batlezzali  e  conuersi  nella  general  conuersione, 
che  in  questi  Regni  e  Dominii  di  Portogallo  si  fece,  e  d'allora  in  qua, 
tanto  di  quelli  primi  conuersi,  come  de  loro  discendenti,  quali  saranno 
abbitanti  ó  aueranno  domicilio  nelli  Regni  e  Dominj  di  Sua  Maesta  al 

1  Consideretur  qua  misericordia  amplcctuntur  quos  ad  fidem  violentcr  conduxe- 
runt. 


relacOes  com  A  CURIA  ROMANA  23 

tempo  della  prima  publicazione,  che  si  fara  della  bolla  concedenda,  et 
che  in  tali  detti  Regni  e  Dominj  saranno  presentí,  e  dentro  del  tempo 
della  grazia1,  e  quale  l'Inquisilori  assegnaranno  conuenienle,  nel  Vesco- 
uato,  doue  la  tale  persona  sara  abbilanle,  accioché  le  persone  che  si  sen- 
tiranno  colpeuoli  vengano  a  chiedere  perdono,  quale  uorra  a  detti  Inqui- 
sitori,  ó  a  qualsiuoglia  di  loro,  che  a  questo  abbia  autorila,  chiedendoli 
perdono  dell'  Eresia  ó  apostasia  della  fede,  che  biaslemon,  senza  che  piü 
sia  obligato  a  chiedere  alP  Inquisitori,  ó  a  qualsiuoglia  de  loro,  special- 
menle  li  casi  ó  loro  circostanze  in  che  peccó,  né  anche  la  quantita  delle 
uolte  che  li  tali  eccessi  commesse,  sia  ammesso  alia  riconciliazione  e 
grembo  della  Santa  Madre  Chiesa,  e  perdónalo  dell'  Eresia,  apostasia, 
e  biastema  di  qualsiuoglia  qualita  e  grauita,  che  si  sanno  allora  com- 
messe, con  questo,  che  prometía  e  quieli  il  tale,  che  chiedera  perdono 
in  presenza  dell'  Inquisilore,  che  d'allora  innanzi  rivera  come  Cattolico 
Cristiano,  et  abiuri  ogni  Eresia,  e  si  uada  a  confessare  alli  Sacerdoti,  li 
quali  saranno  deputati  dalP  Inquisitori,  che  possano  udire  tali  confessione 
segrete  e  sagramentali ;  e,  fatto  questo,  sia  perdónalo  de  tutti  li  eccessi  so- 
pradetti  sin  'allora  commesi,  ancorché  lui  chiedera  il  tale  perdono  a  quel 
tempo  sia  publicamente  infámalo  d'Eretico,  apostata,  e  di  giudaizare  e 
biastemare,  ed  ancorché  li  detti  eccessi  siano  provati  per  Inquisizione  ge- 
nérale ó  speciale,  altrimente  con  questo,  che  nessuno  allora  non  sia  stato 
accusato  in  giudizio  ó  messo  in  priggione  per  causa  de  detti  ecessi,  e 
delli  eccessi  di  delta  qualita  commessi  sino  al  detto  tempo,  in  che  si  chie- 
dera perdono,  non  potra  colui,  che  cosi  sara  perdonato,  dappoi  in  modo 
alcuno  essere  accusato,  né  d'Inquisizione  punito,  ancorché  di  detti  eccessi 
costi  in  giudizio  ó  extra,  per  inquisitionem  ó  alias. 

ítem:  a  quelli,  che  chiederanno  perdono,  gli  sara  concessa  la  ri- 
conciliazione con  qualche  leggiera  penilenza  arbitrio  Inquisitoris2,  la  qual 
sara  segreta ;  et  alli  cosi  perdonati  restera  la  loro  robba,  e  saranno  res- 
tituiti  alli  onori,  dignita,  Benefizj,  Oíüzj ,  Priuilegj,  esenzioni,  cosi  come 
se  mai  simili  eccessi  auessino  commesso. 


1  Sic  fit  in  hispania,  et  vocatur  publice  tempus  gratiae  illud  ab  Inquisitoribus  as- 
signatum;  et  idem  petunt  fieri  cum  istis  miseris,  quibus  divinum  ct  humanum  jus  fa- 
vet,  ut  clarum  cst. 

2  Volunt  quod  Inquisitores  faciant,  sed  non  Papa. 


24  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ítem  :  allí  confessori,  che  cosi  saranno  deputati,  si  concede  facolla 
di  assoluer  '  li  tali,  che  a  loro  si  confessaranno,  de  tutli  li  detli  cccessi 
e  censure  ed  anche  scommuniche,  in  che  fossero  incorsi  a  jure  uel  ab 
nomine  per  causa  di  detti  eccessi,  eliam  che  siano  compresi  in  Bulla  Coe- 
nae  Domini ;  e  cosi  ancora  li  possano  udire  di  confessione,  et  assoluere 
delli  allri  peccali  in  foro  conscientiae. 

E  se  li  prefaü  della  Nazione  Ebraica,  che  abbiteranno  in  detti  Re- 
gni  e  Dominio  al  delto  tempo,  essendo  per  caso  assenti  al  lempo  della 
publicazione,  che  sará  falta  della  detta  bolla  nel  Vescovato  dove  il  tale 
assente  obbita,  polranno  godere  di  quesla  venia  e  benefizio,  venendo  den- 
tro d'un  'anno  a  chiedere  la  detta  venia  nella  predetta  forma,  computando 
l'anno  dal  di  della  prima  publicazione,  che  sará  falta  nel  Vescouato  doue 
é  l'abitazione  del  assente. 

ítem  :  contra  quelli,  che  sonó  giá  stati  accusati  ó  incarcerali  auanli, 
che  chiedano  venia  nella  forma  sopradetla,  si  procederá  prout  de  jure, 
e  non  polranno  godere  della  forma  di  questo  perdono ;  e  cosi  ancora  si 
procederá  prout  de  jure  contro  quelli,  che  saranno  colpeuoli  nelli  pre- 
fati  eccessi,  se,  essendo  presentí  in  questi  Regni  e  Dominj  di  Sua  Maes- 
tá,  non  vennero  a  chiedere  perdono  nel  termine  della  grazia,  che  l'In- 
quisitori  assegnaranno  nelli  Vescovali  doue  li  colpevoli  abbitaranno,  al 
tempo  della  prima  publicazione,  che  di  questa  Bolla  si  fará  in  detli  Ves- 
covati ;  poiche  solamente  goderanno  di  questo  benefizio  di  Venia  quelli, 
che  in  questo  primo  tempo  della  grazia,  quale  si  dará  al  tempo  della 
prima  publicazione  della  Bolla  nelli  detti  Vescovati,  chiederanno  detta 
Venia,  et  ancora  li  assenti  che  dentro  dell'  anno  veniranno  a  chiederla, 
come  di  sopra  si  é  apieno  dichiaralo. 

ítem  :  quelli  che  chiederanno  della  Venia  e  riconciliazione  saranno 
scritti  in  un'  libro,  che  si  ordinará  a  quest'  efletto  per  il  nolaro  ó  scriba 
dell'  Inquisizione  con  annotazione  de  loro  nomi  e  delle  terre  doue  abbi- 
tano,  e  del  giorno,  mese,  et  anno,  nel  quale  chicdino  perdono  l ;  la  quale 
annotazione  sará  sottoscritta  per  colui  che  chiederá  il  perdono,  e  per 
1'Inquisitore  a  chi  si  chiederá,  e  per  due  Persone  Religiose  di  qualsiuo- 
glia  Ordine,  ó  Preti  secolari,  in  presenza  delli  quali,  senza  piü  essere 


1  Judicialis  Venia:  quid  crgo  istis  dabitur  quod  pictatcm  aliquam  contincat? 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  25 

presentí,  si  chiederá  la  delta  Venia  e  riconciliazione,  e  se  concederanno 
a  queste  persone,  cioe  rinquisitorc,  notaro,  e  due  Testimonj  Religiosi¿ 
Preti,  che  a  tal  alto  saranno  presentí,  si  commandi  et  imponga  silenzio  per- 
petuo sotto  pena  d  iscommunica  ipso  facto  incurrenda  circa  l'atto,  eccelto 
se  quelli  che  cosi  fossero  perdonati  loro  dicessero  (sic)  poi  nelli  eccessi 
sopradetti,  essendo  di  quelli  Inquisiti  o  accusati,  perche  allora  potranno 
discoprire  e  diré  come  li  tali  gia  ebbero  venia  e  furono  riconciliati. 

Con  dichiarazione  che  questi,  che  cosi  saranno  perdonati  e  riconci- 
liati, se  dapoi  commetterano  crimine  d'Eresia  o  apostasia  della  fede  saranno 
puniti  secundum  dispositionem  et  formam  juris  et  justitiae1. 

ítem  :  Vostra  Sanlila  conceda  se  qualcuno  alleghera  etaffirmará  per 
certo  che  sia  stato  battezzato  per  forza  precisa  et  assoluta,  questo  tale, 
uolendo  al  presente  essere  Cristiano  e  battezzato  di  sua  libera  volontá, 
sia  battezzato  ad  cautelan),  et  gli  siano  perdonati  tutti  li  errore  passati 
d'eresia,  apostasia  e  biastema ;  e  pur  li  tali  non  potranno  esser  'promoli 
ad  sacros  Ordines  intra  decennium,  da  computarsi  dal  di  che  saranno 
falti  Cristiani,  e  gli  sará  la  loro  robba  réstala2.  E  non  uolendo  questi, 
che  cosi  proueranno  la  forza  assoluta,  esser'  Cristiani,  non  saranno  pu- 
niti tanquam  haeretici,  perche  non  si  puo  diré  che  mai  fussero  Cristia- 
ni ;  má,  se  li  tali  aueranno  riceuuti  li  sagramenti  della  santa  Chiesa,  sa- 
ranno puniti  come  sagrileghi  et  illusori  delli  sagramenti,  e  saranno  di- 
chiarali  giudei. 

Et  in  questa  forma  di  perdono  si  usa  con  li  sopradetti,  che  dalla 
Gente  Ebraica  discendono,  di  molta  benignitá  e  misericordia,  e  loro  sonó 
perdonati,  e  sodísfatla  la  Chiesa  nel  foro  contencioso,  e  costa  li  colpe- 
uoli  chiedere  perdono,  e  torsi  \ia  l'occasione  de  confessioni  íitte,  e  per- 
donarsi  a  quelli  che  chiedono  perdono,  e  non  a  quelli  che  non  lo  chie- 
dono.  ítem :  restaño  li  perdonati  con  timore  di  tornare  a  reincidere  nelli 
eccessi  sopradetti  ed  essere  puniti  tanquam  relassi3,  Onde  andaranno 

1  Ut  rclapsi  puniantur :  ergo  veniae  concessio  ac  petitio  pro  condemnatione  quoad 
primum  delictum  habetur,  quo  nil  crudelius. 

2  Quibus  favoribus  etiam  praecisé  conuersos  attrahunt  ad  fidem,  et  hicapprobant 
praccisam  violentiam  ;  si  enim  hoc  sic  esse  non  scirent  utique  etiam  istud  non  conces- 
sissent. 

3  Videtc  istorum  inlcntioncm,  licet  alias  supra  proximé  dixerant  ut  iusta  formam 
juris  puniretitur. 

TOMO  III.  i 


2G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

piu  ritenuli,  e  uiueranno  piíi  corrcttamente  e  con  manco  pericolo  dolía 
vita  c  dell'  anima,  e  senza  scandalo  delli  Cristian  i  che  iui  sonó. 

ítem :  concedasi  facolta  alP  Inquisitor  principale  che  le  persone  qua- 
lificale  secondo  la  forma  della  bolla  dell'  Inquisizione  concessa  a  fra  Die- 
go l,  che  luí  deputara  Inquisitorj,  gli  possa  commettere  l'Inquisizione  in 
tolo  uel  in  parte,  riseruando  a  se  qualche  capitolo  come  sententiae  difi- 
nitiue  condemnalione,  et  similia  ad  eius  píacitum. 

ítem  :  che  possa  dello  Inquisitore  principale  riuocare  delli  Inqui- 
sitori  per  lui  deputati,  in  totum  uel  in  parte,  ad  eius  libitum  et  negoliis 
et  causis  caeptis  a  lempo  della  riuocazione. 

ítem  :  che  li  Commissarj  e  deputati  Inquisitori  per  detto  Inquisitore 
principale  possano  essere  non  solamente  licenziati  in  Theologia,  uel  in 
altero  jurium,  ma  ancora  Baccalarii,  altento  che  il  Baccalariato  in  Spa- 
gna  é  grado,  e  non  si  concede  senon  a  chi  ha  sludiato  cinque  o  sette 
anni,  secondo  le  costituzioni  dell'  Uniuersita;  Perche  sara  diííicile  cosa 
trouarsi  tanti  Maestri  e  Doltori  qualificati  per  questo  negozio,  quanti  sa- 
ranno  necessarj,  che  in  quesle  bande  si  fanno  manco  Dottori  per  causa 
della  gran  spesa,  che  si  fá  ad  ascenderé  il  tal  grado. 

ítem  :  concedasi  che  detto  Inquisitore  principale  e  li  deputati  pos- 
sino condannare  et  assoluere  finaliter,  e  meltere  a  tortura,  e  condannare 
a  carcere  perpetuo  e  temporale,  e  procederé  ad  Iradilionem  Curiae  Sae- 
cularis,  et  ogn'  altr'  offizio  dell'  Inquisizione,  e  seguiré  senza  richiedere 
TOrdinarj,  e  senza  dargli  parle  né  allrimente  communicarc  con  loro  li 
Processi ;  e  derogarsi  alia  Clemenlina  prima  de  haerelicis,  et  quicumquc 
alteri  Juri  in  questo  caso2. 

ítem  :  che  tantoche  qualunque  dell'  Inquisitori  communicara  proce- 
deré in  qualsiuoglia  caso  d'Eresia,  Aposlasia,  Ciastema  con  li  Ordinarü, 
non  possano  piu  di  tal  caso  conoscere  né  intrometlersi3,  e  derogarsi 
alia  disposiziono  del  testo  in  capitulo  per  hoc,  de  hereticis,  lib.  6.° 

Ilcm  :  concedasi  che  si  proceda  per  detto  Inquisitore  e  commissarii 

1  Erga  Jnquisitionem  petitam  a  Rege  scu  Inquisitoribtis,  ubi  clare  constat  quanta 
ferocitate  in  istos  miseros  eleventur,  quando  jura  contra  illos  violari  petierunt. 

2  Petunt  jura  communia  violari  in  hoc  :  quid  turpius,  cum  istorum  miscroruin  fa- 
vorc  sunt  jura  mutanda  et  rcuocanda,  ul  clarum  cst  et  fuit  decisum  in  consiliis  Bono- 
nien.  ad  longum? 

3  Contra  jns  communc. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  27 

appellatione  remofa  et  ab  interlocutoriis  senleníüs  l,  perche,  potendosi 
appellare  delli  inlerloculori,  non  si  potrebbe  con  tanta  appellazione  far 
giustizia. 

ítem:  che  detto  Inquisitore  principale2  possa  awocare  a  se  tulle 
le  cause  delli  detli  eccessi,  che  nelli  Regni  e  Dominii  di  Sua  Maestá  pen- 
deranno  auanti  qualsiuoglia  giudice  Ecclesiastico  e  Ordinarii,  etiam  Epis- 
copis,  Archiepiscopis,  ac  Delegatis,  etiam  si  sint  Delegati  Papae,  aut  Nuntii 
uel  Legati  de  Lalere,  ancora  che  dette  cause  pendano  auanti  li  detli  Nunzj 
e  Legati,  in  qualunque  punto  e  stato  che  dette  cause  si  troveranno,  dum- 
modo  non  siano  finile  per  sentenza.  Et  nihilominus  non  potra  auocare  a 
se  le  cause,  che  sopra  delti  eccessi  penderanno  auanle  li  Prouisori  e  Vi- 
carj  ed  Espeditori  delle  Prelazie  e  Case  del  Cardinale  Infante,  e  dell'  In- 
fante D.  Enrico,  fratelli  di  Sua  Maestá, 3  per  loro  auere  in  simili  Officii 
persone  di  tanto  crédito  e  leltere,  delle  quali  sicuramente  si  possono  dette 
cause  confidare4. 

ítem  :  che  l'Inquisitori  principali  e  depulaü  possino  assoluere  qua- 
lunque scommunica  e  sentenza  e  censure  promúlgate  a  jure  vel  ab  homi- 
ne,  etiam  in  Bulla  Coenae  Domini,  incorse  per  cause  de  delli  eccessi,  e 
dispensare  sopra  l'irregolarita  incorsa  per  li  lali  scommunicali  per  auersi 
inlromessi  et  ingieriti  negl'  officj  diuini,  essendo  scommunicati  e  sospesi 
ed  interdelti  per  causa  de  detti  eccessi  commessi. 

ítem  :  che  possino  chiamare  un'  sol  Vescouo,  ancorache  non  sia  Or- 
dinario della  Diócesi,  per  deponere  e  degradare  verbalmente  et  anual- 
mente quelli,  che  saranno  condannati  perEretici,  che  saranno  Preti,  tam 
promoti  ad  minores  quam  ad  sacros  et  etiam  Praesbyleralus  Ordines, 
nelli  casi  che  saranno  deponendi  et  degradandi.  II  qual  Vescouo  per  loro 
chiamato  possa  fare  detta  deposizione  e  degradazione,  etiam  atluale,  con 
due  Religiosi  di  qualsiuoglia  Ordine,  o  vero  Preti  Secolari  costituti  in 


1  Contra  jus  commune. 

2  Quare  magis  de  Inquisitoribus  quam  de  Legatis,  etiam  de  latero,  est  confiden- 
dum?  et  quod  dicimus  est  quod  causae  jam  instructae  coram  alus  Judicibus  et  de  latero 
Legatis  ab  illis  auocantur,  quo  nil  injustius. 

3  Quidem  sunt  cum  Rege. 

4  Alii  ergo,  etiam  Nuntii  apostolici,  ac  etiam  Legati  de  Latere,  lalibus  personis 
carent,  nec  de  illis  est  confidendum  :  quid  turpius  dici  potest? 

4  * 


28  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dignita1,  perche  sarebbe  molto  diíücile  farsi  per  il  Vescovo  Ordinario, 
et  auersi  da  congregare  piü  d'un'  Vescouo  insieme. 

ítem  :  che  I'Inquisilori  depulati  possano  fare  publiche  riconciliazioni 
et  assoluzioni  con  le  solennitá  giuridiche,  senza  alli  tali  atli  richiedere 
il  Vescouo  Ordinario,  né  altro  Vescovo. 

ítem  :  che  l'Inquisizione  principale  possa  puniré  e  castigare  come 
sará  di  raggione  I'Inquisilori,  e  qualunque  altri  Oííiciali  dell'  Inquisi- 
zione,  che  delinqueranno  ó  mancaranno  nelli  loro  officj,  ó  che  faranno 
quelio  che  non  deuono,  secondo  le  loro  colpe  e  demeriti,  ancorche  li 
tali  Inquisilori  et  Oííiciali  siano  religiosi  e  esenti  di  qualsiuoglia  ordine, 
etiam  delli  mendicanti,  non  oslante  qualunque  Priuilegio  et  essenzione ; 
e  cosí  ancora  possa  compellere  a  religiosi  de  qualunque  Ordine,  ancora- 
che  siano  delli  mendicanti,  ad  acceltare  l'Oííizio  d'Inquisilore,  se  gli  pa- 
reranno  atli,  eliam  senza  licenza  del  Prelalo,  uel  pelita  licet  non  obtenía. 

ítem :  si  supplica  la  Sanlita  Vostra  a  concederé  quesla  Bolla  con 
clausole  derogatorio,  che  deroghino  e  reuochino  latissime  et  plenarie  qua- 
lunque Bolla,  Leltere  e  Priuilegj,  che  all'  efleto  e  forma  di  questa  possa 
impediré,  in  loto  uel  in  parte  et  in  specie,  la  Bolla  di  perdono2,  che 
Vostra  Santilá  concesse  sub  Data  sexto  Idus  Aprilis,  anno  Incarnationis 
Dominicae  1533,  Ponlificatus  sui  anno  décimo,  e  la  Bolla  della  sospen- 
sione,  per  la  quale  sospese  l'Inquisizione,  che  prima  concesse  in  questi 
Regni,  e  qualunque  altra  bolla  ó  lettere.  Quibus  caeterisque  conlrariis 
el  Priuilegiis  latissime  dcrogetur  3. 


1  Nominem  volunt,  ctiam  de  dictis  Regnis,  qui  corum  ncgotüs  secum  assistat :  mi- 
randum  cst,  quia  qui  bona  facit  non  odil  luccm. 

2  Petunt  derogari  Vcniae. 

3  Copia  na  Bibliotheca  d'Ajuda.  Symmicta,  Tom.  XXX.  p.  366.  Documento  n.° 
15,  junto  ao  Memorial  dos  Christaos  novos,  de  15i4,  que  publicaremo»  no  logar  compe- 
tente. 


* 
relacOes  com  a  CURIA  ROMANA  29 

Resposta  as  allegacoes  antecedentes. 

RESPONSIONES  AD   RATIONES  PRAECEDENTES  (a). 


Cum  superioribus  annis,  postulante  Serenissimo  Johanne  Rege  Por- 
tugalliae,  Sanctissimus  Dominus  Noster  Cleraens  Septimus  Inquisitionis 
Bullam  adversus  illos  concessisset,  qui  a  3o  annis  citra  in  eius  Regnis 
fuerant  baptizati,  quod  celebris  esset  rumor  et  fama  plerosque  ex  eis, 
Christianae  Religionis  specie  proíitentes,  veteribus  adhuc  Patrum  supers- 
tilionibus  teneri ;  ac  non  multo  post  ex  ütteris  el  sermone  multorum  ad 
aures  Suae  Sanctitatis  peruenisset  neminem  fere  ex  agente  (al.  ex  ea  gente) 
ad  Ghristi  Religionem  sua  sponte  et  Dei  timore  perculsum  peruenisse, 
sed  parlim  uiolenter  ad  Sacri  Baptismalis  fontes  pertractos  fuisse,  parlim 
imminenlium  poenarum  direptionis  bonorum  ac  filiorum  distractionis  metu 
compulsos  ad  eosdem  accessisse ;  Quodque  miserabilius  et  a  Christiana 
pietate  alienius  Suae  Sanctitali  visum  est  nullam  deinceps  per  huius  Re- 
gni  Prelalos  Principes  singularem  (ut  par  erat)  curam  habitam  fuisse  ut 
isti,  opporlunis  hominum  doctrina  fidei  el  sermonissuauitate  praestanlium 
sermonibus  atque  adhortationibus  persuasi,  illud  aliquando  per  Dei  Mi- 
sericordiam  velle  inciperent,  Quod  initio  conuersionis  se  voluisse  simula- 
uerant,  Quodque  temporalium  damnorum  metu  ficta  mente  susceperant, 
id  aelernae  Bealitudinis  expectatione  ex  animo  retiñere  et  amare  assuesce- 
rent,  conuerlit  hic  rumor  Sanctitatis  suae  animum  in  huius  gentis  cau- 
sam  diligentius  perpendendam,  ne  fortasse,  ipso  auctore  et  sub  Religio- 
nis specie,  in  eos  acerbius  saeuiretur  quam  humanitas  et  Christiana 
mansuetudo  ac  Lex  denique  diuina  paterenlur. 


(a)  Vejase  o  que  dizemos  a  pag.  11  do  presente  volumc ;  e  advirta-se  mais  que,  além 
de  rectificarmos  a  pontuacao,  empregamos  as  comunas  para  indicar  os  textos  citados  no 
corpo  do  documento.  Quanto  ás  notas,  que  estao  quasi  indecifraveis  ñas  margens  da  Sym- 
micta,  procuramos,  até  onde  nos  foi  possivel,  tornal-as  mais  claras  acrescentando  em  itá- 
lico tudo  o  que  nos  pareceu  necessario  para  esse  fim,  e  wettendo  em  parenthesis  as  cor- 
reccoes  ou  additamentos ,  que  nos  occorreram. 


30  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Quare,  oum  cerlior  primum  de  his  ómnibus  fieri  voluisset,  eaque  uti 
diccbanlur  uera  fuisse  pro  comperlo  habuisset,  Illico  saluti,  pro  qua  scie- 
bat  Jesum  Christum-,  Dei  íilium,  acerbissimam  Crucis  morlem  subiré  vo- 
luisse,  maluriore  consilio  prouidendum  esse  censuit.  Ac  primo  sacuien- 
lis  iamdudum  in  eos  Inquisitionis  gladium,  ne  pietalis  nomine  impie  in 
hanc  miseram  Gentem  grassarelur,  tantisper  in  christianae  charitatis  va- 
gina recondendum  esse  putauit,  Dum  idem  sibi  honeslius  et  majore  cum 
fructu  in  eos  distringi  posse  videretur,  Nihil  scilicet  magis  a  Chrisli  Do- 
ctrina, et  professione  alienum  esse  intelligens,  quam  quod  aliqui  ad  eum 
violenter  perlrahantur,  Tum  quod  i  la  pertracti,  uel  alio  eliam  quouis- 
modo  ad  eum  uenientes,  suppliciorum  terroribus  prius  coganlur  quam 
salutari  doctrinae  verbo  docti  crebrisque  sermonibus  ad  tollendum  lubenti 
animo  uerae  pietalis  jugum  fuerint  adhorlati.  Nam,  si  hoc  gentium  Phi- 
losophi l,  solo  naturae  lumine  perfusi,  cognouerunt  impium  esse  ac  ti- 
rannicum  inuitos  homines  ad  humanarum  legum  obseruantiam  cogeré, 
priusquam  fuerint  persuasi,  ill-is  omnino,  cura  honestalis  tum  vtilitatis 
causa,  parendum  esse,  Hoc  certe  dissimulare  non  debuit  christianae  pro- 
fessionis  Princeps,  in  qua  nihil  non  atóte,  non  placidum,  non  mansuetum 
praecipitur,  nihil  quod  a  caritate  et  dileclione  alienum  sit  comprobalur, 
Praeserlim  cum  hoc  sanclissimi  viri,  quorum  sapienlia  vniuersa  regilur 
Ecclesia,  plerisque  in  locis2  teslatum  reliquerint  improbe  cuiusdam  do- 
minalionis  argumentum  esse  suppliciis  homines  terrere,  priusquam  docean- 
tur,  et  ad  Domini  Seruum  Ecctesiae  praefectum  pertinere  placidum  erga 
omnesesse,  propensum  ad  docendum  malos  cum  mansuetudine  toleranter, 
eosque  erudientem,  qui  obsistunt,  si  quando  det  illis  Deus  poenilentiam 
ad  agnoscendum  veritatem  et  resipiscanl  e  diaboli  laqueo,  Tum  denkjue 
curare  ipsum  opporlere,  non  tam  ut  delinquentes  coerceantur,  quam  ut 
meliores  eílicianlur,  quos  emendandos  sibi  diurna  prouidentia  commiscrit. 

Huic  vero  Lusitanorura  Paslorum  negligenliae  illud  etiam  accessisse 
intellcxerat  quod  ipsi,  Regum  suorum  promissa  sequentes,  hanc  gentem 
ab  omni  ecclcsiaslicae  correctionis  metu  per  multos  annos  libcrassent, 
quod  sane  indiscrele  nimis  et  contra  christianae  disciplinae  factura  fuisse 

1  Plato  in  primo  de  Lcgibus. 

2  AuRus-h'nus  Vinceníto  Euisíofa  48  ct  Donato. . .  Epístola  127 —  Paulw.»  ad  Tirno- 
thcum  2.a,  cap.  3  —  Chrisosíomu*.  De  sacerdocio  lib.  2  cap.  3  — Ad  Vincul.  Ep.  48. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  31 

animadvertit,  cum  hac  ratione  subíalo  cum  sanioris  doctrinae  cultu,  Tum 
seuerae  correctionis  metu  nimis  ampia  miseris  hominibus  ad  peccandum 
\ia  fuerit  patefacta,  quibus  potius  fuerat  prouidendum  (Sancto  Augustino 
credimus)  ut  eodem  terapore  lux  veriíalis  ab  eorum  cordibus  errorum 
tenebras  expelleret,  et  male  consuetudinis  vincula  uis  timoris  obrum- 
peret. 

Illud  praetefea  non  parum  Sanctilatis  Suae  animum  commouit,  cum 
intellexit  quod  si  contra  hanc  gentem  praeteriti  temporis  errores,  quo  pa- 
rum adhuc  in  fide  erant  coníirmati,  seuerius  cognosci  alque  uindicari 
permitteret,  facile  íieri  posset  ut  mulli,  non  solum  ex  hís  qui  se  Reos 
esse  intelligunt,  sed  ex  hiis  etiam  qui  minime  harum  scelerum  sibi  conscii 
sunt,  uel  poenae  uel  infamiae  metu  perterriti  (quod  ingenti  ínter  alios 
Christianos  inuidia  se  flagrare  intelligunt),  vel  tam  seuera  suorum  sup- 
plicia  cerneré  non  ualentes,  ad  Turchas,  quod  non  paucos  hactenus  fe- 
cisse  compertum  est,  essent  transituri.  Quare,  etsi  praedictae  rationes 
cessarent,  eos  tamen  mitius  tractandos  cognouit,  ne  \el  mali  in  delerius 
desperatione  adducti  laberentur,  uel  bonis  etiam  tam  enormis  scandali 
occasio  relinqueretur l.  Aduerlit  postremo  Sua  Sanctitas  ecclesiasticam 
mansuetudinem  eos  semper  aliter  tractasse,  qui,  cum  semel  illam  deser- 
uissent,  poenitentia  ducti  ad  eam  iterum  rediré  desiderarent,  aliter  eos, 
qui  nunc  primum  ejus  pacem  acciperent  et  cum  ea  uniri  poslularenl;  il- 
los,  ut  inquit  Augustinus,  vehementius  humiliando  ;  istos  leuius  susci- 
piendo ;  utrosque  tamen  diligendo,  et  vtrisque  sanandis  materna  chántale 
seruiendo.  Quamobrem  inilio  nascentis  Ecclesiae  mulla  per  Apostólos  ob 
conuersorum  infirmitatem  illis  donata  fuisse  sciebat,  Tum  sequenlibus  etiam 
temporibus  per  eius  Predecessores  mullo  clemeníius  cum  iis  actum  fuisse 
non  ignoraba!  quam  seuerior  Ecclesiae  disciplina  pateretur. 

Ac  si  illi  tanta  mansuetudine  dignos  esse  eos  existimabant,  qui  nu- 
per  sua  sponle  se  christianae  legi  obligassent,  certe  multo  clemeníius  cum 
iis  agendum  esse  pulauit  sanctitas  sua,  qui  violenter  ad  eam  suscipien- 


1  Cap.  De  iis  (al.  De  his)  [Causa)  26,  questio  7 — Cap.  ut  constitueretur  I.  {al.  L.) 
Dlstinctio  — Jo.  II  Sede  9  c.  8  ac  1  ad  Vicen.  Ep.  ast.  cap.  XVI  (sic)  —  Cap.  Si.  De 
diuorím  (Decretal.  Greg.  Lib.  IV,  TU.  19J — Cap.  Qui  sincera  XLIIII  (al.  XLVJ,  Dis- 
tmctio  — Cap.  Quaedam  (Causa)  35,  questio  II  et  III  —  Cap.  Deus  qui.  De  poenitentiis 
et  remissiom&us  (Decretal.  Greg.  Lib.  V,  TU.  38). 


32  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dam  coacti  fuissent,  cum  et  humanae  leges  hoc  uelint  ul  multo  humanius 
cum  illis  ngalur,  qui  necessario,  quam  qui  sua  sponte  se  ipsos  obligaue- 
rint,  et  Pontificum  etiaru  ac  Sanclorum  Patrum  decreta  statuant  longe 
leuiora  esse  peccata,  quae  justo  metu  coactus  quispiam  perpetrauerit  l, 
Illud  secum  subinde  reputans  nihil  esse  quod  istis  imputari  posset  nisi 
semel  baptismatis  unda  aspersi  Ghristiani  deinceps  religionem  mentili  fuis- 
sent ;  Hoc  autem  eos  initio  per  vim  metumque  fecisse,  et  eius  causa  valdc 
probabile  esse  ipsos  eandem  prefessionem  ficta  mente  perpetuo  simulasse. 

Quibus  ex  causis  jure  mérito  islorum  infirmitatem  sustinendam  po- 
lius  quam  desperandam  esse  animaduertentes,  memor  quod  aliquando  di- 
uina  bonitas  ipsi  etiam  Petro  adhuc  infirmo  dixerit  «modo  me  sequi  non 
potes:  sequeris  autem  postea»,  nihil  Deo  gratius,  nihil  Ecclesiae  Suae 
Salubrius  fieri  posse  existimauil,  quam  si  huic  genti  praeterili  lemporis 
errores,  in  quos  fere  ob  Pastorum  suorum  negligentiam  incurrisset,  d¡- 
milterenlur,  et  ipsi  temporalis  poenae  metu  liberi  ad  suauissimum  Christi 
iugum  alacrius  promptiusque  ferendum  inuitarentur2,  ac  ita  im  posterum 
illorum  vitae  prouideretur,  ut,  cum  non  esset  amplius  cui  isti  futuros  er- 
rores quam  suae  ipsorum  perfidiae  imputare  possent,  inexcusabiliter  se 
deinceps  peccaluros  esse  cognosceretur. 

Quare  summa  ratione  3  seruandam  potius  hanc  gentem  quam  oppu- 
gnandam  esse  existimans,  eius  exemplum  imitari  uoluit,  cuius  vices  in 
terris  gerere  se  nouit,  qui  rogantibus  discipulis  ut  samaritanos  coelesti 
ílamma  consumí  paterenlur,  quia  illum  non  receperant,  ea  ratione  ¡líos 
increpauit  quod  se  ad  saluandas,  non  ad  perdendas  animas  venisse,  dice- 
ret  melius  esse  si  illos  existimans  tolerasset,  dum  ipso  praedicante  con- 
uerterentur,  quam  si  caecorum  adhuc  et  ignorantium  animas  simul  cum 


1  Le¿r  Fideiussor  §quam  necessarium  (sic),  Digest.,  Qui  satisaare  coganíur — Lex 
Si  dictis  (al.  dictum,j  §  Si  compromissero,  Digest.,  De  evictiom'&us —  Baldus  in  Lege 
Eos  §  Cautione  (?)  Coa".  De  appellationibus  —  Anchorano  Consil.  CLVIII —  Cap.  Sa- 
cris.  De  his  quod  (al.  quae  vi)  metusve  caussa  (Decret.  Greg.  Liv.  I,  Tit.  XL.  Cap.  V). 

—  Cap.  Siquis  coactus  (Causa)  22,  quest.  V.  ubi  Glossa,  et  Cap.  IXV  qui  VI  (sic). 

2  Glossa  et  Doctores  inLcflf<?Multum  interest,  Digest.,  DeVerboruw»  obligaíiomftus 

—  Doctores  in  Cap.  Mullorum  (Decret.  Greg.  Liv.  V.  Tit.  VI)  De  Judaeis. 

3  Doctore*  in  plcrisque  locis,  quos  refcrt  Dcci'us  in  Lege  In  ómnibus,  Digest.  De 
regu/ií  jurís,  ct  in  Consih'o  CCXIX — Joannes  (Evang.  Cap.)  XIII  —  Augusímus,  De 
moribus  Ecclesiae  Catholicae,  lib.  I  cap.  I. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  33 

corporibus  perdidisset.  Quamobrem,  si  eius  benignitatem  erga  hanc  gen- 
tem  sequi  uoluit  sua  sanclitas  (vegenlibus  praeserlim  supradictis  ralioni- 
bus),  quis  digne  potest  illam  repraehendere,  uel  potius,  si  id  nonfecisset, 
quis  non  summa  ratione  illam  posset  incusare,  Cum  sciamus  in  qua  re 
Pater  familias  sit  largus,  in  ea  minime  decere  tenacem  esse  dispensalo- 
rem  l  ? 

Veruntamen,  cum  nuper  idem  Rex  Serenissimus,  per  oratorem  suum 
ad  hoc  deslinalum,  Sanctilati  Suae  signiíicauerit  non  satis  aequam  sibi 
visum  fuisse  praedictae  remissionis  bullam,  quod  ex  eius  tenore  multa 
aduersus  Christi  gloriam  inconuenientia  profeclura  esse  videantur,  et  ea 
ratione  alterius  tenoris  veniam  per  Suam  Sanctitatem  concedendam  trans- 
miserit,  censuit  ipsa  (id  quod  de  scandalo  et  sincero  Regis  animo  cre- 
dendum  est)  satis  se  eius  intenlionem  facturam  esse,  si  illi  ostenderet 
quam  male  fuerit  de  concessionis  suae  justitia  et  aequitate  sua  persuasus 
ab  ils  fortasse,  qui  nimiae  seueritalis  studio  justitiae  opinionem  apud  eum 
consequi  affectant.  Quare  constituit  Sua  Sanctitas  ut  ad  obiecta,  praeser- 
lim quae  Regiis  Oratoribus  ualidiora  esse  uiderentur,  quam  breuius  fieri 
posset,  responderetur. 

Dum  ilaque  ipsi  ex  postulalionum  suarum  inilio  praecipuum  huius 
veniae  fundamentum  subuertere  conantur,  affirmantes  satis  longum  tem- 
poris  spatium  ab  omni  etiam  Inquisitionis  melu  una  cum  hominibus  is- 
tis  fuisse  reliclum,  quo  instruí  et  in  fide  confirman  poterant,  nisi  ipsi  et 
temporis  opportunitate  et  Regis  benignilale  abuti  maluissent,  faciunt  ut 
eorum  etiam  testimonio  et  auctoritale  Sua  Sanctitas  pro  comperto  habeat 
illud,  quod  ex  certis  aliorum  sermonibus  iam  pridem  acceperat.  Nam, 
obsecro,  ii,  qui  alienam  Religionem  simul  cum  lacte  imbiberant,  in  eaque 
tot  annos  otiose  consenuerant,  qui  nuper  in  nostram  inuiti  ac  nolentes 
nomen  dederant,  Judaei  praeserlim,  gens  máxime  omnium  Religionis  suae 
tenax,  fuerint  in  sua  poteslate  relinquendi,  an  uellent  edoceri  et  in  Chris- 
tiana  disciplina  erudiri?  Num  preterea  satis  ad  eosdem  in  fide  confirman- 
dos illis  uideri  debueris  concionatoris  cuiuscunque  in  circumfusum  "vul- 
gus  clamantis  vox  et  oratio,  non  sola  plebanorum  observatio,  et  ad  sa- 


1  Luca  (Evang.)  cap.  IX—  Cap.  Quid  faciet,  in  fine,  et  cap.  Seru  (?)  {Causa)  23, 
quest.  4 — Cap.  Mligant  (Causa)  26,  quest.  7. 

TOMO  III.  "  5 


34  CORPO  D1PLOM ÁTICO  PORTUGUEZ 

eras  solemnesque  caeremonias  stalis  diebus  conuocatio  '?  Num  sacerdotis 
cuiuscunque,  dum  eorum  confessiones  audit,  vulgaris  adrnonitio,  ac  de- 
nique  nu.  (sicj  quaeuisOratio,  qua  de  rcligione  et  fide  agerelur,  ad  hanc 
rem  salis  commoda  \ideri  debuit  et  opporluna?  Non  cerle  ila  nos  do- 
cuere  Sanctissimi  illi  Patres,  quorum  doctrina  et  sanctitale  vniuersa  illus- 
tralur  Ecclesia,  quorum  senlenliis  initio  non  fuerat  in  hac  gente  corre- 
ctionis  terror  omnino  tollendus ;  sed,  habita  diligenti  cura  ut  salutaribus 
isti  pracceptionibus  erudirentur2,  permillendum  erat  ul  seueritatis  timor 
Doctorem  veritatis  adiuvaret.  Doctoris  namque  spiritualibus  ex  omni  Re- 
gni  finitimisque  Prouinciis  erant  colligendi,  qui  fraterna  charilate  et  in 
spirilu  veritatis  auersos  concitiarent,  dubios  confirmarent,  infirmos  ac  dé- 
biles cum  ralionibus  tum  exemplis  monendo  atqué  adhortando  erigerent, 
in  eoque  operam  omnem  sibi  ponendam  esse  intelligerent,  ut  quod  inuiti 
et  nolentes  semel  isti  susceperant,  id  per  Dei  misericordiam  libenti  et  non 
ficto  animo  retinerent,  scientes  non  omnem  qui  de  religione  est  sermo- 
nen! continuo  islorum  auribus  esse  inculcandum,  Sed  Apostoli  exemplo 
infirmioribus  et  paruulis  lac  ¡nfundendum  esse,  caeleros  pro  cuiusque 
caplu  validiore  cibo  esse  pascendos3.  Idque  (ut  ab  eodem  Apostólo  di- 
clum  est)  non  indoctis  humanae  Sapienliae  verbis  (quod  fere  nostri  tem- 
poris  concionatores  faciunt 4);  sed  in  doctrina  spirilus,  qui  omnem  verilatem 
docet,  non  suis  vanis  honoribus  et  inani  laudi  consulentes,  sed  eorum 
saluli,  qui  divina  prouidentia  in  Religionis  nostrae  socielatem  pertracti  fue- 
ranl,  el  animo  el  chántale  non  ficta  consulentes  5.  Hoc  namque  pacto  mi- 
sero huic  el  imbellico  Gregi  nondum  certi  Pastoris  vocem  cognoscenti, 
christiano  more  consullum  fuisse,  de  quo  certe  nunc  ualde  uerendum 
est,  ne,  cum  ante  Supremi  Judiéis  tribunal  consliluti  fuerimus,  perditum 
86  ab  illis  et  proditum  non  seruatum  fuisse  conqueralur,  per  quos  factus 
est  ut  et  legem  suam  desuerint,  et  nullum  in  hac  noslra  quielis  et  salu- 
tis  portum  inuenerit  (sicj. 


1  Xugustinus  ad  Sixtum   presbyterum  (Epist.)  CII.  CIIII,  et  ad  Fcstum  Epist. 
CLXVII. 

2  kugustinus,  De  Doctrina  Christiano,  \ib.  \  cap.  \. 

3  Ad  Hebra™*  V,  ad  Corintnioí  I  cap.  II. 
*  Jo.  XVI.  (sic). 

5  Aiigtvttntu  in  lib.  de  Vera  Rcligtoné'  cap.  28. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  35 

Nam  si  hoc  quolidie  nos  vsu  uenire  videmus,  ul  oculorum  nostro- 
rum  acies  vehemenler  conlurbelur  cum  ex  tenebris  ¡n  apertae  lucis  locum 
prodimus,  illud  cerle  regionis  huius  Pastores  el  Principes  cogitare  de- 
bueranl  quod,  cum  ex  profundissimis  mosaicae  Legis  tenebris  hunc  pu- 
sillum  Gregem  somniculosum  plañe,  et  nihil  tale  cogitantem,  in  splendi- 
dissimam  Euangelicae  Lucis  clarilatem  coegissent,  fore  necessario  ut  sin- 
gulorum  oculi  ad  hunc  splendorem  insueti  diuturnius  essenl  caligaturi, 
et  hac  ratione  valde  diíficile  iis  fore  per  hanc  luceni  sua  sponte  suisque 
pedibus  ingredi ;  sed  partim,  longius  pedem  promouere  non  audentes,  in 
eo,  quo  insislebant,  gradu  esse  permansuros,  partim,  promptiore  animo 
incedere  uolentes,  ad  unumquemque  Lapidem  probabiüter  oífensuros  esse 
et  frequentissime  caesuros,  multo  plures  novilate  rei  preterritos  in  vm- 
brae  et  caliginis  suae  locum  esse  relapsuros.  Quare  non  statim  illos  sine 
certo  cuslode  relinquendos,  et  cuiuscumque  mercenarii,  quem  sors  obtu- 
lisset,  curae  dimittendos  fuisse.  Sui  ergo  Pastores  illi  erant  constituendi 
homines  certi,  quorum  ii  vocem  audire  assuescerent,  qui  eos  manu  du- 
cerent,  et  quandoque  a  tergo  altius  inclamantes,  vel  flagelli  sonitu  per- 
terrentes,  in  Gregem  cogerent,  nonnullos  imbecilliores  humeris  sibi  im- 
ponentes, Dominici  Pastoris  exemp'o,  in  tuto  collocarcnl  *,  Quae  omnia, 
cum  omni  non  praetermissa  vel  minore  quam  par  esset  diligentia  fue- 
rint  obseruata,  credamus  hunc  Gregem  in  eo  etiam  nunc  loco  esse,  quo 
tum  erat  cum  primum  in  hanc  lucis  Semilam  fuit  pertraclus,  et  cogite- 
mus  quam  sil  probabile,  si  passa  esset  Sua  Sanclitas  ul  ipse  lucis  adhuc 
impatiens  verberibus  et  minis  cogeretur  aperlis  oculis  aduersus  solis  ra- 
dios ambulare,  quod  doloris  impatientia  victus  in  obuias  rupes  et  aviae 
quaecumque  praecipitem  se  dedisset,  ac  eius  demum  salus  cum  de  ma- 
nibus  suis  requireretur  mérito  ipsa  una  cum  Rege  Regnique  huius  Pas- 
toribus  tam  importune  seueritatis  ratione  Deo  fuissel  redditura. 

Caeterum,  ut  propius  ad  ea  descendamus,  quae  aduersus  praesentis 
bullae  tenorem  ex  parte  Regis  obiecta  fuere,  principio  dum  valde  incon- 
veniens  isti  et  diuinae  eliam  legi  conlrarium  esse  existimant  quod  illis 
etiam,  qui'per  vim  praecisam  baplizati  fuere,  cum  inler  Chrislianos  non 
sint  nec  haberi  debeant,  haec  venia  sub  conditione  sacramentalis  confes- 
sionis  fuerit  data ;  Tum  quia  sacramenlum  inter  eos  nullum  esse  polest ; 

1  Luca  (Evang.  cap.)  XV. 

5  * 


36  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Tum  quod  hoc  pacto  ipsi  perpetuo  sub  hac  Christi  nominis  simulatione 
delitescent,  cum  minime  constitutum  sit  quomodo  eorura  status  sit  Eccle- 
siae  manifestandus ;  mérito  illud  sapienlis  dictum  ipsis  obiicere  possumus  : 
«  antequam  scruteris  non  repraehendas :  intellige  prius,  et  tune  increpa»  l. 

Conditionem  namque  sacramentalis  confessionis,  etsi  óptima  ratione 
Sua  Sanctilas  huic  veniae  adiecerit,  de  qua  infra  dicelur ;  lamen  ad  eam 
illos  solos  inuilauit,  qui  huius  beneficio  Sacrosanctae  Ecclesiae  reconci- 
lian voluissent,  sciens  fore  omnino  ut  id  omnes  vellent,  qui  possent,  ne- 
minem  autem  non  posse,  nisi  qui  Religionis  nostrae  nunquam  participes 
fuissent.  Huic  autem  hominum  generi  (siqui  sunt  in  hac  .Gente)  isti  ui- 
dere  poterant  Sanctitatem  Suam  prudentissime  prouidisse  cum  stalim  (al. 
statuil)  ut  qui  hanc  veniam,  sub  illis  scilicet  conditionibus,  quibus  dala 
est,  accipere  uoluissent,  iis  liceret  Sanclítalis  Suae  Nuntium  adíre,  ac  illi 
luto  omnis  vitae  ac  status  sui  rationem  reddere,  illud  aperte  significans 
quod,  acceplis  ab  eodem  singulorum  excusationibus,  cogilabat  opportuno 
remedio  futurae  eorum  vitae  prouidere. 

Quid  vero  aliud  lam  in  animo  Sanctitatem  suam  habuisse  cre- 
dendum  est  quando,  sublato  omni  suppliciorum  et  infamiae  metu,  adi- 
tum  istis  patefecit,  quo  secure  possent  animis  sensa  et  status  sui  condi- 
tionem eius  Nunlio  aperire,  nisi  ut  ipsa,  cognitis  singulorum  causis,  alios 
(si  ila  res  tuiisset)  ab  Ecclesia  incólumes  et  saluis  robus  dimittendos ;  co- 
gendos  alios  ad  eam,  quam  semel  susceperant,  professionem  retinendam  ; 
alios  fortasse  ad  nouum  regeneralionis  lauacrum  admittendos  csse,  judi- 
caicl?  Quod  certe  non  alia  ratione  unquam  fieri  potuisse  sciebat,  nisi 
hanc  Gentem,  omnium  (ut  scimus)  suspiciosissimam,  hoc  pacto  in  suam 
fidem  se  recepturam  esse  spopondisset. 

Quod  si  fortasse  aliqui  fuerint  ila  pérfida  mente  et  confidenli  animo, 
ut,  spero  (al.  spreto)  tam  salutari  remedio,  malint  etiam  chrislianam 
pietatem  menliri,  et  inler  nos  oblata  impunilatis  occasione  delitescere, 
non  erit  proplerea  Sanclitatis  Suae  consilium  repraehendendum,  Sicut 
nemo  sanae  mentís  ideo  negligendam  esse  medicinan)  dixerit  quod  ali- 
quorum  (ut  inquit  Auguslinus 2)  sil  insanabilis  morbus  et  pestilenlia ;  nulIa 


1  Cap.  Eorum  (Causa)  X  (al.  XI),  questio  III. 

2  Ad  V¡ncen/<um  presby terum  Epwí.  XLV1II,  et  in  lib.  I  de  Libero  arbitrio,  cap. 


ulltmo. 


relacOes  com  a  curia  romana  37 

namque  in  rebus  est  culpa  (ut  ab  eodem  dictum  est)  Sed  qui  oblatis  opti- 
mis  rebus  abuti  malunt,  ii  soli  culpandi  sunl  atque  redarguendi :  quo  plura 
eliam  non  mullo  posl  dicenda  sunt. 

Alterum  est  quod  istis  graue  et  a  christiana  disciplina  valde  alienura 
esse  uidetur  quod  illis,  qui  ex  hac  gente  occulte  hactenus  in  perfidia  sua 
perstiterunt,  venia  concedatur  sub  sola  sacramentalis  confessionis  condi- 
lione,  Hinc  fore  suspicantes  quod  iidem  ipsi  nunquam  id  genus  peccala 
(sic)  proprio  sacerdoti  confitebuntur,  Atque  ita  eueniet  ut,  cum  ñeque 
Deo  ñeque  Ecclesiae  satisfecerint,  praesentis  tamen  veniae  gratiam,  et  con- 
sequenter  rnagnam  in  iis  erroribus  persistendi  securitatem  consequantur. 
Quare  ülud  in  primis  a  Sanctitale  Sua  obtinere  contendunt  ut  eos  cogat 
occultius  huiusmodi  errores  certo  Inquisitori,  duobus  adhibitis  teslibus 
et  notario,  generatim  saltem  confiten,  quo  scilicet  et  praesenti  confusione 
admoniti  et  metu  futurae  relapsorum  poenae  perterrili,  quam  Regii  Ora- 
tores  illis  omnino  statuendam  esse  contendunt,  etsi  hoc  in  litteris  omnino 
non  sit  expressum,  diligentius  caueant  ne  in  eandem  im  posterum  perfi- 
diam  relabantur.  Quibus  ita  respondetur :  Quod  cum  Sua  Sanctitas  s!a- 
luisset  hanc  genlem  paterna  pietate,  non  modo  a  praesentis,  sed  a  fu- 
turae etiam  vitae  poenis  liberare,  sciebat  quod  ad  hanc  remissionem  sa- 
cramentalis confessionis  necessitas  erat  omnino  illis  iniungenda,  licet  iis, 
qui  parum  digne  illam  adimpleuissent,  nihil  omnino  esse t  profu tura.  Quod 
uero  ad  Ecclesiae  vindictam  altinet,  elsi  cuperet  Sua  Sanctitas  quod  isti 
eodem  Sanctae  Confessionis  medio  prius  diuinae  Maiestati  conciliarenlur 
quam  huius  poenae  veniam  consequerentur,  et  hac  ralione  eius  remissioni 
eandem  etiam  confessionis  conditionem  adiicerit ;  Tamen,  etsi  nondum 
ipsi  ob  nequiliam  uel  desidiam  suam  diuinam  pacem  consequi  meruis- 
sent,  temporalem  omnino  praeteritorum  deliclorum  poenam  illis  donan- 
dam  esse  iudícauit.  Tum  ne  (ut  supra  dictum  est)  prius  ipsi  seuerae  In- 
quisitionis  gladium  experirentur  quam  Chrislianae  Religionis  diligenliam 
alque  mansuetudinem  cognouissent,  ne  ut  prius  contemptae  Religionis, 
quam  inuiti  et  nolentes  susceperunt,  poenas  darent  quam  intelligerent : 
Qua  ratione  ipsos  credere  oporteret  eam  minime  contemnendam  esse.  Tum 
quia,  etsi  aliqui  ex  hoc  populo  sint  adhuc  a  pietalis  nostrae  cultu  alieni, 
probabüe  tamen  est  quod  ii  se  ipsos  sint  correcturi,  cum  ad  melum,  quem 
iam  ipsi  ex  nonnullorum  suppliciis  conceperunt,  addita  fuerit  Chrislianae 
mansuetudinis  disciplina  :  Quo  casu  sustinendam  omnino  esse  judiciorum 


38  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

seueritalem,  et  poenam  de  aiiquibus  sumplam  ad  aliorum  correclionem 
satis  esse  pulandam,  sapientes  noslri  Viri  Sanclissimi  iudicauerunt '.  Pos- 
tremo, quia  cum  mali  a  bonis  humano  judicio  secerni  non  possunt,  iidem 
viri  sapienles  et  sancli,  dinino  praecepto  admonili,  slaluerunt  vindictae 
disciplinam  esse  omnino  remiltendam,  quod  etiam  recipiendum  esse  pu- 
tarunt.  Cum  aduersus  malos  citra  aliorum  scandalum  ultionis  gladius  non 
polest  exerceri:  Quod  hic  plano  contingeret,  si  aduersus  praediclas  rallo- 
nes ii,  qui  piae  mentís  sunt,  tam  indiscrete  et  crudeliler  alios  vexari  cons- 
picerent. 

Jam  vero,  quod  illa  coram  testibus  confitendi  necessitas  Sanctitati 
Suae  visa  non  fuerit,  ñeque  uidealur  istis  esse  imponenda,  mullae  rallo- 
nes effeccrunt.  Nam  primo  animaduerlil2  hanc  conditionem  ne  iis  qui- 
dem,  qui  ob  vehementem  suspicionem  inquisiti  aut  accusati  fuerint,  ab 
Ecclesia  fuisse  impositam  ;  sed  tantummodo  se  ipsos  defendendi  atque  pur- 
gandi  necessitatem  summa  ralione  illis  fuisse  iniunclam.  Quare  multo  mi- 
nus  illam  iis  imponendam  esse  iudicauit,  qui  nec  tali  suspicione  sunt  no- 
tati,  ut  ad  purgationis  defensionem  sint  compellendi. 

Sciebat  item  scriplum  esse  quod  in  Ecclesia  occulta  peccala  vindi- 
ctam  non  habenl,  quodque  eorum  solus  Deus  sil  cognilor  et  vindex  ;  is- 
los  autem  hoc  pacto  sua  confiteri  non  posse  sine  graui  confusionis  et  in- 
famiae  suae  poena3.  Quamobrem  indigne  nimis  erratorum  illorum  poe- 
nam Ecclesiam  esse  sumpturam,  Sua  Sanctilas,  quae  diuino  tantum  sunl 
reseruata  judicio,  cum  scriplum  sit  «quae  manifesta  sunt  vobis,  quae 
autem  occulta  sunt  Domino  Deo  vestro»4,  ítem  non  polest  humano  con- 
demnari  examine,  quem  Deus  suo  reseruauit  judicio  ;  Si  enim,  ut  ille  in- 
quit,  omnia  in  hoc  saeculo  uindicata  essent,  locum  diuina  judicia  non 
haberent. 

Praeterea,  cum  sciret  poenam  secundum  diuinam  et  humanam  jus- 

1  Tho.  II  sedem  q.  CVIII  ar.  I  C.  Guilisarius  (sic) — Quid  autem  (Causa)  24, 
quest.  3 — kugustinus  in  3  cap.  contra  Parmeianuro,  et  alibi  saepe;  ethabctur  incap. 
Quídam  et  seq.  (Causa)  23,  quest.  4. 

2  C.  Amiratus  in  princ.  deberé  in  VII  (sic). 

3  Cap.  Christiana  (Causa)  22  (al.  32),  quest.  5  —  Cap.  Erubescant,  32  D'istinctio 
—  kugustinus  ad  clerum  ll'ipponensem  Epist.  CXXXVII  —  Alex.  PP.  in  c.  9.  5.  q.  6 
(sic). 

*  (Deuteron.  cap.  XXIX). 


REMCÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  39 

titiam  deudo  esse  commensurandam,  ñeque  plus  ab  aliquo  reposcendum 
esse  quam  quod  debet,  periniquum  sibi  videbatur  eos  cogeré  ut  confes- 
sione  Ecclesiae  salisfacerent,  qui  illam  minime  offendissent,  occulta  nam- 
que  peccata  neminem,  nec  facto  nec  exemplo,  ledere  manifestum  est. 

Sciebat  eliam  Sua  Sanclitas  longe  grauius  esse,  et  ad  aelernam  dara- 
nationem  eííicacius,  quod  viro  malo,  vel  indigne,  diuina  sacramenta  da- 
renlur,  vel  scienter  falso  juramento  obligan  permitteretur;  quodque  Ec- 
clesiae mansuetudo  scelera  eius  multa  esse  pateretur,  Quare  cum  Eccle- 
siae Slatulis  conlineatur  quod  illi  polius  sacramenta  ministrentur,  et  pe- 
tenli  purgationis  juramentum  defcratur1,  quodque  ea  denegando,  Sciens 
Sacerdosaut  Judex  delictum  eius,  Alioquin  occultum  patefaciat ;  multo  for- 
tius  censuil  Sua  Sanclitas  occultis  haereíicis  temporalem  poenam,  quae 
omnino  ex  causis  supradiclis  illis  erat  dimittenda,  gratis  polius,  et  cum 
aliquo  etiam  eorum  salutis  periculo,  esse  donandam,  quam  ea  conditione 
illos  cogeré  ut  se  ipsos  accusarent  alque  patefacerent. 

Non  refera m  pleraque  alia,  quae  per  Suam  Sanctitatem  fuerunt  ani- 
maduersa  illud  fsic),  quae  praeserlim  quod  hac  conditione  piis  homini- 
bus,  qui  inter  hos  esse  reperiuntur,  cum  ñeque  illos  errores,  quos  nun- 
quam  admisissent,  de  se  menliri  fas  esse,  ñeque  tutum  eosdem  non  esse 
mentitos,  nunquam  ipsos  a  praeteriti  lemporis  \exatione  securos  esse  con- 
tingeret.  Nam,  ut  taceamus,  neminem  inter  eos  esse  tanta  Religione,  tan- 
quam  (al.  tamque)  pura  el  sincera  mente  ac  vita,  qui  non  calumniosae 
accusationis  discrimen  et  infamia»  vehementer  pertimescat,  ob  cognitio- 
nem  uidelicet,  et  ingenti  etiam  suo  malo  iam  pridem  perspectum  populo- 
rum  huius  Regionis  adversus  se  odium,  faleamur  nonnullos  reperiri  pos- 
se,  qui  aliqua,  vel  initio  retenta,  uel  in  partibus  suis  animaduersa  Reli- 
gioni  nostrae  contrarié  ignoranter,  potius  quam  perfide  animo  perpetra- 
uerint,  et  ab  his,  ue!  iam  pridem  ipsi  fortasse  abstinuerint,  uel  facile,  si 
paulo  diligentius  quam  hactenus  factum  est  admoniti  fuerint,  obtinere  pos- 
sunt,  de  his  certe  ipsi  hoc  pacto  cum  summo  et  famae  et  vilae  suae  peri- 
culo perpetuo  accusari  possent,  quo  nihil  iniquius  et  a  nostra  pielate 
alienius. 

Caetennn  dum  isli  eliam  illud  cupere  se  dicunt,  quod  occulta  isto- 


1  Cap.  Non  prohibeat.  De  Consecratione,  Bislinctio  II  —  Glossa  in  cap.  finale  (Cau- 
sa) XV,  quest.  V — Archi diaconus  in  cap.  lile  (Causa)  22,  quest.  5. 


40  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

rum  peccala  sic  illis  possint  imputan,  ut  im  posterum  Relapsorum  poena 
teneanlur1,  certe  acerbe  nimis,  ne  dicam  crudeliter,  aduersus  hanc  gen- 
tem  se  anímalos  esse  ostendunt.  Nam'multo  grauius  hoc  pacto  per  Suam 
Sanctitatem  puniri  eos  conlingeret,  quam  canonicis  sanctionibus  consti- 
tulum  sit,  quibus  hac  eadem  conditione  illis  etiam,  quorum  scelera  in  ju- 
dicio  fuerint  patefacta,  quique  etiam  damnali  fuerint,  temporales  poenae 
remittuntur,  et  tamen  iidem  (al.  iisdem?)  Sanclorum  Patrum  decrelis  con- 
linetur  multo  milius  cum  iis,  qui  ultra  peccata  sua  fuerint  confessi,  quam 
cum  depraehensis  aut  conuictis,  agi  opportere. 

Quibus  accidit  quod,  cum  isti  relapsorum  poena  teneri  non  possint, 
nisi  statuamus  delicta  praeterita  per  ipsos  patefacta  sibi  omnino  esse  im- 
putanda,  mirum  est  certe  quod  hoc  audeat  Lusitanorum  Ecclesia  postu- 
lare, cuius  negügentiam,  illegitime  (al.  illegitimae)  istorum  conuersioni 
additam,  maximam  ipsis  aberrandi  occasionem  dedisse  compertum  est. 
Nam,  si  ulla  est  in  bonis  Charitas,  si  ullus  inest  diuini  Judicii  timor, 
periniquum  sane  uideri  debet  quod  Ecclesia  erratorum  illorum  rationem 
sibi  reddi  desideret,  in  quibus  suam  possit  ipsaculpam  agnoscere2,  Praes- 
tare  namque  ipsa  debuit  primum  quod  ad  munus  et  officium  suum  per- 
tinebat,  Deinde  ab  hac  misera  Gente  recenlis  et  insuetae  vitae  rationem 
reposcere. 

Cui  certe  nescio  quid  responsuri  sunt  isti,  qui  tantopere  vereri  uiden- 
tur  ne  impunila  sunt  (al.  sint)  horum  facinora,  si  ab  ea  uno  ore  ita  fuerunt 
compellati :  Veslra,  o  Lusitanorum  Princeps,  opera  factum  est  ut  nos  vel 
Paires  nostri,  quibus  sub  Lege  Moysi  nasci  contigerat,  in  hanc  Legis  Euan- 
gelicae  necessitatem  inuili  ac  nolentes  perlraheremur,  in  qua  deinceps 
omni,  ut  scitis,  ope  atque  auxilio  destituti,  nisi  quod  diuina  misericordia 
casus  aliquis  obtulisset,  a  vobis  fuimus  derelicti.  Quare  ita  cogítate,  si 
Peregrinus  aliquis,  qui  a  se  susceptum  iter  celeri  passu  peragere  conten- 
dit,  fuerit  a  Vobis  in  ignolam  viam  pertractus,  sentibus  initio  et  preru- 
ptis  undique  saxis  obsitam,  fulminibus  (al.  fluminibus)  item  plerisque  in 
locis  inlerclusam,  in  caque  solus  sine  duce  fuerit  dereliclus,  qui  certas 

1  Cap.  Ad  abolendam  (Decret.  Greg.  Lib.  5,  Tit.1)  De  haeretim — Abbas  post(?) 
Joannem  Andreae  in  cap.  Excommunicamus  (ibid.)  principio  codem  tit.  post.  (?)  Glos- 
»a  in  cap.  penúltimo  codem  tit.  —  Cap.  Non  dicatis  (Causa)  12,  quest.  II  (al.  I)  —  Cap. 
Presbyterum  ubi  Glos«a  I  (al.  L.?)  üislinctio. 

2  Mattheu*  (Evang.  cap.)  VII. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  41 

illis  semitas  et  fluviorum  vada,  qua  tuto  tranari  possint,  premonstraret, 
Eumque  hanc  ob  causam  aberrare  aul  periclitan  contigat,  norme  vos 
máxime  omnium  impii  erilis  existi'mandi,  et  quidquid  ille  oflenderit  ves- 
trae  erit  saeuiliae  imputandum?  Quod  si  a  tergo  eliam  illi  ílagello  ins- 
tantes iusseritis  reclam  ut  ipsesemitam  nullo  praeeunte  ingrediatur,  graue 
supplicium  siquando  impegeril  aut  aberraueril  illi  minilantes,  nonne  ipsi 
multo  crudetiores  et  sludiose  etiam  iniqui  mérito  erilis  judicandi?  Sic  Ra- 
que fingite  nos  in  Peregrini  eius  loco  a  vobis  fuisse  constitutos1,  ac  me- 
mentote  longe  aliler  Deum  cum  Patribus  noslris  egisse,  Cum  ex  Egiptio- 
rum  scruitule  in  promissionis  Iocum  eos  perduxit2 ;  Nam  et  íl lis  se  ipsum 
ilineris  Ducem  praestitit,  Et  ne  in  vía  deficerent  caelestis  eos  pañis  ali- 
monia  satiauit.  Nos  uero  ñeque  certum  Ducem  habuimus,  qui  nos  prae- 
cederet,  ñeque  (ut  a  Propheta  dictum  est)  cum  Paruuli  panem  peteremus 
erat  qui  nobis  frangeret ;  Sed  frequenter  lactare  uolentium  linguae  ad  pa- 
latum  nostrum  adheserunt.  Quare  per  Dei  misericordiam  nolite  commit- 
tere,  ut,  tanto  et  animarum  et  corporum  noslrorum  periculo,  vos  illi, 
qui  omnia  videt,  sub  luendae  Religionis  specie,  tam  importunae  erudeli- 
tatis  rationem  reddere  compellamini».  Quid  autem  ad  haec,  inquam,  hu- 
ius  Regni  Principes  et  Sapientes  responsuri  sint  plañe  non  uideo. 

At  erunt  aliqui,  qui  ob  hanc  veniam  deteriores  efficienlur,  hinc  sci- 
licet  diutius  occullalae  perfidiae  suae  occasionem  arripienles.  Primum  hoc 
ad  Christianam  disciplinam  pertinet,  ut  ñeque  de  cuiusquam  correclione 
desperetur,  ñeque  cuiquam  poenitendi  aditus  intercludatur ;  ñon  enim 
nobis  licet  ante  tempus  quemquam  judicare,  doñee  veniat  Dominus  et  il- 
luminet  abscondita  tenebrarum  et  cogilationes  cordis  manifestet. 

Deinde,  etsi  aliquos  futuros  esse  credamus  3,  qui  hac  Sanctissimi  Do- 
mini  nostri  Glementia  et  benignitate  abutentur,  non  ideo  lamen  illa,  uel  ab 
eo  reuocanda,  uel  nobis  repraehendenda  est.  Namque  (al.  Nam,  quae)  se- 
mel  ipsi  rede  facimus,  non  ea  raíione  (ut  inquit  Augustinus4)  Sunt  a  no- 
bis deserenda  quod  aliqui  tam  male  illis  moneantur  ut  animo  deteriores  fiant 
longe  a  pietate  remotiores;  nec  quisquam  (ut  apud  eundem)  sani  capitis 
dixeril  aurum  propler  cupidos  et  auaros  esse  culpandum.  aut  propter  ebrio- 

1  E.°  (Éxodo?)  13  et  16. 

2  Hier.  tren,  lili  (sic). 

3  Demanda  de  consensu  c.  II. 
''  C.  p.  de  lib.  6  c.  I. 

TOMO  111.  6 


42  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

sos  Vinum,  vel  propler  adúlteros  et  scortatores  muliebres  formas  nalurae 
vitio  esse  dandas.  Quanquam  (quod  ad  rem  nostram  atlinet)  nihil  cerle 
peruersis  etiam  huius  gentis  hominibus  daluní  sit,  quo  ¡psi  ualde  diutur- 
nam  scelerum  suorum  impunitatem  sperare  possint,  Quin  satis  aperte  in 
eiusdem  Bullae  tenore  cautum  est  eo  seuerius  Suam  Sanclitatem  in  poste- 
rum  delicia  esse  uindicaturam,  quo  inexcusabilius  illos  post  hac  peccatu- 
ros  esse  intelliget. 

Ad  quod  enim  fouebil  interea  tam  perdilos  homines  Sánela  Christi 
Ecclesia1,  in  maximam  Religionis  contumeliam  et  reliquorum  Chrislia- 
norum  scandalum,  quasi  vero  ignorent  isti  non  esse  inconueniens  quod 
in  agro  Domini  permixta  sint  usque  ad  messis  tempus  frumenlis  ziza- 
nia  2  et  hanc  esse  illam  Domini  Arcam  ;  nesciant  immixtas  granis  paleas 
usque  ad  ultimam  ventilationem  perpetuo  habituram  ;  Hanc  propterea  Sa- 
gennm  illam  esse  malis  simul  et  bonis  piscibus  refertam  3;  Hanc  denique 
esse  illam  Noe  Arcam  immixtas  hominibus  serpenles  el  Ouibus  Lupos  con- 
tinenlem,  a  qua  nemine,  nisi  in  crimine  depraehensum,  excludi  noluit 
sacrosancta  Christi  Ecclesia. 

Nam,  si  Judam  saluator  noster  tam  diu  inter  apostólos  tolerauit  quod 
eius  crimen  sibi  soli  cognilum  caeteris  esset  oceultum  \  Quid  est  quod 
nos  miseri  homunciones  inter  Ecclesiae  membra  illos  habere  designemur, 
quorum  delicia  sunt  nobis  omnino  incógnita  ?  Multi  (inquit  Auguslinus)  solo 
Dei  aspectu  corriguntur  ut  Petrus,  multi  tollerantur  ut  Judas,  mullí  nes- 
ciunl  doñee  veniat  Deus,  qui  illuminabit  abscondita  tenebrarum. 

Quod,  si  pertinacius  rogent  quid  interea  super  horum  salute  pulet 
Sanclitas  Sua  esse  faciendum,  dicam  illud  ipsam  putare  quod  Paulus, 
quod  Auguslinus "'  et  reliqui  in  professionis  nostrae  Principes  putauere  : 
primo  orandum  Deum  et  coram  eo  lugendum  esse  ut  malos  de  medio 
nostrum  tollal,  Sicul  ipse  nouit,  ne  nos  fortasse  per  humanam  imperiliam, 
dum  illos  tollere  volumus,  triticum  simul  cum  eis  eradicemus ;  deinde 


1  Malth.  13. 

2  Matth.  III  Luca  III. 

3  Matth.  XIII. 

4  Cap.  Cum  quisque  (Causa)  23,  questio  4 —  Cap.  Multi  (Causa)  9,  questio  prima, 
et  Cap.  fina/e  (Causa)  15,  questio  5  — Equili  (?)  et  cap.  Si  quis  (Causa)  23,  questio  i 
—  Cap.  Multi  (Causa)  2,  questio  1. 

'J  Ad  Corinlhíoí  I  cap.,  ac  Xugustinus  contra  cpistolam  Parmacam  lib.  3. 


RELACQES  COM  A  CURIA  ROMANA  43 

ul  non  eos  fanquam  sanos  esse  putcmus  quod  eorum  vulnus  nobis  occul- 
tum  sil,  sed  adhibito  Christianae  Seueritaüs  timore  ea  qua  decet  mansue- 
tudine  ipsos  docendos  atque  sanandos  suscipiamus. 

At  fingere  ipsi  non  cessabunl  et  (quod  haclenus  fecerunt)  legem  per- 
tinaciler  obseruantes  Christianae  Vitae  speciem  profitebuntur :  iam  non 
aliud  est  quod  hic  dici  possit,  nisi  quod  hoc  non  nostrum  sed  Dei  judi- 
cium  sit;  quodque  multi  forlasse,  ut  de  Donatistis  ait  Auguslinus1,  con- 
ficti  pulentur  quia  ad  nos  jussionis  terrore  transierint,  tales  poslerius  in 
tentalionibus  inuenientur  quod  aliquibus  ex  veteribus  catholicis  poterunt 
anteponi ;  Ac  postremo  quod  mullas  Dominus  vías  daturus  esl  cum  eorum 
miserebitur,  quibus  (ut  ab  eodem  Augustino  dictum  est)  ad  eorum.  inda- 
ginem  poterit  perueniri. 

Nam  quod  aiunt  isti  de  Religionis  contumelia,  et  reliquorum  chris- 
tianorum  scandalo,  nihil  est  certe  quod  uereri  debeamus ;  dum  enim  eorum 
scelera  sunt  occulta,  dumque  ipsi  visibili  nobiscum  sacramentorum  com- 
munione  ulantur,  nescio  quam  contumeliam  aut  quod  scandalum  in  Eccle- 
sia  sint  parituri,  nam,  si  alios  seducere  aggredientur,  ipsi  necessario  se 
prodent,  nec  amplius  erunt  occulti.  Ac  ne  latius  possint  hac  ralione  vi- 
rus suum  difundere  (quoad  humano  consilio  prouideri  poterit)  Sua  San- 
ctitas  curatura  est;  si  vero  se  ipsos  inter  perfidiae  suae  septa  contine- 
bunt,  nihil  reliquis  nocebit  illa  persuasio  quod  hii  inter  Catholicos  habean- 
lur,  cum  in  hominis  mente,  de  qua  judicare  non  possunt,  non  in  Dei  fide 
(ut  ait  Auguslinus 2)  eos  decipi  continget  de  quibus  haclenus. 

Jam  vero,  quae  de  illorum  liberatione  constiluta  sunt,  qui  in  vin- 
culis  esse  reperientur,  si  diligentius  isti  perpendissent,  certe  nulla  ratione 
repraehendenda  esse  cognouissenl.  Nam  cum  nomines  istos  vel  condemna- 
tos,  uel  saltem  de  hoc  crimine  diffamatos  esse  oporteat  satis  ipse  inlelli- 
gere  poteranl  eos  Sanctitatem  suam  fsicj.  Tum  demum  dimittendos  esse 
censuisse,  cum  illas  condiliones  adimpleuissent,  quae  vel  diffamatis  vel 
condemnatis  per  eandem  fuerant  imposilae,  Quibus  cum  primum  ipsi  sa- 
tisfecerint  iam  nihil  timendum  est  si  e  vinculis  liberi  abire  permittantur. 
Interea  vero,  dum  conditionibus  istis  parendi  facultas  erit  ipsis  concedenda, 
satis  ipsa  Judicum  prudentia  prouideri   poterit  ne  liceat  ipsis  Judiciurn 

1  Ad  Fcstum  Epfcí.  167. 

2  Contramcnda  c.  III. 

6* 


44  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

simul  et  praesenlís  Veniae  gratiam  contemnere  :  non  magis  etiam  istos  mo- 
veré debebant  quae  de  bonorum  restilutione  Sua  Sanclitas  staluit,  cum 
ipsa  tam  benigne  hoc  loco  cum  Principibus  egerit  ut  ila  demum  illa  res- 
tituí mandauerit,  si  per  ipsos  principes  nondum  fuissent  occupata.  Quare 
si  demus  aliqua  istorum  bona  in  Regno  Caslellae,  cuius  offensam  isti  in 
primis  subvereri  uidentur,  nondum  fuisse  a  Regis  fisco  vindícala,  Cerle 
credendum  est  quod  non  tanti  illa  fecerint  Principis  illius  Procuratores, 
ul  probabililer  limendum  sit  ne,  si  a  condemnalis  fuerint  repelita,  graui 
hanc  ob  causam  suum  Regem  iniuria  affectum  fuisse  arbitrentur. 

U] ud  autem  quod  praediclis  adiungunl  fore  ut  finitimis  regionibus 
multi  horum  scelerum  conscii  eo  sint  fugituri,  et  facile  corruplis  teslibus 
probaturi  se  eo  lempore  in  hoc  Regno  domicilium  habuisse,  quo  praesen- 
lis veniae  edictum  fuerit  publicalum,  et  hac  ralione  indigne  sint  praete- 
rilorum  scelerum  veniam  consequuturi,  ipsi  cerle  alio  loco  docent  nihil 
omnino  esse  existiraandum  cum  dicunt  Judicum  suorum  diligcntia  facile 
prouideri  posse  ne  falsis  lestimonüs  iudicia  corrumpantur 1.  Quare  non 
est  quod  ipsi  de  Aposlolici  Nuntii  prudentia  atque  diligenlia  minus  con- 
fidant,  praeserlim  cum  mulla  nobis  legibus  praescripla  sint,  quibus  les- 
tium  omnium  quamuis  ignotorum  fides  facile  potest  exploran.  Quam- 
obrem  minus  eliam  dubitandum  est  ne  finilimae  gentes  Portugalliae  hae- 
reticorum  asyllum  nuncupaturae  sint,  praesertim  cum  intelligent  quanla 
post  hac  seueritate  atque  diligentia  perquirí  eos  uelit  Sua  Sanclitas  atque 
coercen. 

Dum  uero  isti  etiam  illud  ¡ñique  constitutum  fuisse  arbitrantur  quod 
condemnatijUbicumque  fuerint  judicati,  possint  apud  eundem  Sanctitalis 
Suae  Nunlium  se  defenderé,  si  per  iniuriam  se  damnatos  fuisse  existima- 
bunt,  uclim  ipsi  cogitent  tanta  illum  prudentia  praedilum  esse  quod  si- 
quí  exlra  huius  Regní  fines  se  inique  damnatos  fuisse  conquerentur,  lfa 
demum  illos  per  se  audiendos  esse  exislimabit,  si  noloriam  fuisse  illo- 
rum  injuriam  ex  his,  quae  acta  fuerunt,  animaduerteret.  Si  vero  diffici- 
liorem  eorum  causam,  et  lestibus  agendam  esse  cognoscet,  non  est  dubi- 
tandum quod  illam  vel  in  loco  cognoscendum  subdelegabit,  uel  ad  San- 
ctitalem  Suam  referet,  ut  ad  ipsam  slaluat,  quod  oplimum  factu  esse  ui- 
debilur :  nam  (quod  ad  Judicum  infamiam  perlinet)  vereri  cerle  isti  non 

1  Lex  3  $  Mcoquc,  Digcst.  De  teslibus. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  45 

debent  quod  aliqua  illi  per  iniuriam  infamia  afficiantur.  Siqua  uero  jure 
mérito  illos  nota  consequetur,  non  est  cur  ipsi  conqueranlur,  nisi  for- 
lasse  indignus  esse  exislimant  quod  illorum  Judicum  acta  legitime  res- 
cindantur,  quam  quod  illi  qui  per  iniuriam  damnali  fuere  perpetuam  fa- 
mae  et  bonorum  jacturam  palianlur,  illud  certe  quod  est  hinc  etiam  Rc- 
gnorum  et  populorum  dissentiones  timeri  possint  plañe  non  uideo,  cum 
harum  rerum  cognitio  Sanctitatis  Suae  Nuntio  sit  commissa,  cuius  juris- 
dictio  et  potestas  (quod  ad  spirituales  causas  atlinet)  nullo  loco,  nullis- 
que  Christiani  Orbis  limilibus,  conscribi  potest. 

Quod  sequitur,  etsi  parum  animaduersione  dignum  esse  uideatur, 
dicam  tamen  nihil  esse  cur  Rex  conqueri  possit  quod  haec  venia  veteri- 
bus  etiam  chrislianis  fuerit  concessa,  nisi  ob  hanc  causam  nimiae  libera- 
litatis  et  clementiae  putat  Sanctilatem  Suam  accusari  posse,  quod  certe, 
si  conlingat,  ipsa  non  iniquo  animo  lalura  est,  cum  ita  slatuerit,  mullo 
melius  esse  propler  misericordiam  Deo  rationem  reddere,  quam  propler 
nimiam  seueritatem  *.  Quare  cum  ipsa  per  se  primum  hoc  libenti  animo 
fecit  ut  omnes  Regni  huius  Incolae  largitatis  et  clementiae  suae  fruclum 
consequerentur,  Tum  libentius  hoc  fecit  ne  conuersorum  inuidiam  auge- 
ret  si  tale  lanlumque  beneficium  in  eos  tantummodo  fuissel  collatum.  Nam 
quos  a  contemtu  et  inuidia  subleuandos  esse  existimat,  si  susceptam  Re- 
ligionem  pia  sinceraque  mente  colere  et  obseruare  uoluerint,  mérito  ca- 
uendum  esse  sibi  putauit  ne  hoc  fació  majore  ipsi  apud  reliquos  chris- 
tianos  odio  grauarentur. 

Ñeque  est  quod  hoc  isli  ad  veterem  chrisiianorum  infamiam  perli- 
nere  arbitrentur,  cum  non  modo  Sua  Sanctitas  eorum  poenas  remiserit, 
qui  Judaicas  supertitiones  obseruassent,  sed  aliorum  etiam  delictorum  spi- 
ritualem  poenam  ómnibus  condemnare  uolueril,  a  quibus  fortasse,  sicut 
a  judaicis  erroribus,  si  uelint  isli  omnino  vacui  et  immunes  \ideri,  ca- 
ueant  ne  mendacii  ab  Apostólo 2  redarguanlur,  qui  ait :  si  dixerimus  po- 
testatem  non  habemus,  nos  ipsos  fallimus  et  veritas  non  est  in  nobis. 
Quare  nihil  cur  ipsi  (quamuis  temporalibus  tilulis  et  Ecclesiasticis  hono- 
ribus  sint  insigniti)  vereri  debeant  ne  huius  veniae  concessio  sit  ad  eorum 
dedecus  et  infamiam  peruentura. 

1  L.  colligant.  (al.  Cap.  Alligant,  Causa)  26,  quest.  7. 

2  Joan.  c.  I  —  Aug.  de  pen.  mori  et  remiss.  lib.  2,  c.  12. 


46  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

Quod  postremo  indígnum  istis  esse  uidetur  quod  Sanclitatis  Suae 
Nuntio,  homini  alieno,  Inquisitionis  munus  intra  huius  Regni  fines  fue- 
r¡t  commissum,  nescio  qua  raenle,  quoue  consilio  hoc  ipsi  fuerint  com- 
menli,  cum  numquam  hoc  in  animum  Sanclilalis  Suae  veneril,  nisi  quoad 
gratiae  praesenlis  exequulionem  portinere  uideretur,  quam  exequutionem, 
si  etiam  Rogionis  huius  alicui  polius  quam  eius  Nuntio  committi  uoluis- 
set,  ipsi  uiderint  quam  honeste  hoc  ab  eis  et  legitime  desiderari  poluit. 

Caeterum,  cum  satis  ipsi  ad  ea,  quae  opponebanlur,  respondisse  vi- 
deamur,  illud  minime  nobis  praetermitlendum  esse  videtur  vix  probabile 
alicui  uideri  protuisse  quod  Serenissimus  Rex  Porlugalliae  tam  iniquo 
animo  laturus  csset  mirificam  islam  Sanclissimi  Domini  nostri  aduersus 
Regni  sui  populos  clemenliam,  cum  tam  ipse,  quam  eius  Pater  gloriosi 
nominis  Rex  Emanuel,  iam  olim  istis  ipsis  recens  baplizatis  xx  et  ix  an- 
norum  impunilatem  promisisse  reperiantur,  cui  Veniae,  si  hanc  Sancli- 
tatis Suae  indulgentiam  adiungamus,  inueniemus  sex  tantummodo  plus 
minus  annorum  graliam  ilüs  addituram  fuisse.  Quare,  si  ipsi  indignum 
esse  non  crediderunt  tanli  temporis  impunilatem  illis  polliceri,  quam  ipsi 
praestare  non  poterant,  Qui  fieri  potest  ut  indignum  esse  exisliment  quod 
Summus  Pontifex,  Christi  Vicarius,  in  cuius  manu  haec  sunt  posita,  exi- 
gui  temporis  Veniam  ad  eam  quam  ipsi  promiserant  adiungendam  esse 
putaueril?  Haec  autem  tam  illegilimarurn  oratorum  Regis  quaerelarum 
admiralio  fácil  ut  oporlune  tola  haec  defensio  Aposloli  verbis  concludi 
posse  videatur,  ln  cuius  persona,  quae  ille  corinthiis  loquebalur1  finga- 
mus  Sanctissimum  Dominum  Nostrum  Regi  eiusque  Regni  Pastoribus  ita 
esse  dicturum  : 

«Ideo  scripsi  vobis,  o  fili  charissime  venerabilesque  fralres,  quod 
hanc  veniam,  quam  huic  gcnti  donandam  censui,  publican  pateremini, 
atque  curaretis  ul  cognoscerem  experimentum  vestrum.  An  in  ómnibus 
obedientes  silis,  sicut  enim  in  exequenda  Inquisilione  mihi  obtemperas- 
tis,  experiri  volui.  An  etiam  in  donanda  istis  lemporali  poena  mihi  obe- 
dientes esselis,  obedire  namque  in  hoc  etiam  debuistis,  Quia  cui  vos  con- 
donases aliquid,  cum  scilicet  uiginli  et  eo  amplius  annorum  impunitalem 
huic  genli  promisistis,  el  ego  qui  solus  potcram  condonaui.  Nunc  vero 
El  ego  siquid  condonaui  (exigui  temporis  Veniam  illis  adiungendo)  cui 

1  I!  cap.  II. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  ¿7 

condonaui,  propler  vos  condonaui,  id  est,  propler  Regni  el  Ecclesiae  Ves- 
trae  vliiilatem  hoc  feci :  ñeque  hoc  propria,  sicut  vos,  auclorilate,  Sed  in 
persona  Christi,  hoc  est  lamquam  Christi  Vicarius,  cu¡  horum  deliclo- 
rum  temporaleo!  simul  et  spiritualem  poenam  remitlendum  est :  ac,  si 
rationem  queritis,  nempe  ne  circumueniremur  a  Sathana,  circumuenire- 
mur  autem  (ut  inquit  Ambrosius  huno  locum  exponens)  si  per  nimiam 
trislitiam  pereat,  qui  potest  liberari  per  indulgentiam,  non  enim  eius  co- 
gitationes  ignoramus  (quae  si  quales  sunl  quaeritis  Aug.  de  hoc  eodem 
loquens)  opportune  nobis  proditum  rcliquit  per  imaginem  x  (scilicet)  quasi 
juste  seueritalis  crudelem  nobis  saeuiliam  persuadere.  Quibus  Aposloli 
verbis2,  ita  per  Sanclissimos  Patres  interpraetatis,  nescio  An  quid  opor- 
tunius,  et  ad  id  quod  agimus  accomodatius,  reperiri  possit 3.» 


Outras  respostas  «huías  pelos  tlieologos  romanos. 


RESPONSIONES  SÍMILES  A  QUIBUSDAM   DOCTISSIMIS  THEOLOGIS 
COMPILATAE   (fl). 

Paulus  Aposlolus  adversus  corinthios  indignatur  quod  de  spiritu, 
quo  eis  Sanctissiraum  Christi  Evangelium  praedicabat,  non  nihil  subdu- 
bitare  videretur :  «An  experimenlum,  inquit4,  quaeritis  eius,  qui  in  me 
loquitur  Christus?»  Cujus  exemplum  sequutus,  polerat  Sanclissimus  Do- 
minus  noster  Clemens  Septimus  adversus  Lusitanorum  Ecclesiam  indigna- 
lione  aliqua  commoveri,  quod  de  Sanclitatis  Suae  mente  in  remissionis 
bulla  iis,  qui  a  Mosaycae  legis  tenebris  ad  evangelicam  lucem  nuper  in 
Lusitaniae  Regno  venerunt,  concessa  male  sentienles,  Serenissimum  Joan- 
nem  Regem  suum  subornarunt,  qui  apud  Sanclitatem  Suam  bullam  per- 


1  m.  II  de  pen.  cap.  7  (sic). 

2  in  3  contra  Epistolar»,  Parmaeoni. 

3  Copia  na  Bibliotheca  d'Ajüda,  Symmicta,  Tom.  XXXI,  p.  395.  Appendice  n.° 
16  junto  ao  Memorial  dos  Christaos  novos. 

(a)   Vide  as  notas  a  pag.  11  e  29  do  presente  volunte. 
*  Corinth.  XIII. 


48  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

niciosam  atque  iniustam  quaererelur ;  idque  proprio  ad  id  Oralore  mis- 
so.  Caetcrum  cum  Sua  Sanclilas  chrisliani  hominis,  nedum  christiano- 
rum  Principis,  esse  sciat  semper,  juxla  Pelri  doctrinara  l,  ad  rcddendam 
ralionem  de  ea,  quae  in  ipso  est  fide  et  spe,  paralum  esse,  cupiens  non 
solum  sapientibus,  sed  insipientibus  etiam,  quibus  ómnibus  debitorem  se 
esse  intelligit,  quoad  per  eum  fieri  possel,  satisfacere,  ad  ea,  quae  Regis 
nomine  adversus  suam  illam  misericordiam,  qua  miseram  illam  genlem 
complexa  est,  objiciunlur,  quam  brevius  poterit  responderi  Jubet :  quoniam, 
aulem,  isti  lusitanorum  pastores,  quod  tempore  felicis  recordationis  Sere- 
nissimi  Regis  Emanuelis  illius  regni  judaeos  ad  fidem  compulerint,  ju- 
benle  rege  ut  qui  Chrislum  profiteri  nolent,  sua  relicta,  e  Regno  exi- 
rent,  quasi  in  re  bene  gesta  glorianlur ;  ne  tantopcre  animo  efferantur, 
sit  ne  id  pium,  aul  secundum  legem  evangelicam,  considerabimus.  Dein- 
de,  quoniam  isti,  quos  sic  pertraxerunl,  absque  ulla  necessaria  doctrina 
reliquerunt,  id  impie  ab  eis  factum  fuisse  demonstrabimus  ;  simulque  quam 
impium,  quam  inhumanum,  quamque  a  Chrislo  sit  alienum  hanc  miseram 
genlem,  quod  nonnunquam  impugnat  labalur  ne  gladio  Inquisitionis,  de- 
lere  probabimus,  idque  sacrarum  scripturarum  sanctorumque  Patrum  eru- 
dilissimis  testimoniis.  Preterea,  quoniam  islis  tanlopere  displicet  quod  Sua 
Sanctitas  hujus  gentis  se  misertus,  id  a  chrisliana  charitate  et  ab  omni 
prorsus  humanilale  alienum  esse  judicabimus.  Postremo  cur,  Serenissimo 
Rege  postulante,  annis  superioribus  adversus  eos,  qui  a  triginta  quinqué 
annis  citra  in  ejus  Regnis  fueran!  baptizali,  Inquisitionis  bullam  Sua  San- 
clilas concesseril,  Et  rursus  quid  secutus  anno  superiori,  revocata  priori, 
alteram  illam  remissionis  dederit,  Dicemus ;  ut  nec  in  hoc  plus  equo  mi- 
sericordia, nec  in  illud  plusquam  par  erat  sevilia  usus  esse  \ideatur. 

Qui  vel  mediocriler  sunt  in  Evangelicis  scripturis  versali  norunt 
plañe  quanla  modestia  et  mansuetudine  Christus  Jesús  homines  ad  se 
adducere  curarit 2,  Cum  enim  ille  non  nostra  sed  nos  quaereret,  sci- 
retque  quae  in  nobis  sunt,  natura  esse  libera ;  ne  sibi  et  nobis  injuriara 
faceré  viderclur,  Si  quae  naturae,  imo  Dei  beneficio,  habemus  nobis 
adimeret,  non  minis  ac  terroribus,  sed  simplicissima  praedicatione  ho- 
raines  ad  se  vocat ;  semper  lamen  liberam  eis  relinquens  quid  eligere  vc- 

1  l.'PetriR.0  1  .•(*«<?). 

2  U*  Corinth.  12. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  49 

lint,  nullum  unquam  ad  se  venire  coegit,  tantum  si  vis;  et  quae  vult  ex 
ore  ejus  audivimus  :  «Siquis,  inquit ',  vult  venire  post  me  abneget  seme- 
tipsum. » 

Et  paulo  post:  «qui  voluerit  animam  suam  salvam  faceré,  perdet 
eara. » 

Et  alibi :  «si  vis  ad  vitam  ingredi  serva  mándala. » 

Et  subjungit2:  «si  vis  perfecíus  esse,  vade,  vende  omnia  quae  ha- 
bes»  aut.  (al.  At?)  Luc3  aut  isti  multo  aliler  suos  ad  Christum  vocanl : 
siquis,  inquiunt,  ad  Christum  venire  noluerit,  relinquat  omnia  quae  ha- 
bet,  et  vadat  quo  voluerit ;  quod  quidem  ex  diámetro  cum  verbis  Christi 
pugnat  satis  conslat  Jam  vero  tanta  religione  Christo  fsicj,  nec  bene  faceré 
quidem  alicui  nisi  petenti  voluit,  ut  non  prius  cecis  visum  restituerit  quam 
eos  inlerrogaret,  «quid,  inquiens,  vultis  ut  faciam  vobis?» 

Denique  si,  quemadmodum  legimus  apud  Johannem,  cum  discipuli 
quídam  a  Chrisio  ad  turbam  deficerent,  Christi  nimium  doctrina  offensi, 
discípulos,  qui  inoffensi  perstiterant,  rogat  Christus  num  et  ipsi  velint  re- 
cedere,  veluü  optionem  deferens  ultro  velint  inclinandi,  Qua  fronte  isti 
nolentes  ac  reluctantes  vi  ac  melu  ad  Christum  venire  coegerunt?  Quod 
autem  Apostoli  in  hoc  Evangélico  negolio  iisdem  sicut  ingressi  vestigiis, 
quibus  ipsorum  magister,  docent  Apostolorum  acta,  docet  et  historia, 
quam  ecclesiaslicam  vocanl.  Quae  tamen  ideo  non  a  nobis  dicunlur  quod 
factum  Regis  in  hanc  gentem  cogendam  damnemus,  sed  ut  intelligant  isti, 
qui  lusitanorum  ecclesiam  gubernant,  quam  inique  adversus  hanc  mise- 
ram  gentem  eferantur  quam  zelo  Dei,  sed  fortassis,  non  secundum  scien- 
tiam  4,  vi  et  metu  ad  fidem  pertraxerunt,  vel  potius  fidem  simulare  co- 
egerunt. 

Jam  vero  lametsi  mulla  adduci  possent,  cum  é  sacris  litleris,  cum 
é  sanctorum  Patrum  munimentis,  éque  Ecclesiae  consuetudinibus,  quae 
istis  prae  oculis  ponerent  quanta  cura  sint  digni,  quod  hanc  miseram  gen- 
tem ea  quae  par  erat  cura  in  fide  non  instruxerunt ;  brevilati  tamen  con- 


1  Mztth.  16. 

2  Matth.  19. 

3  Parece  querer  citar  S.  Lucas,  Cap.  9,  23. 


1  Rom.  10 
TOMO   III 


50  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sulenles  é  multis  pauca  colligemus.  Ghristus  Dominus  noster,  cupiens  om- 
nes  homines  a  coecitalis  lenebris  ad  Evangelicam  lucem  adducere,  non 
minis  aut  terroribus,  sed  simplicissima  praedicatione  nos  \ocat,  atque  in 
ipso  suae  praedicationis  inilio  «poenitentiam,  inquit,  agite:  appropinquat 
enim  regnum  coelorum»1.  Mox  eos,  qui  ad  suara  veniunt  vocationem, 
quid  eis  sequendum  et  quod  fugiendum  sit  docet2:  postea  miraculis  \o- 
cationem  et  doctrinara  confirmat,  inlerim  parabolis3  nos  instruit,  minis 
territat,  promissionibusque  ad  sui  amorem  provocat.  Apostoli  Magistri 
Sui  ministratores  multa  condonarunt  infirmitati  illorum,  qui  a  judaismo 
ad  Evangelium  venicbant.  Paulus  objudaeorum  perfidiam  Timotheum  cir- 
cuncidit \  caputque  rasit  Cenchris,  votum  siraulans :  in  Hierosolymitano 
Concilio  ob  perlinaciam  judcorum  decreto  statuerunt  Aposloli  ut  gentes 
abstinerent  se  a  sanguine,  suffocato,  idolatría  et  fornicatione  5,  cum  lamen 
scirent  una  excepta  fornicatione  caetera  ad  pietatem  nihil  conducere.  Pau- 
lus quos  sua  predicatione  ad  Christura  adduxerat  multa  fortitudine  hor- 
tatur,  monet  ac  fovet.  ídem  verum  Episcopum  nobis  depingit :  «O  portet, 
inquit6,  Episcopum  esse  irreprehensibilem,  sobrium,  prudentem,  orna- 
tum,  pudicum,  bospitalem,  doctorem»,  hocestaptum  ad  docendum.  ídem 
christiani  hominis  oíücium  ostendit :  «servum,  inquit7,  Dei  non  oportct 
litigare ;  sed  mansuetum  esse  ad  omnes,  docibilem,  patienlem,  cum  mo- 
destia corripientem  eos,  qui  resistunt  veritati. »  ítem  corripientibus  nor- 
mam  praescribit :  «si  praeoecupatus,  inquit8,  fuerit  bomo  in  aliquo  deli- 
cio, vos,  qui  spirituales  estis,  instruite  hujusmodi  in  spiritu  lenitatis,  con- 
siderans  lemetipsum,  ne  et  tu  tenleris».  Et  alibi9  «¡nfirmum,  inquit,  in 
fide  assumite»  nempe  ad  inslruendum,  monendum  ac  fovendum,  non  au- 
lem  ad  incarcerandum  praemendum  ac  interficiendum.  Quae  omnia,  si 
isti  lusilanorum  ecclesiae  gubernalores  ea  qua  par  erat  cura  animadver- 


1  Matth.  3, 

2  Matth.  5,  7,  8. 

3  Matth.  13. 

4  Act.  16. 
■  Act.  15. 

•  Eth.  3  {al.  1  Timoth.  III). 

7  2  Tim.  2. 

8  Gal.  6. 

,J  Corint.  (al.  Román.)  lí. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  51 

tissent,  rectius  suum  ofíicium  fecissent ;  Et  quos  sua  opera  alque  indus- 
tria christianos  fecerant  nunquam  profeclo  inquisitoribus  in  praedam  tradi- 
dissent,  sed,  omni  adhibita  cura  ac  diligentia,  quasi  manu  ducerent  ac 
christianae  doctrinae  taclae  (al.  lacle)  nutrirent1,  doñee  Christi  favore 
«in  virum  praefectum,  inquit2,  cognitionem  filii  Dei  venirent»,  ac  supra 
gregem  ut  veri  pastores  solicite  excubarent,  ne  ille  qui  « tanquam  leo  ru- 
giens  circuit  quaerens  quem  devoret3  »  quicquam  de  eorum  manibus  eri- 
peret.  Cum  autem  isti  omnia  haec  aut  ignoraverint  aut  neglexerint,  qua 
fronte  raiseram  hanc  gentem  ferocia  plusquam  tyrannica,  quod  non  recle 
instructa  labatur  aut  impinguat,  prosequuntur?  Quod  quam  sit  doctri- 
nae Christi  conlrarium  in  multis  Evangeliorum  locis  est  videre;  máxime 
autem  in  illa  parábola  de  tritico  et  zizania4,  ubi,  juxla  doclorum  exposi- 
tionem,  haereticos  tolli  vetat  Christus :  utque  isti  id  clarius  recognoscant 
Augustini  expositionem  hic  scribere  non  pigebat :  «  Eradicat  eum,  inquit 5, 
quodammodo  bonum,  qui  manum  (al.  malum)  lollit  é  medio  qui  bonus 
erat  futurus».  Deaccidendis  autem  malis  ita  loqui  cur  (al.  loquitur),  non 
ail  «in  tempore  messis  dicam  vobis»  ;  sed  «vicam  (al.  dicam)  messori- 
bus»  :  und  intelligitur  colligendorum  zizaniorum  alia  esse  ministeria,  nec 
quamquam  ecclesiae  filiam  deberé  arbitran  ad  se  hoc  officium  pertinere. 
Et  aliquando  post,  de  pió,  cui  obrepit,  cogitalu  de  tollendis  haerelicis  agens, 
ita  subjicit :  potest  ei  suboriri  voluntas  ut  tales  homines  de  rebus  huma- 
nis  auferat,  si  aliquam  habeat  facultatem  ;  sed  ulrum  faceré  debeat,  jus- 
titiam  Dei  consulit,  utrum  hoc  ei  praecipiat  vel  permittat.  Hinc  est  quod 
servi  dicant  «vis  eamus  colligamus  eam?»  quibus  veritas  ipsa  respondet 
non  ita  hominem  constitutum  esse  in  hac  vita,  ut  certus  esse  possit  qualis 
quisque  futurus  sit  postea,  cujus  in  presentía  cernis  errorem,  vel  quid 
etiam  errore  ejus  conferat  ad  profectum  bonorum,  non  esse  tales  auferen- 
dos  de  hac  vita,  ne,  cum  malos  conatur  interficere,  bonos  inlerficiat, 
quod  forte  futuri  sunt,  aut  bonis  obsit,  quibus  et  invilis  forte  ulilis  sunt ; 
sed  tamen  oportet  rem  fieri  cum  jam  in  fine  non  restat  vel  tempus  com- 
mutandae  vitae,  vel  proficiendi  ad  virtutem  ex  occasione  alque  compara- 

1  Corint.  3. 

2  Ephe.  4. 

3  (/  Petr.  V). 
*  Matth.  13. 

5  Aug. 

7* 


52  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tione  alieni  erroris,  tune  autem  hoc  non  ab  hominibus  sed  ab  Angelis 
fieri,  inde  est  quod  respondel  paterfamilias  «non  ne  forte  colligenles  zi- 
zaniam  eradicelis  simul  et  Irilicum  »  ;  sed  « in  tempore  messis  dicam  mes- 
soribus.  »  Atque  hoc  modo  eos  tranquilísimos  et  pacalissimos  reddi- 
dit. 

Haec  Augustinus,  quem  sequunlur  Remigius,  Anselmus,  Beda  atque 
alii,  ut  interim  ommittam  Hieronymi  et  Chrysostomi  interpretationes,  qui 
omnes  de  haerecticis  omnino  ferendis  hanc  parabolam  exponunt.  Quod, 
si  sanctissimi  isti  viri  ad  haereticos,  qui  nec  moniti  resipisccre  volunt, 
hanc  parabolam  pertinere  sunt  arbitrali,  videant  isti,  qui  eos,  qui  se  hae- 
reticos negant,  Christumque  filium  Dei  vivum  fatentur,  ecclesiaeque  fi- 
lios  se  esse  asserunt,  mactant  ac  perdunt,  quam  a  Chrisli  atque  Sancto- 
rum  Patrum  doctrina  sinl  alieni,  quamque  Paulo  sint  conlrarii,  qui  «  hae- 
relicum,  inquit,  hominem  post  primam  et  seceundam  correplionem  devi- 
ta » : '  non  dicit  preme,  urge,  perde,  sed  «  devita ; »  Idque  postquam 
enim  semel  atque  iterum  erroris  suis  (sicj  admonueris  ;  id  eum  (al.  enim) 
cum  christiana  mansuetudine  omnino  consonat.  Nam,  teste  Hieronymo, 
nunquam  spiritualis  prosequitur  carnalem,  sed  ignoscit  ei  quasi  rusticano 
fratri.  Nom  enim  Isaac  qui  secundum  Spiritum  natus  erat  prosequebatur 
Ismaelem,  qui  erat  secundum  carnem,  sed  é  contra2.  De  quibus  Paulus 
«quemadmodum,  inquit, 3  tune  is,  qui  secundum  carnem  natus  est,  pro- 
sequebatur eum,  qui  secundum  spiritum  ;  ita  et  nunc  »  :  et  idem  Apostolus 
«servum,  inquit4,  Dei  non  opportet  litigare:  sed  mansuetum  esse  ad  om- 
nes» corripientem,  non  perdenlem,  non  persequenlem  5.  Quod  si  Deus 
tam  promptus  ad  perdendos  nomines  sibi  inimicos  esset  quam  isti  videri 
volunt,  olim  omnes  periissemus,  quos  omnes,  teste  Paulo  6,  inclusit  sub 
peccato,  non  ut  perderet,  sed  ut  omnium  misereretur.  Ab  islis  igitur 
peccatis  exemplis,  ac  latum  quid  culmum  decedere  quanto  rectius  fuerit, 
quam  saevitia  plusquam  tyrannica  uti  velle  ipsimet  judicent,  ac  Hiero- 


1  Timot.  (al.  Tú.)  3. 

2  Gen.  12  (sic). 

3  Gal.  4. 

*  Timoth.  2. 
'  Rom.  11. 
"Gal.  3. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  53 

nimum  audianl  dicentem  :  l  «qui  se  in  Ghrislo  dicit  credere,  dcbot  quo- 
modo  ille  ambulavit  et  ipsemet  ambulare :  non  enim  venit  ut  crederet, 
sed  ut  crederetur;  non  deditalapam,  sed  accepit ;  non  crucifixit,  sed  cru- 
cifixus  est ;  non  alios  occidit,  sed.  ipsemet  passus».  Hactenus  ille.  Me- 
minerint  isti  quod  de  Chrislo  scriptum  sit  «arundinem  quassalam  non 
confringet » 2,  id  est,  exponente  Hieronymo3,  porriget  manum  peccatori, 
et  lignum  fumigans  non  cxtinguet,  juxta  eundem  modicam  fidem  in  par- 
vis  non  extinguet,  v  trique  iam  sint  imitalores  qui  tanlo  tempore  hanc  mi- 
serain  genlem  funditus  perderé  cupiunt  Christi  ne  ante  Ghrisli  Ezechiel  pa- 
lana ostendit  ut  inquit4  «Vae  pastoribus  Israel,  qui  pascebant  semctipsos  », 
et  paulo  post  «quod  confraclum  est  non  alligaslis,  quod  abjeclum  erat 
non  reduxistis,  et  quod  perierat  non  quaesistis :  sed  cum  ausleritale  et 
potenlia  imperabitis  eis»  audiant  ausleritatem,  audiant  potentiam  isti  Lu- 
sitanorum  paslores  ut  eos  jam  pudere  incipiant  quod  haec  et  alia  mulla, 
quae  apud  eundem  Prophetam  sunt,  adversus  ipsos  dici  possint.  Cur,  rogo, 
violenlia  et  potentia,  ac  non  potius  vino  et  oleo  curare  volunt  semivivum 
in  latrones  delapsum  5?  nunquid  nunquam  legerunt  «qui  gladio  ferit  gla- 
dio  peribit»6?  Sed,  dicit  aliquis  istorum,  divus  Paulus7  salhanae  tra- 
debat.  Faleor:  sed  haereticos  ille  nunquid  (al.  non,  qui)  per  infirmita- 
tem  aut  certe  per  malitiam  8  aliquam  mosaicae  legis  caerimoniam  fecisse 
convincebantur,  si  illis  facli  sui  poeniteret,  appellat ;  sed  eos,  qui,  cum 
novarum  sint  inventores  sectarum,  non  solum  moniti  non  resipiscunt,  sed 
alios  in  suas  pravas  opiniones  adducere  conlendunt.  Sathanae  docel  Pau- 
lus, sed  dum  resipiscerent,  qui  ubi  poeniterent  reconciliarentur  Ecclesiae, 
restituerent  in  integrum :  quam  doctrinara  usque  ad  tempus  Auguslini 
observavit  Ecclesia9 :  sed  tune  Donatistarum  et  Circumcellionum  nimium 
diu  tollerata  insania  impulsa  auxilium  brachii  secularis  invocare  coacta 


1 1.°  J.°  2. 

2  Isaac  {al.  Isaías)  42;  Matth.  12. 

3  Hier. 

4  Ezech.  34. 

5  Luc.  10. 

6  Matth.  26. 

7  1  Tit.  {al.  Timoth.)  1.° 

8  1  Corinth.  5  {sic). 

9  August. 


5í  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

fuit,  quod  lamen  Auguslino  non  placuit,  illud  exislimans  non  decere  Epis- 
copos  alus  armis  quam  verbo  Dei,  precibus  et  orationibus  uti,  aut  certe 
analhemate,  de  quibus  tamen,  qui  ad  ecclesiam  veniebant,  suas  apud  se 
facilítales  habebanl,  adeo  ut  ñeque  praesbyteris  resipiscentibus  suus  ho- 
nos  adimeretur ;  tantum  abest  ut  quemquam  morli  Iraderent.  Isti  autem 
eos,  qui  se  haerelicos  esse  negant,  lantum  quia  fortassis  per  infirmitatem 
lapsos  aliquem  antiquae  suae  legis  ceremoniam  fecerunt,  inlerficiunt  ct 
penitus  dolent  (al.  delent).  Dominus  Jesús1  peccatorem  a  via  sua  mala 
revertentem  non  spernatur,  Imo  palientia  Dei  ad  poenitentiam  quantum- 
ras  haerelicum  adducit :  Isti  quos  se  haereticos  negant,  Ghristumque  fi- 
lium  Dei  unum  fatentur,  igni  crudeliter  tradunt.  Dominus  Jezus  Judam 
suum  traditorem  magna  fovit  Clementia,  incredibili  demerebatur  humani- 
tate,  chara  ampleclebatur  munificentia,  dum  eum  toileraret  dum  oscula- 
retur,  quem  post  in  Christo  proditionis  articulo  blande  quam  potuit  ami- 
ciliae  vocabulo  appellavil2,  quo  ut  tándem  resipisceret  Clementia  comrao- 
tus,  humanitate  victus,  munificentia  superalus :  isti  vero,  quos  facti  sui 
poenitet,  tantum  quia  lapsus  est,  perpetuo  carcere  intrudunt,  ambiüo- 
nemque  fsicj  bonorum  omnium  damnant.  Dominus  Jezus  ne  mulierem 
in  ipso  adulterio  depraehensam  damnat ;  tantum  monet,  ne  amplius  pec- 
cet3:  Isti  magna  diligentia  ac  sollicitudine  testimonia  adversus  homines 
quaerunt,  ut  mactent,  ut  perdant.  Dominus  Jesús  Petro  dicente  «Domine 
quoties  peccabit  in  me  frater  raeus,  el  dimittam  ei?  usque  septies?»  res- 
pondit :  «  nom  dico  Ubi  usque  septies;  sed  usque  septuagies  septies»4,  et 
Ecclesia  Berangariae,  qui  semel  dimissus  in  perniciosissimam  haeresim 
prolapsus  est,  ne  tamen  quidem  vim  intulit :  Isti  vero,  legem  nescio  quam 
de  relapsis  invenientes,  si  in  eo  peccato,  de  quo  semel  accusatus  est,  mi- 
ser  aliquis  prolabitur,  eum  ad  poenitentiam  non  admiltunt;  sed  igni  tra- 
dunt. Ut  autem  isti  manifestius  cognoscant  quam  quod  ab  eis  peccatum 
sit,  eum  miseram  hanc  gentem  in  ipso  stalim  conversionis  suae  lempore 
non  instruxerint  In  fide,  animadverlanl  Quid  ecclesia  spiritu  duela  faceré 
consuevit  dum  non  prius  quemquam  ad  sacrum  lavacrum   admilteret, 


1  Luc.  13. 

2  Matth.  26. 

3  Jo.  8. 

1  Matlh.  8  (al.  18). 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA 


otf 


quam  fidem  ore  confiterelur,  edoctusque  veritatem  fidem  factis  exprime- 
ret :  cujus  rei  adhuc  nobis  vestigia  aliqua  remanent,  oraraus  cum  (al. 
enim)  pro  cathecumenis  nostri.  At  qui  sunt  isti  calhecumeni,  nisi  illi,  qui 
ad  Ecclesiam  venientes  fidemque  profilentes,  tantisper  a  sacro  baplisma- 
tis  fonte  arcebanlur  doñee  in  Chrisli  doctrina '  oplime  instrucli,  Id  enim 
sonat  cathechismus,  specimen  aliquod  in  eadem  persistendi  prae  se  feranl? 
Caeterum  quod  ad  istorum  saeviliam  attinet  legant  Augustinum  2,  ut  ¡n- 
telligant  quanta  ille  sollicitudine  curavit  ne  Donalistarum  quisquam  occi- 
deretur,  Qui  tamen  excepta  christiana  mansuetudine  crudelissima  morte 
erant  digni,  Et  tamen  illa  Macedonum  praesidens  Dulcicium  tribunum 
praeter  alios  ñeque  capite  pleclent  admonet.  Unde  liquet  quantum  san- 
clissimi  viri  animus  ab  hac  confiscationum,  carcerum,  suppliciorum,  in- 
cendiorum  saevilia  abhorruerit.  Haecautem  omnia  non  alio  tendunt,  quam 
ut  intelligant  isti  lusitanorum  ecclesiae  gubernatores  quanta  cura  atque 
diligentia  eos  instruere,  monere  et  tollerare  debuissent,  quos  sic  perlra- 
xerant ;  quanquam  (al.  quamque)  impium  ac  Chrisli  contrarium  sit  eos 
tam  severa  inquisilione  prosequi,  quos  nolentes  ac  reluctantes  vi  ac  metu 
in  noslrum  gregem  intrare  coegerunt,  cum  videant  quid  hac  in  re  fecerit 
ac  docuerit  Christus,  quid  Petrus,  quid  Paulus,  quid  caeleri  Aposloli, 
quid  Sacri  Doctores,  et  tándem  quid  Sacrosancta  observaverit  Ecclesia. 

Quamquam  autem  horum  in  hanc  miseram  genlem  instruendam  se- 
gnitiem,  inque  eam  persequendam,  perdendam,  ac  interficiendam  fero- 
ciam,  atque  perniciem  Sanctitas  Sua  animadvertat :  illud  satis  mirari  ne- 
quet  istorum  ánimos  a  Deo,  non  dico  a  Christo,  cum  quo,  ut  supra  sa- 
tis ostensum  est,  non  magis  convenire  videntur  quam  cum  luce  tenebrae, 
sed  ab  omni  humunilate  esse  alíenos,  ut  eis  tantopere  displiceat  quod  pro- 
ximorum  suorum  misereatur  Ule,  qui  solus  in  terris  potest,  a  quo  ipsi 
assiduis  praecationibus  eandem  misericordiam  impetrare  debuissent,  nisi 
prorsus  humanitatem  exuissent. 

Jam  vero  quoad  Inquisitionis  bullam  per  Suam  Sanctitaíem  conces- 
sam  attinet,  quamquam  poterat  responden  Ideo  fuisse  donatam  ut  quan- 
tum christianae  charitatis  ac  mansuetudinis  in  istis  essel  probaretur,  ma- 
vult  autem  Sua  Sanctitas  id  quod  res  est  ingenue  faleri  sinistra  isti  re- 

1  Gal.  6.° 

2  August. 


56  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

latione  eum  ad  id  eis  concedendum  adduxisse,  qui  Suam  Sanclitalcm  ea 
persuaserunt,  quae  sciens  praeteriri  jubet,  ne  isti  apud  suos  ¡nvidia  gra- 
ventur,  el  apud  caeleros  chrisüanos  infidelilalis  nota  diíFamentur,  cum  in- 
tellexerint  quid  confixerint  ut  miseram  gentem  perderent :  nam  fere  om- 
nia  mullo  aliter  se  habere  Sanclilas  Sua  postea  intellexit,  Idque  mul- 
torum  relalione,  qui  id  lum  litteris  tum  verbis  Suae  Sanctilati  significa- 
runt,  illud  (proh  dolor!)  attendenles  tanta  saevilia  istos  in  hanc  mi- 
seram gentem  ínvectos  esse  ut  vix  crudelem  immunitatem  miseri  homi- 
nes  ferré  possenl.  Quae  autem  Suae  Sanctilali,  quídam  zelo  Dei  molus, 
litteris  significavit  hic  adjungam  :  miserum,  inquit,  hominem,  per  quem 
mortuus  est  Chrislus,  falsis  nominumque  (sic)  testimoniis  accusatum 
isti  inquisilores  in  carcerem  pretrahunt,  ubi  ñeque  coelum  ñeque  ler- 
ram  videre,  ñeque  cum  suis  ut  sibi  provideant  communicare  licet;  tune 
oceultis  testimoniis  aecusatur;  ñeque  Iocum  ñeque  tempus  ubi  illa  de  qui- 
bus  aecusatur  fecerit  miserum  scire  permittunt,  tanlum  divinandi  facul- 
talem  ei  concedunt,  hac  lege  ut,  si  divinando  in  delatorem  inciderit,  ab 
illius  testimoniis  sit  liber :  Itaque  magis  misero  sortilegam  artem,  quam 
Chrisli  legem  scire  prodest.  Postea  ad  inquisitorum  arbitrium  advocatus 
misero  datur,  qui,  ul  saepissime  fit,  quem  defendendum  suscipiunt  morti 
tradunl.  Quod,  si  se  verum  chrislianum  fatetur,  et  quae  objiciuntur  nul- 
lius  reí  sibi  cohscius  constanter  negat,  igni  traditur  bonisque  privatur 
suis ;  Si  vero  se  illa  fecisse,  sed  non  iniquo  animo,  dicit,  ad  eundem  mo- 
dum  tractalur,  intentionem  eum  negare  dicentes.  Quod,  si  ingenuo  quae 
sibi  objiciuntur  confitetur,  vitam  concedenles  ad  miserrimam  pauperta- 
tem,  perpeluumque  carcerem  miserum  damnant,  cum  quo  tamen  miseri- 
cordia se  usos  dicunt.  Quod,  si  quis  se  ab  istorum  aecusatione  optime 
defendit,  aliqua  saltem  pecunia,  ne  videantur  quamquam  sine  causa  in  vin- 
culis  conjecisse,  mulctalur,  ut  interim  ommittatur  quod  prius  ómnibus 
lormentorum  generibus  homines  ad  ea  quae  eis  objiciuntur  fatenda  cogun- 
tur,  Adeo  ut  multi  vitam  in  vinculis  amisisse  compertum  sit :  omitió  eliam 
quod  qui  sic  in  carcerem  intruduntur,  eliam  si  liberi  exeant,  perpetua 
infamia  et  ipsi  et  sui  omnes  notantur.  Tándem  sic  isti  sua  abutunlur  au- 
ctoritale  ut  non  Christi  sed  Sathanae  Ministros  esse  facile,  qui  vel  aliquam 
Chrisli  spiritus  scintillam  habuerit  cognoscere  polerit :  haec  ille. 

De  quibus  ómnibus  cum  certis  el  indubilalis  testimoniis  Sua  Sancli- 
tas  cerlior  esset  facta,  memor  sibi  datam  potcslatem  ad  aedificationcm, 


RELAMES  COM  A  CURIA  ROMANA  57 

ul  ait  Aposlolus1,  non  autem  ad  destructionem,  cupiens  quod  ab  islis 
dum  hanc  miseram  gentem  sic  vi  ac  raetu  ad  nostram  religionem  tradunt 
tiactantque,  non  tamquam  paslores  pascunt2  sed  velut  mercenarii  prae- 
dones  deserunt,  peccatum  est  sua  liberalitate  ac  providenlia  reserare,  In- 
quisiüonis  bullam  istis  concessam  revocavit.  Guroque  ñeque  id  satis  esse 
putaret,  ut,  quos  minime  maturo  consilio  saevitia  laeserat,  provida  mise- 
ricordia consolaretur,  alteram  remissionis  bullam  concessit,  Qua  illis  óm- 
nibus, qui  coram  Suae  Sanclitalis  nuntio,  viro  doctrina  ac  probitate  prae- 
dito,  errores  suos  confiterentur,  veniam  tribuit ;  Idque  tam  veteribus 
christianis,  quam  iis  qui,  ut  dictum  est,  noviter  ad  fidem  erant  conversi  : 
utque  ejus  misericordia  magis  ac  magis  sentiretur,  jussit  ut  qui  in  car- 
ceribus  reperirentur  tantum  sub  illa  confessionis  conditione  liberi  remit- 
terentur ;  eis  vero,  qui  damnati  fuissent,  si  se  id  injuste  passos  arbitra- 
rentur,  ad  eundem  Suae  Sanclitalis  nuntium  adire  concessit,  qui,  eorum 
causas  cognitas,  quem  inique  damnatum  reperiret  in  integrum  restituí  ju- 
beret.  Nec  quicquam  Suae  Sanctitatis  animum  movit,  quominus  hac  ute- 
retur  misericordia,  quod  tune  ei  dicebatur  per  iniquum  videri  Id  lusi- 
tanorum  ecclesiae  quasi  impium  per  Suam  Sanctilatem  negari,  quod  prae- 
decessores  sui  certis  Hispaniae  regnis  quasi  pium  concesserint,  illud  san- 
ctissime  cogitans  non  tam  eum  animadversurum  quid  Innocentius  aut  Ale- 
xander  sui  praedecessores  fortassis  immaturato  consitio  fecerint,  quam 
quod  Ghristus,  quid  Apostoli  Christi  spirilu  ducti  verbis  ac  factis  docue- 
runt,  praesertim  cum  ipse,  non  Innocentii  aut  Alexandri  alteriusue  Pon- 
tificis  sil  vicarius,  sed  illius  cui,  quemadmodum  sacrosancla  canit  eccle- 
sia,  proprium  est  misereri  semper  et  parcere. 

Caeterum  quamquam  qui  (al.  quae)  serenissimus  lusitanorum  rex, 
imo  qui  apud  ipsum  sunt  Ecclesiae  Gubernatores,  qui  sui  Regis  ad  id  au- 
ctoritate  abutuntur,  adversus  illam  Suae  Sanctitatis  misericordiam  obji- 
ciunt  invalidiora  sunt  quam  ut  essent  refellenda ;  vult  tamen  Sua  San- 
ctitás  ut  ad  praecipua  respondeatur,  quo  et  istorum  inhumanitas  et  sua 
misericordia  magis  perspicue  ab  ómnibus  cognoscatur. 

In  ipso  statim  expostulationis  lumine  impingunt,  afirmantes  eum  sa- 
tis longum  temporis  spatium  ab  omni  etiam  Inquisitionis  melu  vacuum  ho- 

1  Corinth.  13. 

2  Jo.  10. 

TOMO  III.  8 


58  COKPÜ  DIPLOMÁTICO  POilTUGUEZ 

rainibus  istis  esse  relíclum ,  quo  instruí  et  in  íide  confirman  poterant, 
nisi  ipsi  el  temporis  opportunitate  et  Regís  benignitate  abulí  maluissent, 
nobis  dubítandi  occasionem  praebent,  quo  anno  hanc  gentem  ad  fidem 
coegerunt,  et  quo  consilio  sic  coactara  ab  Inquisitíonis  metu  per  illud  tem- 
pus  liberarunt,  suspicantes,  nam  hanc  gentem  sic  isti  tractare  voluerint, 
quemadmodum  lile,  qui  caecorum  hominum  catervam  in  via  illis  penitus 
ignota,  salebrisque  ac  voraginibus  intercepta,  inducit,  eamque  ut  sine  ali- 
quoduce  currat  hortalur,  ac  per  aliquod  tempus  standi  vel  ambulandi  li- 
beram  relinquit  potestalem  ;  et  transacto  lempore  flagello  a  tergo  instat  ut 
currat,  illud  (al.  illam?)  interim  captans  ut  quando  cecideril  aut  certe 
impigerit  statim  plagis  punilalemque  (al.  puniat  atque?)  supellectile  pri- 
uet.  Nam  quid  aliud,  obsecro,  est  gentem,  quae  religionem  aliquam  si- 
mul  cum  lacte  imbiberit,  judaicam  praesertim  máxime  omnium  religio- 
nis  suae  tenacem,  ad  Evangelicam  veritatem,  quae  absque  spirilu  vivifi- 
cante l  factis  ad  unguem  exprimí  haudquaquam  polest  invitara  traherc, 
Iractamque  absque  doctore  ac  instructore  relinquere,  eamque  ne  sibi  con- 
sulat  ab  Inquisitíonis  metu  per  aliquod  tempus  liberare,  et  transado  tem- 
pore  in  eam  quodlabatur,  quod  impingat,  gladio  Inquisitíonis  serviré  (al. 
saevire)  quam  eandem  fundítus  perderé  ac  delere  cupere,  deque  ejus  san- 
guine  saginari?  Quod  si,  quemadmodum  dictum  est,  isti  ut  veri  pastores 
sui  gregis  curam  habuissent,  eumque  assiduis  exhortationibus  fidem  do- 
cuissent,  doctumque,  ut  in  ea  quae  desiderat  persisteret  oííiciis  provocas- 
sent,  Et  nunc  adversus  eos,  qui  in  ea  qua  professi  atque  edocti  erant  fide 
permanere  renuerant,  gladium  Inquisitíonis  postularent  laudandi  ulrique 
essent :  nuncaulem,  cum  omniahaec  ut  compertum  est  neglexerint,  quis 
eliam  veré  finís  non  zelo  Chrisli  sed  mundi  adversus  hanc  miseram  gen- 
tem istos  moveri  suspicabitur? 

Quod  autem  valde  inconveniens  ac  divinae  eliam  legi  contrarium 
istis  videtur  sub  sacramentalis  confessionis  formara  miseris  venia  fuisse 
concessa,  causantes  sacramenlura  inter  eos,  qui  deecclesia  non  sunt,  nul- 
lum  esse  posse,  frivolum  quia  valde  inconvenientem,  tcmerarium  quia  di- 
vinae legi  contrarium  id  dicere  audent,  quod  minime  ut  ipsorum  osten- 
dunt  probationes  intelligunt.  Cum  enim  Sua  Sanclilas  nihil  aliud,  ut  par 
est  credere,  habuissel  in  animo,  quam  de  sublato  omní  suppliciorum  et 

1  Jo.  15  {al.  1  Corinth.  XV?). 


KELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  5*9 

infamiae  melu  aditum  illis,  qui  deliquissent,  patefecit,  quo  secure  erro- 
res suos  ejus  nuntio  aperirc  potuissent,  nisi  ut  ipsa  cognitis  singulorum 
causis,  alios  ad  eam,  quam  semel  susceperant,  professionem  relinendam 
cogeret,  alios  ad  novum  regenerationis  lavacrum  admilteret,  nec  incon- 
veniens  id,  ñeque  divinae  legi  conlrarium  judicari  potesl;  sed  convenien- 
üssimum  ac  divinae  legi  consentaneum  aequus  ac  pius  quisque  judicabit. 

Haec  credendum  est  inler  istos  futuri  qui  Sanclitatis  Suae  miseri- 
cordia abutentes  pietatem  metiantur,  christiana  euin  (al.  enim)  charitas  ni- 
hil  sinislrum  dequoquam  judicat,  quod  si  máxime  sint  non  ideo  Sua  San- 
clitas  malorum  causa  bonis  iniquus  esse  debet,  sed  ipsum  Deum  imilari 
«qui  solem  suum  oriri  facit  super  bonos  et  malos:  et  pluit  super  juslos 
el  injustos»1,  et  quidem  Christus,  non  ideo  a  Sanctissimi  Corporis  sui 
communione  apostólos  privavit  quod  inler  eos  esset  Judas,  qui  paulo  post 
erat  eum  traditurus2. 

Ulterius  objiciunl  a  christiana  disciplina  valde  alienum  esse  huic  genti 
sub  sola  sacramenlalis  confessionis  conditione  veniam  concederé,  suspican- 
lesfuturum  ut  ii  numquam  id  genus  peccata  propria  confiteantur  sacerdo- 
te Quod  non  sit  alienum  a  christiana  disciplina  veniam  sub  quacumque 
forma,  nedum  sub  confessionis  cenditione,  delinquenlibus  concederé  pro- 
balione  non  indiget.  Quod  autem  valde  sit  consentaneum  perea,  quae  su- 
perius  dicta  sunt,  abunde  credo  esse  probatum  :  quod  vero  ad  istorum 
suspicionem  audiant  Paulum  :  «charitas,  inqnit3,  patiens  est,  benigna 
esl:  non  aemulalur,  non  agit  perperam,  non  inflatur,  non  est  ambitiosa, 
non  quaerit  quae  sua  sunt,  non  irritalur,  non  cogitat  malum».  Audiant 
isti,  «non  cogitat  malum».  Si  enim  charitas  in  eis  esset,  non  utique  de 
hac  misera  gente  male  cogitarent.  In  eo  autem  quo  pelunt  ut  miseri  no- 
mines occulta  peccata  cerlo  inquisitori,  duobus  adhibitis  testibus  et  no- 
tario, confiten  cogantur,  quorsum  tendant  non  assequimur ;  namque  cau- 
santur  magis  ad  perdendos  quam  ad  salvandos  nomines  esse  videntur. 
Si  enim  occulta  sunt  peccata,  cur  petunt  ut  ii  ea  coram  inquisilore  duo- 
bus testibus  et  notario  confiteantur?  nonne  ea  soli  sacerdoli  confiten  sat 


1  Matth.  5. 

2  Matth.  26. 

3  1.a  Corint.  13. 

8* 


60  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGUEZ 

est?  «confitemini,  inquit1,  allerutrum  peccata  veslra. »  Si  publica,  quid 
opus  est  notario?  Ulterius,  aut  isti  confitentur  ex  animo,  aut  fíete.  Si  ex 
animo,  Deus  non  indiget  testimonio  notarii.  Si  fíele  cursus  (al.  rursus) 
interrogo  :  aut  eos  sanare  aut  lemporali  poena  mulctare  cupiunt ;  hoc  est, 
aut  spirilualia  quaerunt,  aut  temporalia.  Si  spiritualia,  quid  opus  est  no- 
tario? Sed,  dicunt,  ut  sciant  sibi  imminere  supplicium  si  probabuntur. 
Al  Christus  mullo  aliter  Petrum  instruxit  «etiam,  inquit2,  si  septuagies 
septies  peccaverit  ignosce  illi».  Si  vero  temporalia  querunl,  cur  sacra  pro- 
phanis  miscere  tentant?  Cur  religionis  praetextu,  religionem  laedunt?  Ca- 
veant,  obsecro,  ne  sibi  dici  possit  illud  apostoli 3  «nomen  Dei  propler 
vos  blasphematur  inter  gentes 4»,  quod  si  chrislus  priusquam  quis  alte- 
rius  errorem  ecclesiae  manifeslet,  semel  atque  iterum  eum  sui  erroris 
admonitum  vult,  videant  isti  quam  sint  a  Christo  alieni,  ut  quis  errorem 
suum  5  de  quo  eum  poenitet  coram  inquisitore,  notario  et  teslibus  confi- 
ten cogalur, ....  tempore  cupiunt. 

Ut  autem  Sua  Sanctitas  hanc  quam  petunt  confessionis  formam  non 
concedat,  faciunt  multa,  illud  in  primis  quod  numquam  prorsus  ac  con- 
tra Chrisli  doctrinam  esse  videatur,  deinde  quod  hac  condilione  eum  pus 
hominibus,  qui  inter  hos  esse  reperiuntur,  male  ageretur  quiquam  nun- 
quam  fecerant  fateri  cogerentur,  sive  ne  participes  esse  voluissent. 

Praeterea  quae  de  illorum  liberatione  constituía  sunt,  qui  in  vincu- 
lis  esse  reperientur,  si  diligentius  isti  perpendissent  certa  nulla  ralione 
repraehendenda  esse  cognovissent :  aut  eum  (al.  enim)  qui  in  vinculis 
crant  peccaverunt,  aut  non  ....  peccaverant  profeclo  chrislianae  man- 
sueludinis  graliam  sensissent,  et  ad  diligendum  quod  antea  fortassis  odie- 
bant  provocali  deinceps  veré  ex  animo  nostram  religionem  amplectentur. 
Si  non  peccaverant,  quid  equius  quam  insontes  ab  ea,  quam  non  mere- 
bantur,  poena  liberare  ? 

Quae  autem  de  bonorum  restitutione  dicunt,  magis  nos  movent  ut 
in  suspicionem  veniamus :  non  isti  in  hoc  negotio  «quae  sua  ipsorum 


1  Jacob.  5.> 

2  Mat.  18. 

3  Román,  2. 

4  Esa.  52. 

5  Ezech.  36  {sic). 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  61 

sunt,  quaerant,  non  quae  Jesu  Christi l»  illud  certe  satis  mirari  nequimus, 
quod  illa  ista  sibi  adimi  quaerantur,  quae  nulla  alia  ralione  possidenl, 
nisi  quia  sic  ipse,  qui  nunc  voluit  animadversione  quidem  dignum  vide- 
tur,  quod  de  finitimis  regionibus  causantur  Cum  enim  suam  mundanam 
gloriara  2  Christi  gloriae  anteponere  videntur  non  ne  carnales  esse,  ac  se- 
cundum  camera  ambulare  credentur.  Nam,  per  Deum  immorlalem,  tanli 
ea  quae  causantur  istis  videntur,  quorum  causa  Christi  vicarius  oblilus 
sui  ipsius  in  eos  crudeliíer  eis  saevire  permitlat,  pro  quibus  morluus  est 
Christus,  quosque  instruí,  admonere,  ac  favere  opporterel. 

Illud  porro  istis  iniquura  videri  miramur  quod  Sua  Sanctitas  con- 
demnatis,  si  injusle  se  damnatos  arbitrantur,  ad  nuntium  suum  adire  pcr- 
mittat,  ut,  si  quid  immerito  passi  sunt,  in  integrum  restituí  facial.  Nam 
quod  de  judicium  infamia  opponunt  omnino  non  est  admittendum.  Si  enim 
judices,  ut  par  est,  rede  ac  juste  judicant,  cur  liment  judicii  examen? 
Si  injusle,  cur  polius  volare  {al.  vocare)  debemus  judicium,  quam  reo- 
rum  infamiam,  praesertim  cum  hic  sibi  ac  suis  immerito  facultates  et  ho- 
norera,  illi  autem  mérito  lantum  mundanam,  nescio  quam,  aeslimatio- 
nem  admittant. 

Quod  autem  valde  inconveniens  istis  videtur  quod  veteribus  eliam 
chrislianis  haec  venia  concessa  fuerit,  nos  convenientissimum  judicamus, 
cura  quia,  si  aliter  factum  fuisset,  miseram  istam  gentem  iniquo  odio  Sua 
Sanclitas  gravasset,  Tum  quia  veteres  aliqui  christiani  de  parca  liberali- 
tate  jure  quaeri  poterant,  si  qui  ad  undecimam  horam  venerant  potiores 
essent  conditionis,  quam  hii  qui  portarunl  tolum  pondus  diei  et  aestus3. 
Nec  est  rursus  cur  id  ad  veterum  chrislianorum  infamiam  pertinere  ar- 
bitrentur,  cum  non  modo  Sua  Sanctitas  reorura  poenas  remiserit,  qui  ju- 
daicas superslitiones  observassent,  sed  aliorum  etiam  deliclorum  spirilua- 
lera  poenam  ómnibus  condonare  volueril,  a  quibus,  non  omnes  immunes 
esse  credi  potest,  vel  testimonio  Joannis  4  «  si  dixerimus  quod  peccata  non 
habeamus  nos  ipsos  fallimus  et  veritas  in  nobis  non  est».  Quod  si  má- 
xime contcndant  peccata,  de  quibus  hic  loquitur  Apostolus,  non  esse  hu- 


1  Philippen.  2. 

2  1  Corint.  13  (sic). 

3  Matth.  20. 

4  1.a  Joan.  1.° 


62  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

jus  generis  cujus  videri  polerunt,  quae  Summus  Pontifex  condonat,  haoc 
ad  fidem,  Illa  autem  ad  charitatem  pertinere  causantes,  Illud  dicam  :  cur 
adeo  magis  indecorum  istis  videtur  in  suspicionem  peccati  aduersus  fidem 
quam  adversus  charitatem  venire?  Nam  quia  potior  est  habenda  ratio  íi- 
dei  quam  charitas.  At  Paulus  aliter  senlit.  Siquidem  ille  nunc  autem 
manent  spes,  fides,  charitas  tua  haec,  maior  autem  horum  est  charitas, 
sed  dicam  ingenue  quod  sentio  sine  noxa  sit  mihi  verum  dicere.  Ideo  ab 
istis  haec  infamia  timelur,  Illa  autem  negligilur,  quia  inimicuschristianae 
charitalis  Sathana,  quo  chrislianos  ab  operibus  charitatis  averteret,  cali- 
dilate  sua  hanc  in  cordibus  multorum  zizaniam  immiscuit,  et  (al.  ut?) 
adversus  fidem,  quoniam  simulari  potest,  contumeliosum,  adversus  au- 
tem charitatem,  quae  simulare  minime  potest,  honorificum  peccare  exis- 
timen*. Et  quemadmodum  in  ecclesiae  nascentis  primordiis  Christum  pro- 
fiteri  infame,  pie  autem  vivera  honorificum,  mundus  judicabat ;  Ita  nunc, 
versa  vice,  Christum  ore  proíiteri,  et  honorificum  praestare,  aut  (?)  factis 
quam  verbis  profitemur,  ignominiosum  ac  pene  infame  a  multis  judica- 
tur.  Quicumque  sic  eífecti  sunt  nonne  carnales  esse,  et  secundum  homi- 
nem  ambulare  mérito  judicabunlur.  Audistis,  lusitani  pastores,  quomodo 
Christus  homines  ad  se  adduxerit l  nerape  verbo,  vocatione,  mansuetu- 
dine,  humilitale,  ac  denique  ofücii  charitatis.  Audistis  episcopum,  secun- 
dum Paulum2,  aptum  ad  ducendum  esse  deberé,  a  quo  etiam  didicistis  3 
quomodo  genlem  vestram  docere,  admonere,  ac  fovere,  non  autem  de- 
serere  ac  desertam  odio  persequi,  immunitateque  delere  cupere,  Cum  hoc 
impium,  illud  autem  plurn  ac  secundum  religionem  sic  debeatis.  Audis- 
tis4 quam  longe  aChrislo  sitis  alieni  cum  adversus  Patrem  familias,  quod 
debita  liberalitate  prosequatur  suos  murmuralis.  Auditis  quomodo,  ves- 
tris  persuasionibus  deceptus,  Sanctissimus  Dominus  nosler  bullam  Inqui- 
sitionis  adversus  miseram  vestram  gentem  vobis  concesserit,  Et  qualiler 
vestris  plusquam  tyrannicis  immanilatibus  provocalus  concessam  revoca- 
verit,  alteramque,  de  qua  agilur,  remissionis  illorum  misertus  dederit. 
Vidistis  denique  quam  sint  vana,  frivola  ac  nullius  etiam  momenti,  quae 


1 1  Cor.  3.° 

2  1  Timot.  3.° 

3  Timot.  1.° 

1  Matth.  20. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  63 

adversus  Suae  Sanclilatis  misericordiam  objicialis.  Nunc,  per  Deum  im- 
morlalem  x,  perqué  advenlura  filii  ejus,  in  carnem  vos  obsecramur  atque 
hortamur  ut  ferilate  alque  inhumanilale  exuti,  relictisque  concupiscen- 
tiis  2,  quae  mililant  adversus  spirilum,  Dominum  Nostrum  Jesum  Chris- 
lum  induamini,  ut  post  hac  quid  vobis  faciendum  et  quid  \itandum  sít 
discatis,  Utcum  exula  immorlalitate3  deserfasque  domos  veslras  terrenas, 
coram  aeterno  illo  judice  animarum  constiluli  fueritis,  unicuique  \es- 
trum  dicat  Ule  «euge,  serve  bone  et  fidelis,  quia  super  pauca  fuisti  fi- 
delis,  supra  fsicj  mulla  te  constituam.  Intra  in  gaudium  DominiTui4»  5. 


Bulla  do  Papa  Clemente  %TI.  dirigida  a  el-Rei. 


1534  —  Marco  4. 


Glemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio  Jo- 
hanni  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi  illustri  Salulem  et  apostolicam  be- 
nedictionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconium  acquirilur,  si 
per  seculares  Principes  ecclesiarum  prelalis,  presertim  pontificali  digni- 
tate  prediíis,  opportuni  fauoris  presidium  et  honor  debilus  impendatur. 
Hodie  siquidem  ecclesie  Septensi,  tune  per  obitum  bone  memorie  Henrici 
olim  Episcopus  Septensis,  extra  Romanam  Curiam  defuncti,  pastoris  so- 
lado destitute,  de  persona  dilecti  filii  Didaci,  Electi  Septensis,  nobis  et  fra- 
tribus  nostris  ob  suorum  exigentiam  meritorum  accepta,  de  fralrum  nos- 
trorum  consilio,  apostólica  auctoritate  prouidimus,  ipsumque  illi  in  Epis- 
copum  prefecimus  et  pastorem,  curam  et  administrationem  ipsius  ecclesie 
sibi  in  spiritualibus  et  temporalibus  plenarie  commitlendo,  prout  in  nos- 
tris  inde  confectis  litteris  plenius  continetur.  Cum  itaque,  fili  Glarissime, 

1  1.°  Petr.  2.a 
2Ro.  13. 

3  1.°  Corin.  6. 

4  Matth.  25. 

5  Copia  na  Bibliotheca  d'Ajuda,  Simmicta,  Vol.  31,  fol.  426.  Documento  n.°17 
junto  ao  Memorial  dos  Christaos  novos. 


6Í  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sit  virlutis  opus  dei  ministros  benigno  fauore  prosequi,  ac  eos  verbis  et 
operibns  pro  Regís  eterni  gloria  veneran,  Maiestatem  tuam  regiam  roga- 
mus  et  hortamur  atiente  quatenus  eundem  Didacum  Electum,  et  eccle- 
siam  prediclam  sue  cure  commissam,  habens  pro  nostra  et  dicte  sedis  re- 
uerentia  commendatos,  in  ampliandis  et  conseruandis  iuribus  suis  sic  eos 
benigni  fauoris  auxilio  prosequaris,  quod  ipse  Didacus  Electus  tue  Celsi- 
tudinis  fultus  presidio  in  commisso  sibi  cure  pasloralis  oííicio  possit  deo 
propicio  prosperan,  ac  tibi  exinde  a  deo  perennis  vite  premium  et  a  no- 
bis  condigna  proueniat  adió  gratiarum. 

Datum  Rome,  apud  Sanclum  petrum,  Anno  Incarnationis  dominico 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  tertio,  Quarlo  Nonas  Martii,  Pontifl- 
catus  noslri  Anno  Vndecimo  l. 


Breve  do  Papa  Clemente  "Vil,  dirigido  a  el-Ilei. 

1534  —  Abril  ». 


Clemens  Papa  Vil  Gharissime  in  Christo  fili  noster  salutem  et  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Venit  ad  nos  cum  luae  Majestatis  lilteris  et  mandatis  dilectus  filius 
Henricus  de  Menezes,  Nuntius  luus,  quem  superioribus  mensibus  tua  Ma- 
jeslas  se  missuram  nobis  scripserat,  et  cuius  expectatione  nos,  ad  tuae 
Majestatis  instantiam,  publicationem  litterarum  nostrarum  nouis  tui  Re- 
gni  christianis  iampridem  concessarum  libenter  suspendimus  2.  Isque,  vna 
cum  venerabili  fratre  Martino  a  Portugallia,  Archiepiscopo  Funchalensi, 
propinquo  et  oratore  apud  nos  tuo,  reddilis  nobis  luis  lilteris  et  leclis 
mandatis,  eadem  ipse  prudenti  et  graui  sermone  subsecutus  est,  eaque 
postea  nobiscum  egit  saepius,  Ita  ut  fidei  erga  te  singularis  ac  pruden- 
tiae  et  ingenii  specimen  nobis  in  agendo  ostenderit.  Quibus  lectis  et  au- 
ditis,  ac  per  nos  diligenter  et  mature  consideratis,  vt  non  solum  nostro, 


1  Abch.  Nac.  Ma$.  17  de  Bullas,  n.°  24. 

2  Refere-se  ao  breve  :  Licct  superioribus,  de  18  de  Dezcmbro  de  1533,  que  nao  po- 
demos encontrar. 


/•*.rv 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  65 

vcrum  cliam  aliorum  judicio  in  hoc  nitercmur,  ordinauimus  vi  hace  no- 
uorum  chrislianorura  causa,  quod  ad  justitiam  pertineret,  inter  ceteros 
jurisperitos  nostros,  quorum  doctrina  et  fide  maximis  in  rebus  uti  sole- 
mus,  etiam  per  unum  primo  et  deinde  aiterum  Sanctae  Romanae  Eccle- 
siae  Cardinales,  ambos  scorsum  \iros  diuini  et  humani  juris  consullissi- 
mos  et  signaturae  noslrae  praefectos,  cognosceretur  nobisque  referretur, 
vt  deinde  tuae  Majcstati  certius  et  deliberalius  responderé,  ac  uel  tuas  ra- 
tiones  ipsi  admittere,  ut  cupiebamus,  si  admitlendae  uisae  fuissent,  uel 
te  noslris  rationibus  ac  litleris  cum  bona  tua,  quod  máxime  cupimus,  vo- 
lúntate acfjuiesceníem  reddere  possemus.  Qui  quidem  Cardinales,  singu- 
lis  animaduersis  et  luis  Oratoribus  saepius  auditis,  quid  tándem  ad  obie- 
cta  et  postúlala  tuae  Maiestatis  responderinl,  arbitramur  screnitatem  tuam 
iam  ex  lilteris  ipsorum  oratorum  suorum  abunde  cognoscere  potuisse. 
Sed,  etsi  ea  illis  -seribentibus  tuae  Maiestati  iam  sunl  cognila,  vi  credi- 
mus,  altamen  nos  quoque,  sludio  amoris  in  le  nostri  tuique  erga  nos  mu- 
tui  conseruandi,  eadem  ipsi  tecum  amanter  agemus,  et  nostri  facti  ratio- 
nem,  quam  alioqui  reddere  nemini  in  hoc  tenemur,  amore  lamen  addu- 
cti  tibi  reddemus,  vt  quae  tua  est  justitia  ac  religio  singularis  haec  re-* 
putans  probes  et  probata  recipias,  ac  proinde  eisdem  sis  animo  et  erga  nos 
pietate,  quibus  et  tu  hactenus  fuisti,  et  tui  maiores  erga  nostros  praede- 
cessores  semper  fuerunt,  quod  et  futurum  tua  freti  probilate  certo  confi- 
dimus .  .  .  primum  ad  illud  ueniemus  quo  te  non  parum  commotum  fuisse 
uidemus,  quod  videlicet  non  ipsis  nouis  christianis  ueniam  illam  ante  dan- 
dam  decreuerimus,  quam  tuae  Maiestati  quicquam  super  hoc  significare- 
mus  quod  fuisse  prius  faciendum,  lum  quod  Serenilas  tua  magnam  hanc 
in  Regnis  suis  nouitatem  fuisse  exislimat,  tum  quod  eorum,  quae  in  fado 
circa  haec  contigerunt,  quaeque  ad  huiusmodi  concessionem  necessaria 
erant,  a  nemine  maior  cercitudo  quam  a  tua  Serenitale  haberi  potuerit. 
Quae  nos  quidem  grauiter  admodum  et  iniquo  animo  ferremus,  si  ex  fa- 
cto  nostro  in  tuis  Regnis  nouitatem  ullam  induxissemus,  uel  si  ratio  tuae 
Yolunlalis,  siquam  in  hoc  habere  debuissemus,  per  nos  habita  non  fuisset, 
Quandoquidem  omni  tuae  Maiestatis  ulilitali,  honori,  tuorumque  Regno- 
rum  tranquillilati  et  paci,  semper  consulere  cupimus,  perinde  ac  pasto- 
ralis  officii  munus  et  nostra  erga  le  beniuolenlia  postulat.  Nos  uero,  fili 
charissime,  non  uidemus  lanli  momenti  hanc  nouitatem  fuisse,  si  nouitas 
est  erralorum  quae  ad  nos  pertinent  ueniam  tuis  populis  dedisse,  ut  me- 

TOMO  III.  9 


GG  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

luondum  cssct  ne  aliquam  in  Regnis  suis  perturbalioncm  esset  excitalura, 
quod  fcrc  nouitatcs  omncs  faceré  consueuerunt.  Nam,  si  hanc  gentcm, 
quae,  ul  accepimus,  non  contemnenda  est  tuorum  Regnorum  portio,  te 
inconsulto  criminum  suorum  inquisilione  ucxari  a  nobis  fuisset  manda* 
lum,  potuisset  forsitan  noui  aliquid  hinc  temeri :  si  ilem  exaduerso  nobis 
in  animum  uenisset  eandem  ab  inquisitionis  metu  perpetuo  liberare,  pa- 
riter  limeri  potuisset  ne  reliquia  populis  ingentis  scandali  occasio  a  nobis 
praestita  fuisset.  Sed  quid  fecimus?  huic  miserae  genli  prouidimus  ne, 
quod  interdum  sine  Regia  volúntate  a  ministris  fieri  solet,  importuna  ipso- 
rum  ministrorum  animaduersione  acerbius  uexarentur  quam  par  esset, 
praelerilorum  tantummodo  erratorum  Inquisitionem  remisimus,  non  etiam 
eorum  quae  in  posterum  committerentur  impunitatem  illis  polliciti  fuimus. 
Quis  est  ilaque,  qui  hoc  dicere  audeat  quod  aliquod  in  anirais  fidelium 
scandalum,  aliquamue  in  Regnis  tuis  perturbalioncm  parere  poluerit  haec 
nouitas,  cuius  causa  fuerit  omnino  tua  Maiestas  consulenda?  nonne  eius 
in  hoc  praecepta  seruauimus,  qui  nos  ut  ea  seruarentur  ecclesiae  suae 
praeesse  voluit?  nonne  ciusdem  exempla  in  parcendo  et  praeserlim  nouis 
filiis  indulgendo  imitati  fuimus,  qui  suas  in  terris  vices  nobis  commitlere 
dignalus  est?  Quid  si  etiam  tuam  et  lui  genitoris  voluntalem  in  hoc  se- 
cuti  sumus  !  Seis  enim,  fiü,  le  et  clarae  memoriae  genitorem  luum  huic 
genti  ueniam  erratorum  suorum,  quae  per  vndetriginta  annos  admisissent, 
fuisse  pollicitos.  Quod  si  est  quomodo  nouitalem  ex  ea  re  oriri  posse  pu- 
taremus,  quam  a  te  et  tuo  genitore  promissam  fuisse  cognouissemus? 
Nos  enim,  etsi  tolum  hoc  Juris  nostri  erat,  tamen  quod  a  vobis  promis- 
sum  fuerat  impleuimus,  aliquot  lanlum  annorum  numero  adieclo.  Non 
igilur  ulla  in  hoc  admissa  est  nouitas,  si  ea  quae  a  vobis  cum  hac  gente 
conuenta  fuerant  Jíelut  confirmauimus,  et  paulo  largius  etiam  vestram  vo- 
luntatem  impleri  mandauimus,  quam  in  nostra  erat  polestale  rescindere 
et  ratam  non  habere.  Nam  qui  sensus  Serenilati  tuae  fuisset  si  in  quo 
ipsi  paulo  uberius  mansueludinem  vestram  probauimus  in  eo  inferiores 
csse  voluissemus,  el  ab  eo  lempore,  quo  isti  fuerunt  baptizati,  eorum  cri- 
mina inquirí  et  uindicari  slatuissemus,  certe  quae  tuae  Maiestatis  bonitas 
et  in  suos  indulgentia  est  credimus  quod  illa  uehementer  laborasset  et  is- 
lorum  causam  suscepisset  ne  tam  dure  cum  ipsis  ageremus,  neue  glo- 
riosi  parentis  sui  placita  summa  ralione  cum convenía  repudiare- 
mus,  maximamque  hanc  in  Regnis  suis  nouitatcm  fore  nobis  téstala  fuis- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  67 

set,  eamque  non  minus  ad  christianae  religionis  perniciem  quam  ad  ho- 
noris  sui  et  clarae  memoriae  parentis  su¡  iniuriam  esse  peruenturam.  Quae 
omnia  si  nos  absque  ulla  tuae  Maiestalis  inlerpellalione  cogitauimus  et  nos- 
Ira  sponte  dedimus  quod  precibus  et  inslanliis,  si  allerius  menlis  fuisse- 
mus,  erat  a  nobis  impetrandum,  sperabamus  Serenitatem  tuam  id,  quod 
per  eam  et  genilorem  eius  antea  pronrisum  et  per  nos  postea  concessum 
fuit,  stalim  volúntate  et  assensu  suo  comprobaturam  fuisse.  Quo  uero  res- 
pectu  erga  Serenitatem  tuam  nos  in  hoc  gesserimus,  ut  illi  et  ómnibus 
patet,  cum  litteras  nostras,  quanquam  in  re  ad  nos  mere  spectanle  et 
magna  ratione  per  nos  concessas,  non  lamen  ante  publican  voluerimus 
quam  tua  Maiestas  de  ómnibus  certior  a  nobis  Geret,  Ita  ut  prius  ne  an 
post  id  quod  cupis  fecerimus  parum  referat  cum  concessisse  juris  nostri 
fuerit,  tuam  uero  notitiam  et  voluntatem  postea  requisiuisse  nostri  in  te 
amoris.  Nam  quod  paulo  antea  inquisilionem  aduersus  hanc  gentem  tua 
Maiestate  postulante  concesserimus,  hoc  certe  nobis  ex  animo  non  exci- 
derat,  sed  ñeque  ad  tuam  laesionem  pertinere  iudicauimus  si  eiusdem  In- 
quisilionis  rigor.  .  .  futuros  tantum  istorum  errores  íxússel per  nos  mode- 

ratus Serenitatem  tuam  non  huius  gentis  sanguinem  ut  mitissi- 

mam,  ñeque  fortunas  ut  opulentissimam  expetere,  quae  omnes  in  eius 
manu  sunt,  sed  christianos  tantum  mores  et  saniorem  mentem  illis  una  no- 
biscum  excitare,  quod  facilius  nos  assequi  posse  sperauimus  si  hac  cle- 
mentia  ac  unitate  erga  nos  tanquam  nouos  fidei  fdios  uli,  inexcusabiliter 
deinceps  ipsos  peccaturos  esse  admonuissemus.  Quod  uero  Serenitas  tua 
arbitralur  eorum,  quae  nos  ad  dandam  his  hanc  ueniam  impulere,  satis 
certam  cognitionem  ad  nos  peruenire  non  potuisse,  proplerea  quod  a  tua 
Serenilate  recognilio  non  peruenerit,  vtinam  uel  ipsa  Maiestas  tua  suis 
litteris,  uel  eius  oratores  aliud  nobis  persuadere  potuissent,  quam  nos  ha- 
ctenus  persuasi  fuimus.  Nam,  si  nulla  vis  uel  istis  qui  nunc  uiuunt,  uel 
eorum  parentibus,  a  quibus  ii  perpetuo  educati  fuerunt,  initio  il lata  fuis- 

set ;  si  deinde  ipsi  iuxta  christianam  disciplinam .  diligentia  in 

lege  christi  instructi  el  confirmati  fuissent,  sic  ut  eorum  errata  nobis  ulla 
ratione  imputan  non  posset ;  nihil  erat  certe  quod  nos  mouere  potuisset 
ad  eorum  causara  benignius  suscipiendam :  sed  cum  ñeque  tua  Serenitas, 
ñeque  eius  oratores  aliquid  significaucrint  quominus  uerae  esse  credere- 
mus,  quae  supra  diclae  sunt,  quid  est  cur  nos  parum  fideliter  persuasos 
fuisse  existimare  debeamus  quamuis  eadem  aliorum  quam  tuae  Maiestalis 

9* 


68  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

testimonio  nccepcrimns?  Ncc  uero  negamus  quin  maior  tuae  Scrcnilali 
iisdem  de  robus  quam  celeris  tu¡  Regni  horainibus  fides  habenda  fuissel ; 

si  lamen  ila  conWgú  ut  eadem  vertías,  cui  lúa  Maiestas religione 

sua  fidem  omnino  fecisset,  aliunde  nobis  innotuerit,  nec  quoquomodo  ea 
ad  nos  perueniret  quicquam  tua  interesse  existimauimus,  cur  illi  obstare 
debet  quod  tuae  Serenitalis  testimonio  ad  nostram  notiliam  non  peruene- 
rit?  Domini  enim  est  ventas,  íili  charissime,  ubicumque  fuerit  inuenta, 
et  ea  ratione,  eliam  si  a  paruulis  et  alienigenis  hominibus  sit  patefacla, 
non  est  contemnenda.  Celerum  quia  Serenitatis  tuae  nomine  fuit  certa 
forma  exhibita,  sub ....  uidetur  quod  dicta  uenia  conuenientius  potuis- 
set  a  nobis  dari,  quanquam  illud  ipsa  litteris  suis  ingenue  concesserit, 
non  decere  ut  summi  Pontifici  in  his,  quae  ad  religionem  perlinent,  Rc- 
gum  aut  Principum  consilio  regantur,  salisque  esse  si  eorum,  quae  in  fa- 
do conlingunt,  ab  his  facli  fuerint  certiores ;  Tamen  hoc  quoque  ea  man- 
sueludine . .  .  .  vicarium  decet,  acccpimus,  et  quod  a  Serenitate  lúa  no- 
bis fuit  proposilum  diligenter  cognosci  mandauimus  hoc  animo,  Deum  tes- 
tamur,  ut  Serenitati  tuae  morem  gereremus  non  modo  in  iis,  quae  ab  illa 

rectius  in  hac  causa  fuissenl  considerata,  sed  in  his  etiam,  quae 

diuinae  et  hurnanae  justitiae  offensam dari  potuissent,  sed 

et  aequitatem,  fili,  requirimus  ut  perpendas  quid  tuo  nomine  a  nobis  pe- 
tatur,  pelilur  namque  ut  eos  etiam,  qui  ex  hac  gente  in  aliquos  errores 
occulte  inciderint,  cogamus  ut  illos  ecclesiae  patefaciant  priusquam  ue- 
niam  consequantur,  quod  cerle  nullo  jure  nulloque  exemplo  ab  i  1  lis  pcti 
nec  a  nobis  concedí  potest,  nam,  omisso  quod  ncc  illis  qui  iam  damnali 
sunt  huiusmodi  errores  imputari  deb&re,  in  quibus  nonnulla  pastorum 
ecclesiae  culpa  potest  agnosci,  certe  nusquam  legitur  quod  ecclesia  occul- 
lorum  delictorum  ralionem  rcposcerc  possit,  quorum  iudicium  sibi  diuina 
Maiestas  reseruauit.  At  obüci  potest  quod  hi  tales  errores  ne  sacerdoli 
quidem  fursan  confitcbuntur :  id  uero  suspicari  non  debemus  cum  nolit 
diuina  clemenlia  quod  de  alicuius  salute  desperemus.  At  hoc  pacto  ab 
ecclesia  ucniam  consequenlur  licet  illi  nequáquam  satisfecerint,  veniam 
quidem  consequcntur  errorum  illorum,  qui  nulla  ratione  christiana  píelas 
palilur  ut  illis  imputentur,  etiam  si  patefacli  fuerint,  ecclesiae  autcm  non 
satisfacíent  ¡urc  mcri/o  cui  nihil  eos  deberé  compcrlum  est,  cum  hacte- 
nus  illud  non  oflendisse  reperiantur.  Al  erunt  deteriores  ni  sciant  se  post- 
hac  relapsorum  poenae  tcneri.  Nobis  uero  eligendum  est  ut  ¡psi  polius 


P.ELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA      -  G9 

perfidiae  suae  ralionem  Deo  reddant,  quam  nos  nimiae  seueritatis  et  in- 
iuslitiae,  quanquam  parum  probabile  est  quod  sint  qu  .  .  .  .  ducli  has  im- 
pídales secuturi  sint,  quas  in  inilio  cum  famae  et  rerum  suarum  detri- 
mento, denique  eliam  ultimo  supplicio  sciunt  esse  puniendas.  Ac  si  om- 
nino  erunt  aliqui  huiusmodi  causa  a  Deo  condemnali,  certe  non  procul 
abcsse  polerit  diuinae  Juslitiae  vindicta,  quam  ipsi  nullo  pacto  effugere 
poterunt,  satis  itaque  his,  qui  tuam  Maiestatem  paulo .  .  .  .  in  huins  gen- 
tis  animaduersionem  incendunt,  uideri  debuerat  quod  nos,  seuerius  etiam 
quam  horum  causae  aequitas  pateretur,  staluerimus  quod  condemnati  uel 
reconciliati  et  quorum  crimina  iam  sunt  in  iudicio  patefacfa,  uel  ipsorum 

poena illi  eliam,  qui  graui  impietatis  stfspitione  laborant,  íeneaniur 

uel  proprios  errores  confiten,  uel purgatione  se  defenderé,  in  his 

ómnibus  ecclesiasticae  disciplinae  polius  et  hominum  opinioni  salisfacere, 
quam  istorum  causae  (maiori  certe  misericordia  dignae)  consulere  cu- 
pientes.  Tum  uero  illud  etiam  quod  petitur  ne  iis,  qui  accusati  aut  in 
vinculis  hanc  ob  causam  coniecti  esse  reperientur,  priusquam  errorum 
ueniam  acceperint,  prodesse  possit  presentís  gratiae  decrelum, ....  sil  ab 
omni  ratione  et  humanitale  alienum  tua  Maíeslas  considerel.  Nam,  siqui 
haec  tibi  persuasere  non  iniquum  esse  existimant  quod  iam  condemnatis 
hoc .  .  .  .,  cur  deteriore  apud  eos  condilíone  habentur,  qui  nondum  sunt 
condemnati?  Quod  si  hoc  ea  ratione  postulan  dicatur  ne  judicialis  inqui- 

silio  aduersus antequam  eorum  crimina  fuerinl  probata  et  ipsi 

ecclesiaslica  sententia  condemnali,  certe  hoc  nimis  a  presentís  causae  aequi- 
tate  alienum  est.  Nam  quid  grauius  posset  constituí  aduersus  eos,  qui,  ex 
optimisparenlibus  nati  et  sánete  educali,  in  hos  errores  ob  malitiam  suam 
prolapsi  fuissent,  nec  ullam  errorum  suorum  excusationem  possent  prae- 
tendere? praediximus  nobis  fuit  uisum  quod  aduersus  eos,  quo- 
rum delicta  iam  essent  patefacta,  seuerius  nos  quicquam  ecclesiasticae 
disciplinae  causa  statuere  oporleret,  quorum  crimina  potius  voluissimus 
quod  síne  scandalo  oceultari  potuissent,  quanto  aequius  itaque  a  nobis 
oceurrendum  fuit,    ne  ea  fiant  palam,  quae  adhuc  oceulta  sunt?  quid 

q hoc  pacto  nihil  ab  iis  distaret  qui  nunquam  huius  gratiae 

beneficio  uti  statuissent  et  diuinae  nostraeque  clementiae  munus  confm- 
/mssent.  Postremo  in  polestate  impii  cuiusque  et  mali  hominis  esset  quot 
ex  hac  gente  ipse  uellet  horum  críminum  reos  faceré,  eorumque  nomina 
deferre,  et  hoc  pacto  per  summam  iniuriam  quoscunque  libuisse/ 


70  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

de  iis  qui  uiolcnter  ad  sacros  fontes  se  pertrac/os  fuisse  ¿/ocuerint,  iam 
tua  Maiestas  nihil  cogilauit  quod  nos  anle  in  animo  conslitutum  non  ba- 
bercmus ;  sed  haec  ea  respiciunt,  quae  nos  ad  fuluram  hornm  \  itam  cum 
tuae  Serenitalis  consilio  slatuere  intendimus.  Quod  uero  atlinet  ad  tempus 

conseque illis  conslituendum,  qui  eliam  his  Regnis  abesse  repe- 

riuntur,  parum  distant  quae  petuntur  ab  iis  quae  constituía  sunt,  quibus 
lamen  nobis  mullo  (tequias  prouisum  esse  uidetur,  ut  iuxta  locorum  lon- 
ginquitatem  longius  aut  breuius  tempus  i  I  lis  conslituatur,  quam  si  idem 
temporis  spacium  ómnibus  ex  aequo  fuerit  ascriptum.  Celera  quae  ad 
futurae  Inquisitionis  formam  pertinent,  etsi  in  iis  nonnulla  sunt,  quae 
aduersus  jura  et  ecclesiae  constitutiones ntur lúa  Ma- 
iestas nobis  persuaserit  ea  pro  chrisli  religione  et  populorum  suorum  sa- 
lute  a  nobis  esse  danda,  nihil  recusabimus  quod  nos,  saluo  Dei  honore, 
in  luí  gratiam  fieri  posse  intelligemus.  Interea  uero  tuam  Maiestalem  ite- 
rum  alque  iterum  monere  et  hortari  non  cessabimus  ne  diuturnius  his, 

quae  a  nobis  in  hac  causa unt  uelit  resistere,  eliam  cum  ipsa 

iam  uidere  possil  quanla  aequitate  et  iustitia  ea  fuerint  constituía,  fieri 

non Maieslas  tua  non  solum  authoritatem  nostram,  sed  etiam 

justiliam  et  aequitatem,  oppugnaret,  quod  scimus  ab  eius  animo  et  uo- 
luntate  longe  abesse.  Quod  si  fortasse  Tuae  Serenitati  minus  eíücaces 
adhuc  videbuntur  rationes  nostrae,  non  recusabimus  illam  iterum  atque 
iterum  audire,  ac  rem  totam  dum  Mi  plenissime  fuerit  satisfactum  per 

inde  habere ñeque  Inquisitionis  facultas,  ñeque  haec  ipsa  nenia 

fuissent  in  suis  Regnis  concessae,  quarum  utramque  et  libenter  omissis 
dúceptalionibus  in  tui  gratia  sustulissefWMS,  el  wisum  fuisset  quod  cilra 
diuinae  Maiestatis  offensam  huius  gentis  salus  et  correclio  longius  difteri 
poluisset.  Nam . .  .  .  humani  aliquid  nobis  inesse  crederemus  nisi  Maies- 
tatis tuae  tantopere  de  christiana  República  ob  clarissimas  eius  res  ges- 
tas, et  quae  quolidie  pro  christi  fide  geruntur  benemérita  ómnibus  in  re- 
bus  morem  gerere  cuperemus,  vbi,  saluo  diuinae  Maiestatis  honore,  id  a 
nobis  fieri  posse  uideretur,  in  tanta  praesertim  ecclesiae  et  fidei  calholi- 
cae  perlurbalione,  In  qua  illud  saepe  ac  libenter  praedicare  so/emus  tuam 
Maiestalem  inter  paucos  esse,  quorum  praesidio  ecclesia  et  sánela  religio 
suam  dignitalem  se  perpetuo  relinere  posse  confidat,  quanquam  nihil  eliam 
nobis  oceurrebat  cur  credere  deberemus  ul  rem  gralam  luae  Serenitali 
esse  facturos  si  ea,  quae  a  nobis  tam  pie  et  sánete  in  hoc  negocio  consli- 


RELACOES  GOM  A  CURIA  ROMANA  71 

luta  fuerant,  rescinderentur,  nisi  forlasse  hoc  ipsa dcsiderasset  ut 

eadem  illico  ad  sui  postulalionem  sancirentur,  quod  certe,  si  ab  ea  desi- 
derari  inlclligemus,  libenlissime  illi  morem  gcremus,  ea  raliono  ut  huius 
gentis  horaines  ¡ntelligant  quicquid  ad  eorum  salutem  a  nobis  concedetur, 
Id  tuae  Maiestatis  sollicitudini  ac  curae  de  eis  susceptae  acceptum  feren- 
dum  esse ;  nihil  est  enim  quod  nos  magis  optemus,  quam  ut  populorum 
istorum  erga  tuam  Serenitatem  voluntates  ac  studia  conscruentur,  et  quoad 
per  nos  fieri  poterit  etiam  augeantur,  quo  scilicet  promptiore  ipsi  et  ala- 
criori  animo  ad  tuae  Maiestatis  mandata  gloriosum  ....  certamen  aduer- 

sus  barbaras  gentes  prosequ christi  nomen  tam  longe  lateque 

hactemus  propagatum  fuisse  uidemus,  ac  diuina  fauente  clementia  spera- 
mus  fore  vt  longius  in  poslerum  cum  immortali  tua  Maiestatis  gloria  ex- 
tendalur.  Quae  et  per  eosdem  oratores  Maiestati  tuae  copiosius  scriben- 
tur,  et  Venerabilis  etiam  frater  Episcopus  Senogalliensis,  noster  apud  Se- 
renitatem tuam  Nuncius, tuae  Maiestati  uberius  explicabit,  cuius 

illa  verbis  solitam  et  indubiam  fidem  habere  velit. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  se- 
cunda Aprilis,  MDXxxmr,  Pontificatus  nostri  Anno  Vndecimo. — Blo- 
sius  l . 


Carta  tic  I>.  llartinho  de  Portugal  ao  Secretario 

de  Estado. 

1534  — Abril  8. 


Senhor  —  Auerá  dous  annos  que  em  malega  ouue  huma  carta  de 
Vossa  Merce :  depois,  atégora,  nunca  mais  ouui  nem  nouas,  nem  cousa 
que  me  mandaseis  em  que  vos  seruise. 


1  Arch.  Nac,  Maco  19  de  Bullas  n.°  12.  Este  breve  está  muito  deteriorado,  tanto 
pelo  grande  uso  que  mostra  ter  tido  (postoque  nao  encontrassemos  copia  alguma  d'elle), 
como  pela  agua  aclaratoria  empregada  para  avivar  algumas  passagens.  Damos  em  itá- 
lico as  palavras  lidas  por  conjectura  com  o  auxilio  de  algumas  syllabas  ou  letras  ainda 
visiveis ;  e  supprimos  com  pontos  aquellas  cuja  Icitura  é  impossivel. 


72  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

De  bolonha  vos  mandei  hum  breue  sobre  os  beneficios  do  voso  mos- 
teiro  :  trazia  o u tras  cousas,  que  se  perderao  com  duas  bullas  que  espedí, 
ou  a  vosa  memoria  es!á  tam  bem  guardada  que  se  nao  acha.  Qucm  islo 
manda  dizer  a  Vossa  Merce  certo  que  tem  suas  cousas  no  coracao :  de- 
uouolo,  e  a  ninguem  oulrem  ;  e  alem  disto  se  ha  homem  a  que  natural- 
mente seja  afeicoado  sois  vos.  Pecouos  muito  por  merce  que  me  tornéis 
a  mandar  as  mesmas  cousas :  o  que  me  lembra  hera  sobre  as  cápelas 
das  vossas  quintans  (e  naom  sei  o  que  sobr  isto)  e  pera  vosso  filho,  o  que 
ha  de  ser  clérigo :  quanto  (o  que  naom  sei)  he  ao  que  lhe  eu  prometí  de 
ho  beneficiar,  nao  ha  misler  lembrado,  porque  eu  o  farei  ou  nao  lerei  hum 
pao,  e  quando  mais  nao  tivesse  lhe  daría  delle  muila  parte. 

Ouue  do  papa  o  Indulto  l  de  couos  e  o  de  dom  pedro  mascarenhas 
pera  vossa  merce  e  seus  filhos :  mandai  me  dizer  se  queréis  mais  algua 
graca,  aínda  que  me  dizem  co  de  couos  he  o  milhor  que  se  nunca  deu ; 
e  por  me  fazerdes  muita  merce  venha  me  logo  a  Instruccao  do  que  se  ha 
de  fazer.  Beijo  as  maos  de  Vossa  Merce. 

De  Roma  a  8  d  abril  delo3i.  —  D.  Marlinho  de  Portugal,  arce- 
bispo  do  Funchal2. 


Breve  do  Papa  Clemente  VII  dirigido  a  cl-Rci. 


1534  —  %  liri  I  $. 


Clemens  papa  vn  Gharissime  in  chrislo  fili  noster  salutem  et  aposlo- 
licam  benedictionem. 

Cum,  sicut  per  venerabilem  fratrem  Marlinum,  Archiepiscopum  Fun- 
chalensem,  tuae  Maieslatis  nepotem  et  apud  nos  oratorem,  eadem  Maies- 
las  lúa,  quae  elíam  mililiae  Jesu  Chrisli,  Cisterciensis  ordinis,  adminis- 
trator  per  Sedem  apostolicam  deputata  exislit,  nobis  nuper  exponi  fecit, 
alias  postquam  per  nos  acceplo  quod  dudum  clarae  memoriae  Emanueli, 

1  Esta  palavra  depois  de  escripia  foi  emendada,  mas  de  modo  que  nao  se  sabe  qual 
era  a  substituiQao .  As  que  damos  entre  parentheses,  cstao  cnlrelinhadas  no  original. 

2  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Ma$.  52,  Doc.  196. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  73 

Porlugalliae  et  Algarbiorum  Regi,  genilori  tuo  tune  in  humanis  agenti, 
vi  absque  aliquo  conscienliae  scrupulo  aliquibus  de  regia  corona  siue  be- 
nemeritis  aut  alias  sibi  gralis,  in  recompensationcm  seruiliorum  et  obse- 
quiorum  eidem  Regi  preslitorum,  aul  cassalionum  seu  extinclionum  uulgo 
lencas  nuncupatarum,  seu  aliorum  annuorum  reddiluum,  quos  quando- 
que  super  regiis  redditibus  et  nonnunquam  super  preceptoriis  seu  com- 
mendis  aut  mensa  magislrali  diclae  militiae,  cuius  etiam  administrator 
per  sedem  apostolicam  deputalus  erat,  daré  et  assignare  consueuerat,  pre- 
ceptorias  seu  commendas  ipsas  diclae  militiae  libere  et  licite  daré  et  con- 
ferre  posset,  per  concessionem  uiuae  uocis  oráculo  bonae  memoriae  Geor- 
gio,  Cardinali  Portugallensi,  desuper  a  nonnullis  Romanis  Ponlificibus 
praedecessoribus  nostris  factam,  indultum  extiterat,  ipseque  Emanuel  Rex 
dicta  facúltate  usque  ad  obitum  suum  libere  semper  usus  fueral,  Nos  Ma- 
icslali  luae  eandem  licenliam  confirmaueramus  seu  de  nouo  concessera- 
mus,  necnon  ut  símiles  recompensas  praeceptoriarum  aut  reddituum  prae- 
diclae  uel  cuiusuis  alterius  militiae  pro  dotibus  diclarum  personarum  elar- 
giri,  donare  et  debite  compensare  posset,  ampliaueramus  et  concesse- 
ramus;  et  tam  praefatum  emanuelem,  dum  in  humanis  agcrct,  quam  le 
de  preceptoriis  seu  commendis  huiusmodi  absque  diclae  sedis  licentia  per 
vos  antea  forsan  concessis  simililer  uiuae  uocis  oráculo  bonae  memoriae 
Laurentio,  Episcopo  Praeneslino,  lunc  in  humanis  agenti,  et  tituli  San- 
ctorum  quatuor  Coronatorum  presbítero  Cardinali,  absolueramus,  et  d¡- 
ctus  Laurentius  Cardinalis  de  confirmatione,  amplíalíone,  concessione  et 
absolutione  per  nos  factis  huiusmodi  per  suas  patentes  lilteras  eius  sigillo 
munitas  fidem  fecerat  et  illas  altestatus  fuerat,  prout  in  eisdem  litteris  di- 
citur  plenius  conlineri :  Tu,  uígore  licentiae  per  nos  libi  concessae,  el  lit- 
terarum  Laurentii  Cardinalis  huiusmodi,  ac  iuxta  illarum  conlinentiam,  de 
nonnullis  preceptoriis  ipsius  militiae,  etiam  de  illis,  quae  procurante  di- 
cto Emanuele  Rege  per  felicis  recordalionis  Leonem  papam  x,  Predeces- 
sorem  nostrum,  erectae  fuerant,  prouideris.  Sed  quia  preceploriae  ipsae, 
praesertim  per  dictum  Leonem  predecessorcm  erectae,  iuxta  illarum  in- 
stitulionem  et  desuper  confectarum  litlerarum  formam  et  tenorem,  mili- 
tibus,  qui,  per  tempus  et  per  témpora  per  praefatum  Emanuelem  Regem 
et  eius  successores  dictae  militiae  adminislralores  pro  tempore  existentes 
statuenda,  contra  infideles  dimicauerinl,  uel  alias  benemerili  fuerint,  con- 
cedí debeant,  et  de  hoc  in  litteris  Laurentii  Cardinalis  huiusmodi  expressa 
tomo  ni.  10 


71  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUCUEZ 

inenlio  facía  non  exlilil,  tu  dubitas  concessiones  praeceptoriarum  earnn- 
dem  ob  remuncrationem  obsequiorum  luae  regali  personae  eliam  extra 
bellum  contra  infideles  impensorum,  ac  in  recompensam  pensionum  ten- 
cas nuncupatarum,  tam  tuorum  regnorum  quam  mensac  Magislralis,  aut 
pro  dotibus  ac  minoribus  qualuordecim  annis  ad  dimicandum  impolenli- 
bus,  et  non  illis  propriis  meritis  ad  dictas  preceptorias  obtinendum  suf- 
fultis,  et  alias  personis  ciusdem  niililiae,  qui  contra  ipsos  infideles  mínimo 
dimicarunt,  per  te  et  dictum  Emanuelem  Rcgem  facías,  fieri  non  licuis- 
se,  eadem  Maicstas  tua  nobis  per  dictum  Marti num,  Archiepiscopum  et 
oratorem,  humiliter  supplicari  fecit  vt  tibi  a  censuris,  siquas  propterea  for- 
san  incurristi,  de  absolutionis  beneficio  ac  alias  statui  tuo  in  praemissis 
oportuno  prouidere  de  benignitate  apostólica  dignaremur.  Nos  igilur  pii 
patris  et  boni  pasforís  uices  implere,  ac  preceptoriarum  per  te  et  dictum 
Emanuelem  sic  concessarum  inuocationes,  denominationes,  siluationes,  et 
ueros  annuos  üalores,  illarumque  el  personarum,  quibus  concessae  sunt, 
numerum,  qualitates,  nomina  et  cognomina  praesentibus  pro  expressis  ha- 
beri  uolentes,  huiusmodi  supplicationibus  inclinati,  Te,  necnon  personas, 
quibus  preceploriae  huiusmodi  concessae  snnt,  ab  omni  simoniae  labe,  s¡- 
quam  propterea  forsan  hactenus  contraxistis,  ac  quibusuis  inde  proue- 
nientibus  excommunicationis  et  alus  sententiis,  censuris  et  penis  eccle- 
siasticis,  aulhoritate  apostólica  tenore  presentium  absoluimus ;  necnon  a  te 
et  personis  prefalis  omnem  inhabilitalis  et  infamiae  maculam  siue  notam, 
per  vos  praemissorum  occasione  quomodolibet  forsan  contractam,  peni- 
tus  abolemus,  ac  cum  eisdem  personis  ut  preceptorias  ipsas,  de  quibus 
hactenus  prouisi  fuerunt,  absque  alia  sibi  de  illis  de  nouo  facienda  pro- 
uisionc  retiñere  libere  et  licite  ualeant,  auctoritato  et  tenore  predictis  de 
specialis  dono  gratiae  dispensamus :  Non  obstantibus  premissis,  ac  eorun- 
dem  preceptoriarum  instilulionibus,  et  quibusuis  apostolicis,  necnon  dictac 
militiae,  iuramento,  confirmatione  apostólica,  uel  quauis  firmilate  alia  ro- 
boralis  statutis,  stabilimentis,  usibus  et  Dataria,  caeterisque  conlrariisqui- 
buscunque. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
viu  Aprilis,  mdxxx.1111,  Pontificatus  Nostri  Auno  Undécimo.  —  Blosius  l. 


1  Arch.  Nac,  Mac.  2  de  Bullas  n."  17. 


relacOes  com  a  CURIA  ROMANA  75 


Breve  fio  Papa  Clemente  ¥11  dirigido  ao  Hispo 

tle  Sinigaglia. 

1534  —  A luí I  O. 


Clcmcns  papa  vii  Vcnerabilis  fraler  salulem  et  apostolicam  benedi- 
clionem. 

Ex  lilterarum  exemplo,  quas  ad  istum  serenissimum  Regem,  noslrum 
in  chrislo  filium  charissimum,  super  venia  nouis  chrislianis  sui  Regni  per 
nos  concessa  scribimus,  perspicies  et  quam  plene  ac  uere  ad  obiecta  res- 
pondearaus,  et  quam  mullís  ac  ralionabilibus  de  causis  ad  diclam  ueniam 
concedendam  deuenire  non  solum  por  noslro  iure  polucrimus,  sed  etiam 
pro  oííicio  debuerimus ;  Speramusque  proinde  ipsum  Regem  pro  eximia 
eius  probitate,  ac  perpetua  sua  et  maiorum  suorum  erga  nos  et  hanc  san- 
clam  sedem  reuerentia  et  obseruantia,  his  litíeris  receplis  libenter  per- 
missurum  vt  Bulla  dictae  veniae  etiam  cum  sua  uoluntale  ac  fauore  per 
te  publicelur  et  executioni  demandelur.  Quod  si  secutum  fuerit,  ut  spe- 
ramus,  Fraternilalem  luam  impense  monemus,  eique  id,  quod  loliens  per 
tot  Iitleris  scribi  fecimus,  nunc  memoramus,  et  sub  indignationis  diuinae 
ac  nostrae,  insuperque  suspensionis  a  diuinis  quoad  te,  quoad  alios  uero 
infrascriptos  sub  excommunicationis  latae  senlentiae  pena  ipso  facto  in- 
currenda,  praecipimus  quatenus  diligenti  cura  efficias  ac  perficias  ut  in 
executione  huiusmodi  bullae  et  ueniae  per  te  facienda  ñeque  tu,  ñeque 
quisque  tuorum  ministrorum,  officialium,  execulorum  et  familiarium,  ali- 
quid  pro  scriptura  uel  sigillo,  aut  quouis  alio  pretexlu,  labore,  seu  causa, 
uel  in  pecunia  numerata,  uel  in  quauis  alia  re,  etiam  sponte  oblatum  aut 
promissum,  capialis ;  sed  gratis  omnia  a  le  et  ülis  expedianlur,  pro 
quanto  indignationem  nostram  penasque  supradiclas  cupilis  euilare,  Nos 
enim  grauissime  a  te  et  luis  oílendemur,  si  nostrae  huic  uoluntali  con- 
trauenerilis. 

Dalum  Romae,  apud  sanctum  Pelrum,  sub  annulo  piscaloris,  die  vmi 
Aprilis,  mdxxxiiii,  Pontificatus  nostri  anno  vndecimo. — Blosius1. 

1  Arch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas  n.°  4.  Diz  o  sobrescripto .  Yenerabili  fratri  Marco 

10* 


76  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Caria  de  II.  Henricjue  de  llenezes  a  el-Re¡. 

1534— Abril  ÍO. 


Senhor.  — Até  me  Vossa  Alteza  Responder  que  tem  laa  minhas  car- 
las,  ou  que  as  nom  tem,  ei  lhc  sempre  de  fazer  lembranca  que  lhas  es- 
creuy,  e  cantas  e  per  quem,  por  me  nom  ter  por  mao  negociador  do  que 
me  manda  e  mais  descuydado  em  auysalo  do  que  passar,  no  qual,  por 
que  eu  poderya  ter  culpa,  nom  querya  cayr  nella,  que  do  negocear  mal 
ou  bem,  como  nom  eslaa  em  minha  mao,  nom  me  pode  pesar  mais  que 
por  Vossa  Alteza  ser  bem  ou  mal  servido,  mas  nao  jaa  por  eu  poder 
nysso  ser  nunca  culpado.  Eu,  senhor,  como  aqui  cheguey,  que  foy  a  dez 
de  fevereiro,  escreuy  loguo  a  Vossa  Alteza  aos  xv  do  mesmo  mes  pelo 
cavaleiro  d alcántara;  e  a  nove  de  marco  escrevy  tambem  duas  cartas 
per  hum  correo  ordinaryo  de  castela ;  e  aos  xxv  do  rnesmo  marco  Ih  es- 
creuy per  outro  que  o  conde  cyfontes  mandón  ao  emperador :  e  todas  es- 
tas cartas  forao  no  seu  maco  dirygydas  a  alvaro  mendez,  e  nelas  lhe  dey 
conla  do  que  ate  entao  tinhamos  passado,  o  arcebispo  e  eu,  neste  nego- 
cio dos  cristaos  novos,  porque  em  outro  nunca  quys  falar  nem  falarey 
ate  ver  Recado  de  Vossa  Alteza,  por  dio  asy  mandar  cando  party  e  lhc 
beyjey  a  mao.  E  em  huma  destas  cartas,  que  forao  a  nove  de  marco, 
lhe  mandamos  o  trelado  das  Razoes  que  os  letrados  de  qua  escreuerao 
contra  as  que  eu  trouxe1,  e  como  sem  embargo  délas  lhes  parecía  bem 
o  papa  fazer  o  que  tinha  feyto  e  nom  mudar  disso  nada.  E  o  que  sobr  ysso 
fezemos  e  dissemos  he  muito  longuo  pera  dizer,  canta  mais  pera  escrc- 
uer.  Porem,  senhor,  huma  cousa  ouvy  a  meu  pay,  que  deus  aja,  que 


episcopo  scnogalliensi  apud  carissimum  in  christo  filium  nostrum  Joanncm  Portngallie 
et  Algarbiorum  Rcgr:m  Illustrem  nostro  et  apostolicae  sedis,  cum  potestatc  legali  de  la- 
tere,  Nuntio.  Na  Gav.  2,  Mac,.  2  n.°  5,  guardase  urna  versao  portugueza  d'esle  breve; 
mas  com  a  data  errada  de  8  de  Abril. 

1  Nao  encontramos  nenhuma  das  cartas  a  que  allude,  e  por  isso  pareceu-nos  mais 
conveniente  publicar  as  respostas  ás  allegncoes  d'tl-Rei  logo  depois  d' estas.  Vid  pmj. 
29  c  47. 


RELACÜES  com  a  CURIA  ROMANA  77 

agora  acho  verdadeyra,  e  he  que  muito  mais  trabalha  homem  no  em  que 
nom  faz  nada,  que  no  que  acaba  muito  bem  e  muito  á  sua  vontade  ;  por- 
que, em  canto  trabalhámos  por  Vossa  Alteza  ser  seruydo,  nom  quys  o 
papa  vyr  em  conceder  mais  que  em  fazer  esse  breue  l  e  no  que  per  ele 
Vossa  Alteza  pode  ver.  E  delle  e  do  que  qua  entendemos  pode  compren- 
der duas  soos  cousas :  a  primeira  he  que  canto  ao  artiguo  dos  Relapsos 
o  papa  eslaa  muy  duro  no  que  tera  feito,  e  muy  aconselhado  de  fazer 
nysso  o  que  deue,  e  nom  deuer  de  deyxar  de  fazer  o  que  faz ;  a  segunda 
he  que  tudo  o  al  ele  concederaa  asy  como  a  Vossa  Alteza  Requeryr,  ou 
coma  por  hum  meo  que  aja  Vossa  Alteza  por  bem  que  se  Reuogue  a 
uossa  Inquisycao  e  ele  a  sua  bula  do  perdao,  e  de  novo  se  fale  e  trate 
no  como  se  fará  o  hum  e  o  outro  a  vosa  inslancya,  ou  se  nom  fale  nysso 
por  agora.  Isto  he  o  que  diz  esse  breue,  que  nos  o  papa  mandou  mos- 
trar :  e  crea  Vossa  Alteza  que  nom  faltou  quem  antes  e  depois  de  o  ver 
lhe  dissesse  o  que  compre  a  uosso  seruyco ;  mas  nom  podíamos  al  fazer 
senao  aceylar  seu  despacho  e  Reposta,  e  pesar  nos  muito  de  ser  tarde  e 
nao  a  nossa  vontade,  senao  canto  excedemos  per  uentura  nysso  o  modo 
em  falarmos  e  Repricarmos  mais  do  que  Rezaua  a  nossa  Instrucao.  Ora, 
senhor,  Vossa  Alteza  veja  o  que  nysto  ha  por  mylhor  e  mais  seruyco  de 
déos  e  seu,  e  assy  o  ordene  e  nolo  mande.  E  posto  queu  nom  seja  pera 
falar  nysto  mais  que  dar  conta  do  que  homem  qua  passa  pera  se  laa  de- 
termynar  o  que  deue  de  ser,  todavya,  pera  mylhor  emformacáo  de  Vossa 
Alteza  e  dos  que  nysso  ouverem  d  aconselhar,  direy  eu  alguma  cousa  do 
que  me  parece  e  qua  entendo,  e  he  que  certo  Vossa  Alteza  tem  Rezao  e 
muita  de  saqueyxar  e  escandalizar  canto  quiser  do  papa  :  as  Razoes  pera 
ysso  estao  eraras  a  ele  e  a  muitos  laa  e  qua,  que  este  negocio  anda  muy 
pubryeo,  e  pódelo  ao  ser  mais  canto  Vossa  Alteza  quyser ;  porem  deue 
primeiro  com  seus  letrados  e  c  os  do  seu  conselho  d  olhar  o  que  sobre 
saqueyxar  muito  poderaa  sobrysso  fazer  de  direito  ou  deveraa  de  feylo, 
e  assy  o  ordenar  e  execular,  que  nóos  aquy  estamos  pera  fazer  o  que 
nos  Vossa  Alteza  mandar  muy  inteyramente,  e  hyrmonos  de  muy  boa 
vontade,  que  este  he  o  primeiro  trebelho  deste  joguo.  Porem,  senhor,  se 
a  ysto  achar  inconuenyentes,  como  os  aas  uezes  ha  em  tudo,  por  bom 
que  seja  de  fazer  canto  mais  no  em  que  ha  bycos,  pode  Vossa  Alteza 

1  Refere-se  ao  breve  de  2  de  abril,  que  vai  no  logar  competente. 


78  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

aceytar  huma  deslas  que  o  papa  moue,  a  saber,  fazerse  ludo  o  do  in- 
quisydor,  e  do  al  que  Vossa  Alteza  pede  muy  bem  feyto,  ainda  que  seja 
derogando  o  direito ;  e  nos  Relapsos  nom  se  mudar  o  que  estaa  feyto,  os 
quaes  tem  qualro  ou  cinquo  capilolos  e  em  soos  dous  he  a  diferenca ;  e 
este  perdao  ser  feyto  de  novo  a  instancia  de  Vossa  Atiesa  e  com  seu  con- 
senlymento  e  contentamento  :  e  abaixo  direy  o  como  o  santyquatro  quer. 
Ora,  se  islo  assy  nom  quer,  que  aja  Vossa  Alteza  por  bem  que  se  Reuo- 
gue  a  bula  do  perdao  e  da  vosa  inquisycao,  e  que  de  novo  vos  concer- 
téis, senhor,  co  papa  como  seraa  cando  ouver  de  ser :  o  qual  a  sanli- 
quatro  parece  muy  bem  e  a  mym  nom  me  parecerya  muito  mal,  porque 
asy  e  asy,  pois  a  vosa  inquisycao  he  derogada  ou  suspensa  pelo  perdao, 
mylhor  seraa  que  seja  suspensa  de  todo  e  a  do  papa  Reuogada  de  todo, 
e  asy  parece  que  ganhamos  térra  e  que  se  vyrá  o  nuncio  de  laa,  como 
diz  sanliquatro,  que  a  meu  ver  a  pyor  cousa  que  Vossa  Alteza  tem  nesle 
negocyo  he  tel  o  laa  e  qua  pera  oulras  trezenlas  cousas,  e  eu  hyr  me  de 
qua ;  e  faraa  Vossa  Alteza  isto  cao  de  vagar  quiser,  e  entre  tanto  mor- 
rem  e  vyvem  muitas  cousas,  e  poder  saa  Vossa  Alteza  avyr  e  amygar 
muito,  se  quiser,  co  papa,  de  feicao  que  vos  conceda  ludo  a  uosa  von- 
tade,  o  que  agora  entendo  eu  que  nom  eslaes,  ou  o  sey  muito  certo. 

E,  se  isto  nom  ouver  por  bem,  consynla  no  primeiro  que  digno  do 
perdao  ordenado  a  vossa  instancia;  e  do  al,  afora  os  Relapsos,  tudo  a  uosa 
vonlade.  E  o  que  diz  sanliquatro  he  que  o  nom  leuem  estes  judeus  tao 
saboroso,  e  que  lhes  dem  penylencia  de  xx  ou  xxx  mil  cruzados,  ou  os 
que  Vossa  Alteza  ouver  por  bem,  e  que  partaes  co  papa  pera  suas  ne- 
cesydades,  com  quem  diz  que  Vossa  Alteza  nom  tem  comprydo  em  mui- 
tas cousas,  em  que  as  o  papa  teue ;  e  que  se  deyxe  Vossa  Alteza  nyslo 
Reger  pelo  papa,  sobre  quem  as  causas  desla  calydade  pendem  :  e  per 
aquy  oulras  muitas  cousas,  qu  ele  muito  bem  sabe  falar,  e  que  vol  o  es- 
creueraa,  dándose  por  muito  obrygado  e  servydor  de  Vossa  Alteza  e  d  el- 
Rey  vosso  pay  que  deus  leni :  e  que  este  perdao  nom  somenle  o  nom  dy- 
vera  Vossa  Alteza  de  Refusar,  mas  que  o  dyvera  de  comprar  por  seu  d¡- 
nheiro,  pera  esta  jenle  nom  ter  mais  de  que  s  aqueyxar  de  Vossa  Alteza 
nem  delRey  que  deus  tem,  nem  poderem  ter  nunca  escusa  pera  mays  pe- 
car. Isto  he,  senhor,  o  que  nesle  negocio  temos  feylo  e  entendido ;  e 
crea  Vossa  Alteza  que  isto  he  qua  pralicado  e  afyrmado  per  letrados  ao 
papa,  e  per  hum  cardcal  anlreles  muilo  letrado,  que  foy  muilo  lempo 


relacOes  com  a  CURIA  ROMANA  79 

auditor  da  Rota  e  que  parece  homem  de  bem,  e  por  ysso  quyser'eu  vyr 
com  hum  dos  que  laa  entendem  o  contrayro,  que  eu  assy  o  entendo  com' 
eles  per  aquy  e  perante  deus,  e  que  qua  noni  querem  senao  dinheiro.  E 
porem  juntamente  co  ysso  os  letrados  de  qua  afyrmao  e  cscreuem  que 
assy  se  deue  fazer  e  nao  doutra  maneira,  como  mandamos  a  Vossa  Al- 
teza per  escrito  a  nove  de  marco,  que  ja  laa  deue  ser,  e  agora  lhe  tor- 
namos a  mandar  a  copya ;  e,  posloque,  como  entao  disse,  sejao  Rezoes 
mais  aparentes  que  existentes,  e  boas  pera  lhe  Responder,  nom  no  sabe 
homem  asy  fazer  per  direito,  nem  tem  pera  ysso  comysao  de  Vossa  Al- 
teza pera  o  dysputar.  Esta  he,  senhor,  a  conta  que  posso  dar  per  escryto 
a  Vossa  Alteza  do  que  temos  passado ;  e  ey  me  por  assaz  mofyno  nom 
s  acabar  lao  cedo  nem  tao  bem  como  eu  quysera  e  como  o  trabalhey,  asy 
como  farey  em  ludo  que  me  Vossa  Alteza  mandar  ou  eu  vyr  que  he  seu 
seruico.  Beyjar  lhey  as  maos  ver  e  determinar  o  de  que  mais  for  ser- 
uydo  que  se  nysto  faca,  principalmente  porque  compre  muilo  ao  negocio 
e  a  uosso  seruyco  a  mais  breuydade  que  possa  ser ;  e,  depois  de  Vossa 
Alteza  seruydo,  pera  me  eu  poder  hyr  antes  do  invernó,  por  nom  hyr 
polas  neves  com  que  vym,  e  por  nom  estar  tanto  tempo  incerto  de  cando 
me  hyrey,  nem  poder  estar  como  he  Rezao.  E  ategora  pousey  co  arce- 
bispo  por  mostrar  a  breuydade  que  Vossa  Alteza  querya  neste  negocyo 
e  por  despachamos  este  correo  juntos,  como  mo  Vossa  Alteza  mandou, 
onde  com  seus  maos  gasalhados  nom  synty  tanto  esta  minha  incerteza ; 
mas,  agora  que  feto  vay  mais  a  longa,  em  partyndo  este  tomarey  huma 
pousada  onde  pagarey  o  passado :  e  ainda  nom  ha  de  poder  ser  tomal  a 
sem  ajuda  do  arcebispo  por  esta  incerteza  em  que  íiquo:  porem,  pois  me 
Vossa  Alteza  faz  merce  pera  mynha  despesa,  nom  me  parece  Rezao  se- 
nao isso,  e  o  que  mais  tyuer  gastal  o  em  uosso  seruyco,  e  nao  que  Re- 
ceba do  Vossa  Alteza  merce  e  servyr  vos  mal,  e  sobre  tudo  ainda  aa  cusía 
alhea;  postoque  o  do  arcebispo  seja  tanto  de  Vossa  Alteza  como  o  meu, 
e  mais  se  pode  ser.  E  no  al  nom  crea  Vossa  Alteza  que  ey  de  fazer  se- 
nao acompanhal  o  e  seguyl  o  em  canto  aquy  eslyuer,  e  que  nom  aueraa 
antre  noos  senao  ludo  vosso  seruyco.  Ainda  queu  quysesse  nom  lenho 
neste  negocio  mais  que  dizer  a  Vossa  Alteza  senao  que  a  este  correo  da- 
mos xiiii  ou  xv  dias  pera  hyr,  e  menos  ainda  pera  vyr :  beyjaremos  as 
maos  a  Vossa  Alteza  mandal  o  despachar  do  que  for  mais  seruydo  com 
muita  breuydade,  o  qual  he  fernao  casíanho,  que  ategora  qua  esperou 


80  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

por  este  Recado  :  he  muy  bom  seruydor  e  delygenle  :  toda  merce  que  lhe 
Vossa  Alteza  fyzer  ele  a  merece,  e  mais  foy  qua  Roubado  de  corenta  ou 
cynquoeula  escudos. 

ítem,  senhor,  o  cardeal  santa  cruz  me  moslra  muilo  boa  uontade  de 
seruyr  Vossa  Alteza,  como  lhe  ja  escreuy,  e  me  disse  e  Rogou  que  es- 
creuesse  a  Vossa  Alteza  que  lhe  lem  escrytas  duas  cartas  pedindovos  por 
merce  hum  abyto  pera  hum  seu  doulor,  letrado  e  homem  de  bem,  pera 
poder  ter  Renda  co  ele,  e  mais  pola  honra,  sem  lhe  Vossa  Alteza  nunca 
Responder:  que  lhe  bcyjaraa  as  maos  fazerlhe  esta  merce.  Eu  lhe  disse 
cao  estreyto  Vossa  Alteza  nysto  agora  estaua ;  porem  que  uolo  escreue- 
rya,  pois  mo  mandaua.  Se  o  Vossa  Alleza  nom  ouver  por  mal,  seraa  bem 
fazer  lhe  esta  merce,  que  ele  estimaraa  muilo,  e  podera  seruyr  em  myl 
cousas  pera  que  he  bom  ter  muitos  deles  por  amygos  e  seruydores,  e  mais 
com  tao  pouca  cusía.  Vossa  Alteza  lhe  faca  esta  merce  e  se  lcmbre  de 
lhe  mandar  Responder,  que  sao  desconfyados  e  cuydao  oulra  cousa  ;  e,  se 
Iha  quiser  fazer,  o  doulor  se  chama  castilho,  e  eu  lho  lancarey  se  Vossa 
Alteza  me  mandar  o  alvara,  e  tambem  pera  o  fazer  primeiro  caualeyro  : 
e  damyao  diaz  ou  fernao  d  aluarez  o  lembrarao  a  Vossa  Alteza.  Qua,  se- 
nhor, nom  ha  oulras  novas  senao  que  o  capilao,  que  o  emperador  tiuha 
em  coron,  em  torquya,  he  morto  com  outros  oytenta  ou  cem  homens 
hyndo  com  toda  a  gente  a  pee  dar  n  urna  aldea  ;  e  dos  mouros  dizem  eles 
que  morreriio  oytocentos  ou  myl,  mas  homem  aa  lhes  de  crer  o  que  faz 
contra,  e  nao  por  eles. 

ítem.  Senhor,  aquí  mando  a  Vossa  Alteza  o  trelado  da  sentenca  do 
papa  contra  el  Rey  d  yngraterra ;  e,  ela  dada,  vyerao  ou  aparecerao  de 
novo  certas  creencas  del  Rey  pera  os  embaixadores  de  franca,  em  que  diz 
que  quer  desystyr  do  atentado,  a  saber,  apartarse  da  manceba  e  estar  a 
justica  da  ygreja,  e  que  o  papa  mande  tratar  este  negoció  mays  perto 
donde  ele  eslaa  pera  poder  mylhor  enformar  de  seu  direito  no  negocio 
principal :  a  ysto  ouuo  loguo  congregacao  de  cardeaes :  nom  se  sabe  ainda 
o  que  se  determynaraa,  porem  ere  se  que  ludo  sao  modos  de  dylacoes ; 
porem  a  sentenca  he  contrayra,  de  que  nom  ha  hy  apelar  senao  pera  o 
concylio,  que  deus  sabe  canto  mylhor  serya  (?)  que  o  que  vemos  na 
ygreja. 

Noso  senhor  guarde  e  acrecenté  o  estado  Real  de  Vossa  Alteza  como 
seus  criados  desejamos. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  81 

Senhor,  se  Vossa  Alteza  nysto  mais  quiser  enlesar  co  papa,  pare- 
ce me  que  deue  de  querer  que  o  emperador  tambem  o  escreva  mais  aper- 
ladamente ao  papa  e  ao  seu  embaixador ;  e  nysto  crea  Vossa  Alteza  que 
vay  muito :  e  se  ouuer  de  querer  o  perdao  como  o  papa  quer  e  eos  ou- 
tros  pontos  a  uontade  de  Vossa  Alteza,  seja  com  entrar  loguo  a  enqui- 
syeao ;  e  o  perdao  acabado  comece  loguo  a  enquisyeao  :  e  tudo  a  instan- 
cia de  Vossa  Alteza,  como  diz  santiquatro  nessa  carta  l,  que  me  man- 
dou  mostrar  tendo  feyta  esta.  E  Vossa  Alteza  escreualhe  e  agardecalhe 
muito  canto  ele  se  mete  e  quer  meter  ñas  cousas  de  uoso  seruyeo ;  e  sem 
esta  carta  de  Vossa  Alteza  verdaderamente  nom  ousarey  eu  destar  nem 
parar  em  Roma.  E  o  que  nysto  fyzemos  e  trabalhámos  por  este  breue 
hyr  como  vay,  e  o  negocio  estar  nos  pontos  em  que  estaa,  algum  ora  o 
dyrey  e  mostrarey  a  Vossa  Alteza  ;  mas  agora  nom  me  quero  gabar,  ainda 
que  fora  muito  mais  o  que  fyzemos,  pois  de  lodo  nom  vay  á  vonlade  de 
Vossa  Alteza  como  noos  desejámos.  Torno  a  lembrar  a  Vossa  Alteza  que, 
Reuogando  a  uosa  enquisyeao,  ou  nom  querendo  por  agora  usar  déla  e 
o  perdao  do  papa,  pareceraa  que  o  perdao  se  Reuoga  por  Vossa  Alteza 
nom  ser  dele  contente  :  e  esse  nuncio  seja  loguo  vyndo  ;  E  cando  depois 
Vossa  Alteza  quyser  a  enquisyeao  concertar  vos  eis  co  papa  mylhor  que 
co  nuncio  laa ;  e  amainando  cada  um  seu  pouco,  farsaa  ludo  mylhor  e 
tudo  a  uosa  instancia  e  pelicao,  e  com  mais  contentamento  d  um  cabo  e 
do  oulro.  Perdoe  me  Vossa  Alteza  por  lhe  fazer  tantas  lembrancas  e  de- 
pois da  data,  e  mande  nos  Vossa  Alteza  muito  decraradamente  o  que  fa- 
remos.  Nesle  maco,  que  vay  ao  nuncio,  vay  o  breue  pera  Vossa  Alteza; 
e  por  esse  maco  hyr  seguro,  e  por  guardarem  ordens  (?)  a  esse  nuncio, 
quiserao  que  fosse  dentro  nele  e  nos  deliuerao  este  correo  tres  dias,  o 
qual  parte  sesta  feira  dez  dabryl,  antes  de  jantar,  1534. 

Criado  de  Vossa  Alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
gue  m.  2. 


1  Nao  appareceu  a  carta  de  Santiquatro  a  que  se  refere. 

2  Abch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  5,  n.°  36.  Ñas  costas  do  documento  ha  urna  cota  que 
diz:  De  dom  amrrique  de  meneses  de  dez  dias  d  abrill  que  trouxe  castanhos  oje  xxvh 
(ou  xxvm)  dias  do  dito  mes  de  1534. 

TOMO  III.  11 


s:>  CORPO  DIPLOMÁTICO  PQRTUGUEZ 


Breve  tío  Papa  Clemente  VII. 


1531  —  .tul lio  2G. 


Clemente  papa  vn  pera  futura  memoria  desta  cousa. 

Como  quer  que  a  nos,  tanto  com  mais  eficacia  cuidando  ha  humana 
necesidade  de  morer,  quanto  quada  dia  mais  sentimos  nos  mais  agrá- 
menle sermos  afligido  pela  presente  enfermidade,  antre  outras  cousas  que 
ocorem  pera  auermos  de  ordenar  pera  descargo  de  nosa  consciencia,  isto 
permeiramente  veo  em  nosa  mente  que,  posto  que  em  outro  tempo,  com- 
pelendonos  a  piedade  juntamente  e  as  deuinas  e  humanas  leis,  a  todos, 
e  maiormente  aos  cristaos  nouos  que  moram  no  regno  de  porlugal,  te- 
nhamos  concedido  perdam  dos  erros  pasados,  cometidos  asi  contra  a  fee 
de  cristo,  como  em  outro  modo  qualquer  cometidos,  Cuidando  em  tal 
maneira  d  aqui  por  diante  prouer  a  vida  futura  desles  que  nem  elles  en- 
tendessem  que  pecariam  sem  castigo,  nem  fosse  deixado  poder  a  qual- 
quer de  cruelmente  e  sem  piedade  vsar  contra  elles  de  crueza  ;  porem  nos 
atee  ora  has  nosas  letras  dadas  soo  seto  de  chumbo  do  dicto  perdam  de- 
fendemos serem  publicadas  pelo  venerando  varao  noso  irmao  marco  bispo 
de  sinogalha,  nosso  nuncio  no  mesmo  regno  do  purlugal,  nam  por  ou- 
tra  rezam,  senam  por  aprazermos  ao  muilo  amado  em  cristo  filho  nosso 
Joanne,  ¡Ilustre  Rey  de  purlugal  e  dos  algarues,  o  qual  nos  amoeslou  per 
seu  special  embaixador  que  nos  queria  significar  muilas  cousas  perlcn- 
cenles  á  gloria  de  cristo  sobre  o  dicto  concedimento  de  perdam  :  mas 
agora  repetindo  nos  em  noso  animo  que  ia  ha  dias,  tendo  nos  ouuidos 
asi  o  embaixador  do  dicto  Rey,  spicialmente  por  esta  causa  enuiado,  como 
o  uenerando  irmao  noso  marlinho,  arcebispo  do  funchal,  seu  embaixa- 
dor stante  acerca  de  nos,  e  maduramente  consideradas  todas  as  cousas 
que  per  elles  dictas  e  dadas  em  scrito  foram,  foy  a  todas  subficienlemente 
dada  reposta  e  mais  claro  que  a  luz,  asi  per  as  allegacoes  dos  nosos  ho- 
mens  pera  o  tal  cargo  escolhidos,  como  per  nossa  carta  em  forma  de 
breue  dada  ao  mesmo  Rey  demonstrado  quanto  asi  á  ciislaa  religiam  como 
á  piedade  humana  todas  as  dictas  cousas  conuinham,  que  per  nos  nesta 


RELACÓES'  COM  A  CURIA  ROMANA  83 

causa  foram  constituidas,  e  ia  per  qualro  meses  e  ainda  mais  speramos 
o  que  se  repricasse  a  estas  cousas  per  o  dicto  Serenissimo  Rey,  dese- 
iando  de  nenhuma  cousa  statuir  em  seu  regno  que  delle  nom  fosse  apro- 
uado  e  recebido  com  grato  animo,  nos  nom  querendo,  se  acontecer  que 
falecamos,  alem  dos  oulros  erros  de  nosa  fraqueza,  desle  dar  conta  ao 
muito  boom  e  muito  grande  deus  que  teuemos  mais  consideracam  e 
graca  de  huum  Rey  tereal  que  a  sua  gloria  e  saude  do  pouo  a  nos 
cometido  ;  Sendo  instructo  da  iuslica  e  muito  boa  equidade  do  dicto  per- 
dam,  per  estas  nosas  letras  de  noso  proprio  molo  slaluimos,  declara- 
mos, stabelecemos  e  queremos  que  has  letras  do  dicto  perdam  em  to- 
das as  cousas  e  per  todas  tenham  aquela  forca  e  auctoridade,  asi  e  da 
maneira  que  a  teueram  se  no  dicto  regno  foram  publicadas,  enadendo 
mais  isto :  que,  se  pelo  dicto  serenissimo  Rey,  o  qual  nom  eremos,  ou 
per  seus  oficiaes  ou  pouos,  for  fecto  que  os  diclos  nouos  crislaos  segura- 
mente nom  possam  comprir  aquelas  cousas,  que  nos  ñas  dictas  letras  man- 
damos comprir  pera  que  posam  conseguir  o  dicto  perdao,  sem  embargo 
disso  elles  naquelas  cousas  que  pertencem  a  noso  poder  temporal  quanto 
ao  foro  contencioso  seiam  auidos  por  absolutos  e  liures,  e  em  nenhuum 
modo  por  rezam  dos  dictos  delitos  do  tempo  da  dada  deslas  em  dianle 
per  uia  de  inquisicam  ou  de  visilacao  ordinaria  ou  extraordinariamente 
possam  ser  molestados  ou  inquietados;  Confiado  que  aquele,  se  acontecer, 
que  por  prouidencia  deuina  nos  for  sorogado  no  cuidado  do  apostolado 
prouerá  a  futura  vida  destes  com  a  mesma  charidade  e  iuslica,  com  a 
qual,  se  deus  nos  der  tempo  ou  se  deus  quiser,  entendemos  prouer;  man- 
dando ao  mesmo  bispo  de  sinogalha  noso  nuncio,  o  qual  pera  isto  cons- 
tituimos spicial  execulor,  que  em  nosso  nome  e  da  see  apostólica  esta  nosa 
declaracam  e  vontade  faca  execular  debaixo  das  mesmas  cominacoes  e  cen- 
suras, que  se  conlem    ñas  letras  do  dicto  perdao,    dadas  soo  selo  de 
chumbo :  sem  embargo  das  dictas  letras  asi  soo  plumbo  como  em  forma 
de  breue  emanadas,  as  quaes  derogamos  pera  efecto  deslas,  auendo  os 
teores  de  todas  ellas  por  subficicntemente  expressos,  e  sem  embargo  de 
quaesquer  outras  cousas. 

Dadas  em  Roma,  acerca  de  Sam  pedro,  soo  anulo  do  pescador,  a 
xxvi  de  iulho  de  1534,  do  nosso  pontificado  anno  xi.° — Blosius. 

E  eu  Ambrosio  Nanius,  clérigo  milanes,  pubrico  pela  apostólica  e 

11* 


84  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

imperial  auctoridades  notario,  porque  este  presente  trelado.de  seu  origi- 
nal proprio  treladey,  por  tanto  ho  asiney  de  meu  sinal  e  nome  acoslu- 
mados  em  fee  e  testemunho  das  cousas  ácima  dictas1. 


Caria  de  D.  Henrique  de  llene*  es  a  el-llei. 

1534  —  Agosto  19. 


Senhor.  —  Pois  vosa  alteza  nom  ha  por  seu  seruico  mandar  me  que 
me  vaa,  nem  como  o  qua  sirua  em  nada,  nom  poso  eu  acabar  comyguo 
de  deixar  de  lho  lembrar  cantas  uezes  poso,  e  deus  sabe  canto  me  co  yso 
pesa :  e  pois  nom  syruo  dal,  como  ja  em  outras  escreuy  a  vossa  alteza, 
seruyrey  de  dar  novas  dos  temporaes,  que  dos  esprytuaes  ha  qua  tao 
pouquo  e  tao  poucos  que  em  pouca  leitura  se  comprenderyao. 

ítem.  Senhor,  a  xx  do  mes  pasado  de  julho  escreuy  a  vosa  alteza 
que  era  entao  hura  cardeal  morto,  e  outro  ficaua  no  estaleyro,  o  qual 
todauya  morreo :  chamauase  o  cardeal  de  la  valle ;  era  proleilor  da  or- 
dem  de  sao  francisco,  e  proteytor  do  emperador  dos  Reinos  de  castela  ; 
homem  ja  uelho  e  gotoso  e  nao  de  muito  saber.  E  apos  elle  morreo  lam- 
bem  outro,  que  chamavao  o  cardeal  gaelano  ou  sao  systo,  tambem  ue- 
lho, da  ordem  de  sao  domyngos,  o  mor  letrado  em  teologya  que  auya 
na  cryslandade  e  que  tem  feilo  muitas  obras ;  de  maneira  que  este  ueraó 
morrerao  tres,  com  que  muito  pesa  ao  embaixador  de  castella,  porque 
erao  todos  muito  imperyaes. 

ítem.  Senhor,  o  papa  tambem,  que  ficaua  ja  bem  cando  escreuy  a 
vosa  alteza,  esteue  muito  perto  d  yr  acompanhar  seus  tres  cardeaes ;  e 
ja  fica  bem,  porem  nao  sao  de  todo.  E  co  seu  estar  pera  morrer  foy  toda 
Roma  reuolta  e  posta  em  armas,  e  nom  auya  aquy  senao  arcabuzes  e  ve- 
las e  Roldas  cada  um  em  sua  casa,  e  myl  reuollas  pola  cydade ;  nem 


1  Arch.  Nác,  Gav,  15,  Mac,.  16,  n.°  18.  Traduccao  contemporánea,  sem  authen- 
ticidade,  do  breve  Cum  inter  alia  (citado  na  Verdadc  Elucidada,  Argum.  n.°  10)  cujo 
original  nao  podemos  encontrar.  Na  Gav.  2,  Mac.  1,  n.°  40  ha  outra  versao  d'este 
breve  feita  pela  mesma  pessoa,  c  que  parece  tcr  sido  a  primeira  tentativa. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  85 

auya  justica,  nem  gouernador,  nem  ousaua'sayr  de  casa.  E  apos  isto 
asomou  aquy,  antre  ñapóles  e  Roma,  barba  Roxa  com  nouenta  ate  cem 
gales  e  fustas,  e  saquejarao  huma  uyla  de  ñapóles  daquy  sesenta  my- 
lhas.  Foy,  senhor,  aquy  lamanho  o  medo  que  nom  sabiao  onde  se  me- 
ter, e  auyao  medo  de  cynquo  ou  seis  myl  homens  de  mar  vyrem  outra 
\'ez  saquejar  Roma ;  e  ainda  nom  eslao  muito  fora  desle  Receo,  que  o 
barba  Roxa  pasou  pera  baixo :  nom  sabemos  que  fará.  O  embaixador  do 
emperador,  conde  cyfuentes,  escreue  a  andre  dorya  que  arme  e  se  ue- 
nha  qua ;  mas  ele  he  sesudo  e  sabe  de  la  guerra  ;  nom  sey  se  ousaraa, 
nom  se  ajuntando  mais  gales  que  as  suas.  Nom  ha  qua  outra  nova,  que 
seja  pera  contar,  senao  que  pera  este  medo  se  fizerao  aqui  dois  mil  e 
quinhentos  homens  de  soldó,  e  ja  os  mandarao  fora., 

Eu  tenho  escryto  a  vosa  alteza  myl  uezes,  e  que  estou  em  casa  do 
arcebispo  por  me  asy  parecer  uoso  seruico  e  mynha  honra,  ainda  que 
contra  meu  gosto  e  conlenlamento,  nao  ja  polo  gasalhado  senao  por  ou- 
tras  myl  colisas,  que  os  homens  querem  antes  suas  pousadas ;  mas  co  a 
incerteza  qu  eu  estou  nom  pode  ser  como  compre  a  uoso  seruico,  e  por 
yso,  e  porque  eu  qua  nom  faco  nada,  e  ja  fora  despachado  se  vosa  al- 
teza quysera,  lhe  beijarey  as  raaos  deterraynar  com  cedo  mynha  hyda  de 
qua,  sendo  vosa  alteza  primeiro  seruydo,  como  eu  querya.  Noso  senhor 
a  uyda  e  Real  estado  de  vosa  alteza  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma  a  xix  d  agosto  1534. 

ítem.  Senhor,  depois  desta  feila  me  deu  o  arcebispo  huma  carta  de 
vosa  alteza  sobo  los  mosteiros  de  dom  manuel  de  sousa :  logo  fomos  aos 
cardeaes :  erao  no  paco:  e  porque  este  parte  lao  depresa,  nom  podemos 
tornar  a  eles,  somente  dar  esta  conta  a  vosa  alteza.  Se  este  se  delyuer 
pera  lhes  pódennos  falar  primeiro  que  a  parle,  daremos  de  ludo  conta  a 
vosa  alteza  do  que  pasarmos.  E  hum  dos  cardeaes  ueo  co  nome  errado, 
scilicet,  vynha  nomeado  por  grimano,  e  ele  chamase  trana,  com  que 
meto  a  dom  manuel  huma  pouca  de  maa  uontade ;  porem  loguo  lhe  torno 
a  dizer  a  uerdade  que  se  emmende  o  nome  do  sobrescrito. 

Criado  de  vosa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beija  —  Dom  aun- 
que m.  l. 


1  Arch  Nac,  Corp.  Chron.  Part.  I,  Mac.  53,  Doc.  82. 


8G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Carta  de  D.  Henricfiie  de  Heneases  a  el-Rei. 

1534  —  Agosto  21. 

Senhor.  — Ontem,  que  forao  xx  deste  agosto,  partió  d  aqui  hum  fy- 
dalgo  caslelhano  pola  posta,  polo  qual  escreuy  a  vosa  alteza  que  me  foy 
dada  huma  carta  sua  pera  o  arcebispo  e  eu  falarmos  a  dous  cardeaes 
sobo  los  mosleiros  de  dom  manuel  de  sousa ;  e  na  oulra  lh  escreuy  que 
loguo  aquele  dya  fomos  aos  cardeaes,  e  por  serem  em  congregacao  no 
paco  Ihes  nom  falámos.  O  outro  dia  loguo,  que  foy  anlontern,  fomos  laa, 
e  o  arcebispo  lhes  deu  as  carias  de  vosa  alteza  e  sóbrelas  lhe  falou  tanto 
e  lao  bem  como  o  ele  sabe  fazer,  e  como  quem  traz  este  negoeyo  an- 
tras  maos  de  muilo  lempo,  de  maneira  que  a  mym  nom  foy  necessaryo 
falar :  ele  daa  mais  larga  conta  a  vosa  alteza  do  que  nos  Responderao, 
e  por  yso  me  parece  sobejo  tórnalo  eu  nesla  mynha  a  relatar. 

ítem.  Senhor,  o  papa  eslaa  doenle,  e  ora  parece  que  vay  a  bem, 
ora  torna  a  recayr  e  estar  pyor,  de  maneira  que  sua  doenca  foy  ategora 
e  poderaa  ainda  ser  muito  mais  longa  ou  sua  vyda  mais  breue.  E,  se- 
gundo as  cousas  qua  parece  que  eslfio  empoladas,  se  ele  morrer  será  muy 
longa  cousa  fazer  se  outro  papa ;  e  posto  que  nom  seja  mais  do  acostuma- 
do,  será  muito  tempo  em  meo  primeiro  que  se  posa  negociar  co  ele,  se 
este  morre,  nem  co  esle  antes  de  convalecer.  Veja  vosa  alteza  se  será  mais 
seu  seruico  mandar  me  hyr,  e  o  arcebispo  ficar  acabando  d  asentar  de  seu 
vagar  estes  negocios,  que  ja  parece  que  eslao  na  escolha  de  vosa  alteza 
pera  se  lhe  concederem  em  cada  um  d  aqueles  modos  que  lhe  temos  es- 
cryto  per  fernao  castanho ;  e  isto  e  tudo  poderaa  o  arcebispo  e  saberaa 
fazer  lam  bem  e  mylhor  queu,  como  sempre  fez,  que  estaa  d  asento,  e 
estar  lh  aa  mylhor  aguardar  os  lempos  pera  negocear  as  cousas,  porque 
eu,  senhor,  ha  oyto  meses  que  qua  sou  sem  fazer  nada,  e  em  qualro 
acabara  tudo  se  vosa  alteza  quysera  mandar  recado  a  seu  tempo  deuydo ; 
e  estar  nesta  casa  da  feycao  que  estou  e  como  vym,  e  tanto  lempo,  nom 
parece  ja  bem,  e  mudar  me  pera  outra,  como  la  dizia  a  vosa  alteza,  como 
vym  a  esta,  ja  nom  pode  ser  que  pareca  uoso  seruyeo  nem  honra  de 
noos  ambos,  e  por  yso,  senhor,  vosa  alteza  me  deuya  de  mandar  hyr 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  87 

consyrando  prymeiro  muilo  bem  se  será  isto  asy  iríais  voso  seruico  :  e 
se  lho  asy  nao  parecer,  nom  digno  eu  aquy,  senao  no  cabo  do  mundo, 
onde  vos  eu  possa  fazer  algura  seruyco,  auerey  que  me  faz  deus  e  vosa 
alteza  muy  grande  merce  ern  me  mandar  estar,  porem  verdaderamente 
que  isto  que  diguo  asy  mo  parece  e  que  deue  de  parecer  asy  a  vosa  al- 
teza ;  e  as  mais  Razoes  por  huma  parte  e  pola  outra  vosa  alteza  as  olhe 
e  determyne,  e  do  que  mais  ouuer  por  seu  seruyco  me  faca  merce  que 
me  queyra  mandar  loguo  responder  pera  eu  asentar  que  ha  vosa  alteza 
por  bem  deu  qua  estar,  e  da  maneira  que  eslou,  e  que  nom  he  descuydo 
ou  nom  ler  de  mym  a  lembranca  que  lheu  mercco.  Noso  senhor  a  vyda 
e  estado  Real  de  vosa  alteza  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma  a  xxi  d  agosto  1534. 

Criado  de  vosa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja. — Dom  anri^ 
que  m.  l:  •  ' 


Carta  de  1).  Henrique  de  llenezes  a  el-ltei. 


1534  —  Setembro  3. 


Senhor.  — Nao  tenho  outra  cousa  que  poder  escreuer  a  vosa  alteza 
senao  que  o  papa  aa  feytura  desta  fyca  uyuo  e  vay  mylhorando,  e  ao  que 
vyueraa.  O  que  agora  tem  pyor  he  fastio,  porem  do  al  vay  cada  vez  es- 
lando  mylhor ;  e  quero  eu  lembrar  a  vosa  alteza,  se  lhe  nom  parecer 
mal,  que  nom  no  parecerya  qua  mándalo  vosa  alteza  vysytar  da  ma- 
neira que  lhe  mylhor  e  mais  seu  seruyco  parecer.  Qua  nom  ha  outra  no- 
vydade  de  que  dar  conla  a  vosa  alteza,  somente  lembrar  lhe  que  eslou 
eu  qua  sem  porque,  e  sem  ser  seruyco  de  vosa  alteza,  cuja  vyda  e  Real 
estado  noso  senhor  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  tres  de  setembro  1534. 

Criado  de  vosa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  anri- 
gue  m. 2. 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  53,  Doc.  86. 

2  Ibidem,  Doc.  104. 


88  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 


Projecto  de  instruccoes  aos  embai  madores. 


1534  —  Setembro  3. 


Pera  dom  martinho. 

Na  resposta  d  outras  cousas  nam  falo,  asy  de  servico  d  el  Rey  como 
das  suas  que  ele  spreveo,  soomente  nesla, 

1  Ilem.  Que  ele  vio  tudo  o  que  Ihe  spreveo  em  Reposta  deste  ne- 
gocio da  Inquisicam,  e  o  que  passou  com  o  papa,  e  vio  as  Rezoes  que 
o  mesmo  dom  marlynho  lhe  spreve,  e  asy  o  breve  que  lhe  o  papa  man- 
dou,  cujo  trelado  lhe  envia ;  e  se  espanta  muyto  e  lhe  desapraz  quanlo 
pode  ser  de  sua  sanlidade  nom  querer  viir  em  cousas  tam  iguaes  como 
lhe  tem  pedidas  nesta  inquisicam,  e  com  tantos  comprimenlos  de  grande 
amor  e  com  a  obidiencia  que  lhe  tem  e  sempre  ha  de  ler,  muy  conforme 
ao  tempo  pera  o  servico  de  noso  senhor  e  de  sua  santidade,  o  que  sua 
santidade  tudo  deve  olhar,  porque,  certo,  se  o  bem  olhase,  lhe  nom  pare- 
ceria  Rezam  de  insistir  em  cousas,  que  se  nom  podem  negar  que  sam 
mais  servico  de  noso  senhor  que  as  que  de  laa  se  apontam ;  nem  pode 
aver  Rezam,  se  como  christao  ele  o  nom  olhase,  pera  nom  ser  o  que  Re- 
querese  o  que  lhe  concede  e  nam  o  que  pede,  porque  o  amor  de  seu 
povo,  de  que  esta  nacam  he  grande  parte,  muyto  mor  he  que  o  que  lhe 
pode  ter  o  papa,  e  o  proveilo  que  do  mesmo  povo  Recebe  a  sua  coroa 
he  muy  grande  ;  e  quanto,  por  querer  conservar  esta  nacam  e  trazelos  a 
serem  verdadeiros  christaos,  ele  os  honrou  e  favoreceo  por  lhe  asesegar 
os  spiritos  e  verem  que  nom  eram  menos  eslimados  que  os  outros,  an- 
tes tam  honrados  e  islimados,  visto  e  sabido  he  de  todos ;  mas  que,  asy 
como  ysto  sempre  se  fez  ao  fym  do  seruico  de  noso  senhor,  e  foy  cousa 
muy  debida  fazerse,  asy  tem  por  cousa  muy  grave  aver  se  de  ter  com 
eles  taes  modos  que  o  favor  e  honra  que  sempre  tiveram,  e  a  maneira 
do  castigo  d  agora  nos  culpados,  os  desponha  a  serem  piores  do  que  sam, 
e  entendam  quem  bem  negocearem  eslaa  a  salvacam  e  Remedio  de  suas 

1  Á  margem  Use:  Pera  cada  huum  sua  ata  a  +. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  89 

culpas  pera  nunqua  averem  de  ser  punidos  e  castigados:  e  pois  que  lam 
pouquo  difere  o  que  o  papa  diz  do  que  lhe  ele  pede,  e  he  visto  erara- 
mente  pelas  mesmas  Rezoes  das  cousas  que  o  que  lhe  pede  será  mais 
proveiloso  pera  emmendar  as  vidas  desles  homens  e  suas  conciencias,  e 
ñora  tem  em  sy  Rigor  alguum,  mas  muy  grande  equidade,  que  averia  por 
cousa  muy  desarrezoada,  a  qual  poderia  mal  sofrer,  nom  no  aver  sua 
santidade  por  bem  e  nom  lho  conceder  logo;  e  por  amostrar  mais  cla- 
ramente o  boom  zelo  com  que  o  faz,  e  dar  causa  manifesta  a  toda  esta 
nacam  pera  que  cream  que  outra  cousa  o  nom  move  senam  a  salvacam 
de  suas  almas  e  zelo  de  os  poer  em  boom  caminho,  queremdo  os  hon- 
rar e  favorecer  em  tudo  como  sempre  fez,  ouve  por  bem  de  pedir  a  sua 
santidade  acerqua  de  suas  fazendas  o  que  no  Capitulo  que  disto  fala  vay 
declarado ;  e  que  ainda  que  pelas  Rezoes  que  la  lhe  manda,  e  Reposta 
que  se  faz  ao  que  se  de  laa  apontou,  eslee  muy  claro  que  deve  ser  da 
maneira  que  lho  pede,  que  ele  nom  quis  que  este  sen  Requerimento  fose 
como  cousa  obrigatoria  de  se  lhe  dever  de  fazer  pelas  mesmas  Rezoes, 
mas  como  merce  e  graca  special  que  lhe  pede,  pera  a  qual  nom  quer 
que  aproveitem  as  Rezoes,  soomente  pera  per  elas  veer  que  sem  scru- 
pulo  de  sua  conciencia  lho  pode  conceder,  ou  mais  verdaderamente  que 
por  obrigacam  déla  o  deue  asy  de  fazer.  E  a  maneira  que  ham  de  ter 
em  Requerer  yslo  a  sua  santidade  ha  de  ser  dar  lhe  sua  carta,  per  que 
lhe  pede  esta  merce,  e  insislirem  que  sua  santidade  lha  faca  por  lha  ele 
pedir  como  aquecer  tanta  Rezam  he  que  sua  santidade  folgue  de  fazer  o 
que  lhe  pede,  e  de  o  ter  contente  e  nom  lhe  dar  tamanho  desconlenla- 
menlo  como  seria  por  lhe  alguuma  duuida  ou  dilacam  nisto.  E  que  Ihes 
mandou  que  pera  lhe  pedirem  esta  merce  outra  Rezam  alguuma  lhe  nom 
desem  nem  amostrasem,  senam  esta  de  lho  ele  asy  pedir  e  sua  santi- 
dade por  amor  dele  lho  dever  de  conceder,  e  que  por  desea rrego  da  con- 
ciencia d  ambos  asentou  em  lho  pedir  da  maneira  de  que  lho  pede,  por- 
que asy  deve  ser  +  sprita 

ítem.  Se  o  papa  se  escusar  que  faram. 
ítem.  Duarte  da  paz  K 


1  Rascunho  no  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  1,  n.°  31.  No  verso  daulíima  folha  tem 
a  cota  seguinte  :  Pera  dom  martinho  e  pera  dom  anrique  de  menezes.  Feita  a  m  de  se- 
tembro  1534. 

TOMO  II!.  12 


90  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Insti*ncc?des  aos  cmhaixaclorcs. 

1534  —  «etcmbro  3. 


Dom  Anrique  etc.  Vy  vosas  cartas  de  n  (lias  de  marco  e  de  ix  e 
de  xxv  do  dito  mes,  que  vieram  per  via  d  aluaro  mendez,  meu  embai- 
xador,  E  asy  outra  de  vm  d  abril,  e  duas  de  ix  do  dito  mes,  e  oulra  de 
x  do  dito  mes,  que  trouxe  castanho l  ;  e  da  conta  que  me  daes  do  que  fizes- 
tes  neste  negocio  a  que  vos  mandey  Receby  contenlamento,  e  foy  tudo 
tam  bem  feyto  como  de  vos  confio  que  em  tudo  me  serviros.  E  ás  outras 
cousas  que  me  nelas  aponlaes  vos  Responderey  per  outra  carta,  e  nesla 
soomenle  ao  que  toca  a  este  negocio  a  que  fostes :  e  certo  nom  podera 
crer  que  o  padre  santo  me  Responderá  da  maneira  que  me  Respondeo, 
mas  avia  por  cousa  sem  duuida  que  com  vosa  chegada  satisíizese  em  tudo 
ao  que  Ihe  pedya ;  e  por  m  o  asy  negar  o  quis  tornar  a  mandar  ver, 
porque,  como  nislo  nunca  insisty  senam  por  me  parecer  seruico  de  noso 
senhor,  e  que  se  deve  fazer  como  o  peco,  ainda  que  bem  visto  o  livese, 
quis  que  de  novo  se  vise  e  praticase,  E  por  iso  nom  Respondy  mais  cedo : 
e  depois  de  asy  ser  visto  e  pralicado  me  espanto  mais  de  se  la  entender 
d  outra  maneira,  e  por  certo  tenho  que  he  por  falsas  enformacoes,  que 
os  mesmos  seus  leterados  lhe  dam  e  Recebem  por  parte  dos  desla  nacam, 
que  muy  bem  negoceam  e  solicitan»  o  que  desojan»,  e  he  escusado  tratar 
dos  meos  que  pera  iso  tem,  pois  voló  asy  parece,  como  mo  sprevés  por 
vosas  cartas.  Eu  ouue  por  milhor  esprever  ao  papa  da  maneira  que  pelo 
trelado  de  sua  carta  veres  que  em  outra  alguüa,  pois  deve  de  ler  sabido 
por  vos  e  por  o  arcebispo  etc.  quanto  me  desapraz  de  me  nom  conce- 
der cousa  tam  justa  e  devida,  que  soomente  pelo  que  toca  a  sua  con- 
ciencia e  á  minha  Ih  o  peco ;  e  porque  nom  fique  nenhuua  por  fazer,  quis 
agora  como  tam  obidiente  filho,  e  que  tanto  deseja  scu  seruico  como  eu 


1  Diz  á  margem:  Pera  o  arcebispo  —  De  vi  días  de  mare,o  e  outra  de  ix  e  outra 
de  x  c  outra  de  xv  todas  do  dito  mes  de  marco.  E  duas  de  vm  d  abril  que  trouxe  cas- 
tanho c  outra  de  x  do  dito  mes  que  trouxe  o  voso  capclam. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  91 

o  desejo,  pedir  Ihe  que  por  ine  fazer  merce  soomente  mo  queira  conce- 
der, segundo  veres  pela  dita  carta,  a  qual  Ihe  darés  vos  e  o  arcebispo 
junlamente;  e  asy  Ihe  falarés  da  suslancia  da  oufra  caria  que  sobre  yslo 
vos  sprevo,  pedindolhe  com  boas  palavras  e  cam  aperladamente  poder 
ser  que  aja  por  bem  de  me  fazer  esla  merce  que  Ihe  peco,  pois  que  ja 
por  esta  via  de  ma  fazer  niso  muy  grande  lho  peco,  E  asy  a  Receberey 
por  muyto  grande,  a  qual  porem  vos  credes,  por  ser  cousa  propia  de  mi- 
nha  conciencia,  que  lha  nom  pediría  por  merce,  senam  avendoa  por  muy 
justificada  e  grande  servico  de  deus. 

ítem.  Per  eses  apontamentos  veres  o  que  peco  e  quero  que  se  faca: 
e  concedendo  vos  Sua  Sanlidade  o  que  asy  Ihe  mando  pedir,  lyrarés  as 
bulas  da  lnquisicam  da  maneira  que  lho  peco  e  com  toda  breuidade,  e 
mas  mandares  per  huum  correo  em  diligencia,  e  vos  dirés  a  Sua  Sanli- 
dade oque  por  vosas  istrucoes  levaves1,  e  farés  tudo  asy  como  nelas 
se  contem  :  e  feyto  yslo  vos  vires  em  boa  ora  a  voso  prazer,  por  nom  can- 
sardes  pelas  postas. 

ítem.  Ainda  que  Ihe  peca  que  soomente  por  me  fazer  merce  me  con- 
ceda ysto,  e  desta  maneira  quero  que  lho  pecaes,  pareceo  me  bem  man- 
dar vos  as  Rezoes  dos  leterados  em  Repostas  das  suas,  pera,  como  de  voso, 
poderdes  dizer  que  esta  merce  he  muy  justa,  segundo  vos  parece  pelos 
fundamentos  que  ñas  Rezoes  que  vos  mando  se  contem,  dizendo  délas  o 
que  virdes  que  serve  aos  tempos  quando  e  onde  entenderdes  que  com- 
pre ;  as  quaes  vos  tomares  bem  na  memoria  pera  as  lancardes  como  de 
voso  e  cousa  que  vos  la  ocorreo  com  a  pratiqua  do  negocio,  sem  Ihe  mos- 
trardes  as  Rezoes  nem  parecer  que  de  ca  foram  em  modo  alguum,  an- 
tes gardarés  tam  bem  o  papel  que  nom  posa  ser  visto.  O  que  asy  vos 
encomendó  e  mando  porque  asy  o  ey  por  meu  servico,  e  nom  quero  dar- 
causa  a  se  porem  em  Repricas,  porque,  ainda  que  nom  sejam  verdadei- 
ras,  sempre  os  leterados  acham  aparencias  do  que  querem. 

ítem.  Se  o  papa  vos  nom  conceder  ysto  da  propia  maneira  que  lho 
peco,  depois  de  terdes  feyto  todo  o  posiuel,  me  avisares  em  diligencia  e 
esperares  la  minha  Reposta  :  e  eu  tenho  por  muy  certo  que  ele  nom  pora 


1  A  margem:  Pera  a  carta  do  arcebispo  —  e  dona  Anrique  dirá  a  Sua  Santidade 
o  que  levava  per  suas  istrucoes  e  se  vira  em  boa  ora  da  maneira  que  lho  sprevo :  e  vos 
me  spreverés  largamente  o  que  sentirdes  que  he  meu  seruico. 

12 


92  COIU'Ü  DIPLOMÁTICO  POKTUGÜEZ 

duuida  a  me  tudo  conceder,  pois  ha  ja  tam  pouca  deferenea  do  que  lhe 
peco  ao  em  que  ele  estaa,  segundo  per  vosas  cartas  me  sprevesles  ;  e  mais 
agora,  pois  nom  quero  suas  faseudas,  segundo  vay  no  apontamento  e  esla 
foy  sempre  minha  tencam,  nom  lhe  poderám  dizer  que  nisto  ¡nsyslo  a  ou- 
tro  fym  senam  por  querer  que  ajam  medo  de  pequar  e  vivam  bem.  Muylo 
vos  encomendó  que  tudo  facaes  com  diligencia  e  boom  Recado  que  de  Vos 
confio  e  compre  em  cousa  que  me  tanto  toca,  e  tanto  desejo  que  se  acabe 
bem  pelo  seruico  que  sinto  que  niso  faco  a  noso  senhor.  E  oulra  propia 
como  esta  sprevo  ao  arcebispo  pera  ambos  juntamente  em  tudo  fazerdes 
o  que  digo  como  que  a  huum  soo  sprevese. 

ítem.  Vos  ajudarés  nisto  do  embaixador  do  emperador,  e  sejaes  com 
ele  muy  corcntes  e  Recebaes  dele  a  ajuda  que  vos  fizer  boa  ou  maa,  tendo 
tal  maneira  que  nom  posa  dizer  que  a  nom  quisestes  ou  déstes  causa  pera 
que  a  ele  nom  fizese,  e  lhe  darés  conta  inteiramenle  do  que  nesle  nego- 
cio pasar,  porque  asy  o  hey  por  meu  seruico  ;  e  ysto  sprevendo  o  empe- 
rador ao  seu  embaixador  que  o  faca,  e  alvaro  mendez  a  vos  que  o  em- 
perador lho  spreve. 

ítem.  De  minha  parte  falarés  aos  cardeaes  conforme  a  todo  o  nego- 
cio segundo  vos  spreuo,  e  Ihes  darés  as  cartas  de  crenca  que  sobre  iso 
lhe  spreuo,  com  muytos  agardecimentos  das  boas  palavras  que  Santy- 
quatro  me  spreveo  e  per  vos  me  mandou  dizer1. 


1  Minuta  no  Arch.  Nac,  (iav.  2,  Mac.  2,  n.°  36.  Ñas  costas  do  documento  lé-se 
Pera  Dom  Aunque  —  Feita  a  m  de  selembro  1534. 


RELACÜES  GOM  A  CURIA  ROMANA  93 


Movas  allcgacoes  dos  letrados  portugueses  contra 
a  bulla  do  perdao  geral  (a). 


Todo  o  que  na  Reposta  que  se  daa  aos  apontamentos  e  inconvinien- 
tes,  que  por  parte  delRey  noso  senhor  se  aleguam  pera  a  bula  do  per- 
dam  concedida  aos  christaos  nouos  nom  aver  efeito  na  forma  em  que  he 
concedida,  consiste  principalmente  em  duas  cousas,  de  que  tomam  todo 
o  fundamento  os  que  dizem  a  concesam  do  tal  perdam  ser  equa  fc  justa. 

A  primeira  he  dizerem  que  nenhuum  desta  gente  foy  conuerlido  á 
fee  de  chrislo  noso  salvador  por  temor  de  deus ;  mas  que  parte  deles  por 
forca  foram  levados  ao  sagrado  bautismo;  parle  deles  se  foy  ao  dito  ba- 
ptfsmo  com  medo  das  penas  de  perderem  suas  fazendas  e  Ihe  serem  to- 
mados seus  filhos  :  o  que  ham  por  alheo  e  estranho  da  Religiam  christa, 
porque,  segundo  a  doutrina  chrislaa,  nom  deue  alguum  a  ela  ser  per 
forca  trazido. 

Ha  isto  se  Responde  que  muito  pouquos,  ou  casy  nenhuuns  dos  que 
ora  se  podem  ajudar  deste  perdam,  podem  alegar  por  sy  com  verdade 
nenhuma  das  ditas  forcas,  porque  a  conuersam  geral,  em  que  querem 
dizer  que  ouue  alguuma  forca,  ha  muytos  annos  que  foy,  pelo  qual  dos 
em  ela  bautizados  os  mais  saín  mortos,  outros  ydos  destes  Reynos,  e  os 
que  neles  viuem  e  sam  presentes  folgaram  de  serem  christaos  e  se  bau- 
tizaram  muyto  por  sua  vontade,  porque,  se  nom  folgaram,  muyto  tempo 
liveram  pera  se  yrem  ;  e  muytos  dos  christaos  novos  que  ora  ha  sam 
vindos  dos  Reinos  de  Castela  a  estes  Reinos,  os  quaes  nom  foram  bau- 
tizados per  forca,  deles  com  medo  da  Inquisicam  que  la  anda,  deles  ja 
em  ela  culpados  e  condenados ;  e  os  outros  foram  bautizados  meninos  e 
sendo  ja  seus  pais  e  mays  bautizados  e  ávidos  por  christaos  ao  tempo  de 


(o)   Creinos  serem  estas  as  Rezoes  dos  Ieterados  a  que  se  referem  as  instruccoes  an- 
tecedentes. 


94  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

scus  nacimenlos :  e  se  os  que  ora  viuem  podera  alegar  alguuma  forca,  se 
a  hy  ouuesse  seria  forca  condicional  e  compulsiua  de  se  eles  quererem 
tornar  chrislaos  de  sua  ^ntade  por  temerem  de  perder  suas  fazendas,  a 
qual  forca  condicional  os  nam  escusa  nem  deue  escusar,  máxime  visto  o 
tanto  lempo  que  ha  que  se  íizeram  christaos  e  sam  bautizados,  em  o  qual 
tempo  sempre  se  nomearam  e  trataram  por  christaos,  aprouando  o  sacra- 
mento do  bautismo  que  Receberam,  e  tomando  os  santos  sacramentos  da 
Igreja. 

ítem.  Os  santos  padres  statuiram  que  os  bautizados  por  forca  con- 
dicional sejam  obligados  e  competidos  a  guardar  a  profisam  christaa,  e 
manda  (tve)  que,  se  a  nom  guardarem,  se  proceda  contra  eles  como  con- 
tra herejes :  o  qual  ha  equidade  canónica  statuio  sem  lhe  limitar  tempo 
de  avef'pouquo  ou  muito  que  foram  bautizados ;  e  com  muy  la  mais  causa 
se  deue  guardar  esta  canónica  delerminacam  de  direito  nos  que  tantos 
anuos  ha  que  foram  bautizados. 

ítem.  Muyta  menos  Rezam  tem  os  filhos  e  netos  destes  que  foram 
bautizados  meninos  pera  alegar  a  tal  forca,  e  dizerem  que  foram  criados 
com  os  ditos  seus  pais  e  avós  nos  dañados  errores  e  tomaram  deles  mao 
emxempro  :  postoque  os  pais  e  avoos  viuesem  nos  errores  da  dañada  ju- 
daica superislicam,  e  lhes  desem  mao  emxempro,  eles,  pela  muyta  par- 
ticipacam  que  tem  com  os  cristaos  velhos,  e  por  yrem  ás  igrejas  ás  pre- 
gacoes  e  misas  e  oficios  diuinos,  e  por  se  confesarem  e  ouuirem  e  sabe- 
rem  a  doutrina  christa,  poderam  bem  emmendarse,  se  quiseram,  dos  er- 
ros  dos  pais  e  avoos,  como  os  bons  deles  íizeram.  Pelas  quaes  Rezoes,  e 
por  oulras  que  mais  largo  nos  apontamentos  sam  dilas,  consta  quam  maa 
enforrnacam  se  deu  a  sua  Santidade  em  lhe  dizerem  que  estes  sam  bau- 
tizados per  forca,  e  cam  pouco  se  deue  daver  a  iso  Respeito. 

E  posto  que  por  direito  os  judeus  nom  deuam  ser  coslrangidos  nem 
compelidos  a  nosa  santa  fee,  o  zelo  e  tencam  e  obra  dos  que  deram  causa 
a  que  alguuns  com  arreceo  de  alguuma  forca  compulsiua  se  baulizascm 
e  tornasem  a  Religiam  christaa  nom  deue  ser  lam  estranhado,  porque, 
se  olhamos  a  sagrada  esprilura,  acharemos  emxempros  donde  pera  iso  se 
pode  tomar  ocasiam,  e  de  ditos  c  autoridades  de  santos  doulores ;  e  acha- 
remos que  alguuns  foy  feita  forca  pera  cnlrarem  na  Religiam  crislaii,  e 
muylos  compelidos  a  a  guardar.  Lemos  noso  mestre  chrislo  Jesu  noso 
salvador  trazer  paulo  per  forca  compulsiua,  c  induzilo  com  grande  vio- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROiíANA  93 

Iencia  ao  conhecimenlo  de  sua  santa  fee,  e  esle,  que  per  forca  foy  tra- 
zido  á  ley  euangelica,  em  o  euangclho  mais  que  lodos  os  outros  que  per 
palauras  foram  prouocados  Irabalhou  ;  e,  como  diz  agoslinho,  pois  Cristo 
asy  a  paulo  conuerteo  porque  a  egreja  nom  compelerá  pera  tornarem  e 
virem  a  ela?  ítem,  como  o  mesmo  agoslinho  diz  escrevendo  a  bonifacio 
e  donato  presbítero,  aquela  semelhanca  do  conuite,  que  Jemos  no  avan- 
gelho,  em  que  o  Senhor  mandou  a  seus  servos  que  saisem  pelos  cami- 
nhos  e  fora  deles,  e  os  que  achasem  costrangesem  a  entrar  ao  convite 
pera  que  sua  casa  fose  chea,  o  convite  do  senhor  he  a  unidade  do  corpo 
de  christo  nom  somente  no  sacramento  do  altar,  mas  no  vinculo  da  paz, 
como  o  mesmo  agostinho  declara.  ítem,  como  o  dito  doulor  agoslinho  diz 
ad  vincencium,  quem  nom  louuará  as  leis  dos  catoliquos  emperadores, 
pelas  quaes  foram  defesos  os  sacrificios  dos  pagaos  e  posta  pena  ?  ítem 
na  epístola  ad  uincencium  donatista  diz  agostinho  que  ele,  quando  a  pri- 
meira  era  deteudo  na  ceguidade  da  infydelidade,  era  de  openiam  que  ne- 
nhuum  deuia  ser  constrangido  á  verdade  de  christo,  e  que  por  palavras 
se  avia  de  fazer,  e  por  dispula  de  pelejar,  e  por  Rezam  vencer,  pera  que 
a  igreja  nom  tevese  fingidos  chrislaos ;  mas  que  depois  que  conuerteo  sua 
face  ao  lume  da  verdade  conheceo  que,  nom  soomente  per  palavra  e  au- 
toridades se  devia  de  Reprender  tal  sentenca,  mas  aínda  por  emxempros, 
porque  a  sua  cidade,  como  fose  primeramente  toda  ás  openioes  de  do- 
nato hereje  conuerlida,  foy  depois  lomada  á  vnidade  católica  com  temor 
das  leis  emperiaes,  a  qual  maldade  em  seu  tempo  vio  asy  ser  detestada 
como  se  nunqua  fora ;  e  asy  lhe  foram  contadas  outras  cidades  nomea- 
damente  em  que  o  mesmo  aconteceo.  Pelo  qual  pelas  mesmas  cousas  co- 
nheceo que  nesle  caso  Reciamente  se  pode  entender  o  que  estaá  escrito 
«dá  ao  sabedor  ocasiaó  e  será  mais  sabedor»,  craro  está  que,  posto  que 
a  alguuns  desta  gente  fora  feila  alguuma  forca  ou  temor,  que  lhe  foy 
feita  obra  de  misericordia  em  os  tirar  da  danacam  eterna  e  poer  em  ca- 
minho  pera  se  poderem  salvar,  e  por  iso  nom  tem  de  que  se  aqueixar; 
e,  como  o  mesmo  agostinho  diz,  muitos  dos  costrangidos,  e  que  com  fin- 
gida vontade  entraram  nesla  profisam  cristaa,  depois  comecaram  e  vie- 
ram  a  ter  de  verdade  per  misericordia  de  deus  o  que  a  principio  fingi- 
damente Receberam,  e  asy  he  de  crer  que,  dado  que  alguims  a  princi- 
pio per  fingida  vontade  se  fezeram  christaós,  que  depois  o  foram  com 
verdadeira  e  se  salvaran).  Diz  santo  agostinho  :  «  muyto  sam  inquietos  os 


96  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

que  pelas  potestades  seculares  ordenadas  por  deus  sam  costrangidos,  mas 
a  raym  nom  me  parece  sem  proveito  serem  coregidos  porque  folgamos 
que  muytos  en)  tal  maneira  foram  coregidos.  Se,  na  verdade,  alguem  vise 
seu  ¡migo,  feito  frenético  com  febres  perigosas,  corer  pera  yr  dar  consigo 
de  cabeca  em  lugar  onde  córese  perigo  de  morte,  Este  tal  nao  daría  mal 
por  mal  se  o  deixase  yr  e  nom  tevese  mao  em  ele  e  o  atase  per  forca 
pera  ser  curado,  e  porem  entam  parecería  ao  frenético  que  o  que  o  alava  ' 
lhe  era  grande  contrairo  e  imigo,  sendo  lhe  muyto  proveitoso  e  miseri- 
cordioso. E  porem  se  este  frenético  depois  fose  sao,  tanto  mais  daria  gra- 
cas  ao  que  o  alase,  quanto  sentise  que  mais  seguramente  o  atou ;  e  pois 
ysto  se  deue  fazer  pela  saude  corporal,  lamto  mais  se  deve  fazer  pela 
saude  das  almas».  Pela  qual  Rezam  el  Rey  dom  manuel  da  muyto  louuada 
memoria  o  que  fez  foy  com  conselho  de  teólogos  mestres  e  dou lores  em 
a  sagrada  teología,  e  como  principe  christianisimo,  e  vsou  com  esta  gente 
de  grande  misericordia  em  os  tirar  da  morte  e  poer  em  caminho  da  sal- 
vacam,  e  eles  perante  o  juiz  do  eterno  tribunal  nom  tem  de  que  lhe  pe- 
dir Rezam,  mas  os  que  se  salvaren)  lhe  daram  muy  las  gracas ;  e  os  que 
por  sua  vonlade  se  quiseram  perder,  querendo  os  ele  salvar,  nom  tem 
de  que  lhe  poer  culpa,  porque  ja  eram  dañados,  mas  culpar  se  ara  a  sy 
mesmos ;  e  o  dito  senhor  Rey  do  eterno  juizo  Receberá  o  galardam  da 
misericordia  que  obrou,  e  terá  contentamente  dos  que  por  sua  obra  se 
salvaram.  Se  agoslinho  eremos  e  aos  que  opoem  do  libero  arbitrio,  e  di- 
zem  que  nenhuum  deve  ser  costrangido  pera  o  bem,  o  que  donato  opu- 
nha  agoslinho,  ele  lhe  Responde  por  estas  palavras :  «olha  e  considera 
que  todos  sabemos  que  o  homem  nom  ha  de  ser  dañado  senam  pelo  mc- 
reciraento  de  sua  maa  vonlade,  nem  ser  salvo  senam  se  tever  boa  von- 
tade ;  e  porem  nem  por.  iso  os  que  má  vontade  tem  ham  de  ser  permiti- 
dos a  que  vsem  de  sua  maa  vontade  sem  castigo,  raas  por  quem  tera  po- 
der deuem  ser  costrangidos  ao  bem  e  prohibidos  do  mal,  porque,  se  a 
maa  vonlade  ouuera  de  ser  dcixada  a  sua  liberdade,  porque  os  iralilas 
recusantes  e  murmurantes  com  tantos  acoules  eram  prohibidos  do  mal  e 
coslrangidos  pera  a  Ierra  da  promisam  ?  »  Pelas  quaes  Rezóos,  dado  que 
a  esles  nouos  christaós  fora  feito  alguum  costrangimenlo  pera  averem  de 
viir  á  .verdadeira  fee  de  christo,  posto  que  se  nom  deuera  fazer,  nom  he 
cousa  pera  tanto  eslranhar,  nem  eles  novos  crislaos  tem  causa  de  se  quei- 
xarcm.  ítem  per  princepes  muyto  católicos  lemos  serem  costrangidos  a 


RELAOÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  97 

tomarem  a  profisam  cristaa,  e  alguuns  doulores  teólogos  tem  que  se  pode 
fazer. 

O  segundo  fundamento,  era  que  parece  se  fundar  a  dita  reposta  aos 
ditos  apenlamentos,  he  dizer  que  estes  cristaos  novos,  que  dizem  ser  tra- 
zidos  á  Religiam  cristara  per  forca,  nom  serení  doulrinados  nem  ensina- 
dos  na  fee ;  e  dizem  que  a  doutrina  e  amoeslacam  deuera  preceder  o  cas- 
tigo segundo  Rezara  e  juslica.  Gerto  esto  se  podera  dizer  se  nos  estive- 
ramos  nos  primeiros  annos  depois  de  sua  conuersam,  em  que  elles  nom 
poderam  ser  ainda  ensinados  sera  deles  se  ter  grande  e  especial  cuydado  ; 
mas  depois  de  trinta  e  tantos  annos,  era  o  qual  terapo  soo  a  geral  con- 
uersacam,  que  tem  com  os  chrislaos,  e  o  que  lhe  vém  fazer  abastou  pera 
averera  de  ser  ha  muytos  annos  ensinados,  parece  mais  buscar  ocasiam 
que  dar  Rezara  a  tal  escusa  pera  nom  serem  castigados,  quanto  mais  que 
os  chrislaos  nouos  desles  Reynos  foram  sempre  depois  de  serem  bautiza- 
dos acaz  ensinados,  porque,  logo  no  principio  de  sua  conuersam,  lhe  fo- 
ram feitas  muytas  speciaes  pregacoes,  e  foram  doulrinados  na  fee;  e  os 
mais  deles  viuem  e  vi  «erara  sempre  era  cidades  e  vilas  nobres,  onde  ha 
rauitos  pregadores  asy  nos  moesteiros  como  ñas  igrejas  calredaes  e  paro- 
chiaes,  e  Reitores  e  curas  doctos,  e  pesoas  de  boons  emxempros,  que  con- 
tinuadamente ensinam  seus  freguezes ;  e  antre  estes  chrislaos  novos  ha 
muytos  leterados  em  teología,  e  cañones,  e  leis,  e  oulras  sciencias.  E  em 
tantos  annos,  como  ha  que  foy  esta  conuersam,  visto  he  que  os  que  nam 
sam  ensinados  foy  com  malicia  de  o  nom  quererem  saber,  e  nam  por  min- 
gua  do  boom  ensino,  que  tiveram,  se  quiseram,  asy  como  os  boons  de- 
les o  tem.  E,  certamente,  quererse  dizer  que  he  causa  agora  de  serem 
perdoados  nom  serem  ensinados,  parece  fora  de  toda  Rezam,  e  que  ñora 
se  deu  a  Sua  Santidade  do  caso  como  pasa  boa  enformacam  :  e  quando 
por  esta  causa  se  deuese  de  aver  com  alguuns  Respeilo  dos  erros  pasa- 
dos, e  temperar  o  Rigor  do  direito,.  bem  abasta,  e  ainda  he  vsar  de  so- 
beja  misericordia,  conceder  lhe  o  perdam  na  forma  em  que  se  por  parle 
de  sua  alteza  pede.  Devese  olhar  quam  duramente  os  santos  barocs  cas- 
tigaram  os  que  delinquiram  contra  a  honra  de  deus,  o  castigo  que  se  deu 
per  mousés  aos  que  adoraram  o  bezerro,  c  o  que  diz  no  avangelho  Lu- 
cas, xix  capitulo,  «  os  raeus  imigos,  aqueles  que  nom  quiseram  que  eu  Rei- 
nase sóbreles,  trazeios  ca  e  malayos  dianle  de  mym  »,  e  o  que  diz  sam 
Jerónimo  in  dialogo  contra  Pelagium  «serám  queimados  os  maos  e  peca- 

tomo  ni.  13 


98  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dores  juntamente,  e  os  que  deixam  I  deus  seram  consumidos» :  e  deuem 
a\er  por  piadosa  misericordia  perdoarse  o  pasado  a  quem  pedir  perdam 
com  cauteta  que  tenha  temor  de  mais  pequar. 

E  Respondendo  á  Reposta  que  se  daa  aos  inconuinienles  postos  ao 
teor  da  bula :  Ao  primeiro  que  dizem  que  Reprendemos  o  teor  da  bula, 
dizendo  que  nom  dá  prouisam  aos  trazidos  á  proíisam  chrislaa  per  forca 
precisa,  porque  ha  nom  entendemos,  porque  em  ela  se  lhes  da  expresa- 
mente provisam  pela  clausula  que  eslaa  na  bula,  segundo  dizem,  per  que 
Sua  Sanlidade  staluyo  que  os  que  este  perdam  com  aquelas  condicoes 
com  que  he  dado  nom  quiserem  tomar,  a  estes  fosse  licito  yr  ao  nució 
de  Sua  Sanlidade,  e  a  ele  seguramente  dar  Rezam  de  sua  \ida  e  estado, 
declarando  abertamente  que  Recebidas  deles  as  escusacoes  de  cada  huum 
cuydaua  de  prouer  a  vida  futura  destes :  parece  esta  clausula  que  está  na 
bula  como  em  ela  está  nom  falar  nesles  tornados  pe*r  forca  precisa,  nem 
deles  se  deuer  entender ;  e  a  clausula  he  a  seguinle :  « ac  quod  si  al  i  qui 
ex  prediclis  ómnibus,  tara  nouiler  conuersis,  quara  alliis  presenlibus  et 
absentibus,  reperienlur,  qui  presenlem  graliam  modis  premissis,  duranli- 
bus  diclis  mensibus,  suscipere  nolluerinl,  lapsis  eisdem  mensibus,  (gra- 
tiis)  per  presentes  concesis  nullo  modo  gaudere  possint :  qui  lamen  si  ad 
sui  excusationem  alliquid  aferré  uolluerint,  benigne  et  secundum  man- 
sueludinem  cristianara  audiantur,  el  eorum  iura  et  defensiones  ad  nos  per 
eundem  nunlium  suo  segilo  clause  milanlur»1.  Como  claramente  parece, 
esta  clausula  se  Refere  aos  que  podem  vsar  das  condicoes  da  bula  e  nom 
o  quiseram  fazer  ou  nom  poderam  dentro  no  lempo  per  a  bula  lemitado, 
ora  fosem  presentes  ora  absenles,  e  nom  fala  nos  tornados  per  forca,  que 
nom  podem  vsar  das  condicoes  da  bula  ;  nem  diz  a  bula  que  dos  que  vie- 
rem  dentro  do  tempo  envié  suas  excusacoes  a  Sua  Sanlidade  o  nució : 
pelo  qual  ao  que  vier  dentro  nos  meses  leraitados  dizer  ao  nuncio  que 
he  judeu  e  o  quer  ser,  e  que  foy  bautizado  per  forca,  a  bula  nom  pro- 
ueo,  nem  menos  nos  que,  pasados  os  meses,  vierem  dizer  que  sara  ju- 
deus  c  tornados  per  forca  precisa,  se  nam  se  entendemos  sub  verbo  « uol- 
luerint »  id  est  «  vcl  non  poluerinl»  e  que  a  clausula  nollunlatis  inportet 
etiam  impotenliam  el  sic  nollunlatem  facti  el  iuris,  e  enlam  ainda  se  ñora 
enlende  nos  que  vem  dentro  nos  meses. 

1  Vide  a  bulla  Sempiterno  Ilcgi  a  pag.  430  do  //  vol.  date  Corpo. 


relaqOes  com  a  CURIA  ROMANA  99 

E  ainda  se  diz  que,  Referindose  o  leor  da  bula  aos  que  disesem  que 
foram  tornados  per  forca  precisa,  e  querendo-lhe  o  Sanio  padre  dar  pro- 
visan)  pera  as  enformacoes  secretas  que  desera  enviadas  pelo  nuncio  a 
Sua  Sanlidade,  se  seguiría  muyto  mayor  inconvinienle  que  de  ficarem  sem 
provisam,  porque,  como  confesam,  os  que  desla  gente  sam  judeus  sam 
muylo  endurecidos  em  suas  supersticoes  e  perfias,  e  dado  que  foram  bau- 
tizados per  suas  vonlades  se  yriam  ao  nuncio  dar  enformacam  que  foram 
bautizados  per  forca  precisa  e  que  queriam  ser  judeus ;  e  se  pelas  ditas 
secretas  enformacoes  dos  taes  ouuesem  de  ser  próvidos,  e  os  Sua  Sanli- 
dade ouuese  de  prouer  como  dizem,  deixando  os  yr  ser  judeus  com  suas 
fazendas  em  paz,  lodos  diriam  que  foram  bautizados  por  forca,  postoque 
o  foram  per  sua  vonlade,  de  que  se  seguirían)  muytos  males  spirituaes  e 
lemporaes.  Spirituaes  que  estes,  sendo  na  verdade  christaos,  se  hiriam 
viuer  como  judeus  fazendo  escarneo  do  sacramento  do  bautismo.  Ilem 
lemporaes  porque  com  tal  fraqueza  (al.  franqueza)  de  se  yr  com  suas  fa- 
zendas a  viver  como  judeus,  que  he  o  que  mais  que  todas  as  cousas  de- 
sejam  os  que  deles  maos  sam,  se  yriam  muytos,  e  levariam  grosas  fazen- 
das que  nestes  Regaos  lem  a  lurquia  e  outras  parles  de  Infles,  e  esbulha- 
riam  estes  Reinos  do  que  em  eles  ganharam,  e  o  levariam,  e  fariam  os 
turquos  e  imigos  de  nosa  fee  com  as  fazendas  que  de  qua  levariam,  mais 
Ricos,  o  que  he  contra  todo  servico  de  Deus.  Pelo  qual  a  provisam  aos 
taes,  que  disesem  serem  bautizados  per  forca  precisa,  nom  se  deue  dar 
per  taes  secretas  enformacoes  enviadas  pelo  nuncio  a  Sua  Sanlidade  ;  mas 
o  que  diser  que  he  bautizado  per  forca,  como  quer  que  a  presuncam  es- 
lee  clara  contra  ele,  ao  menos  por  aver  tantos  annos  que  se  nomea  por 
christao,  ha  de  provar  judicialmente  ha  dita  forca,  e  per  testemunhas  fi- 
dedinas  maiores  de  toda  excepcam,  alias  se  fariam  muylo  grandes  enga- 
ños, e  seria  abrir  porla  por  onde  lodos  os  maos  se  fosem  com  suas  fazen- 
das pera  turquia  e  Ierras  de  infléis ;  e  por  tanto  nom  he  de  crer,  e  parece 
imposiuel  que  a  tencam  do  santo  padre  foy  pela  dita  clausula  dar  a  es- 
tes determinada  provisam. 

Parece  tambera  nom  se  deuer  de  presumir  ho  que  em  este  caso  se 
diz,  a  saber,  que  he  de  presumir  que  soomente  do  sacramento  da  confi- 
sam  vsarám  os  que  dele  podem  vsar.  Certo  o  direito  nos  manda  que  nom 
sigamos  noso  saber,  senara  os  decretos  dos  padres;  e  elles  nos  ensinam 
o  que  hemos  de  presumir,  e  dizem  que  do  raao  huuma  vez  hemos  de  pre- 

13* 


100  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sumir  mal,  em  o  mesmo  genero  de  mal.  ítem  que  da  vida  pasada  de 
htwm  presumamos  pera  presente  e  futura  ;  e  se,  como  dizem,  ha  alguuns 
bautizados  per  forca,  estes  ha  trinta  e  tantos  annos  que  se  confesam  e 
cumungam  fingidamente ;  e  pois  o  fizeram  tantos  annos,  de  crer  e  pre- 
sumir he  que  o  farám  agora,  nem  se  vé  como  al  se  posa  presumir.  ítem 
mais  agora  se  deue  ler  esta  presuncam  que  em  as  outras  vezes,  porque 
desta  confisam  fingida  conseguem  perdam  no  foro  judicial,  e  das  outras 
vezes  nom  o  conseguiam,  e  agora  ficam  perdoados  e  seguros  que  mais 
nom  ham  de  ser  acusados  nem  contra  eles  se  ha  de  imquirir  dos  erros 
pasados,  de  crer  he  que  esta  vez  folgarám  muyto  de  se  confesar  fingida- 
mente, como  ha  tantos  annos  que  fazem,  se  diso  se  Ihes  seguir  tanto  pro- 
ve  i  to. 

ítem  :  quem  ha  de  presumir  que  pois  asy  sam  perdoados  que  estes 
queiram  dizer  que  sam  judeus,  senam-os  que  se  quiserem  yr  do  Reynot 
mas  os  que  quiserem  fiquar  nam  o  ham  de  dizer  porque  sabem  que  sendo 
judeus  nam  podem  viver  nestes  Reinos,  e  ham  de  deixar  seus  filhos  e  pa- 
rentes.  ítem  :  que  lhes  nom  ham  de  consentir  levar  seu  dinheiro,  ouro, 
prata  e  joyas  pera  fora  do  Reino,  e  outras  cousas  pera  as  levarem  a  tur- 
quia  e  térras  de  infieis.  llera  :  Se  se  diser  estes  dirám  que  querem  ser 
christaos,  certo  douidou  muyto  santo  agoslinho  do  que  toda  sua  vida  foy 
mao  que  a  ora  da  morte  se  salue ;  e  asy  he  pera  duuidar  destes  que  ha 
córenla  annos  que  uiuem  em  nome  de  christaos  sem  tal  quererem  dizer. 
Itera :  como  o  bautismo  he  auto  que  ja  se  faz  em  pubrico,  deste  Reme- 
dio nom  falam  os  inconuinienles  ñera  a  bula,  e  falam  soomenle  dos  que 
com  o  Remedio  da  confysam  sacramental  querem  ser  perdoados. 

Itera  :  aínda  ao  que  disese  ser  bautizado  por  forca  precisa,  por  ñora 
cayr  em  inconviniente  de  ser  bautizado  duas  vezes,  parece  por  a  presun- 
cam que  h?  contra  ele,  que  ácima  se  dise,  que  seria  necesario  mostrar 
como  foy  o  primeiro  bautismo  per  forca  precisa. 

Das  quaes  causas  consta  que  se  deue  presumir,  irao  ter  por  certo,  que 
os  que  podem,  e  os  que  nom  podem  por  nom  serení  christaos,  se  hahy 
ha  alguuns,  todos  vsarám  do  Remedio  da  confisam  secreta  e  sacramen- 
tal ;  pois  o  tantas  vezes  fizeram  fingidamente,  asy  o  farám  agora. 

<  E  dizer  nom  he  a  culpa  do  Remedio  da  confisam,  mas  dos  que  mal 
vsam,  posto  que  alguuns  mal  vscm  dele,  a  yslo  se  Responde  que  o  dy- 
reito,  per  que  nos  Regemos,  nos  manda  e  amocsla  que  nom  demos  jura- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  tai 

mentó  a  quem  eremos  que  se  ha  de  perjurar,  nem  se  vse  da  medecina 
da  excumunham  com  o  que  sabemos  que  ha  ha  de  desprezar;  e  que  o 
perdam  ao  que  huuma  vez  se  acha  cometer  eresia  se  nam  dee,  senara 
áquele  de  que  se  presume  que  se  arrepende  e  o  pede  verdaderamente ; 
e  nom  parece  que  se  deue  de  dar  a  estes  perdam  com  condicam  de  con- 
fisam  sacramental  de  quem  temos  presuncam  que  se  confesaram  fingida- 
mente, como  atee  ora  fizeram,  nem  parece  Rezara  de  se  dar,  pois  hy  ha 
outros  meos  pera  serem  perdoados  os  que  pedirem  perdam,  que  o  direito 
daa,  e  mais  descobertos,  em  que  se  nom  podem  cometer  lam  levemente 
ficois  e  engaños,  e  ao  menos  sem  se  fazer  escarneo  do  sacramento  da  con- 
fisam. 

E  quanlo  á  reposta  que  dam  ao  segundo  inconuiniente,  e  dizem  que 
queremos  obrigar  os  christaos  novos  a  que  confesem  á  igreja  no  foro  ex- 
terior os  pecados  ocultos,  dos  quaes  soo  deus  he  juiz  e  sam  deixados  a 
seu  juizo,  cerlamentc  esta  nom  he  nosa  tencam,  nem  nos  parece  que  tal 
disemos  era  nosos  apontamentos,  porque  craro  estaa  que  os  dilitos  ocul- 
tos, que  nam  se  podem  provar  judicialmente,  nom  se  deue  ninguem  obri- 
gar a  os  confesar  ás  Igrejas,  e  que  destes  ha  igreja  se  nom  deue  satisfa- 
cam,  e  se  deuem  deixar  ao  divino  juizo ;  mas  soomente  talamos  nos  cri- 
mes  cometidos  que  se  podem  provar,  dos  quaes  cada  dia  a  igreja  juiga 
sendo  trazidos  a  juizo  constando-lhe  deles  per  prova. 

ítem :  nos  nom  eremos  obrigal  os  a  confesar  contra  suas  vonlades  pe- 
cado alguum,  nem  manifestó  nem  oculto,  somente  dizemos  que  o  que  qui- 
ser  pedir  perdam  venha  confesar  no  modo  que  se  pede,  e  nom  dizemos 
que  confesem  os  pecados  de  todo  ocultos,  que  se  lhes  nom  podem  pro- 
varr  porque  destes  onino  ocultos  a  igreja  nom  julga,  e  ficam  fsicj  deles 
a  vinganca  ao  juizo  de  deus,  e  destes  nom  fala  o  inconuiniente.  Hi  ha 
duas  maneiras  de  pecados  ocultos:  huuns  que  sam  lam  ocultos  que  se 
nom  podem  provar,  e  destes  parece  se  entendem  as  autoridades  que  di- 
zem que  a  igreja  nom  julga  dos  pecados  ocultos,  e  que  dizem  que  se 
deixa  a  vinganca  ao  juizo  de  deus,  e  destes  se  entende  o  que  lemos  que 
ninguem  nom  ha  de  publicar  o  pecado  do  próximo  ainda  que  seja  pera 
o  coreger,  pois  Iho  nom  pode  provar :  ha  outros  pecados  ocultos  que  se 
podem  provar,  e  chamam-se  ocultos  a  deferenca  dos  manifestos  e  públi- 
cos, e  destes,  que  se  podem  provar  bem,  pode  e  deue  a  igreja  de  jul- 
gar,  e  cada  dia  julga.  Destes  pecados  ocultos  que  se  podem  provar  se 


102  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

pode  pralicar  a  auloridade  «si  pecaueril  in  le  Ira  le r  luus»,  e  ainda  di- 
zem  os  doulores  juristas  que  se  o  pecado  he  de  eresia,  que  o  próximo  có- 
mele, porque  he  crime  contagioso,  se  se  teme  que  este  dañará  oulros,  que 
o  poso  yr  denunciar  á  igreja  sem  preceder  amoestacam.  Desles  ocultos  que 
se  podem  provar  diz  agoslinho :  «se  es  juiz  e  poder  de  julgar  teens  per 
rcgra  ecclesiaslica,  se  acerqua  de  ty  for  acusado  e  per  leslemunhas  ou 
vcrdadeiros  docomenlos  for  comprendido,  costrange,  castiga,  escomunga, 
degrada».  Ilem  Gregorio  diz:  «sam  alguuns  delitos  que  nam  podem  ser 
punidos  por  penas  corporaes,  mas  a  vinganca  deles  se  ha  de  deixar  ao 
diuino  cxame,  quando  nom  podemos  eixercitar  a  vinganca  porque  os  de- 
linqnenles  nos  nam  sam  sujeitos,  ou  quando  sabemos  os  crimes  mas  nom 
os  podemos  provar».  E  pois  que  como  o  crime  se  pode  provar  per  tes- 
lemunhas  ou  prova  logo  a  igreja  no  foro  exterior  pode  castigar,  se  estes 
quizerem  perdam  de  taes  crimes  que  se  lhe  podem  provar,  qual  será  a 
Rezam  porque  no  mesmo  foro  exterior  nom  pecam  perdam  deles  á  igre- 
ja, porque  constando  deles  em  alguum  tempo  á  igreja  no  foro  exterior  e 
juizo,  posa  a  igreja  ser  certa  como  deles  este  foy  perdoado,  asy  como  he 
certa  que  ele  os  taes  crimes  cometeo?  e  ysto  nom  pode  ser  pela  confisam 
sacramental  :  e  que  estes  ajam  de  pedir  Reconciliacam  á  igreja  no  foro 
exterior  parece  claro  por  Rezam  e  direito ;  e  nom  se  pode  dizer  que  se 
Ihes  poem  mais  obrigacam  da  que  os  direitos  os  obligam,  antes  se  lhe 
tira  grande  parle  do  modo  e  forma  em  que  os  taes  ercjes  per  o  sagrado 
direito  canónico  sam  obrigados  a  pedir  o  perdam  e  se  reconciliar. 

Ilem :  Dizer  que  nom  he  de  presumir  que  virám  ao  sacramento  da 
confisam  fingidamente,  a  ysto  estaa  asaz  Respondido  que  antes  he  de  pre- 
sumir e  crer  que  aqueles,  que  ha  (finta  annos  que  se  confesam  fingida- 
mente, se  confesarán)  tambem  agora  fingidamente :  e  esta  he  a  presuncam 
que  deuemos  ter,  como  atrás  tica  dito. 

ítem  :  Dizer  que  Sua  Sanlidade  nom  concede  este  perdam  com  soo  o 
sacramento  da  confisam  aos  acusados  ou  inquiridos  por  graves  suspei- 
tas,  mas  que  aos  taes  manda  que  se  compurguem  ou  defendam  ;  ysto  nom 
tira  o  inconuinienle,  porque  os  mais  dos  erejes  que  ha  em  estes  Reynos, 
ou  quasy  lodos,  nam  sam  acusados  nem  inquiridos  pela  igreja,  e  fazem 
suas  eresias  encubertamcnte,  E  porem  nom  lanío  cncubcrlamenle  que  se 
Ihes- nom  posa  provar;  c  oulros  tanbem  sam  infamados,  mas  nam  sam 
acusados  nem  inquiridos,  e  a  estes  nom  poem  a  bula  necesidadc  de  com- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  103 

purgarem  senam  quando  a  lal  infamia  pubrica  vier  ás  orelhas  do  nuncio, 
e  perdoa  aos  oulros  infamados,  per  soo  confisam  sacramental. 

E  dizer  que,  se  se  nom  perdoarem  esles  crimes  senam  pedindo  re- 
conciliacam, será  ocasiam  que  os  boós,  e  que  em  laes  crimes  nom  peca- 
ram,  serám  conslrangidos  a  pedir  esta  Reconciliaban)  com  lemor  de  Ihes 
serení  depois  alguumas  culpas  provadas  pera  serem  seguros;  a  esto  se 
Responde  que  esta  necesidade  ninguem  lha  poem,  eles  ha  quererám  (?) 
tomar  os  que  ha  tomarem  :  e  menos  inconuiniente  he  que  esles  pccam  per- 
dam  do  que  nom  comeleram,  que  dar  ocasiam  de  se  perdoar  a  quem  pe- 
quou  e  nom  se  arrepende  nem  pede  perdam,  e  a  tantas  fingidas  coníisoes 
e  tantos  escárneos  como  se  do  sacramento  da  confisam  farám. 

ítem  :  Os  que  nunqua  cairam  cm  tal  culpa  deuem  destar  bcm  se- 
guros, e  nom  deuem  temer  o  que  nom  fizeram,  e  deuem  confiar  na  verda- 
de  de  sua  inocencia,  contra  a  qual  o  summo  deus  nom  permitirá  que  seja 
alguem  condenado,  mayormente  de  pesoas  que  desejam  de  fazer  juslica. 

ítem  :  Ninguem  lhes  poe  necesidade  de  mentir  o  que  nom  fizeram 
de  sy;  e  a  forma  em  que  se  pede  que  facam  a  Reconciliacam,  e  pecan) 
o  perdam  he  tam  secreta,  e  com  tanto  Resguardo  de  suas  honras  e  fa- 
mas, que  a  nom  deuem  arrecear.  Ilem  :  Os  que  verdaderamente  se  ar- 
rependerem  de  suas  culpas,  vendo  que  pera  sua  salvacam  pedem  o  dito 
perdam,  nom  lhes  parecerá  grave,  antes  ierám  que  se  vsa  com  eles  de 
mais  misericordia  da  que  se  lhes  deue,  e  Keceberám  a  reconciliacam  em 
enmenda  de  seus  pecados:  e  os  que  fingidamente  pedirem  perdam,  nom 
se  arrependendo  de  seus  erros,  cousa  he  contra  toda  Rczam  os  laes  se- 
rem fauorecidos,  mas  antes  se  deue  procurar  todo  o  modo  que  se  ter  posa 
pera  que  os  pecados  dos  taes  fengidos  crislaos  sejam  descuberlos  pera  se- 
rení castigados. 

Ilem  :  Dizer  que  esles  nom  deuem  ser  Relapsos,  mas  que  Ihe  fique 
faculdade  de  se  poderem  outra  vez  Reconciliar,  a  yslo  se  Responde  que 
os  crimes  cometidos  mais  que  huuma  vez,  nom  deuem  ser  perdoados 
quanlo  á  pena  corporal ;  e  ha  autoridade,  que  diz  que  a  igreja  nom  cerra 
a  porta  a  quem  se  a  ela  tornar,  fala  quanto  aos  sacramentos  que  Ihe  nom 
serám  denegados,  postoque  sejam  Relapsos :  mas  quanto  ás  penas  corpo- 
raes  os  Relapsos  nom  se  Recebem  a  Reconciliacam,  e  esles  nom  podem 
leixar  de  ser  Relapsos,  porque  o  que  huuma  vez  foy  nom  pode  leixar  de 
ser,  e  sendo  estes  huuma  vez  perdoados,  tornando  a  cometer  pecado  de 


10  i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

eresia,  de  necesidade  fiquam  Relapsos  e  deuem  aver  as  penas  de  seus  de- 
litos de  Relapsos  tornando  a  pequar. 

Nem  se  pede  pelos  embaixadores  del  Rey  noso  senhor  cousa  fora  de 
rezara  nem  noua,  pois  se  pede  o  que  a  canónica  ley  statuiu  ;  nem  deue- 
mos  ser  mais  piadosos  que  a  equidade  canónica  e  sanlidade  dos  teólogos 
nos  delitos  futuros,  perdoando  lhe  ja  tam  levemente  os  pasados ;  nem  que- 
rer deixar  ousadia  de  pecar  a  esta  gente,  a  qual  tomarám  sabendo  que 
sendo  outra  vez  comprendidos  ainda  podem  euadir  as  penas  corporaes 
pedindo  Reconciliacam.  Diz  ambrosio  «a  facilidade  de  perdoar  daa  in- 
centivo e  ousadia  de  pecar»,  e  agoslinho  diz  que  «asy  como  nos  he  man- 
dado que  aos  penytenles  sejamos  misericordiosos,  asy  nos  he  defeso  con- 
ceder misericordia  aos  impinitentes  e  obstinados  no  mal »,  pela  qual  Re- 
zara a  estes  se  nom  deue  perdoar  senara  quando  cora  penitencia  pedisera 
perdam  e  enlam  fsicj  os  delitos  pasados  em  modo  que  nom  lhe  fique  azo 
pera  tornarem  a  pequar :  e  por  estas  causas  statuyo  a  santa  igreja  que 
os  Relapsos  nom  fosem  Recebidos  a  reconciliacam  pera  euitarem  as  pe- 
nas corporaes. 

E  porque  aos  Reís  e  Principes  chrislaos  pertence  procurar  como  em 
seus  Regnos  e  lempos  a  igreja  estee  pacifiqua,  e  em  ela  nom  aja  eresias 
e  blasfemias  contra  a  fee,  pois  he  sua  madre  donde  spiritualmente  nacem, 
como  diz  o  doulor  agostinho,  ítem  os  Cañones  obrigam  as  potestades  se- 
culares a  lancar  e  tirar  de  suas  térras  as  eresias,  por  tanto  sua  alteza 
procura  que  aja  hy  inquisicam  ;  e  que  o  perdam  seja  em  modo  como  se 
posa  atalhar  aos  erros  e  delitos  futuros,  e  dos  pasados  aja  ao  menos  al- 
guum  sinal  de  penitencia,  e  que  deles  se  pedio  perdao,  e  ñora  com  tara 
aparelhado  modo  pera  ser  tudo  fingido  e  simulado ;  e  os  erejes  deuem 
ser  punidos  e  castigados,  postoque  sejam  muytos,  quando  cora  paz  da 
igreja  se  pode  fazer,  e  se  podem  os  maos  castigar  sem  perigo  dos  boós, 
como  diz  agoslinho. 

E  quanto  á  Reposta  que  se  da  ao  terceiro  inconuiniente,  que  diz  que 
a  bula  manda  soltar  os  presos  por  estes  delitos,  e  que  sollos  se  podem 
yr  pera  onde  quiscrem  sera  comprir  as  condicocs  da  bula ;  ao  que  Res- 
pondera  que  se  viramos  a  bula  com  mais  diligencia  conhcceramos  que 
nom  era  de  Reprender  sua  disposicam,  porque,  como  os  presos  ou  de- 
uiara  ser  condenados  ou  ao  menos  defamados,  bem  deueramos  entender 
que  Sua  Santidade  entam  finalmente  os  manda  soltar  quando  compiisem 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  105 

as  condicoes  postas  pela  bula  aos  laes  condenados  ou  defamados,  e  que 
entretanto  que  eles  estas  condicoes  cumprem  e  se  Ihe  daa  faculdade  pera 
iso,  asaz  se  proverá  pela  diligencia  dos  juizes,  pera  que  eles  nom  posam 
menos  prezar  o  juizo  e  graca  deste  perdam  ;  a  bula  nom  diz  nem  declara 
esta  prouidencia  que  se  diz  que  os  juizes  lerám,  e  per  o  teor  della  pa- 
rece que  se  nom  poem  aos  presos  distintamente  mais  condicam  que  aos 
soltos,  salvo  quando  sao  condenados  ou  os  crimes  deles  saín  a  todos  no- 
toriamente provados  em  juizo;  e  aos  difamados  nom  poe  condicam  spi- 
cial,  salvo  quando  alguuns  sam  infamados  de  publica  infamia,  cuja  pu- 
brica  voz  e  fama  pervenha  ás  orelhas  do  nuncio,  que  nam  sam  presos 
conuencidos  nem  acusados,  e  podem  ser  rauytos  presos  que  ainda  nam 
sam  condenados,  e  dos  quaes  os  crimes  nom  sam  notoriamente  a  lodos 
provados  em  juizo,  porque  pera  prisam  por  Regras  de  direito  abasta 
huuma  testemunha.  ítem  indicios,  e  asy  nom  sam  os  crimes  ainda  pro- 
vados, ítem  nem  se  podem  dizer  os  asy  presos  per  dito  de  huuma  ou  duas 
testemunhas  publicamente  infamados,  se  ahy  nom  ha  publica  Infamia  do 
crime,  porque  a  infamia  que  nace  da  prisam  nom  se  deue  considerar,  e 
asy  podem  ser  muylos  presos  a  que  nom  he  posta  mais  condicam  alguu- 
ma  pela  bula  que  aos  soltos :  nom  vemos  como  se  ha  de  entender. 

E  quanto  á  Reposla  em  que  se  Responde  ao  inconviniente  que  mui- 
tos  se  virám  a  estes  Regnos,  e  com  falsas  testemunhas  provarám  que 
eram  moradores  nesles  Regnos  ao  tempo  da  publicacam  da  bula  pera  go- 
zarem  da  graca  déla,  Diz-se  que  disemos  em  outra  parte  que  os  nosos 
juizes  lerám  tal  providencia  e  cautela  que  nom  seja  nenhuum  condenado 
per  falsas  testemunhas,  e  que  nom  deuemos  menos  confiar  do.  nuncio 
apostólico  e  de  sua  prouidencia  que  da  dos  nosos  juizes,  e  que  o  direito 
nos  ensina  taes  modos  per  que  podemos  conhecer  a  fee  que  deuemos  dar 
ás  testemunhas  postoque  sejam  ignotas :  a  isto  parece  que  se  pode  Res- 
ponder que  nos  com  muyta  Rezam  confiamos  da  industria  dos  nosos  jui- 
zes, que  por  sua  alteza  forem  ordenados  e  nomeados  pera  tal  carego,  por- 
que por  serem  naturaes  da  térra  conhecem  as  pessoas  das  testemunhas 
quem  sam,  e  sabem  de  quem  se  ham  de  enformar  délas  e  dos  negocios, 
e  de  quem  se  ham  de  fiar,  e  o  nuncio  de  sua  Santidade,  posloquc  seja 
pesoa  de  grande  crédito  e  confianca  e  de  muyta  prudencia,  por  ser  es- 
trangeiro  e  nom  conhecer  as  pesoas,  nem  saber  os  modos  dos  negocios 
da  térra,  nom  pode  tanta  providencia  no  caso  leí*. 

tomo  m.  14 


106  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

E  os  modos  que  o  direito  ensina  asy  os  sabem  os  nosos  juizes,  e  mais 
tem  os  que  eles  sabem  por  a  experiencia  da  Ierra  e  pelo  conhecimcnto 
que  lem  das  pesoas.  ítem :  o  mesmo  direito  diz  que  nom  se  pode  bcm  dar 
Regra  certa  da  fce,  que  se  deue  dar  ás  testemunhas,  e  o  deixa  a  arbitrio 
do  julgador ;  e  melhor  arbitrio  deue  ter  quem  souber  as  Regras  do  di- 
reito e  conhecer  as  pesoas  e  modos  da  térra,  que  quem  tam  soomenle  sou- 
ber as  regras  do  direito. 

E  dizerse  que  as  gentes  comarcas  nom  terám  Rezam  de  chamar  a 
portugal  couto  de  herejes,  porque  Sua  Santidade  enlende  d  aquy  por  dian- 
te de  castigar  os  erejes  com  muyta  seueridade,  a  ysto  se  Responde  que 
as  gentes  comarquas  olharám  o  presente  estado  do  perdam,  e  o  que  está 
por  viir  nom  he  ainda  agora  pera  iso  em  consideracam  ;  e  tanto  que  por- 
tugal pelo  presente  stado  ganhar  tal  infamya,  postoque  de  feylo,  nom  se 
Ihe  poderá  tirar,  porque  as  infamias  de  feilo  nom  se  podem  tirar  em 
quanto  sam  de  feilo,  dado  que  se  posam  tyrar  os  effeilos  que  obram  em 
direito ;  e  deue  se  ter  muito  grande  respecto  á  honra  e  nome  da  nacao  no- 
bre  dos  portugueses,  que  nosos  antecesores  ganharam  padecendo  mortes  c 
deramando  seu  sangue,  e  sofrendo  grandes  trabalhos  pela  fee  de  Cristo,  o 
qual  oje  em  dia  sostentamos  e  acrecentamos  cada  dia,  seguindo  os  de  quem 
descendemos,  morendo  pela  fee  de  noso  Redentor  chrislo  jesús,  e  sofrendo 
grandes  trabalhos  e  despesas  por  acrecentamenlo  de  sua  fee  católica. 

E  quanto  á  Reposta,  em  que  se  diz  que  nom  pode  aver  nislo  incon- 
uiniente  de  o  nuncio  tornar  a  ver  se  sam  bem  condenados  ou  mal  os  que 
se  queixarem  a  ele  que  sam  mal  condenados,  postoque  sejam  condenados 
pelos  inquisidores  de  Castela,  arcebispos,  bispos  e  cardeaes,  porque  o  nun- 
cio de  Sua  Santidade  terá  tal  providencia  que  os  que  se  queixarem  que 
sam  condenados  fóra  dos  Iemilcs  destes  Reinos  os  ouuirá  per  sy,  se  viir 
pelos  auclos  que  sam  notoriamente  per  injustica  condenados  ;  e  que  quando 
as  causas  fosem  taes  que  Requeresem  eixame  de  testemunhas,  que  as  co- 
meterá na  térra  ou  Remitirá  a  Sua  Santidade,  parece  que  a  bula  nom  lhe 
poe  essa  temporánea  nem  daa  ese  modo,  e  ainda  asy  nom  cesa  o  incon- 
viniente,  porque,  estando  fazendo  estes  eixames  em  portugal,  e  Retratando 
as  sentencas  dos  condenados  em  castela  e  fúgidos  de  lá,  as  justicas  de  cas- 
tela  pedirám  que  lhe  sejam  os  taes  fúgidos  lá  Remetidos,  e  que  lhe  guar- 
dem  suas  sentencas  e  procedimentos  contra  eles,  e  o  nuncio  mandará  que 
lhe  guardem  seus  mandados  e  sentencas  que  nos  casos  der,  pelas  quaes 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  107 

pela  ventura  nom  quererám  eslar  os  inquisidores  de  castela,  e  se  as  jus- 
licas de  portugal  nom  quiserem  fazer  o  que  as  juslicas  de  castela  lhe  Ro- 
garem,  nestes  casos  estaa  certo  o  escándalo. 

ítem  :  Cada  dia  acontece  que  as  justicas  de  portugal  pasam  suas  car- 
tas precatorias  pera  as  de  castela,  e  as  de  castela  pera  portugal,  e,  se 
nom  fizerem  as  juslicas  de  portugal  o  que  lhe  Rogarem  as  de  castela,  nom 
farám  as  de  castela  o  que  lhe  lambem  as  de  portugal  Rogarem,  o  que  se 
nom  pode  escusar  de  se  ajudarem  huumas  as  oulras  pelos  Reinos  screm 
tam  comárcaos,  e  asy  será  causa  d  escándalo  e  de  pouco  servico  de  deus; 
e  deuese  com  muita  cautela  proceder  nos  casos  de  que  podem  nacer  de- 
fercncas  antre  Reinos  e  Reinos,  as  quaes  nom  somente  por  justas  Rezoes, 
mas  por  ocasioes  e  injustas  Rezóes  vemos  muylas  vezes  nacer,  quanto 
mais  que  as  sentencas  dadas  nos  Regnos  de  castela  contra  os  erejes  sam 
dadas  tam  justamente,  e  eixaminadas  por  taes  pesoas  de  tanta  conscien- 
cia  e  virtudes  e  letras,  e  com  tanto  conselho  e  deliberac-am,  que  he  es- 
cusado  os  condenados  serem  contra  elas  ouuidos. 

E  quanto  á  Reposta  em  quanto  dizem  que  os  christaos  velhos  nom 
tem  Rezam  de  se  queixar  por  serem  nomeados  e  metidos  neste  perdam 
com  os  cristaos  novos,  senam  se  cuidamos  o  papa  deuer  ser  acusado  de 
muyla  clemencia  ;  a  ysto  se  Responde  que  esta  clemencia  nos  parece  es- 
cusada,  pois  os  cristaos  velhos  a  nom  querem,  antes  Receberiam  déla  es- 
cándalo e  Infamia,  e  portanto  se  lhes  nom  deue  fazer ;  e  asy  como  he 
honra  ser  contado  e  nomeado  antre  os  boos,  asy  he  desonra  e  Infamia 
ser  nomeado  e  colocado  antre  os  maos  e  erejes,  e  os  que  honra  eslimam 
aínda  merces  nom  querem  Receber,  se  lhas  dao  de  mestura  contando  os 
antre  infames  e  maos. 

Quanto  mais  que  dar  perdam  de  eresias  presupoem  culpas  verda- 
deiras  ou  ao  menos  presumidas,  e  he  grande  escándalo  presupoer  taes 
culpas  em  gente  e  Regno  que  tanto  se  preza  de  cristaa,  e  tam  limpa  dos 
errores  da  fee,  maiormenle  pois  elles  christaos  velhos  ¡nom  pediram  tal 
perdam,  soomente  o  pedem  os  cristaos  novos,  e  querem  defamar  e  me- 
ter em  ele  os  cristaos  velhos  pera  cobrirem  sua  infamia,  e  darem  a 
entender  a  Sua  Santidade  que  todos  tem  estas  culpas  asy  christaos  ve- 
lhos como  novos :  pelas  quaes  causas  he  nisto  feito  grande  agravo  e  ofensa 
á  nobre  gente  portuguesa,  e  seria  causa  d  escándalo  grande  se  ha  bula  se 
provicase. 

lí* 


108  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

E  dízer  que  a  bula  concede  tanbem  perdam  doutros  pecados  no  foro 
da  conciencia,  do  qual  nom  podem  os  cristaos  velhos  dizer  que  nom  tem 
necesidade,  porque  ninguem  nom  pode  dizer  que  he  sem  pecado,  este  per- 
dam concede  a  bula  segundariamente,  e  nom  veio  principalmente  a  pro- 
ver  niso,  e  foy  metido  acesoriamente,  e  por  iso  nom  Releva  aos  chris- 
liios  velhos  da  infamia  que  se  lhe  segué  serem  metidos  no  mais  com  os 
cristaos  nouos. 

E  quanto  á  Reposta,  em  que  dizem  que  nom  sabem  como  grosamos 
o  inconuinicnle  que  se  aponía  que  Sua  Santidade  daa  ao  nuncio  oficio  de 
inquisidor,  cousa  que  a  Sua  Santidade  nom  veyo  por  pasamento,  a  bula 
tem  huuma  clausula  que  diz  o  seguinte :  « ipseque  nuncius  todas  e  cada 
huuma  das  sobreditas  cousas  e  quaesquer  outras  que  os  outros  inquisi- 
dores e  quaesquer  comisarios  per  quaesquer  nosas  e  da  dita  see  apostó- 
lica letras,  e  asy  de  direíto  ou  costume  podem  fazer  e  exercilar  livre  e 
licitamente,  posa  fazer  e  eixercitar»:  esta  clausula  bem  geral  he  e  bem 
largos  poderes  de  inquisidor  parece  dar  ao  nuncio. 

E  dado  caso  que  se  aia  de  Restringuir  a  dita  clausula  á  eixecucam 
da  bula,  e  que  esta  clausula  asy  se  entenda,  e  que  acerqua  da  eixecu- 
cam da  bula  o  papa  concede  ao  nuncio  poderes  de  inquisidor,  a  bula  dis- 
poe  em  todo  crime  de  eresia  e  a  lodo  dá  perdam,  e  daa  em  esta  execu- 
cam  maiores  poderes  ao  nuncio  acerqua  dos  ditos  delitos  ale  ora  cometí- 
dos,  do  que  se  deram  ale  ora  a  inquisidor  alguum  ;  e  o  inconuinienle  nom 
diz  mais,  somenle  que  Sua  Sanlidade  daa  ao  nuncio  poderes  de  inquisi- 
dor como  pela  bula  se  contem,  Referendose  á  bula,  donde  logo  se  achou 
que  comentamos  da  bula  o  que  nom  diz  nem  foy  enlencam  do  papa.  Bem 
eremos  que  a  tcncam  do  papa  nom  foy  dar  os  ditos  poderes  ao  nuncio 
senam  durando  a  eixecucam  da  bula,  a  qual  duraría  o  lempo  que  deus 
quisese,  e  porem  emlanto  que  durase  bem  largos  poderes  de  inquisidor  lhe 
daa  acerqua  do  que  dicto  he. 

E  posto  que  nom  lhe  dése  mais  poder  que  a  simprez  eixecucam  da 
bula,  ainda  nao  cesam  os  inconuinienles  que  se  aponlam  nos  ditos  apon- 
ía men  tos. 

E  dizer  se  que  vejamos  quam  honestamenle  podíamos  desejar  que  a 
cada  huum  de  nos  se  cometerá  o  tal  cargo,  certo  he  que  cada  huum  por 
sy  nesles  Regnos  nom  deseja  ser  lhe  cometido  o  tal  cargo,  falando  das  pe- 
soas  que  sua  alteza  pera  iso  ha  de  escolhcr,  e  a  experiencia  nos  moslrou 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  109 

que  alguuns  Requeridos  pera  eixecucam  da  bula  da  inquisicam  se  escu- 
saram,  e  oulros  buscauam  meyos  pera  nom  serení  encarregados  della ;  e 
se  cada  huum  de  nos  desejase  ser  Ihe  o  tal  cargo  a  ele  cometido  ainda 
se  poderia  ser  inhonesto,  mas  desejarmos  que  o  negocio  seja  cometido  aos 
naturaes,  que  sabem  a  térra  e  negocios  déla,  e  conhecem  as  pesoas  asy 
das  testemunhas  como  dos  acusados  e  dos  oficiaes  de  que  se  ham  de  fiar, 
antre  os  quaes  naturaes  da  térra  ha  pesoas  muyto  doctas  e  de  mu  y  tas  ver- 
tudes  e  experiencia  das  cousas,  certamente  nom  vemos  que  desoneslidade 
he  desejarmos  e  querermos  que  os  taes  negocios  e  de  tanta  importancia 
Sua  Santidade  cometa  nestes  Regnos  onde  os  mandam  fazer  aos  naturaes 
deles,  e  nam  ao  seu  nuncio,  postoque  seja  muyto  docta  pesoa  e  de  muyta 
confianca  e  vertudes ;  e  csle  he  o  costume  que  sempre  se  vsou  que  as  in- 
quisicoes  e  semelhanles  cargos  se  comelem  aos  naturaes  dos  Reynos,  e 
he  cousa  muyto  fora  de  Rezam  que  os  estrangeiros  venham  fazer  os  se- 
melhanles oficios  em  esles  Reynos  por  muytas  Rezóes,  que  escusamos  de 
dizer  por  breuidade  e  por  serem  muyto  notorias. 

E  ao  que  se  diz  que  pois  el  Rey,  que  deus  tem,  e  el  Rey  noso  se- 
nhor  deram  aos  cristaos  novos  seguridade  de  vinle  e  noue  annos,  nom  o 
podendo  fazer,  que  sua  alteza  nom  deue  de  sofrer  com  iniquo  animo  que 
Sua  Santidade,  viguairo  de  jesu  christo  que  soo  tem  o  poder  de  dar  o 
tal  perdam,  dee  perdam  de  pouquo  tempo  como  mais  largamente  se  diz 
em  Reposta,  certamente  .confesamos  como  caloliquos  chrisláos  e  filhos  obi- 
dienles  de  Sua  Santidade  e  See  apostólica  que  ele  soo  pode  dar  o  tal  per- 
dam ;  e  Sua  Santidade  he  mal  emformado  que  nom  se  achara  que  o  muyto 
catoliquo  e  Religiosissimo  principe  el  Rey  dom  manuel,  que  deus  tem, 
nem  el  Rey  dom  Johain  noso  senhor  perdoasem  alguem  crime  de  eresia 
nem  de  apostasia  da  fee,  e  nunqua  tal  perdam  deram  nem  seguridade  al- 
guuma,  per  que  segurasem  algum  de  nom  ser  castigado  ou  punido  de  se- 
melhantes  crimes  e  erros  da  fee,  nem  se  amostrará  que  verdadeiro  seja. 

E  se  logo  nos  primeiros  tempos  quando  se  tornaram  cristaos  alguu- 
ma  liberdade  deu  aos  cristaos  novos  el  Rey,. que  deus  tem,  seria  que  nom 
inquirisem  contra  eles  per  inquirieses  geraes  ou  acerqua  dos  beens  que 
se  apliquam  pera  seu  fisquo,  e  as  taes  liberdades  pera  nom  imquirirem  se 
avian  d  entender  pelas  suas  juslicas  seculares,  a  quem  nom  pertencem 
as  taes  Inquisicoes;  mas  que  se  nom  inquirise  per  auloridade  apostólica 
nunqua  tal  liberdade  deram,  nem  que  os  bispos  e  perlados  eclesiásticos 


110  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

inquirisem  nunqua  Iho  defenderán],  antes  aos  que  o  fizerem  nom  lhe  fo- 
rain  á  mao,  e  se  os  bispos  nom  faziam  niso  o  que  eram  obrigados,  suas 
altezas  nom  tem  niso  culpa.  E  por  o  que  dylo  he  está  claro  que  o  per- 
dam  que  se  diz  os  ditos  senhores  darem  e  seguridade  pasar  em  outro 
modo,  e  nam  ser  perdao  como  emformam  a  Sua  Santidade. 

E  quanto  ao  que  tocam  da  obidiencia,  he  escusado  Responder,  por- 
que manifesla  estaa  a  obidiencia,  que  el  Rey  noso  Senhor  e  seus  Reynos 
tem  a  Sua  Santidade  e  see  apostólica,  tam  inteira  que  princepe  cristao 
nom  he  mais  obidienle  nem  o  foy  ;  e  Respreuer  sua  alteza  a  Sua  Santi- 
dade as  causas  porque  nom  he  servico  de  deus  e  bem  da  christindade 
destes  Reinos  dar  se  á  eixecucam  a  bula  do  perdam  he  cousa  que  Sua 
Santidade  deue  agardecer,  e  lhe  louuar  seu  boom  zelo  e  cuidado  que  tem 
das  cousas  da  fee.  E  os  sagrados  cañones  mandam  que,  quando  os  sum- 
mos  pontífices  per  menos  verdadeiras  ou  nom  inleiras  emformacoes  man- 
dam cousas,  que  parece  nom  convirem  a  servico  de  deus  e  bem  da  chris- 
tindade, que  lhe  Resprevam  e  sobrestém  na  execucam  de  seus  mandados. 

E  conclumdo  podemos  dizer'  a  estes  chrislaos  novos,  que  com  tantos 
modos  procuram  aver  este  perdam  tam  largo  pera  viverem  a  suas  vonta- 
des,  e  andam  mesturando  tantas  maas  emformacoes,  o  que  dise  agostinho 
a  bonifacio  :  « tenham  estes  christaos  novos  dos  erros  pasados,  ainda  que 
muito  graves  fosem,  amara  dor  asy  como  pedro  da  mentira,  e  venham 
á  igreja  católica  de  christo  nosa  madre,  e  sejam  em  ela  clérigos,  e  sejam 
bispos  proveilosamente  os  que  contra  ela  foram  imigos,  e  nom  lhe  aue- 
remos  enueja,  mas  abrácalos  hemos  e  amoestamos  os  a  iso  e  desejamol  os 
e  asy  lho  persuadirnos,  porque  nos  nom  buscamos  suas  fazendas  nem  as 
queremos,  mas  queremos  a  eles  e  a  sua  salvacam  ».  ítem :  Em  outra  parte 
o  mesmo  agostinho  diz  o  que  aquy  a  noso  proposito  podemos  trazer : 
«  os  que  nos  opocm  que  cobicamos  suas  fazendas,  e  de  lh  as  tomar,  nom 
Rectamente  dizem  ;  mas  prouuese  a  deus  que  fosem  feitos  católicos  cris- 
iaos,  e  nom  soomente  aquelas  cousas  que  estes  dizem  ser  suas,  mas  ainda 
as  nosas,  em  paz  e  caridade  posuisem  comnosquo  ».  E  acaz  consta  que 
nom  desojamos  suas  fazendas,  pois  tam  liuremenle  se  deixam  aos  que  pe- 
dem  perdam  de  seus  erros,  como  pelos  apontamentos  per  que  se  pede  a 
inquisicam  e  perdam  se  pode  ver ;  e  se  as  desejaramos  nom  os  conuida- 
ramos  a  pinilencia,  ou  se  por  odio  contra  eles  desejaramos  proceder.  ítem 
bem  sabemos  que  alguuma  cousa  se  ha  de  tirar  do  Riguor  e  seueridade 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  lfl 

quando  os  dilinquentes  saín  rauytos,  como  agoslinho  diz  contra  perme- 
nianum  ;  mas  tambem  sabemos  que  os  crimes  da  eresia  ham  de  ser  cas- 
tigados quando  conservada  a  paz  da  Igreja  se  pode  fazer  segundo  a  ca- 
lidade  dos  lempos,  posloque  os  delinquinles  sejam  muytos,  como  ele  mesmo 
diz,  e  acaz  e  muyto  se  tempera  o  riguor  do  direito  perdoando  a  estes  o 
pasado  na  forma  em  que  por  parte  de  sua  alteza  se  pede  o  perdam,  e  se 
declara  nos  apontamentos  e  declaracoes  a  eles  que  ora  vam.  O  que  asy 
dizemos  com  protestacara  que  todo  sometemos  a  coreicam  e  emmenda  da 
santa  madre  Igreja1. 


ilpontamentos  para  $.  S.  ver  (a). 


Sanclissimo  e  bealissimo  padre.  — Diz  se  por  parte  del  Rey  de  porlu- 
gal,  voso  obediente  filho,  que  sua  tencam  e  zelo  he  que  os  chrisláos  no- 
uos  de  seus  regnos  e  senhorios  se  emendem  e  viuam  como  seja  seruico 
de  deus  e  bem  suas  almas  e  cm  modo  que  cese  o  escándalo,  que  os  ca- 
tólicos cristaos  recebem  de  seu  mao  viver,  o  que  vossa  santidade  deve 
inleiramente  de  crer,  e  que  este  he  o  seu  fundamento  e  motiuo  porque 
pede  a  inquisicam  e  nam  outro  ;  e  que  asi  deue  de  crer  que  sua  alteza 
e  os  do  seu  conselho  e  seus  letrados  tem  experiencia  desta  gente  e  a  co- 
ñhecem,  e  pelo  muito  conhecimento  que  deila  tem  sabem  se  os  que  pe- 
cam  peeam  per  malicia  ou  per  ignorancia,  e  o  modo  que  he  necessario 
pera  se  emendarem,  e  o  que  em  elles  causará  mais  desolucam,  por  ve- 
rem  seus  modos  de  viuer  e  conhecerem  suas  pessoas  e  condicoes  e  os 
modos  em  que  pecam,  e  por  tanto  ham  por  grande  inconueniente  a  for- 
ma do  perdam  per  confisam  secreta  e  sacramental,  e  tem  por  certo  que 


1  Rascunho  com  multas  emendas  e  enírelinhas,  no  Arch.  Nac,  Gav.  13,  Mac.  8, 
n.°  5.  Ñas  costas  do  documento  ha  urna  cota  que  diz :  Reposta  dos  leterados  que  foi  a 
Roma. 

(a)  Sao  estesy  a  nosso  ver,  os  apontamentos  mencionados  ñas  instruccoes  de  3  de  se- 
tembro. 


112  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nom  causará  em  eles  emenda,  mas  mais  desolucam  e  escándalo  aos  fiéis 
cristaos. 

E  por  tanto  se  pede  aVossa  Santidade  por  parle  de  sua  alteza  que, 
pois  ha  que  he  equidade  segundo  a  cristaa  religiam  conceder  a  estes  no- 
uos  cristaos  perdam  dos  erros  pasados,  que  em  nenhum  modo  seja  per 
confisam  sacramental  na  forma  do  perdam  per  vossa  santidade  concedido, 
e  que  seja  na  forma  e  modo  que  por  parte  do  dicto  senhor  Rey  se  pede 
nos  apontamentos,  que  a  vossa  santidade  tem  enuiados  per  dom  hanri- 
que  seu  embaixador,  com  estas  declaracoes  que  abaixo  se  diram,  que  se 
enaderám  á  dicta  forma  dos  apontamentos. 

ítem  :  Nom  se  pede  nem  he  de  entencam  de  sua  alteza  obligar  estes 
nouos  christaos  a  confesar  seus  pecados  ocultos  no  foro  exterior,  como 
se  diz  no  breue  de  vossa  santidade  que  ao  dito  senhor  Rey  enuiou  ;  nem 
he  sua  tencam  que  va  confesar  ser  hereje  no  dicto  foro  o  que  pecou  tam 
ocultamente  e  em  tal  modo  que  seus  crimes  Ihe  nom  podcm  ser  proua- 
dos  no  juizo  da  igreja  per  testemunhas  e  prouas  legitimas,  porque  estes, 
que  tam  ocultamente  pecaram  que  se  lhes  nom  podem  os  erros  prouar, 
se  deixam  ao  juizo  diuino,  e  destes  nom  culpa  a  igreja,  nem  deuem  sa- 
tisfacam  no  foro  exterior  á  igreja  pois  em  elle  ha  nom  ofenderán) ;  mas 
pede  se  que  os  que  pecaram  e  cometeram  erros  em  tal  modo  e  lugar,  que 
lhos  podem  em  juizo  prouar  per  testes  ou  legitimas  prouas,  sendo  accu- 
sados  ou  denunciados,  estes  pecam  o  dicto  perdam  e  reconciliacam  aos  in- 
quisidores, como  se  declara  nos  apontamenlos  ácima  ditos,  se  querem  go- 
zar do  perdam  c  euilar  de  serení  acusados  e  punidos. 

E  nesto  nom  se  pede  cousa  contra  rezao  nem  juslica,  nem  cousa 
noua,  porque  claro  he  que  o  que  comete  crime  em  modo  que  foi  visto  e 
lhe  he  sabido  ja  ofendeo  os  próximos  que  ho  viram  e  sabem,  e,  tanto 
que  o  tal  crime  for  deduzido  em  juizo  e  denunciado  á  igreja,  se  proce- 
derá contra  o  tal  criminoso  e  o  punirám  segundo  disposicam  do  direilo 
canónico ;  e  se  os  taes  delinquentes  herejes  nom  pedirem  reconciliacam  e 
perdam,  prouandose  lhe  os  diclos  erros,  serám  punidos  por  as  penas  pos- 
tas aos  herejes  em  direito. 

E  pode  auer  muilos  de  que  seus  erros  sam  sabidos  per  duas,  tres  e 
quatro  testemunhas  e  estes  nom  serem  infamados,  e  estes  crimes  se  de- 
uem castigar  pela  igreja  no  foro  exterior  e  judicial,  e  destes  falam  os 
apontamentos  e  nam  em  os  ocultos  que  se  nom  podem  prouar,  cuja  \in- 


RELACÓES  C03I  A  CURIA  ROMANA  113 

ganca  se  deixa  ao  deuino  juizo;  c  esles,  que  asi  cometeram  ou  cometem 
erros  em  modo  que  se  Ihes  pode  provar,  se  querem  euilar  as  accusacoes 
e  denunciacocs  e  condenacoes  no  foro  judicial,  deuem  pedir  perdam  e  re- 
conciliacam á  igreja  no  diclo  foro,  e  se,  depois  do  lal  perdao  e  reconci- 
liacam e  abjuraeam  que  fazem  de  seus  crimes,  lornant  a  cair  e  pecar, 
claro  he  que  sam  relapsos  e  se  deue  proceder  contra  clles  como  contra 
relapsos ;  c  asi  se  pede  pera  que  se  emenden)  com  medo  das  penas,  pois 
por  temor  de  deus  se  nam  emendam. 

E  he  conforme  a  direilo  que  os  que  cometem  as  heresias  e  erros  em 
modo  que  se  lhes  pode  prouar  em  juizo  per  testemunhas  ou  prouas  legi- 
timas, sendo  em  juizo  accusados  ou  denunciados,  pecam  perdam  á  igreja 
no  dito  foro  exterior  pera  euitarem  as  denunciacoes  e  accusacoes  e  pe- 
nas, que  Ihe  poderiam  poer  sendo  condenados. 

E  quanto  ao  que  sua  sanlidade  diz  no  diclo  brcue,  que  a  sua  alteza 
enuiou,  acerca  dos  accusados  e  presos,  dos  quaes  diz  que  nos  aponta- 
mcntos  se  pede  que  nom  gozem  desta  forma  de  perdam  que  se  contení 
nos  aponlamenlos,  e  que  se  proceda  contra  elles  como  for  direito,  os  quaes 
diz  sua  sanlidade  que  deuem  gozar  do  perdam,  porque  em  oulro  modo 
estaría  em  poder  de  qualquer  pessoa,  que  a  oulra  quisesse  fazcr  mal,  es- 
loruarlhe  que  nom  gozasse  da  forma  desle  perdam  indo  o  acusar  ou  fa- 
zer  accusar  e  fazer  prender  pera  este  cfeilo,  parece  equidade  c  rezao  o 
que  sua  santidadc  diz,  e  que  pera  euitar  estas  malicias  os  accusados  ou 
denunciados,  que  presos  forem,  gozem  da  forma  desle  perdam  que  se 
pede  asi  como  os  sollos  e  na  mesma  forma ;  e  isto  se  entenderá  nom  Ihe 
sendo  ainda  ao  lempo  que  pedem  o  perdam  os  erros  judicialmente  pro- 
uados  ou  per  inquiricoes  geraes  ou  speciaes,  posto  que  scjam  liradas  sem 
parte  citada,  ou  nom  sendo  pubricamenle  infamados  antes  de  serem  pre- 
sos, ou  nom  auendo  dellcs  graues  suspeitas  ou  presumpeoes ;  c  porem  fi- 
cará  em  arbitrio  dos  inquisidores  poer  alguma  mais  penitencia  aos  pre- 
sos pedindo  o  dicto  perdam  e  reconciliacam,  da  que  Ihe  posera  sendo  sol- 
tos  :  e  sendo  ja  aos  presos  os  erros  judicialmente  prouados  ou  per  as  di- 
ctas inquiricoes  geraes  ou  speciaes,  posto  que  tiradas  sem  parle  ci'ada,  ou 
sendo  pubricamente  infamados  antes  de  presos,  ou  auendo  contra  elles 
graues  suspectas  ou  presumpeoes,  nom  poderám  gozar  da  dicta  forma  de 
perdam,  mas  proceder  se  ha  contra  elles  segundo  forma  do  direito  canó- 
nico, e  segundo  sua  disposicam  Ihe  será  concedida  reconciliacam,  pedin- 

tomo  ni.  15 


114  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

do  a;  e  porem  os  accusados  ou  denunciados,  que  presos  nom  forera,  se 
regula  rain  e  Ihes  será  concedido  perdara  e  reconciliacam,  como  se  nom 
fossem  denunciados  ou  acusados,  nom  sendo  aínda  condenados  per  sen- 
tenca. 

llera.  Acerca  dos  condenados  per  sentenca  ao  tempo  que  pedem  o 
perdam  e  reconciliacam,  parece  que  diz  no  dicto  breue  que  se  pede  nos 
apontamenlos  que  gozem  da  forma  deste  perdam  :  nom  se  pede  tal ;  mas 
antes  he  a  tencam,  e  asi  se  pede  ora,  que  estes  que  forem  condenados 
per  sentenca  fiquem  á  disposicam  do  direito  canónico,  e  nam  possara  go- 
zar da  forma  deste  perdam  ;  e  segundo  disposicam  do  direito  aos  conde- 
nados, se  a  pedirem,  seja  concedida  ou  denegada  a  reconciliacara. 

E  quanlo  ao  que  se  diz  no  dicto  breue  de  Sua  Santidade  acerca  do 
tempo,  que  aos  absentes  se  limita  nos  dictos  apontamenlos,  de  huum  anno 
do  dia  da  primeira  publicacam  da  bula  na  diocese  onde  o  tal  absenté  tera 
domicilio,  parece  rezam  e  justiea  que  seja  como  Sua  Santidade  no  dicto 
breue  manda,  que  o  tempo  aos  absentes  se  arbitre  e  limite  pelos  inqui- 
sidores segundo  a  distancia  dos  logares,  regnos,  e  prouincias,  em  que  os 
absentes  podem  estar  e  andar,  e  nom  seja  a  todos  igual  de  huum  anno, 
posto  que  parecia  assaz  tempo,  mas  possa  ser  mais  e  menos  segundo  a 
dicta  distancia  dos  logares,  regnos,  e  prouincias. 

ítem.  Se  pede  que  nom  gozem  desta  forma  de  perdam  os  que  for 
achado  que  cometeram  os  dictos  erros  depois  que  esta  bula  que  se  pede 
for  publicada  em  qualquer  parte  dos  regnos  e  senhorios  de  sua  alteza,  onde 
for  a  primeira  vez  publicada,  e  esto  cometendo  os  taes  erros,  se  for  no 
lugar  da  publicacam  em  qualquer  tempo  depois  della,  e  se  for  em  outro 
logar  do  bispado  em  que  se  fizer  a  publicacam  nom  gozará  cometendo  o 
erro  ou  erros  quinze  dias  depois  da  publicacam  ;  e  se  comelerem  os  taes 
erros  em  outros  bispados  de  portugal  ou  do  algarue,  nom  gozarám  do  di- 
cto perdam  cometendo  os  trinta  dias  depois  da  dicta  publicacam  ;  e  se  os 
taes  erros  forem  cometidos  ñas  ilhas  e  outras  partes,  nom  gozarám  do 
dicto  perdam  os  que  pecarem  depois  que  passar  tanto  tempo  do  dia  da 
dicta  primeira  publicacam  que  verisimelraente  pareca  que  veo  a  sua  no- 
ticia. 

Ítem.  Se  pede  que,  auendo  hi  alguns  infamados  de  taes  infameas, 
que  segundo  disposicam  do  direito  se  deuara  de  purgar,  que  nom  quise- 
rem  pedir  perdam  e  reconciliacam  e  abjurar  os  crios  de  heresia,  mas  se 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  115 

quiserem  purgar  das  taes  infamias,  que  estes  laes  se  purguen!  per  pur- 
gacam  solene,  como  diz  Sua  Sanlidade  ueste  breue,  conforme  ao  direito 
canónico  e  disposicam  delle,  e  nom  se  dé  a  forma  de  se  purgarem  que 
se  lhes  concedía  na  bulla  do  perdam,  que  era  per  duas  ou  tres  teslemu- 
nhas  dignas  de  fee  que  apresenlassem  extrajudicialmente. 

ítem.  Acerca  das  fazendas  ha  o  dicto  senhor  rey  por  bem,  se  a  sua 
sanlidade  parecer  equidade,  e  asi  o  pede,  que  nenhuuns  desles  nouos 
cristaos,  e  de  seus  filhos  e  netos  e  descendentes,  postoque  sejam  reconci- 
liados ou  condenados  por  herejes,  e  ainda  que  sejam  relapsos,  perca m  suas 
fazendas,  e  as  ajam  elles  ou  seus  herdeiros ;  e  islo  por  spaeo  de  lempo  de 
sele  annos,  contados  do  dia  que  esta  bula  que  ora  se  pede  for  publicada 
a  primeira  vez  em  qualquer  parle  desles  regnos  :  e  pasados  os  sele  annos 
se  guardará  acerca  do  perdimento  das  fazendas  a  disposicam  do  direito 
commum.  E  porem  deste  beneficio  de  nom  perderem  as  fazendas  nos  sete 
annos  nom  gozarám  os  seguintes :  primeramente  os  de  que  constar  per 
legitima  proua  que  declaram  que  morrem  judeus  ou  em  outros  erros  de 
heresias.  ítem  :  os  que  se  absenlarem  dos  regnos  e  senhorios  de  sua  alte- 
za, ou  forem  absenles  ao  lempo  da  publicacam  da  bula,  e  nom  veerem 
pedir  perdam  e  reconciliacam  no  tempo  que  Ihe  for  arbitrado  e  limitado, 
procedendose  contra  os  taes  absentes  na  forma  que  per  direito  se  poder 
proceder,  nom  vindo  elles  defenderse  e  presentarse  em  juizo  pesoaimen- 
le ;  e  sendo  dada  contra  elles  sentenca,  per  que  seja  declarado  terem  co- 
metidos os  dictos  erros,  suas  fazendas  serám  confiscadas  e  lomadas  pera 
o  fisco  segundo  disposicam  do  direito,  e  nom  se  entenderá  em  estes  o 
dicto  tempo  dos  setes  annos. 

ítem.  Nom  gozarám  deste  beneficio  do  lempo  dos  sete  annos  os  que 
depois  da  publicacam  desta  bula,  como  dicto  he,  cometerem  os  dictos 
erros,  e,  sendo  perdoados  e  reconciliados,  tornaram  a  pecar,  porque  os 
taes,  postoque  seja  dentro  do  espaco  dos  sele  annos,  perderám  suas  fa- 
zenda  segundo  disposicam  do  direito. 

E  na  forma  conteuda  nos  dictos  apontamentos,  que  dom  henrique 
seu  embaixador  leuou,  com  estas  declaracoes  e  clausulas  que  nesles  apon- 
tamentos vam,  pede  o  dicto  senhor  Rey  a  Sua  Santidade  que  conceda  o 
perdam  aos  cristaos  nouos  dos  erros  pasados,  pois  a  Sua  Santidade  pa- 
rece equidade  ser  Ihe  concedido,  e  nom  seja  per  confisam  secreta  e  sa- 
cramental ;  o  que  asi  se  pede  por  parle  de  sua  alteza  pelo  asi  sentir  ser 

15* 


116  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUF.Z 

seruico  de  (leus,  e  que  asi  cumpre  pera  emenda  e  correicam  desla  gen- 
te, e  pera  que  nom  aja  o  escándalo,  que  da  forma  do  perdam  que  se 
lhes  concedía  se  poderá  aos  crislaos  velhos  causar:  e  asi  se  pede  pelo 
dicto  senhor  Rey  que,  pera  se  nom  corromper  mais  a  religiam  chrisla 
nesta  gente,  nos  regnos  e  senhorios  de  sua  alteza  aja  sua  santidade  por 
bem  conceder  que  se  use  da  inquisicam  que  tem  concedida,  e  lha  con- 
ceda ora  com  as  mais  clausulas  e  poderes  e  declaracóes,  que  se  pedem ; 
e  de  cometer  asi  a  dicta  inquisicam  e  cousas  della,  como  a  execucam 
deste  perdam  que  se  ora  pede,  a  pessoa  que  nos  dictos  apontamentos  sua 
alteza  nomca  na  forma  em  elles  declarada,  e  nam  se  cómela  ao  nuncio 
de  Sua  Santidade,  porque  nom  he  cousa  conueniente,  nem  se  costumou 
nunqua,  semelhantes  negocios  se  comelerem  a  pessoas  que  nam  sam  na- 
turaes  dos  regnos,  como  mais  largamente  se  disse  nos  outros  apontamen- 
tos, no  que  Sua  Santidade  fará  o  que  conuem  a  seruico  de  deus  e  bem 
da  religiam  cristel  destes  regnos1. 


Carta  de  II.  Hcnriqucde  llenezes  a  cl-Rci. 


1534  —  Setembro  25. 


Senhor  —  Fernao  castanho  chegou  aquy  ontem,  em  amanhecendo, 
xxuii  deste  setembro,  e  co  as  cartas  e  Recado  de  vosa  alteza,  do  que 
manda  que  cu  faca,  e  o  papa  morreo  oje  sesta  feira,  a  oras  de  jantar, 

1  Ahch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  21.  Tem  urna  cota  na  folha  que  serve  de  capa, 
que  diz  assim :  Apontamentos  pera  se  mostrarem  ao  santo  padre,  em  que  se  declara  a 
forma  em  que  el  Rey  nosso  senhor  lhe  pede  que  Sua  Santidade  conceda  o  perdura  e  in- 
quisicam. 

Na  Gav.  13,  Mac.  8,  n.°  6  (Doc.  8)  ha  outra  minuta  destes  apontamentos  com  al- 
gumas  differencas  deredaccao,  mas  sem  altcracüo  de  doutrina,  que  parece  ter  sido  o  pri- 
meiro  rascunho,  nao  só  por  ser  menos  correcta  do  que  a  que  publicamos,  mas  tambem  por 
ter  urna  cota  onde  se  diz:  Trelado  do  que  ora  foy  per  derradeiro,  o  secretario  o  tem  em 
limpo,  acerca  da  forma  do  perdam,  alera  do  que  levou  dom  hanrique. 

Tambem  na  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  28.  se  guarda  urna  minuta  acerca  do  mesmo  as- 
xumpto,  que  nao  publicamos  por  ter  ñas  costas  o  seguinte :  Este  nom  foy  :  he  parecer 
meu.  Nao  diz  de  qnem.  . 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  117 

xxv  (lo  dito  mes.  Nem  temos  vagar  pera  mais  que  escreuer  isto  a  vosa 
alteza,  e  que  serya  omito  bem  auysar  nos  com  delygencya  como  manda 
que  se  entenda  uestes  negocyos  com  papa  nouo,  scilicel,  per  qual  dos 
apontamentos,  se  pelos  novos,  se  pelos  que  eu  trouxe.  E  deus  faca  tal  vi- 
gayro,  que  aja  por  bem  cantas  boas  cousas  e  cao  justas  vosa  alteza  Re- 
quere, cuja  v-yda  e  Real  estado  noso  senhor  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  xxv  de  setembro,  noy  te,  1534. 

Reyjarey  as  maos  a  vosa  alteza  mandarme  Responder  aas  cartas, 
que  Ihe  tenho  escryto  sobre  me  mandar  hyr,  pola  dylacao  que  será  fa- 
zerse  papa  e  oegocear  de  novo  co  ele;  e  aa  merce  que  lhe  santa  cruz 
mandou  pedyr  do  abyto  pera  hum  seu  doutor,  homem  de  bem,  e  he  bem 
que  vosa  alteza  o  faca  e  mais  agora. 

Criado  de  vosa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  anri- 
gue  m.  l. 


Carta  de  O.  Henrique  de  Ilenezes  a  el-Rei. 


153  1  —  O u (nitro  4. 


Senhor  —  Aas  cartas  que  me  trouxe  castanho  de  vosa  alteza,  nom 
he  tempo  pera  Responder  ao  principal,  pois  o  tempo  nom  he  senao  des- 
perar por  papa  nouo,  e  Rogar  a  deus  que  o  escolha  tal  que  faca  o  seu 
seruyco  e  de  vosa  alteza,  que  neste  negocyo,  e  em  todos  os  que  vosa  al- 
teza faz  e  quer,  tudo  he  hum  :  e  se  o  deus  escolhese  por  sem  duvyda  terya 
eu  o  meu  bom  despacho;  mas  hao  no  d  escolher  trinta  e  seis  dyabos, 
que  tantos  sao  os  cardeaes  que  nyso  agora  ao  d  entrar,  e  por  yso  noso 
senhor  os  alumye  pera  fazerem  seu  seruyco.  As  exequyas  do  papa  pas- 
sado  se  comecaarao  sesla  feira  oyto  dias  depois  dele  morto,  que  forao 
dous  deste  oytubro ;  e  porque  se  nom  fazem  aos  domyngos,  e  ao  de  ser 
noue  dias  afora  eles,  acabar  s  ao  segunda  feira  xn  deste  mes,  e  logo  aos 
xni  entrarao  em  concraue :  nem  ha  nysto  mais  que  dyzer  senao  que  os 
de  franca  por  hum  cabo,  e  do  emperador  por  outro,  tudo  agora  he  oegocear. 

1  ABcn.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  53,  Doc.  113. 


118  CORÍ'O  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ítem.  Senhor,  Vosa  alteza  me  mandou  huma  carta  e  outra  patente 
pera  tyrar  o  abyto  a  duarle  da  paz,  com  que  eu  Heceby  muy  pouca  merce 
e  menos  honra,  porque  o  que  o  arcebispo  nom  fez  senao  como  o  fez  e 
pode,  nom  sey  como  o  eu  posso  fazer  mylhor  que  ele.  Vosa  alteza  me 
mandou  que  o  mandase  chamar :  asy  o  fyz,  fazendo  muito  que  era  pera 
Ihe  falar  hum  pouco  que  me  cumprya,  e  ele  se  mescusou  ;  porque  soube 
que  era  vyndo  o  correo  castanho  auenta  jaa  as  pegas,  e  com  escusas 
fryas  nom  quys  vyr  ate  oje.  Nom  sey  que  Ihe  faca  i  mande  m  o  vosa  al- 
teza e  fal  oey. 

ítem.  Senhor,  no  negocio  de  Barroso  lambem  me  fez  vosa  alteza  ou- 
tra pyor  merce,  porque  nom  sou  abastante  pera  emmendar  o  que  tao  da- 
nado  estaa,  e  que  o  arcebispo,  com  canto  sabe  e  pode  e  val  nesta  térra, 
nom  pode  emmendar,  porque  a  emmenda  ha  de  vyr  de  vosa  alteza,  ou 
pera  muito  bem  ou  pera  muito  mal,  porque  meos  ja  neste  negocio  nom 
valem  nada.  Este,  senhor,  como  vyo  papa  morto  e  o  tempo  passado  que 
tynha  posto  co  arcebispo  e  co  papa,  m  escreueo  dous  escrytos  a  mym, 
qua  quería  proceder  contra  o  arcebispo  scm  saber  ainda  parle  que  vosa 
alteza  me  mandaua  entender  nyso,  somente  por  cousas  que  ja  tynha  pa- 
sadas co  ele  e  o  arcebispo  co  papa  perante  mym.  Eu  Ihe  respondy  que  o 
arcebispo  eslaua  doente,  como  de  feyto  eslaua  bem  queyxoso  d  urna  dor 
d  ylharga ;  que  como  fose  sao  Ihe  falarya.  Tornou  co  segundo;  e  o  car- 
deal  santa  cruz  me  mandou  chamar  pera  me  dyzer  que  o  barroso  querya 
fazer  e  acontecer,  e  que  nom  lho  podya  estoruar,  que  nom  era  seu.  Con- 
crusao,  que  eu  faley  ao  barroso,  e  per  uonlade  do  arcebispo  Ihe  dyse 
que  eu  tynha  de  vosa  alteza  comysao  pera  neste  negocio  falar  ao  papa  e 
a  ele ;  que  deyxasse  vyr  papa  a  que  eu  auya  de  falar  nyso,  e  nom  cu- 
rasse  descomunhoes  nem  de  censuuras.  Nom  auya  Remedio  pera  o  do- 
brar.  Em  fym  foy  contente  desperar  por  papa.  Ora,  senhor,  islo  está 
muito  no  cabo,  e  esta  térra  e  gente  de  cardeaes  todos  cheos  deste  homem 
ter  direito  e  lho  tomarem.  Veja  vosa  alteza  se  será  bom  dar  Ihe  alguma 
cousa  fora  dése  Reyno,  e  esa  darse  a  quera  vosa  alteza  ouver  por  seu 
seruyco  :  c  islo  escreuo  asy  depresa  que  me  nam  dao  vagar  pera  mais. 
Vosa  alteza  determine  e  Responda  o  que  quer,  asy  nyslo  como  no  de 
duarle  de  paz.  E  nom  scrya  mao  mandar  vosa  alteza  auyso  do  que  aue- 
mos  de  fazer  no  negocyo  principal,  se  polas  primeiras  se  polas  segundas 
Razóos,  e  escreuer  logo  sobryso  ao  papa,  e  qua  Ihe  ponamos  o  nomc. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  119 

E  nom  sey,  senhor,  porque  estas  Razoes,  que  de  laa  vem,  nom  uem  era 
lalym. 

ítem.  O  emperador  escreueo  ao  papa  pelo  castanho  e  ao  conde  cy- 
fontes  muito  quentemente,  e  ele  asy  nos  dyz  que  o  fará.  Deus  nos  dé 
papa  tal  que  faca  o  que  vosa  alteza  manda,  que  he  justo.  Noso  senhor 
a  uida  e  Real  estado  de  vosa  alteza  acrecenté  como  eu  desejo.  Esta  térra 
está  muito  pacyfyca,  o  que  se  nom  esperaua  segundo  comecaua  sendo  o 
papa  doenle.  ítem.  Senhor,  queyxo  me  ou  agrado  me  desle  correo,  que 
vosa  alteza  mandón,  nom  me  trazar  cartas  de  meus  párenles;  e  melhor 
fora  nom  trazer  oulro  correo  do  nuncio  consyguo. 

De  Roma,  a  qualro  doylubro,  1534. 

Criado  de  vosa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beija  —  Dom  anry- 
que  m.  l. 


Carta  de  D.  Heuriqne  de  llenczes  a  el-Itci. 


1534 — OaitulH-o  13. 


Senhor  —  Depois  que  fernao  castanho  foy  co  a  morte  do  papa,  es- 
creuy  a  vossa  alteza  outra  uez,  e  dey  Ihe  conta  do  que  passey  com  Duarte 
de  paz,  ou  nom  passey  porque  ele  nom  quys  vyr ;  e  asy  do  que  passey 
com  barroso.  Reyjarey  as  maos  a  vossa  alteza  mandar  me  Responder  o 
que  farey  n  um  e  no  oulro :  e  o  de  barroso  estaa  muito  no  cabo,  e  ey 
medo  que  nom  me  queyra  esperar  a  que  eu  acabe  o  que  vossa  alteza 
manda  que  eu  primeiro  faca  do  negocio  princypal,  e  por  y  so  nom  sey 
que  meo  nysto  lome.  Vossa  alteza  m  o  escreua  por  me  fazer  muila  mercé. 

ítem.  Os  cardeaes  forao  cerrados  em  conclaue  domyngo  bem  noyte, 
e  segunda,  onlem,  que  forao  xn  deste  oylubro,  fycáo  cerrados  de  lodo 
pera  fazer  seu  oíficyo  ou  o  de  deus,  que,  se  ele  nysto  nom  he,  nom  uejo 
antreles  boa  cousa  nem  boa  tencao  senao  cada  um  pera  sy.  Déos  o  em- 
mende. 

ítem.  Aquy  he  noua  muy  lo  afyrmada  que  o  turquo,  ou  o  seu  barba 

1  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.  Part.  T,  Mac.  53,  Doc.  120. 


120  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Roxa,  lem  tomado  lunez,  que  aquy  se  arrccea  muilo ;  e  dyzcm  que  fuz 
o  emperador  esle  vento  grande  armada  pera  yso,  c  que  Ihe  lem  posto  an- 
dró dorya  muilos  navyos  em  Rol,  os  quaes  se  ja  fazem  prestes  lodos,  e 
antre  estes  dyz  que  Ihe  sao  necesaryas  vynte  carauelas  de  porlugal,  de 
xx  Remos  cada  huma.  Auyso  dysto  vossa  alteza  pera  que  sayha  como  se 
isto  faz,  e  consyre  se  Ihas  pydyríio  ou  como  se  de  laa  ao  dauer.  Huma 
carta,  que  se  aquy  imprymyo  italyana,  do  que  fez  barba  Roxa  em  tunez 
mando  aquy  a  vossa  alteza,  cuja  vyda  e  Real  estado  nosso  senhor  acre- 
centé como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  xin  doytubro,  1534. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  arin- 
que m. '. 


Carta  de  D.  Heiiricjuc  fie  llcnezes  a  cl-Rc¡. 


1534       Ou  (nitro  13. 


Senhor — Nesta  nom  se  pode  escreuer  mais-,  senao  que  nes'oulra, 
que  co  esta  creo  que  hyrá,  uerá  vossa  alteza  cando  enlrarao  em  concra- 
ue;  e  esta  noyle,  terca  feira  amanhecenle,  sahyo  papa  o  cardeal  frenes2, 
e  por  esta  ser  aínda  ante  manha  nom  sey  se  poderemos  saber  o  nome : 
eremos  que  he  Onorio  quynto.  Nom  tenho  vagar  pera  mais  senao  que 
noso  senhor  Ihe  dé  graca,  com  que  faca  o  que  deue  aa  crislandade,  e  a 
mym  despache  a  seruyeo  de  deus  e  de  vossa  alteza,  cuja  vyda  e  Real  es- 
tado noso  senhor  acrecenté  como  eu  desejo.  E  nom  serya  mao,  antes  de 
s  acabar  o  oflicyo  de  sua  coroacao,  termos  auyso  de  vossa  alteza  do  que 
/"aremos,  e  a  ele  escreuer  e  vysytar,  e  mais  sobrestá  nosa  materya. 

De  Roma,  a  xm  doytubro,  terca  feira  ante  manha,  1534. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Reaes  míios  beyja  —  Dom  amry- 
gue  m.3. 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  T,  Mao.  53,  Doc.  123. 

2  Léase:  Farnesi. 

3  Arch.  Nic.  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mar.  53,  Doc.  12í. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  121 


Carta  de  O.  Henrique  de  llenezes  a  el-Rei. 


1534  —  Outultro  2». 


Senhor  —  Des  que  partió  caslanho  nunca  escreui  a  vossa  alteza, 
senao  com  tantas  presas  que  nom  auya  lempo  pera  mais,  nem  mais  de 
que  dar  conta.  Agora  com  outra  tanta  presa,  que  me  daa  hum  correo  do 
conde  cyfuentes,  darei  conta  a  vossa  alteza  do  que  qua  passa  desque  cas- 
tanho  paríio.  . 

ítem.  Senhor,  saberá  vossa  alteza  que,  como  o  papa  foy  elegydo, 
e  Ihe  beyjamos  o  pee  ao  outro  dia,  logo  ao'oulro  segúynte,  porque  a  co- 
roacao  s  alongaua,  pareceo  bem  ao  arcebispo  e  ao  conde  cyfuentes  hyr- 
mos  todos  tres  juntos  falar  ao  papa  neste  negocio,  a  que  eu  vym,  e  to- 
mos juntos,  e  o  conde  lhe  deu  a  carta  do  emperador,  e  lhe  leo  outra  que 
Ih  o  emperador  escreuya  a  ele  mesmo  conde  sobo  lo  que  neste  negocyo 
auya  de  fazer,  a  qual  certo  he  lao  quente  e  tao  emcarregada  que  o  nom 
pode  vossa  alteza  mandar  mais  a  noos.  E  sobo  la  carta  lyda  lhe  falou 
hum  pedaco,  e  o  arcebispo  lhe  deu  a  de  vossa  alteza,  e  lhe  falou  tam- 
ben) sóbrela,  e  eu  tambem  o  que  se  nos  entendeo  de  voso  seruyco.  Res- 
pondeo  boas  palavras  e  muito  longueiramente,  como  soe  fazer,  e  mandou 
que  lhe  desemos  diso  nosos  papéis  pera  se  emformar.  O  outro  dia  torna- 
mos a  ele  o  arcebispo  e  eu  sem  o  conde  :  demos  Ih  os  que  compryao.  Gha- 
mou  o  datairo  e  emtregou  lh  os,  ao  qual  eu  depois  fuy  dccrarar  o  que 
cada  um  era  e  o  noso  Requerymenlo. 

ítem.  Noos  co  ysto  asy  nestes  termos  soubemos  que  o  papa  cle- 
mente pasado,  ao  tempo  de  sua  morte,  per  importunacoes  dos  judeus,  que 
nisto  andao  co  seu  confesor,  concedeo  hum  breue,  per  que  confirma  e  ha 
por  pubrycada  a  bula  sobre  que  litygamos,  sem  noos  sabermos  nada,  por- 
que mandou  que  se  nom  pubrycase  senao  depois  dele  morlo ;  do  qual 
aquy  mando  o  trelado  a  vossa  alteza.  E  deste  breue  soubemos  per  san- 
tiquatro,  a  que  o  Duarte  de  paz  dise  importunando  o  e  sobornando  o  pera 
contra  noos,  e  dias  ha,  antes  que  eu  vyese,  lhe  dauao  oitocentos  cruza- 
dos de  pensao  cad  ano  por  sua  ajuda,  o  qual  porem  se  nos  offereceo  pera 

TOMO  m.  16 


122  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUCUEZ 

logo  hirmos  falar  sobryso  ao  papa.  Fomos  o  arcebispo  e  eu  co  ele,  c  cer- 
leíyquo  a  vossa  alteza  que  llie  falou  tanlo  e  tam  bem  e  com  tanto  fervor 
por  uoso  seruyeo,  que  o  nom  poso  eu  ter  mais.  Noos  disemos  tambem  o 
que  se  nos  entendeo ;  e  nosa  pelicao  era  e  he  que  este  breue  seja  sus- 
penso ate  Sua  Sanlidade  ver  e  ouvyr  as  nosas  Razoes  primeiras  e  derra- 
deiras,  entao  determynar  o  que  quyscr,  e  sobryso  responder  a  vossa  al- 
teza o  que  lhe  parecer.  Quis  o  papa  que  ao'outro  día,  que  foy  domingo 
este  passado,  xxv  deste  oytubro,  vyesemos  a  ele  lodos  tres,  e  ele  man- 
darya  chamar  o  auditor  da  cámara,  e  o  doutor  symoneta,  e  o  burla,  que 
he  o  que  fez  e  faz  todos  estes  males,  e  o  cardeal  cesis,  que  tambem  nyslo 
entendeo  co  papa  clemente.  Juntos  que  fomos  todos  domyngo  pola  me- 
nham,  dita  huma  mysa  rezada,  comecou  outra  uez  santiquatro,  e  nom 
se  pode  nem  dizer  nem  escreuer  a  vossa  alteza  o  que  disse  por  uoso  ser- 
uyeo, e  com  que  instaneya  e  eficacia,  porque  verdaderamente,  senhor, 
nom  sey  vasalo  uosso  nynhum,  que  com  muila  mercé  e  muilo  <\ontenta- 
mento  de  vossa  alteza  podesse  nem  soubesse  fazer  mais  nem  mylhor.  E 
antroutras  cousas  disse  ao  papa  peranle  todos  que  olhasse  como  tynha 
alemanha  e  ungrya  e  ingraterra  ;  que  nom  quisesse  que  uní  ta!  principe, 
e  de  tantos  mereeymentos  aa  christandade  e  see  apostólica,  lhe  fyzesse  per- 
der o  doutor  fran'cisco  burla,  que  estaua  presente,  com  seus  breues  bes- 
tiaes :  e  per  aquy  lhe  dyse  a  osadas.  O  arcebispo  tambem  falou  seu  de- 
uer  :  e  porque  o  papa  estaua  aos  pareceres  nom  podya  homem  falar ;  dyse 
lhe  eu,  porem,  que  Sua  Sanlidade  fazya  muyla  defyculdade  em  sospender 
o  breue  de  clemente,  e  que  ele  mesmo  clemente  os  sospendera  nesle  ne- 
goeyo  asaz  deles  e  de  bulas ;  e  que  querya  olhar  ao  que  clemente  fyzera 
estando  no  arlygo  da  morte  e  sem  juyzo,  no  qual  tempo  nem  pera  filhos 
nom  valyao  os  testamentos ;  e  mais  que  querya  nysto  tomar  o  parecer 
do  burla,  que  nom  era  nysto  juyz,  antes  era  parle  polos  cristaos  novos, 
com  que  comya,  passeaua,  jugava  e  conuersaua ;  e  que  tambem  cristo 
conuersára  com  judeus,  porem  que  era  cristo.  O  doutor  como  cousa  a 
marauylhar  daquylo  de  mym.  Eu  lhe  dyse  que  o  dyzya  diante  Sua  San- 
lidade e  perantele  mesmo  porque  era  verdade,  e  lho  poderya  fazer  cerlo 
como  e  onde  compryse ;  e  que  aquele  breue,  e  os  outros  que  ele  dyzya 
que  nom  solycytára,  ele  os  composera,  e  cu  lhe  conhecya  bem  o  estylo 
e  as  palavras,  o  que  ele  nom  pode  negar.  E  asy  faley  ao  papa  outras 
quatro  palavras :  c  porque  duarle  de  paz  c  Diogo  Rodrigues  pinto  esta- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  123 

\ao  na  casa,  me  queyxey  muito  co  papa  e  o  arcebispo  tambera,  e  que, 
se  aquylo  auya  por  bem,  que  nona  Ihe  falaryamos  mais  neste  negocio. 
Dise  que  os  ñora  chamara,  mas  que  nom  estaryao  mais,  e  que  era  cousa 
de  juslica.  A  ludo  nom  faltou  repryca  co  as  mynhas  orelhas  bem  ver- 
melhas.  A  concrusao  foy  mandar  aaqueles  dous,  scilicet,  auditor  da  cá- 
mara e  symoneta,  que  vysem  os  breues  e  o  enformasem  pera  ele  fazer 
cousa  justa  e  bem  feyta  ;  aos  quaes  santiqualro  falou  loguo,  e  eu  lhes 
leuey  os  bráues  e  huma  «mformacao  feita  per  santiquatro  peíante  mym. 
Islo  foy  ontem  e  nysto  estamos  agora :  e  santiquatro  crea  vossa  alteza 
que  faz  marauylhas  por  uoso  seruyco,  e  diz  que  nom  tem  outra  serui- 
dao  senao  a  vosa,  por  usar  das  suas  propryas  palavras.  O  conde  cy fuen- 
tes fala  e  faz  canto  pode  por  uoso  seruyco,  e  pode  muito.  Cremos  que  este 
breue  se  sospenderaa,  e  entao  vyremos  ao  princypall,  no  qual  se  tomará 
muy  cedo  concrusao,  se  o  papa  quyser ;  mas  judeus,  que  poderáo  con- 
denar Jesu  christo,  de  tejner  he  que  posao  saluar  a  sy.  E  porem,  com 
canto  vossa  alteza  co  papa  estaes  em  muito  pouca  dyferenca,  Ey  gram 
medo  que  aínda  aja  oulro  correo  ;  e  vossa  alteza,  se  for,  despache  o  muito 
mais  depressa  que  o  oulro,  porque  por  vosa  tardanca  diz  o  breue  que  o 
mandou  fazer  o  clemente.  E  aysto  respondo  eu  que  foy  vossa  alteza  ocu- 
pado no  cerco  de  cafy  e  o  como  ;  e  que  aquy  com  trynta  galees  de  barba 
Roxa  andao  em  salgadeyra  :  que  vosa  alteza  c  os  seus  vasalos  daa  socorro 
contra  cem  rayl  mouros,  e  que  nysto  se  acupa  e  acupou  pera  nom  poder 
táo  em  breue  responder  como  dyz  o  breue.  ítem.  As  novas  de  qua  sao 
que  os  cardeaes  dous  alemaes  sao  ja  hydos,  e  os  francezes  fycao  ate  co- 
roacao  do  papa,  que  seraa  domynguo  ou  passados  os  fynados.  ítem.  O 
papa  mandou  aquy  vyr  andró  dorya  de  cyuyta,  por  onde  passaua  de  ña- 
póles pera  genoa  :  veo  huma  tarde  e  foy-se  outro  día  pela  menha.  Di- 
zem  que  armáo  este  ano  grandemente  contra  turquos,  e  que  ao  dauer 
mester  carauelas.  Ja  o  escreuy  a  vossa  alteza  pera  se  apercebcr  do  que 
for  seu  seruyco.  O  papa  diz  que  dentro  de  dez  meses  mandará  intymar 
concylio :  será  o  que  deus  quyser,  que  asy  foy  sempre. 

ítem.  Senhor,  Duaríe  de  paz  nom  me  parece  que  quer  vyr  a  meu 
chamado,  antes  anda  qua  mais  soberbo  que  laa  com  oíficio  de  vossa  al- 
teza. Ja  Iho  escreuy:  mándeme  que  farey.  E  asy  barroso  nom  quer  es- 
perar que  acabem  estes  negocyos  co  papa,  e  vossa  alteza  quer  que  se  nom 
fale  primciro  em  outra  cousa,  e  ele  quer  escomungar  o  arcebispo  como 

16* 


1 2  i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pasar  a  coroacao :  asy  que  nem  sey  que  conselho  aja  pera  fazer  o  que 
vossa  alteza  manda,  sem  errar  a  huma  parle  nem  a  oulra.  Auyseme  dc- 
pressa,  que  de  tac-  longe  nom  se  pode  tanlo  esperar. 

Ilem.  Nos  nom  achamos  muilo  gratas  audyeneyas  no  papa  :  nom 
sey  se  he  islo  por  esles  coméeos,  em  que  ha  muito  a  que  acudyr,  ou  em 
que  islo  pararaa.  Nom  se  m  offerece  outra  cousa  de  que  dar  conla  a  vossa 
alleza,  e  cora  a  presa  que  rae  dáo  ey  medo  que  mesquecao  cousas. 

Nosso  Senhor  a  vyda  e  Reall  eslado  de  vossa  alleza  acrecenté  como 
eu  desejo. 

De  Roma,  a  xxix  doytubro,  1534. 

Ítem.  Senhor,  no  de  Rarroso  folgarya  que  vossa  alteza  escreuese  ao 
papa  que  lhe  farés  seruyeo  d  outra  cousa  a  quem  ele  quyser,  e  que  acabe 
co  este  hornera,  que  anda  muito  desesperado,  e  enche  e  importuna  deus 
c  o  mundo. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Reaes  raaos  beyja  —  Dom  amry- 
que  m.  l. 


Carta  de  D.  Hcnricjue  de  Mcnezcs  a  el-Itei. 


1534  —  Outlibio  29. 


Senhor.  — Esqueceo  rae  nes'oulra  dizer  a  vossa  alteza  que  toda  a  im- 
portunado, que  se  fez  ao  Clemente  pera  dar  este  breue  á  ora  da  raorle, 
foy  porque  lhe  dyse  o  seu  confesor,  induzydo  dos  cristaos  novos,  que 
pois  lynha  auydo  o  dinheiro  deles,  que  era  coneyeneya  nom  lhe  deyxar 
o  perdió  lympo  e  lyvre  :  e  iste  he  verdade,  e  asy  dyse  santyquatro  ao 
papa  paulo  peranle  noos.  Ora  veja  vossa  alteza  caula  verdade  vos  dyz 
laa  o  nuneyo,  que  o  papa  nom  tynha  auydo  dinheiro !  O  quall  nuneyo 
he  o  que  qua  escreue  tudo  canto  mal  se  faz,  e  tem  de  vossa  alleza  muila 
honra  e  muito  gratas  audyeneyas,  e  noos  muito  tudo  ao  conlrairo. 


1  Arch.  TCac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  53,  Doc  137. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  W> 

Noso  senhor  a  vyda  e  estado  Reall  de  vossa  alteza  acrecenté  como 
eu  desejo. 

De  Roma,  a  xxix  doytubro,  1534. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  amry- 
que  m.  l. 


Monitoria  do  Nuncio,  dirigida  ao  Cardcal 
O.  Alfonso  (a). 

1534  —  IVovembro  3. 


Serenissime  et  Reuerendissime  Domine  ac  Charissimi  nobis  in  chrislo 
salutem  in  domino  sempiternam. 

Licet  nuper  uobis  quasdam  a  felicis  recordationis  Clemente  papa  vn, 
tam  sub  plumbo  quam  in  forma  breuis,  emanatas  literas  generalem  abso- 
lutionem  habitantium  in  Regnis  et  Dominiis  Serenissimo  Principi  Johanni, 
Porlugalliae  et  Algarbiorum  Regi,  subieclis  continentes  intimauerimus  et 
publicauerimus,  ac  inlimari  et  publicari  mandauerimus ;  Tamen,  ex  cer- 
tis  ralionabilibus  causis  animum  nostrum  mouenlibus,  per  haec  nostra 
imo  uerius  apostólica  scripta  mandamus  qualenus  ad  execulionem  in  eis 
conlentorum  nullatenus  a  uobis  seu  uestrum  aliquo  procedatur,  neu  pro 
illis  seu  contra  illas  quicquam  altemptetur  seu  innouetur,  neue  illae  a  uo- 
bis publicenlur,  doñee  a  sanclissimo  domino  nostro  Paulo  papa  ni  seu  a 
nobis  aüud  habueritis  in  mandalis.  Per  presentes  aulem  noslras  literas 
Nolumus  nec  inlendimus  earundem  literarum  inlimalioni  publicationi  et 
promulgationi,  tam  per  praefatum  Clemenlem,  quam  nos  ipsos  factis,  in 
aliquo  praeiudicare,  Imo  inlimationem,  publicationem  et  promulgalionem 


1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mar.  53,  Doc.  135. 

(a)  O  documento  que  publicamos  nao  diz  a  quem  é  dirigido;  mas  no  Corp.  Chron. 
Part.  I,  Mac.  54,  Doc.  2,  ha  urna  traduecáo  d'elle  em  vulgar,  com  o  subscripto  seguinte : 
Ao  Serenissimo  e  Reverendissimo  Senhor,  o  Senhor  afonso  Cardeal  da  Sancta  Igreja  ro- 
maa  Infante  de  Portugal,  perpetuo  administrador  da  igreja  de  Evora  e  ao  oñicial  ou 
vigario  de  euora.  Provavelmente  é  circular  aos  prelados. 


126  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

huiusmodi  plenarium  suae  firmitatis  robur  in  ómnibus  et  per  omnia  ob- 
tincre,  el  suos  cffectus  sorliri  deberé,  per  inde  ac  si  presentes  literae  a 
nobis  non  emanassent,  decernimus  et  declaramus.  In  quorum  fidem  pré- 
senles literas  manu  noslra  propria  subscriptas  fieri,  sigillique  noslri  im- 
pressione  communiri  jussimus. 

Dalum  Elborac,  die  in  Nouembris,  mdxxxiiii,  Pontificatus  praefali 
sanclissimi  Domini  Nostri  Pauli  Anuo  Primo  —  V.u  fr.  Mar  cus  Episco- 
pus Senogall.  et  Comes  Nuntius  Aposlolicus1. 


■tulla  do  Papa  Paulo  III,  dirigida  ao  Infante 
O.  llciirifjuc. 

1534  — Novembro  3. 


Paulus  episcopus  seruus  scruorum  Doi  dilecto  filio  Henrico  Infanli 
Portugalie,  Electo  Bracharensi,  salulem  et  apostolicam  benedictionem. 

Equum  reputamus  et  rationi  consonum  vi  commende  et  qúeuis  alie  dis- 
positiones  de  ecclesiis  et  Monasteriis  quibuslibet,  que  ex  prouidentia  Roma- 
ni  Pontilicis  processerunt,  licet,  eius  superucniente  obitu,  liltere  apostolice 
super  illis  confecte  non  fuerint,  suum  consequantur  eífectum.  Dudum  si- 
quidem  Sancti  Saluatoris  de  Pacoo  de  Sousa  et  Sancti  Michaelis  de  Buslello, 
Sancti  Benedicti,  ac  Prioralu  nuncupalo  eiusdem  Sancti  Saluatoris  de  Mó- 
reyra,  Sancti  Augustini  ordinum,  Portugalensis  diócesis,  Monasteriis,  que 
vcnerabilis  frater  nosler  Pelrus  de  Costa,  Episcopus  Portugalensis,  ex  con- 
cessione  et  dispensatione  apostólica  in  commendam  olim  obtinebat,  com- 
menda  huiusmodi  ex  eo  quod  diclus  Pelrus  Episcopus  illi  tune  in  maní- 
bus  felicis  recordalionis  Clemenlis  papae  vn,  predecessoris  noslri,  sponte 
et  libere  cesserat,  et  diclus  predecessor  cessionem  huiusmodi  duxerat  ad- 

» 

1  Arch.  Nac,  Mac.  12  de  Bullas  n.°  12.  A  dala  d'esla  monitoria  offerece  difficul- 
dadex,  que  nao  sabemos  resolver.  Os  poderes  do  Nuncio  tinham  caducado  com  a  mortc 
dr  Clemente  Vil  (25  de  setembro),  e  só  foram  renovados  em  10  de  novembro.  Alnn  i'iut 
o  breve,  pelo  qual  Paulo  i¡¡  mandou  suspender  o  de  26  de  julho,  só  foi  lavrado  a  26  de 
novembro,  apesar  dos  esforcos  dos  embaixadores. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  127 

miltendam,  cessante  adhuc  eis  quibus  dum  eidem  Pelro  Episcopo  com- 
móndala  fuerant  vacabant  modis  vacantibus,  diclus  Predecessor  veros 
et  vi  timos  dictorum  Monasteriorum  vacationum  modos,  etiam  si  ex  il  lis 
gueuis  generalis  reseruatio  etiam  in  corpore  iuris  clausa  resultaret,  pro 
expresso  habeos,  et  tam  eisdem  Monasteriis  de  gubernalore  vtili  et  ido- 
neo,  per  quem  circumspecte  regi  et  salubriter  dirigí  valerent,  quam  tibí, 
Carissimi  in  christo  filii  noslri  Johannis,  Portugalie  et  Algarbiorum  Regís, 
illuslris  fratri  germano,  quem  idem  Johannes  Rex,  iuxta  indullum  apos- 
tolicum  sibi  desuper  concessum,  ad  id  prefato  predecessori  per  suas  litte- 
ras  norninauerat,  vt  slatum  luum  iuxla  pontificáis  dignüalis  exigentiam 
dccentius  tenere  valeres,  de  alicuius  subuenlionis  auxilio  prouidere  vo- 
leos, Monasteria  predicta,  quíbusuis  modis  vacaren l,  libi  per  te  quoad- 
uiueres,  etiam  vna  cum  ecclesia  Bracharensi,  cuí  etiam  tune  preesse  di- 
noscebaris,  etiam  postquam  munus  consecraiionis  suscepisses,  ac  ómni- 
bus et  singulis  alus  beneficiis  ecclesiasticis,  cum  cura  et  síne  cura,  secu- 
laribus,  et  quorumuis  ordinum  regularibus,  que  ex  quibusuis  concessio- 
nibus  et  dispensationibus  apostolicis  in  titulum  et  commendam  ac  alias  ob- 
tinebas  et  im  posterum  obtineres,  ac  pensión  i  bus  annuis  libi  super  quibus- 
uis fructibus  reddilibus  et  prouentibus  ecclesiasticis  assignalis  et  assignan- 
dis,  quas  percipiebas  et  perciperes  in  fulurum,  lenenda  regenda  et  guber- 
nanda  de  fratrum  suorum,  de  quorum  numero  tune  eramus,  consilio,  sub 
data  videücet  Quinto  Idus  Seplembris,  Ponlificalus  sui  Anno  vndecimo, 
apostólica  auctorilate  commendauit,  curam,  régimen,  el  administralionem 
ipsorum  Monasteriorum  Ubi  in  spiritualibus  et  temporalibus  plenarie  com- 
mittendo,  firma  spe  fiduciaque  conceptis  quod,  dirigente  domino  aclus  luos, 
Monasteria  predicta  per  tue  diligentie  laudabile  sludium  salubriter  dirige- 
renlur  et  prospere  gubernarentur,  ao  grata  in  eisdem  spiritualibus  et  tem- 
poralibus susciperent  incrementa.  Voluit  autem  idem  predecessor  quod  pro- 
pter  commendam  huiusmodi  diuinus  cultus  ac  solilus  Monachorum  in  de 
Pacoo  et  de  Bustello,  necnon  Canonicorum  Ministrorum  numerus  in  de  Mo- 
reyra  Monasteriis  prediclis  nullatenus  minuerentur,  sed  illorum  ac  dile- 
ctorum  filiorum  Gonuentuum  eorundem  congrue  supportarentur  onera 
consueta.  Et  quod  tu  debitis  et  consuetis  Monasteriorum  el  Conuenluum 
prediclorum  supportatis  oneribus,  Necnon  Quarfa  si  Abbatialis  separata 
el  seorsum  a  Conuentuali,  Si  vero  communis  inibi  mensa  foret,  Terlia 
parle  omnium  frucluum  reddituum  el  prouenluum  ipsorum  Monasterio- 


128  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

rum  ¡n  resfaurationem  illorum  fabrica  ruin,  seu  ornamanlorum  cmplionem, 
vcl  fulcimenlum  aut  pauperum  alimoniam,  prout  maior  exigeret  et  sua- 
deret  nccessitas,  ómnibus  alus  deduclis  oneribus,  Annis  singulis  impar- 
lita,  de  residuis  fruclibus  reddilibus  ct  prouenlibus  *Monasleriorum  huius- 
modi  disponere  el  ordinare,  sicnti  ipsorum  Monasleriorum  Abbales,  qui 
pro  lempore  fuerant,  de  illis  disponere  et  ordinare  polueranl  seu  etiam 
debucranl,  Alienalione  lamen  quorumcumque  illorum  bonorum  immobi- 
lium  el  preciosorum  mobilium  tibi  penilus  interdicta.  Ne  aulem  de  com- 
menda  et  volúntate  predictis,  pro  eo  quod  super  illis  dicti  predecessoris 
eius  superuenieute  obilu  lillere  confecte  non  fuerunt,  valeat  quomodolibet 
hesüari,  volentes  el  simililer  apostólica  aucloritate  deoernenles  quod  comr 
menda  et  voluntas  predecessoris  huiusmodi  per  inde  a  dicta  die  Quinto 
Idus  Seplembris  suum  sorliantur  cffeclum,  ac  si  super  illis  ipsius  prede- 
cessoris liltere  sub  eiusdem  diei  data  confecte  fuissent,  prout  superius  enar- 
ralur,  Quodque  presentes  lillere  ad  probandum  plene  commendam  et  vo- 
lunlatem  predecessoris  huiusmodi  vbique  suíficianl,  nec  ad  id  alterius  pro- 
balionis  adminiculum  requiratur,  Discretioni  lúe  per  apostólica  scripla 
mandamus  qu alen us  curam  régimen  el  administrationem  Monasteriorum 
huiusmodi  sic  per  te,  vel  alium  seu  alios,  exerccre  sludeas  sollicite  fideli- 
ter  et  prudenter,  quod  Monasteria  ipsa  gubornalori  prouido  el  fructuoso 
adminislralori  gaudeant  se  commissa,  tuque,  preter  elcrne  retribulionis 
premium,  nostram  et  apostolice  sedis  benedictionem  et  gratiam  ex  inde 
vberius  consequi  mercaris.  Volumus  autem  quod,  anlequam  regimini  ct 
adminislralioni  ipsorum  Monasteriorum  le  in  aüquo  immisceas,  in  mani- 
bus  venerabilium  fratrum  noslrorum  Archiepiscopi  Vlixbonensis  el  Epis- 
copi  Sancli  thome,  vel  alterius  eorum,  fidelilatis  debite  solitum  prestes 
iuramentum  iuxla  formam,  quam  sub  bulla  nostra  mittimus  introclusam, 
quibus  et  eorum  cuilibel  per  alias  noslras  lilleras  mandamus  vt  ipsi,  vel 
eorum  allcr,  a  te  noslro  el  Romane  ecclesie  nomine  fidelilatis  huiusmodi 
recipiat  iuramentum. 

Dalum  Rome,  apud  Sanclum  petrum,  Anno  Incarnalionis  Dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarlo,  Terlio  Nonas  Nouembris,  Pon- 
tificatus  nostri  Anno  Primo  ', 


1  Arch.  Nac,  M.i.;.  .11  de  Bullas  n.°  9. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  129 

Bulla  do  Papa  Paulo  III. 


1534  —  Novembro  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  ad  perpetuam  rei  memoriam. 

Equum  reputamus  et  rationi  consonum  vt  ea,  que  de  Romani  Pon- 
tificis  prouisione  processerunt,  licet  eius  superueniente  obitu  littere  apos- 
tolice super  íllis  confecte  non  fuerint,  suum  sorliantur  eífectum  *. 

Dudum  siquidem  postquam  felicis  recordalionis  Leo  papa  x,  prede- 
cessor  noster,  procurante  clare  memorie  Emanuele  Portugallie  et  Algar- 
biorum  Rege,  qui  tune  in  humanis  agens  multas  térras  prouincias  et  ín- 
sulas a  Capitibus  de  Royador  vsque  ad  Nidos  2  possidebat,  in  quibus  nul- 
lus  Episcopus,  qui  ea  que  erant  ordinis  Episcopalis  exerceret,  habebatur, 
excepto  Vicario  pro  tempore  existenli  Oppidi  de  Thomar  nullius  dióce- 
sis, qui  frater  Militie  Jesu  christi  Cislertiensis  ordinis  existebat,  et  iuris- 
diclionem  Episcopalera  in  dictis  terris  Prouinciis  et  Insulis  ex  priuilegio 
apostólico  olim  sibi  concesso  habebat,  Vicariam  de  Thomar  huiusmodi  de 
consensu  bone  memorie  Didaci  Pinheyro,  tune  dicti  Oppidi  Vicarii,  apos- 
tólica auctoritate  suppresserat  el  extinxerat ;  ac  tune  parrochialem  eccle- 
siam  beale  Marie  per  eundem  Emanuelem  Regem  in  Giuitate  de  Funchal 
in  ínsula  da  Madeyra  in  Mari  Occeano  sita  consistente  fundatam,  in  qua 
Vnus  Vicarius  frater  dicte  Militie  et  nonnulli  beneficiati  presbiteri  secula- 
res beneficia  ecclesiastica,  Portiones  nuncupata,  obtinentes  existebant,  in 
Cathedralem  ecclesiam  cum  sede  el  Episcopali  ac  Capitulari  Mensis  aliis- 
que  Cathedralibus  insigniis  honoribus  preeminentiis,  ac  in  ea  Vnum  De- 
canatum  Maiorem  ac  certas  alias  non  Maiores  post  Pontificalem  dignita- 
tes,  necnon  eliam  certos  tune  expressos  Canonicalus  et  tolidem  preben- 
das pro  certo  tune  expresso  personarum  numero,  erexerat  et  instituerat, 
illique  omnia  et  singula  fructus,  redditus,  prouentus  et  emolumenta,  que 


1  Posto  que  ñas  bullas  originaes  nao  haja  divisáo  de  paragraphos,  e  assim  as  te- 
nhamos  publicado  ate'  aqui,  parece-nos  conveniente  fazer  essa  divisáo  d'ora  em  diemte 
ñas  que  forem  muito  extensas. 

2  Léase  Indos. 

TOMO  III.  17 


130  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Vicarius  de  Thomar  pro  tempore  exislens  ex  iurisdiclione  et  Vicaria  sup- 
pressa  huiusmodi  percipiebat,  necnon  annuos  redditus  Quingentorum  du- 
catorum  auri  de  Camera  ex  annuis  reddilibus  ad  ipsum  Emanuelem  Re- 
gem  in  ipsa  ínsula  da  Madeyra  spectanlibus,  de  ipsius  Emanuelis  Regis 
consensu  necnon  pro  dignilatum  ac  Canonicaluum  et  prebendarum  dote, 
certa  tune  expressa  bona  perpetuo  applicauerat  et  appropriauerat ;  ac  Ci- 
uitatem  predictam  pro  Ciuilate,  necnon  illius  districlum  seu  territorium 
cum  predicta  da  Madeyra,  ac  ómnibus  alus  Insulis,  tenis,  prouinciis  et 
locis  quibuscumque  dicto  Vicario  subiectis,  et  que  de  iure,  priuilegio  \el 
indulto  apostólico  subiici  debebant,  ac  Caslris  et  Villis  in  diclis  Insulis 
terris  Prouinciis  et  locis  consistenlibus  pro  diócesi,  Necnon  omnes  et 
singulos  clericos  et  quorumuis  ordinum  religiosos  pro  clero,  Incolasque 
et  habitalores  ipsarum  Ciuitatis  et  diócesis  funchalensis  pro  populo  con- 
cesserat  et  assignauerat ;  necnon  Jus  patronalus  et  presenlandi  Romano 
Pontifici  pro  tempore  existenti  personam  idoneam  ad  eandem  ecclesiam 
funchalensem,  dum  illam  pro  tempore  vacare  contingerent,  prefato  Ema- 
nueli,  et  pro  tempore  existenti  Porlugallie  et  Algarbiorum  Regi,  ad  effe- 
ctum  vt  eidem  ecclesie  de  persona  per  Regem  nominanda  huiusmodi  et  non 
alias  prouideri  deberel ;  ad  dignilales  vero  ac  Canonicatus  et  prebendas 
huiusmodi  pro  tempore  existenti  Magistro  dicte  Militie,  ad  quem  Jus  pa- 
tronatos seu  presentandi  ad  dicta  beneficia,  dum  pro  tempore  \acabanl, 
perlinebat,  institutionem  autem  eidem  Episcopo  funchalensi  pro  tempore 
existenti  perpetuo  reseruauerat ;  ac  eidem  ecclesie  sic  erecte  ab  eius  pri- 
meua  erectione  huiusmodi  tune  vacanti  de  persona  prefali  Didaci  dicta 
auctoritale  prouiderat,  preficiendo  ipsum  illi  in  Episcopum  el  Pastorem ; 
aliasque  et  alia  fecerat  et  ordinaueral,  prout  in  lilleris  ipsius  Leonis  prede- 
cessoris  desuper  confectis  plenius  continetur. 

Cum  dicto  Didaco  Episcopo  postmodum  vita  functo  pie  memorie  Cle- 
mens  papa  vn,  etiam  predecessor  noster,  procurante  Carissimo  in  christo 
filio  nostro  Johannc  moderno  Portugallie  et  Algarbiorum  Rege  Illuslri, 
prefati  Emanuelis  nato  et  successore,  dictam  ecclesiam  funchalensem  per 
obitum  Didaci  Episcopi  huiusmodi  tune  Vacanlem  in  Metropolitanam,  ac 
Indiarum  omniumque  et  singularum  alias  pro  illius  tune,  vt  premiltitur, 
ex  .parrochiali  in  Calhedralem  erecte  diócesi  assignalarura  et  ceterarum 
lemporalis  ditionis  prefati  Regis  Insularum  et  terrarum  nouarum,  tune 
ac  postmodum  repertarum  et  imposterum  reperiendarum,  cum  Archiepis- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  131 

copali  el  Primatiali  dignitale,  preeminenüa,  iurisdictione,  superioritale  et 
auctorilate,  Crucis  delalione,  ac  alus  Melropoliticis  et  Primalialibus  insi- 
gnijs,  de  fratrum  suorum,  de  quorum  numero  lunc  eramus,  consilio,  si- 
militer  apostólica  auctoritale  erexisset  el  instituisset ;  et  inter  alias  ínsu- 
las eidem  ecclesie  funchalensi  pro  eius  diócesi  assignatas  ínsula  sancti  Mi- 
chaelis  nuncupata,  in  eodem  Mari  Occeano  sita,  ceteris,  dos  Acores  nun- 
cupalis,  illi  adiacentibus  Insulis  Maior  et  notabilior,  ac  magno  chrislia- 
norum  populo  refería  et  munita,  existeret,  el  in  illius  parte,  que  Angra 
nuncupalur,  inter  alias  Vna  insignis  parrochialis  ecclesia  sub  Inuocatione 
sancti  Salualoris  dicala,  in  qua  Vnus  Rector  frater  dicte  Mililie,  el  no- 
nulli  clerici  forsan  seculares  ibidem  perpetui  beneficiati,  Portionarii  nun- 
cupali,  fore  noscebantur  exislerel ;  et  prefactus  Johannes  Rex  in  ipsa  ín- 
sula sancti  Michaelis  diuinum  cultum  efflorere  et  animarum  salutem  pro- 
pagari  pió  affectu  desideraret,  Prefatus  Clemens  predecessor  de  dicta  ec- 
clesia funchalensi,  aliter  per  eum  nondum  tune  disposito,  sub  data  vi- 
delicet  Pridie  kalendas  Februarii,  Ponlificatus  sui  Anno  Décimo,  habita 
super  hiis  cum  eisdem  fralribus  deliberatione  matura  et  de  illorum  con- 
silio, eadem  auctorilate,  prefato  Johanne  Rege  super  eo  eidem  Glemenli 
predecessori  humiliter  supplicante,  ad  omnipolentis  dei  laudem  et  gloriara, 
ac  beate  Marie  Virginis  eius  glorióse  genitricis,  totiusque  curie  celestis 
honorem,  Oppidum  seu  Pagum,  in  quo  ipsa  ecclesia  sancti  Saluatoris  con- 
sistebat,  in  Ciuitatem,  que  sancti  Salualoris  nuncuparetur,  ac  ecclesiam 
ipsam  sancti  Salualoris  in  Cathedralem  ecclesiam,  sub  Inuocatione  sancti 
Salualoris,  pro  vno  Episcopo  sancti  Saluatoris  nuncupando,  qui  eidem 
ecclesie  sancti  Saluatoris  preesset,  ac  in  ea  illiusque  Ciuitate  et  diócesi 
spiritualia,  prout  pro  diuini  cullus  augmento  et  animarum  salute  expe- 
diré cognosceret,  conferret  et  seminaret : 

Necnon  Episcopalem  iurisdictionem,  auctoritalem  et  poteslatem  exer- 
ceret,  ac  omnia  et  singula  alia,  que  alii  Episcopi  in  suis  ecclesiis,  Giui- 
latibus  et  diocesibus  de  iure  vel  consuetudine  seu  alias  faceré  poterant, 
faceré  libere  el  licite  possit  el  deberet,  ac  pro  tempore  existenti  Archie- 
piscopo  Funchalensi  iure  Metropolitico  et  Primatiali  subesset  cum  sede  et 
Episcopali  ac  Capitulari  Mensis,  aliisque  insigniis  et  iurisdictionibus  Epis- 
copalibus,  ac  priuilegiis,  immunitatibus,  facultatibus  et  gratiis,  quibus  alie 
Cathedrales  ecclesie*  et  earum  Presules  in  eodem  Regno  et  Dominiis  Por- 
tugallic  existentes  similiter  de  iure  \el  consueludine,  aut  alias  quomodo- 

17* 


132  CORPO  D1PL03IATICO  PORTUGUEZ 

libet  vtcbantur,  potiebantur  et  gaudebant,  ac  vli,  potiri  et  gaudere  pos- 
sent,  quomodolibet  in  fulurura  vli,  potiri  et  gaudere  posset : 

Necnon  in  ea  Vnum  Decanatum  post  Pontificalem  Maiorem  pro  Vno  De- 
cano, qui  haberet  curam  Capituli,  et  ad  quem  cura  animarum  prout  ad  Re- 
ctorein  ipsius  ecclesie  sancli  Salualoris  perlinebat,  pertinerel,  elVnura  Ar- 
chidiaconatum  pro  Vno  Archidiácono,  ac  Vnam  Cantoriam  proVnoCanlo- 
re,  el  Vnam  Thesaurariam  pro  Vno  Thesaurario,  necnon  Vnam  Scolastriam, 
non  Maiores  post  Pontificalem  inibi  dignitales,  pro  Vno  Scolastico,  ac  Duo- 
decim  Canonicatus  et  tolidem  prebendas  pro  Duodecim  Canonicis,  qui,  si- 
mul  cum  Decano,  Archidiácono,  Cantore,  Thesaurario,  ac  Scolastico  pre- 
fatis,  Capilulum  ipsius  ecclesie  facerent  et  consliluerent  ita  quod  tune  Re- 
ctor ipsius  ecclesie  sancli  Saluatoris  decanus,  et  vnus  Archidiaconus,  ac 
alius  Cantor,  necnon  alius  Thesaurarius  ac  alius  ex  prediclis  clericis  in 
eadem  ecclesia  sancli  Salualoris  perpetuus  beneíicialus,  Portionarüs  nun- 
cupatis,  magis  idoneis  per  primofulurum  Episcopum  sancli  Salualoris  ad 
hoc  examinandis  Scolaslicus,  et  Duodecim  alii  ex  eisdem  beneficialis,  si 
lot  forent,  alioquin  alii  clerici  seculares  per  ipsum  Regem  nominandi,  Ca- 
nonici  eiusdem  erecte  ecclesie  existerent,  ac  Decanatum,  Archidiacona- 
lum,  Cantoriam,  Thesaurariam,  Scolastriam,  necnon  Canonicatus  el  pre- 
bendas erectos  prediclos  respectiue  lilterarum  desuper  conficiendarum  vi- 
gore, absque  aliqua  prouisione  de  illis  sibi  facienda,  oblinere  possenl, 
perpetuo  erexit  el  inslituit. 

Necnon  ex  Insulis,  terris  et  Prouinciis  dicte  ecclesie  funchalensis  alias 
pro  eius  diócesi  assignatis  huiusmodi  totam  sancti  Michaelis  prefalam  ac 
illi  adiacentes,  necnon  Tertiam  sancli  Georgii,  a  gratiosa,  a  do  pico,  et  da 
faya  et  das  flores,  necnon  a  do  Coruo  nuncupatas  Ínsulas,  que  antea  dió- 
cesis funchalensis  erant,  cum  ómnibus  et  singulis  illarum  Caslris  Villis  et 
locis  ac  districlibus,  quorum  omnium  denominationes  diclus  Clemens  pre- 
decessor  pro  expressis  haberi  voluit,  necnon  clero  et  populo,  personis,  ec- 
clesiis,  Monasteriis,  Hospilalibus,  el  alus  piis  locis  ac  beneficiis  ecclesiasli- 
cis,  cum  cura  el  sine  cura,  secularibus,  ac  quorumuis  ordinum  regulari- 
bus,  a  predicla  ecclesia  et  diócesi  funchalensi  etiam  perpetuo  dismembra- 
ueral  el  separauerat :  necnon  eidem  ecclesie  sancli  Saluatoris  locum  seu 
Pagum  sic  in  Ciuitatem  erectum  pro  Ciuitate,  ac  ínsulas  dismémbralas  hu- 
iusmodi cum  ómnibus  iuribus  et  perlinentiis  suis  pro'íllius  dislriclu,  dió- 
cesi et  territorio  in  spirilualibus  el  temporalibus,  prout  ad  diclam  eccle- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  133 

siam  Funchalensem  antea  pertinebant  seu  perlinere  poterant,  illarumque 
Íncolas  et  habitalores  pro  clero  et  populo  perpetuo  concessit  et  assignauit, 
clerumque  et  populum  Ciuitatis  et  diócesis  sancti  Saluatoris  huiusmodi 
cure  et  iurisdictioni  ipsius  Episcopi  sancti  Saluatoris  pro  tempore  existen- 
tis,  quoad  legem  diocesanam  et  iurisdiclionem,  eliam  perpetuo  subiecit. 

Aceidem  erecte  ecclesie  pro  illius  dote  omnia  etsingula  iura  et  emo- 
lumenta Episcopajia,  seu  que  Episcopus  Funehalensís  ex  ínsulis  separalis 
huiusmodi  antea  percipiebat  seu  percipere  poterat ;  necnon  redditus  an- 
nuosQuingentorum  ducatorum  auri  in  auro  Largorum,  Cruciatorum  nun- 
cupatorum,  ad  valorem  Ducentorum  Millium  Regalium  monele  illarum 
partium  ascendentium  ex  annuis  reddilibus  ad  dictum  Joannem  Regem, 
ut  dicte  Militie  Jesu  chrisli  perpetuum  administratorem  in  spiritualibus 
et  temporalibus  per  sedem  aposlolicam  deputalum,  in  dicta  ínsula  sancti 
Michaelis  specíantibus,  ipsius  Johannis  Regis  et  administratoris  ad  hoc 
expresso  accedente  consensu,  necnon  Decanatui  omnes  et  singulos  fructus 
'ipsius  ecclesie  sancti  Saluatoris,  quos  ülius  Rector  pro  tempore  existens 
antea  percipiebat,  valorem  centum  Ducatorum  similium  secundum  com- 
munem  extimationem  annuum  non  excedentes,  necnon  ex  eisdem  reddi- 
tibus  ad  ipsum  Johannem  Regem  et  administratorem  in  eadem  ínsula 
sancti  Michaelis  pertinentibus,  singulis  alus  Quatluor  dignitatibus  Qua- 
draginta,  qui  Sexdecim  millium,  singulis  autem  Canonicalibus  et  preben- 
dis  huiusmodi  simililer  pro  eorum  dote  Triginta  Ducatorum  airri  simi- 
lium, qui  Duodecim  Millium  Regalium  similium  valorem  constituebant, 
redditus  annuos,  computatis  tamen  seu  inclusis  quoad  alias  Qualtuor  di- 
gnilates  ac  Canonicatus  et  prebendas  huiusmodi  prouentibus,  quos  dicli 
beneficiati  ex  eorum  in  dicta  ecclesia  beneficiis  seu  illorum  ralione  per- 
cipiebant,  illis  videlicet,  qui  ex  diclis  reddilibus  ipsius  Johannis  Regis 
Administratoris  persoluebantur  dumtaxat,  eiusdem  Johannis  Regis  el  ad- 
ministratoris etiam  ad  id  accedente  consensu,  perpetuo  applicauit  et  ap- 
propriauit,  ila  quod,  si  contingeret  fructus,  quos  dicte  ecclesie  sancti  Sal- 
uatoris Rector  antea  percipiebat,  ad  predictorum  Centum  Ducatorum  va- 
lorem non  ascenderé,  tune  id  quod  ex  dicto  valore  Centum  Ducatorum 
deesset  ex  ipsius  Johannis  Regis  et  administratoris  reddilibus  in  dicta  ín- 
sula integraliter  compleri  seu  perfici  deberet,  et  ipse  Johannes  Rex,  et 
pro  tempore  existens  Administrator  seu  Magister,  ad  id  tenerelur  et  as- 
triclus  foret,  ac"  quod  fructus,  redditus  et  prouenlus  pro  singulorum  di- 


134  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

gnitalum  ac  Canonicaluum  ei  prebendarum  dote  huiusmodi  applicali,  el 
alii,  quos  ratione  eorundem  dignitatum  ac  Canonicaluum  et  prebendarum 
percipiebant,  seu  in  futurum  perciperent,  in  quolidianas  dislributiones  ac 
inter  presentes  el  diuinis  inleressentes  et  non  alias  distribuerentur  el  di- 
uiderenlur. 

Et  insuper  diclus  Clemens  predecessor  Jus  patronatus  et  presentandi 
infra  Annum,  propler  loci  dislantiam,  eidem  predecessori  et  pro  tempore 
exislenli  Romano  Ponlifici  personam  idoneam  ad  ipsam  ecclesiam  sancli 
Saluatoris,  tam  ea  prima  vice  quam  alias  quoliens  illius  vacatio  occurre- 
ret,  per  eundem  Clementem  predecessorem  et  pro  tempore  existentem  Ro- 
manum  Pontificem  in  eiusdem  ecclesie  sancti  Saluatoris  Episcopum  et 
Pastorem  ad  preseníalionem  huiusmodi  et  non  alias  preficiendam  eidem 
Johanni,  et  pro  tempore  exislenli  Regi  Portugallie,  cui  antea  Jus  palrona- 
tus  et  presentandi  ad  dictam  ecclesiam  funchalensem  dicta  auctoritate  re- 
seruatum  fuerat,  ipsique  Johanni,  et  pro  tempore  exislenli  Regi,  etiam 
Jus  patronatus  et  presentandi  prefato  Episcopo  sancli  Saluatoris  vel  eius 
Vicario  in  spiritualibus  generali,  similiter  pro  tempore  existenti,  de  ipsius 
Episcopi  sancti  Saluatoris  speciali  commissione,  aut  personis  ad  id  ab  eo 
deputandis,  personas  seculares  idóneas,  tam  ad  maiorem  post  Pontifica- 
lem,  quam  etiam  ad  alias  Quattuor  dignilales,  ac  Duodecim  Canonicatus 
et  tolidem  prebendas  predictos,  quotiens  illos  simililer,  ea  prima  vice  ex- 
cepta ;  necnon  ad  omnia  et  singula  alia  Ciuilalis  et  diócesis  sancti  Salua- 
toris huiusmodi  beneficia  quecumque,  quolcumque  et  qualiacumque,  ad 
que  antea  dicte  Mililie  administrator  seu  Magister  pro  tempore  existens 
regulares  personas  presentare  consueuerat,  quotiens  illa  ex  tune  de  ce- 
tero  quibusuis  modis  et  ex  quorumeumque  personis,  etiam  apud  sedem 
eandem,  vacare  contingeret,  per  ipsum  Episcopum  sancti  Saluatoris,  seu 
eius  Vicarium  aut  personas  deputandas  huiusmodi  ad  presentalionem  ean- 
dem instituendas,  Sic  quod  Episcopus  seu  Vicarius,  aut  persone  depu- 
tande  huiusmodi  presentationes  predictas,  etiam  extra  dictam  diocesim 
sancti  Saluatoris  constitulus  seu  conslitute,  admitiere  et  ad  illas  instituere 
possent,  et  ad  dictum  Decanatum  presenlatus  et  in  eo  institutus  pro  tem- 
pore, infra  Annum  a  die  illius  assecutionis  computandum,  nouam  pro- 
uisionem  a  dicta  sede  impetrare,  et  iura  Camcre  apostolice  ralione  illius 
vacalionis  debita  persoluere,  lenerelur,  alioquin  dicto  Anno  elapso  pre- 
sentado et  institutio  huiusmodi  nullius  essent  roboris  vcFmomenti,  ipse- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  13o 

que  Decanatus  vacare  censeretur  eo  ipso ;  Ac  idem  Johannes  et  pro  tem- 
pore  existens  Portugallie  et  Algarbiorum  Rex  ex  lunc  de  cetero  perpe- 
tuis  fuluris  temporibus  ad  eosdem  Decanalum,  ac  alias  Quatluor  digni- 
tates,  necnon  Ganonicalus  et  prebendas,  omniaque  et  singula  alia  erecta, 
ad  que  Magisler  dicte  Mililie  anlea  regulares  presentare  consueuerat  ac 
im  posterum  erigenda,  ad  que  presentare  debuerat  ecclesie  Giuitatis  et  dió- 
cesis Sancti  Saluatoris  huiusmodi  beneficia  ecclesiastica,  cum  cura  et  sine 
cura,  seculares  omnino  ac  nullalenus  regulares  personas  presentare  de- 
beret,  similiter  perpetuo  reseruauil  et  concessit. 

Et  insuper  voluit  statuit  et  ordinauit  et  decreuit  quod  eliam  ex  tune 
de  cetero  idem  Johannes  Rex,  et  pro  lempore  existens  dicte  Militie  Ad- 
minislrator  seu  Magisler,  ipsius  ecclesie  sancti  Saluatoris  edificia  arapliari, 
et  ad  formam  Calhedralis  ecclesie  in  ómnibus  et  per  omnia  reduci  faceré, 
illamque  ac  omnes  et  singula  alias  ecclesias,  Capellas,  templa,  Monasteria 
et  pía  loca  earundem  Ciuitatis  et  Diócesis  sancti  Saluatoris  in  eorum  edifi- 
ciis  manulenere,  reseruari  et  reparare  faceret ;  necnon  Mitra,  báculo  pas- 
lorali,  \estimentis,  paramentis,  ornamenlis,  Calicibus,  Palenis,  Turibulis, 
Vassis,  libris,  luminaribus,  Organis,  Campanis  et  alus  lam  ipsi  ecclesie  san- 
cti Saluatoris  et  illius  Presuli,  necnon  Dignilates  oblinenlibus  et  Canonicis 
ac  personis,  quam  alus  ecclesiis,  Capellis,  templis,  Monasteriis  et  piis  lo- 
cis  predictis,  ac  illorum  beneficialis  et  ministris  ad  diuinum  cultum  inibi 
necessariis,  decenler  fulcire ;  Necnon  pro  tempore  exislenti  dicte  ecclesie 
sancti  Saluatoris  Presuli,  dignilates  oblinenlibus,  ac  Canonicis  de  premis- 
sis  illis  perpetuo  concessis  et  assignatis  dolibus  ex  ipsius  Johannis  Regís 
et  Adminislratoris  in  dicta  ínsula  reddilibus,  necnon  in  dicta  ecclesia  san- 
cti Saluatoris  ac  per  ipsius  Ciuitalem  et  diocesim  existentibus  ecclesiarum 
parrochialium,  Vicariarum,  Capellarum,  templorum  et  piorum  locorum  hu- 
iusmodi Rectoribus,  Vicariis,  Capellanis,  officialibus,  presbileris,  clericis  et 
alus  personis  illis  in  diuinis  deseruientibus  sólita  et  congrua,  redditus  et 
salaria  annua  impenderé ;  Necnon  alia  noua  parrochiales  ecclesias,  Vica- 
rias, Capellas,  templa,  ac  pia  loca  in  Ciuilale  et  diócesi  sancti  Michaelis 
predictis,  ubi  et  quotiens  iuxta  lemporum  et  locorum  qualitalem  et  exi- 
genliam  opporleret,  et  alias,  prout  inter  ipsos  Administratorem  seu  Ma- 
gislrum  et  Episcopum  conuentum  foret,  construí  et  erigi  faceré ;  ac  Re- 
ctores, Vicarios,  Capellanos,  beneficiatos,  officiales,  et  personas  in  illis 
cultui  Diuino  et  animarum  cure  necessarios,  in  congruo  numero  depulare 


136  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

et  debite  sustentare,  el  necessaria  eis  ministrare,  prout  ratione  dicte  Mi- 
litie  de  iure  vel  consuetudine  seu  alias  tenebalur  et  obligabatur,  penitus 
et  oranino  lenerelur  et  astrictus  existeret : 

Quodque  Prioratus,  Prepositure,  Parrochiales  ecclesie,  Vicarie,  Ca- 
pelle,  ac  alia  quecumque  cum  cura  et  sine  cura  beneficia  et  oííicia  cccle- 
siastica,  quorum  qualitates,  denominaliones  et  inuocationes  idem  Clemcns 
predecessor  pro  expressis  haberi  voluit,  in  ecclesia  Ciuitate  et  Diócesi 
sancli  Saluatoris  predictis,  procurantibus  dicto  JohanneRege  ac  illius  pre- 
decessoribus  administratoribus  seu  Magistris  dicte  Mililie,  vel  alias  quo- 
modolibet  erecta,  instituta  et  ordinata,  ac  illorum  Recloribus,  Vicariis, 
Capellanis,  Sacerdotibus,  clericis,  beneficiatis,  officialibus  et  personis  in 
illis  deseruienlibus  deputala  reddilus  et  salaria ;  Necnon  donaliones  et  con- 
cessiones  quecumque  ecclesiis,  Vicariis,  Capellis  et  locis  predictis  tune 
facte  et  que  in  futurum  fierent,  nisi  de  ipsius  Episcopi  sancti  Saluatoris 
pro  tempore  existentis  permisione  et  consensu,  ac  alias  prout  de  iure  fo- 
ret,  nullalenus  supprimi  et  cassari,  immutari,  reuocari,  extinguí  aut  in- 
ualidari,  seu  numerus  Rectorum,  Vicariorum,  Presbiterorum,  Capellano- 
rum,  clericorum,  beneficiatorum,  oíficialium  et  personarum  buiusmodi 
pro  tempore  institutus  imminui,  aut  redditus  et  salaria  huiusmodi  ad  mi- 
nores summas  quam  erant  ordinata,  a  quoquam  etiam  apostólica  predi- 
cta  vel  quauis  alia  auctoritate  fungentes,  reduci  nullalenus  possent,  sed 
inconcussa,  illesa  et  intacta  permanerent  similibus  consilio  et  auctoritate 
perpetuo  slatuit  et  ordinauit:  ac  easdem  donaliones,  concessiones,  ordi- 
nationes  et  deputationes,  ceteraque  premissa,  ac  prout  illa  concerncbant 
omnia  et  singula  in  instrumentis  seu  publicis  documentis  desuper  forsan 
confectis  contenta,  et  que  in  futurum  fierent,  etiam  ex  tune  prout  ab  ea 
die  et  e  contra,  approbauit  et  confirmauit,  supplens  omnes  et  singulos, 
siqui  in  eis  interuenissent,  tam  iuris  quam  facti  defeclus. 

Preterea  prefatus  Clemens  predecessor  voluit  et  ordinauit  dignitates 
obtinentes,  Canónicos,  beneficiatos,  presbíteros,  clericos,  oficiales  et  per- 
sonas ecclesie,  Ciuitatis  et  Diócesis  sancli  Saluatoris  huiusmodi  pro  tem- 
pore existentes,  quoad  correcliones,  precedentias,  reformaliones,  etiam 
personales,  cerimonias,  ritus,  mores  et  consuetudines,  ac  diuinorum  offi- 
ciorum  recitationem  et  celebrationem,  ac  alia  omnia  et  singula  dignitates 
obtinentibus,  Canonicis,  beneficiatis,  presbiteris,  clericis,  officialibus  et 
personis  dicte  ecclesie  et  diócesis  funchalensis  conforman  deberé,  ac  Epis- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  137 

copum  Sancti  Saluatoris  pro  tcmpore  existentem  ad  hoc  per  dignilales 
obtinenles,  Canónicos,  beneficíalos,  presbíteros,  clericos,  officiales  et  per- 
sonas prefatos  obseruari  faciendum  per  diclum  Melropolitanum  et  Primalem 
pro  tempore  existentem  cogi  et  compelli  posse.  Et  nichilorainus  eidem  Epis- 
copo  Sancti  Saluatoris  pro  tempore  existenli  sub  ingressus  ecclesie,  necnon 
mille  Ducatorum  auri  Camere  apostolice  eo  ipso  incurrenda  et  applicanda 
pena,  districtius  precipiendo  mandauit  quatenus  premissa  omnia  et  sin- 
gula,  ac  alia,  que  dicte  Mililie  Adminislratori  seu  Magistro,  ac  quibusuis 
illorum  officialibus  et  alus  personis  ralione  dicte  Militie  seu  alias  quomo- 
dolibet  incumbebant,  per  se,  vel  alium  seu  alios,  irremissibililer  adimpleri 
faceret :  eidemque  Episcopo  sancti  Saluatoris  ad  omnia  et  singula  premissa, 
necnon  contradictores  quoslibet  et  rebelles  per  censuras,  ac  pecuniarias  et 
alias  formidabiliores  eo  ipso  incurrendas  penas  ecclesiaslicas,  sublato  ap- 
pellationís  et  diffugii  obstáculo,  compescendi,  Inuocato  etiam  ad  hoc,  si 
opus  fuerit,  auxilio  Brachii  secularis,  preter  ordinariam  aposlolicam  au- 
cloritatem  et  facultatem,  concessit.  Ac  quod  Episcopus  sancti  Saluatoris 
pro  tempore  exislens  premissa  omnia  et  singula,  vt  premiltitur,  necnon 
quamcumque  iurisdictionem  ordinariam  in  diocesanos  suos  exerccre  ac  per 
\¡am  simplicis  querele  adiri  possit,  etiam  extra  dictam  eius  diocesim  sancti 
Saluatoris,  perinde  ac  si  in  ea  consiitulus  esset,  concessit,  Decernens  ir- 
ritum  et  inane  quicquid  secus  super  hiis  a  quoquam  quauis  auctoritale 
scienter  vel  ignoranter  contingeret  allemptari. 

Non  obstanlibus  ipsius  Clementis  predecessoris,  per  quam  inter  alia 
voluerat  quod  semper  in  vnionibus  commissio  fieret  ad  parles,  vocatis 
quorum  interesset,  et  alus  aposlolícis  Constilutionibus  ac  dicte  ecclesie 
Funchalensis,  necnon  Militie  et  ordinis  prediclorum,  juramento,  confirma- 
tione  apostólica,  vel  quauis  firmilate  alia  roboratis  stalutis  et  consuetudi- 
nibus,  necnon  priuilegiis  et  indultis  aposlolícis  eisdem  Melilie  et  ordini, 
ac  ipsius  Militie  Magistro  seu  administratori,  necnon  Mililibus  et  alus  fra- 
tribus  ac  officialibus  ceterisque  personis  in  genere  vel  in  specie,  etiam  su- 
per illorum  exemptione,  ab  ordinariis  locorum  et  alias  sub  quibuscum- 
que  tenoribus  et  formis,  ac  quibusuis  etiam  derogatoriarum  derogatoriis, 
aliisque  efficatioribus  et  insolitis  clausulis,  irritanlibusque,  et  alus  decre- 
tis,  etiam  iteratis  vícibus  concesis  approbalis  et  innoualis,  quibus  óm- 
nibus, etiam  si  de  illis  eorumque  totis  tenoribus  specialis,  specifica,  in- 
diuidua,  et  expressa,  ac  de  verbo  ad  verbum,  non  aulem  per  clausulas 

TOMO   III.  18 


138  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

generales  etiam  idem  importantes,  mentio,  seu  queuis  alia  expressio  ha- 
benda  aut  aliqua  alia  exquisita  forma  ad  id  seruanda  foret,  tenores  hu- 
iusmodi  pro  suííicienter  expressis  habens,  illis  alias  in  suo  robore  per- 
mansuris,  ea  vice  duntaxat,  specialiter  el  expresse  derogauit,  ceterisque 
contrariis  quibuscumque. 

Ne  autem  de  erectione  et  institutione  posterioribus,  dismembratione, 
separatione,  assignatione,  subiectione*  applicatione,  appropriatione,  reser- 
uatione,  volúntate,  statuto,  ordinatione,  approbatione,  conlirmatione,  sup- 
plelione,  precepto,  mandato,  concessione,  decreto  et  derogatione  predictis, 
pro  eo  quod  super  illis  dicti  Clementis  predecessoris,  eius  superueniente 
obitu,  liltere  confecte  non  fuerunt,  valeat  quomodolibet  hesitari,  ipse- 
que  Johannes  Rex,  et  pro  tempore  existentes  Portugallie  et  Algarbiorum 
Rex,  ac  Episcopus  Sancti  Saluatoris  illorum  frustrentur  effectu,  Volu- 
mus,  et  similiter  aucloritate  apostólica  decernimus,  quod  erectio,  institu- 
lio,  dismembralio,  separatio,  assignatio,  subietio,  applicatio,  appropria- 
tio,  reseruatio,  voluntas,  statutum,  ordinalio,  approbatio,  confirmatio, 
supplelio,  preceptum,  mandatum,  concessio,  decretum  et  derogatio  Cle- 
mentis predecessoris  huiusmodi,  per  inde  a  dicta  die  Pridie  Kalendas  Fe- 
bruarii  suum  sorliantur  effectum,  ac  si  super  illis  ipsius  Clementis  prede- 
cessoris littere  sub  eiusdem  diei  Data  confecte  fuissent,  prout  superius 
enarratur;  Quodque  presentes  littere  ad  probandum  plene  erectionem, 
institulionem,  dismembrationem,  separationem,  assignationem,  subiectio- 
nem,  applicationem,  approprialionem,  reserualionem,  voluntatem,  statu- 
tum, ordinationem,  approbationem,  confirmationem,  supplelionem,  pre- 
ceptum, mandatum,  concessionem,  decretum  et  derogationem  Clementis 
predecessoris  huiusmodi,  ubique  sufíiciant,  nec  ad  id  probationis  allerius 
adminiculum  requiratur. 

Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  nostre  volunlatis 
et  decreti  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  conlraire.  Siquis  autem  hoc 
attemplare  presumpserit,  indignationem  omnipotentis  dei,  ac  bealorum  Pe- 
tri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  so  nouerit  incursurum. 

Datum  Rome,  apud  Sanclum  petrum,  Anno  Incarnationis  Dominico 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarto,  Tcrtio  Nonas  Nouembris,  Pon- 
tificatus  nostri  Anno  Primo1. 

1  Arch.  Nac.  Mac.  17  de  Bullas,  n.°  32. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  -    139 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Ilci. 


1534  —  Novembro  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  Dei  Carissimo  in  chrislo  filio  Jo- 
hanni,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi  illustri,  Salutem  et  apostolicam 
benedictionem. 

Gralie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconium  acquiriíur  si 
per  seculares  Principes  ecclesiarum  Prelatis,  presertim  Pontiíicali  digni- 
tate  predilis,  opporluni  fauoris  presidium  et  honor  debitus  impendalur. 
Dudum  siquidem  felicis  recordalionis  Glemens  papa  \n,  predecessor  nos- 
ter,  ecclesie  Sancti  Saluatoris,  quam  antea  ex  certis  causis,  te  procuran- 
te, de  parrochiali  ecclesia  sub  inuocalione  Sancti  Saluatoris  dicata,  in  ín- 
sula sancti  Michaelis  nuncupata,  Maris  Occeani  consistente,  in  Calhedra- 
lem  ecclesiam  sub  eadem  Inuocatione  Sancti  Saluatoris  pro  Vno  Episcopo 
Sancti  Saluatoris  nuncupando,  qui  illi  preesset,  de  fratrum  suorum,  de 
quorum  numero  tune  eramus,  consilio,  apostólica  auctoritate  erexerat  et 
instituerat;  et  cui  locum  seu  Pagum,  in  quo  ipsa  ecclesia  Sancti  Salua- 
toris consistebat,  etiam  per  eundem  predecessorem  in  Ciuitatem  erectum 
pro  Ciuilate,  que  Sancti  Saluatoris  nuncuparetur,  ac  sancti  Michaelis  pre- 
dictam,  et  certas  alias  tune  expressas  illi  adiacentes  ínsulas  pro  diócesi, 
illarumque  Íncolas  et  habitatores  pro  Clero  et  Populo,  concesserat  et  as- 
signauerat;  tune  ab  eius  primeua  erectione  huiusmodi  vacanli,  de  persona 
dilecti  filii  Auguslini,  Electi  Sancti  Saluatoris,  sibi  et  eisdem  fratribus  ob 
suorum  exigentiam  meritorum  accepta,  de  simili  ipsorum  fratrum  consi- 
lio, dicta  auctoritate  prouidit,  ipsumque  illi  in  Episcopum  prefecit  et  Pas- 
torem,  curam  et  administrationem  ipsius  ecclesie  sibi  in  spiritualibus  et 
lemporalibus  plenarie  committendo,  prout  in  nostris  inde  confeclis  li He- 
rís, cum  dictus  predecessor,  antequam  eius  liltere  desuper  conficeren- 
tur,  sicut  domino  placuit,  rebus  fuisset  humanis  exemptus,  plenius  con- 
tinetur.  Cum  itaque,  fili  carissime,  sit  virtutis  opus  dei  ministros  beni- 
gno fauore  prosequi,  ac  eos  verbis  et  operibus  pro  Regís  elerni  gloria  ve- 
neran, Maiestatem  tuam  Regiam  rogamus  et  hortamur  atiente  quatenus 

18* 


1 40  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

eundem  Auguslinum  Eleclum,  el  ecclesiam  predictam  suc  cure  commis- 
sam,  habens  pro  nostra  et  apostolice  sedis  reucroncia  propcnsius  com- 
mendatos,  in  ampliandis  et  conseruandis  iuribus  suis  sic  eos  benigni  fa- 
uoris  auxilio  prosequaris  quod  ipse  Augustinus  Electus,  lúe  celsiludinis 
fultus  presidio,  in  commisso  sibi  cure  pasloralis  oílicio  possil  deo  propilio 
prosperan,  ac  tibí  ex  inde  a  deo  perennís  vilo  premium  el  a  nobis  con- 
digna proueniat  adió  graliarum. 

Dalum  Rome,  apud  Sanclum  pelrum,  Anno  Incarnationis  Dominico 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarto,  Tertio  Nonas  Nouembris,  Pon- 
lificatus  noslri  Anno  Primo1. 


B ulla  do  Papa  Paulo  III. 

1534  —  Vovrmliro  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  Dei  ad  perpetuam  rei  memoria «. 

Equum  reputamus  et  rationi  consonum  ut  ea,  que  de  Romani  Pon- 
lificis  prouisione  processerunt,  licel  eius  superueniente  obitu  littere  apos- 
tolice super  illis  confecte  non  fuerint,  suura  sorlianlur  effeclum. 

Dudum  siquidem  postquam  felicis  recordationis  Leo  papa  x,  predc- 
cessor  noster,  procurante  clare  memorie  Emanuele  Portugallie  et  Algar- 
biorum  Rege,  qui  tune  in  bumanis  agens  multas  Ierras  Prouincias  et  ín- 
sulas a  Capitibus  de  Boyador  usque  ad  Indos  possidebal,  in  quibus  nul- 
lus  Episcopus,  qui  ea  que  erant  ordinis  Episcopalis  exerceret,  babebatur, 
excepto  Vicario  pro  tempore  existente  Oppidi  de  Thomar,  nullius  dióce- 
sis, qui  frater  mililie  Jesu  chrisli  Gisterciensis  ordinis  existebat,  el  Juris- 
dictionem  Episcopalem  inter  alia  in  diclis  terris,  Prouinciis  el  Insulis  ex 
priuilegio  apostólico  olim  sibi  concesso  habebat,  Vicariam  de  Thomar  hu- 
iusmodi  bone  memorie  Didaci  Pinheiro  olim  Episcopi  funchalensis,  tune 
in  humanis  agentis  et  dicti  Oppidi  Vicarii,  ad  id  tune  expresso  accedente 
consensu,  apostólica  aucloritale  suppresserat  extinxeratque  ;  ac  tune  par- 
rochialem  ecclesiam  beale  Marie  per  eundem  Emanuelcm  Rcgem  in  Ci- 

1  Abch.  Nac,  Mac.  24  de  Bullas  n.°  17. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  141 

urtate  de  Funchal,  et  in  ínsula  de  Madeira,  in  mari  Occeano  sita,  con- 
sistente, fundalam,  in  quibus  Vicarius  írator  dicte  mililie,  el  nonnulli  be- 
neficiali  presbiteri  seculares  beneficia  ecclesiaslica,  Portiones  nuncupata, 
oblinentes,  exislebant,  in  Calhedralem  ecclesiam,  cum  sede  ac  Episcopali 
et  Capitulan  mensis,  aliisque  Cathedralibus  insigniis ;  ac  in  ea  Decana- 
tum  maiorem,  ac  Archidiaconatum,  Canloriam,  Thesaurariam  et  Scolas- 
triam  non  maiores  post  Ponlificalem  inibi  dignitales,  necnon  Duodecim 
Canonicalus  et  lolidem  prebendas  erexerat  et  instituerat ;  Illique  pro  eius 
fruclus,  redditus  et  prouenlus  (sic),  quos  Vicarius  de  Thomar  pro  tem- 
pore  existens  ex  Jurisdictione  et  Vicaria  huiusmodi  percipiebat,  ac  cer- 
tos  tune  expressos  annuos  redditus,  necnon  pro  dignitatum  ac  Canoni- 
caluum  et  prebendarum  predictorum  dote  certa  lunc  expressa  bona  per- 
petuo applicauerat  et  appropriauerat :  ac  Ciuitatem  de  funchal  pro  Ciui- 
tale,  eiusque  districtum  seu  territorium  cum  predicta  de  Madeira,  ac  óm- 
nibus alus  Insulis,  terris,  Prouinciis  et  alus  quibuscunque  locis  dicto  Vi- 
cario subiectis,  pro  diócesi  ínter  alia  concesserat  et  assignaueral ;  necnon 
Jus  patronatus  et  presentandi  Romano  Ponlifici  pro  tempore  existenti  per- 
sonara idoneam  ad  eandem  Ecclesiam  funchalensem,  dum  illam  pro  tem- 
pore vacare  contingeret,  prefato  Emanueli,  et  pro  tempore  existenti  Por- 
tugallie  et  Algarbiorum  Regi,  ad  efFectum  ut  eidem  ecclesie  de  persona 
per  Regem  nominanda  huiusmodi  el  non  alias  prouideri  deberet;  Ad  di- 
gnitales uero  ac  Canonicatus  et  prebendas  huiusmodi  pro  lempore  exis- 
tenti Magislro  dicte  militier  ad  quem  Jus  patronatus  seu  presentandi  ad 
dicta  beneficia,  dum  pro  tempore  vacabant,  perlinebal,  Institulionem  au- 
tem  eidem  Episcopo  funchalensi  pro  tempore  existenti  reseruauerat :  eidem- 
que  ecclesie  funchalensi  sic  erecte,  ab  eius  primeua  erectione  huiusmodi 
tune  vacanti,  de  persona  prefati  Didaci  dicta  auctoritate  prouiderat,  pre- 
ficiendo  ipsum  illi  in  Episcopum  et  pastorem  : 

Cum  dicto  Didaco  Episcopo  postmodum  vita  fundo,  pie  memorie  Cle- 
mens  papa  vn,  etiam  predessor  nosler,  procurante  charissimo  in  christo 
filio  nostro  Johanne  moderno  Porlugallie  et  Algarbiorum  Rege  Uiuslre, 
prefati  Emanuelis  nato  et  successore,  diclam  Ecclesiam  funchalensem  in 
Metropolitanam,  ac  Indiarum,  necnon  omnium  et  singularum  alias  pro 
illius  tune,  ut  premittitur,  ex  parrochiali  in  Calhedralem  erecte  diócesi 
assignalarum,  et  ceterarum  lemporalis  ditionis  prefati  Regis  Insularum  et 
terrarum  nouarum  eatenus  repertarum  ac  in  futurum  reperiendarum,  cum 


142  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Archiepiscopaii  et  primatiali  dignitatc,  preeminentia,  Jurisdiclionc,  supe- 
rioritale,  auctoritate,  et  crucis  delalione,  ac  alus  Metropolilanis  el  Pro- 
uincialibus  insigniis,  de  fratrum  suorum,  de  quorum  numero  lunc  era- 
mus,  consilio,  similiter  apostólica  auctoritate  erexisset;  et ' 

inter  alias  ínsulas  eidem  ecclesie  funchalensi  pro  eius  diócesi  assignatas, 
ínsula  sancti  Thome  nuncupata,  in  eodem  mari  Occeano  sita,  nolabilis, 
et  magno  chrislianorum  populo  referta  et  munita,  exisleret,  ac  in  ea  in- 
ter alias  vna  insignis  parrochialis  ecclesia  sub  inuocalione  beate  Maris  de 
Gratia  dicala,  in  qua  \nus  Rector  fraler  dicte  militie,  et  nonnulli  clerici 
seculares  ibidem  perpelui  beneficiali,  Porlionarii  nuncupali,  fore  nosce- 
bantur,  existeret,  et  prefatus  Johannes  Rex  in  ipsa  ínsula  sancti  Thome 
diuinum  cultum  eíflorere  et  animarum  salutem  propagan  pió  affeclu  de- 
sideraret;  Prefatus  Clemens  predecessor,  sub  dala  \idelicel  Pridie  Kalen- 
das  Februarii,  Pontificalus  sui  Anno  Décimo,  habita  super  hiis  cum  eis- 
dem  fratribus  deliberatione  malura,  de  eorum  consilio,  eadem  auctoritate, 
prefato  Johanne  Rege  eidem  Clementi  predecessori  super  eo  humiliter  sup- 
plicante,  ad  omnipotentis  dei  laudem  et  gloriara,  ac  ipsius  beate  Marie 
virginis,  eius  glorióse  genitricis,  totiusque  curie  celestis  honorem,  locura 
seu  pagum,  in  quo  ipsa  ecclesia  beate  Marie  consistebat,  in  Ciuitatem,  que 
Sancti  Thome  nuncuparelur,  ac  ecclesiam  ipsam  beate  Marie  de  Gratia  in 
Cathedralem  ecclesiam,  sub  inuocalione  Sancti  Thome,  pro  uno  Episcopo 
Sancti  Thome  nuncupando,  qui  eidem  ecclesie  Sancti  Thome  preesset,  ac  in 
ea  illiusque  Giuitate  et  Diócesi  spiritualia,  prout  pro  diuini  cullus  augmento 
et  animarum  salute  expediré  cognosceret,  conferret  et  seminaret,  necnon 
Episcopalem  Jurisdiclionem,  aucloritatem  et  poteslatcm  exerceret,  ac  om- 
nia  et  singula  alia,  que  alii  Episcopi  Regni  et  dominiorum  Porlugallie  in 
suis  ecclesiis,  Ciuilalibus  et  diocesibus  de  Jure  uel  consuetudine  seu  alias 
faceré  poterant,  faceré  libere  et  licite  posset  et  deberet,  ac  pro  tempore 
exislenli  Archiepiscopo  funchalensi  Jure  Metropolitico  et  primatiali  subes- 
set  cum  sede  Episcopali  ac  Capitulan  mensa,  aliisque  insigniis  et  iuris- 
dictionibus  Episcopalibus,  necnon  Priuilegiis,  immunitatibus,  facultalibus 
et  gratiis,  quibus  alie  Cathedrales  ecclesie  et  carura  Presules  in  eodera 
Rcgno  Porlugallie  consistentes  similiter  de  iure  uel  consuetudine,  aut  alias 


1  Raspado. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  .  143 

quomodolibet  \tebantur,  poliebanlur  et  gaudebant,  ac  uti,  poliri  et  gau- 
tlere  possent  quomodolibet  in  fulurum,  vli  poliri  et  gaudere  posset : 

Necnon  in  ea  Vnum  Decanatum  post  Ponlificalem  maiorem  porVno 
Decano,  qui  haberet  curam  Capituli  et  ad  quem  cura  animarum,  prout 
ad  Rectorem  ipsius  ecclesie  beate  Marie  perlinebat,  pertineret,  et  Vnum 
Archidiaconatum  pro  Vno  Archidiácono,  ac  Vnam  Cantoriam  pro  Vno 
Cantore,  et  Vnam  Thesaurariam  pro  VnoThesaurario,  necnon  Vnam  Sco- 
lastriam,  non  maiores  post  Pontificalem  inibi  dignitales,  pro  Vno  Scolas- 
tico,  ac  Duodecim  Canonicatus  et  totidem  prebendas  pro  Duodecim  Ca- 
nonicis,  qui  simul  cum  Decano,  Archidiácono,  Cantore,  Thesaurario  et 
Scolastico  predictis  Capitulum  ipsius  ecclesie  facerenl  et  conslituerent.  lia 
quod  tune  Rector  ipsius  ecclesie  beate  Marie  Decanus,  etVnus  Archidia- 
conus,  ac  alius  Cantor,  necnon  alius  Thesaurarius,  et  alius  ex  predictis 
clericis  in  eadem  ecclesia  beate  Marie  perpeluis  beneficiatis,  Portionariis 
nuncupalis,  magis  idoneis  per  primum  fulurum  Episcopum  Sancti  Thome 
ad  id  examinandis  Scolasticus,  et  Duodecim  alii  ex  ipsis  beneficialis,  si 
tot  forent,  alioquin  alii  clerici  seculares  per  ipsum  Regem  nominandi, 
Canonici  eiusdem  erecte  ecclesie  existerent ;  ac  Decanatum,  Archidiaco- 
natum, Cantoriam,  Thesaurariam,  et  Scolastriam,  necnon  Canonicatus  et 
prebendas  erectos  prediclos  respecliue  litterarum  desuper  conficiendarum 
vigore,  absque  aliqua  prouisione  de  illis  sibi  facienda,  obtinerent,  perpe- 
tuo erexit  et  instituit. 

Necnon  ex  tenis,  Insulis  et  Prouinciis  dicte  ecclesie  funchalensis 
alias  pro  eius  diócesi  assignatis,  parlem  illam  Ierre  continentis  Ethiopie 
seu  Guiñee,  in  África,  que  a  ilumine  sancti  Andree  nuncupalo,  prope  ca- 
put  seu  promontorium  das  Palmas  nuncupatum  inclusiue,  et  prout  a  fine 
diócesis  Sancti  Jacobi,  similiter  tune  a  dicta  ecclesia  funchalensi  dismém- 
brate, usque  ad  promontorium  de  Bona  Speranza,  et  eam  illius  parlem 
que  capul  Das  agulas  nuncupabalur  prolendebatur  exclusiue,  et  in  qua 
inler  alia  Oppidum,  Ciuilas  nuncupatum,  Sancti  Georgii  mine  auri,  nec- 
non Regnum  de  Congio  nuncupatum  consislebat,  ac  predicta  Sancti  Thome, 
necnon  Sancti  Anlonii,  ac  de  Fernando  do  poo,  et  de  Sánela  Helena,  et 
do  anno  boo,  necnon  similiter  eam  parlem  maris  Occeani,  que  Vna  ab 
oslio  fluminis  Sancti  Andree  nuncupali  prope  diclum  caput  Viride  uersus 
meridiem,  el  alia  a  capite  Das  agulas  predicto  prope  promontorium  de 
Boa  Speranza  huiusmodi  uersus  Occidenlem,  lineis  per  diclum  mare  Oc- 


144  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ceanum  direclis  claudebalur,  ac  prcter  supradictas  alias  forsan  inibi  adia- 
centes,  ct  per  lincas  huiusmodi  interceptas,  tam  reperlas  quam  repericn- 
das  ínsulas,  que  diócesis  funchalensis  antea  erant,  cum  ómnibus  et  sin- 
gulis  illarum  Castris,  Villis,  locis,  districtibusquc,  quorum  omnium  de- 
nominationcs  dietas  Clemens  predecessor  haberi  voluit  pro  expressis  :  nec- 
non  Clero  et  Populo,  personis  ecclesiasticis,  Monasleriis,  Hospilalibus, 
et  alus  pus  locis  ac  beneficüs  ecclesiasticis,  cum  cura  et  sine  cura,  secu- 
laribus..  et  quorumuis  ordinum  regularibus,  a  predicla  diócesi  funcha- 
lensi,  ipsius  Johannis  Regis  ad  id  tune  accedente  consensu,  etiam  perpe- 
tuo dismembrauit  et  separauit :  necnon  eidem  ecclesie  Sancli  Thome  lo- 
cum  seu  pagum  sic  in  Ciuilalem  ereclum  pro  Ciuilate,  ac  partes  terre  et 
maris  et  ínsulas  dismémbralas  huiusmodi,  cum  ómnibus  iuribus  et  per- 
tinenliis  suis,  pro  illius  districlu,  diócesi,  et  territorio  in  spirilualibus  et 
temporalibus,  proutad  dictam  ecclesiam  funchalensem  perlinebant  seu  per- 
linere  poterant,  illarumque  íncolas  el  habitatores  pro  Clero  et  Populo  con- 
cessit  et  assignauit :  necnon  Clerum  et  Populum  Ciuilatis  et  diócesis  San- 
cli Thome  huiusmodi  cure  el  Jurisdictioni  ipsius  Episcopi  Sancli  Thome 
pro  tempore  existentis,  quoad  legem  diocesanam  et  Jurisdiclionem  perpe- 
tuo subiecit. 

Ac  eidem  erecte  ecclesie  pro  illius  dote  omnia  et  singula  Jura  et  emo- 
lumenta Episcopalia,  que  Episcopus  funchalensis  ex  terris  ac  insulis  se- 
paratis  huiusmodi  percipiebat  seu  percipere  poterat,  Necnon  redditus  an- 
nuos  Quingentorum  ducatorum  auri  in  auro  largorum,  cruciatorum  nun- 
cupatorum,  ad  valorem  Ducentorum  Millium  Regalium  monete  illarum 
partium  ascendenlium  ex  annuis  reddilibus  ad  dictum  Johannem  Regem, 
ut  dicte  militie  Jesu  christi  perpeluum  administratorem  in  spirilualibus  et 
temporalibus  per  sedem  apostolicam  deputalum,  in  dicta  ínsula  Sancli 
Thome  speclantibus,  Ipsius  Johannis  Regis  et  adminislratoris  etiam  ad  id 
expresso  accedente  consensu  ;  necnon  Decanatui  omnes  et  singulos  fructus, 
redditus  et  prouentus  ipsius  ecclesie  Sancli  Thome,  quos  illius  Rector  pro 
tempore  exislens  antea  percipiebat,  valorem  Centum  ducatorum  similium 
communi  extimalione  annuatim  non  excedentes ;  necnon  ex  eisdem  reddi- 
tibus  ad  ipsum  Johannem  Regem  et  administratorem  in  eadem  ínsula  per- 
tinenlibus  singulis  alus  Qualuor  dignitatibus  Quadraginta,  qui  Sexdecim, 
singulis  autem  Canonicalibus  ct  prebendis  huiusmodi  similiter  pro  illorum 
dote  Triginta  ducatorum  auri  similium,  qui  Duodecim  Millium  Regalium 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  145 

similium  valorcm  constiluebanl,  reddilus  annuos,  computatis  lamen  et  in- 
clusis  quoad  alias  Qualuor  dignilates  ac  Canonicalus  et  prebendas  huius- 
modi prouenlibus,  quos  dicü  beneficiati  ex  eorum  in  dicta  ecclcsia  bene- 
ficiis  seu  illorum  ratione  percipiebant,  lilis  \idelicet,  qui  ex  diclis  reddi- 
tibus  ipsius  Johannis  Regis  et  adminislratoris  persoluebanlur  dumlaxat, 
eiusdem  Johannis  Regis  et  adminislratoris  ad  id  accedente  consensu,  per- 
petuo applicauit  et  appropriauit.  Ita  quod  si  contingeret  fruclus,  quos  di- 
cte ecclesie  beate  Marie  Redor  antea  percipiebat,  ad  predictorum  Cenlum 
ducatorum  summam  non  ascenderé,  tune  id,  quod  ex  dicta  summa  Cen- 
tum  ducatorum  deesset,  ex  ipsius  Johannis  Regis  et  adminislratoris  red- 
ditibus  in  dicta  ínsula  integraliter  compleri  seu  perfici  deberet,  et  ipse 
Johannes  Rex,  et  pro  tempore  existens  administrator  seu  Magisler,  ad  id 
teneretur  et  aslrictus  foret ;  ac  quod  fructus,  redditus  et  prouentus  pro 
singularum  dignitalum  ac  Canonicaluum  el  prebendarum  dote  huiusmodi 
applicati,  et  alii,  quos  ratione  eoruradem  dignitatum  ac  Canonicatuum  et 
prebendarum  percipiebant  seu  in  fulurum  perciperenl,  in  quotidianas  dis- 
tribuliones  ac  inter  presentes  et  diuinis  interessentes,  et  non  alias,  dis- 
tribuerenlur  et  diuiderentur. 

Et  insuper  diclus  Clemens  predecessor  Jus  patronalus  et  presenlandi 
infra  Annum,  propter  loci  distan tiam,  eidem  Clemenli,  et  pro  tempore 
exislenli  Romano  Pontifici,  personam  idoneam  ad  ipsam  ecclesiam  Sancli 
Thome,  quotiens  illius  vacatio,  ea  prima  \ice  excepta,  oceurreret,  per 
eundem  Clementem  predecessorem,  et  pro  tempore  exislentem  Romanum 
Pontificem,  in  eiusdem  ecclesie  Sancli  Thome  Episcopum  et  pastorem  ad 
presentalionem  huiusmodi,  et  non  alias,  preficiendam,  eidem  Johanni,  et 
pro  tempore  existenti  Regi  Portugallie,  cui  antea  ius  patronatus  el  pre- 
sentandi  ad  dictam  ecclesiam  funchalensem  dicta  aucloritale  reserualum 
fuerat ;  Ipsique  Regi  eliam  Jus  patronatus  et  presentandi  dicto  Episcopo 
Sancti  Thome,  uel  eius  Vicario  in  spirilualibus  generali  pro  tempore  exis- 
tenti de  ipsius  Episcopi  Sancli  Thome  spetiali  commissione,  aut  persone 
ad  id  ab  eo  deputande,  personas  seculares  idóneas  tam  ad  maiorem  post 
Pontificalem  quam  etiam  ad  alias  Quatuor  dignilates  et  Duodecim  Cano- 
nicatos et  prebendas  predictos,  quotiens  illos  similiter,  ea  prima  vice  ex- 
cepta ;  necnon  ad  omnia  et  singula  alia  Ciuitalis  et  diócesis  Sancli  Thome 
huiusmodi  beneficia  quecunque,  quoteunque  et  qualiacunque,  ad  que  an- 
tea dicte  mililie  adminislralor  seu  Magister  pro  tempore  existens  regula- 

tomo  ni.  1.9 


14G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

res  personas  presentare  consueuerat,  quoliens  illa  ex  tune  de  cetero  qui- 
busuis  modis  et  ex  quorumeunque  personis,  etiam  apud  sedem  canden), 
vacare  contingeret,  per  ipsum  Episcopum  Sancli  Thome,  seu  eius  Vica- 
rium  aut  personam  depulandam  huiusmodi,  ad  presentationem  eandem  ins- 
lituendas :  sic  quod  Episcopus,  seu  Vicarius  aut  persona  deputanda  hu- 
iusmodi, presenlationes  prediclas,  etiam  extra  dictam  diocesim  Sancti  Tho- 
me constitutus  seu  constituta,  admittere  et  ad  illas  instituere  posset;  ct 
ad  dictum  Decanalum  presentatus  ac  in  eo  instilutus  pro  tempore  infra 
Annum,  a  die  illius  asseculionis  computandum,  nouam  prouisionem  a  di- 
cta sede  impetrare  el  Jura  Camere  apostolice  ralione  illius  \acationis  de- 
bita persoluere  teneretur,  Alioquin,  elapso  dicto  Anno,  presentatio  et  Ins- 
titutio  huiusmodi  nullius  essent  roboris  uel  momenti,  Ipseque  üecanatus 
vacare  censeretur  eo  ipso.  Ac  idem  Johannes,  et.pro  tempore  existens 
Portugallie  et  Algarbiorum  Rex,  ex  tune  de  cetero  perpetuis  futuris  tem- 
poribus  ad  eosdem  Decanatum  ac  alias  Quatuor  dignitates,  necnon  Ca- 
nonicatus  et  prebendas,  omniaque  et  singula  alia  erecta,  ad  que  Magis- 
ter  dicte  militie  regulares  presentare  consueuerat,  ac  im  poslerum  erigen- 
da,  ad  que  presentare  debuerat,  ecclesie  Ciuilatis  et  diócesis  Sancli  Thome 
huiusmodi  beneficia  ecclesiaslica,  cum  cura  et  sine  cura,  seculares  om- 
nino  ac  nullatenus  regulares  personas  presentare  deberet,  similiter  per- 
petuo reseruauit  et  cóncessit. 

Et  insuper  voluit,  staluil,  ordinauit  et  decreuit  quod  etiam  ex  tune 
de  cetero  ipse  Johannes  Rex,  et  pro  tempore  existens  dicte  militie  admi- 
nistralor  seu  Magister,  ipsius  ecclesie  Sancli  Thome  edificia  ampliari  et 
ad  formam  Cathedralis  ecclesie  in  ómnibus  et  per  omnia  reduci  faceré, 
Illamque  ac  omnes  el  singulas  alias  ecclesias,  Capellas,  Templa,  Monas- 
teria  et  pia  loca  earundem  Ciuilatis  et  diócesis  Sancti  Thome  in  earum 
ediíiciis  manutenere,  conseruare  et  reparari  faceré. :  necnon  Mitra,  báculo 
paslorali,  vestimentis,  paramentis,  ornamentis,  Calicibus,  Patenis,  Thu- 
ribulis,  vasis,  luminaribus,  organis,  Campanis,  et  alus,  tam  Sancli  Thome 
et  illius  Presuli,  necnon  dignitates  obtinenlibus  et  Canonicis  ac  personis, 
quam  alus  ecclesiis,  Capellis,  lemplis,  Monasleriis,  el  pus  locis  predictis, 
ac  illorum  beneficiatis  et  Ministris  ad  diuinum  cullum  in  ibi  necessariis 
decenter  fulcire  :  necnon  pro  tempore  existenti  dicte  ecclesie  Sancti  Thome 
Presuli,  dignitates  obtinentibus,  el  Canonicis,  de  premissis  illis  perpetuo 
concessis  el  assignatis  dolibus  ex  ipsius  Johannis  Rcgis  et  administraloris 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  147 

in  dicta  ínsula  redditibus :  necnon  in  dicta  ecclesia  Sancti  Thome  ac  per 
illius  Ciuilalem  et  diocesim  existenlibus  ecclesiarum  parroehialium,  Ca- 
pellarum,  Templorum  et  piorum  locorum  huiusmodi  Recloribus,  \  icariis, 
Capellanis,  Oííicialibus,  presbiteris,  clericis  et  alus  personis  illis  in  diui- 
nis  deseruientibus,  sólita  et  congrua  redditus  et  salaria  annua  impenderé: 
necnon  alia  noua  parrochiales  ecclesias,  Capellas,  Templa  et  pia  loca  in 
Ciuilate  et  diócesi  Sancti  Thome  predictis,  ubi  et  quotiens  iuxta  tempo- 
rum  et  locorum  qualitalem  et  exigenliam  opporleret,  et  alias  prout  inter 
ipsos  administratorem  seu  Magistrum  et  Episcopum  conuentum  foret, 
construí  et  erigi  faceré :  ac  Rectores,  Vicarios,  Capellanos,  beneficiatos, 
Oííiciales  et  personas  in  illis  cullui  diuino  et  animarum  cure  necessarios 
in  congruo  numero  deputare,  ac  debite  sustentare  et  necessaria  eis  mi- 
nistrare, prout  ratione  dicte  militie  de  iure  uel  consuetudine  seu  alias 
tenebalur  et  obligabalur,  penilus  et  omnino  teneretur  et  astrictus  exis- 
teret. 

Quodque  Prioratos,  Preposilure,  parrochiales  ecclesie,  Vicarie,  Ca- 
peíle  et  alia  quecunque,  cum  cura  et  sine  cura,  beneficia  et  officia  eccle- 
siastica,  quorum  qualiiates,  denominationes  et  inuocationes  diclus  Cle- 
mens  pro  expressis  haberi  voluit,  in  ecclesia  Ciuitale  et  diócesi  Sancti 
Thome  predictis,  procurante  dicto  Johanne  Rege  ac  illius  predecessoribus 
administratoribus  dicte  militie,  uel  alias  quomodolibet  erecta,  instituía  et 
ordinata,  ac  illorum  Rectoribus,  Vicariis,  Capellanis,  Sacerdotibus,  cle- 
ricis, beneficiaos,  Oííicialibus  et  personis  in  illis  deseruientibus,  depulala 
redditus  et  salaria ;  necnon  donationes  et  concessiones  quecunque  eccle- 
siis,  Vicariis,  Capellis  et  locis  predictis  facte,  et  que  in  futurum  fierent, 
quas,  ac  prout  illas  concernebant  omnia  et  singula  in  Instrumentis  desu- 
per  forsan  confectis  contenta,  dictus  Clemens  predecessor  quoad  facías  ex 
tune,  necnon  quoad  faciendas  simililer,  ex  tune  prout  ex  ea  die,  et  e  con- 
tra, eadem  auctorilate  approbauit  et  confirmauit ;  Supplens  omnes  et  sin- 
gulos  iuris  et  facti  defectos,  siqui  forsan  interuenerint  in  eisdem,  nisi  de 
ipsius  Sancti  Thome  Episcopi  pro  tempore  existentis  prouisione  et  assen- 
su,  ac  alias  prout  de  Jure  foret,  nullatenus  supprimi,  cassari,  im  mu  tari, 
reuocari,  extinguí  aut  inualidari,  seu  numerus  Reclorum,  Vicariorum, 
Capellanorum,  presbilerorum,  clericorum,  beneficiatorum,  Ofíicialium  et 
personarum  huiusmodi  pro  tempore  institutos,  aut  redditus  et  salaria  hu- 
iusmodi ad  minores  summas  quam  erant  ordinata,   a  quoquam,  etiam 

19* 


1Í8  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

apostólica,  uel  quauis  alia  aucforilate  fungente,  reduci  nullatenus  pos- 
sent,  sed  inconcussa  illesa  et  intacta  permanerent. 

Quodque  dignitates  oblinentes,  Canonici,  beneficiali,  clerici,  officia- 
les  et  persone  ceelesie,  Ciuitatis,  et  diócesis  Sancli  Thome  pro  tempore 
existentes  quoad  correctiones,  precedentias,  ac  reformationes,  etiam  per- 
sonales, cerimonias,  ritus,  mores,  consuetudines,  acdiuinorum  oííiciorum 
recitationem,  celebrationem,  ac  alia  omnia  et  singula  dignitates  obtinen- 
tibus,  Ganonicis,  beneficiatis,  presbiteris,  clericis,  officialibus,  et  perso- 
nis  dictarum  eoclcsie  et  diócesis  funchalensis  se  conformare  deberent,  et 
ad  id  per  prefatum  Metropolitanum  et  Primatem,  ac  eiusdem  ecclesie  Sancli 
Thome  Presulem  pro  tempore  existentem,  cogi  et  compelli  possent.  Et 
nihilominus  eideui  Episcopo  Sancti  Thome  pro  tempore  existenti  sub  in- 
gressus  ecclesie  sentenlia,  necnon  Mille  ducatorum  aun  Camere  predicle 
applicandorum  pena,  eo  ipso  incurrendis  dislrictius  precipiendo  mandauit 
qualenus  premissa  omnia  et  singula,  ac  alia  que  dicte  militie  administra- 
tori  seu  Magistro,  ac  quibusuis  illorum  officialibus  el  alus  personis  ra- 
tione  dicte  militie  incumbebant,  per  se,  uel  alium  seu  alios,  irremissibi- 
liter  adimpleri  faceret :  ac  eidem  Episcopo  Sancti  Thome  ad  omnia  et 
singula  premissa,  necnon  contraditores  quoslibet  et  rebelles  per  censuras 
ecclesiaslicas  ac  pecuniarias  et  alias  formidabiliores  eo  ipso  incurrendas 
penas,  sublato  appellalionis  et  diffugii  obstáculo,  compescendum,  Inuo- 
cato  etiam  ad  hoc,  si  opus  foret,  -auxilio  brachii  secularis,  preter  ordi- 
nariam  aposlolicam  auclorilalem  et  facultatem  :  Quodque  idem  Episcopus 
Sancti  Thome  pro  tempore  existens  premissa  omnia  et  singula,  ut  pre- 
m  i  litar,  necnon  quancunque  Jurisdictionem  ordinariam  in  diocesanos  suos 
exercere,  ac  per  viam  simplicis  querele  adiri  posset  etiam  extra  dictam 
eius  diocesim  Sancti  Thome,  perinde  ac  si  in  ea  conslitutus  essel,  con- 
cessit ;  Decernens  irritum  et  inane  quicquid  secus  super  hiis  a  quoquam 
quauis  auctoritate,  scienler  uel  ignoranter,  contingeret  atlemptari. 

Non  obstanlibus  ipsíus  Clementis  predecessoris,  per  quam  ínter  alia 
voluerat  quod  semper  in  vnionibus  commissio  fierel  ad  partes,  vocatis  quo- 
rum interesset,  et  alirs  apostolicis  conslilutionibus  ac  dicte  ecclesie  fun- 
chalensis militie  et  ordinis  prediclorum  Juramcnlo,  confirmatione  apostó- 
lica, uel  quauis  firmitale  alia  roboratis,  stalutis,  et  consuetudinibus,  nec- 
non quibusuis  Priuilegiis  et  Indullis  apostolicis  cisdem  militie  el  ordini, 
ac  ipsius  militie  Magistro  seu  administralori,  necnon  militibus  et  alus  fra- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  149 

tribus  ac  oííicialibus,  ceterisque  pcrsonis  in  genere  uel  in  spetic,  etiam 
super  illorum  exemptione  ab  ordinariis  Iocorum,  et  alias  sub  quibuscun- 
que  tenoribus  et  formis,  ac  cum  quibusuis  etiam  derogatoriarum  deroga- 
toriis,  aliisque  efficacioribus  et  insolitis  clausulis,  Irrilanlibusque,  et  alus 
decrelis,  etiam  ileratis  vicibus  concessis,  approbatis,  et  innouatis,  quibus 
ómnibus,  etiam  si  de  il lis  eorumque  totis  tenoribus  spelialis,  specifica, 
indiuidua  et  expressa,  ac  de  uerbo  ad  vcrbum,  non  autem  per  clausulas 
generales  etiam  idem  importantes,  mentio,  seu  queuis  alia  expressio  ha- 
benda,  aut  aliqua  alia  exquisita  forma  ad  id  seruanda  foret,  tenores  hu- 
iusmodi  pro  suíficienter  expressis  habens,  lilis  alias  in  suo  robore  per- 
mansuris,  ea  vice  duntaxat  spetialiter  et  expresse  derogauit,  ceterisque 
contraríes  quibuscunque. 

Ne  autem  de  erectione  et  institutione  poslerioribus,  dismembratione, 
separatione,  assignatione,  subieclione,  applicalione,  approprialione,  reser- 
uatione,  volúntale,  statuto,  ordinatione,  approbatione,  confirmatione,  sup- 
pletione,  precepto,  mandato,  concessione,  decreto,  el  derogatione  predi- 
clis,  pro  eo  quod  super  illis  dicli  Clementis  predecessoris  eius  superue- 
niente  obitu  íittere  confecte  non  fuerunt,  valeat  quomodolibet  hesitari ; 
Ipseque  Johannes  Rex,  et  pro  tempore  existentes  Porlugallie  et  Algarbio- 
rum  Rex  ac  Episcopus  Sancti  Thome  illorum  frustenlur  effectu,  volumus 
et  similiter  apostólica  auctorilale  decernimus  quod  erectio,  inslitulio,  dis- 
membralio,  separatio,  assignatio,  subiectio,  applicatio,  appropriatio,  re- 
seruatio,  voluntas,  statutum,  ordinatio,  approbatio,  confirmatio,  supple- 
tio,  preceplum,  mandalum,  concessio,  decrelum,  el  derogatio  Clementis 
predecessoris,  huiusmodi  per  inde  a  dicta  die  Pridie  Kalendas  februarii 
suum  sortiantur  eífectum  ac  si  super  illis  ipsius  Clementis  predecessoris 
Íittere  sub  eiusdem  diei  data  confecte  fuissent,  prout  superius  enarratur. 
Quodque  presentes  Íittere  ad  prohandum  plene  erectionem,  inslitulionem, 
dismembrationem,  separationem,  assignalionem,  subiectionem,  applicatio- 
nem,  approprialionem,  reserualionem,  volunlalem,  statutum,  ordinatio- 
nem,  approbationem,  confirmalionem,  supplelionem,  preceptum,  manda- 
tum,  concessionem,  decrelum  et  dcrogationem  Clementis  predecessoris  hu- 
iusmodi ubique  sufficiant,  nec  ad  id  probationis  alterius  adminieulum  re- 
quiratur. 

Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  nostre  voluntatis 
et  decreti  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  contraire.  Siquis  autem  hoc 


150  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

attemptare  presumpserit  ¡ndignationcm  omnipotentis  dc¡,  ac  beatorum  Pe- 
tri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  petrum,  Armo  Incarnationis  Dominico 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarto,  Tertio  Nonas  Nouembris,  Pon- 
tificatus  nostri  Anno  Primo  l. 


Breve  do  Papa  Paulo  III,  dirigido  a  el-Rei. 


1534 — \ovcmliio  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Charissimo  in  christo  filio 
Johanni,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi  Illuslri,  Salutem  et  apostolicam 
benedictionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconium  acquiritur  si  per 
seculares  Principes  ecclesiarum  Prelatis,  presertim  Pontifican  dignitate  pre- 
ditis,  oportuni  fauoris  presidium  et  honor  debilus  impendatur.  Dudum  si- 
quidem  felicis  recordationis  Clemens  papavu,  predecessor  nosler,  Ecclesie 
SanctiThome,  quam  tune  ex  parrochiali  ecclesia  sub  Inuocatione  beate  Ma- 
rie  de  Gratia  dicala,  in  ínsula  Sancti  Thome  nuncupata,  maris  Occeani  con- 
sistente, in  Galhedralem  Ecclesiam  sub  Inuocatione  Sancti  Thome  pro  Vno 
Episcopo  Sancti  Thome  nuncupando,  qui  illi  preesset,  ex  certis  causis,  de 
fratrum  suorum,  de  quorum  numero  tune  eramus,  consilio,  apostólica  au- 
ctoritate  erexerat  et  inslituerat,  tune  ab  eius  primeua  erectione  huiusmodi 
tune  vacanli  de  persona  dilecti  filii  Didaci,  Elecli  Sancti  Thome,  sibi  et  eis- 
dem  fralribus  ob  suorum  exigenliam  meritorum  accepta,  de  simili  consilio 
auctorilate  predicta  prouidit,  Ipsumque  illi  in  Episcopum  prefecit  et  pasto- 
rem,  curam  et  administrationem  ipsius  ecclesie  Sancti  Thome  sibi  in  spi- 
ritualibus  et  temporalibus  plenarie  commiltendo,  prout  in  nostris  inde 
confeclis  lilteris,  cum  dictus  predecessor,  antequam  eius  littere  desuper 
conficerenlur,  sicut  domino  placuit,  rebus  fuisset  humanis  exemptus,  ple- 
nius  continetur.  Cum  itaque,  fili  charissime,  sit  virtulis  opus  dei  minis- 
tros benigno  fauore  prosequi,  ac  eos  verbis  et  operibus  pro  Rcgis  elerni 

1  Arch.  Nac,  Maco  17  de  Bullas  n.°  33. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  151 

gloria  veneran,  Maieslatem  tuam  rogamus  et  horlamur  attenle  quatenus 
eundem  Didacum  Electum,  et  Ecclesiam  Sancti  Thome  prediclam  sue  cure 
commissam,  habens  pro  nostra  et  apostolice  sedis  reuerentia  propensius 
commendalos,  in  ampliandis  et  conseruandis  Juribus  suis  sic  eos  benigni 
fauoris  auxilio  prosequaris  quod  ipse  Didacus  Eleclus,  tue  celsitudinis  ful- 
tus  presidio,  in  commisso  sibi  cure  pasloralis  otficio  possit  deo  propilio 
prosperan,  ac  tibí  ex  inde  a  deo  perennis  vite  premium,  el  a  nobis  con- 
digna proueniat  actio  graliarum. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  petrum,  Anno  Incarnationis  Dominice 
Millesimo  quingentésimo  quarto,  Tertio  Nonas  Nouembris,  Pontiíicatus  nos- 
tri  Anno  Primo  l. 


■tulla  do  Papa  Paulo  III. 


1534  — Novembro  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  ad  perpetuam  rei  memoriam. 

Equum  reputamus  et  rationi  consonum  ut  ea,  que  de  Romani  Pon- 
tificis  prouisione  processerunt,  licel  eius  superueniente  obitu  liltere  apos- 
tolice super  illis  confecte  non  fuerint,  suum  sorciantur  eífectum. 

Dudum  siquidem  poslquam  felicis  recordalionis  Leo  papa  x,  prede- 
cessor  noster,  procurante  clare  memorie  Emanuele  Porlugallie  et  Algar- 
biorum  rege,  qui  tune  in  humanis  agens  multas  térras  Prouincias  et  ín- 
sulas a  capitibus  de  Boyador  usque  ad  Indos  possidebat,  in  quibus  nul- 
lus  Episcopus,  qui  ea  que  erant  ordinis  Episcopalis  exerceret,  -habebatur, 
excepto  Vicario  pro  lempore  exislenti  üpidi  de  Thomar  nullius  diócesis, 
qui  frater  Militie  Jesu  christi  Cisterciensis  ordinis  existebat,  et  iurisdictio- 
nem  Episcopalcm  inler  alia  in  dictis  Terris,  Prouinliis  et  Insulis  ex  pri- 
uilegio  apostólico  olim  sibi  concesso  habebat,  Vicarium  de  Thomar  huius- 
modi  bone  memorie  Didaci  Pinheiro  olim  Episcopi  Funchalensis,  tune  in 
humanis  agentis  ex  dicli  Opidi  Vicarii,  ad  id  tune  expresso  accedente  con- 
sensu,  apostólica  auctoritale  suppresserat  et  extraxeral;  Ac  tune  parro- 

1  Arch.  Nac,  Mac.  23  de  Bullas  n.°  25. 


152  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

chialem  ecclesiam  beate  Marie  per  eundem  Emanuelem  Regem  in  Giuitale 
de  Funchal,  el  ínsula  de  Madeira,  ¡n  Mari  occeano  sita,  consistente,  fún- 
dala™, in  quibus  Vicarius  frater  dicte  Militie,  et  nonnulli  beneficiad  pres- 
biteri  seculares  beneficia  ecclesiastica,  Porliones  nuncupala,  oblinentes, 
exislebant,  in  Gathedralem  ecclesiam,  cum  sede  ac  Episcopali  el  Capilu- 
lari  Mensis,  aliisque  Cathedralibus  insigniis ;  ac  in  ea  Decanatum  maio- 
rem,  ac  Archidiaconatum,  Cantoriam,  Thesaurariam,  et  Scolaslriam,  non 
maiores  posl  Pontificalem  dignitates,  necnon  Duodecini  Canonicalus  el  to- 
tidem  prebendas  erexerat  et  instiluerat ;  illique  pro  eius  fruclibus  reddi- 
tibus  et  prouenlibus,  quos  Vicarius  de  Thomar  pro  tempore  existens  ex 
iurisdictione  et  Vicaria  huiusmodi  percipiebat,  ac  certos  tune  expressos 
annuos  redditus ;  necnon  pro  dignitalum  ac  Canonicatuum  et  prebenda- 
rum  predictorum  dote  certa  tune  expressa  bona  perpetuo  applicauerat  et 
appropriauerat :  ac  Ciuitalem  de  Funchal  pro  Ciuilale,  eiusque  dislriclum 
seu  territorium  cum  predicta  de  Madeira,  ac  ómnibus  alus  lnsulis,  Terris, 
Prouinciis  el  locis  quibuscunque  dicto  Vicario  subieclis,  pro  diócesi  ínter 
alia  concesserat  et  assignauerat ;  necnon  ius  patronatus  et  presenlandi  Ro- 
mano Ponlifici  pro  tempore  existenli  personam  idoneam  ad  eandem  eccle- 
siam funchalensem,  dura  illam  pro  tempore  vacare  contingeret,  prefato 
Emanueli,  et  pro  tempore  existenti  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi,  ad 
eflectum  ut  eidem  ecclesie  de  persona  per  Regem  nominanda  huiusmodi 
et  non  alias  prouideri  deberet ;  ad  dignilates  uero  ac  Canonicatus  et  pre- 
bendas huiusmodi  pro  tempore  existenti  Magistro  dicte  Militie,  ad  quem 
ius  patronatus  seu  presenlandi  ad  dicta  beneficia,  dum  pro  tempore  ua- 
cabant,  perlinebal,  Institutionem  autem  eidem  Episcopo  funchalensi  pro 
tempore  existenti  reseruauerat :  Eidemque  ecclesie  funchalensi  sic  erecle, 
ab  eius  primeua  ereclione  huiusmodi  tune  uacanli,  de  persona  prefati  Di- 
daci  dicta  auctorilalc  prouiderat,  preficiendo  ipsum  illi  in  Episcopum  et 
pastorera. 

Cura  dicto  Didaco  Episcopo  postmodum  uita  fundo,  pie  memorie 
Clemens  papa  vn,  etiam  predecessor  nosler,  procurante  Carissimo  in 
christo  filio  nostro  Johanne  moderno  Portugallie  et  Algarbiorum  Rege  II- 
luslre,  prefati  Emanuelis  nato  el  successore,  dictara  ecclesiam  funchalen- 
sem in  Melropolitanam,  ac  Indiarum,  necnon  omnium  et  singularum  alias 
pro  illius  tune,  ut  premittitur,  ex  parrochiali  in  Calhedralem  erecte  dió- 
cesi assignalarum,  el  ceterarum  temporalis  dilionis  prefati  Regis  Ínsula- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  153 

ruin  et  Terrarum  Nouarum  eatenus  repertarum,  ac  Insularum  reperien- 
darum  Primacialem,  cura  Archiepiscopali  et  Primaciali  dignitate,  preemi- 
nentia,  iurisdictione,  superioritate,  auctorilale,  et  Crucis  delalione,  ac 
alus  Metropolitanis  et  Primatialibus  insigniis,  de  fratrum  suorum,  de  quo- 
rum numero  tune  eramus,  Consilio,  similiter  apostólica  auctoritate  ere- 
xisset  et  instituisset ;  ac  ínter  alias  ínsulas  eidem  ecclesie  funchalensi  pro 
eius  diócesi  assignatas,  ínsula  de  Goa  nuncupata,  in  partibus  Indie  et 
eodem  Mari  Occeano  sita,  notabilis  et  magno  christianorum  populo  re- 
fería et  munita,  ac  in  ea  inter  alias  Yna  insignis  parrochialis  ecclesia,  sub 
Inuocatione  sánete  Catherine  dicata,  in  qua  Vnus  Rector  frater  dicte  Mi- 
licie,  et  nonnulli  clerici  seculares  ibidem  perpetui  beneficiati,  portionarii 
nuncupati,  fore  noscebantur,  exislerent,  et  prefactus  Johannes  Rex  in  ipsa 
ínsula  de  Goa  diuinum  cultum  efílorere  et  animarum  salulem  propagan 
pío  affecíu  desideraret,  prefatus  Glemens  predecessor,  sub  data  uidelicel 
Pridie  kalendas  Februarii,  Pontificatus  sui  Anno  Décimo,  habita  super  hiis 
cum  eisdem  fratribus  deliberatione  malura,  de  illorum  consilio,  eadem 
auctoritate,  prefato  Johanne  Rege  eidem  Clementi  predecessori  super  eo 
humiliter  supplicante,  ad  omnipotentis  dei  laudem  et  gloriam,  ac  ipsius 
beale  Marie  Virginis,  eius  glorióse  genetricis,  toliusque  Curie  celestis  ho- 
norem,  locum  seu  pagum,  in  quo  ipsa  ecclesia  sánete  Catherine  consis- 
tebat,  in  Ciuitatem,  que  Goanensis  nuncuparetur,  ac  ecclesiam  ipsam 
sánete  Catherine  in  Cathedralem  ecclesiam  Goanensem  nuncupandam  sub 
eadem  inuocatione  pro  Vno  Episcopo  Goanensi  nuncupando,  qui  eidem 
ecclesie  Goanensi  preesset,  ac  in  ea  illiusque  Ciuilate  el  diócesi  spiritualia, 
prout  pro  diuini  cultus  augmento  et  animarum  salute  expediré  cognos- 
ceret,  conferret  et  seminaret. 

Necnon  Episcopalem  iurisdictionem,  auctoritatem  et  potestatem  exer- 
ceret,  ac  omnia  alia  et  singula,  que  alii  Episcopi  Regni  etDominiorum  Por- 
tugallie  in  suis  ecclesiis,  Ciuitatibus,  et  diocesibus  de  iure  uel  consuetudine 
seu  alias  faceré  poterant  et  debebant,  faceré  libere  et  licite  posset  et  debe- 
ret,  Ac  pro  tempore  existenli  Archiepiscopo  Funchalensi  iureMetropolitico 
et  Primaciali  subesset,  cum  sede  ac  Episcopali  et  Capitulan  Mensis,  aliis- 
que  insigniis  et  iurisdiclionibus  Episcopalibus,  necnon  priuilegiis,  immu- 
nitatibus,  facultatibus,  et  gratiis,  quibus  alie  Cathedrales  ecclesie  et  earum 
Presules  in  eodem  Regno  Portugallie  consistentes  similiter  de  iure  uel 
consuetudine,  aut  alias  quomodolibet,  utebantur,  poliebantur  et  gaude- 

TOMO  III.  20 


lo4  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

bant,  ac  uti,  poliri  et  gaudere  possenl  quomodolibel  in  futurum,  uü  po- 
tiri  et  gaudere  possel  et  ualerel.- 

Necnon  in  ea  Vnum  Decanatum  post  Pontificalem  maiorcm  proVno 
Decano,  qu¡  curam  Capiluli  haberet,  et  ad  quem  cura  animarum  parro- 
chianorum  ipsius  ecclesie  sánete  Catherine,  prout  ad  illius  Rectorem  per- 
tinebal,  perlineret,  et  Vnum  Archidiaconalum  pro  Vno  Archidiácono,  ac 
Vnam  Cantoriam  pro  Vno  Cantore,  et  Vnam  Thesaurariam  proVnoThe- 
saurario,  necnon  Vnam  Scolastriam  non  maiores  post  Pontificalem  inibi 
dignitates  pro  Vno  Scolastico,  ac  DuodecimCanonicatus  ettotidem  preben- 
das pro  Duodecim  Canonicis,  qui  simul  cum  Decano,  Archidiácono,  Can- 
tore, Thesaurario,  et  Scolastico  prediclis  Capitulum  ipsius  ecclesie  face- 
rent  et  constituerent.  Ita  quod  tune  Rector  ipsius  ecclesie  sánete  Cathe- 
rine Decanus  et  Vnus  Archidiaconus,  ac  alius  Cantor,  necnon  alius  The- 
saurarius,  et  alius  ex  predictis  clericis  in  eadem  ecclesia  sánete  Catherine 
perpeluis  beneficiatis,  Portionariis  nuncupatis,  magis  idoneis  per  primum 
fulurum  Episcopum  Goanensem  ad  id  examinandis  Scolaslicus,  et  Duo- 
decim alii  ex  dictis  beneficiatis,  si  lot  forent,  alioquin  alü  clerici  secula- 
res per  ipsum  Regem  nominandi,  Canonici  eiusdem  erecte  ecclesie  exis- 
terent.  Ac  Decanatum,  Archidiaconatum,  Cantoriam,  Thesaurariam,  et 
Scolastriam,  necnon  Canonicatus  et  prebendas  erectos  predictos  respecliue 
litterarum  desuper  conficiendarum  uigore  absque  aliqua  prouisione  de  lilis 
sibi  facienda  obtinerent,  perpetuo  erexit  et  insliluit. 

Necnon  ex  Terris,  Insulis,  et  Prouinciis  dicle  ecclesie  Funchalensis 
alias  pro  eius  diócesi  assignatis  locum  seu  pagum  sic  in  Ciuitalem  ere- 
ctum,  necnon  ipsius  loci  dislrictum  seu  lerrilorium,  ac  Insulam  de  Goa 
huiusmodi,  prout  a  fine  diócesis  sancti  Thome  et  Capile  de  Roa  Speranca 
usque  ad  Indiam  inclusiue,  et  ab  India  usque  ad  Chinam  prolenditur, 
cum  ómnibus  et  singulis  illorum  Caslris,  Villis,  locis,  et  dislrictibus,  lam 
in  Ierra  firma,  quam  Insulis  ac  tenis  repertis  et  reperiendis,  quorum  om- 
nium  denominationes  dictus  Clemens  predecessor  haberi  uoluit  pro  ex- 
pressis.  Necnon  Clero,  Populo,  personis  ecclesiasticis,  Monasleriis,  Hos- 
pilalibus  et  alus  pus  locis  ac  beneficiis  ecclesiasticis,  cum  cura  et  sine 
cura,  secularibus  et  quorumuis  ordinum  regularibus  a  predicta  diócesi 
Funchalensi,  ipsius  Johannis  Regis  ad  id  tune  accedente  consensu,  eliam 
perpetuo  dismembrauit  et  separauit.  Necnon  eidem  ecclesie  Goanensi  lo- 
cum seu  pagum,  sicul  prefertur,  in  Ciuilatem  ereclum  pro  Ciuitatc,  nec- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  15o 

non  ipsius  loci  dislrictum  seu  territorium  et  Insulana  de  Goa,  ac  parios 
terre  et  Maris,  ac  ínsulas  dismémbralas  huiusmodi  cum  ómnibus  iuribus 
et  pertinentiis  suis  pro  illius  districlu,  diócesi,  et  territorio  in  spirituali- 
bus  et  temporalibus,  prout  ad  diclam  ecclesiam  Funchalensem  perline- 
bant  seu  pertinere  poterant,  illarumque  íncolas  et  habitatores  pro  Clero 
et  Populo  concessit  et  assignauit.  Necnon  Clerum  el  Populum  Ciuilalis 
et  diócesis  Goanensis  huiusmodi  cure  et  iurisdictioni  ipsius  Episcopi  Goa- 
nensis  pro  tempore  existentis,  quoad  legem  Diocesanam  et  iurisdictionem, 
perpetuo  subiecit. 

Ac  eidem  erecte  ecclesie  pro  illius  dote  omnia  et  singula  iura  et 
emolumenta  Episcopalia,  que  Episcopus  Funchalensis  in  loco  seu  pago  ac 
ínsula  de  Goa  et  terris  separatis  huiusmodi  percipiebat  seu.percipere  po- 
terat,  ualorem  annuum  Centum  et  Quinquaginla  ducalorum  auri  de  Ca- 
mera communi  extimatione  annuatim  non  excedentia;  necnon  redditus  an- 
nuos  Quingenlorum- ducalorum  auri  in  auro  largorum,  Crucialorum  nun- 
cupatorum,  ad  ualorem  Ducenlorum  Millium  Regalium  monete  illarum 
parlium  ascendenlium  ex  annuis  reddilibus  ad  dictum  Johannem  Regem, 
ut  dicte  Militie  Jesu  christi  perpetuum  Administratorem  in  spiritualibus 
per  sedem  apostolicam  depulatum,  in  dicta  ínsula  Goanensi  spectanlibus, 
ipsius  Johannis  Adminislratoris  eliam  ad  id  expresso  accedente  consensu ; 
necnon  Decanalui  omnes  et  singulos  fructus,  redditus,  et  prouenlus  ipsius 
ecclesie  sánete  Catherine,  quos  illius  Redor  pro  tempore  exislens  antea 
percipiebat,  ualorem  Centum  ducatorum  auri  de  Camera  similium  com- 
muni extimatione  annuatim  non  excedentes ;  necnon  ex  eisdem  reddilibus 
ad  ipsum  Johannem  Regem  et  Administratorem  in  eadem  ínsula  pertinen- 
tibus  singulis  Annis  Quatuor  dignitatibus  Quadraginta,  qui  Sexdecim, 
singulis  autem  Canonicatibus  el  prebendis  huiusmodi  similiter  pro  illa- 
rum dote  Triginta  ducatorum  auri  de  Camera  similium  ualorem  consli- 
tuebant,  redditus  annuos,  computalis  tamen  et  inclusis  quoado  alias  Qua- 
tuor dignitates  ac  Canonicalus  el  prebendas  huiusmodi  prouentibus,  quos 
dicti  beneficiati  ex  eorum  in  dicta  ecclesia  beneficüs  seu  illorum  ratione 
percipiebant,  illis  uidelicet,  qui  ex  diclis  reddilibus  ipsius  Johannis  Re- 
gis  et  Administratoris  persoluebantur  duntaxat,  eiusdem  Johannis  Regís 
et  Administratoris  ad  id  accedente  consensu,  perpetuo  appíicauit  et  appro- 
priauit.  Ita  quod  si  contingeret  fructus,  quos  dicte  ecclesie  sánele  Cathe- 
rine Rector  antea  percipiebat,  ad  prediclorum  Cenlum  ducatorum  sum- 

20* 


13G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

mam  non  ascenderé,  lunc  id,  quod  ex  dicla  summa  Cenlum  ducatorum 
deessel,  ex  ¡psius  Johannis  Regís  el  Administratoris  redditibus  in  dicla 
ínsula  inlegralilercompleri  seu  perfici  deberet,  et  ipse  Johannes  Rex,  el  pro 
lempore  exislens  Adminislralor  seu  Magisler,  ad  id  tenerelur  et  aslriclus 
foret.  Ac  quod  fruclus,  reddilus,  et  prouentus  pro  singularum  dignita- 
tum  ac  Canonicatuura  et  prebendarum  dolé  huiusmodi  applicali,  et  alii, 
quos  ralione  eorundem  dignilatum  ac  Canonicatuuui  el  prebendarum  per- 
cipiebant,  seu  in  futurum  perciperent,  in  quotidianas  distributiones,  ac 
inler  présenles  el  diuinis  inleressenles,  et  non  alias,  dislribuerenlur  et  d¡- 
uiderentur. 

Et  insuper  dictus  Clemens  predecessor  ius  patronatus  et  presenfandi 
infra  Annum  propter  loci  distanliam  eidem  Clementi,  et  pro  lempore  exis- 
tenli  Romano  Pontifici,  personam  idoneam  ad  ipsam  ecclesiam  Goanen- 
sem,  quoliens  illius  uacalio,  ea  prima  uice  excepta,  occurreret,  per  eun- 
dem  Glemenlem  predecessorem,  et  pro  tempore  existenlem  Romanum  Pon- 
lificem,  in  eiusdem  ecclesie  Goanensis  Episcopum  et  pastorem  ad  presen- 
talionem  huiusmodi  et  non  alias  preficiendam,  eidem  Johanni,  et  pro  tem- 
pore exislenli  Regí  Portugallie,  cui  antea  ius  palronalus  el  presenlandi 
ad  dictam  ecclesiam  Funchalensem  dicta  auclorilate  reserualum  fuera t ; 
necnon  eliam  ius  patronatus  et  presenlandi  dicto  Episcopo  Goanensi,  uel 
eius  vicario  in  spiritualibus  generali  pro  tempore  existenti,  de  ipsius  Epis- 
copi  Goanensis  speciali  commissione,  aut  persone  ad  id  ab  eo  deputandc, 
personas  seculares  idóneas,  lam  ad  maiorem  post  Pontificalem,  quam 
eliam  ad  alias  Quatuor  dignitates  et  Duodecim  Canonicalus  et  prebendas 
predictos,  quoliens  illos  simililer,  ca  prima  uice  excepta  ;  necnon  ad  om- 
nia  et  singula  alia  Ciuitalis  et  Diócesis  Goanensis  huiusmodi  beneficia 
quecunque,  quolcunque,  et  qualiacunque,  ad  que  antea  dicle  Milicie  Ad- 
minislralor seu  Magisler  pro  lempore  exislens  regulares  personas  presen- 
tare consueuerat,  quoliens  illa  ex  tune  de  celero  quibusuis  modis  et  ex 
quorumeunque  personis,  eliam  apud  sedem  eandem,  uacare  conlingeret, 
et  per  ipsum  Episcopum  Goanensem,  seu  eius  Vicarium  aut  personam 
depulandam  huiusmodi,  ad  presentalionem  eandem  insliluendas.  Sic  quod 
Episcopus,  seu  Vicarius  aut  persona  depulanda  huiusmodi,  presentalio- 
nes  predictas,  eliam  extra  dictam  diocesim  Goanensem  constitutus  seu 
constituía,  admitiere  el  ad  illas  instituere  posset;  et  ad  dictum  Deca- 
natum  presenlatas  et  in  eo  instituías  pro  tempore  infra  Annum,  a  die 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  157 

illius  asseculionis  computandum,  Nouam  prouisionem  a  dicla  sede  impe- 
trare et  iura  Camere  apostolice  ratione  illius  uacationis  debita  persoluere 
leneretur,  Alioquin,  lapso  dicto  Anno,  presentatio  et  institutio  huiusmodi 
nullius  essent  roboris  uel  momenli,  ipseque  Decanatus  uacare  censeretur 
eo  ipso.  Ac  idem  Johannes,  et  pro  tempore  existens  Porlugallie  et  Al- 
garbiorum  Rex,  ex  tune  de  cetero  perpetuis  futuris  temporibus  ad  eosdem 
Decanatum  et  alias  Qualuor  dignilales,  necnon  Canonicatus  et  prebendas, 
omniaque  et  singula  alia  erecta,  ad  que  Magisler  dicte  Milicie  regulares 
presentare  consueuerat,  ac  imposterum  exigenda,  ad  que  presentare  de- 
bueral,  ecclesie  Ciuilalis  et  diócesis  Goanensis  huiusmodi  beneficia  eccle- 
siaslica,  cum  cura  et  sine  cura,  seculares  omnino  ac  nullatenus  regula- 
res personas  presentare  deberet,  similiter  eidem  Johanni,  el  pro  tempore 
existenti  Porlugallie  Regi,  perpetuo  reseruauit  et  concessit. 

Et  insuper  uoluit,  statuit  et  ordinauit  ac  decreuit  quod  ex  tune  de 
cetero  Johannes  Rex,  et  pro  tempore  existens  dicte  Milicie  Administrator 
seu  Magister,  ipsius  ecclesie  Goanensis  edificia  ampliari  et  ad  formam  Ca- 
Ihedralis  ecclesie  in  ómnibus  et  per  omnia  reduci  faceré,  illamque  ac  om- 
nes  et  singulas  alias  ecclesias,  Capellas,  templa,  Monasteria  et  pía  loca 
earumdem  Ciuitatis  et  diócesis  Goanensis  in  earum  edificiis  manutenere, 
et  conseruare  ac  reparari  faceré.  Necnon  Milra,  báculo  paslorali,  \esti- 
menlis,  paramenlis,  ornamentis,  Calicibus,  patenis,  Turibulis,  Vasis,  Li- 
bris,  luminaribus,  organis,  Campanis,  et  alus,  tam  Goanensi  et  illius  Pre- 
suli,  necnon  dignilales  oblinenlibus  et  Canonicis  ac  personis,  quam  alus 
ecclesiis,  Capellis,  templis,  Monasleriis  et  piis  locis  predictis,  ac  illorum 
beneficiatis  et  ministris  ad  diuinum  cullum  in  ibi  necessariis  decenler  ful- 
cire.  Necnon  pro  tempore  existenti  dicte  ecclesie  Goanensis  Presuli,  di- 
gnitates  oblinenlibus,  et  Canonicis,  de  premissis  illis  perpetuo  concesis  et 
assignatis  dolibus  ex  ipsius  Johannis  Regis  et  Adminislraloris  in  dicta  ín- 
sula redditibus :  necnon  in  dicta  ecclesia  Goanensi  ac  per  illius  Giuita- 
tem  el  diocesim  exislentibus  ecclesiarum  parrochialium,  Capellarum,  lem- 
plorum  et  piorum  locorum  huiusmodi  Rectoribus,  Vieariis,  Capellanis, 
Officialibus,  presbileris,  clericis  et  alus  personis  illis  in  diuinis  deseruien- 
libus,  sólita  et  congrua  redditus  et  salaria  annua  impenderé  :  necnon  alia 
noua  parrochiales  ecclesias,  Capellas,  templa  et  pia  loca  in  Ciuitate  et 
diócesi  Goanensi  predictis,  ubi  et  quotiens  iuxla  lemporum  et  locorum 
qualitalem  et  exigenliam  oporteret,  et  alias  prout  inler  ipsos  Administra- 


loS  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

torem,  seu  Magistrum  et  Epíscopum  conuenlum  forct,  construí  et  erigí 
faceré.  Ac  Hedores,  Vicarios,  Capellanos,  beneficíalos,  Officiales,  et  per- 
sonas in  illis  cultui  diuino  et  animarum  cure  necessarios  in  congruo  nu- 
mero depulare  ac  debite  sustentare  et  necessaria  eis  ministrare,  prout  ra- 
tione  dicte  Mililie  de  iure  et  consuetudine  seu  alias  tenebalur  et  obliga- 
batur,  penitus  et  omnino  teneretur  et  conslílutus  exisleret. 

Quodque  Prioratus,  Prepositurc,  parrochiales  ecclesie,  Vicarie,  Ca- 
pole, et  alia  quecumque,  cum  cura  et  sine  cura,  beneficia  et  oíücia  eccle- 
siaslica,  quorum  qualilales,  dcnominationes  et  inuocationes  dictusClemens 
predecessor  pro  expressis  haberi  uoluit,  in  Ciuitale  et  Diócesi  Goanensi 
predictis,  procurante  dicto  Johanne  Rege  ac  illius  predecessoribus  Admi- 
nistraloribus  dicte  Milicie,  uel  alias  quomodolibet  erecta,  instituía,  et  or- 
dinala,  ac  illorum  Rectoribus,  Vicariis,  Capellanis,  sacerdotibus,  cleri- 
cis,  beneficiatis,  officialibus,  uel  personis  in  illis  deseruienlibus,  deputala 
reddilus  et  salaria ;  necnon  donaliones  et  concessiones  quecunque  cccle- 
siis,  Vicariis,  Capellis,  et  locis  predictis  facle,  et  que  in  futurum  fierent, 
quas,  ac  prout  illas  concerncbant  omnia  et  singula  in  Instrumenlis  desu- 
per  forsan  confectis  contenta,  dictus  Clemens  predecessor  quoad  factas  ex 
tune,  necnon  quoad  faciendas  similiter,  ex  tune  prout  ex  ea  die,  et  e 
contra,  eadem  auctorítate  approbauit  et  confirmauit ;  supplens  omnes  et 
singulos  iuris  et  facti  defectus,  si  qui  forsan  interuenerint  in  eisdem,  nisi 
de  ipsius  ecclesie  Goanensis  Episcopi  pro  tempore  existenlis  permissione 
et  assensu,  ac  alias  prout  de  iure  foret  nullalenus  supprimi,  cassari,  im- 
mutarí,  reuocari,  exlingui,  ac  inualidari,  seu  numerus  Rectorum,  Vica- 
ríorum,  Capellanorum,  presbiterorum,  clericorum,  beneficiatorum,  Oíü- 
cialium,  et  personarum  huiusmodi  pro  tempore  institutus,  aut  reddilus  et 
salaría  huiusmodi  ad  minores  summas  quam  erant  ordinata,  a  quoquam, 
eliam  apostólica,  uel  alia  auctoritate  fungente,  reduci  nullatenus  possenl, 
sed  inconcussa  illesa  et  intacta  permanerent. 

Quodque  dignilates  oblinentes,  Canonici,  beneficiati,  clerici,  Ofiiciales 
ct  persone  ecclesie,  Gíuitalis  et  Diócesis  Goanensis  pro  tempore  existentes 
quoad  correcliones,  precedentias  ac  reformationes,  etiam  personales,  ceri- 
monias,  rilus,  mores,  consueludines,  acdiuinorum  ofiiciorum  recilationem, 
celebrationem,  ac  omnia  alia  et  singula  dignitales  obtínentibus,  Canonicis, 
beneficiatis,  presbiteris,  elcricis,  Officialibus  et  personis  dicte  ecclesie  et 
diócesis  Goanensis  se  conformare  deberent,  et  ad  id  per  prefatum  Metro- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  159 

politanum  et  Primalem,  seu  eiusdem  ecclesie  Goanensis  presulem  pro 
tempore  existentem,  cogi  el  compelli  possent.  El  nichilominus  eidem  Ar- 
chiepiscopo  Funcfoalensi  pro  lempore  exislenli  sub  inlerdicti  ingressus  ec- 
clesie senlentia,  necnon  Mille  ducalorum  auri  Camere  predicle  applican- 
dorum,  eo  ipso  incurrendis,  dislrictius  precipiendo  mandauit  qualinus 
premissa  omnia  et  singula  ac  alia,  que  dicte  Mililie  Administratori  seu 
Magislro,  ac  quibusuis  illorum  Officialibus  et  alus  personis  ratione  dicte 
Milicie,  seu  alias,  quomodolibet  incumbebant,  per  se,  uel  alium  seu  alios, 
irremisibiliter  adimpleri  facerent.  Ac  eidem  Episcopo  Goanensi  ad  omnia 
et  singula  premissa,  necnon  Contradictores  quoslibet  et  rebelles  per  cen- 
suras ecclesiaslicas,  ac  pecuniarias,  et  alias  formidabiliores  eo  ipso  in- 
currendas  penas,  subíate  appellationis  et  difíugii  obstáculo,  compescendi, 
Inuocato  etiam  ad  hoc,  si  opus  foret,  auxilio  brachii  secularis,  preter  or- 
dinariam  apostolicam  auctorilalem  et  facullatem.  Quodque  idem  Episco- 
pus  Goanensis  pro  tempore  exislens  premissa  omnia  et  singula,  ut  pre- 
miltitur,  necnon  quamcunque  iurisdicüoncm  ordinariam  in  diocesanos  suos 
exercere,  ac  per  uiam  simplicis  querele  adiri  posset  e/iam  extra  dictam 
eius  diocesim  Goanensem,  per  inde  ac  si  in  ea  constitutus  essel,  conces- 
sit;  Decernens  irritum  et  inane  quicquid  secus  super  hiisa  quoquam  qua- 
uis auctoritate,  scienter  uel  ignoranler,  cojitingeret  altemptari. 

Non  obslantibus  ipsius  Clementis  predecessoris,  per  quam  ínter  alia 
uolueral  quod  semper  in  vnionibus  commissio  fieret  ad  partes,  uocalis 
quorum  interesset,  et  alus  aposlolicis  Conslitulionibus,  ac  dicte  ecclesie 
Funchalensis,  Milicie  et  ordinis  predictorum  iuramento,  confirmatione 
apostólica,  uel  quauis  firmilate  alia  roboratis  statulis  et  consuetudinibus, 
necnon  priuilegiis  et  indullis  apostolicis  eisdem  Milicie  et  ordini,  ac  ipsius 
Milicie  Magistro  seu  Administratori,  necnon  Mililibus  et  alus  fralribus  ac 
Officialibus,  ceterisque  personis  in  genere  uel  in  specie,  etiam  super  illo- 
rum exemptione  ab  ordinariis  locorum,  et  alias  sub  quibuscunque  leno- 
ribus  et  formis,  ac  cum  quibusuis,  etiam  derogatoriarum,  derogatoriis, 
aliisque  efficacioribus  et  insolitis  clausulis,  irritantibusque,  et  alus  decretis, 
etiam  steratis  uicibus  concessis,  approbatis  et  innouatis,  quibus  ómnibus, 
etiam  si  de  illis  eorumque  totis  lenoribus  specialis,  specifica,  indiuidua  et 
expressa,  ac  de  uerbo  ad  uerbum,  non  autem  per  clausulas  generales  etiam 
idem  importantes,  menlio,  seu  quauis  alia  expressio  habenda,  aut  aliqua 
alia  exquisita  forma  ad  id  seruanda  foret,  tenores  huiusmodi  pro  suffi- 


160  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

cienler  expressis  habente,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris  ea  uice 
duntaxat  specialiter  et  expresse  derogauit,  ceterisque  conlrarüs  quibus- 
cunque. 

Ne  autem  de  erectione  et  inslitutione  posterioribus,  dismembralione, 
separatione,  assignatione,  subiectione,  applicatione,  approprialione,  reser- 
uatione,  uolunlate,  statuto,  ordinatione,  approbalione,  confirmalione,  sup- 
pletione,  precepto,  mándalo,  concessione,  decreto,  et  derogatione  prediclis, 
pro  eo  quod  super  illis  dicti  Clementis  predecessoris  eius  superueniente  obitu 
litlere  confecle  non  fuerunt,  ualeat  quomodolibet  hesitan ;  ipseque  Johannes 
Rex,  et  pro  tempore  exislens  Portugallie  et  Algarbiorum  Rex,  ac  Episco- 
pus  Goanensis  illorum  frustrenlur  effeclu,  Volumus  et  similiter  aucloritate 
apostólica  decernimus  quod  erectio,  institutio,  dismembratio,  separatio, 
assignatio,  subiectio,  applicalio,  appropriatio,  reserualio,  uoluntas,  stalu- 
tum,  ordinatio,  approbatio,  confirmalio,  suppletio,  preceptum,  mandatum, 
decrelum,  et  derogalio  Clementis  predecessoris  huiusmodi,  per  inde  a  di- 
cta die  Pridie  Kalendas  Februarii  suum  sortiantur  effectum,  ac  si  super 
illis  ipsius  Clementis  predecessoris  littere  sub  eiusdem  diei  data  confecte 
fuissent,  prout  superius  enarratur.  Quodque  presentes  littere  ad  proban- 
dum  plene  erectionem,  inslitutionem,  dismembralionem,  separationem,  as- 
signationem,  subiectionem,  applicationem,  appropriationem,  reseruatio- 
nem,  uoluntatem,  statutum,  ordinationem,  approbationem,  confirmatio- 
nem,  suppletionem,  preceptum,  mandatum,  decretum,  et  derogationem 
Clementis  predecessoris  huiusmodi  ubique  sufficiant,  nec  ad  id  probalio- 
nis  alterius  adminiculum  requiratur. 

Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  nostrorum  uolun- 
latis  et  decreti  infringere,  uel  ei  ausu  temerario  contraire.  Siquis  autem 
hoc  attemptare  presumpserit  indignationem  omnipotentis  dei,  ac  beatorum 
Petri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  se  noueril  incursurum. 

Dalum  Rome,  apud  Sanctum  petrum,  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarlo,  Tertio  Nonas  Nouembris,  Pon- 
tificalus  nostri  Anno  Primo1. 


1  Abch.  Nac,  Mac.  23  de  Bullas  n.°  28. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  161 

Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

1534  —  Novembro  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  chrislo  filio  Jo- 
hanni,  Portugalie  el  Algarbiorum  Regi  illustri,  salulem  et  apostolicam  be- 
nediclionem. 

Dudum  felicis  recordationis  Clemens  papa  vn,  predecessor  nosler, 
sancli  Saluatoris  de  Pacoo  de  Sousa  et  sancti  Michaelis  de  Buslello,  san- 
cti  Benedicti,  ac  Prioralum  nuncupalum  eiusdem  sancli  Saluatoris  de  Mo- 
reyra  sancti  Augustini  ordinum,  Portugalensis  diócesis,  Monasleria  certis 
modis,  quos  haberi  voluit  pro  expressis,  vacantia,  dilecto  filio  Henrico 
Infanti  Portugalie,  Electo  Bracharensi,  per  eum  quoad  viueret  tenenda  re- 
genda  et  gubernanda,  de  fralrum  suorum,  de  quorum  numero  tune  era- 
mus,  consilio,  apostólica  aucloritate  commendauit,  curam,  régimen  et  ad- 
ministrationem  ipsorum  Monasleriorum  sibi  in  spiritualibus  et  temporali- 
bus  .plenarie  committendo,  prout  in  nostris  inde  confectis  litteris,  cum 
diclus  predecessor  antequam  eius  litlere  desuper  conficerenlur,  sicul  do- 
mino placuit,  rebus  fuissel  humanis  exemptus,  plenius  continetur.  Cum 
itaque,  fili  charissime,  sit  virtulis  opus  dei  ministros  benigno  fauore 
prosequi,  ac  eos  verbis  et  operibus  pro  Regis  eterni  gloria  venerari,  Ma- 
ieslatem  tuam  regiam  rogamus  el  bortamur  atiente  quatenus  eundem  Hen- 
ricum  Electum  et  Commendalarium,  ac  Monasteria  predicta  sue  cure  com- 
missa,  habens  pro  noslra  et  apostolice  sedis  reuerenlia  propensius  com- 
mendalos,  in  ampliandis  et  conseruandis  iuribus  suis  sic  eos  benigni  fa- 
uoris  auxilio  prosequaris  quod  idem  Henricus  Electus  et  Commendatarius 
lúe  Celsitudinis  fultus  presidio,  in  commisso  sibi  dictorum  Monasteriorum 
regimine  possit  deo  propicio  prosperan,  ac  tibi  ex  inde  a  deo  perennis 
vite  premium  et  a  nobis  condigno  proueniat  aclio  graliarum. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  petrum,  Anno  Incarnalionis  Dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarto,  Terlio  Nonas  Novembris,  Pon- 
lificalus  nostri  Anno  Primo  *. 

1  Arch.  Nac,  Mar.  7  de  Bullas  n.°  17. 
TOMO  111.  21 


162  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Breve  ilo  Papa  Paulo  III,  dirigido  ao  Areebispo 
de  Lisboa  c  ao  Hispo  de  S.  Tlionié. 

1534 — \<ncinhio  3. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Venerabilibus  frairibus  Ar- 
chiepiscopo  Vlixbonensi  et  Episcopo  Santi  thome  salutem  et  apostolicam 
benedictionem. 

Cum  dudum  felicis  recordalionis  Cíemeos  papa  vn,  predecessor  nos- 
ter,  sancti  Saluatoris  de  Pacoo  de  Sousa  et  sancti  michaelis  de  Buslello 
sancli  Benedicti,  et  Prioratum  nuncupatum  eiusdem  sancti  Saluatoris  de 
Moreyra  sancti  Augustini  ordinum,  Porlugalensis  diócesis,  monasteria, 
tune  certis  modis,  quos  haberi  \oluit  pro  expressis,  vacantia  dilecto  filio 
Henrico  Infanti  Portugalie,  Electo  Bracharensi,  per  eum  quoad  viueret 
tenenda,  regenda  et  gubernanda,  de  fralrum  suorum,  de  quorum  numero 
tune  eramus,  consilio,  apostólica  auctoritate  duxerit  commendanda,  cu- 
ram,  régimen  et  administrationem  ipsorum  monasteriorum  sibi  in  spiri- 
lualibus  et  temporalibus  plenarie  commillendo,  prout  in  noslris  inde  con- 
feclis  litleris  cum  diclus  predecessor  antequam  eius  littere  desuper  confi- 
cerentur,  sicut  domino  placuit,  rebus  fuisset  humanis  exemptus,  plenius 
continetur :  Nos  ipsius  Henrici  Electi  in  partibus  illis  degenlis,  ne  pro- 
pterea  ad  sedem  apostolicam  personaliter  accederé  cogatur,  volenles  par- 
cere  laboribus  et  expensis,  Fraternitati  vestre  per  apostólica  scripta  com- 
mittimus  et  mandamus  qualenus  ab  eodem  Henrico  Electo  noslro  et  Ro- 
mane ecclesie  nomine  fidelitatis  debite  recipialis,  seu  alter  vestrum  reci- 
piat,  iuramcnlum  iuxta  formam,  quam  sub  bulla  nostra  mittimus  inlroclu- 
sam,  Ac  formam  iuramenli  huiusmodi,  quod  ipse  Ilenricus  Eleclus  pres- 
tabit  nobis  de  verbo  ad  verbum  per  eius  patentes  Hueras  suo  sigillo  mu- 
nitas  per  proprium  Nunlium  quantotius  destinare  curelis. 

Datum  Rome,  apud  Sanclum  petrum,  Anuo  Incarnalionis  dominico 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  quarto,  lertio  nonas  nouembris,  pon- 
tificatus  noslri  anno  primo1. 

'  Akcu  Su  ..  Mac.  17  de  Bullas  n.°  20. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  163 


Carta  de  O.  Henrique  de  llenezes  a  el-Re¡. 


1534 — TVovembro  5. 


Senhor — Nom  soube  deste,  que  parte,  senao  huma  ora  antes,  e  por 
yso  nom  poso  escreuer  a  vosa  alteza  mais  largo  :  e  tambem,  porque  a 
xxix  do  passado  Ihe  escreuy  tudo  o  que  enlao  auya,  agora  nom  ha  mais 
que  dizer  senao  que  ontem  ouve  o  papa  por  bem  de  sospender  o  breue, 
que  clemente  deu  estando  pera  morrer  contra  noos  sem  o  sabermos,  de 
que  a  xxix  do  passado  mandey  o  trelado  a  vossa  alleza :  e  este  per  que 
se  sospende  se  fyea  fazendo,  e  santyqualro  o  manda  fazer,  que  faz  nysto 
e  em  seruyeo  de  vossa  alteza  tudo  canto  se  pode  fazer :  por  yso  vossa 
alteza  lho  agardeca  e  Iho  conheca,  que  cerlo  Ihe  deue  muito  mais  do 
que  lh  eu  poso  lao  depresa  escreuer.  Feylo  este  breue  de  sospensao,  aper- 
taremos  no  negoeyo  princypal,  e  ey  por  certo  que  se  nom  ha  de  fazer 
de  todo  como  vossa  alteza  quer,  ao  menos  nos  Relapsos ;  e  porem  crea 
vossa  alteza  que  nom  fyea  nem  ficará  por  falta  mynha  e  de  santiquatro 
e  do  conde,  que  faz  e  fala  nysto  tudo  o  que  nele  he.  O  papa  foy  coroado 
á  porta  de  sam  pedro,  e  fomos  seus  conuydados,  mas  algum  ora  dyrey 
o  como,  a  tres  deste  mes.  Nom  ha  mais  de  que  dar  conta  a  vossa  alteza, 
cuja  vyda  e  Real  estado  noso  senhor  acrecenle  como  eu  desejo. 

De  Roma  a  cynquo  de  novembro,  a  vespara,  1534. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Rcaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m.  K 


1  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  54,  Doc.  5. 

21* 


164  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Caria  de  II.  f  letifique  de  llenezes  a  el-Rei. 


153 1  —  Yo  \  i ■  ni  l»i  o   G. 


Senhor  —  Mando  aquy  a  vossa  alteza  hum  escryto,  que  duarte  de 
paz  deu  ao  conde  cyfonles,  pera  uer  quem  lemos  contra  nos,  e  como,  e 
que  val  mais  que  noos  nesta  térra,  e  que  nom  pode  homem  falar  com 
nynguem  que  o  nom  ache  dyante :  e  quem  desta  feicao  negocea,  e  tao 
a  bandeiras  despregadas,  nom  he  de  crer  que  queira  vyr  a  meu  chama- 
do:  por  yso  escreva  vossa  alteza  que  manda  queeu  faca,  que  verdade- 
ramente muitos  mouymenlos  me  vem  por  como  anda  e  negocea ;  mas  por 
mais  seruyeo  de  vossa  alteza,  ou  ao  menos  por  m  o  asy  parecer,  me  re- 
freo,  e  nunca  co  ele  faley  senao  em  bem  e  amor,  como  dyzem.  Vossa 
alteza  mande  o  de  que  for  seruydo :  e  a  mor  merce  pera  mym  serva  dey- 
xarse  vossa  alteza  hum  pouco  contentar  do  que  o  papa  quer,  e  ele  ou- 
tro  pedaco  do  que  vossa  alteza  quyzesse,  e  acabar  s  ya" isto,  e  eu  hyame, 
porque  certo,  senhor,  eu  vos  nom  posso  qua  nysto  servyr  mylhor  nem 
tam  bem  como  eu  querya  fazer  em  ludo ;  e  algum  ora  dyrey  a  vossa  al- 
teza o  porque,  que  de  tao  longe  nom  se  pode  tanto  escreuer.  Noso  senhor 
a  uyda  e  Real  estado  de  vossa  alteza  acrecenté  como  Eu  desejo. 

De  Roma,  a  seis  de  novembro,  1534. 

Acuda  vossa  alteza  ao  de  barroso,  e  a  merce  do  abyto  pera  o  car- 
deal  santa  cruz.  E  de  barroso  ey  medo  dum  día  andar  aquy  o  arcebispo 
pendurado  polas  pernas.  E  eu  como  vossa  alteza  manda  nom  querya  fa- 
lar nyso  ao  papa  por  nom  azedar  antes  de  acabar  est  oulro,  e  o  papa  he 
muito  longueyro  e  muito  ¡nresoluto,  e  ey  medo  que  o  barroso  nom  es- 
pere tanto. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  reaes  maos  beyja — Dom  anryquc 
m.  \ 


'  Arcii.  Xac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mao.  54,  Doc.  8. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  165 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 


1534 — \ovcmhio   I  O. 


Paulus  Papa  m  Charissime  in  christo  fili  noster  salutem  et  aposloli- 
cam  benedictionem. 

Cum  venerabilem  fralrem  Marcuna  Episcopum  Senogalliensem,  apud 
serenilalem  luam  nostrum  et  huius  sánele  Sedis  Nuntium,  remanere,  et 
officium  suum  prosequi  velimus  doñee  aliud  super  hoc  decreucrimus,  Hor- 
tamur  et  requirimus  Maieslatem  tuam  in  Domino  vt  interea  eundem  epis- 
copum Nuntium  benignitale  et  fauore  solilis  in  agendis  per  eum  prose- 
qui velis.  Quod  erit  nobis  gratum. 

Datura  Romae,  apud  sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  x 
Nouembris  mdxxxiiii,  Pontificatus  Nostri  Anno  Primo  —  Blosius1. 


Carta  de  D.  Henrique  de  Ncnczcs  a  el-Rei. 


1534  —  Novemliro  15. 


Senhor  —  A  seis  desle  mes  e  a  xxix  do  passado  escreuy  a  vossa 
alteza  e  lhe  dey  conla  do  que  passaramos  co  papa,  e  do  breue  que  li- 
nhamos  contra  noos .  .  .  cedydo  do  outro  papa  a  ora  da  morte,  e  como 
o  tynhamos  sospendydo  per  este  papa,  do  qual  lhe  mandey  a  copya ;  e 
este  da  sospensao  se  estaa  fazendo  e  hyraa  pelo  primeiro,  que  nom  se 
pode  espydir  mais  depressa.  Crea  vossa  alteza  que  com  papa  novo,  de 
paño  muito  velho,  e  muilo  longueyro,  e  com  coroacao  e  com  cardeaes 
franceses,  e  os  outros  que  nunca  o  deyxao,  nom  se  pode  mais  negocyar ; 
e  mais  cando  a  materya  he  de  feicao  que  os  princepes  nom  entrad  nela 
de  muito  boa  vonlade  faz  se  mal  senao  como  eles  querem.  No  negoeyo 

1  Arcii.  Nac,  Mac.  23  de  Bullas  n.°  3.  . 


16G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

princypal  lhc  faley  ant  ontem  muito  largo  e  muilo  decraradamentc,  do 
comeco  ategora.  Eslaa  Bemytydo  a  dous,  a  saber,  o  auditor  da  cámara  e 
ao  symonela,  pera  o  enformarem,  e  dyzerem  o  que  deue  fazer,  aos  quaes 
temos  dados  os  papéis  que  pera  ysso  compriao,  e  os  temos  enformados 
do  que  nesle  negoeyo  ha  que  dizer  e  fazer :  nom  se  tem  acabado  de  Re- 
soluer :  fazemos  nysso  e  trabalhamos  canto  se  pode  fazer :  queyra  deus 
que  seja  como  compre  a  seu  seruyeo  e  ao  de  vossa  alteza,  que  tudo  he 
hum.  Eu  porem,  segundo  .  . .  premyssas,  arreceo  longura  e  algum  des- 
vyo  de  que  vossa  alteza  nom  ....  de  todo  satisfeyto,  posto  que  em  muilo 
pouquo  jaz  esta  lebre.  O  embaixador  do  emperador  nos  ajuda  canto  pode: 
faremos  canto  podermos  por  este  despacho  sayr  em  breue,  e  se  for  que- 
jando vossa  alteza  quer,  far  m  ya  deus  a  mym  nysso  muita  merce ;  e  se 
nao,  pesar  maa  muilo  :  e  de  tudo  auisaremos  vossa  alteza  pera  ver  o  que 
for  mais  seu  servyco.  Nosso  senhor  sua  vyda  e  Real  estado  acrecenté 
como  eu  desejo. 

De  Roma  a  xv  de  novembro,  1534. 

Com  barroso  e  com  duarte  de  paz  nom  na  posso  eu  ler.  Vossa  al- 
teza mande  o  que  ha  por  bem  que  se  faca  dum  e  do  outro.  ítem,  se- 
nhor, nom  posso  deyxar  de  dyzer  a  vossa  alteza  que  tem  laa  mylhores 
audyeneyas  o  nuncyo,*e  mais  honra  e  fauor  que  noos  qua. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  — Dom  anr  ....*; 


Carta  de  D.  Henrique  de  lien  ex  es  a  el -I  le  i. 


1534  —  Novembro  ÍO. 


Senhor  —  Depois  des'outra  feyta  nos  trouxeram  a  minuta  do  breue 
da  sospensíío ;  c  cuydando  nos  que  se  farya  pera  este  o  leuar,  nos  man- 
dou  dyzer  o  audytor  da  cámara,  que  he  o  que  o  faz,  que  nao  no  lo  po- 
dya  tao  em  breue  dar,  porque  Ihe  mandara  o  papa  que  o  mostrase  aa 
parte,  que  he  duarte  de  paz.  Certo,  senhor,  se  eu  tyuera  mais  larga  co- 
mysfio  de  vossa  alteza  pera  fazer  o  que  me  bem  parecesse,  eu  me  fora, 

1  Asen.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  IJI,  Ma?.  12,  Doc.  66. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  167 

porque  me  parece  ou  vejo  craro  que  nos  querem  aquy  ter  em  juizo  c  os 
crislaos  novos  de  vossos  Reynos ;  e  nom  fazemos  al  senao  queyxarmo  nos 
dyso,  e  dyzermos  que  nom  queremos  saber  o  que  eles  fazem,  nem  eles 
saybao  o  que  noos  fazemos,  somente  apresentar  a  Sua  Sanlidade  vossas 
carias  e  inslrucoes  pera  nos  conceder  o  que  llie  vossa  alteza  sopryca  com 

tanta  razao  e  direito :  e  eles  acodem mostrar  o  breue  a  duarte 

de  paz,  e  asy  será  daquy.  .  .  .  ante  tudo  o  al.  Ala  fee,  senhor,  islo  auya 
ou  ouvera  mester .  . .  torcedura  a  orelha  mais  áspera  laa  a  eses  cabroes, 
ou  qua  a  estoutros,  que  todos  o  sao  cada  huuns  mais  eos  outros ;  ou, 
tirando  o  nuneyo,  carrar  as  asas  a  todo  o  al,  e  depois  tempo  ouvera  pera 
vossa  alteza  fazer  o  que  ouvera  por  seu  seruyeo  e  de  deus.  Veja  vossa 
alteza  o  que  nysto  manda  que  se  faca,  que  eu  ou  noos  nom  podemos  mais 
fazer  do  que  fazemos  pera  yslo  nao  ser,  e  porem  he  o  que  quer  quem 
pode  como  em  tudo.  Bem  poderaa  ser  que  nao  será  isto  tao  feo  como  o  eu 
pynlo  ;  porem  a  mym  nom  me  parecem  bem  estes  meos.  O  qual  duarte  de 
paz  o  arcebispo  mandou  chamar  pera  alguma  cousa,  e  tambem  pera  lheu 
poder  dyzer  o  que  vossa  alteza  me  manda.  Respondeolhe  que  aquy  nom 
vyrya  nem  querya  vyr.  Ora  veja  vossa  alteza  como  manda  que  se  ysto 
faca  que  ele  aquy  nom  quer  vyr,  e  fóra  nom  he  tempo  nem  lugar  de  se 
lhe  fazer  o  que  vossa  alteza  manda,  cuja  vyda  e  estado  Real  nosso  se- 
nhor acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  xvi  de  novembro,  1534. 

E  se  vossa  alteza  sobr  yslo  alguma  cousa  quer  escreuer,  parece  me 
que  deue  ser  enderecado  a  noos  que  demos  a  carta  ou  cousa  que  vossa 
alteza  mandar,  se  vyrmos  que  as  cousas  que  vao  avante  por  estes  pon- 
tos que  agora  parecem,  porque  ja  podera  ser  que  daquy  te  laa  se  em- 
mendaráo,  e  fará  o  papa  o  que  vossa  alteza  quer,  e  nom  será  necesa- 
ryo  dar  lhe  queyxumes  seus,  o  que  prouuese  a  deus  que  fose:  e  deve- 
nios d  auer  trelado  do  que  vem  cerrado  pera  sabermos  o  que  he,  e  asy 
o  dar  ou  nao  segundo  os  tempos. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m.  l. 


1  Arch.  Nag.,  Corp.  Chron.,  Part.  TIÍ,  Mac.  Í2,  Doc.  68. 


168  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUFZ 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 


1534  —  TVovembro  S2. 


Paulus  papa  m  carissirae  in  chrislo  íili  noster  salutem  et  apostoli- 
cam  benedictionem. 

Sacrum  ordinem  Hierosolymilanum,  de  reügione  et  república  chris- 
liana  oplime,  semper  meritum  in  minoribus  constituli  dileximus  et  magni- 
fecimus ;  nunc  vero  ad  Pontificatum  Dei  benignitale  assumpti  propria  et 
particulari  cura  et  prolectione  nostra  ubique  fovendum  amplectendumque 
ducimus,  cum  ex  peculiari  noslro  affectu,  lum  ex  omnium  praedecesso- 
rum  nostrorum,  et  praecipue  felicis  recordacionis  Cleinentis  vn  exemplo, 
nec  minor  deinde  esse  debet  tuae  Maiestalis  fauor  el  amor  erga  illum, 

qui  tuae  Maiestalis  et  tui  clarissimi  genitoris pro  sua  uirili  stre- 

nuara  operam  aduersus  infideles  semper  praeslitil,  ac  iugiler  in  tanta  bar- 
barorum  infidelium  vicinitale  ac  potentia  nunc  praestat.  Quamobrem  motu 
proprio  nostro  dictum  ordinem,  ejusque  nouum  Magislrum,  de  cuius  vir- 
tule,  religtone  et  prudentia  multa  teslimonia  accepimus,  ex  animo  luae 
Maiestali  commendamus  ut  eorum  iura,  priuilegia,  et  commoda  omnia 
ubique  in  tuis  Regnis  fauore  et  benignitale  tua  prosequaris.  Quod,  sicul 
animi  tui  indita  reügione  freli  certo  te  facturum  speramus,  lta  postDeum 
omnipotentem,  a  quo  retributionem  uberem  reportabis,  id  gratissimum  atque 
acceptissimum  a  Maiestate  tua  recipiemus. 

Datum  Romae,  apud  sanctum  petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die 
xxii  Noucmbris  mdxxxiiii,  Pontificatus  noslri  Anno  Primo.  — Blosius  l. 


1  Arch.  Nac,  Mac.  25  de  Bullas  n.°  33. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  169 


Carta  de  II.  Henrique  de  llenezes  a  el-Itei. 


1534  —  Novembro  26. 


Senhor  —  Axvi  deste  novembro  escreuy  a  vossa  alteza  e  lhe  dey 
conla  do  que  ate  enlao  nom  tynhamos  feyto ;  e  depois  ategora  sempre 
andamos  neste  breue  de  sospensao  ate  que  ja  he  concertado  e  faz  se,  e 
se  este  tardara  mais  hum  dya  leuarao,  mas  hyra  pelo  primeiro :  huma 
por  huma  saiba  vossa  alteza  que  es'outro  breue  que  o  papa  concedeo  á 
ora  de  sua  morte  nom  val  nada,  porque  este  que  se  fica  escreuendo  o 
sospende  ate  o  papa  determinar  sobo  lo  negocio  princypal,  sobo  lo  qual 
lhe  oje  faley  no  castelo  o  mylhor  que  eu  pude.  Mandou  \yr  ante  sy  os 
que  nyso  mandou  entender,  que  sao  o  audytor  da  cámara  e  o  symoneta, 
e  eu  lhe  dysse  que  peranle  aqueles  taes  letrados  eu  ousaua  d  afyrmar  que 
vossa  alteza  Requerya  o  que  o  direito  canonyeo  querya,  e  hum  pedaco 
aínda  menos ;  e  oulras  rauilas  palavras  que  passámos,  a  que  o  papa  disse 
que  vossa  alteza  era  tal  e  tal,  e  de  tantos  mereeymentos  anta  see  apos- 
tólica e  anta  cristandade  como  nynhum  oulro  era,  e  que  auya  de  folgar 
de  vos  fazer  toda  graca  e  fauor,  que  com  direito  podesse  :  e  desto  pra- 
ticámos  hum  pouquo.  Ficou  encomendado  o  negocio  a  aqueles  padres  que 
o  mais  cedo  que  podessem  se  Resoluessem  nele  pera  se  determynar ;  Eu 
porem,  como  ja  outras  uezes  e  sem  licenca  escreuy  a  vossa  alteza,  quy- 
sera  ver  outra  torcedura  mais  áspera  neste  negocio ;  e,  se  em  mym  es- 
tyuesse,  dous  ou  tres  desses  cristaos  de  laa  que  fazem  esta  bolsa,  meti- 
dos n  um  lymoeyro,  e  crendo  bem  que  os  queryao  queymar  por  solyci- 
tarem  causa  contra  a  fee  e  contra  a  santa  inquysycao,  eles  faryao  abran- 
dar  est  outros  de  qua,  e  o  papa  co  eles,  e  vossa  alteza  serya  muy  cato- 
liquo  em  mostrar  que  quer  executar  o  que  os  santos  cañones  mandao  e 
com  tantas  penas  aos  princepes  que  nysso  forem  negrygentes.  E  porem, 
senhor,  eles  mostrao  qua  hum  preuylegyo  del  Rey  uoso  pay,  que  deus 
tem,  de  que  aquy  mando  o  trelado,  e  n'ysso  estrybao  mais  que  em  tudo. 
A  mym  nunca  me  n'ysso  falarao,  porem  nom  no  entendo  nem  sey  que  lhe 
dyga.  Vossa  alteza  m  o  ouvera  de  mandar  pralicar  antes  qu  eu  de  laa 

tomo  ni.  22 


170  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

parlyra.  Comtudo,  senhor,  se  vos  o  papa  quer  fazer  juslica,  muita  te- 
mos ;  e,  se  nao,  vossa  alteza  saberá  e  fará  o  que  for  mais  seu  seruyco  e 
de  deus.  Huma  cousa  Ihe  beyjarey  as  maos,  o  he  que,  por  canto  eu  nom 
cuydo,  segundo  as  premyssas,  que  se  aja  de  fazer  ludo  como  vossa  al- 
teza manda,  e  noos  nom  podemos  aceitar  por  despacho  fynal  huma  pa- 
Iha  menos,  que  mande  estar  sobrauyso  pera  em  qualquer  recado  che- 
gando  se  possa  de  laa  auer  a  Resolucao  de  vossa  alteza,  que  doulra  ma- 

neira  morerao papas  que  isto  posa  aver  concrusao :  e  nysto 

nom  ha  mais  que  poder  escreuer  a  vossa  alteza,  senao  que  nom  serya 
muyto  fora  de  proposyto  mandar  vossa  alteza  vysytar  o  papa  de  sua  nova 
eleicao,  e  que  logo  lhe  mandarya  sua  obedyencya,  e  escreuer  lhe  muitas 
uezes  que  acabe  de  despachar  este  negocio. 

ítem.  Duarte  de  paz  mandey  est  outro  dia  chamar  que  lhe  querya 
huma  cousa  de  uoso  seruyco.  Respondeo  que  nom  auya  de  vyr  como  a 
embaixador  de  vossa  alteza,  de  maneira  que  nom  ha  remedyo  pera  o  aver 
nesta  casa  pera  fazer  o  que  vossa  alteza  manda.  ítem.  Barroso  tambem 
arrebentou  ja  em  cytar  o  arcebispo:  eu  nom  falo  ao  papa  nysso,  porque 
vossa  alteza  assy  mo  manda,  senao  acabado  est  outro  negocio.  Ca  per  san- 
tyqualro  e  pelo  mesmo  arcebispo  farao  o  que  nysso  poderem  se  poderem 
atalhar,  mas  vossa  alteza  compre  que  ou  lhe  dee  satisfacao,  ou  escreua 
ao  papa  que  lha  dee,  pois  tem  tantos  executoryaes.  Noso  senhor  a  vyda 
e  estado  Real  de  vossa  alteza  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma  a  xxvi  de  novembro,  1534. 

Sao  aqui  ja  vyndos  embaixadores  de  bolonha  quatro  com  obedyen- 
cya cora  oytenla  encavalgaduras,  e  vem  de  Veneza  oylo  com  muitas :  cando 
for  o  escreuerey  a  vossa  alteza. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  reaes  máos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m.  K 


1  Arch.  Nac,  Part.  I,  Ma^.  54,  Doc.  18.  O  original  está  roto  em  varios  logares, 
correspondentes  aos  pontos  ou  ás  palavras,  que  damos  em  itálico,  c  que  o  sentido  pedia. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  171 

■I  re  ve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el -lie ¡. 

1534  —  Novembro  £©. 


Paulus  Papa  m  Carissirae  in  christo  fili  nosler  salutem  et  apostoli- 
cam  Benedictionera. 

Romanus  Ponlifex  cupiens  fidelibus  ómnibus,  praesertim  Regibus  eius 
peculiaribus  filiis,  quantum  cum  Deo  potest  satisfacere,  nonnunquam  ea, 
quae  a  praedecessoribus  suis  emanarunt,  ad  tempus  suspendit  ut  hi,  qui 
audiri  petierunt,  interim  auditi  apostolicae  sedis  maturitalem  el  circunspe- 
tionem  cognoscant.  Dudum  siquidem  felicis  recordalionis  Clemens  papa  yii, 
praedecessor  noster,  postquam  vniuersos  et  singulos  de  heresi  et  a  fide 
apostasia  culpabiles  seu  suspectos,  in  Portugalliae  et  Algarbiorum  Re- 
gnis  ac  alus  dominiis  Maieslali  tuae  subjectis  commorantes,  etiam  si  ad 
alia  loca  ad  tempus  et  non  animo  manendi  se  contulissent,  ab  heresis  et 
apostasiae  huiusmodi  criminibus  per  quasdam  sub  certa  forma  absolue- 
rat  seu  absolui  mandauerat,  Inquisiloribus  hereticae  prauitatis  in  Regnis 
et  dominiis  praedictis  per  ipsum  Clementem  praedecessorem  prius  per  alias 
eius  litteras  deputatis  ne  contra  de  criminibus  huiusmodi  culpabiles  aut 
suspectos,  ratione  criminum  huiusmodi  per  eos  perpetratorum,  modo  ali- 
quo  procederent  expresse  inhibendo,  cum  venerabilis  frater  Marlinus  Ar- 
chiepiscopus  Funchalensis,  et  dilectus  filius  Henricus  de  Menezes,  tui  apud 
praefatum  Clementem  praedecessorem  oratores,  ipsi  Clementi  praedeces- 
sori  significassent  non  expediré  beneficium  absolutionis  praedictum  sub 
illa  forma  culpabilibus  aut  suspectis  praedictis  impenderé,  plures  ad  hoc 
raliones  allegando,  dictus  Clemens  praedecessor,  licct  rationes  praedictae 
obstare  non  uiderentur  quominus  ad  absolutionem  praedictam  sub  prae- 
fata  forma  procedí  debuisset ;  Quia  lamen  Maiestalem  tuam  mores  tuae 
ragionis,  ac  hominum  in  illa  habilantium,  optime  nosse  non  dubitabat,  ac 
etiam  tuam  erga  catholicam  fidem  pietalem  et  erga  hanc  Sancta  Sedem 
deuolionem  et  reuerentiam  exploralissimas  habebat  ab  re,  non  putauit  cau- 
sas, quae  eum  ad  absolutionem  praedictam,  non  obstantibus  ralionibus 
per  praefalos  oratores  tuos  allegalis,  impendendam  suaseranl,  per  alias 

22* 


172  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

eius  litteras  eidem  Maiestali  Tuae  significare,  Addensquod,  si  causae  prac- 
dictae  Ubi  minus  efficaces  viderentur,  Te  iterum  atque  iterum  super  his 
audire,  et,'  doñee  libi  plenissime  satisfaclum  foret,  rem  lotam,  per  inde 
ac  si  nec  inquisilionis  facultas  nec  absolutio  praediciae  emanassent,  ha- 
bere  paratus  erat.  Cum  aulem,  prout  dicti  Martinus  Archiepiscopus  et 
Henricus,  eliara  apud  nos  oratores,  nuper  nobis  exposuerunt,  licet  pos- 
tea Maiestas  tua  responsiones  suas  ad  causas  praedictas  miseril,  pulelque 
per  eas  constare  ad  absolutionem  praedictam  sub  forma  praefata  eliam 
causis  praedictis,  quae  ipsum  Clementem  praedecessorem  ad  id  induxe- 
rant,  non  obstantibus  procedí  non  debuisse ;  Tamen  quia  praefalus  Cle- 
mens  praedecessor,  cui  cum  infirmitate  grauaretur  ipsi  Martinus  Archie- 
piscopus et  Henricus  oratores  ipsas  responsiones,  quae  lempore  dictae  in- 
firmitatis  ad  eorum  manus  peruenerant,  tradere  non  potuerunt,  nesciens 
responsiones  praedictas  uenisse,  ac  putans  Maieslatem  tuam,  ex  eo  for- 
san  quod  causae  praedictae  ad  ipsum  missae  ita  ualide  uiderentur  vt  con- 
grue  ad  eas  responden  non  posset,  ipsas  responsiones  tanquam  non  vr- 
gentes  missuram  non  esse,  per  alias  suas  litteras  slatuit  et  ordinauit  quod 
lilterae  absolutionis  praedictae  in  ómnibus  et  per  omnia  eam  vim  et  au- 
ctoritaíem  haberent  ac  si  in  dictis  Regnis  el  dominiis  publicalae  fuissent,  Yo- 
lens  quod  si  per  eandem  Maieslatem  tuam  aut  eius  ministros  seu  Populos 
effeclum  foret  quod  ipsi  de  heresi  culpabiles  aut  suspecti  in  litleris  absolu- 
tionis praedictis  contenta  implere  non  possent,  illi  inhilominus  in  eis  quae 
ad  eius  potestatem  temporalem  perlinerent,  etiam  quoad  forum  contentio- 
sum,  absoluti  et  liberi  esse  inlelligerentur,  ac  nullo  modo  ralione  praeteri- 
torum  deliclorum  per  viam  inquisitionis,  seu  \isitalionis  ordinariae  uel  ex- 
Iraordinariae,  molestari  aut  inquietan  ualerent;  ipsi  oratores  responsiones 
predictas  nobis  nuper  tradendi  nomine  eiusdem  Maiestatis  tuae  apud  nos 
insleterunt  ut  ipsas  responsiones  bene  attendere  et  considerare  ac  malure 
in  hoc  negolio,  ex  quo  dictorum  Regnorum  quies  non  parum  pendel,  pro- 
cederé uellemus.  Nos  igitur  Maiestatis  tuae  petitionem  per  praefalos  ora- 
tores nobis,  ut  praefertur,  faclam  audiendam  esse  censentes,  responsio- 
nes praedictas  per  ipsos  oratores  nobis  tradilas  nonnullis  viris  doctrina, 
integritale,  grauitate,  et  experientia  decoratis  examinandas  tradidimus,  ea 
inlentione  ut  habita  illorum  relatione  in  hoc  negocio  prout  ad  nostrum 
spectat  officium  procedamus.  Decens  itaque  el  conueniens  esse  censentes 
\t  interim  ipsum   negocium  in  eo  statu,  in  quo  ad  praesens  et  quoad 


RELACÜES  CQM  A  CURIA  ROMANA  173 

ipsos  culpabiles  et  suspectos,  maneat,  Venerabili  fralri  Marco,  Episcopo 
Senogalliensi,  nostro  apud  Maieslalem  tuam  Nuntio,  ne  etiam  uigore  prae- 
dictarum  aut  quaruncunque  aliarum  lillerarum  a  praefalo  Clemente  prae- 
decessore  emanalarum,  Vniuersis  uero  et  singulis  de  heresi  et  a  fide  apos- 
tasia  culpabilibus  seu  suspectis,  ne  modo  aliquo  litteras  absolulionis  prae- 
dictas  publicare,  aut  si  publicatae  fuerint  eis  \ti,  Inquisitoribus  aulem 
praedictis  ne  uigore  litterarum  per  ipsum  Clementem  praedecessorem  su- 
per  eorum  depulalione,  ut  prefertur,  concessarum,  ordinariis  uero  ne  fa- 
cultatis  eis  a  iure  uel  consuetudine  concessae  vigore  aliquem  ex  dictis  de 
heresi  aut  apostasia  culpabilibus  aut  suspectis,  occasione  criminum  per 
eos  commissorum  huiusmodi,  modo  aliquo  molestare  audeant  uel  presu- 
mant,  doñee  aliud  per  nos  desuper  ordinatum  fuerit,  auctoritale  apostó- 
lica per  presentes  inhibemus.  Volenles  ul,  siqui  ob  crimina  huiusmodi 
carceribus  mancipati  inuenianlur,  nisi  relapsi  fuerint,  circa  quos  per  pre- 
sentes nil  innouare  intendimus,  data  idónea  cautione  de  ipsis  id  dictis 
carceribus  totiens  quoliens  per  eos  ad  quos  spectat  desuper  requisiti  fue- 
rint, representan.,  etsi  eorum  bona  in  manibus  fisci  deuenerint  aut  ad  eius 
instantiam  sequestrata  sint,  etiam  absque  alia  cautione  ex  praefatis  car- 
ceribus relaxentur,  alioquin  presentes  lilterae  quoad  ipsos  carceratos  in 
bis  quae  ipsorum  incommodum  concernunt  nullius  sint  roboris  vel  mo- 
menti,  Irritum  quoque  et  inane  decernentes  si  secus  super  his  a  premissis 
uel  aliquo  eorum  aut  quouis  alio  quauis  auctoritate  conligerit  atlentari 
Non  obstantibus  praemissis,  ac  constitulionibus  et  ordinationibus  aposto- 
licis,  caelerisque  contrariis  quibuscunque. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
xxvi  Nouembris,  mdxxxhii  —  Pontificalus  nostri  anno  primo — Blosius1. 


1  Arch.  Nac,  Mac.  7  de  Bullas  n.°  15.  No  mesmo  Archivo  se  guardam  duas  tra- 
duccoes  deste  breve,  urna  no  Mac.  2  de  Bullas  n.°  9,  e  outra  na  Gav.  2,  Mac.  1,  n.°  34. 


174  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Iiei. 


1535  —  Fcverelro  12, 


Paulus  papa  ni  Charissime  in  christo  fili  noster  salutem  et  aposlo- 
licara  benedictionem. 

Ex  tuis  amantissimis  litteris,  et  ex  sermone  cura  dilecti  filii  Philippi 
Lapi,  quem  ad  nos  misisti,  viri  quidem  nobis  ex  virtute  et  nobilitale  sua 
ualde  grati,  Tum  oratorum  apud  nos  tuorura,  vndique  amorem,  humani- 
tatem,  pietatem  Serenitatis  luae  collegimus,  Non  enim  contentus  priori- 
bus  oraloribus  tuis,  proprio  Nuncio  oíficium  gratulationis  exequi  uoluisti, 
adiecta  etiam  grauitate  lilterarum  piisque  pollicitis  et  oblationibus  luis, 
Quae  quo  fuerunt  plura  et  a  clarissimo  Rege  profecta,  eo  nobis  accide- 
runt  iucundiora,  Illudque  in  primis  quod  referente  nobis  Caesareae  Ma- 
iestatis  oratore  cognouimus  te  validara  classera  eidem  Maiestati  aduersus 
Turcas  et  Barbarossam  destinasse,  Pro  inde  agimus  de  ómnibus  luae  Ma- 
iestati gralias  luis  pollicitis  fiducialiter  in  tempore  usuri  eique  uicissim 
paterno  semper  aífeclu  et  grata  uoluntate  responsuri :  Merita  tamen  nos- 
tra  a  te  propter  amorem  uberius  cumulata,  omnemque  hanc  amplificatio- 
nem  nostrae  Dignitalis  ad  Dei  clemenliam  referimus,  qui  sua  inenarrabili 
benignitate  dignos  hoc  honore  nos  fecit  potius  quam  inuenerit,  Eius  proinde 
misericordiam  depraecamur  ut  sicut  nobis  onus  imponere  dignatus  est,  lia 
in  ferendo  onere  non  desit,  Tuamque  Serenitalem  ad  commune  bonum 
tam  pie  animatam  nobis  diutissime  conseruare  ac  prosperare,  Caeteros- 
que  chrislianos  Principes  in  idem  animare  concordesque  efficere  dignelur, 
Quo,  sicut  pientissime  optas,  fidei  calholicae  ueterem  puritatera,  et  per- 
turbalis  christianitatis  partibus  quietem  et  tranquilitatem,  nostro  labore 
et  cura  Principumque  vnanimi  consensu  restituere  possimus.  Sed  de  his 
ac  caeteris  per  dictum  Philippum  et  oralores  tuos  nobis  relalis  scribent 
oratores  et  referet  plenius  ídem  Philippus  Maiestati  tuae,  cui  omnem  feli- 
citatem  in  Terris,  et  deinde  bealam  uitam  in  coelis,  a  Deo  omnipotente 
supplices  imploramus. 


relacOes  com  A  CURIA  ROMANA  175 

Datura  Romae,  apud  Sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  xii 
Februarii  mdxxxv,  Pontificatus  nostri  anno  primo  —  Blosius1. 


Carta  de  D.  Henrique  de  llenezes  a  el-llei. 


1535  —  Fevcreiro  13. 


Senhor  —  Duas  cartas  Receby  de  vossa  alteza  pelo  banco,  de  cyn- 
quo  de  dezembro,  as  quaes  trouxe  dom  felipe.  Ambas  sao  sobo  los  mos- 
leiros  de  dom  manuel  de  sousa,  cora  outra  pera  o  cardeal  trane,  a  qual 
ate  o  presente  Ihe  nom  demos ;  e  o  porque  e  o  que  nysso  fyzemos  es- 
creuoo  a  dom  manuel,  que  dará  disso  conta,  por  vossa  alteza  nom  ter 
tanto  que  1er.  Somente  digo,  senhor,  que  lhe  beyjarey  as  maos  o  nom 
me  mandar  a  mym  estes  negoceos,  porque  eu  nom  tenho  pera  eles  a  va- 
lia e  autorydade  que  compre  pera  vossa  alteza  ser  servydo.  Pera  acom- 
panhar  o  arcebispo  farey  o  que  me  vossa  alteza  mandar ;  porem  o  que 
ele  soo  nom  fyzer  pouco  posso  eu  nysso  aproueytar,  nem  em  nada  que 
ele  nom  acabar.  Dom  felipe  deteue  o  o  papa  mais  hum  dia,  e  perguntou 
lhe  por  crislovao  leytao,  o  que  ele  dyrá  a  vossa  alteza:  parece  me  que 
nom  serya  maa  huma  carta  pera  ele  sobre  pedroso,  se  outras  cousas  o 
nom  estorvarem.  Santyquatro  escreue  a  vossa  alteza  o  ponto  dos  Relapsos 
mais  claro,  segundo  me  dysse.  Noos  o  faremos  e  o  da  inquisicao  mais 
largo  como  s  acabar  d  alimpar,  que  seraa  cedo  prazendo  a  deus,  no  qual 
ha  destar  santyquatro  eos  dous  doutores,  e  ele  trabalharaa  o  que  poder 
por  vossa  alteza  ser  seruydo  o  mylhor  que  possa  ser.  Nosso  Senhor  a 
vyda  e  estado  Real  de  vossa  alteza  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma  a  xiii  de  fevereiro,  1335. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  reaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m.  2. 


1  Arch.  Nac,  Mac.  25  de  Bullas  n.°25.  Reynaldo  (Ármales  ecclesiastici)  publicou 
este  breve  com  a  data  de  25  de  Janeiro,  e  do  mesmo  modo  apparece  na  Symmicta  Lusit. 
Yol.  46,  pag.  325. 

2  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.  Part.  I,  Mac.  54,  Doc.  76. 


176  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Fragmento  de  urna  enría  de  D.  II artinho 
de  Portugal. 

1535  —  Fevereiro  15. 


guardar  a  de  raeu  rei :  nao  creo  que  possa  ser  mor  Infamia  d  um  prin- 
cipe que  saber  que  d  um  seu  embaxador  se  dizem  taes  Imfamias,  e  so- 
frelo,  e  nao  no  castigar,  ou  a  quem  as  aleuanta :  com  esta  escusa  que 
eu  faco  com  vosco,  e  nao  me  mandando  v.  s.  tal  que  me  desobrige  disto, 
falohei  de  maneira  que  lodo  o  mundo  saiba  que  faco  o  que  deuo :  disi- 
mular injurias  e  desonras  nao  faz  senao  quem  as  merece. 

Dom  felipe  chegou  aqui :  folgou  este  papa  muito  com  elle :  achou 
esta  embaxada  lao  misera  que  fez  vestidos  e  cobrou  hum  pedaco  do  per- 
dido :  parece  mancebo  de  bem :  diz  que  he  proue  e  que  quer  hir  a  mina  : 
ajudai  o  por  amor  de  déos,  se  uos  bem  parecer :  agasalhei  o  nao  tam  bem 
como  quería :  meu  parceiro  he  muito  sospeiloso ;  asi  como  nao  falo  ao 
papa  nem  a  nenhuma  pesoa  sem  elle,  asi  o  faz  a  dom  filipe :  ha  nislo 
grandes  vergonhas,  que  nao  sofrena  acabado  isto  por  ser  papa.  Hum  de 
nos  ha  de  leixar  o  oficio  :  omem  uos  dirá  disto  mais  quando  for. 

De  roma  aos  xv  de  feuereiro,  1535 —  Dom  M.  de  porlugall  Are. 
do  Funckal ' . 


1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.  Parí.  I,  Mac.  51,  Doc.  77 .  —  Sobrescripto :  Ao  Illus- 
tre  e  muito  magnifico  senhor  o  Scnhor  conde  do  Vimioso  meu  senhor.  É  pena  terem- 
¿e  extraviado  as  primeiras  quatro  paginas  d'csta  carta,  que  devia  ser  interessantissima. 
O  que  resta  é  a  primeira  pagina  da  segunda  folha. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  177 


Carta  do  cardeal  Saiitiquatro  a  el-Rei. 


1535  — Marco  14. 


Serenissimo  mió  Signore  —  In  questa  causa  de  chrisliani  nuoui  del 
Regno  de  Vostra  Maesta  ha  hauuli  molli  dispiaceri  per  piu  respeüi,  ma 
precipuamenle  per  uno,  quale  é  che  da  principio  la  cosa  non  fusse  sli- 
mala  dala  Maesla  Vostra  come  mi  pareua  si  douesse  stimare,  quando  del 
mese  di  setiembre  nel  1532  expedi  uno  corriere  al  vescouo  de  sinigaglia, 
nuntio  apostólico  appresso  déla  Maesta  Vostra,  sopra  tale  negotio,  Perche 
aquel  tempo,  sela  si  fusse  mostra  tanto  desiderosa  di  tale  expeditione,  et 
hauesse  mandato  le  instructioni  che  dipoi  mando,  o  a  me,  o  al  suo  im~ 
basciatore,  che  a  quel  tempo  era  il  doltore  Blasio  netto,  non  haremmo 
hauuto  tanta  difficulta.  Ma  quando  el  detto  corriere  ritorno  non  riceuei 
lettere  dala  Maesta  Vostra,  ne  dal  suo  imbasciatore,  qui  mi  fu  fatto  in- 
tendere  alcuna  cosa ;  solo  per  uia  del  detto  nuntio  inlesi  che  quella  non 
si  conlentaua  de  capiluli  concernenti  la  indulgentia  di  detti  christiani  noui, 
et  procurati  qui  da  Duarle  de  Pazze.  II  che  inteso,  comandai  al  detto 
Duarte  non  enlrassi  piu  in  mia  casa,  parendomi  essere  buriato  da  luí,  el 
quafe  me  haueua  dato  ad  intendere  che  la  delta  indulgentia  procuraua 
con  bona  gratia  déla  Maesta  Vostra,  et  con  tácito  suo  consenso.  Et  cosi 
scacciato  da  me,  per  allro  mezo  fece  ogni  opporluna  et  importuna  diligen- 
lia  con  la  santa  memoria  di  papa  clemente  per  obtenere  la  detta  indul- 
gentia piu  fauoreuolmenle  che  fussi  possibile.  Et  del  mese  de  aprilel533, 
non  mi  trouando  ¡o  in  Roma,  fu  expedita  la  detta  bolla.  Dipoi  la  Maesta 
Vostra,  hauendo  di  ció  notitia,  fece  scriuere  per  el  Nuntio  ala  Sanlita  di 
Nostro  Signore  pregando  quella  uolessi  reuocare  la  executione  déla  detta 
bolla,  déla  qual  cosa  ne  io,  ne  il  suo  imbasciadore,  lo  Arciuescouo  del 
Funciale,  non  sapemmo  mai  niente  per  alhora,  se  non  che  dipoi,  hauendo 
el  Papa  scritto  uno  breue  al  suo  nuntio  per  exequire  la  detta  bulla,  la 
Maesta  Vostra  mando  al  detto  Arciuescouo,  suo  imbasciadore,  a  Marsilia, 
che  el  Papa  suspendessi  el  detto  breue  finche  li  mandasse  uno  personag- 
gio  a  posta  sopra  tale  negotio,  et  Sua  Santita  fu  contenta   Dipoi,  el  mese 

tomo  ni.  23 


178  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

di  febraro  sequente,  comparse  don  Henrike  de  metiese  suo  imbasciadore, 
el  quale,  et  per  lettere  di  Voslra  Maesta,  le  quali  me  presento,  et  per  la 
instruclione  che  porto  in  scriptis,  et  a  bocea  con  molto  diffuso  parlare, 
mi  fece  capace  del  desiderio  déla  Maesta  Voslra,  et  dele  ragioni  che  la 
moueuono  a  fare  instanlia  per  la  reformatione  déla  bolla  déla  indulgentia, 
et  obtenere  una  seuera  inquisilione  conforme  alli  sacri  canoni  per  contó 
deli  delti  christiani  nuoui,  le  quali  cose  quando  da  principio  hauessi  in- 
teso,  Duarte  de  Paz  non  harebbe  hauuto  tante  commodita  de  informare 
el  Papa  al  contrario  di  quello  che  la  Maesta  Vostra  desideraua,  né  la 
bolla  si  sarebbe  expedita  nela  forma  et  tenore  si  expedí.  Et  questo  sopra 
ogn  altera  cosa  me  ha  dato  dispiacere,  hauendo  uisto,  per  experientia  de 
anni  xxxvn  che  sonó  stato  in  questa  corte,  essere  molto  piu  facile  impe- 
diré el  fare  duna  cosa,  che  cerchare  el  disfarla  poi  che  é  facta.  Perche 
se  bene  al  mondo  tutli  li  homini  ragioneuoli  hanno  caso  di  non  errare, 
máximamente  li  Principi  grandi,  et  fra  quelli  poi  el  Papa,  che  é  suppre- 
mo  Pastore,  non  uorrebbono  commettere  errore,  et  quando  sonó  inducti 
a  reuocare  o  alterare  le  cose  gia  fatte  et  concedute,  pare  loro  che  non 
passi  senza  nota.  Et  di  qui  nacque  la  grande  difficullá  che  hauemmo  con 
Papa  clemente  lo  aprile  passato,  la  cui  Sanlita,  doppo  una  lunga  discus- 
sione  di  tre  giorni  1  uno  doppo  I  allro,  finalmente  con  il  consiglio  deli  suoi 
deputati  haueua  concluso  che  la  bolla  si  exequissi  in  igni  modo  et  di  gia 
falto  fare  la  minuta  del  breue  directo  a  Vostra  Maesta  con  darli  contó 
di  tale  deliberatione  el  indurla  a  slar'contenta  déla  execulione  di  delta 
bolla.  II  che  non  obstante,  trauagliammo  pur'tanlo  che  Sua  Sanlita  non 
mando  quel  breue,  ma  ne  fece  componere  uno  allro  soltó  di  n  de  Aprile 
del  tenore  che  la  Maesta  Voslra  uidde,  al  quale,  non  rispondendo  al  lempo 
che  noi  aspettauamo  la  riposta,  segui  uno  allro  inconueniente  che  Papa 
clemente,  un'giorno  dipoi  che  io  lo  hebbi  communicato  per  uiatico,  es- 
sendo  piu  in  lo  altro  mondo  che  in  questo,  expedí  uno  altro  breue  dire- 
cto al  suo  nunlio  sopra  la  medesima  execulione  déla  detta  bolla,  Per  re- 
uocalione  del  quale  fu  necessario  che  molto  fatichassimo  con  Papa  Paulo, 
come  la  Maesta  Vostra  dali  suoi  oratori  intese ;  et  benche  tali  impedi- 
menta li  quali  forse  non  sarebonno  occorsi  se  la  Maesta  Vostra  non  ha- 
uesse  difíerilo  cinque  mesi  et  mezo  el  rispondere  al  breue  di  clemente  del 
ii°  di  de  Aprile,  mi  habbino  dato  dispiacere  assai,  uedendo  per  tal  contó 
nascere  ogni  giorno  nuoue  diííiculta  alie  cose  di  Vostra  Maesta,  Puré  tutto 


RELACÓES  COM  A  CÜIUA  ROMANA  179 

queslo  mió  dispiacere  si  é  al  fine  conuerlito  in  piacere,  perche  tale  dila- 
lione  di  tempo  et  tali  oppositioni  hanno  seruilo  a  uenlilare  et  discutere 
meglio  cotale  negolio,  el  quale  per  sua  nalura  é  imporlanlissimo,  Perche 
doue  si  tralla  déla  fede  di  christo  et  di  puniré  li  uiolalori  di  quella,  o  re- 
munerare li  osseruatori,  si  debe  reputare  sempre  cosa  grande,  ma  oltre 
a  questa  ragione  é  reputato  di  grandissima  importanlia  per  lo  exemplo  di 
casliglia,  nel  qual  Regno  la  inquisitione  ha  operato  mirabili  effecti  di  bene, 
ma  non  pero  senza  nota  di  qualche  singular  male,  come  si  puo  uedere 
per  la  bolla  déla  santa  memoria  di  Papa  Leone,  per  la  quale  si  reuocaua 
la  inquisitione,  et  si  allegauono  lutle  le  cause  che  induceuono  la  Sua  San- 
tifa  a  fare  tale  reuocalione.  Onde  per  1  uno  et  per  1  allro  rispello  non  si 
é  possuto  prima  terminare  la  cosa  da  Papa  Paulo,  el  quale  poiche  in 
sua  presentía  piu  uolle  si  fu  agítala  sopra  e  meriti  di  tale  negotio,  in  vl- 
limo  rimesse  la  finale  deliberatione  neli  duoi  commissarii  suoi,  cioé,  lo 
Auditore  déla  camera  et  lo  Audilore  Simonetla,  et  in  me  come  Proteclore 
dele  cose  déla  Maesla  Vostra ;  et  poiche  piu  uolte  fussimo  insieme  in 
mía  camera,  el  due  uolte  presentí  anchora  li  suoi  imbasciadori,  et  dis- 
pútalo articulo  per  articulo  tanto  la  indulgentia  quanto  la  inquisitione, 
et  referito  poi  ogni  cosa  a  Sua  Santita,  finalmente  conuenimmo  nel  tenore 
el  substantia  de  capiluli,  li  quali  si  mandono  a  Voslra  Maesla  per  le  mani 
deli  detti  suoi  imbasciadori,  la  industria  et  opera  de  quali  non  é  máncala 
in  modo  alcuno,  anzi  1  uno  et  1  allro  hanno  falto  quello  era  possibile,  et 
un  poco  piu,  perche  la  Maesta  Voslra  reportassi  in  tutto  et  per  tutto  el 
suo  intento,  ma  non  si  é  possuto  fare  altra  conclusione,  che  quella  ue- 
dra  la  Maesla  Vostra  per  li  detti  capituli.  Et  del  tutto  é  stato  causa  le 
promissioni  fatle  dala  clara  memoria  del  Re  don  Emanuelle,  suo  genitore, 
el  confírmate  dala  Maesla  Vostra,  produlle  per  li  agenti  de  christiani  nuoui 
in  forma  aulhentica,  sopra  le  quali  habbiamo  hauuto  assai  che  disputare. 
Et  benche  in  quanto  concerneuono  la  salute  del  anima  *el  Papa  non  era 
obligato  regularsi  secondo  quelle  se  non  quanto  fussino  conforme  a  sacri 
canoni,  puré  non  ha  potuto  pero  manchare,  etiam  secondo  e  canoni,  di 
non  hauer'  consideratione  a  delle  promesse,  non  solo  per  il  passato  ris- 
petlo  ala  indulgentia,  ma  anchora  per  il  futuro  rispetto  a  la  inquisitione, 
come  per  li  delli  capituli  Vostra  Maesfa  particularmente  uedra,  et  anche 
per  el  breue  di  Noslro  Signore  Papa  Paulo  intendera,  la  quale  priego  et 
supplico  per  la  seruitu  cordiale  che  io  li  porto  uogli  acceptare  in  bona 

23* 


180  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

parte  questa  nostra  deliberatione,  et  contentarsi  déla  uenia  et  déla  inqui- 
silione  nel  modo  et  forma  che  Sua  Sanlilá  ha  delibéralo  concederla,  per- 
che, quanto  ala  indulgentia,  alienta  la  prima  conuersione  loro  di  che  sorte 
fu,  non  puleua  la  Maestá  Vostra,  come  per  altra  mia  pórtala  da  don  Phi- 
lippo  li  scrissi,  intendere  cosa  piu  grata  che  li  chrisliani  nuoui  hauessino 
conseguito  dala  Sede  apostólica  una  piena  indulgentia  de  suoi  errori  pas- 
sati  come  se  hoggi  renascessino  al  mondo  per  el  sacro  fonle  baptismale, 
accio  non  habinno  piu  scusa  alcuna  del  suo  peccalo.  Et  quanto  alia  in- 
quisitione,  atieso  la  breuilá  del  lempo  et  che  li  anni  passono  presto,  an- 
chora  la  Maestá  Vostra  debe  esser 'contenta  Perche,  o  mancheranno  dali 
suoi  errori,  et  in  tal  caso  la  Maestá  Vostra  riceuerá  molto  contento,  non 
desiderando  altro  che  la  salute  loro,  che  per  uia  di  dolceza  si  siano  cor- 
redi  ;  ouero  ritorneraño  a  iudaizare,  et  alhora  la  Maestá  Vostra  potra  senza 
alcunp  rispetlo  procederé  contro  di  loro  ad  ogni  seuera  punitione,  el  la 
Sede  apostólica  sara  sua  coadiutricc  non  piu  con  l'olio  déla  misericordia 
ma  con  la  aspreza  de  la  uirga  férrea,  ne  potra  la  Maesla  Vostra  esser'iu- 
dicata  che  el  suo  zelo  proceda  piu  dala  cupidita  dele  faculta  de  chris- 
tiani  nuoui  che  dal  zelo  de  la  fede  el  desiderio  de  la  salute  dele  anime, 
come  spesse  uolte  li  Principi  sogliono  essere  iudicati :  el  piacci  ala  Maestá 
Vostra  perdonarmi  se  cosi  liberamente  scriuo,  perche  tutto  procede  dala 
grande  seruilu  et  affectione  che  li  porto,  la  cui  fama  et  il  cui  honore  non 
uorrei  che  mai  in  alcun'lempo  ne  per  alcuna  cosa  patissi  detrimento,  ma 
sempre  in  ogni  loco  fussi  commendata  appresso  a  dio  et  li  homini,  come 
spero  sara  di  questa,  acceptandola  nel  modo  et  forma  che  el  Papa  é  re- 
soluto darla,  del  che  di  nuouo  non  come  cardinale,  ma  come  seruitore 
suo  solo,  la  supplico.  Et  valeat  felecissime. 

Romae  xuu  Marlii  mdxxxv. 

Di  Vostra  Maestá  —  Humillis  seruitor  A.  Cardinalis  Sanctorum 
Qaaltuor,  Maior  penitentiarius1. 


1  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  5,  n.°  51.  Diz  o  sobrescripto:  Al  serenissimo  Re  di 
Portugallo  mió  Signore —  Ufo  mesmo  maco,  n,°  65,  está  urna  versüo  em  vulgar  d'csta 
tarta. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  181 


Carta  de  ■>.  llartinho  de  Portugal  a  el-Re¡. 


1535  —  Marco  14. 


Senhor — Fará  a  dez  deste  mes  que  vem  hum  anno  que  por  aluaro 
diaz  e  castanho,  por  via  do  conde  do  Vimioso,  soube  vossa  alteza  na  In- 
quisicao o  que  ate  emtao  era  pasado  :  e  ainda  que  fosse  com  mor  auda- 
cia do  que  diuia  pollo  que  sou  obrigado  ao  vosso  seruico  e  a  mim,  sou- 
besles,  senhor,  tanbem  nesta  parte  meu  parecer,  e  o  que  desejaua  por  es- 
tas razois  que  vossa  alteza  mandase  fazer  nesle  negocio,  e  cria  ser  mais 
conforme  a  vossa  consciencia.  Quando  di  a  cinco  meses  e  meo  veo  re- 
posta, ao  outro  dia  faleceo  o  papa  clemente.  Depois  qu  este  paulo  foi  asum- 
pto,  e  souberaos  de  hum  breve  que  o  clemente  pasara  antes  que  morrese, 
pareceo  bem  auerse  a  suspencao  delle  :  por  lodallas  vias  que  se  pode  ne- 
gocear  pera  se  suspender  se  fez.  O  papa  o  cometeo  a  dous  homens,  que 
aqui  sam  os  mais  estimados,  e  a  que  comete  todos  os  negocios  do  mundo. 
Sam  lao  conhecidos  que  vossa  alteza  poderá  la  saber  quem  sam  o  auditor 
da  cámara  e  Simonela.  Ate  á  data  do  breue  da  suspencao  se  trabalhou 
naquillo:  Depois  da  suspencao,  no  negocio  principal,  alegora  que  o  fi- 
zerao  desa  maneira  que  aqui  vai,  e  ainda  com  condicao  se  la  nao  he  ja 
publicado  ou  notificado.  Nisto  da  notificacao  debalemos  muilos  dias  :  elles 
o  enlendem  como  no  mesmo  perdao  vai  declarado.  Requeremos  emtao  a 
bulla  da  Inquisicao,  que  nao  queriam  em  nenhuuma  maneira  conceder : 
depois  de  se  fazer  o  que  se  pode,  e  mais  do  que  se  diuia  ao  estado  de 
vossa  alteza  e  ao  negocio,  e  pollos  meos  que  auia  boons  e  maos,  conce- 
derlo a  Inquisicao  com  essas  limitacoes,  como  dahi  verá  vossa  alteza. 

Este  negocio  he  acabado  lodo,  e  íslo  soo  ha  bom  nelle  que  nao  ha 
que  repricar,  e  por  as  razoes  serem  muilas  pera  se  nao  poder  esperar 
mais  melhoramento.  Estando  as  cousas  nesle  estado  em  que  ora  sam  me 
pareceo  seruico  de  vossa  alteza  dizer  a  mor  parle  dellas,  com  protesta- 
cao  que  quem  faz  o  que  deue  he  obrigado  a  dizello,  se  os  vezinhos  o 
nara  dizem. 

Este  papa  he  de  setenta  annos,  nobre  e  senhor  de  casa  e  de  muilos 


182  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

annos.  Foi  eleito  como  se  nunca  vio  eleicao  asi  linpa  e  de  todas  as  na- 
cOis  e  comum  consemtimento.  Tem  asentado  fazer  concilio,  e  temse  pe- 
nhorado  com  todos  os  principes,  e  ve  que  nao  lem  outro  remedio  pera 
tornar  ha  autoridade  e  obediencia  a  See  apostólica  segundo  diz  que  lem 
perdida,  e  a  tirar  as  heresias,  e  a  perseguir  os  Infieis  (este  he  o  seu  te- 
nor). Mandou  nuncios  ao  emperador,  a  el  rei  dos  romanos,  e  franca  pera, 
segundo  as  repostas,  ordenar  como  o  deve  fazer.  Aqui  comeca  a  querer 
reformar  a  corle  i  emtendem  niso  alguns  cardeais  :  estaa  posto  a  fazer  jus- 
tica  com  todo  o  rigor  sem  ler  respeito  a  viua  pesoa :  nao  quer  acrecen- 
tar na  sua  casa  mais  huma  amea  do  que  tem,  senam  casar  algumas  ne- 
tas suas  com  pesoas  com  que  as  casara  se  nao  fora  papa.  Fez  dous  ne- 
tos de  xv  annos  cardeais;  mandaos  muito  bem  insinar;  da  Ihes  toda  a 
renda  que  pode  de  beneficios ;  e  ainda  que  seja  erro  e  contrairo  a  refor- 
roacao  fazer  tam  pequeñas  idades  cardeais,  nislo  se  culpa  elle  mesmo,  e 
diz  que  outros  papas  o  fizerao,  e  lyao  ao  cardeal  vosso  Irmao  de  noue 
annos,  e  que  como  se  tudo  reformar  que  di  por  diante  nao  pasará  alem 
do  que  se  determinar  nem  huma  jola.  Nao  se  quer  liar  com  ninguem 
nem  quer  fazer  ligua  Nao  tem  pesoa  que  o  gouerne,  e  por  si  faz  tudo. 
He  muito  longo  e  mal  pralico  dos  slillos  desta  corte  acerca  do  despacho 
e  expidicois ;  e  rege  se  no  mais  pollo  estillo  d  ora  ha  cem  annos.  Aos  em- 
baxadores  dá  tarde  e  mal  audiencias.  Val  mais  ant  elle  hum  cardeal  que 
todos  os  embaxadores  juntos  que  ha  nesta  corte.  Soo  o  do  emperador  tem 
mais  ser  ant  elle ;  e  logo  o  de  franca.  Nao  estima  mais  dinheiro  pera  mu- 
dar huma  paiha  que  se  fosse  térra.  He  incontaminado.  De  vossa  alteza  fala 
milhor  que  de  lodos  os  principes,  sem  ficar  nenhum,  e  vos  pom  sempre 
anle  todos  por  exemplo.  E  sempre  diz  que  onde  nao  emtrar  justica  se- 
nao  graca  que  a  fará  a  vossa  alteza  mais  que  a  todos,  e  que  o  verá :  asi 
o  achei  ñas  Igrejas  etc.  que  nao  foi  pequeño  negocio  segundo  o  tenpo. 
Nenhuma  cousa  de  clemente  quer  quebrar,  porque  diz  que  os  passados 
sempre  coslumarao  a  desfazer  o  que  os  seus  antecessores  fizerao.  Presu- 
me, e  dizem  que  o  sabe  por  strologia,  e  quer  dar  a  ern tender  que  por 
reuelacao,  que  ha  de  viuer  mais  de  nove  annos,  e,  se  dali  pasa,  ate  qua- 
torze.  Com  estas  parles  todas,  os  indultos  gracas  que  os  passados  lem 
concedidos  quebra  em  quanlo  podee.  O  papa  Julio  linfas  concedido  a  el 
rei  dom  femando  que  pudese  nomear  a  certos  bispados,  creo  que  viole, 
quando  vagasem,  em  napolles,  pesoas  que  Ihe  parecesem  aulas  pera  se- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  183 

rem  prouidas  dos  tais  bispados.  Clemente  concedeo  ao  emperador  que  pu- 
dese  apresentar  haquelles  bispados  (que  he  mais  que  nomear) :  nao  man- 
dou  expedir  a  bulla :  agora  vagando  o  de  gaieta  o  deu  ao  cardeal  de 
barri ;  nunca  o  papa  quis  que  se  prouese  ha  presentacao  do  emperador 
senao  ha  sua  nomeacao  :  nao  prestou  ser  cardeal,  falarem  lhe  todos  os  ou- 
tros,  nem  ser  o  emperador :  nao  quis  nem  he  prouido  alegora,  nem  se 
eré  que  será  senao  ha  sua  nomeacao. 

Ao  duque  de  Saboia  quebrou  o  Indulto,  que  tinha  de  nomear  os  mos- 
teiros ;  e  asi  o  quer  fazer  a  lodos.  Nao  o  poderá  fazer  senao  no  concilio. 
Nao  queira  déos  que  o  concilio  seja  mais  contra  os  seculares  que  contra  os 
clérigos.  Déos  ordenará  tudo  como  for  mais  seu  seruico,  e  aquillo  será  o 
milhor.  Com  esta  sua  liberdade  cometeo  este  negocio  a  estes  dous  letrados : 
estes  sam  mui  ocupados.  Duarte  de  paz  falou  sempre  a  estes  em  publico. 
Com  grande  fadiga  pudemos  fazer  que  ho  nom  leixasem  estar  com  nos  ou- 
tros  juntamente  a  juizo.  De  nenhuma  cousa  lhe  leixarao  de  dar  vista.  E 
quando  dizemos  que  vossa  alteza  nao  queria  nislo  senao  graca,  espantaose, 
e  dizem  que  he  interesse  do  terceiro,  e  que  sao  muitas  almas,  e  que  neste 
negocio  vai  a  vida  de  muitas  pesoas  e  fama,  e  que  nao  forao  feitos  chris- 
taos  como  diuiao.  Tudo  isto  pasara  em  alguma  maneira  se  nao  fora  o  audi- 
tor da  cámara  estar  em  castella  por  embaxador,  e  trazer  hum  liuro  dos  er- 
ros  das  cruzadas  e  da  Inquisicao,  e  estes  procuradores  dos  chrislaos  nouos 
Ihes  apresentarem  hum  priuilegio,  que  lhes  deu  el  rei  que  déos  aja  e  vossa 
alteza  confirmou,  e  hum  estromento  com  huma  reposta  do  bispo  do  al- 
guarue :  tudo  isto  ha  dias  que  tenho  dado  a  dom  amrique  que  mandase 
a  vosa  alteza.  Des  que  isto  virao  nenhuma  cousa  quiserao  fazer ;  e,  como 
nos  nao  tinhamos  que  alegar,  e  vosa  alteza  deste  priuilegio  nunca  man- 
dou  dizer  nada,  se  o  negauamos  deziam  nos  e  dizem  :  se  he  falso  que  fa- 
rao  tudo  casi  como  vossa  alteza  quer,  e  a  elles  castigarao ;  e  se  he  ver- 
dadeiro,  no  que  conserne  utilidade  de  vossa  alteza,  como  sao  os  bens, 
que  os  podieis  dar,  e  co  papa  lhos  nao  quer  tirar  senao  des  que  vir  que 
nao  perderem  os  bens  he  em  perjuizo  pera  serem  bons,  emlao  quer  que- 
brar o  priuilegio,  por  tanto  o  daa  por  dez  annos  e  depois  ad  beneplaci- 
lum  do  papa,  e  dos  carceres  abertos  por  sete  annos.  Isto  nao  he  muito, 
porque  asi  o  quer  o  direilo  comum  senao  em  cerlos  casos:  os  oulros  de 
vinte  dias  e  doutras  cousas  quebrarao  por  nao  ser  conforme  a  direilo, 
nem  cousa  donde  excludisem  ordinarios  nao  quiserao  fazer.  O  intento  de 


184  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

toda  esta  gente  he,  asi  de  cardeais  como  de  letrados,  que  esta  Inquisi- 
cao  se  nao  quer  senao  per  as  fazendas :  pera  persuadir  o  contrario  se  fez 
o  que  se  pode  como  he  vcrdade.  Muito  empeceo  a  limitacao  dos  sete  an- 
nos  que  de  la  veo,  e  ainda  muito  mais  as  condicoes,  per  que  tornaua  a 
ser  a  mesma  cousa  e  perderem  a  fazenda. 

Espantou  me  como  os  letrados,  que  la  isto  traclao,  mandao  alegar 
o  feilo  del  rei  Sisebuto,  e  como  he  louuado  e  Ihe  chama  o  concilio  to- 
letano  quarto  religiosissimo,  e  nao  vém  que  no  mesmo  concilio,  di  a  qua- 
Iro  capítulos,  pom  estas  palauras:  «Judei  baplizati,  si  postea  preuarican- 
tes  in  christum  qualibet  pena  danati  exliterint,  a  rebus  eorum  fideles  fi- 
lios  excludi  nom  oporlebit,  quia  scriptum  est  filius  non  portabit  palris 
iniquitatem  ».  A  Igreja  depois  concedeo  aos  principes  so  muitas  penas  que 
leuasem  as  fazemdas :  isto  foi  pera  os  principes  darem  fauor  contra  as  he- 
resias,  que  nao  queriam  fazer  antes  das  fazendas  se  perderem  pera  elles. 

Falámos  ao  papa  mil  vezes  dom  amrique  e  eu,  e  cada  hum  por  si, 
e  com  o  embaxador  do  emperador  seis  ou  sete  vezes,  elle  por  si  outras 
tantas,  e  o  mandou  encomendar  a  estes  letrados  muitas  vezes ;  e  pareceo 
lhe  que  deuiamos  de  falar  a  alguns  cardeais,  em  particular  a  trani  e  a 
cesarino.  Eu  o  nao  íiz.  Dom  anrique  falou  a  todos,  e  a  estes  dous  mais 
particularmente,  que  erao  os  mais  fauorecidos.  O  tractamento  que  lhe  fez 
o  cesarino  propleitor  daragao,  auendo  na  casa  tres  ou  quatro  cadeiras 
despaldas,  segundo  me  dom  amrique  dixe,  o  mandou  asentar  em  hum 
escabelo  tres  ou  quatro  vezes  que  la  foi :  promelerao  fazer  ludo :  todos 
forao  contra  nos :  aguardamos  e  acompanhamos  o  embaxador  por  toda 
esta  cidade  ale  o  paco,  e  algum  de  nos  por  as  outras  partes.  Himos  a 
sua  casa  muilas  vezes,  e  neste  negocio  nao  fizemos  nenhuma  cousa  nem 
mudamos  hum  pee  sem  lho  fazer  saber :  por  sua  ordenanca  se  fez  tudo 
como  vossa  alteza  dizem  que  manda.  He  muito  humano,  e  certo  nao  nos 
podemos  agrauar  delle  :  ouuenos  quando  la  himos  e  faz  nos  honra  :  e  no 
comeco  deste  pontificado,  onde  tantas  gentes  concorrerao,  níio  foi  mao  no- 
tificar a  todos  que  dous  vossos  embaxadores  nao  podem  fazer  os  vossos 
negocios  sem  o  seu  fauor :  elle  nao  fica  emganado,  como  dise  o  conde  de 
portalegre.  Dao  elle  e  os  seus  a  emtender  isto  e  outras  cousas  de  pouco 
seruico  de  vossa  alteza;  e  nesla  térra  nenhuma  cousa  faz  perder  ludo  se- 
nao perder  reputacao.  Ha  dous  annos  que  escreui  a  vossa  alteza  por  cas- 
tanho  que  este  embaxador  e  santa  cruz,  indo  com  elles  falar  ao  papa  com 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  185 

carta  do  emperador,  Ihe  diserao  que  fizera  bem  de  dar  o  perdao,  e  lhe  al- 
legaras que  asi  se  fizera  em  grada  :  e  quando  veo  dom  amrique  trouxe 
comisao  de  se  fazer  tudo  com  elle :  agora  se  vee  o  que  aproueitou  :  ao 
menos  isto  tem  ja  guanhado  que  esles  cristaos  nouos  nao  ousauao  pare- 
cer. Duarte  de  paz  procura,  nao  embucado,  como  fazia  em  vida  de  cle- 
mente, senao  publico  com  hum  auito  de  christos  no  peito ;  e  me  dizem 
que  moslra  estromenlos  e  oulros  papéis  de  como  o  mereceo  em  áfrica ; 
e  mostra  por  sitial  aquelle  olho  e  huma  senlenca,  que  diz  que  tem,  de 
como  se  nao  pode  contar  antre  os  cristaos  nouos,  e  quanto  e  em  que  tem 
seruido,  e  que  nao  faz  isto  senao  por  zello  de  se  fazer  jusliea,  e  por  ser- 
uico  de  vossa  alteza.  Vai  com  isto  requerer  ao  embaxador  do  empera- 
dor, e  lhe  diz  que  nos  nao  fauoreca,  e  dálhe  em  sprito  as  razoes  por 
onde  o  nao  deue  fazer ;  e  algumas  lhe  parecem  justas  como  he  o  priui- 
legio  del  rei  que  déos  aja  e  vossa  alteza  confirmou  :  asi  o  dise  a  nos  am- 
bos :  e  hum  seu  secretario,  por  que  nos  manda  algum  recado,  soia  a  vir 
aqui  algumas  vezes:  depois  desle  negocio  nao  vem.  Aqueixandose  dom 
anrique  do  conde  ouuir  Duarte  de  paz,  nos  dixe  que  o  conde  nao  podia 
negar  sua  casa  a  quem  a  ella  viese  ;  que  era  pesoá  publica  e  auia  de  dar 
audiencia  a  todos. 

Ho  Santiquatro  fez  neste  negocio  quanto  cada  hum  de  nos  pudera 
fazer ;  e  cerlo  que  vossa  alteza  lhe  he  obrigado  em  tanto  quanto  se  deue 
a  hum  bom  criado,  que  faz  o  que  pode,  e  quanto  menos  obrigacao  tem, 
tanto  mais.  Por  derradeiro  o  papa  a  estes  dous  homens  e  a  elle  comeleo 
o  negocio:  nao  lhe  pareceo  deuerse  mais  de  melhorar,  e  o  que  vai  tem 
por  muito.  Dixe  nos,  depois  de  ludo  feito,  que  liuesemos  por  cerlo,  e 
os  mesmos  a  que  se  nislo  falou  que  falasem  por  parte  de  vossa  alteza,  e 
o  mesmo  embaxador  do  emperador,  e  o  cardeal  santa  cruz,  e  cesarino, 
e  outros,  ajudarao  aos  christaos  nouos;  e  ainda  diz  que  de  porlugal,  ou 
per  via  do  nuncio  ou  nao  sei  como,  auisaram  algumas  pesoas  ao  papa 
que  vise  o  que  concedía,  que  o  zelo  de  vossa  alteza  era  santo  e  virtuoso, 
mas  que  se  auia  de  fazer  mal.  Pesou  me  muito  de  ser  asi,  e  folguei  de 
ho  dizer  peranle  dom  anrique,  que  o  pode  dizer  a  vossa  alteza.  Este  foi 
sempre  meu  parecer  que  este  negocio  se  auia  de  perder  como  o  emlen- 
desem  e  nelle  falasem  muilos  :  ouuera  a  raao  direila  negocíalo  de  maneira 
que  a  esquerda  o  nao  soubera.  Por  castanho,  fará  dous  annos,  o  escreui 
asi  a  vossa  alteza,  e  auisei  que  era  necesario  segredo,  e  nao  se  falar  ao 

tomo  ni.  24 


186  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

emperador  nem  a  cousa  sua,  senao  eu  se  vise  ser  necesario  como  hum 
amigo  ajuda  ao  outro,  e  me  a  mim  os  do  emperador  soiam  a  requerer 
como  ha  embaxador  de  vossa  alteza.  Tudo  isto  he  mudado  ás  vesas :  o 
embaxador  do  emperador  nos  ha  as  audiencias :  fomoslhe  dar  muilas  ve- 
zes  conta  disto  :  acompanhamolo  como  se  foramos  embaxadores  de  luca. 
Antes  do  saco  mandaua  o  papa  os  auditores  da  rola  ha  minha  casa  e  ao 
datairo  a  negocear  as  cousas  que  lhe  requería  e  a  fazellas :  como  ncgo- 
ceámos  por  estoutras  vías,  ficámos  lao  baxos  que  fomos  sempre  as  casas 
desles  auditores  talar  lhes,  e  fomos  mais  de  sesenta  vezes  ou  ambos  jun- 
tos ou  cada  hum  de  nos.  Em  tempo  de  clemente  nao  hiamos  a  casa  de 
auditores :  como  este  foi  papa  e  nos  achou  asi  baxos,  asi  nos  manleue. 
Pera  vossa  alteza  ver  como  nos  ajudarao,  e  creo  o  que  diz  sanliqualro, 
estauamos  nisto  das  fazendas  e  sabia  o  embaixador,  nao  sei  quem  reque- 
reo  ao  papa,  nasinatura  publica,  que  confirmase  hum  priuilegio  co  em- 
perador deu  aos  hereges  d  aragao  e  valenca  e  catelunha,  quanto  he  que 
lhe  nao  quer  leuar  as  fazendas.  Vendo  o  papa  e  os  auditores  que  o  em- 
perador o  fazia,  forao  muito  piores  contra  nos ;  alegaraonos  o  que  o  em- 
perador fazia:  diseraolhes  que  aquellas  fazendas  valiam  pouco  ;  emtao 
crerao  mais  que  as  fazendas  nos  mouiam.  Aqui  vai  este  priuilegio:  a 
mao  lempo  o  requererao. 

Pareceo  a  dom  amrique  que  diuiamos  d  ir  dar  conta  ao  embaxador 
do  emperador  da  resulucao  do  negocio,  pera  o  poder  escreuer  ao  empe- 
rador :  por  fazer  o  que  me  mandaua  (como  me  trabalho  de  fazer  des  que 
veo)  fomos.  Achámos  os  mesmos  auditores  que  nos  despachao  em  sua 
casa  la.  Quando  eu  vi  que  aquelles,  que  me  soiam  a  buscar  pera  os  ne- 
gocios de  vossa  alteza,  foramos  nos  tantas  vezes  requerer  a  suas  casas, 
e  que  os  achauamos  em  casa  d  outro  embaxador,  tornei  me,  por  os  níio 
empedir,  com  tanta  vergonha  como  deue  de  ter  hum  homem  como  eu,  que, 
tendo  posto  o  vosso  seruico  e  estado  no  que  diuia,  o  vejo  como  está  :  e 
nao  diga  ninguem  a  vossa  alteza  que  se  ha  de  negocear  por  estes  meos. 
Do  negocio  desta  térra  ninguem  sabe  mais  que  eu,  e  muitos  muito  me- 
nos, e  oulros  muitos  nada.  Vossa  alteza  sabe  bem  que  despachei  aqui  al- 
gumas  cousas  que  amtes  nunca  se  puderao  auer,  e  este  agora  nao  se  pode 
acabar:  a  quem  der  outra  tal  proua,  crea  se  lhe. 

No  que  vai  costa  abaxo  nao  ha  que  fazer  depois  de  se  nao  poder 
ter,  c  ás  vezes  he  milhor  ajudal  o  c  empuxal  o  pera  que  va  mais  asinlia  ; 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  187 

nem  he  necesario  no  que  vai  cosía  ácima  dizer  nada.  Nesle  negocio  te- 
nho  feilo  o  que  diuia,  e  escriplo  a  vossa  alteza  mais  do  que  diuia.  Meu 
parecer  foi  sempre  que  se  oulhasse  o  que  se  podia  auer  por  graca  e  rogo, 
e  que  ineios  auia  pera  se  fazer  ;  e  dixe  algumas  vezes  os  que  me  ocor- 
riam,  e  o  que  por  juslica  e  por  que  razao,  ca  quando  requeriamos  graca 
alegauamos  juslica  e  direito ;  e  quando  nos  falauam  na  juslica  nao  que- 
ríamos senao  graca,  e  esla  se  nao  faz  em  nenhuma  parle,  nem  aqui, 
quando  outros  publicamente  pedem  juslica.  Em  negocio  desta  calidade,  e 
que  tem  por  auanle  toda  a  inquisicao  de  caslella,  de  que  fala  mal  todo 
o  mundo  (e  será  falsamente),  nao  se  pode  negocear  senao  com  segredo  e 
em  conjuncoes  e  com  meios  muito  deferentes  dos  outros  negocios;  equem 
quer  publico  ha  de  ser  com  a  razao  \iua  e  co  direito  craro,  e  com  mos- 
trar, que  se  toque  com  a  mao,  que  se  emmenda  todo  o  em  que  se  culpao 
as  outras  ;  e  se  os  letrados,  que  nisto  la  falaráo,  aqui  vierao,  souberam  que 
deferenca  ha  de  falar  a  negocear.  Se  juslica,  equidade,  honra  e  deshonra, 
feros  e  merencoria,  emportunacao,  alguma  cousa  nisto  puderao,  íizera 
se.  Dom  anrique  nao  leixou  nada  por  fazer :  eu  o  ajudei  no  que  pude. 

Vossa  alteza,  a  meu  ver,  tem  tres  caminhos  nesla  materia:  ou  nao 
falar  nisto  nada,  esperar  quesqueca,  e  ha  mester  que  pasem  muitos  an- 
nos  pera  esquecer ;  ou  aceptar  o  que  vos  o  papa  dá  :  e  antes  aueria  por 
milhor  que  acéptalo,  quanto  ao  perdao,  pidir  que  geralmente  se  perdoa- 
sem  lodos  e  de  tudo  geralmente  ate  a  data  da  bulla,  e  se  confesasem  a 
seus  curas  como  quisesem  :  e  nao  quereria  nenhum  dos  pontos  que  no 
perdao  vam,  senao  que  se  fizese  em  dez  regras  e  geral ;  e  que  os  ordi- 
narios emquirao,  se  quiserem,  depois'do  perdao,  e  como  quiserem  e  Ihes 
parecer,  e  como  o  direito  o  despom :  e  pediría  ao  papa  que  amoeslase 
aos  prelados  que  emsinasem  os  que  tiuesem  necesidade,  e  oulhasem  que 
nao  ouuese  hereges.  Escreveria  ao  papa  que  nao  quería  inquisicao.  Da- 
qui  a  dous  annos  mandaria  dizer  como  os  prelados  o  nao  fazem,  e  darao 
a  inquisicao  pintada  como  vossa  alteza  quiser,  e  nao  parecerá  que  pedis- 
tes  huma  cousa  e  volla  nao  concederao.  Desta  maneira  o  perdao  terá  auido 
seu  effeito,  e  nao  se  poderao  despois  escusar.  Os  ordinarios  farao  como 
atequi  fizerao,  que  foi  nao  fazerem  o  que  diuiáo ;  e  mais  todos  sao  ou 
vossos  irmaos  ou  vossas  feiluras,  nao  pasarao  o  que  vossa  alteza  lhes 
ordenar :  pasado  este  lempo  se  fara  inquisidor  e  todo  o  mais. 

O  oulro  he  desobedecer.  Ja  elrei  de  Ingralerra  comecou  e  mais  se 

'24* 


188  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTUCJUEZ 

parece  he  ha  cor  co  papa  faz  o  que  nao  deue :  pois  Ingralcrra  dá  por 
exemplo  sua  vontade,  os  que  a  liuerem  conforme  a  razao  o  poderao  fa- 
zer  milhor.  Huma  cousa  lembro  a  vossa  alteza,  qu  elrei  d  ¡ngraterra  o  que 
faz  diz  que  he  por  conselho  d  algumas  uniuersidades  e  de  letrados,  e,  por- 
que he  contra  o  parecer  d  outros  muitos,  dito  senlenca  contra  elle,  e  agora 
procedem  á  priuacao.  Letrados,  se  nao  sam  santos,  dizem  segundo  suas 
afeicoes  muilas  cousas,  que  nao  diriam  se  visem  todos  os  liuros. 

Vossa  alteza,  a  raeu  ver,  Ihes  deve  de  quitar  as  fazendas  perpetua- 
mente ;  nem  vossa  alteza  cora  saa  contienlia  pode  al  fazer,  pois  el  rei  que 
aja  gloria  lhes  deu  priuilegio  e  lho  confirmastes :  isto  he  casi  contracto, 
e  o  direito  nao  deu  as  fazendas  senao,  como  dixe,  por  os  principes  faze- 
rem  fazer  justica:  nao  foi  por  parecer  equidade.  Todos  aqui  se  espanlíío 
de  vossa  alteza  querer  quebrar  o  que  se  lhe  prometeo  (isto  por  ser  cousa 
de  principes,  que  eu  nao  enlendo,  o  leixo) ;  mas  nos  outros  la,  se  pro- 
metemos huma  cousa,  na  relacao  de  vossa  alteza  ho  farao  conprir.  Se  a 
fee  publica  e  real  se  nao  guardar,  em  que  auerá  firmeza?  asi  se  poderao 
quebrar  quantos  priuilegios,  lencas,  doacóes  se  fazem  :  he  necesario  que 
nao  pareca  que  se  faz  da  necesidade  virtude ;  e  se  vossa  alteza  lh  as  quita, 
nao  ha  de  ser  senao  com  se  dar  a  entender  qu  esta  era  uosa  tencao  (asi 
me  dixe  vossa  alteza  alguas  uezes  que  o  queries  fazer),  e  se  as  pedies 
era  por  lhes  meter  medo,  mas  nao  pera  as  leuar. 

E  o  perdáo  polla  mesma  causa  se  pedia  asi  limitado,  que  pois  asi 
parece  a  sua  santidade,  que  a' vossa  alteza  ho  ha  por  bem,  e  ainda  que 
seja  mais geral  que  ex  nunquam,  se  perdoe  ludo  in  utroque  foro;  e  quanto 
ao  da  coslienlia,  que  se  confesé  quem  se  sintir  culpado  a  quem  quiser,  c 
que  do  peccado  de  heresia  nhenhum  se  posa  acusar  di  recle  vel  indirccte 
do  pasado  ale  entao.  Desta  maneira  se  salua  tudo,  pois  se  pode  tao  pouco 
auer,  e  se  reputará  a  merce  que  vossa  alteza  quer  fazer  e  a  vertude : 
está  cá  asentado  antre  todos,  e  tem  por  certo,  que  ante  vossa  alteza  nao 
ha  nem  cobica,  nem  desejo  de  fazer  a  todos  senao  bem  e  merce.  Estes 
auditores  afirmao  que  dizem  estes  cristaos  nouos  que  nao  queriao  mais 
neste  seu  negocio  senao  que  vossa  alteza  soo  entendese.  Pois  se  mais  nao 
pode  fazer,  a  culpa,  eos  maos  poem,  fica  saneada  ate  uir  lempo  de  se 
fazer  a  inquisicao,  e  de  mao  em  mao  auerá  o  que  quiser  e  a  expirientia 
mostrar  que  he  necesario.  A  deCastcla  se  fez  asi  por  breues  :  forao  auendo 
cousas,  e  cada  dia  aom. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  189 

Alguns  homens  me  tem  scrito  algumas  cousas:  porque  screui  por 
dom  filipe  que  pollo  que  mandase  com  esta  reposla  mandaría  a  vossa  al- 
teza dizer  o  que  me  déos  entao  ¡spirase,  dcpois  de  m  encomendar  muito  a 
elle,  me  parece  que  nao  deuo  de  dizer  mais  que  lembrar  a  vossa  alteza 
que,  por  me  fazer  merce,  mande  uer  todas  as  minhas  carias  des  que  che- 
guei  a  bolonha,  e  verá  se  ficou  cousa  por  fazer  neste  negocio  e  por  lem- 
brar. 

Se  me  agrauar  de  nhenhum  ousar  ante  vossa  alteza  de  dizer  cousa, 
por  que  deuia  de  ser  queimado  uiuo  quem  as  fizese,  seria  culpado  no  mes- 
mo  uilio  de  me  desculpar  do  que  me  vossa  alteza  nao  culpa,  ainda  que 
me  queirao  persuadir  co  maoo  despacho,  que  ale  qui  tem  os  meos  gue 
mando  ao  funchal ;  mas  eu  estou  nesla  pose  de  se  despacharen)  minhas 
cousas  quando  ja  as  nao  espero :  vossa  alteza  naom  pode  ser  que  algum 
dia  me  nao  faca  merce  que  supra  todos  estes  males,  se  me  pódese  man- 
ter  ate  entao.  Com  ludo  isto,  ao  conde  do  uimioso  tenho  scrilo  quanlo 
abasta  pera  serem  os  que  dizem  mal  cognecidos  e  seo  zelo.  Lembra  me, 
quando  anlonio  dazeuedo  asinou  o  contracto  de  maluco,  o  que  eu  dixe 
entao  a  vossa  alteza,  e  o  que  me,  senhor,  dixesles  entao,  e  depois  que 
ueyo  e  moreo,  que  lembrei  muitas  uezes  que  lhe  picasem  a  pedra  do  se- 
pulcro. Quem  isto  faz,  securo  está  de  erar :  nao  fez  mars  cepiao  quando 
o  acusarao  que  furtara.  Nao  me  pesaria  se  vossa  alteza  quisese  mandar 
queimar  uiuo  a  mim  ou  a  qualquer  uoso  embaxador  que  herra  em  seu 
oficio ;  mas  que  a  mesma  pena  se  dése  aos  que  o  dizem  e  o  nao  prouao. 
Em  lisboa  se  dezia  que  eu  lomaua  dinheiro  pollos  judeos,  que  stauao  pre- 
sos e  eu  auia  de  sentenliar,  e  asi  o  diziao  de  'vossa  alteza;  e  agora,  se 
me  culpao,  tambem  dizem  que  vossa  alteza  nao  quer  destes  senao  as  fa- 
zendas.  Ora  crea  se  o  que  he  tao  falso. 

Queria  e  será  muita  rezao  que  vossa  alteza  me  agradécese  mais  o 
que  tenho  feito  neste  negocio,  pois  se  nao  acabou,  do  que  fizera  se  fora 
Conceso  como  se  pedia.  Quando  o  negocio  se  acaba  bem,  o  gosto  de  se 
acabar  he  premio  ;  quando  naom,  e  se  faz  tudo  o  que  se  deue  e  pode, 
pollo  desgosto  he  o  senhor  obligado  a  dar  mais  contenlamenlo,  e  a  sa~ 
tisfazer  o  trabalho.  Com  que  se  pagarao  as  noites,  que  nao  dormi  e  es- 
tudei,  e  os  dias  que  nao  uiuy  e  andei  temperando  muitas  cousas,  qu% 
erao  necesarias?  e  nunca  screui  a  vossa  alteza  porque  ui  que  uir  dom  an- 
rique  era  desconfianza,  e  sofri  ale  oge,  que  ha  treze  meses,  o  que  déos 


190  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sabe  la  e  ca.  Se  castanho,  quando  ueio  a  primeira  ucz,  nao  falara  a 
dom  pero  mascarenhas,  nem  se  meterá  nisto  o  emperador,  nem  o  sou- 
bera  entao  Sanliqualuor,  vossa  alteza  fora  seruido  e  nao  o  soubera  nhe- 
nhuma  pesoa :  o  que  he  publico,  e  tem  rezao  e  cor  de  seslrouar,  nao  se 
pode  fazer. 

Mando  diogo  soarez  homem  com  esta  resolucao  :  abastara  hum  ou- 
tro  correo,  mas  pera  lembrar  a  vossa  alteza  que,  se  se  nao  responde  lo- 
guo,  que  perderemos  disto  mais. 

De  roma  aos  xnu  de  marco  de  1535. 

Feitura  e  seruo  de  vossa  alteza — Dom  M.  de  Portugal  primaz  Are. 
do  Funchal1. 


Projecto  de  Bulla  de  perdáo  geral 
aos  ehristaos  novo*. 


Perdao  do  papa  clemente  reformado  pollo  papa  paullo  he  enmendado 

em  partes.  Desta  maneira  o  concede  e  d  oulra  nao  ; 

e  islo  se  la  nao  he  comecaclo  a  publicar2. 

Paulus  etc.  ad  futuram  rei  memoriam. 

1  Sempiterno  Regi,  qui  gregem  suum  nobis  licet  inmeritis  sua  cle- 
mentia  et  pielate  commisit,  eiusdem  nobis  credili  gregis  in  extremo  judi- 
cio  rationem  reddituri,  summis  studiis,  quos  ab  equilatis  justicie  limiti- 
bus  humani  generis  emulus  suis  suggeslionibus  sepe  diuerlit,  Saluatori 
noslro,  qui  non  morlem  sed  penitentiam  desiderat  peccatorum,  vt  in  ipsa 
ratione  reddenda  diuine  justitie  possimus  euadere  vllionem,  reconciliare 
studemus;  et  qui  suos  detestan  voluerint  errores,  sorde  mundati,  illius, 
qui  misericordiarum  pater  est,  gratiam  consequi  mereantur,  ac  juris  mi- 
ligando  rigorem  apostolicis  fauoribus  et  gratiis  confouemus,  eorumque  sa- 

1  Abc,  Nac.  Gav.  2,  Mac  1,  n.°  48. 

2  Este  documento  e  o  seguinte,  postoque  nao  tenham  data,  sao  evidentemente  agüei- 
tes, a  que  se  refere  a  antecedente  carta  de  D.  Martinho  de  Portugal,  de  cuja  letra  sao 
tambem  os  títulos  e  observacoes  que  damos  em  itálico. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  191 

luli  prouidemus,  prout  personarura  et  temporum  qualilate  pensata,  con- 
spicimus  salubrius  expediré. 

2  Dudum  siquidem  per  felicis  recordationis  Clemenlem  Papam  Se- 
plimum,  praedecessorem  nostrum,  acceplo  quod  in  plerisque  parlibusRe- 
gni  Portogallie  et  dominiis  Gharissimi  in  christo  filii  noslri,  tune  sui,  Jo- 
hannis,  Portogallie  et  Algarbiorum  Regis  Illustris,  nonnulli  ex  hebraica 
perfidia  ad  chrislianam  fidem  conuersi,  Christiani  noui  nuncupati,  ad  ri- 
tum  judeorum  a  quo  discesserant  reddire,  et  alii,  qui  hebraicam  sectam 
nunquam  professi  erant,  sed  Christianis  parenlibus  procreati  ritum  eum- 
dem  obseruare,  et  alii  Lutheranas  ac  alias  deprauatas  hereses  et  errores 
sequi  ac  sortilegia  heresim,  manifesté  sapientia  instigante  humani  generis 
inimico,  comrnittere  non  \erebantur,  in  grauissimam  diuine  maiestatis 
offensam  et  orthodoxe  fidei  scandalum  :  ídem  Clemens  predecessor,  ne 
huiusmodi  pestes  in  perniciem  aliorum  fidelium  sua  \enena  difunderen!, 
Dilectum  filium  Didacum  de  Silua,  ordinis  fratrum  minorum  sancti  fran- 
cisci  de  Paula  professorem,  in  suum  et  aposíolice  sedis  commissarium, 
ac  super  premissis  inquisitorem  in  Regno  et  dominiis  predictis,  cum  plena 
facúltale  contra  de  huiusmodi  criminibus  reos  aut  suspectos  inquirendi, 
eosque  carcerandi  puniendi.  el  corrigendi,  per  quasdam  constituit  et  de- 
pulauit.  Et  deinde,  ex  certis  rationabilibus  causis,  predictas  et  quascum- 
que  alias  litteras  suas,  ac  per  illas  eatenus  eidem  Didaco  et  quibusuis 
alus,  eliam  locorum  ordinariis  super  premissis  concessas  facullates  el  com- 
missiones,  per  alias  eius  litteras  ad  suum  beneplacitum  suspendit, 

apud  eundem  Regem  suo  et  dicte 
sedis  nunlio,  inler  alia  dans  in  mandatis  \t  didaco  et  ordinariis  prediclis, 
ac  alus  inquisitoribus,  posteriores  Hileras  predictas  intimaret,  et  suspen- 
sionem  ipsam  inuiolabiliter  obseruari  faceret,  prout  in  singulis  lilleris  pre- 
diclis plenius  conlinetur. 

3  Nos  autem,  qui  non  sine  graui  mentís  nostre  perlurbatione  acce- 
pimus  quod  nonnulli  ex  suspectis  de  criminibus  predictis  a  Quadraginta 
annis,  vel  circa,  ex  iudaismo  el  mahomética  ac  alus  sectis,  quibus  tune 
obcecali  erant,  ad  fidem  Chrisli  et  illius  sacrum  baplisma  suscipiendum 
coacli  fuerunt ; 

4  Alii  vero,  licet  sponte  sua  conuersi  seu  de  parenlibus  Christianis 
procreati  fuerint,  lamen  ob  prediclorum  indiscreta  commertia,  \el  alias 
diabólica  insligatione  persuasi,  eliam  in  predictas  et  alias  diuersas  here- 


192  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

ses  et  errores  eodem  instigante  inimico  lapsi  fuerunl,  aliique  quampluri- 
111a  crimina  commiserunt  et  in  dios  labunlur ; 

¡}  Volentes  ad  praemissorum  exlirpationem,  circa  quam  máxima  di- 
ligentia  et  perscrutalio  necessarie  extant,  ita  prouidere  vt  ñeque  illi,  qui 
de  nouo  conuersi  sunt,  quod  diligenlia  noslra,  quam  in  illis  ab  erroribus 
preseruandis  et  in  calholica  íide  confirmandis  adhibere  debemus,  sibi  de- 
fuerit,  nec  h¡,  qui  inter  alia  ecclesie  membra,  proplerea  quod  violenter  ba- 
ptizali  fuerint,  numerari  non  debent,  quod  contra  omnem  equitatem  et  jus- 
liliam  ab  ecclesia  lanquam  Ghristiani  corrigantur  et  casliguentur,  juste 
conqueri  possinl,  et  circa  eos  anlequam  seuere  ínquisitionis  vim  senliant, 
ita  prouideatur  vt  inexcusabiliter  in  futurum  se  peccaluros  esse  intelli- 
gant ;  et  interea  boni  a  malis  segregali  diuinis  laudibus  deuolius  insistere 
valeant,  ac  ipsi  conuersi  ob  eorum  conuersionem  huiusmodi,  propter  quam 
honorari  et  fauoribus  aroplccli  merenlur,  absque  eorum  culpa  vituperan 
atque  conlenni  a  nobis  non  uideantur ;  nec  ipsi  aut  alii  predicti  prius  ec- 
clesiastice  discipline  gladium  sentiant,  quam  Christiane  mansueludiniá  len- 
nitalem  et  prouidenliam  experti  fuerint,  et  ex  eisdem  cecitalibus  ad  ve- 
rum  lumen  huiusmodi  conuerti  uolentes,  aduersus  seueritales  et  rigores 
juris  huiusmodi  aliquali  benignitalc  et  misericordia,  ac  spatio  ad  resipis- 
cendum  gaudere  valeant ; 

6  Singularum  predictarum,  et  aliarum  quarumcunque  per  dictum 
Clementem,  ac  etiam  quoscunque  alios  Romanos  Pontifices  predecessores 
nostros,  super  premissis  concessarum  litterarum,  ac  sentenliarum,  pro- 
cessuum  et  aliorum  quorumcumque  actorum  hactenus  contra  eosdem  sus- 
pectos  el  culpabiles  latarum  et  formalorum  tenores,  ac  omnium  el  singu- 
lorum  lam  nouiter  conuersorum,  quam  aliorum  vtriusque  sexus  super 
premissis  culpabilium  aut  suspectorum,  ac  judicum  quorumcumque  no- 
mina et  cognomina,  necnon  heresum  huiusmodi  qualitates,  quantilates, 
circunslanlias,  ac  lilium  et  causarum  huiusmodi  status  et  merita,  ac  alia 
forsan  de  necessitale  exprimenda,  presentibus  pro  expressis  habenles,  cau- 
sasque  ipsas,  preterquam  quoad  relapsos,  ad  nos  aduocanles,  et  lites  hu- 
iusmodi penitus  extinguenles: 

7  Motu  proprio,  non  ad  ipsorum  suspeclorum  et  culpabilium,  vel 
quorumuis  aliorum,  nobis  super  hoc  óblale  petilionis  instantiam,  sed  de 
nostra  mera  deliberalionc  ac  certa  scienlia,  ac  de  apostolice  potestatis  plc- 
niludinc,  omncs  el  singulos  vtriusque  sexus,  tam  nouiter  conuersos  quam 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  193 

alios  quoscumque  de  premissis  culpabiles  aut  suspectos,  eliam  diífama- 
tos,  ex  dictis  Regnis  et  dominiis  oriundos,  ac  in  eis  degenles,  forenses  et 
alienígenas,  vndecumque  venerint,  qui  tempore  publicationis  presentium 
litterarum  per 

vel  ab  eo  deputandos  in  singulis  ciuilatibus  et  diocesibus  Regnorum  et  do- 
miniorum  huiusmodi,  inlra  Qualluor  menses  a  data  presentium  computan- 
dos,  faciende,  in  illis  domicillium  vel  habitationem  habuerint,  ac  etiam 
illorum  filios  nepotes  et  descendentes,  tam  presentes  quam  absenles,  seu 
qui  ab  eisdem  Regnis  et  dominiis  alias  recesserunl,  eliam  si  exules  et 
bannili  fuerint,  qui  alicui  ex  sacerdolibus  et  confessoribus  per 

ad  id,  intra  Quindecim  dies  post  publicalionem 
predictam,  vt  prefertur,  faciendam  respecliue  immediate  sequentes,  depu- 
tandis,  etiam  extra  confitentium  diocesim  exislenlibus,  intra  alios  decem 
a  die  publicationis  dicte  deputationis  confessorum  compulandos,  predicta 
et  alia  quecumque  quolcumque  et  qualiacumque  sua  crimina  excessus  de- 
licia et  peccata  sacramentaliter  confessi  fuerint,  ac  quorum  nomina  et  co- 
gnomina  in  aliquo  libro  vel  memoriali  per  eosdem  confessores  descripta 
fuerint,  eliam  si  illi  haclenus  et  in  futurum,  dictis  Qualtuor  mensibus  et 
Quindecim  diebus  durantibus,  in  Regnis  et  dominiis  predictis  vel  extra  illa 
tanquam  herelici  sentenlialiter  condennali,  et  vt  tales  ipsi  et  illorum  bona 
publícala  aut  pro  talibus  accusati,  inquisiti,  publice  vel  occulte  difumati, 
et  ut  tales  habili,  reconcilian,  et  contra  eos  sententie  desuper  late  execule, 
vel  illi  propterea  carcerati  exliterint,  ab  ómnibus  et  singulis  per  eos  eate- 
nus  perpelractis,  etiam  hereses,  et  ab  eadem  fide  et  appostasias  blasfemias 
et  alios  quoscumque,  eliam  máximos  herrores  sapientibus,  etiam  quan- 
tuncumque  grauibus  et  qualificatis  peccatis,  criminibus,  excessibus,  de- 
liclis,  etiam  sub  generali  expressione  de  iure  vel  alias  non  venientibus  et 
specialem  nolam  requirentibus ;  necnon  excommunicationum,  suspensio- 
num,  inlerdictorum,  et  alus  ecclesiasticis  ac  temporalibus,  corporalibus, 
et  etiam  capitalibus  sententiis,  censuris  et  penis,  a  jure  uel  ab  homine, 
eliam  a  prefatis,  vel  qui  pro  tempore  fuerint  inquisitoribus  herelice  pra- 
uitatis  huiusmodi,  et  alia  occasione  vel  causa  latís  el  promulgalís,  etiam 
si  in  illis  ab  eisdem  Quadraginta  annis  insorduerint,  ac  illorum  absolutio 
nobis  et  pro  tempore  existenli  Romano  Ponlifici,  et  eidem  sedi,  etiam  iuxta 
illarum,  que  in  die  cene  domini  legi  consueuerunl,  ac  aliarum  litterarum 
et  processuum  aposlolicorum  lenorem,  et  alias  quomodolibet  reseruata 
tomo  in.  •  25 


194  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

existanl,  quorum  omniurn  qualilates,  quantitales  et  circunstantias  presen- 
tibus  etiam  haberi  volumus  pro  expressis,  a  prauitatis  videlicel  herelice 
huiusmodi  in  vlroque  foro  ciuili,  crímínali,  conlenlioso,  conscienlie  et 
anime  penitus  et  plenarie,  a  reliquis  vero  criminibus,  prauitatem  huius- 
modi non  sapientibus,  in  foro  conscienlie  dumlaxal,  ex  nunc  prout  ex 
tune,  el  e  conlra,  preuia  quoad  forum  conscienlie  cordis  contriclione  et 
oris  confessione,  aulhorilate  apostólica  tenore  presenlium  absoluimus. 

8  Ac  eosdem  carceratos,  vel  alias  detentos,  et  exules,  etiam  carce- 
ribus,  exiiiis  et  bannis,  quibus  occasione  criminum  heresis  et  apposlasie 
ac  blasphemie  huiusmodi  detenli  et  condenati  exislunt,  relaxamus  et  li- 
beramus,  ac  relaxan  et  liberan  mandamus ;  et  tam  illis  quam  alus  alia 
occasione  vel  causa  detentis  vel  exulibus,  doñee  ab  eis  a  quibus  deti- 
nentur  relaxentur,  et  ab  eis  ad  quos  id  spectat  saluus  conduclus,  et  alie 
necessarie  securitates  eis  concedantur,  dicti  Qualluor  menses  et  Quinde- 
cim  dies  currere  non  incipiant,  dummodo  lamen  ipsi  a  die  nolicie  pre- 
sentium  lilterarum  in  aliquam  heresim  cecidisse,  vel  in  velleri  errore  per- 
slitisse  non  conuincantur,  concedimus. 

9  Necnon  cum  eis  tam  presentibus  quam  quomodolibet  absentibus, 
qui  vitam  clericalem  eligere  voluerint,  vt  ad  omnes  eliam  sacros  et  pres- 
biteratus  ordines  promoueri,  et  in  illis  tam  illi  quam  qui  tune  etiam  post 
dicta  crimina  perpétrala  et  absolutionem  huiusmodi  promoli  erunt,  etiam 
in  altaris  ministerio  ministrare,  ac  quecumque,  quolcumque  et  qualiacum- 
que  beneficia  ecclesiastica,  secularia,  et  quorumuis  ordinum  regularía, 
eliam  si  secularia  Canonicatus  et  prebendas,  dignilales,  eliam  maiores 
post  pontificales,  in  Cathedralibus,  etiam  metropolilanis,  et  principales  in 
collegiatis  ecclesiis,  aepersonalus  administrationes  et  officia,  eliam  Curata 
et  electiua  in  eisdem  cathedralibus,  etiam  metropolilanis,  aut  Collegialis 
ecclesiis,  regularía  uero  beneficia  huiusmodi  Prioratus,  eliam  Conuentua- 
les  dignilates,  Preceptorie  simililer  Cúrale  et  elecliue,  alias  qualilercum- 
que  qualificata,  eis  canonice  conferendum,  recipere,  illaque  et  alia  per 
eos  tune  oblenta  retiñere. 

10  Ac  eliam  tam  ipsi  quam  laici  et  mulleres,  eorumque  filii  nepo- 
tes et  descendentes,  ad  gradus,  honores,  ordines  et  officia,  et  alias  qualita- 
tes  assumi,  illaque  suscipere  et  exerecre,  ac  illis  et  alus  similibus  et  dis- 
similibus  iam  susceptis,  vti ;  necnon  vestes  sericeas  et  panni  cuiuscum- 
que,  etiam  Rubei  colorís,  ac  Aurum,  Argentum,  Gemmas,  et  alia  Joca- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  195 

lia,  necnon  ensem,  etarma  eorum  statui  condecentia,  deferre,  superequos 
et  muías  equitare,  ac  ómnibus  et  singulis  alus  priuilegiis,  exemplioni- 
bus,  fauoribus,  graliis,  immunitatibus,  libertatibus,  et  concessionibus,  qui- 
bus  allí  Cristifideles,  eorumque  filii  et  nepotes  ac  ab  eis  descendentes, 
vtuntur,  potiunlur  et  gaudent,  aut  \li  potiri  et  gaudere  poterunt  quomo- 
dolibet  in  fulurum,  vti,  potiri  et  gaudere  libere  et  licite  valeant  in  ómni- 
bus et  per  omnia,  perinde  ac  si  ipsi  eorumque  Aui,  proaui,  parentes  et 
alii  genitores  veri  Chrisliani  fuissent,  et  nunquam  a  fide  catholica  deuias- 
sent,  de  specialis  dono  gratie  dispensamus,  eisque  pariter  indulgemus, 
omnemque  inhabilitatis  et  infamie  maculan»  siue  nolam  circa  eos  premis- 
sorum  occasione,  tam  ex  propriis  quam  illorum  parentum,  consanguineo- 
rum  el  aífinium  culpis  et  sentenliis,  earumque  executionibus  et  alias  quo- 
modolibet  insurgentes,  ab  eis  penitus  et  omnino  abolemus. 

11  Ac  quoad,  vt  preferlur,  conuersos  in  diclis  Regnis  vt  supra  a 
Quadraginta  annis,  et  eorum  descendentes  confiscationes  bonorum,  sique 
ealenus  facte  fuerint,  quorum  lamen  possessio  pro  eodem  fisco  apprehensa 
non  fuerit ; 

12  Necnon  processus  contra  eos  et  eorum  singulos  ac  eliam  alios 
supra  diclos  formatos,  sententiasque  latas,  ac  dictis  mensibus  durantibus 
formandos  el  faciendas,  necnon  informationes,  et  alia  quecumque  acta  et 
gesta,  ordinaria  et  extra  ordinaria,  in  judicio  et  extra  contra  eos  hacte- 
nus  facta,  ex  nunc  prout  ex  tune,  et  e  contra,  eisdem  Quattuor  mensi- 
bus et  Quindicim  dies  durantibus  facienda,  quorum  omnium  tenores  sta- 
tus et  merita  etiam  presentibus  haberi  volumus  pro  expressis,  cassamus 
irritamus  delemus  et  annullamus,  ac  cassala  irrita  delecta  et  annullata 
fore  decernimus ;  ipsaque  bona  sic  confíscala  et  coníiscanda  eis  a  quibus 
ablata  fuerint,  si  eidem  fisco  incorporata  non  sint,  quoad  conuersos  a 
Quadraginla  annis  in  dictis  Regnis  et  dominiis  et  eorum  descendentes  vt 
prefertur  remittimus  donamus  et  restituimus,  eosque  et  illa  in  prislinum 
et  eum,  in  quo  ante  premissa  et  tempore  quo  baptizati  fuerunt  erant,  sla- 
lum  restituimus  reponimus  el  plenarie  reintegramus. 

13  Et  insuper  authoritate  et  tenore  supradictis  statuimus  et  ordina- 
mus  quod  singuli  Confessores  predicti,  quibus  sub  excommunicationis 
late  sentenlie  pena  vt  infrascripta  faciant  precipimus  et  mandamus,  qui- 
busuis  ex  comprehensis  in  eisdem  presentibus  lilteris  durantibus  Quinde- 
cim  diebus  supradictis  confessis,  eliam  de  dictis  criminibus  non  culpabi- 

25* 


196  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

libus  nec  suspecüs,  si  lamen  ¡ps¡  non  culpabiles  nec  suspecli  ex  dictis  a 
Quadraginla  annis  conuersis,  vi  preferlur,  el  eorum  descendentes  fuerinl, 
in  dicto  libro  describendis,  pro  illorum  super  premissis  tutiori  cautela  ali- 
quam  cedulain  vel  scripturam  manu  propria  scriplam  in  teslimonium  pre- 
missorum  gratis  et  absque  aliqua  exactione  concedant,  in  qua  declarent 
confilentem  illum  de  quo  agetur  in  vim  litterarum  absoluisse ;  que  qui- 
dem  cédula  seu  scriptura  perpetuis  futuris  temporibus  per  eos  exhibila 
uel  ostensa  illarn  habenles,  vel  etiam  absque  illa  in  dicto  libro  descripti 
et  annolati,  tuti  et  seeurí  permaneant,  el  de  predictis  criminibus  heresini 
et  appostasiam  ac  blasphemiam  sapienlibus  per  ipsos  culpabiles  vel  sus- 
pectos  etiam  diílamato  perpetractis,  vsque  ad  diem  dale  eiusdem  cedule 
vel  teslimonii,  seu  in  eodem  libro  anotationis  et  descriplionis,  nullatenus 
inquirí  possint. 

14  Ac  premissorum  occasioue  ipsis  describendis  suas  cédulas  predi- 
ctas  habituris,  el  illorum  filiis  et  descendentibus,  in  nullum  prejudicarinec 
preiudicium  afferri  nec  reconciliati  censeri,  eliam  ex  eo  quod  dictorum  de- 
liclorum  seu  aliquorum  ex  eis  veniam  pecierint,  vel  ab  eis  absoluti  fuerint, 
nec  dicti  a  Quadraginta  annis  citra,  vt  prefertur,  conuersi,  aut  eorum 
descendentes,  etiam  si  forsan  in  aliquem  predictorum  errorum  imposte- 
rum  reinciderint,  vel  alias  quomodolibet  deprehensi  extiterint,  relapsi  vi- 
deantur,  nec  aliquod  judicium,  etiam  minimum,  contra  eos  oriri  allegari 
vel  dcduci  possil,  in  judicio  vel  extra,  indulgenlia  remissio  et  alia  in  dan- 
num  iniuriarum  vel  aliud  ¡ncommodum  illorum  relorqueri  nequeant. 

15  Quodque,  si  aliqui  jam  sint  condennali  de  criminibus  heresis 
huiusmodi,  vel  eorum  crimina  iam  sint  in  judicio  ómnibus  notorie  pro- 
bala, ipsi  secundum  ecclesie  staluta  errores  suos  abiurare  illisque  publice 
renuntiare  debeant,  quibus  abiuratis  et  renunciatis,  ídem 

eius  arbitrio  penitentias  eis  iniungendas  vel  iniunctas,  non  lamen  in  alias 
publicas  sed  secretas  et  discretas  penitentias  commutare. 

16  Ac  reconciliaos,  quibus  aliqua  publica  penilentia  per  quoscum- 
que  judices  et  inquisitores  fuerit  iniuncta,  eliam  illam  veluti  ipsi  inquisi- 
tores  eam  commutare  possenl  vel  consueuerunt,  in  alia  pietatis  opera  com- 
mutare, et  cum  illis  dispensare  valeat,  et  sic  ex  dictis  conuersis  a  Qua- 
draginla annis  aut  eorum  descendentibus  fuerinl,  commulationem  huius- 
modi in  opera  secreta  commutare  teneantur. 

17  Ac  quod  si  ex  supradictis  condennatis  vel  inquisitis  accusalis  aut 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  197 

reconciliatis  seu  reíapsis,  qui  ex  numero  dictorum  conuersorum  a  Qua- 
draginta  annis  aut  eorum  descendentibus  exlilerint,  aliqui  fuerint  qui  se 
contra  jusliciam  graualos  esse  asseruerint,  ac  proplerea  cupiant  vt  iterum 
eorum  cause  audianlur,  Jiceat  eis  si  ab  inquisitore  ad  suum  ordinarium, 
si  vero  ab  ordinario  se  graualos  pretenderint  ad  metropolilanum,  vel  alium 
ordinarium  dictorum  Regnorum  et  dominiorum,  per  ipsum  qui  se  graua- 
tum,  vi  prefertur,  pretenderit  eligendum,  quibus,  \t  illos  singulos  auclo- 
ritate  apostólica  audire  possint  et  valeant,  facullatem  concedimus  vt  id  fa- 
ciant,  sub  indignationis  nostre  pena  mandamus  recurrere  et  personaliter 
coram  eo  comparere,  et  se  ipsos  in  eo  statu  quo  (une  esse  reperienlur  de 
integro  defenderé,,  sic  tamen  quod  si  iterum  in  defensione  sua  ipsos  suc- 
cumbere  conlingat,  tune  ob  causam  delictorum  huiusmodi  relapsi  legitima 
pena  puniantur ;  Ceteri  vero  secretam  penilenliam  suscipianl,  que  loco 
legitime  et  canonice  pene  quam  pacti  deberent,  ipsius 

arbitrio,  ipsis  imponalur.  Et  nihilominus  hi  qui  relapsi 
non  fuerint  presentibus  lilleris  et  illarum  effectu  gaudeant. 

18  Ac  quod  dicti  condennati  uel  inquisili,  aecusati  aut  reconciliati, 
si  (quod  absit)  iterum  in  heresis  crimen  relabi  eos  contingat,  pro  reíapsis 
puniri  possint,  habita  tamen  diligenli  deliberalione  quod  si  ex  ipsis  con- 
uersis  a  Quadraginla  annis,  vt  prefertur,  seu  eorum  descendentibus  ali- 
qui fuerint,  qui  se  violenler  ad  Gdei  sacramentum  suscipiendum  pertra- 
ctos  esse  docere  voluerint,  id,  dum  lamen  in  sacris  constituti  non  fuerint, 
et  beneficia  ecclesiaslica  non  obtinuerint,  coram  aliquo  ex  dictis  ordina- 
riis  per  eos  eligendo  faceré  possint,  etsi  de  violentia  huiusmodi  docue- 
rint,  illis  non  ila  imputenlur  culpe  vt  imposterum  relapsorum  pena  te- 
neanlur. 

19  Ipsique  aecusati  inquisili  condennati  reconciliati  modo  et  forma 
premissis,  ceteri  vero  premissa  tantum  confessione  et  absque  aliqua  pu- 
blica penitentia  eis  iniungenda,  plenariam  et  totalem  veniam  et  aliqua 
supradicla  consequi  et  oblinere. 

20  Ipseque  omnia  et  singula 
supradicla  et  quecumque  alia,  que  alii  inquisilores  commissarii  quicum- 
que  per  quascumque  nostras  et  dicte  sedis  Hileras,  ac  etiam  de  jure'  vel 
consuetudine,  faceré  gerere  et  exercere  potuerunt  et  possunt  vel  consue- 
uerunt,  non  tamen  eorum  qui  in  presentibus  comprehenduntur  duriorem 
causam  faciendi,  faceré  gerere  et  exercere  libere  et  licite  valeant. 


198  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

21  Ac  quod  si  aliqui  ex  prediclis  ómnibus,  tam  nouiter  conuersis 
quara  alus  presenlibus  et  absenlibus,  repericntur,  qui  presentem  graliam 
raodis  premissis  durantibus  dictis  Quindecim  diebus  suscipere  noluerinl, 
lapsis  eisdem  Quindecim  diebus  graliis  per  presentes  concessis  nullo 
modo  gaudere  possinl ;  qui  tamen  si  ad  sui  excusalionem  aliquid  afierre 
voluerint,  et  ex  dictis  conuersis  a  Quadraginta  annis  seu  eorum  descen- 
dentibus  fuerint,  benigne  et  secundum  Christianam  mansuetudinem  per  ali- 
quem  ex  dictis  ordinariis  vt  prefertur  eligendum,  quibus  vt  supradictum 
est  audiendi  facultatem  concedimus,  et  vi  id  faciant  similiter  mandamus, 
audiantur  et  eorum  jura  el  defensiones  ad  nos  per  eundem 

sub  suo  sigillo  clause  miltantur. 

22  Quodque  contra  a  Quadraginta  annis  cilra  vt  prefertur  conuer- 
sos,  ac  filios  et  descendentes  eorum  confessos  vel  non  confessos,  quorum 
tamen  excusationes  per  aliquem  ex  ordinariis  vt  prefertur  eligendis  re- 
cepte et  ad  nos  transmisse  fuerint,  quod  omnino  fieri  volumus  et  manda- 
mus  in  negotio  Inquisilionis,  vel  visitationis  ordinarie  vel  extraordinarie, 
super  criminibus  predictis  juxla  formam  posteriorum  litterarum  predicta- 
rum,  vsque  ad  annum  a  die  publicationis  presentium  litterarum,  etiam 
supersedealur,  quia  interim  nos  tam  super  eodem  negotio  quam  etiam 
circa  illorum  futuram  vitam  opportune  prouidere  intendimus, 

23  Dislriclius  inhibentes  ómnibus  et  singulis,  etiam  judicibus  eccle- 
siaslicis  et  secularibus,  ac  prelalis,  inquisitoribus,  ordinariis  seu  delega- 
tis,  quacumque  auctoritate,  dignitate,  polestale,  etiam  Pontificali,  Archie- 
piscopali,  Primaciali  et  Patriarchali,  ac  statu  gradu,  ordine,  conditione  et 
preeminentia,  etiam  cardinalatus  honore  fulgentibus,  ac  tali  qualitate  de 
qua  expressa  mentio  fieri  debeat  polentibus,  a  nobis  seu  sede  predicta 
etiam  ad  instantiam  eiusdem  Regis  depulalis,  sub  excommunicationis  sus- 
pensionis  et  interdicti  sententiis,  et  beneficiorum  ac  ofilciorum  per  eos 
obtentorum  priuationis  penis,  eo  ipso  nisi  paruerint  incurrendis,  ne  ali- 
quos  de  premissis  beresi  appostasia  aut  blasphemia  culpabiles  aut  suspe- 
ctos,  etiam  diffamatos,  qui  graliis  predictis  juxta  presentium  tenorcm  gau- 
dere debent,  si  quos  sub  aliqua  custodia  vel  carceribus  leneant,  aut  in 
exilia  miserint,  amplius  detineant,  aut  contra  eos  ad  vlteriora  procedant, 
immo  captos  relaxent  et  exules  ad  patriam  seceure  reddire  permittant, 
el  in  eorum  statu,  in  quo  fuerunt  ante  aecusaliones,  condemnaliones,  car- 
reraliones,  exilia  et  bannimenta  huiusmodi  existebant,  reponant :  Accusa- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  199 

loribus,  vero,  denuntialoribus,  teslibus,  inquisiloribus,  judicibus,  promo- 
toribus,  el  alus  quibusuis,  sub  similibus  censuris  et  penis,  nec  contra  su- 
pradictos,  etsi  a  Quadraginla  annis  conuersi  vt  preferlur,  vel  eorum  des- 
cendentes fuerint,  etiam  non  culpabiles  nec  suspectos,  premissorurn  occa- 
sione  se  intromitlere,  nec  aliquos  ad  testificandum  vel  accusandum  seu  de- 
nuntiandum  inducere,  vel  alias  illos  super  premissis  ve!  illorum  occasione 
molestare  quoquomodo  presuman!.  Ac  decernentes  omnes  et  singulos  in 
premissis  inobedientes,  vel  contrauenturos,  easdem  sentenlias  censuras  et 
penas  eo  ipso  incurrere,  et  beneficia  tune  per  eos  obtenta  eo  ipso  vacare 
et  a  nobis,  ac  quibusuis  illorum  ordinariis  collatoribus  impelrari  et  con- 
ferri  posse,  ipsasque  impetraliones  et  collationes,  ac  alias  dispositiones 
alias  legitime  factas  valere  plenamque  roboris  firmitatem  obtinere. 

24  Ac  easdem  presentes  litteras  de  subrreptionis  vel  obrreptionis  vi- 
cio seu  intensionis  nostre  defecta  nolari  vel  impugnan  non  posse,  nec  sub 
quibusuis  reuocationibus,  modificationibus,  limilalionibus  et  suspensioni- 
bus  quarumeumque  similium  vel  dissimilium  litterarum,  ac  etiam  per  nos 
et  sedem  eandem  factis  et  faciendis  nullalenus  comprehensas,  sed  ab  i  1  lis 
semper  exceptas  esse,  Et  quolies  reuocate  vel  limítate  fuerint,  totiens  in 
prislinum  et  eum,  in  quo  ad  presens  existunl,  slalum  restituías  et  rein- 
tégralas existere :  necnon  illarum  transumplis  manu  notarii  publici  sub- 
scriptis  et  sigillo  eiusdem 

munilis  que  interesse  habentibus  soluta  competente  mercede  notario  qui 
subscripserit  data  dari  volumus,  et  id  dicte  indignationis  pena"  mandamus 
munitis,  eamdem  prorsus  tam  in  judicio  quam  extra  illud  fidem  adhiberi 
deberé,  que  ipsis  presentibus  adhiberetur  si  forent  exhibite  vel  ostense. 
Sicque  in  premissis  ómnibus  per  prefatos  et  quoscumque  alios  inquisido- 
res et  judices,  etiam  sánete  Romane  ecclesie  Cardinales,  in  quacumque 
instanlia  síue  judicio,  coram  eo  etiam  nunc  et  in  futurum  pendente,  ju- 
dicari  senlentiari  et  diííiniri  deberé,  Sublata  eis  ac  eorum  cuilibet  quauis 
aliler  judicandi,  sententiandi  et  diífiniendi  facúltale,  Ac  irrilum  et  innane 
quicquid  secus  super  hiis  a  quoquam  quauis  auctoritate,  etiam  per  nos 
scienter  vel  ignoranter  conligerit  altentari.  Quocirca  prefato 
et  prefatis  ordinariis,  et  eorum  cuilibet,  per  hec  scripta  mandamus  vt 
hiis,  qui  in  eisdem  presentibus  litleris  comprehendentur,  et  eorum  singu- 
lis,  in  premissis  efficaciter  assistenles,  per  se  vel  alium  seu  alios  faciant 
easdem  presentes  el  in  eis  contenta  quecumque,  vbi  et  qnando  aliquotiens 


200  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

opus  fuerit,  firmiter  obseruari ;  ac  singulos  quos  ipse  presentes  concer- 
nunt,  illis  pacifice  gaudere,  non  permitientes  eos  desuper  per  inquisitores 
et  judices  prefatos  seu  quoscumque  alios  quomodolibet  impediri,  períur- 
bari  vel  molestan,  Contraditores  quosübet  et  rebelles  per  censuras  et  pe- 
nas ecclesiaslicas,  ac  alia  juris  opportuna  remedia,  appellalione  poslpo- 
sila,  compescendo,  inuocalo  etiam  ad  hoc  si  opus  fuerit  auxilio  brachii 
secularis. 

25  Johannem  vero  Regem  prefalum  per  easdem  presentes  rogamus 
et  hortamur  in  domino  vt,  pro  sua  in  hanc  sanctam  sedem  deuotione  et 
obseruantia,  ipsi  et  ordinariis  prefalis  suis  auctori- 

tate  et  fauore  assistens  non  permiltat  ipsum  et  or- 

dinarios prefatos  circa  premissorum  execulione,  aut  illos,  qui  sub  pre- 
sentibus  comprehenduntur,  quominus  juxta  ipsarum  lillerarum  tenorem 
gaudere  possint,  quomodolibet  turban  aut  impediri.  Non  obslantibus  pre- 
missis,  ac  etiam  pie  memorie  Bonifacii  Pape  oclaui,  et  aliorum  Romano- 
rum  Pontificum  predecessorum  noslrorum,  ac  alus  apostolicis,  necnon  in 
generalibus  ac  prouincialibus  et  sinodalibus  conciliis  edilis,  generalibus 
et  specialibus  consütutionibus,  et  ordinalionibus,  etiam  ab  eisdem  vel  a 
nobis  etiam  pluries  emanalis,  legibus  imperialibus,  necnon  etiam  jura- 
mento, confirmalione  apostólica,  vel  quauis  firmitale  alia  roboratis,  officii 
Inquisilionis,  et  ecclesiarum  ac  Regnorum  et  dominiorum  predictorum, 
illorumque  ciuilalum  et  locorum,  etiam  municipalibus  statulis  et  consue- 
ludinibus,  priuilegiis  quoque,  indultis,  etiam  in  corpore  juris  clausis, 
ac  etiam  in  forma  breuis  litteris,  etiam  per  nos  et  predecessores  nostros 
et  sedem  huíusmodi,  eüam  inquisitoribus  predictis,  etiam  ad  instantiam 
eiusdem  Johannis,  et  aliorum  quorumcumque  Regum  et  Reginarum,  aut 
etiam  molu  proprio  et  de  sánete  Romane  ecclesie  Cardinalium  concilio, 
etiam  apostolice  potestatis  pleniludine,  ac  cum  quibusuis  etiam  derogato- 
riarum  derogatoriis,  aliisque  eíBcatioribus  et  insolitis  clausulis,  irritanti- 
busque,  et  alus  decretis  concessis,  approbatis  et  innoualis,  etiam  si  in  eis- 
dem caueatur  expresse  quod  illis  nullalenus,  aut  non  nisi  sub  certis  inibi 
expressis  modis  et  formis  derogari  possit.  Quibus  ómnibus,  etiam  si  pro 
illorum  suflicienti  derogatione  de  illis  eorumque  tolis  tenoribus  specialis, 
expecifica,  expressa  et  indiuidua,  non  autem  per  generales  clausulas  idem 
importantes  mentio,  seu  queuis  alia  expressio  habenda,  aut  aliqua  alia 
exquisita  forma  ad  hoc  seruanda  foret,  tenores  huiusmodi,  ac  si  de  verbo 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  201 

ad  verbum  ac  forma  in  illis  tradila  obseruaia  inserti  forent,  pro  sufficien- 
ter  expressis  habentes,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  vice  dum- 
taxat,  harum  serie  motu  et  scientia  el  poteslalis  plenitudine  prediclis 
specialiter  et  expresse  derogamus,  Contrariis  quibuscumque.  Seu  si  in- 
quisitoribus  et  judicibus  prediclis,  vel  quibusuis  alus  communiter  uel  d¡- 
uisim,  ab  eadem  sil  sede  indultum  quod  interdici,  suspendí  vel  excom- 
municari  non  possint  per  lilteras  apostólicas  non  facientes  plenara  el  ex- 
pressam,  ac  de  verbo  ad  verbum,  de  indullo  huiusmodi  menlionem. 

26  Volumus  aulem  quod  si  earumdem  presentium  publicatio  intra 
dictos  Quatluor  menses,  vi  prefertur,  non  fíat,  ipsis  elapsis,  dicte  littere 
pro  veré  publicatis  habeantur,  in  ipsis  presentibus  comprehensi  slatim  di- 
ctis  Quatluor  mensibus  elapsis,  quoad  forum  lemporale,  ipsarum  littera- 
rum  eífectu  gaudeant  et  poliantur ;  et  si  publicatio  fíat,  et  intra  dictos 
Quindicim  dies  ad  deputalionem  Confessorum,  vi  prefertur,  non  deuenia- 
tur,  possint  in  presentibus  litteris  comprehensi  intra  dictos  decem  dies 
cuicumque  Rectori  cuiuscumque  parrochialis  ecclesie,  vel  Religioso  cu- 
iusuis  ordinis,  in  aliquo  monasterio  seu  conuentu  dictorum  Regnorum, 
etiam  extra  suam  diocesim  existen  ti,  confessionem  predictam  faceré^  ipse- 
que  Rector  seu  Religiosus  confitenti  cedulam  seu  scripluram  modo  su- 
pradiclo  daré,  que  confessio  et  cédula  sic  facta  eundem  effectum  faciat 
quem  faceret  confessio  ipsis  deputatis  Confessoribus,  et  cédula  per  ipsos 
Confessores,  vt  prefertur,  facta.  Quodque  si  aliquis  ex  hiis,  qui  in  eis- 
dem  presentibus  litteris  comprehenduntur,  extra  Regna  prefati  Johannis 
Regis  fuerit,  etiam  si  inquisitus  aut  condennatus  fuerit,  confessionem  pro- 
pino Rectori  vel  alteri  sacerdoti  noto  intra  Decem  dies  a  die  notilie  earun- 
dem  presentium  faciendam,  etiam  absque  eo  quod  presentes  ibi  publicen- 
tur,  effeclu  ipsarum  gaudeat  et  patiatur. 

Si  venia  Clementis  felicis  recordationis  sil  publicata  Sanclissimus  Do- 
minus  noster  papa  Paulus  intendit  quod  habeat  effectum,  et  nuntius  per- 
ficiat  siquid  remanet  exequendum  ;  et  propterea  eo  casu  nihil  est  inno- 
uandum,  et  sic  cessant  infrascripta.  Si  aulem  nondum  est  publicata,  re- 
uocetur  Bulla  ut  supra  est  scripta  sub  nomine  Pauli. 

Islo  entendem  estes  auditores  se  la  este  perdao  nao  he  ja  publica- 
do ;  e  auisamos  que  entendem  por  publicacao  ser  notificada  aos  perlados. 

TOMO  III.  26 


202  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

E  nisío  de  publicada  e  notificada  e  nota  a  todos  nao  fazem  deferenca. 
Se  a  V.  A.  acepta  decrare  islo  co  nutio,  por  que  se  ca  ntio  apeguem  a 
isto  ;  e  uenha  com  a  mao  do  nutio  asinado  ludo  o  que  he  feilo,  pera  que 
seja  craro.  En  noso  poder  fea  o  proprio  pollo  nao  negarern. 
Dom  anryq.  m.  Dom  31.  de  porlugal  primaz 

Are.  do  Funchal1. 


Itcsolucoes  «los  commissarios  pontificios,  acerca 
da  Inquisicao  (a). 


Bulla  da  inquisicao  que  concedeo  o  papa  Clemente. 

Clemens  episcopus  seruus  seruorum  Dei  dilecto  filio  Di- 
daco  de  Silva,  ordinis  Minorum  Sancti  Francisci  de  Paula  pro- 
fessori,  salutem  et  apostolicam  benediclionem. 

i'rimus  articuius  Cum  ad  nihil  magis  uostra  aspiret  inlentio  quara  ut  li- 

des catholiea,  nostris  potissime  lemporibus,  ubique  floreat  et 
augeatur,  et  omnis  herética  prauitas  a  Christi  fidelibus  nostra 
diligencia  procul  pellatur,  ac  ipsorum  fidelium  animas  Deo  lu- 
erifaciamus,  libenter  operam  vigilem  impendimus  vt  diabólica 
fraude  decepti  ad  aulam  dominicam  reuertantur,  ac  cunctis  er- 
roribus  extirpatis  eiusdem  fidei  zelus  et  observanlia  in  ipso- 
rum corda  fidelium  fortius  imprimatur,  et  siqui  animorum 
peruersitate  ducli  in  eorum  damnato  proposito  perseuerare 
maluerint,  laiiter  in  illis  animaduertatur  quod  eorum  poena 
alus  sit  in  exemplum. 

II  Cum  itaque,  vt  ex  fidedignorum  relatione  plurimorum 

nobis  displicentur  innotuit,  in  plerisque  parlibus  Regni  Por- 
lugalliae  el  Dominiis  charissimi  in  Chrislo  filii  nostri  Joannis, 

1  Arcu.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  6.  O  documento  n.°  25  do  mesmo  maco  é  um 
xummario  cm  portuguez  deslc  projecto  de  Hulla. 
(a)  V ide  a  nota  apag.  490. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  203 

Porlugalliae  et  Algarbiorum  Regís  illustris,  nonnulli  ex  hae- 
braica  perfidia  ad  christianam  fidem  conuersi,  christiani  noui 
nuncupali,  ad  ritum  judaeorum  a  quo  discesserant  rediré,  et 
alii,  qui  hebraicam  seclam  numquam  professi  sunt,  sed  ex 
christianis  parentibus  sunt  procreali,  ritum  judaeorum  huius- 
modi  obseruare,  ac  alii  lutheranam  et  caeteras  damnatas  he- 
reses  et  errores  sequi,  ac  sortilegia  heresim  manifesté  sapien- 
tia  instigante  humani  generis  inimico  committere  non  uerean- 
tur,  in  grauissimam  Diuinae  maiestatis  offensam  et  orthodoxe 
fidei  scandalum,  necnon  animarum  salutis  perniciem  ac  irre- 
perabile  deirimentum  : 

III  Nos,  ne  huiusmodi  pestes  in  perniciem  aliorum  sua  ue- 

nena  diíTundant,  opportunis  remediis,  prout  nostro  incumbit 
oííicio,  prouidere  uolentes,  Te,  de  cuius  prouidentia  reclitudi- 
ne  experientia  et  doctrina  idem  Johannes  Rex  per  Oratorem 
suum  nobis  fidem  fecit,  et  de  quo  propterea  plurimum  confidi- 
mus,  in  noslrum  et  apostolicae  sedis  comissarium  ac  super  prae- 
missis  ¡nquisilorem  in  regno  et  dominiis  predictis  authoritate 
apostólica  tenore  presentium  constituimus  et  deputamus. 

lili  Ac  tibi  contra  eos,  qui  ad  christianam  fidem  conuersi 

ad  ritum  judaeorum  redierunt,  et  contra  ex  christianis  paren- 
tibus procreatos  ritum  judaeorum  seruantes,  ac  alios  lulera- 
nae  et  aliarum  hercsum  sectatores,  necnon  sortilegia  manifes- 
tam  heresim  sapienlia  committentes,  illorumque  sequaces  fau- 
tores et  defensores,  ac  illis  auxilium  consilium  uel  fauorem, 
direcle  uel  indirecte,  publice  uel  occulte,  praestantes,  cuius- 
cunque  status  gradus  ordinis  conditionis  uel  praeeminentiae 
fuerint,  una  cum  Locorum  Ordinariis  in  casibus  in  quibus  de 
iure  interuenire  debent,  si  legitime  requisili  interuenire  uo- 
luerint, 

V  Alioqui  sine  eis,  iuxta  tamen  canónicas  sanctiones,  in- 

quirendi,  praecedentibus  sufficientibus  inditiis  ad  capturam 
procedendi  et  eos  carceribus  mancipandi,  et  finalem  senten- 
tiam  contra  eos  proferendi,  ac  delinquentes  iuxta  canónicas 
sanctiones  et  sanctorum  patrum  instituta,  prout  qualitas  ex- 
cesuum  exegerit,  poenis  debitis  afficiendi ; 

26* 


204  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

VI  Et  si  ipsi  Ordinarii  prius  inceperint  nihilominus  eliam  lu 
cum  eis  te  intromittere  et  procederé  possis,  omnesque  officia- 
les,  videlicet,  Procuratorem  Fiscalem  ac  Notarios  públicos  et 
alios  ad  praemissa  necessarios,  etiam  clericos  siue  religiosos 
cuiuscunque  ordinis  fuerint,  una  cum  locorum  Ordinariis  uel 
sine  eis,  prout  ordo  iuris  postulat  et  utilitas  exegerit,  adhi- 
bendi,  ac  eos  ut  onus  inquirendi  et  alia  praemissa  prout  ad 
eorum  officium  respectiue  spectauerit  faciendi,  eliam  superio- 
rum  suorum  licentia  super  hoc  minime  requisita,  acceplent  et 
subeant  in  uirtute  sánete  obedientiae  praecipiendi ; 

VII  Et  si  necesse  fuerit  aliquem  clericum  propter  praemissa 
degradan,  Episcopos,  ut  degradationi  huiusmodi  una  cum  Or- 
dinariis interueniant,  in  uirtute  sanctae  obedientiae  monendi, 
ac  contradictores  quoslibet  et  rebelles  iuris  remediis  compes- 
cendi,  ac  auxilium  brachii  secularis  inuocandi : 

VIII  Necnon  ad  ueritatis  lumen  rediré  aut  huiusmodi  hereses 
et  errores  abiurare  uolentes,  si  alias  elapsi  non  fuerint,  rece- 
pta prius  ab  eis  heresis  et  errorum  huiusmodi  abiuratione  pu- 
blice  facienda,  prestandoque  per  eos  desuper  iuramento  quod 
talia  deinceps  non  committent,  nec  talia  uel  alia  hiis  similia 
commiltentibus  seu  illis  adherenlibus  auxilium  consilium  uel 
fauorem  per  se  uel  alium  seu  alios  prestabunt,  et  alias  in  for- 
ma ecclesiae  consueta,  ab  his  et  quibusuis  censuris  et  poenis 
ecclesiasticis,  quas  propterea  incurrissent,  etiam  si  uidebitur 
iniuncta  eis  publica  poenitentia,  absoluendi,  ac  ad  ecclesiae 
gremium  ac  unitatem  restituendi  et  reponendi : 

IX  Necnon  ad  nostram  et  dictae  sedis  gratiam  et  benedictio- 
nem  recipiendi,  ac  poenas  iuris  Iimitandi,  omniaque  alia  et 
singula,  quae  ad  huiusmodi  hereses  et  errores  ac  sortilegia 
refrenanda  et  radicitus  extirpanda  opporluna  esse  quomodoli- 
bet  cognoueris,  et  ad  officium  inquisitionis  huiusmodi  tam  de 
iure  quam  consueludine  perlinent,  faciendi  gerendi  ordinandi 
exercendi  et  exequendi : 

X  Necnon  alias  ecclesiasticas  personas  idóneas  literatas  et 
Deum  limentes,  dummodo  sint  in  Theologia  Magistri,  seu  in 
altero  iurium  Doctores  seu  Licenciali,  aut  ecclesiarum  Cathe- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  205 

firalium  Canonici,  aul  alias  ¡n  ecclesiastica  dignitate  constitu- 
tae,  quoties  opus  esse  cognoueris,  assumendi  et  surrogandi, 
et  assumptas  amouendi,  et  alias  similiter  qualificalas  earum 
loco  surrogandi,  quae  parí  iurisdiclione  facúltale  et  auclori- 
tate  quibus  tu  fungeris  fungantur,  plenam  liberam  et  omni- 
modam  facultatem  concedimus. 
XI  Non  obstantibus  felicis  recordalionis  Bonifacii  Papae  vm, 

praedecessoris  nostri,  qua  cauetur  ne  quis  extra  suam  ciuita- 
tem  uel  diocesim,  nisi  in  cerlis  exceptis  casibus,  et  in  íl lis 
non  nisi  ultra  vnam  dietam,  a  fine  sue  diócesis  ad  iudicium 
euocetur,  seu  ne  judices  a  Sede  praedicta  deputati  extra  ci- 
uitatem  uel  diocesim,  in  quibus  deputati  fuerint,  contra  quos- 
cumque  procederé,  aut  alii  uel  alus  uices  suas  commitlere 
praesumant,  et  de  duabus  dietis  in  Concilio  generali  edita,  ac 
alus  constitutionibus  et  ordinationibus  aposlolicis  contrariis 
quibuscunque.  Aut  si  personis  praedictis,  uel  quibusuis  alus 
comuniter  uel  diuisim,  a  dicta  sit  sede  indultum  quod  inter- 
dici  suspendí  uel  excomunicari,  aut  extra  \el  ultra  certa  loca 
ad  iudicium  euocari,  non  possint  per  literas  apostólicas  non 
facientes  plenam  et  expressam  ac  de  uerbo  ad  uerbum  de  in- 
dulto huiusmodi  mentionem,  et  quibuslibet  alus  priuilegiis  in- 
dulgentiis  et  literis  aposlolicis,  sub  quibuscunque  tenoribus  et 
formis  concessis,  per  quae  presentium  literarum  et  uestrae  iu- 
risdictionis  in  praemissis  exequutio  quomodolibet  impedid  uel 
differi  possit,  quae  quoad  hoc  ipsis  aut  alicui  eorum  nullate- 
nus  suffragari  posse  vel  deberé  decernimus.  Dalum  Romae, 
apud  Sanctum  petrura,  Anno  incarnationis  Dominicae  Mille- 
simo  quingentésimo  trigésimo  primo,  Sexlodecimo  kalendas 
Januarii,  Ponlificatus  nostri  Anno  Nono1. 

Hie.  Auditor  Camerae 
Jacob.  Symoneta  Pisauriensis. 


1  Apesar  de  termos  já  publicado  esta  Bulla,  apag.  355  do  2."  vol.  deste  Corpo, 
foi  forcoso  reproduzil-a  aqui  para  nao  truncar  o  documento,  e  para  facilitar  o  cotejo 
das  disposicóes  primitivas  com  as  alteracoes  propostas  agora  pela  Curia. 


206  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Limilacoes  que  fizerao  ho  Auditor  da  cámara  e  Simoneta  ha  Inquisicao 
de  clemente :  com  estas  limilacoes  se  ha  d  espidir  a  bulla. 

In  bulla  inquisitionis  per  felicis  recordationis  Clemen- 
tera  vn  Serenissim'o  Regi  Portugalliae  concessa  quinqué  arti- 
culi,  videlicet,  Quartus,  Sextus,  Septimus,  Nonus  et  Deci- 
mus,  videntur  in  hunc  modum  reíbrmandi,  videlicet : 
IIII  Circa  Quarlum  articulum.  Quod  constet  in  actis  de  le- 

gitima requisilione  Ordinariorum,  et  si  per  eos  steterit  quo- 
minus  uelint  interuenire,  Inquisitor  solus  possit  procederé,  ita 
lamen  quod  in  quocunque  statu  causae  Ordinarius,  si  uoluerit 
interesse,  admütatur,  non  obstante  quod  prius  recusauerit. 

VI  Circa  Sextum  articulum.  Quod  Inquisitores  et  Ordinarii 
nullos  oficiales,  et  praesertim  religiosos,  possint  deputare  nisi 
necessarios,  sub  excommunicationis  latae  sententiae  poena,  a 
qua  non  possint  nisi  a  Summo  Pontiíici,  praeterquam  in  mor- 
tis  articulo,  absolui. 

VII  Circa  Septimum  articulum.  Quod  requisito  Ordinario,  si 
recusauerit,  quilibet  Episcopus,  Duobus  Abbatibus  uel  per- 
sonis  in  dignitate  constitutis  adhibitis,  possit  exequi. 

IX  Circa  Nonum.  Deleátur  verbum  de  consueludine,  et  ste- 
tur  uerbo  de  iure,  in  quo  continetur  etiam  omnis  laudabilis 
consueludo,  vel  habeatur  prius  notitia  quid  importet  illa  con- 
suetudo. 

X  Circa  decimum  articulum.  De  Bachalariis,  dummodo  sint 
creati  in  Vniuersitate,  et  attigerint  trigesimum  annum. 

Vltra  Bullam  uidentur  addendi  etiam  dúo  alii  articuli,  vi- 
delicet : 

Primus,  de  bonis  ultimo  supplicio  damnatorum.  Quod 
Dep<ñs  se  asen-  per  duodecim  annos,  et  deindc  ad  beneplacitum  Sedis  apos- 

tou  por  dez  nn-       , .  . .  .  .     .  .    . 

nm.  tolicae,  non  publicentur,  sed  transeant  ad  proximiores  cnns- 

tianos. 

Secundus,  circa  modum  procedendi.  Attenta  promissione 
Regis,  et  odio  quod  a  principio  conuersionis  eorum  exarsit  in 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  207 

christianis  fidelibus  aduersus  dictos  conuersos  el  adhuc  du- 
Depois  se  asen-  rat,  procedalur  ul  in  alus  criminibus  per  ocio  annos,  quibus 
nosP°r  elapsis,  precedalur  iuxta  dispositionem  iuris,  seruato  primo 

capitulo  de  bonis  non  confiscandis,  vi  in  praecedenli  arti- 
culo. 

Hie.  Auditor  Camerae 
Ja.  Symoneta  Pesauriensis. 

Captólos  que  trouxe  dom  anrique  de  metieses  pera  se  aderem 

á  bulla  da  Inquisicao,  dos  quaes  conceder am  os  que 

nao  uaom  riscados. 

ítem.  Concedatur  facultas  praefalo  Inquisitori  principali 
committendi,  in  totum  aut  in  parte,  personis  qualificatis  se- 
cundum  formam  litterarum,  per  quas  inquisitio  fuil  commissa 

piacet  fralri  Didaco,  et  quas  ipse  pro  Inquisitoribus  deputnuerit,  re- 

seruatis  sibi  aliquibus  capilulis,  videlicet,  sententiis  finalibus, 
condemnalionibus,  el  aliis  quibuscunque,  de  quibus  sibi  beno 
uisum  fuerit ;  i  la  tamen  quod  seruentur  quae  dicentur  in  fa- 
uorem  iurisdictionis  Ordinariorum,  quae  reseruatio  censeatur 
repetita  in  ómnibus  capitulis. 

ítem.  Reuocandi  eosdem  Inquisilores  per  eum  deputan- 

piacet  dos,  in  totum  uel  in  parle,  ad  eiusdem  Inquisiloris  Principa- 

lis  libilum,  etiam  in  negoliis  et  causis  tempore  reuocationis 
huiusmodi  per  eos  inceptis. 

ítem.  Quod  ipsi  Commissarii,  et  per  diclum  Inquisitorem 
principalem  depulandi  inquisitores,  possint  esse  nedum  Licen- 

piacei   secun-  ciati  in  theologia  uel  in  altero  iurium,  sed  etiam  Baccalarii, 

dum  hmitatio-  " 

nem  articulo-  áltenlo  quod  baccalariatus  gradus  in  hispania  non  conceditur 

rum 

nisi  illis,  qui  per  seplenium  studuerunt  secundum  staluta 
Yniuersitalis. 

Quodque  difficulter  inuenientur  lot  magistri  et  doctores 
qualitalis  necessariae  negocio,  quol  necessario  requirentur,  ex 
piacet  eo  quod  pauci  promouentur  ad  gradus  doctoratus,  propter  ni- 

mias expensas,  quae  in  illis  parlibus  in  similibus  promotioni- 
bus  fiunl,  ul  in  décimo  articulo. 


208  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ítem.   Quod  Inquisitor   principalis  et  ab  eo  depulandi 

praefati  possinl  condemnare  et  absoluere  finaliter,  ac  tortura 

¡nquirere ;  necnon  condemnare  ad  incarceralionem  perpetuam 

Est  data  alia  et  temporalem,  et  procederé  ad  traditionem  curiae  seculari, 

forma  utinar-  ,.  .........  ~    ,. 

ticuiis  et  reliquum  oiucium  inquisitionis  exercere,  Ordinanis  non  re- 

quisitos nilque  illis  impartito,  nec  processibus  comunicatis, 
cum  derogatione  Clem.  prim.,  De  here.,  et  cuiuscunque  al- 
terius  iuris  in  hoc  casu  derogan  necessarii l. 

Itera.  Quod  incipiente  quolibet  diclorum  Inquisitorum 
procederé  in  quocunque  casu  heresis  aul  a  fide  apostasiae  con- 
tra aliquam  personam,  quod  Ordinarii  se  non  possint  intro- 
railtere  in  casu  dictae  personae,  nec  de  í lio  cognoscere  am- 
plius.  Cum  derogatione  dispositionis  tex.  in  C.  Per  hoc,  De 
her.,  in  6.° 

ítem.  Concedatur  quod  possit  procedí  contra  predictum 
Inquisitorem  et  eius  Comissarios,  appellatione  remota  etiam  ab 
interloquutoriis  sententiis,  quia,  si  daretur  appellatio  ab  in- 
terloquutoriis,  non  poterit  iustitia  ministran  obstantibus  appel- 
lationibus. 

ítem.  Quod  dictus  Inquisitor  principalis  possit  auocare 
ad  se  omnes  causas  dictorum  criminum  in  regnis  et  dominiis 
Suae  Maiestatis  pendentes  coram  quibusuis  iudicibus  ecclesias- 
ticis,  tam  Ordinariis,  etiam  Episcopis  et  Archiepiscopis,  quam 
Delegatis,  etiam  si  sint  delegati  a  Papa,  vel  eius  Nuntiis  aut 
Legatis,  etiam  de  Latere,  etiam  pendentes  coram  eisdem  Nun- 
tiis et  Legatis  in  quocunque  puncto  et  statu,  dummodo  non 
sint  finaliter  decisae ;  et  tamen  non  polerunt  auocare  causas, 
quae  super  dictis  criminibus  pendeant  coram  Prouisoribus, 
Vicariis  et  expeditoribus  Praelatiarum  et  Domorum  Cardinalis 
Infanlis,  et  Infantis  Domini  Enrrici,  fratrum  germanorum  suae 
maiestatis,  ex  eo  quod  ipsi  habenl  in  similibus  oneribus  et 
oíQciis  personas  tantae  confidentiae  ecclesiarum,  quibus  sími- 
les causae  bene  possunt  commilli. 

ítem.  Quod   Inquisitor  principalis  et  Deputati   possint 

1  Este  capitulo  eos  quatro  seguintes  estáo  viseados. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA 


209 


Placet  vt  in  ar- 
ticulis 


absoluere  a  quibuscunque  excomunicalionibus  et  censuris,  pro- 
mulgatis  a  iure  uel  ab  homine,  etiam  per  bullam  in  Coena 
Domini,  incursis  ob  causam  dictorum  criminum,  ac  dispensare 
super  irregularilalibus  per  tales  excomunicatos  incursis,  quia 
excommunicatione  ligati  se  ingesserunt  offitiis  diuinis,  ac  sus- 
pensionibus  et  inlerdictis  ob  dictorum  delictorum  causam. 

ítem.  Quod  possint  uocare  vnum  solum  Episcopum,  etiam 
si  non  sit  Ordinarius  loci,  ad  deponendum  et  degraduandum 
verbaliter  et  actualiter  condemnatos  in  crimine  heresis,  qui 
clerici  fuerint,  tam  in  minoribus,  quam  sacris  etiam  presbi- 
teratus  ordinibus  constilutos,  in  casibus  in  quibus  debuerint 
deponi  et  degraduari ;  qui  Episcopus  per  eos  uocalus  possit 
faceré  diclam  depositionem  et  degraduationem,  etiam  actua- 
lem,  cum  duobus  reli^iosis  cuiuscunque  ordinis  aul  clericis 
secularibus  in  dignitale  constilutis,  quia  esset  nimis  difficile 
si  id  fieret  per  Episcopum  Ordinarium,  et  adiungi  plusquam 
vnum  Episcopum. 

ítem.  Quod  dicti  Inquisitores  deputati  possint  faceré  pu- 
blicas reconciliationes  et  absolutiones  cum  solemnitatibus  a 
iure  reqiHsiüs,  absque  eo  quod  ad  id  requirant  Ordinarium 
aut  aliquem  alium  Episcopum,  nisi  processum  fuerit  coniun- 
ctim,  Tune  enim  simul  cum  Ordinario  procedatur. 

Ítem.  Quod  Inquisitor  principalis  possit  puniré  et  casti- 
gare proul  de  iure  fuerit  Inquisitores,  et  alios  quoscunque 
piacet de depu-  Inquisitionis  Officiales,  qui  deliquerint,  aut  in  eorum  officiis 

tatis  ab  Inquisi-  ,  ,....,.  .     . 

toribus lantum  fecennt  non  debita  in  eisdem  mxla  suorum  criminum  exi- 
gentiam  iuslitiae ;  et  si  tales  Inquisitores  et  officiales  religiosi 
sint.ac  exempti,  cuiuscunque  ordinis,  etiam  mendicantium, 
non  obstantibus  quibuscunque  priuilegiis  et  exemptionibus. 
Et  simililer  possit  competiere  religiosos  cuiuscunque  ordinis, 
etiam  mendicantium,  ad  acceptandum  onus  Inquisitionis  si 
sibi  apli  uideanlur,  etiam  eorum  Praelatorum  non  oblenta  uel 
iicentia  petita  licet  non  oblenta. 

ítem.  Quod  Sanctitas  Veslra  concedat  istas  literas  cum 
clausulis  derogatoria,  per  quas  derogetur  plenarie  quisbus- 
cunque  bullís  et  lileris  ac  priuilegiis,  qui  istarum  effectum  et 
TOMO  m.  ti 


Placel 


Cum  limitatio- 
ne  utinarticu' 
lis 


210  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

formam  in  tolum  uel  in  parte  impediré  possint  (specialiler  di- 
ctis  lileris  per  Sanctitatem  Vestram  concessis  sub  dala  Sexto 

piacet  Idus  Aprilis  anno  1533,  Pontificalus  sui  Anno  Décimo1),  ac 

literis  suspensionis,  per  quas  suspendit  dictam  inquisitionem 
in  his  regnis  concessam,  et  quibuscunque  alus  bullís  et  lite- 
ris, quibus  plenissime  derogetur  cum  lata  el  extensa  deroga- 
tione,  eliam  iurium  et  quoruncunque  priuilegiorum. 

Hie.  Auditor  Camerae. 
.la.  Symoneta  Pisauriensis. 

Dom  M.  de  Portugal  Primaz  Dom  anryque  m.z. 

Are.  do  Funchal. 


Carta  de  ■>.  Henrique  de  Ilenezes  a  el-Rei. 


1535  — Marco  11. 


Senhor — Tudo  o  que  neste  negocio,  a  quemeVossa  alteza  mandou, 
he  passado,  e  os  termos  em  que  sempre  esteue  des  que  aquy  sou  ategora, 
eu  lho  tenho  escrito  tantas  uezes  e  láo  largo  como  a  cada  cousa  com- 
pria,  sem  auer  nunca  ou  muy  poucas  uezes  de  vossa  alteza  reposta ;  e 
por  isso  serya  agora  cousa  muy  larga  tornal  o  aquy  a  escreuer  polo  miu- 
do,  nem  saberya,  ainda  que  soubesse  cerlo  que  vossa  alteza  se  nom  en- 
fadarya  de  o  1er :  as  mynhas  cartas  passadas  o  dirao,  que  vossa  alteza 
deue  de  ter  mandadas  guardar;  e,  se  nao,  os  trelados  tenho  os  eu  pera, 
quando  me  vossa  alteza  pidir  disso  conta,  lha  dar  a  mylhor  qu  eu  enten- 
der e  com  verdade.  Agora,  senhor,  o  negocio  he  acabado,  e  o  como  ou 
como  nao  o  arcebispo,  coma  quem  sabe  e  entende  tudo,  e  o  faz  mylhor 
queu,  daa  disso  mais  larga  conta:  e  o  negoeyo  he  lao  longuo,  e  lem 
tantos  pontos  e  capitolos,  que  cuydo  que  nem  ele  o  poderaa  acabar  d  es- 


1  No  original  ha  um  traco,  que  corta  as  tres  linhas  onde  se  leem  as  palavras,  que 
damos  em  parentheses. 

-  Arcii.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  1,  n.°  35.  Lé-se  ñas  costas  do  documento,  por  letra 
do  Arcebispo:  Limitarán  da  bulla  da  Inquisicao  de  Clemente  e  d  outros  capitolos. 


relacOes  com  a  curia  romana  til 

pecificar,  e  ambos  nos  remitiremos  aos  papéis,  que  disso  vossa  alteza  ue- 
raa.  A  concrusao  de  tudo  em  soma  he  que  vai  tudo  muy  fora  de  sua 
uontade  e  da  minha ;  e  porem  crea  vossa  alteza  que  foy  tao  trabalhado  e 
tao  aperfiado  e  tao  debatido  per  nos  e  per  santiquatro,  que  vos  nysso 
soruyo  e  o  faz  em  tudo  coma  uosso  natural  vassalo,  que  nom  íicou  por 
falla  de  caualeyr'os  o  nom  ser' vossa  alteza  muilo  á  sua  uontade  seruydo 
e  como  eu  quysera.  E  por  tocar  alguuns  pontos  dos  principaes,  de  que 
se  pode  dar  conta  em  especial,  digo,  senhor,  que  quanlo  ao  perdao  nom 
quyserao  o  ponto  dos  relapsos  dos  conuertidos  em  portugal,  somente  os 
outros  fora  da  conuersao  geral  de  portugal  serao  por  agora  perdoados, 
e  se  tornarem  a  pecar  serao  relapsos  achandose  que  tinhao  ja  pecado 
oulra  uez.  ítem  :  que  no  perdao  se  nom  ponhao  bispos  etc.  senao  con- 
formes palavras  aa  bula  da  Inquysicao,  a  saber,  geralmente  perdoa  aos 
contra  quem  se  pede  a  Inquysicao.  ítem  :  que  o  nuncio  nom  entenda  n  ysso, 
e  entenda  quem  vossa  alteza  quyser,  se  a  bula  do  perdao  ja  nom  he  pu- 
brycada,  que  entao  o  nuncio  a  acabaraa  dexecutar.  E  eslyuemos  em 
grandes  debates  sobre  como  se  enlenderya  esta  pubrycacao,  porque  os  ju- 
deus  lem  qua  escrylo  que  ja  o  nuncio  o  tinha  escryto  aos  perlados,  e 
qua  escreueráo  que  em  braga  se  pubrycára,  e  noos  disto  nunca  fomos 
auysados  per  vossa  alteza  ;  e  per  cima  disso  diziamos  que,  ainda  que  isso 
fosse  sabydo  pelos  prelados,  nom  era  feita  pubrycacao  na  forma  que  a 
bula  requere  pera  o  nuncio  perpetuar  sua  jurdicao,  e  que,  se  per  noticia 
auiao  de  julgar,  que  ja  quando  eu  vym  isto  estaua  sabydo  e  notoryo,  mas 
nao  pubrycado  segundo  a  forma  da  bula  ;  e  nysto  debatemos  muito,  e  san- 
tiquatro por  noos :  em  fym  qu  este  ponto  íicou  assy  ;  porem,  se  o  nuncio 
laa  nom  lem  comecado,  tirar  ss  aa  como  na  bula  vay  decrarado,  e  fal  o  á 
quem  vossa  alteza  quyser.  Estes  sao  os  pontos  principaes  do  perdao. 

ítem  :  quisemos  logo  saber  os  da  Inquysicao,  e  tiuemos  nela  tantos 
debates,  e  tao  altercados,  que  nom  he  pera  crer,  porque,  cuydando  noos 
de  a  auer  como  estaua  do  papa  passado,  e  acrecentar  mais  aqueles  pontos 
queu  trouxe  pera  boa  execucao  déla,  acudyráo  estes  senhores  e  Duarte 
de  paz  por  eles  cum  preuylegio  del  Rey  uosso  pay,  que  déos  lem,  con- 
fyrmado  per  vossa  alteza,  de  que  Ihe  mandey  o  trelado  ha  quatro  ou  cyn- 
quo  meses  sem  auer  a  ysso  reposta,  no  qual  antre  outras  muitas  cousas 
diz  duas  ou  tres  principaes,  a  saber,  que  nom  se  proceda  neste  cryme 
dcstcs  judeus  senao  coma  nos  outros  crymes,  a  saber,  caceres  abertos  e 

27* 


212  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dados  nomos  das  lestemunhas,  e  que  passados  vynle  dias  nom  se  possíio 
mais  acusar  do  delylo  que  fyzerem,  c  que  as  fazendas  sejao  sempre  dos 
filhos  ou  erdeyros  cristaos.  Islo,  senhor,  he  a  mor  cousa  do  mundo,  e  o 
mor  ngrauo  pera  mym  que  pode  ser,  nom  no  saber  eu  de  vossa  alteza 
quando  me  qua  mandou,  nem  me  responder  a  nada  cando  lho  escreuy  e 
mandey  o  (relado  do  priuylegió  pera  saber  que  farya  ou  que  poderya  di- 
zer  com  lal  privylegio  ñas  barbas  :  todauya  o  debatemos  e  renhymos  canto 
podemos,  e  per  uentura  mais  do  que  deueemos  nem  sabemos,  porque 
maas  razoes  nunca  falecem  aos  principes  nem  por  eles.  Finalmente  se  de- 
lerminou  que  por  espaco  de  oylanos  os  caceres  fossem  coma  nos  outros 
crymes,  e  que,  ainda  que  passem  os  vynte  dias,  e  duzentos  em  cyma, 
sempre  se  possíio  acusar,  porque  isto  he  fora  de  toda  rezao  e  contra  jus- 
lica  canónica,  e  isto  he  por  nos  e  contra  o  preuylegio  de  vossa  alteza, 
que  nom  podía  dar  de  direito.  ítem  :  que  per  espaco  de  xn  anos  as  fa- 
zendas sejao  dos  erdeyros  cristaos.  Noos  com  esta  sentenca  ja  difinitiua 
aas  costas,  lomamos  ao  papa  eos  mesmos  juyzes,  que  sao,  ao  menos  o 
hum  deles,  os  mylhores  da  térra,  e  com  sanliquatro,  o  qual  esteue  nes- 
las  finaes  delerminacoes  co  eles  por  nossa  parte  per  mandado  do  papa, 
e  alegamos  noos  e  o  cardeal  muitas  rezoes  pera  aquylo  nom  deuer  de  ser 
asy  :  em  concrusao  nom  nos  podeemos  d  aquylo  ludo  arrancar.  Entao  o 
papa  onde  erao  xn  anos  quys  que  fossem  dez,  e  dy  auanle  a  beneplácito 
da  see  apostólica,  que  islo  lambem  eslaua  determinado  per  eles  asy.  E 
sobrysto  me  esfandeguey  canto  pude  por  tyrar  ao  menos  o  beneplácito, 
e  ficar  no  direito  commum,  c  daua  lhes  razao  a  que  me  nom  souberao 
responder  ;  e  em  fym  nom  quyserao.  ítem  :  canto  aos  caceres  aberlos  lam- 
bem lhes  daua  rezao  pera  nom  screm  :  em  fym  nom  quyserao.  E  donde 
erao  oytanos  dymynuyo  o  papa  em  sete  per'sua  boca  ;  e  do  al  que  a  in- 
quysycao  se  conceda  e  vaa  á  uontade  de  vossa  alteza,  súmente  que  os  per- 
lados sejao  pera  ysso  chamados,  e  querendo  possíio  ser  presentes,  sem 
derogaren)  o  capilolo  Per  hoc,  De  here.  Lib.  vi.  E  sobresté  ponto  esteue 
o  symoneta  lao  azedo  e  tao  eoleryeo,  como  ele  he  de  bom  homem  e  de 
letrado.  E  porem,  senhor,  este  ponto  asy  estaa  em  castela,  e  nom  que- 
rendo vossa  alteza  que  sejao  presentes  os  bispos,  eles  o  nom  serao,  como 
se  faz  em  castela  cando  asy  o  querem  os  princepes.  O  que  nos  nyslo  ludo 
do  perdao  e  da  Inquisycao  muilo  danou  foy  principalmente  o  preuyle- 
gio del  Rey,  que  déos  aja,  como  ácima  diguo ;  e  oulro  tanto  as  lyra- 


KELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  213 

nyas  que  aquy  eslao  crydas  da  Inquysycao  de  caslella,  a  qual  tyraryao 
sa  podessem,  e  por  yso  ñora  querem  dar  posse  a  vossa  alteza  doulro 
tanto  azo  de  fazer  o  que  quyser,  ate  nom  uerem  como  isto  vay  proce- 
dendo.  As  mais  myudezas  e  cousas  hyrao  ñas  minutas,  que  o  arcebispo 
manda  a  vossa  alteza,  pera  ver  o  que  pydymos  e  o  que  nos  concedem  e 
negao.  Nysto  nom  ha  mais  que  dizer  senao  que  crea  vossa  alteza  qu#  fi- 
zemos  e  trabalhámos  nysso  canto  nos  foy  posyuel,  e  santiquatro  outro 
tanto  e  muito  mais  em  pubryco  e  em  secreto,  ate  lhe  dyzerem  outros  car- 
deaes  que  bem  peytado  deuya  d  estar  de  vossa  alteza  ;  mas  ele  he  tao  ver- 
dadeiro  uosso  seruydor,  que  nunca  deyxou  nysto  e  em  ludo  de  fazer  o* 
que  compre  e  deue  a  uosso  servyco :  e  certo  que  he  diño  de  muita  honra 
e  merce  de  vossa  alteza,  e  deuelha  de  fazer  muy  inteyramente,  como 
lhe  outras  uezes  tenho  escryto  e  agora  muito  mais.  Isto,  senhor,  eslaa 
assy,  e  nysto  nom  ha  apelar  nem  agrauar  nem  outra  negoceacao  nenhu- 
ma  nem  esperanca  déla.  Se  o  vossa  alteza  ouuer  por  seu  seruyco,  folga- 
rey  muito ;  e,  se  nao,  pesar  m  aa  em  estremo :  e  ey  me  por  muito  mofyno 
nom  vos  seruyr  como  eu  desejo  e  desejey  sempre ;  mas  certo  como  Déos 
he  Déos  a  culpa  nom  he  mynha  em  nada  que  pera  se  fazer  comprysse. 
E  pois  isto  asy  he,  e  nysto  nom  ha  outra  cousa  que  fazer  nem  esperanca 
dysso,  beyjarey  as  maos  a  vossa  alteza  dar  me  licenca  pera  m  yr ;  e  as 
bulas  o  arcebispo  as  faraa  mylhor  queu  mais  de  vagar,  que  parece  ja 
mal  a  Déos  e  ao  mundo  hum  homem  com  muilas  cafís  com'eu,  e  com 
nome  de  uosso  embaixador,  andar  tanto  tempo  em  Boma  soo  e  embucado, 
que  parece  ja  mais  barganlarya  mynha  que  seruico  uosso,  e  em  casa 
alhea.  E  certo,  senhor,  que  parecemos  ambos  mal  a  todos  coma  o  em- 
baixador do  preste  joao ;  porque,  cando  hum  homem  uoso  cryado  ha  de 
vyr  fazer  alguma  cousa  de  uosso  seruyco  polas  postas,   deue  ser  pera 
cousa  que  se  leue  ñas  maos  em  vynte  dias,  mas  pera  tanto  aa  lyra  nom 
parece  ja  postas  e  parece  outra  cousa.  Peco  muito  por  merce  a  vossa  al- 
teza que  se  syrua  de  mym  em  outros  cabos  e  em  outras  cousas,  que  hy 
hauerá  muitas  pera  que  eu  serey,  e  nom  desejo  al  senao  seruyr  uos  co 
a  vyda  e  co  alma  ;  mas  aquy  nom  me  mande  mais  estar  um  soo  dya,  e 
me  mande  loguo  hyr,  que  o  auerey  por  agrauo  de  vossa  alteza  e  pouca 
merce  e  honra,  e  malar  m  aa  de  paixao. 

ítem  :  senhor,  tambera  no  al,  que  vossa  alteza  mandaua  na  mynha 
inslruccao,  que  falasse  ao  papa  de  cruzada  pera  afryca,  nom  será  ja  tem- 


211  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

po  ;  e,  se  o  for,  o  urcebispo  o  fará  mylhor  de  seu  vagar.  Como  he  cousa  que 
se  nom  pede  pera  loguo  se  conceder  nem  auer  mester,  e  a  carta  qu  eu  trou- 
xe  em  latim  sobr  yso,  por  ser  ja  tao  seydica,  a  mandey  a  vossa  alteza  per 
dom  felipe,  se  ouuer  por  bem  que  se  dee  auerá  mester  outra  mais  fresca. 
Ítem  :  nestas  cousas  desta  Inquisicao  todas  falou  muilas  uezes  o  embaixador 
do  emperador,  e  nosajudou  quanto  pode.  A  santiquatro  torno  a  dizer  que 
vossa  alteza  lhe  deue  muita  merce  e  muitos  agradecymentos  :  escreua  lhe  e 
faca  lhe  como  a  muito  uosso  seruydor  que  certo  vos  merece  tudo.  Isto  diguo 
porque  verdadeyramente  farya  conciencia  de  o  nom  dizer,  coma  de  lhe 
tloubar  o  seu  e  sua  fama  e  honra,  quele  tudo  poe  no  tauolciro  por  uosso 
seruyco.  ítem  :  senhor,  as  tres  lymytacoes  com  que  vossa  alteza  concedía 
as  fazendas  polos  sete  anos  ninhuma  délas  nos  receberáo,  sobre  muito  e 
muitas  uezes  apernado,  senao  que  seja  corno  vay  polos  dez  anos  :  e  tudo 
fundándose  no  pryuylegio  del  Rey  que  Déos  aja  e  de  vossa  alteza.  ítem  : 
ao  que  dizyao  por  parte  de  Duarte  de  paz  e  dos  outros  judeus,  a  saber, 
que  forao  cristaos  per  forca  e  per  medo,  algumas  uezes  aleguey  que  lhes 
foy  dada  embarcacao  etc.  Tornavao  a  reprycar  que  nela  os  mataváo  e 
Roubavao ;  e  que  uendo  aquylo  os  outros  ouuerao  por  menos  mal  ficar 
no  reyno  coma  cristaos.  Neste  negocio,  senhor,  sou  escandalizado  e  ma- 
goado  de  tantas  cousas  que  as  nom  posso  nem  sey  escreuer ;  oxala  per 
as  dizer  a  vossa  alteza  me  possao  lembrar :  mas  o  que  posso  agora  dizer 
que  muito  sinty  e  synlo,  afora  o  nao  ser  vossa  alteza  per  mym  muito 
bem  seruydo,  he  trazerem  nos  sempre  Duarte  de  paz  diante  por  compety- 
dor ;  e  nom  fazemos  cousa  co  estes  homens,  nem  eles  com  nosquo,  nem 
co  papa  noos,  nem  ele  com  nosquo,  de  que  lhe  nom  deessem  conla  an- 
tes e  depois,  cousa  tao  fora  de  Razao  e  de  bom  emsyno  andarmos  sem- 
pre rocando  os  ombros  com  Duarte  de  paz  em  cousa  e  trato  d  uní  prin- 
cepe  com  outro :  porem  estes  nem  sao  princepes  nem  nada ;  sao  todos 
mercadores  e  batylans  que  nom  valem  tres  prelos1,  nem  tem  trato  nem 
ensyno  dysso,  nem  fazem  nada  senao  por  medo  ou  inleresse  temporal, 
que  do  esprytual  nom  ha  memorya  disso.  E  disto  lambem  auysey  vossa 
alleza,  e  do  lyvro  que  eslamparao,  e  nunca  a  ysso  me  respondeo.  E  certo, 
senhor,  se  me  eu  atreuera  a  me  vossa  alteza  nom  culpar,  eu  me  fora  por 
estas  duas  pecas  e  dyssera  primeiro  o  que  cumprya.  Nao  posso  perder  a 

1  Isto  é :  reaes  pretos. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  215 

magoa  disto  e  de  lodo  este  negocio,  a  que  nom  uejo  remedio  nem  nego- 
ceacáo  que  o  possa  ja  mudar ;  senao  fazer  vossa  alteza,  ou  auer  por  bem, 
que  andem  ao  euylelo,  e  primeiro  os  que  qua  sostem  e  fasem  esta  bolsa 
da  comuna.  E  porque  eu  nom  saberya  falar  nem  negocear  ja  senao  desla 
maneira,  porque  uejo  que  a  oulra  nom  aporueita,  peco  oulra  uez,  e  cento, 
a  vossa  alteza  que  me  nom  queyra  qua  ter  mais,  e  me  mande  loguo  hyr ; 
e  pera  estar  mais  nom  espere  de  mym  que  o  possa  mais  seruyr,  porque 
isto  nom  tem  remedio,  e  créame  vossa  alteza  nesta  materya  que  certo, 
senhor,  desejo  muito  de  vos  seruir ;  mas  nysto  nom  pode  ser,  e  por  ysso 
lhe  beyjarey  as  maos  mandar  m  yr  e  sem  tardanca  nem  dylacao,  que  sou 
ja  uelho  e  prestarey  ainda  pera  seruyr  em  outras  cousas,  e  aquy  perquo 
o  corpo  e  nom  ganho  a  alma,  nem  cuydo  que  a  poderey  saluar  estando 
em  Roma.  E  se  me  vossa  alteza  mandasse  espydyr  do  papa  n  um  consis- 
toryo  pubryco,  de  mylhor  uontade  o  farya  que  negocear  mais  nada  nesta 
térra.  E  vossa  alteza  me  perdoe  enfádalo  tanto  com  palavras,  que  de  ma- 
goado  de  tudo  o  faco,  e  de  desesperado  do  lempo  que  aquy  tenho  gas- 
tado em  vaao,  e  sem  vos  poder  seruyr  como  eu  desejaua.  E  porque  nom 
querya  mais  reprycas,  concrudo  que  vossa  alteza  me  mande  logo  hyr 
por  me  fazer  muita  merce,  e  syrua  se  de  mym,  e  nao  com  doutores,  se- 
nao com  outros  doutores,  que  lhes  lenhao  as  peelas  co  as  burlas  das  le- 
tras, ítem  :  per  cyma  de  ludo  isto  que  diguo,  posto  queu  nom  seja  pera 
dar  nysto  voz,  huma  de  duas  cousas  ha  vossa  alteza  de  fazer  a  meu  uer : 
ou,  se  se  descontentar  desto  que  lhe  fazem,  desobedecer  muy  inleyra- 
mente  ao  papa,  coma  Inglaterra,  e  mandar  hyr  d  aquy  seu  embaixador; 
ou,  ainda  que  nom  seja  muito  pera  vossa  alteza  ser  contente,  vistas  po- 
rem  muitas  cousas  que  nysto  ha  dua  parle  e  da  outra,  todauya  aceylal  o 
e  lomar  posse  da  Inquisycáo,  e  mandal  a  fazer  santa  e  justamente,  como 
eu  creo  que  seraa.  E  co  isto,  como  uyrem  que  se  laa  faz  como  deue,  e 
que  nom  ha  laa  luzeyros,  d  aquy  a  quatro  dias  vos  darao  canto  vossa  al- 
teza mais  quiser,  que  asy  fyzerao  a  caslela,  e  cada  dia  e  oje  em  dia  fa- 
zem cada  uez  um  ponto  mais,  e  ganhao  mais  térra  per  breues  que  se 
cada  uez  alcancao.  E  tambem  em  castela  ouue  perdoadas  as  fazendas  por 
noue  anos,  e  nom  auya  nynhum  preuylegio  que  os  emcontrasse,  como  fez 
a  noos  o  de  vossa  alteza  e  del  Rey,  que  Déos  aja,  uosso  pay. 

ítem  :  senhor,  porque  nom  sey  se  este  leraa  outros  negocios  do  ar- 
cebispo  que  despachar  com  vossa  alteza,  lhe  beyjarey  as  máos  este  que 


21G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

a  mym  toca  de  licenca  pera  m  yr  m  o  mandar  per  outro  mais  cm  breue 
ou  per  caslela:  e  asy  compre  tambem  ao  seruyco  de  vossa  alteza  nom  es- 
tar ¡sto  tanto  scm  concrusao,  e  nom  terdes  esse  nuncio  laa,  e  nom  tardar 
nysto  como  fez  no  outro  correo  que  mandamos,  que  lardou  cynquo  me- 
ses e  catorze  dias ;  e  se  vyera  no  lempo  que  auya  de  vyr  achara  o  papa 
passado  uyuo,  e  tyueramos  dele  mylhor  despacho  e  mais  breue.  E  con- 
syre  bem  vossa  alteza  que  neste  negocio  o  que  nos  tem  fcylo  todo  o 
mal,  foy  o  nom  aceytar  frey  diogo  da  sylua  a  posse  dele,  e  d  y  auante 
sempre  nos  danarao  delacoes  e  vagares  de  nom  acudyr  ao  negocio  a  seu 
tempo. 

ítem  :  senhor,  oulra  uez  escreuy  a  vossa  alteza  deste  embaixador 
do  preste  joao,  que  he  ja  muita  vergonha  nossa  telo  qua,  e  muilo  cargo 
de  conciencia  nom  mandar  aquela  jente  a  crislandade  que  tanto  ha  que 
pede.  Pol  amor  de  Déos,  senhor,  que  o  mande  vossa  alteza  hyr  de  qua 
que  se  quer  hyr  ja  sem  licenca,  que  he  muito  uelho,  e  chora,  e  nom  quer 
morrer  qua  sem  fazer  nynhum  seruyco  a  Déos  nem  a  vossa  alteza,  cuja 
vyda  e  Real  estado  nosso  senhor  acrecenté  como  eu  desejo.  As  nouas  de 
qua,  Diogo  soarez  as  pode  dizer  a  vossa  alteza  mylhor  do  que  lh  as  eu 
saberey  escreuer,  que  he  homem  pera  dar  de  sy  boa  rezao  no  que  se 
vossa  alteza  dele  quyser  seruyr. 

De  Roma,  a  xvn  de  marco,  1535. 

Criado  de  vossa  alteza,  que  suas  reaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m. ..'. 

Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

1535  — Marco  19. 

Paulus  papa  iu  charissimes  in  christo  fili  noster  salulem  et  aposto- 
licam  benedictionem. 

ínter  caelera  ad  nostrum  pastorale  officium  spectantia  non  ignora- 
mus  illud  a  nobis  praecipue  attendi  deberé,  Regibus  scilicct  atque  Prin- 

1  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  5,  n.°  55.  — Diz  o  sobrescripto  :  A  elRcy  nosso  senhor 
—  e  urna  cota  contemporánea:  1.a  de  dom  Anriquc  de  menezes  sobre  o  negocio  princi- 
pal, de  xvii  de  marco,  que  trouxc  o  criado  do  arcebispo  do  funchal. 


relacOes  com  a  CURIA  ROMANA  217 

cipibus  Chrislianis,  quos  Deus  ad  laudem  bonorum  ac  malorura  penam 
inslituit,  quanlum  in  Domino  possumus  gralificari,  Ha  tamen  ul  nihil  de 
chrisliana  in  pauperes  pielate,  qui  ad  hanc  sanctam  sedem  salulis  om- 
nium  porlum  confugiunt,  omiltamus:  Hinc  est  quod  Nos  a  Venerabili  fra- 
tre  Marlino,  Archiepiscopo  Funchalensi  Indiarumque  Primate,  ac  Dilecto 
filio  Henrico  de  Menesio,  Maiestatis  tuae  oratoribus,  super  negocio  nouo- 
rum  christianorum  in  isto  Regno  degentium,  tam  praeterilorum  eorum 
criminum  ueniam  quarn  fulurorum,  si  contigerit,  Inquisitionem  concer- 
nente,  quod  coram  felicis  recordationis  Clemente  \n,  praedecessore  nos- 
tro,  diu  agitalum  est,  sepe  interpellati,  ac  ut  in  eo  Maieslali  tuae  plenius 
salisfaceremus  omni  sludio  requisiti,  nihil  praetcrraisimus  quo  et  Regiae 
Maiestatis  tuae  ralio  haberetur,  et  clamori  nihilominus  ac  gemilui  paupe- 
rum  aures  misericordiae  nostrae  paterent.  Quod,  si  eidem  tuae  forsan  Ma- 
ieslali videbitur  in  praemissis  sibi  minus  quam  uoluisset,  ac  per  suos  re- 
quisset  salis  esse  factum,  Id  minime  lamen  propensae  nostrae  erga  Maies- 
tatem  tuam,  quae  semper  nobis  cordi  est,  uoluntati  adscribendum  pulet, 
qui  nihil  optamus  aliud  magis  quam  petitionibus  suis  ómnibus,  quoad  fieri 
potest,  benigne  assentiri.  Verum  hoc  ob  id  factum  esse  sciat  quod  ubi  de 
¡uta  ac  bonis  agilur,  dicente  Domino  «  misericordiam  uolo  el  non  sacrifi- 
cium  »,  pietatis  quam  vltionis  partes  sequi  malle  debemus.  Deinde,  quia 
Neophiti  isli  conuenliones  et  pacta  cum  clarae  memoriae  genitore  tuo  a 
prima  eorum  conuersione  inita,  et  per  celsitudinem  tuam  postea  confír- 
mala, quorum  quasi  clipeo  in  hunc  usque  diem  libere  uixerunt,  nobis 
per  suum  cerlum  nuntium  obtulerunt,  Quae,  licel  in  ea  parle,  qua  a  sa- 
cris  canonibus  dissenlire  uidebanlur,  per  se  rata  esse  non  debuissent ; 
Cum  tamen  fidem  Regiam,  qua  nihil  sanctius  obligarent,  et  fidei  uestrae 
simul  et  eorum  saluli  consulendum  esse  censuimus.  Quae  cum  ila  sint 
Maieslatem  tuam  plurimum  hortamur  in  Domino  ut  piam  hanc  ueramque 
excusationem  nostram  accipere,  necnon  capitula  desuper  discussa  el  per 
nos  probala,  quae  nuper  ad  eam  per  manus  Venerabilis  fralrisMarci  Epis- 
copi  senogalliensis,  nostri  et  apostolicae  sedis  apud  eandem  Maieslatem 
tuam  Nuntii,  ac  etiam  oratores  suos  misimus  rala  habere,  ac  cis,  quando 
aliler,  sicuti  ex  eorundem  lilleris  inlelliget,  saluo  nostro  et  apostolicae  se- 
dis honore  concedi  non  poterant,  libenter  acquiescere  non  grauetur.  In 
quo  certe  Maiestas  lúa  rem  Deo  acceplam  et  nobis  gralam,  ac  demum  se 
suaque  ac  Gcniloris  sui  fidedignam  fecisse,  et  nos  Regno  suo  magis  in 
tomo  ni.  28 


218  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dies  ac  magis  consuluisse  cognoscet,  prout  etiam  eadem  Maieslas  lúa  ab 
eodem  Nuntio  nostro  infelliget,  cu¡  fidem  super  his  indubiam  habere 
ueüt. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  Dio 
xvu  Marlii  mdxxxv,  Ponlificatus  noslri  anuo  primo  —  Blosius1. 


Breve  do  papa  Paulo  III  dirigido  ao  nuncio 
hispo  de  Senigaglia. 

1535  —  Marco  19. 


Paulus  papa  m  Venerabilis  frater  salutem  ct  aposlolicam  benediclio- 


nem 


Dudum,  postquam  felicis  recordationis  Glemens  papa  vir,  predeces- 
sor  noster,  omnes  et  singulos  istic  de  heresi  el  a  fide  aposlasia  culpabi- 
les  seu  suspectos,  certis  tune  expressis  modo  el  forma,  per  quasdam  sub 
plumbo  absoluerat  el  seu  absolui  mandaueral,  et  deinde  per  alias  in  forma 
breuis  Hileras  stalueral  et  ordinauerat  quod  litlerae  absolulionis  prediclae 
in  ómnibus  et  per  omnia  eam  vim  et  auctorilatem  haberent,  ac  si  publi- 
calae  essent,  Nonnullas  responsiones  hoc  negocium  concernentes  nobis  pro 
parle  charissimi  in  chrislo  filii  nostri  Johannis,  Portugalliae  et  Algnrbio- 
rum  Regis  illustris,  per  eius  Oratorem  preséntalas,  nonnullis  viris  do- 
clrina  integritale  grauitate  et  experientia  decoratis  examinandas  Iradidi- 
mus,  ea  intentione  ut  habita  illorum  relatione  in  hoc  negocio  procedere- 
mus  ;  decensque  et  conueniens  esse  censentes  ut  inlerim  ipsura  negocium 
in  eo  slalu,  in  quo  tune  erat,  maneret,  fraternitali  luae  ne  uigore  predi- 
ctarum,  aut  quarumuis  aliarum  litterarum  a  prefalo  Clemente  predeces- 

1  Arch.  Nac,  Mac.  25  de  Bullas  n.°  30,  e  traduzido  em  vulgar,  na  Gav.  2,  lhc. 
2,  n.°  13.  A  fol.  455  do  Tom.  51  da  Symmicta  Lusitanica,  depois  da  copia  deste  breve 
(que  forma  o  documento  n.°  18  junto  ao  Memorial  dos  christaos  novos)  lé-se  o  seguintc: 
R.  Dne.  Blosi,  Praemissum  Breue  fuit  heri  sero  per  me  lectum  Sanctissimo  Domino  nos- 
tro,  presentibus  Dorainis  Andilore  Camerac  et  Episcopo  Pisaurensi.  Approbauerunt 
omnes.  Dominatio  vestra  proponat  Sanctissimo  Domino  Nostro  et  expediat.  —  Fr.  A. 
Cardinalis  Sanctorum  Qnatunr. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  219 

sore  emanatarum,  vniuersis  uero  et  singulis  de  heresi  et  a  fide  apostasia 
culpabilibus  seu  suspectis  predictis  ne  modo  aliquo  litteras  absolutionis 
predictas  publicare,  aut  si  publicalae  forent  eis  uti,  Inquisitoribus  aulem 
herelicae  prauitatis  ne  uigore  litterarum  per  ipsum  Clementem  predeces- 
sorem  super  eorum  deputalione  concessarum,  Ordinariis  uero  ne  faculta- 
tis  eis  a  jure  uel  consueludine  concessae  vigore  aliquem  ex  dictis  culpabi- 
libus uel  suspectis  molestare  praesumeret,  doñee  aliud  a  nobis  ordinatum 
esset,  per  quasdam  nostras  in  forma  breuis  litteras,  sub  data  xxvi  No- 
uembris,  Pontificatus  nostri  Anno  Primo,  inhibuimus,  Volentes  ut  siqui 
carceribus  mancipati  inuenirentur,  nisi  relapsi  essent,  circa  quos  nil  re- 
nouare  inlentebamus,  data  idónea  de  eis  in  dictis  carceribus  totiens  quo- 
tiens  per  eos  ad  quos  spectaret  desuper  requisiti  essent,  representan,  et 
si  eorum  bona  in  manibus  fisci  deuenissent  aud  ad  eius  inslantiam  seques- 
trata  essent,  absque  aliqua  cautione  relaxarentur,  prout  in  singulis  litle- 
ris  predictis  latius  conlinetur.  Cum  autem  postmodum  viri  praedicti,  dis- 
cussis  et  mature  consideratis  per  eos  responsionibus  huiusmodi  et  alus 
quae  consideranda  erant,  litteras  absolutionis  huiusmodi  per  dictum  prae- 
decessorem,  ut  praeferlur,  concessas  executioni  debitae  csse  demandandas 
nobis  retulerint,  Nos,  executionem  huiusmodi  omnino  fieri  uolentes,  Fra- 
ternitati  tuae  per  presentes  committimus  et  mandamus  quatenus  ad  exe- 
culionem  dicta rum  absolutionis  litterarum  iuxta  illarum  tenorem  in  óm- 
nibus et  per  omnia  procedas,  per  inde  ac  si  earum  executionem  per  di- 
ctas litteras  non  suspendissemus.  Non  obstanlibus  conslitulionibus  et  or- 
dinationibus  apostolicis  ac  litteris  inhibitoriis  huiusmodi,  quarum  tenores 
hic  pro  sufficienter  expressis  haberi  uolumus,  ceterisque  contrariis  qui- 
buscunque. 

Datum  Romae,  apud  Sanclum  Petrum,  sub  Annulo  Piscatoris,  die 
xvii  Marlii  mdxxxv,  Pontificatus  nostri  Anno  Primo  —  Blosius1. 


1  Copia  contemporánea  no  Arch.  Nac,  Mac.  14  de  Bullas,  n.°  3. 

28* 


220  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Breve  do  Papa  Paulo  III. 


1535  —  4 ullio  20. 


PauluS  papa  tcrtius  ad  futura m  rei  mcmoriam. 

Cum,  sicut  accepimus,  licet  lempore  clarae  memoriae  Emmanuelis, 
dum  viueret,  Porlugalliae  et  Algarbiorum  Regís,  Judaei  in  regnis  ct  domi- 
niis  dicli  Emmanuelis  Regis  tune  commorantes  ad  fidem  Ghrisli  conuersi 
fuerint,  et  ab  eo  tempore  citra  tanquam  Ghrisliani  vixerint ;  nonnulli  la- 
men eorum  aemuli  aliquos  ex  eis  tanquam  Judaizantes,  aut  alias  a  fide 
catholica  apostatantes  penes  locorum  Ordinarios  et  forsan  haerelicae  pra- 
uilalis  Inquisitores  aecusent  aut  deferant,  seu  alias  molestent ;  et  propte- 
rea  quod  fautores  haereticorum,  ac  eis  consilium  vel  fauorem  praeslan- 
tes,  iisdem  poenis,  ut  per  sacros  cañones  sancitum  est,  pleclanlur,  etiam 
patres,  fratres,  filii  et  alii,  etiam  consanguinitatis  aut  affinitalis  vinculo 
eis  non  coniuncti,  illorum  qui  super  suspilione  haeresis  accusanlur,  seu 
deferuntur,  palrocinium  suscipientes,  tanquam  haereticorum  fautores,  aut 
eis  consilium,  auxilium,  vel  fauorem  praeslantes  aliquando  molestcnlur, 
vnde  succedit  quod  de  crimine  haeresis  huiusmodi  aecusati,  aut  delali, 
etiam  si  innocentes  sint,  indefensi  remanent :  Nos,  volentes  nemini  defen- 
sionis  munus,  quod  de  iure  naturae  est,  tolli,  motu  proprio  et  ex  certa 
nostra  scienlia  omnes,  et  singulos  vtriusque  sexus  laicos,  nec  non  elen- 
cos etiam  quacunque  dignilate,  aut  alia  quauis  praeeminenlia,  aulhoritate, 
el  polestate  fulgentes  pro  quibuscumque,  qui  ex  Judaismo  ad  fidem  Ghristi 
conuersi  fuerunt,  eorumque  filiis,  ac  vtriusque  sexus  descendenlibus,  tam 
apud  charissimum  in  Ghristo  filium  noslrum  Joannem,  Porlugalliae  et  Al- 
garbiorum Regem  illuslrem,  illiusque  officiales,  ac  alios  quoscunque  in 
regnis  ct  dominiis  praedictis,  et  extra  illa,  etiam  in  Romana  curia  palro- 
cinium suscipere,  eisque  in  iuditio  et  extra  consilium,  auxilium,  et  fauo- 
rem patrocinando,  consulendo,  fauendo  praeslare,  illorumque  defensio- 
nem,  tulelam,  et  palrocinium  accipere  libere  et  licite  posse,  nullamque, 
praemissorum  occasione,  infamiae  notam,  aut  inhabililatis  maculam,  aut 
alias  poenas  incurrere,  ac  omnia  et  singula  ad  eorum  defensionem  quo- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  221 

modolibet  opportuna,  et  requisita  per  se,  vel  alios  faceré,  gerere  et  exer- 
cere  posse,  dummodo  de  crimine  huiusmodi  accusati  aut  delati,  vel  in- 
quisiti  non  fuerint,  decernimus  et  declaramus :  districtius  inhibentes  óm- 
nibus et  singulis  Archiepiscopis,  Episcopis,  et  alus  Praelatis,  eorumque 
in  spiritualibus  et  temporalibus  Vicariis,  ac  alus  officialibus,  necnon  In- 
quisitoribus  et  iudicibus  quauis  authoritate  et  praeeminentia  fulgentibus, 
sub  excommunicationis,  suspensionis  et  interdicli  sententiis,  et  beneficio- 
rum  ac  oííiciorum  priuationis  poenis  eo  ipso,  si  contrauenerint,  incur- 
rendis,  ne  quominus  dicti  ad  catholicam  fidem  conuersi,  illorumque  des- 
cendentes patronos  et  defensores  suscipere,  ipsosque  ad  curiam  Roma- 
nan), et  alia  loca  mitlere,  ac  omnia  alia  illorum  defensionem  concernenlia 
libere  et  sine  aliquo  impedimento  faceré  et  gerere,  quouis  quaesito  colore 
turbare  aut  impediré  audeant  vel  praesumant.  Joannem  vero  Regem  prae- 
dictum  in  Domino  hortanles  et  requirenles  ne  pro  sua  in  hanc  sacro- 
sanctam  Sedem  deuotione,  ac  reuerentia  ad  fidem  Catholicam  conuersos 
huiusmodi,  illorumque  descendentes  praedictos,  quominus  ómnibus  in 
praesentibus  lileris  comprehensis  gaudere  possint  et  valeant,  impediri  pa- 
tiatur  et  permittat.  Decernentes  quoque  easdem  praesentes  literas  de  sur- 
reptionis  vel  obreptionis  vilio  seu  intentionis  noslrae  defectu  notari,  vel 
impugnan  non  posse,  nec  sub  quibusuis  reuocationibus,  modificalionibus, 
limitalionibus  et  suspensionibus  quarumcunque  similium,  vel  dissimilium 
literarum,  ac  etiam  per  nos  et  sedem  eandem  factis  et  faciendis  nullale- 
nus  comprehensas,  sed  ab  illis  semper  exceptas  esse,  et  quoties  reuoca- 
tae,  vel  limitatae  fuerint,  tolies  in  pristinum,  et  eum  in  quo  ad  praesens 
existunl,  statum  restituías  et  reintégralas  existere.  Et  sic  per  quoscunque, 
tam  ordinaria  quam  delégala  et  mixta  authoritate  fungentes,  índices  et 
personas  vbique  indican,  cognosci  ac  decidí  deberé,  sublata  eis  et  eorum 
cuilibet  quauis  aliler  iudicandi,  cognoscendi,  ac  decidendi  facúltale.  Nec- 
non irritum  et  inane  quidquid  secus  super  his  a  quocunque  quauis  au- 
thoritate, scienter  vel  ignoranter,  contigerit  attentari.  Et  nihilominus  \e- 
nerabilibus  fralribus  nostris  Archiepiscopo  Tranensi  el  Episcopis  Vigor- 
niensi  et  Pisauriensi  mandamus,  quatenus  ipsi,  vel  dúo  aut  vnus  eorum 
per  se,  vel  alium  seu  alios,  authorilate  nostra  faciant  praesentes  Hieras, 
et  in  eis  contenta  quaecunque,  plenum  effeclum  sorliri,  omnesque,  qui 
in  ipsis  literis  comprehenduntur,  earum  effectu  pacifice  frui  et  gaudere ; 
nec  permittant  eorum  quemquam  desuper  contra  earumdem  praesentium 


m  CORK)  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tenorem  quomodolibet  molestan,  impedid,  aut  inquielari :  contradictores 
quoslibet  et  rebelles,  ac  defensionem  huiusmodi  quomodolibet  in  dictis  re- 
gnis,  et  extra  ea  impedientes,  cuiuscunque  dignitatis,  status,  gradus,  or- 
dinis,  vel  condilionis  existant,  etiam  per  quascunque,  de  quibus  eis  pla- 
cueril,  censuras  et  poenas,  appellatione  postposita,  compescendo,  et  ad 
hoc  si  opus  fuerit  inuocando  auxilium  brachii  secularis.  Non  obslanlibus 
piae  memoriae  Bonifacii  Papae  Octaui,  similiter  praedecessoris  nostri,  de 
vna,  et  in  concilio  generali  de  duabus  dietis  edita,  aliisque  Aposlolicis  ac 
generalibus  vel  prouincialibus  conslilutionibus  et  ordinationibus,  statulis 
quoque  el  consuetudinibus,  etiam  juramento,  confirmalione  Apostólica, 
vel  quauis  íirmitate  alia  roboratis,  necnon  priuilegiis,  ¡ndultis  ac  literis 
Apostolicis,  etiam  in  forma  Breuis,  per  quoscunque  Romanos  Pontifices 
praedecessores  nostros,  ac  nos  et  Sedem  Apostolicam,  eliam  motu  pro- 
prio  et  ex  certa  scientia,  ac  de  Aposlolicae  potestatis  plenitudine,  et  cum 
quibusuis  irritatiuis,  annulatiuis,  cassaliuis,  reuocatiuis,  praeseruatiuis, 
exceptiuis,  restitutiuis,  declaratiuis,  mentis  attestatiuis,  ac  derogatoriarum 
derogatoriis,  aliisque  efficacioribus,  efificacissimis  et  insolitis  clausulis  quo- 
modolibet, etiam  pluries,  nunc  et  pro  tempore  concessis,  confirmatis  et 
innouatis,  quibus  eliam  si  pro  illorum  sufficienti  derogatione  de  illis,  eorum- 
que  tolis  tenoribus  specialis  et  indiuidua,  ac  de  verbo  ad  verbum,  non 
aulem  per  clausulas  generales  idem  importantes  mentio,  seu  quaeuis  alia 
expressio  habenda,  aut  exquisita  forma  seruanda  foret,  et  in  eis  caueatur 
expresse  quod  illis  nullalenus  derogari  possit,  illorum  ac  omnium  et  sin- 
gularum  lilerarum  praefatarum,  et  quarumcunque  scripturarum,  occasione 
praemissorum' quomodolibet  confectarum,  tenores  praesenlibus  pro  suffi- 
cienter  expressis,  ac  de  verbo  ad  verbum  inserlis,  necnon  modos  et  for- 
mas ad  id  seruandas  pro  in  indiuiduo  seruatis  habentes,  illis  alias  in  suo 
robore  permansuris,  harum  serie  specialiler  et  expresse  derogamus,  cae- 
terisque  contrariis  quibuscunque. 

Dalum  Romae,  apud  sanctum  Marcum,  sub  annulo  Piscaloris,  die 
vigésimo  Julii  millesimo  quingentésimo  trigésimo  quinto,  Pontificalus  nos- 
tri anno  primo *. 


Impresso  no  Collcclorio  das  Bullas  do  Sánelo  Oflicio  fol.  57  v. 


relacOes  com  a  curia  romana  in 


Breve  fio  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Bei. 


1535  —  Jullio  «6. 


Paulus  papa  ni  charissime  in  christo  íili  noster  salutem  el  aposloli- 
cam  benedictionem. 

Non  dubilamus  iam  tuae  Serenitati  auditam  esse  de  indigna  ac  nii- 
serabili  nece  bonae  memoriae  Joannis  Episcopi  et  Cardinalis  Roffensis, 
tuamque  Maieslalem,  tit  est  omni  piálate  conspicua  et  excellens,  cum  di- 
gnitale  et  sanctitate  hominis,  tum  genere  ipso  et  causa  mortis  uehemen- 
ter  fuisse  commotam.  Nam,  siue  Episcopalem  et  Cardineam  dignitatem,  in 
qua  Sancti  Apostoli  referuntur,  siue  genus  mortis  per  Carnilicem,  siue 
causara  uerilatis  et  iustitiae,  pro  qua  ille  vir  sanctissimus  occubuit,  con- 
sideramus,  omnia  eiusmodi  sunt  ut,  sicut  ab  impiissimo  profecía  sunt, 
ita  pientissimi  Regis  animura  et  aures  grauissime  oífendere  debeant.  Ac 
si  uelimus  Maiestali  tuae  commemorare  initia  et  causas,  quibus  Henricus 
Angliae  Rex  in  tot  scelera  prolapsus  est,  superuacanee  quidem  id  facia- 
mus,  cura  omnia  libi  haud  minus  quam  nobis  nota  sint,  et  moleslissima 
etiam  fuerint  ob  tuam  cum  Serenissimis  Imperatore  et  Rege  Romanorum 
affinilatem,  quorum  Malerteram  ipse  Henricus  vxorem  suam  per  viginti 
amplius  annos  cum  dispensalione  Sedis  apostolicae  habilam,  proleque 
eliam  ex  ea  suscepla,  postmodum,  duela  in  vxorem  Anna  adultera,  a  se 
indignissime  separauit.  Unde  omnium  quidem  malorum  inilium  et  origo, 
dum  Henricus  Adultera  potiri  nescit  nisi  Regina  Contempta,  enim  duo- 
rum  Regum  Materlera  Regisque  Calholici  filia,  ipsam  Annam  mullo  in- 
feriori  alque  humiliori  genere  propria  sua  temeritate  vxorem  duxit,  prae- 
textu  quidem  masculae  habendae  prolis,  Verum,  quod  nolum  ómnibus 
est,  uesano  amore  correptus.  Gumque  haec  et  Sedi  Apostolicae  et  bonis 
ómnibus  displicerent,  vt  debebant,  ille  stalim  hinc  Romani  Pontificis  po- 
(estatem  ac  primalura,  sub  quo  tot  seculis  Regnum  Angliae  fuit,  cuius 
eliam  Reges  illud  Sedi  apostolicae  Tributarium  fecerunt,  negare  et  diífiteri 
cepit.  lnde  quotquot  improbarent  ductionem  Adullerae  capi,  uexari,  car- 
cereque  el  ultimo  supplicio  aüici  fecil.  Atque  hanc  eius  impielatem  loto 


224  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

hoc  triennio  patienter  tulit  vniuersa  chrislianitas  et  haec  Sancta  Sedes 
apostólica,  Quae,  licct  illum  Regem  Feudatarium  habeat,  pastorali  lamen 
clemenlia  tolerauit  haec  tam  indigna,  el  resipiscenliam  ipsius  Henrici  in 
dies  sperando  patienter  expectauit.  Quod  quam  irrilum  cesserit  haec  no- 
uissima  declarant.  Cum  enim  nos  in  ea  Cardinalium  creatione,  quain  pro- 
xime  habuimus,  ipsuui  Roffensem,  ad  ornandam  eius  virtutem  el  Sancli- 
tatem,  in  numerum  Cardinalium  rellulissemus,  spcrantes  eam  dignitatem, 
quae  ubique  haberi  sólita  est  sacrosancta,  non  solum  non  ad  perniciem 
sed  ad  salutem  et  liberationem  eius  esse  ualituram.  In  hac  re  Henricus 
similem  se  esse  uoluit  tum  sui,  qui  mullos  alios  simili  ex  causa  necauit, 
tum  Henrici  secundi  progeniloris  sui,  cuius  odio  et  persecutione  beatus 
Mártir  Thomas  Episcopus  Cantuariensis  occubuit.  Nec  tantum  hic  Hen- 
ricus illius  impietalem  rellulit,  uerum  etiam  longe  superauit ;  ille  enim 
unum,  hic  multo  plures  ;  ille  unius  et  particularis,  hic  vniuersalis  Eccle- 
siae  iura  tuentem  ;  Ule  Archiepiscopum,  hic  etiam  Sanctae  Romanae  Ec- 
clesiae  Cardinalem  neci  tradidit ;  ille  illum  exilio  extrusit,  isle  hunc  diu- 
tissimo  carcere  macerauit ;  ille  percussores  immissil,  iste  Carnificem  ;  ille 
uiolenta  tantum  morle,  isle  etiam  turpi  supplicio  Sanctum  domini  affe- 
cil ;  Ule  denique  purgare  se  Alexandro  ni.0  conalus  est,  culpara  in  alios 
reiecit,  penilentiam  sibi  a  Romano  Pontífice  imposilam  humiliter  susce- 
pil,  hic  obstinatissimo  animo  factura  sceleralum  tuetur,  non  solum  non 
ductus  penilentia,  uerum  peruicax  et  rebellis  hostisque  factus,  non  quia 
unquam  laesus  a  Romana  Ecclesia,  a  qua  etiam  titulo  defensoris  fidei  de- 
coralus  est,  quera  ipse  litulum  ingratissime  ad  offensionem  fidei  retorsit, 
sed  quia  eam  multipliciter  laesil  atque  acerrime.  Cum  igitur,  fili  charis- 
sime,  Sánela  Romana  el  vniuersalis  Ecclesia  magno  uulnere,  dedecore, 
ignominia,  uiolata  sit,  palienliaque  eius  nouas  semper  Henrici  injurias 
prouocauerit,  necessarioque  cauterio  uti,  una  cum  venerabilibus  fratribus 
nostris  Sanctae  Romanae  Ecclesiae  Cardinalibus  decreuerimus  ad  tuam 
Maiestatem,  quae  cum  suis  progenitoribus  semper  iustitiam,  probitatem, 
religionem  coluit,  el  hanc  Sanctam  Sedem,  cuius  honorificentissimum 
membrum  fratrera  suum  habet,  semper  filiali  obseruantia  reuerita  est, 
confugimus,  tuam  opem,  auxiliura  et  fauorem  in  tantis  Ecclesiae  iniuriis 
implorantes,  Teque  per  uiscera  misericordiae  Domini  nostri  Jesu  Christi 
enixe  obsecrantes  ut  cum  uia  iuris  et  iustitiae  dictum  Hcnricum  censurn- 
rum  contemplorera,  atque  in  illis  ultra  biennium  insordescentem,  hereti- 


RELACfJES  COM  A  CURIA  ROMANA  22a 

cum,  Schismaticum,  adulterumque  notorium  publicum  homicidam  et  sa- 
crilegum,  rebellem  et  criminis  laesae  Maiestalis  multipliciter  reuní,  pro- 
ptereaque  dicto  Regno  a  iure  ipso  priualum  declarare  intendamus,  Tu  cum 
Principibus  caeteris,  quorum  opem  pariler  aduocauimus,  executioni  ius- 
titiae  faueas,  sicut  speramus  Te  pro  oplimi  Principis  officio  esse  factu- 
rum.  ín  quo  quidem  tua  Maieslas  non  solum  Deo  omnipotenti  in  defen- 
sione  Ecclesiae  suae  Sancta  gratum  praestabit  obsequium,  uerum  eliam 
Serenissimis  Caesari  et  Regí  Romanorum  tuis  affinibus,  cum  quibus  pa- 
riler tua  Maiestas  ab  Henrico  uiolata  est,  rem  faciet  gratissimam,  Sicut 
haec  plenius  ex  Nuntii  apud  te  noslri  uerbis  ac  tuorum  apud  Nos  oralo- 
rum  litteris  intelliges. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Marcum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
xxvi  Julii  mdxxxv,  Ponlificatus  Noslri  Anno  Primo  —  Btosius1. 


Carta  de  el-Rei  a  O.  Henrique  de  Menezeg. 


Dom  Anrique  amigo,  Eu  el  Rey  vos  envió  muyto  saudar. 

Por  outras  cartas,  e  principalmente  por  esta  deradeira  que  veyo  com 
a  Resolucam  e  detriminacam,  que  o  papa  tomou  sobre  o  perdam  dos 
christaos  novos  e  lmquisicam,  a  que  vos  enviey,  me  emviastes  pedir  por 
merce  que  vos  mandase  vyr  de  laa,  por  verdes  que  nos  negocios  a  que 
vos  enviey  me  nom  podies  asy  bem  servir  como  eu  desejaua,  afora  por 
outras  Rezoes  que  me  apontaveys ;  e  agora  nesta  deradeira  carta  me  di- 
zés  que  o  fizese  por  nom  aver  Remedio  pera  nenhuum  coregimento  do 
que  eslava  feyto.  Por  as  Istrucoes  que  vos  envió  veres  o  que  vos  man- 
do que  juntamente,  dom  martinho  e  vos,  falés  e  digaes  de  minha  parte 
ao  santo  padre  sobre  os  mesmos  negocios,  por  o  aver  asy  por  muyto  ser- 
uico  de  noso  senhor  e  meu  contentamento,  e  por  descargo  do  santo  pa- 
dre. E  por  iso  ey  por  muyto  meu  seruico  que  sobresejaes  em  vossa  par- 

1  Anca.  Nac,  Mac.  17  de  Bullas  n.°  5.  No  Maco  12n°  2í,  guardase  urna  traduc- 
cao  portugueza  deste  breve  com  a  data  de  x  de  julho. 

TOMO  111.  29 


220  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUC.UEZ 

Üda,  e  eslés  la  aínda  mais  tres  meses,  em  que  o  papa  poderá  Responder 
ao  que  agora  Ihe  mando  falar ;  e  no  fym  deles  vos  avisarey  do  que  ou- 
uer  por  meu  seruico  que  facaes,  que  espero  que  será  pera  vos  virdes 
muyto  em  booa  ora.  E  por  certa  ey  que  vos  foy  e  he  causa  de  muyla  pai- 
xam  nom  me  poderdes  asy  bem  servir  como  eu  desejava,  e  que,  se  fora 
asy  como  vos  desejaveis,  nam  senliriies  nenhuuma  fadiga  nem  trabalho 
de  quanto  lendes  pasado  sem  aproveilar.  Sprila  l. 


Carta  de  el-Rei  a  D.  llartiuho  de  Portugal. 


Reverendo  in  christo  padre  Arcebispo  sobrinho  amigo,  Eu  el  Rey 
vos  envió  muyto  saudar  como  aquele  que  muylo  amo,  e  de  cujo  \erluoso 
acrecenlamento  muyto  me  prazeria. 

Vy  a  caria  que  me  sprevesles,  que  veyo  com  a  Resolucam  que  o 
santo  padre  tomou  no  despacho  da  sopricacam,  que  deradeiramenle  fiz 
sobre  o  que  tocava  ao  perdam  dos  christaos  novos  e  imquisicam  ;  e  so- 
bre ambas  as  cousas  me  falasies  nela  largamente,  asy  no  pasado  como  no 
presente,  e  muyto  voló  gradeco.  E  ey  por  certo  que  despacho  tam  des- 
conforme de  minha  sopricacam,  tam  justa  e  onesla,  e  tam  conforme  ao 
bem  d  aquela  materia  pera  noso  senhor  nela  ser  asy  bem  servido,  como 
ele  sabe  que  eu  o  desejo,  nam  seria  por  mingoa  de  niso  nom  fazerdes  e 
trabalhardes  quanto  devies  por  meu  servico  e  vos  fose  posiuel,  e  quanto 
vos  parecese  que  podia  aproveitar  pera  eu  ser  salisfeilo  em  minha  sopri- 
cacam ;  mas  que  seria  por  o  lempo  e  o  modo,  que  se  la  tem  nos  nego- 
cios, vos  nom  dar  mais  lugar.  Eu  acerqua  dos  mandados  do  santo  pa- 
dre estou  com  aquela  obidiencia,  com  que  deue  estar  filho  tam  obediente 
como  lhe  saín  ;  E  porem  pareceo  me  bem  mandar  dizer  a  sua  santidade, 

1  Minuta  sem  data  no  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  38.  Parece-nos  resultar  da 
comparacáo  dos  documentos  que  vamos  publicando,  que  tanto  esta  como  as  seguinlcs  mi- 
nutas pertencem  ao  periodo  em  que  as  collocamos.  Cremos  que  sao  os  despachos  que  clie- 
qaram  a  Roma  no  dia  5  de  setembro,  e  a  que  allude  D.  Martinho  de  Portugal  na  nta 
carta  de  lo  do  mesmo  mez. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  227 

sobre  a  resolucam  que  tomou  nestes  despachos,  o  que  veres  pela  Instru- 
cam,  que  com  esla  vos  envió,  pera  juntamente  vos  e  dom  Anrique  Ihe 
falardes  e  dizerdes  da  minha  parle  :  o  que  vos  encomendó  muyto  e  mando 
que,  loguo  como  esla  virdes,  ambos  facaes  e  insistaes  no  conteudo  na  dita 
minha  Instrucam  com  toda  Instancya,  e  com  lanta  demonstracam  a  sua 
santidade  do  que  niso  diguo  e  aponto,  que  veja  que  nom  he  outra  minha 
tencam,  senam  desejar  que  esta  obra  se  faca  de  modo  que  noso  senhor 
seja  nela  servido  como  o  deve  ser.  Pero,  posto  que  asy  vos  diga  que  o 
facaes,  e  mostrés  todo  desejo  na  brevidade  do  despacho,  asy  o  prosegui- 
ré^ e  aperlarés,  que  se  posa  pasar  lempo  de  tres  meses  sem  detrymina- 
damenle  se  tomar  conclusao  no  que  agora  vos  mando  que  ao  santo  pa- 
dre falés,  porque,  por  alguuns  Respeilos  de  seruico  de  noso  Senhor  e 
meu  contentamento,  o  ey  asy  por  milhor :  e  o  modo  que  tenhaes  pera 
asy  ser  escuso  vos  aponlar,  porque  ey  por  certo  que  o  lomares  e  farés 
asy  como  pera  este  efeilo  compre  a  meu  seruico.  Sendo  porem  avisado  e 
lendo  grande  cautela  que  yslo,  que  vos  digo  desta  dilacam  da  fynal  con- 
clusam  trabalhardes  por  dilatar  o  lempo  dos  ditos  tres  meses,  nam  soo- 
mente  a  nam  digaes  a  pesoa  alguuma,  nem  o  saiba  ninguem  de  vos,  mas 
que  se  nam  posa  presumir  nem  cuydar  que  o  querés,  porque  o  ey  asy 
por  muyto  meu  seruico.  Porem  se  o  sanio  padre,  por  isto  que  agora  Ihe 
avees  de  fallar  pella  yslrucam  que  vos  emvio,  viese  em  me  conceder  o 
que  por  derradeyro  emviey  sopricar  e  pedir  que  se  me  fezese,  o  acey- 
larés,  e  espidirés  disso  as  bulas  e  provisoes  necesarias,  porque  asy  me 
averey  por  muilo  contente. 

ítem.  Eu  Respondo  ao  Cardeal  Santiquatro  a  huuma  caria  que  me 
spreveo,  que  veyo  com  estes  Recados,  pela  qual  muy  compridamenle  me 
deu  conta  de  tudo  o  que  pasara  no  negocio  des  ho  comeco  dele,  e  o  que 
ele  niso  trabalhára  e  fizera,  culpando  o  lempo  em  alguumas  cousas  que 
pasaram,  que  nom  deram  lugar  a  se  fazer  o  que  eu  quería,  E  o  que  agora 
por  deradeiro  se  fizera,  sendo  ele  présenle  no  despacho  por  o  santo  pa- 
dre o  aver  asy  por  bem,  e  lembrando  me  alguumas  cousas  que  Ihe  pa- 
recía acerqua  do  modo  que  eu  devya  ter,  gradecendo  Ihe  tudo  e  o  amor 
que  moslra  ñas  cousas  de  meu  servico,  e  obras  que  nele  faz,  asy  como 
ele  o  merece  e  he  Rezam.  E  nesta  carta  Ihe  digo  que  eu  vos  mando  e  a 
dom  Anrique  huuma  Istrucam  do  que  ao  santo  Padre  ambos  falés,  E  que 
vos  mando  que  lha  amostres  porque  o  ey  asy  por  muyto  meu  servico. 

29* 


228  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTIJGUEZ 

E  de  feyto  vos  mando  que  asy  o  facaes,  porque  confio  dele  que,  em  tudo 
o  que  poder  aproveitar  acerqua  do  que  vos  mando  que  ao  sanio  padre 
falés  pela  dita  minha  Istrucam,  folgará  de  o  fazer.  Pero  da  dilacam  dos 
tres  meses,  que  em  cima  vos  digo,  lhe  nom  darés  parle,  nem  ele  o  sen- 
tirá de  vos  por  modo  alguum  :  e  lende  niso  aquele  boom  Recado  que  de 
vos  confio.  Nem  lhe  mostrares  a  outra  segunda  Istrucam,  que  vos  em- 
vio  pera  vosa  enformacam,  e  pera  o  que  avees  de  fazer  nos  casos  nela 
contyudos. 

ítem.  Se,  depois  de  falardes  ao  santo  padre  o  que  vos  mando  pela 
dita  Istrucam,  vos  parecer  meu  seruico  despachardes  este  coreo,  e  me  fa- 
zerdes  saber  por  ele  o  que  achastes  nele,  e  vos  parece  de  sua  lencam  e 
prepósito,  fazeyo  e  o  manday  secretamente  com  yso  na  brevidade  que 
vos  bem  parecer ;  e,  se  vos  nom  parecer  necesario,  nam  o  facaes,  e  o 
despachares  quando  vos  parecer  meu  servico  o  fazerdes.  E  outra  tal  carta 
como  esta  sprevo  a  dom  Anrique.  Sprita .  . .  .' 


1 11M  i'immmm'.s  ao*  em  Imitadores. 


I 

Instrucam  do  que  parece  que  se  deue  escreuer  aos  embaixadores 
del  Rey  nosso  senhor,  pera  auerem  de  mostrar  ao  santo  padre  da  parte 
de  sua  alteza,  acerqua  da  bulla  do  perdao  dos  cristaos  nouos. 

Primeiramenle  que  a  tencam  de  sua  alteza2  sempre  foy  e  he  fazer-se 
nesta  materia  o  que  mais  for  seruico  de  Déos,  e  o  que  mais  conuem  á 
saluacam  das  almas  destes  nouos  cristaos,  e  de  querer  que  os  mandados 
de  sua  Santidade  e  See  apostólica  seiam  sempre  compridos  e  guardados 


1  Minuta  sem  data  no  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  22. 

2  Está  emendada  para  que  minha  tenram  etc.,  e  tem  idénticas  mudancas  para  a  pri- 
meira  pessoa,  em  todos  os  logares  onde  essa  alteracao  é  necessaria  para  poder  ser  pas- 
tada a  limpo  em  nome  do  soberano. 


RELACÓES  CÜM  A  CURIA  ROMANA  229 

em  seus  regnos  e  senhorios,  como  filho  obediente  que  he  de  sua  Santi- 
dade  e  da  See  apostólica ;  e  os  inconuenientes  e  rezois,  que  a  sua  Santi- 
dade  enuiou  apresenlar  per  seus  embaixadores,  per  a  dicta  bulla  do  per- 
dao nom  auer  efecto,  nem  se  execular  na  forma  em  que  foy  concedida 
pelo  santo  padre  Clemente  vn  seu  antecessor,  sam  a  fim  que  sua  Santi- 
dade,  melhor  enformado  do  caso,  e  do  que  conuem  a  seruico  de  Déos  e 
saluacam  das  almas  dos  sobredictos,  queira  emendar  a  dita  forma  da 
bula  do  perdao,  e  conceder  na  forma  que  por  parle  de  sua  alteza  se  pede, 
por  asi  lhe  parecer  que  conuem  mais  a  se  conseruar  a  fee  chatolica  em 
estes  seus  regnos  e  senhorios. 

E,  segundo  ora  parece  pelo  breue  que  sua  Sanlidade  a  sua  alteza  es- 
creueo,  e  asi  pelo  que  a  seu  nuncio  enuiou,  sua  Santidade  ha  por  bem 
que  a  bula  do  perdao  concedida  pelo  papa  Clemente  se  dé  á  execucam, 
e  que  sua  alteza,  como  obediente  filho  seu  e  da  See  apostólica,  sempre 
averá  e  ha  por  bem  que  seus  mandados  seiam  obedecidos,  e  se  cumpram 
inteiramente  em  seus  regnos  e  senhorios,  como  ácima  dito  he.  E  porem 
que  sua  Sanlidade  veia  a  carga  que  neste  caso  quer  tomar  sobre  sua 
consciencia,  porque  sua  alteza  tem  inleira  enformacam,  asi  da  calidade 
desta  gente  como  do  seu  modo  de  uiuer,  e  asi  de  sua  conuersam  ;  e  man- 
dou  per  muilas  \ezes  ver  a  dicta  bula  e  forma  dclla  per  prelados  e  le- 
trados acaz  doctos,  e  de  boa  fama  de  \ida  e  consciencia,  e  que  tem  ex- 
periencia do  modo  de  uiuer  e  calidade  desta  gente  e  de  sua  conuersam, 
e  em  que  nao  cabe  suspecta  de  quererem  dizer  o  que  nam  deuem,  e  al- 
guns  delles  pesoas  religiosas ;  e  sempre  lhe  foy  dicto  qjue  a  forma  do  dicto 
perdao  da  bula  do  santo  padre  Clemente  vil,  da  boa  memoria,  nom  era 
conuenienle  pera  o  que  compre  a  seruico  de  Deus,  e  aumento  e  conser- 
uacam  da  fee  chatolica,  e  saluacam  das  almas  destes  nouos  crislaos ;  e 
que  se  seguem  della  muilos  inconuenientes,  como  ja  per  seus  embaixa- 
dores e  apontamentos  de  sua  parte  foy  a  sua  Sanlidade  apresentado :  e 
pelo  que  sua  alteza  lem  visto  e  entendido  deste  caso,  nom  ousaria  tomar 
sobre  sua  consciencia  auer  de  dar  conta  ao  sumo  deus  que  tal  forma  de 
perdao  per  seu  prazer  e  consentimento  se  executára  em  seus  regnos  e  se- 
nhorios. E  quando  em  todo  caso  sua  Santidade  asentar  que  se  cumpra  a 
dicta  forma  de  perdao,  e  asi  ouuer  por  bem,  será  sobre  sua  conscien- 
cia, porque  sua  alteza  neste  caso,  como  Rey  chatolico  e  muilo  obediente 
a  sua  Sanlidade  e  see  apostólica,  tem  feito  o  que  deuia  fazer  como  chris- 


230  GÜKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUtiUEZ 

tao  pela  fee  do  cristo  Jesu  nosso  saluador,  que  he  representar  os  dictos 
inconucnienles  c  causas,  pelas  quais  a  dicta  bula  se  nam  deuia  comprir 
na  forma  em  que  está,  a  sua  Santidade,  a  quem  pertence  no  caso  pro- 
uer  como  vigairo  de  nosso  saluador  e  senhor  Jesu  christo  ;  e  o  desseruico 
de  Deus  e  detrimento  das  consciencias  destes,  e  escándalo  do  pouo  crisláo 
que  se  disso  seguir,  norn  caregará  sobre  a  consciencia  de  sua  alteza. 

E  quanto  ao  que  sua  Santidade  escreue  a  sua  alteza  no  dicto  bre- 
ue,  que  lhe  enuiou,  que  estes  cristáos  nouos  per  seu  certo  nuncio  !he  pe- 
dem  este  perdam,  se  diz  que,  se  forem  pergunlados  os  cristáos  nouos 
desle  regno  todos  singularmente,  nao  ha  nenhuum  que  diga  que  enuiase 
pedir  tal  perdao  a  sua  Santidade,  confesándose  por  culpado,  antes  todos 
negarám  serem  culpados;  nem  se  eré  que  o  que  pede  este  perdao  a  sua 
Santidade  tenha  poder  nem  procuracam  desla  gente,  nem  da  centessima 
parle  delta,  per  que  lhe  dem  poder  pera  pedir  tal  perdao  confesando  suas 
culpas;  e  se  tem  procuracam  dalguns,  dése  o  perdao  aos  que  o  pedirem 
nomeadamente,  confesando  seus  erros,  e  aos  de  quem  elle  expresamente 
mostrar  procuracam  pera  pedir  perdao  de  laes  erros :  mas  perdoar  no 
foro  contencioso  da  igreja  ao  que  nom  pede  perdam,  nem  se  quer  mos- 
trar á  dita  igreja  por  culpado  nem  arependido,  constando  á  igreia  no  foro 
exterior  que  he  culpado,  e  emcorporallo  aa  igreia  e  aa  comunicacam  dos 
sacramentos,  temdo  certeza  de  como  he  ereje  e  membro  apartado,  sem 
leer  sabido  como  he  tornado  aa  fee,  como  ja  foy  dito  nos  outros  aponta- 
mentos,  Parece  muito  grande  incomveniente. 

E  ao  que  sua  Santidade  outro  si  no  dito  breue  diz,  que  pello  dito  seu 
mesegeiro  cmviaram  os  christaos  nouos  mostrar  certos  pactos  comvencas  e 
priuilegios,  que  lhes  foram  comcedidos  per  el  Rey  dom  manuel,  que  deus 
tem,  pay  de  sua  alteza,  e  por  sua  alteza  comfirmados,  com  segu ramea  dos 
quacs  se  diz  que  elles  alee  ora  leverao  ousadia  de  pecar,  e  que  a  fee  Real 
deue  ser  firme:  nos  primeiros  annos  de  sua  conuersam,  porque  podiam 
pecar  por  inaduertencia,  pouco  insino  que  ainda  tinham  da  fee,  ecostume 
em  que  estavam  da  obscruancia  da  ley  dos  judeus,  nam  pareceo  muito 
incomveniente  comsederem  se  lhe  alguns  fauores ;  mas  depois  de  tamlos 
annos  e  tempos  que  ha  que  sam  chrislaos,  e  que  os  que  pecam  o  fazem 
per  malicia,  nam  parece  que  se  lhes  deuem  comceder  priuilegios  nem  li- 
berdades  pera  lhes  dar  ousadia  de  persistirem  em  seus  erros,  mas  quamlo 
mais  fauor  lhe  foy  feito  de  que  mal  vsaram,  tamlo  mais  se  deue  ora  de 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  231 

ter  modo  como  ao  diamte  bem  viuam,  e  do  pasado  mostrem  arrepemdi- 
mento  e  conhecimenlo,  em  modo  que  os  fiéis  christaaos,  que  os  vyram 
mal  viuer,  vejara  como  moslram  aparlarem  se  de  seus  erros. 

Maiormente  que  dos  ditos  priuilegios,  posto  que  valiosos  foram,  o 
que  nam  he,  e  aimda  ora  duraram,  se  deueram  revogar,  pois  eram  taes 
que  dam  ousadia  de  pecar,  E  de  os  ditos  chrislaos  novos  persistirem  em 
seus  errores ;  e  nam  parece  que  se  deles  se  deuia  tomar  ocasiom  pera  per 
sua  Samüdade  se  comceder  tam  largo  perdam  dos  ditos  erros  em  tal  for- 
ma, como  he  a  em  que  se  comcedeo. 

E  quamdo  sua  Samüdade  esta  carga  quiser  tomar  sobre  sua  com- 
ciencia,  e  mandar  que  todavía  se  cumpra  a  dita  bula  do  perdam  na  dita 
forma,  nam  deue  sua  Santidade  mandar  em  modo  alguum  que  o  nuncio 
seu,  nem  outra  pesoa  alguma  eslramgeiro  que  nam  seja  natural  destes 
Reinos  e  em  elles  morador,  seja  executor  da  tal  bula,  porque  ysto  ha  sua 
alteza  por  muito  graue,  e  cousa  de  desseruico  de  déos  e  grande  perjuizo 
de  seus  Reinos.  E  seria  fazer  injuria  aos  perlados  e  pesoas  eclesiásticas 
e  Religiosas  dos  ditos  regnos,  avenido  em  elles  muitos  de  grande  com- 
fianca  de  vertudes  e  letras,  E  que  por  experiemcia  sabem  o  que  pera  o 
caso  compre  que  se  faca.  E  cometer  o  semelhanle  caso  a  pesoa  estram- 
geyro  e  nam  natural,  he  fazer  nestes  Regnos  de  sua  alteza  o  que  se  nam 
fez  em  outro  Regno  alguum,  porque  os  semelhamtes  cargos  sempre  a  see 
apostólica  cometeo  aos  naturaes  e  moradores  dos  Regnos.  E  sua  alteza  es- 
pera de  sua  Santidade,  pela  grande  obediemcia  que  elle  e  estes  Regnos 
tem  a  sua  Santidade,  e  seus  antecesores  sempre  teueram  aa  see  apostó- 
lica, gracas  e  fauores  especiaes,  e  nam  que  se  faca  especialidade  em  sen 
desfauor.  Pello  qual  sua  Santidade  em  todo  caso  deue  cometer  todo  o  que 
tocar  a  esta  materia,  asy  do  perdam  como  da  inquisicao,  a  pesoas  natu- 
raes do  Regno  e  em  elle  moradores. 

E  as  causas  e  incomuenienles,  per  que  se  nam  deuem  comeler  os 
taes  negocios  a  pesoas  estrangeiros,  já  foram  ditas  nos  outros  apontamen- 
tos  e  per  elas  se  podem  ver.  E,  alem  das  que  se  diseram,  ha  outras  que 
por  onestidade  se  nam  escreuem. 

ítem.  Cumpre  a  seruico  de  deus  e  bem  do  pouo  que  as  pesoas,  que 
os  taes  caregos  nesle  Reyno  ham  de  ter,  sejam  naturaes  e  moradores  de- 
les, pera  que,  fazemdo  o  que  nam  deuem,  posam  ser  Repremdidos  per 
sua  alteza,  e  tenham  temor  de  catrera  de  sua  graca  c  Ihe  ser  eslranhado, 


232  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ho  quall  temor  nam  cabe  nos  estramgeiros :  pellas  quaes  causas  em  todo 
caso  nam  se  deue  aceptar  que  sua  santidade  cometa  esta  materia,  asy  do 
perdam  como  da  inquisicam,  ao  nuncio  nem  a  outra  pesoa  estramgeira  ; 
e  sua  santidade  deue  dauer  por  bem  nam  querer  nisto  fazer  agrauo  a 
sua  alteza  e  a  estes  Reinos,  tam  obedientes  a  elle  e  á  see  apostólica. 


II 

Parece  que  ho  que  se  deue  escreuer  aos  embaixadores  de  sua  alteza 
sobre  a  materia  do  perdam,  que  o  papa  concede  aos  chrislaos  nouos,  e 
sobre  a  inquisicao  que  por  parte  de  sua  alteza  se  pede,  pera  os  ditos  em- 
bayxadores  terem  pera  sua  instrucam,  e  dezerem  ao  samto  padre  da  parte 
de  sua  alteza,  lie  o  seguinte. 

ítem.  Primeiramenle  que  elles  emviaram  a  sua  alteza  huma  menuta 
da  forma  em  que  dizem  que  ora  o  santo  padre  comcede  o  dito  perdam, 
nao  semdo  a  bula  do  perdam  do  papa  Clemente  pobricada,  Porque,  semdo 
pobricada,  dizem  que  nam  emtemde  ho  jsamto  padre  de  se  mudar  déla 
cousa  alguma,  mas  quer  que  se  execute  e  aja  effeito :  e  escreuem  per 
cota  ao  pee  da  dita  menuta  que  erntemdem  os  auditores  por  pobricacam 
ser  a  dita  bula  de  Clemente  noteficada  aos  perlados,  E  que  nisto  de  po- 
bricada ou  noteficada  e  nota  a  todos  nam  fazem  defFeremca  ;  E  que,  se 
Sua  Alteza  acepta  a  forma  desta  menuta,  que  lhe  emvie  per  maao  do 
nuncio  asinado  lodo  ho  que  he  feito,  pera  que  seja  claro  e  nam  aja  Iaa 
niso  duuida. 

Ao  que  se  Respomde  que  o  nuncio  mandou  a  copia  e  trelado  da  dila 
bula  do  papa  Clemente  aos  arcebispos  e  bispos  ordinarios  do  Regno,  o 
que  fez  sem  dar  comía  diso  a  Sua  Alteza  amte  que  o  fizese,  a  qual  cousa, 
se  se  ha  por  pobricacam,  la  he  jaa  isto  muito  bem  sabido  por  cartas  do 
dito  nuncio.  E  poslo  que  as  ditas  copias  fosem  per  elle  nuncio  cmviadas 
aos  ditos  ordinarios,  nam  foram  porem  pobricadas  ao  pouo  nem  clerezia 
ñas  ígrejas,  nem  nos  Juizos  nem  em  outro  alguum  lugar  pubrico,  nem 
vieram  á  noticia  do  dito  pouo.  E  da  dita  bula  de  Clemente  se  nao  vsou 
em  caso  alguum,  nem  com  pesoa  alguma,  antes  ho  mesmo  nuncio  man- 
dou per  seus  mesmos  mandados  aos  ditos  ordinarios  que  nam  publicascm 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  233 

as  dilas  letras  de  Clemente,  nem  vsasem  délas,  nem  procedesem  a  exe- 
cucam per  ellas,  nem  innouassem  por  ellas  nem  contra  ellas  cousa  algu- 
ma,  como  pode  ver  pello  trelado  do  dito  seu  mandado,  que  com  esta  vay. 
E  por  o  negocio  estar  nestes  termos  alee  ora,  E  nam  ser  feita  outra  po- 
bricacam  nem  execucam  por  a  dita  bula,  parece  que  eslaa  em  estado  que 
Sua  Santidade  mais  leuemenle  pode  mudar  a  forma  déla,  que  se  jaa  fora 
feita  alguma  obra  de  execucam  ou  alguma  publica  publicacam. 

E  ser  nota  a  dita  bula  do  perdam  a  muilos  dos  christaos  nouos,  E 
asy  a  alguuns  dos  chrislaaos  velhos,  ja  dias  ha  que  ho  he,  e  amte  que 
dom  amrique  desle  Reino  parlise ;  Porem  a  tall  noticia  a  mais  déla  he 
d  ouuida  e  de  fama,  e  poucos  a  sabem  de  vista  e  certa  sabedoria.  E  pois 
o  negoceo  pasa  desla  maneira,  e  laa  he  yslo  muito  sabido  asy  por  as  di- 
las  cartas  do  nuncio  como  por  outras  vias,  bem  se  pode  tomar  conclu- 
sam  se  ham  a  dita  bula  do  Clemente  por  poblicada  ou  nam. 

E  porque  dom  amrique  diz  em  sua  carta  que,  nam  temdo  o  nuncio 
comecado  a  execucam  da  dita  bula  do  papa  Clemente,  se  cometerá  o  ne- 
gocio a  quem  Sua  Alteza  ordenar,  em  que  vay  muito,  porque  em  todo 
caso  nam  conuem  nem  se  deue  aceptar  que  a  execucam  da  bula  do  per- 
dam, em  qualquer  forma  que  venha,  se  faca  per  ho  nuncio,  nem  per  ou- 
tro  nenhum  estrangeyro,  como  largamente  vay  dito  nos  apomtamentos 
que  ora  vam  ;  pois  ho  nuncio  nam  fez  obra  alguma  de  execucam  mais 
que  mandar  a  copia  aos  ditos  ordinarios,  deue  se  cometer  a  execucam  da 
bula  do  perdam,  na  forma  em  que  per  deradeiro  se  asemtar  que  se  com- 
cede,  aa  pesoa  que  Sua  Alteza  lem  nomeado,  e  nam  ao  dito  nuncio  nem 
a  outro  estrangeiro  alguum.  E  nisto  se  deue  insistir  per  todos  os  modos 
posiueis,  e  dizer  a  Sua  Santidade  que  Sua  Alteza  nam  espera  que  Sua 
Santidade  lhe  queira  fazer  agrauo,  como  se  diz  nos  ditos  apontamentos 
que  ora  vam. 

ítem.  Deue  se  ter  aduertencia  gramde,  quando  o  samto  padre  qui- 
ser  mudar  a  forma  da  dita  bula  do  perdam  do  papa  Clemente,  ao  modo 
e  forma  em  que  a  muda  ;  Porque  a  forma  desla  menuta,  que  ora  ca  em- 
viaram,  parece  em  algumas  cousas  mais  larga  aos  christaaos  nouos  que 
a  dita  bula  do  papa  Clemente  ñas  cousas  seguintes,  que  sam  de  muita 
importancia. 

A  saber :  Porque  na  bula  do  papa  Clemente  diz  que  os  comdenados 
recomciliados  relapsos,  que  se  senlirem  agrauados,  venham  ao  nuncio 

TOMO  III.  30 


23  í  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

executor  pera  ouuir  suas  causas  de  nouo  ;  E  nesta  menuta  Ihe  da  juizes 
a  escolher,  porque  diz  que  ho  agrauado  pello  Inquisidor  se  vaa  ao  ordi- 
nario, e  ho  pollo  ordinario  ao  metropolitano,  E  o  agrauado  pollo  metro- 
politano ao  ordinario,  que  pera  iso  escolher :  asy  que  estes  comuerti- 
dos  de  quaremta  annos,  e  seus  descemdemtes,  tcm  per  esta  menuta  mais 
larga  faculdade  nesle  passo  que  pella  bulla  do  Clemente. 

ítem.  Na  dita  bula  do  Clemente  diz  que  os  comdenados  acusados 
recomceliados,  se  tornarem  a  pecar,  sejam  ponidos  como  relapsos ;  po- 
rem,  prouamdo  que  foram  comuertidos  per  forca,  nam  seram  castigados 
como  relapsos :  E  esta  menuta  enade  que  posam  prouar  esta  forca  pe- 
rante  qualquer  ordinario  que  escolherem,  o  que  dará  causa  pera  se  po- 
derem  fazer  as  prouas  aa  sua  vomtade. 

ítem.  Na  bulla  do  Clemente  diz  que  os  infamados,  cuja  infamia  per- 
vier  aas  orelhas  do  nuncio  executor  déla,  nam  sejam  perdoados  per  soo 
comfisam  sacramental ;  mas  sejam  obrigados  a  se  compurgar  com  duas 
ou  tres  testemunhas  idonias,  que  escolherem,  ou  abjurar  as  eresias  e  se 
recomciliar :  E  aínda  no  breue,  que  o  dito  santto  padre  Clemente  escre- 
ueo  a  Sua  Alteza  sobre  a  justificacam  da  dita  bula,  se  comlhem  que  os 
de  que  ouuer  graues  sospeitas  nam  sejam  perdoados  por  soo  a  dita  confi- 
sam  5  mas  sejam  obrigados  a  se  compurgar  solenemente  ou  se  Recomce- 
liarem  abjurando  as  eresias.  E  per  esta  menuta  parece  que  lodos  os  in- 
famados, e  os  comtra  quem  ha  graues  sospeitas,  sam  perdoados  per  soo 
confisam  sacramental,  saluo  quamdo  sam  comdenados,  ou  quamdo  seus 
delitos  sam  em  juizo  a  todos  notoriamente  prouados.  E  neste  capitulo 
esta  menuta  he  sem  comparacam  muito  mais  larga  aos  christaos  nonos 
que  a  forma  da  bula  do  Clemente;  e  isto  importa  muito  mais  que  todas 
as  lemitacoes,  que  a  dita  menuta  dá  aa  bula  do  Clemente,  e  parece  que  se 
lhe  concede  nesta  o  que  Ihe  desfaleceo  na  dita  bula  do  Clemente. 

ítem.  A  dita  bula  do  papa  Clemente  manda  que  as  causas  das  es- 
cusacóes  se  aleguem  peramte  o  nuncio  executor :  c  esta  menuta  lhe  da 
lugar  que  estas  causas  das  escusacóes  posam  alegar  peramte  qualquer  or- 
dinario que  escolherem  ;  E  porem  que  ho  executor  as  emvie,  sob  seu  si- 
nall  e  sello,  aa  see  apostólica  :.  e  asy  lhe  dá  muito  maior  largueza. 

ítem.  Na  dita  bula  diz  que  aos  Recomciliados  ho  executor  commule 
as  penitencias,  como  os  inquisidores  podem  fazer :  E  nesta  menuta  diz 
que  aos  ditos  comuertidos  de  quaremta  annos  a  esta  parte,  E  a  seus  de- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  235 

cemdemles  Recomciliados,  se  Ihe  commutem  as  penitencias  em  obras  pias 
secretas. 

ítem.  He  mais  larga  a  forma  desta  menula  em  dizer  que  os  que  es- 
teuerem  fora  do  regno,  do  dia  que  a  bulla  vier  a  sua  noticia  a  x  dias, 
comfesamdose  a  seu  cura  ou  a  sacerdote  conhecido,  gozem  da  forma  déla, 
posto  que  lia  nam  seja  a  dita  bula  pobricada  :  por  as  quaes  causas  nam 
se  deue  d  aceptar  a  forma  desta  menula. 

E  segundo  parece  pellas  cartas,  que  elles  embajadores  tem  escri- 
tas a  Sua  Alteza,  o  papa  Clemente,  que  a  dita  bula  primeiro  comcedeo, 
estaua  em  comceder  que  se  Reuogase  a  bula  do  perdam  e  a  da  Inquisi- 
cao, e  se  tornase  a  tratar  a  materia  de  nouo.  E  segumdo  se  ora  comcede 
a  inquisicao,  como  parece  pellos  capitolios  que  emviarara  do  que  se  nam 
comcede  e  enade  de  nouo,  he  milhor  pera  ho  que  cuüipre  ao  seruico  de 
Deus  nam  aver  hy  bula  de  Inquisicao,  E  os  ordinarios  procederem  em  suas 
dioceses  como  pellos  sagrados  cañones  podem  fazer  e  sam  obrigados.  E 
asy  seria  milhor  nam  aver  hy  bula  de  perdam  nem  de  Inquisicao,  como 
o  papa  Clemente  comcedia,  se  Sua  Alteza  em  isso  se  deterniinase  ;  o  que 
noso  senhor  o  samlo  padre  parece  que  nam  deuia  negar,  se  Sua  Alteza 
o  pedise,  pois  o  papa  Clemente  lho  concedía. 

E  acerca  da  Inquisicam  na  forma  em  que  se  comcede  pellos  ditos 
capitolos  nam  se  deue  aceptar,  E,  como  estaa  dito,  he  mais  seruico  de 
Deus  que  os  ordinarios  procedam  segumdo  forma  do  direilo  canónico, 
porque  o  capitulo  que  ora  enadem,  em  que  diz  que  se  proceda  nestes  cri- 
mes  de  eresia  por  sete  annos  como  nos  outros  crimes  e  débelos,  abasta 
pera  se  nam  poder  fazer  justica :  porque  nos  outros  crimes  e  delitos  no 
foro  ecclesiaslico  apella  se  dos  bispos  pera  os  arcebispos,  e  dos  arcebispos 
pera  a  see  apostólica,  asi  das  interlucalorias  como  das  senlencas  defini- 
tiuas,  E  aas  vezes  loguo  immediatamenle  pera  a  se  apostólica  das  ditas 
sentencas  e  inlerlucatorias ;  E  se  nestes  crimes  de  eresia  podesem  apelar 
e  trazer  juizes  apostólicos  fauoraueis,  como  se  faz  nos  outros  crimes,  nam 
se  poderá  fazer  justica  em  modo  alguum  :  e  per  dereito  comuum  das  sen- 
tencas  definitiuas,  por  as  quaes  os  condenados  sam  declarados  por  ere- 
jes,  depois  da  lall  declaracam  nam  se  pode  apelar,  posto  que  das  inter- 
lucatorias  amte  da  tal  declaracam  se  apele. 

ítem.  Concédese  que  lhe  sejam  os  nomes  das  teslemunhas  pubrica- 
dos  indistintamente,  o  que  oulrosi  será  causa  que  nam  posa  comtra  elles 

30* 


236  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

aver  testemunhas  d  aqueles  que  podem  saber  a  verdade,  e  tem  mais  re- 
zam  de  a  saber  per  familiaridade.  E  outros  incomvenienles  se  seguem  do 
dilo  capitulo,  avendose  de  proceder  como  nos  outros  crimes. 

E  as  outras  lemilacoes,  que  querem  dar  aa  bula  da  inquisicao  do 
Clemente,  e  tórnala  aos  termos  do  direito  comuum,  tolerarse  hiam  ;  mas 
derogar  o  direito  comuum  parece  forte  cousa,  pois  Sua  Santidade  quer 
que  aja  inquisicam. 

Acerca  das  confiscacóes  das  fazendas,  ja  Sua  Alteza  he  comtemte  que 
per  espaco  de  sete  anos  se  nam  comíisquem,  como  ja  vay  declarado  nos 
derradeiros  apontamentos  que  foram,  exceptos  certos  casos,  scilicet,  ti- 
rando as  fazendas  dos  que  manifeslamente  morerem  erejes  em  suas  per- 
fias  de  judeus  ou  outros  errores.  ítem  :  as  fazendas  dos  que  se  absemlarem 
dos  Reinos  e  Senhorios  de  Sua  Alteza  e  forem  comdenados.  ítem  :  as  fa- 
zendas dos  que  ora  sam  absemles,  que  nam  vierem  pedir  reconceliacam 
em  lempo,  procedemdose  contra  elles  segundo  forma  de  direito,  e  semdo 
condenados  perderám  suas  fazendas,  segundo  disposicam  do  dito  direito. 
ítem  :  as  fazemdas  dos  que  pecarem  depois  da  pobricacao  da  bula  e  se 
Recomceliaram,  se  tornarem  depois  de  Recomceliados  a  pecar,  no  que  se 
lhe  faz  acaz  de  fauor.  Mas  comceder  se  indistintamente  que  por  dez  an- 
nos  se  nam  comíisquem  suas  fazemdas,  e  pasados  os  x  annos  aínda  ad 
beneplacitum  sedis  apostolice,  parece  causa  que  dará  a  estes  grande  ou- 
sadia  de  pecar,  sabemdo  que  nam  perdem  suas  fazemdas,  e  que  ham  de 
ficar  a  seus  erdeiros. 

E,  segumdo  parece  per  huma  carta  do  arcebispo  dom  martinho  acerca 
da  forma  da  bula  da  inquisicam,  o  papa  Clemente  nam  somente  comce- 
dia  a  dita  Imquisicao  na  forma  em  que  estaua  concedida ;  mas  aínda  que- 
ría comceder  mais  algumas  clausulas  das  que  se  pedem  por  parte  de  Sua 
Alteza,  posto  que  fosem  comtra  a  desposicao  do  direito  canónico :  e  Sua 
Alteza  nam  espera  que  ora  o  samto  padre  comceda  menos  do  que  o  papa 
Clemente  lhe  concedía. 

E  trazerem  se  em  argumento  os  priuilegios,  que  eIRey  que  deus  tem 
comcedeo,  pera  ora  se  comceder  per  Sua  Santidade  que  se  proceda  nes- 
tes  crimes  de  eresia  e  apostasia  de  fee  como  nos  outros  crimes  comtra  es- 
tes chrislaos  nouos,  e  que  nam  percam  suas  fazendas,  nam  parece  re- 
zam  ;  porque,  posto  que  os  taes  forao  valiosos  e  se  poderam  dar  por  o 
dito  senhor,  o  que  nam  he,  e  aimda  que  ora  durarao,  se  deueram  Reuo- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  237 

gar  por  serem  contra  juslica  e  rezao,  e  taes  que  dam  ousadia  de  pecar, 
maiormente  que  ainda  no  tempo  que  os  dilos  priuilegios  foram  dados, 
pello  pouco  tempo  que  avia  que  esta  gemle  se  cornverlera,  avia  alguma 
ocasiom  a  se  nam  guardar  em  elles  a  desposicao  do  direilo ;  mas  agora 
que  ha  quarenta  annos  que  sam  bautizados,  e  sabem  muito  bem  nosa  fee 
calholica  se  a  quiscsem  guardar,  e  nam  pecam  per  ignorancia,  mas  per 
malicia,  nam  ha  rezam  pera  que  taes  liberdades  se  Ihe  comcedam. 

Estas  e  outras  cousas,  que  ao  caso  parecerem  convenientes,  dirao 
os  embaixadores  a  Sua  Santidade,  e  trabalháram  que  asy  a  forma  da  in- 
quisicáo  e  do  perdam  se  emmende ;  e  Sua  Alteza  espera,  pela  grande  obe- 
diencia e  amor  que  lem  a  Sua  Santidade  e  á  see  apostólica,  que  Sua  San- 
tidade queira  lomar  alguum  boom  meo  e  comclusam  nesles  negocios,  pois 
o  que  se  pede  he  pera  seruico  de  Deus,  e  conseruacam  de  nosa  santa  fee 
catholica  K 


Carta  de  el-Rei  ao  Papa  Paulo  III. 


Muylo  Santo  in  christo  padre  e  muyto  bem  auenturado  senhor,  o 
voso  devoto  e  obediente  íilho  dom  Joham  etc.,  com  toda  humildade  em- 
vio  beijar  seus  santos  pees. 

Muyto  Santo  in  christo  padre,  e  muyto  bem  aventurado  senhor,  eu 
sprevo  e  mando  a  dom  martinho  etc.,  e  a  dom  Anrique  de  meneses  etc., 
meus  embaixadores,  que  falem  a  Vosa  Santidade  alguuas  cousas  acerqua 
de  mandar  hyr  de  meus  Reinos  ao  nuncio  bispo  de  Senogalha.  Soprico 
e  peco  muyto  por  merce  a  Vossa  Santidade  que  os  queira  ouuir,  e  em 
todo  o  que  acerqua  diso  de  minha  parte  lhe  diserem,  lhe  dar  inleira  fee 
e  crenca,  e  niso  fazer  o  que  lhe  envió  sopricar  e  pedir :  e  recebeloey  de 
Vosa  Santidade  em  muy  singular  merce. 

Muyto  Sánelo  etc.  \ 

1  Minuta  sem  data  no  Akch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  1,  n.°  29.  Tem  urna  cota  que  diz : 
Istrucam  que  fizeram  os  leterados.  O  segundo  parecer  está  em  separado  na  Gav.  13, 
Mar.  8,  n.°  2. 

2  Minuta  sem  data  no  Arch.  Nac.  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  24.  Esta  carta  de  crenca 


238  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTUGUEZ 


Carta  de  el-Rei  a  D.  llartiiiho  de  Portugal. 


Reverendo  in  chrislo  padre  Arcebispo  sobrinho  amigo,  Eu  eIRey 
vos  envió  muylo  saudar  como  aquele  que  muyto  amo,  e  de  cujo  vertuoso 
acrecentamenlo  muyto  me  prazeria. 

Vendo  eu  o  muylo  tempo  que  ha  que  eslaa  ern  meus  Reinos  o  nun- 
cio bispo  de  Seuogalha,  que  a  eles  enviou  o  papa  Clemente,  que  santa 
gloria  aja,  da  louuada  memoria ;  e  como  da  sua  estada  ca  mais  nam  ha 
necesidade  pera  as  consciencias  dos  fiéis  chrislaos,  nem  pera  outro  efeyto 
de  servico  de  noso  Senhor,  nem  vtilidade  da  santa  see  aposloliqua,  an- 
tes pela  ventura  mais  toruacam  do  que  outra  cousa  proveitosa ;  me  pa- 
receo  bem,  e  servico  de  noso  Senhor  e  muyto  meu  contenlamento,  en- 
viar pedir  e  sopricar  ao  santo  padre  que  por  estas  causas,  que  a  sua  San- 
lidade  devem  parecer  justas  e  oneslas,  como  sam,  que  lhe  mande  que 
nam  estee  ca  mais  e  se  vaa  logo:  pelo  qual  vos  encomendó  muyto  e 
mando  que  vos  e  dom  Anrique  juntamente,  pela  carta  de  Crenca  que  com 
esta  vos  envió,  falés  de  minha  parte  ao  papa  e  lhe  dizee  que,  pelas  cau- 
sas sobreditas  que  lhe  Relatares,  sopriquo  e  peco  muyto  por  merce  a  sua 
Santidade  que  lhe  mande  que  logo  se  parta  e  nom  estee  ca  mays ;  e  que 
aja  por  certo  que  fará  cousa  de  muyto  seu  louuor,  e  em  que  a  mym  fará 
syngular  merce.  E  se  pela  ventura  sua  Santidade  por  estes  motivos  que 
digo  se  nom  mover  a  o  fazer,  e  poser  niso  impedimento,  de  maneira  que 
vos  pareca  que  estaa  em  prepósito  de  a  esta  minha  sopricacao  nom  sa- 
tisfazer,  e  o  quer  dilatar,  Nesle  caso,  que  eu  nom  espero,  entam  por  de- 
radeiro  lhe  dirés  que  eu  vos  mandey  que  sopricaseys  a  sua  Santidade  a 
yda  do  dito  nuncio  de  ca  pelos  motivos  sobre  ditos ;  e  que,  por  sua  San- 
tidade se  nom  mover  por  eles  a  salisfazer  a  minha  sopricacam,  lhe  so- 
priquo e  peco  por  merce  que  se  mova  pelos  oulros  de  que  dentro  nesta 

acha-se  junta  aos  Apontarncntos  de  3  de  setembro  de  4534,  que  publicamos  a  pag.  111 
deste  rnlume ;  mas  evidentemente  destocada. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  239 

vos  envió  huum  memoryal  que  lhe  apresentarés,  pelos  quaes  ey  por  muy 
certo  que  sua  Santidade  nom  averá  por  bem  sua  estada  ca  mais,  os  quaes 
eu  quisera  escusar  de  noíeficar  a  sua  sanlidade,  e  ho  nam  pude  leixar  de 
fazer,  pois  pela  minha  primeira  sopricacam  sua  Santidade  nom  quis  sa- 
lisfazer  a  minha  sopricacam.  E  que  este  modo  vos  mandey  que  tiveseis 
neste  negocio,  confiando  porein  que  sua  Santidade  a  minha  primeira  so- 
pricacam folgase  de  satisfazer,  por  ser  tam  justa  e  onesta,  e  tam  digna 
de  sua  Sanlidade  me  conceder.  E  dhuuma  maneira  ou  doutra  trabalhay 
como  o  nuncio  nom  estee  ca  mais. 

ítem.  Yenha  mandado  de  sua  Santidade  que  logo  se  vaa,  e  a  provi- 
sam  diso  me  manday  por  coreyo  propio,  ou  por  outra  vía  se  coreo  pro- 
pio nom  fazerdes,  porque  venha  ho  Recado  diso  em  toda  diligencia.  E  po- 
rem,  quanto  posyuel  vos  for,  trabalhay  por  que  o  santo  padre  venha  em 
mandar  que  o  nuncio  se  vaa  de  ca  pelos  primeiros  fundamentos  desta 
carta;  porque  as  causas  do  memorial,  que  vos  emvio,  nam  querya  que 
pasaseis  senam  quando  d  oulro  modo  se  nam  pódese  fazer  e  acabar  sua 
yda  de  ca.-|-E  outra  tal  carta  como  esta  sprevo  a  dom  Anrique,  posto 
que  podera  abastar  esta  vosa,  por  que  ele  podera  saber  nisto  minha  von- 
tade  ;  mas  pareceo  me  asy  milhor  por  ele  saber  que  a  ambos  juntamente 
mando  que  yslo  facaes,  e  asy  o  fazerdes :  e  muyto  vos  encomendó  que 
com  grande  instancia  o  facaes,  porque  o  ey  asy  por  muyto  servico  de 
beus  e  meu  contentamenlo-(-Sprila  .... 

Outra  tal  pera  dom  anrique,  tirado  da  — |—  alee  a  outra -|- de rad eirá  '. 


Memorial  dos  abusos  commettidos  pelo  hispo 
de  Siiiigaglia. 


OS  ERROS  QUE   O  NUNCIO   FEZ  COM  SEUS  PODERES. 

ítem.  Trazendo  ele  provisam  pera  dispensar  que  huum  clérigo  tenha 
dous  beneficios  imcompatives,  e  isto  nom  no  devendo  ele  fazer  senam  a 

1  Ulinuta  sem  data  no  Aitc.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  21. 


240  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

letrados  e  nobres  conforme  a  direito,  ele  por  dinheiro,  que  por  iso  toma- 
va,  dispensava  com  quaesquer  clérigos,  que  a  ele  vinham,  avendo  ele  de 
entender  seu  poder  conforme  a  direito,  c  somente  dispensar  com  aqueles 
que  o  direito  permite  que  se  dispense. 

ítem.  Nom  lendo  faculdade  pera  prover  de  beneficio  que  pasase  de 
duzentos  cruzados,  proveo  de  beneficios  que  pasavam  desta  copia,  os  quaes 
se  nomeáram  quando  se  quiserem  saber. 

ítem.  Encomendou  beneficios  a  quem  o  nom  podía  fazer  de  direyto 
nem  sua  faculdade  sestendia,  o  qual  tanbem  se  nomeará  quando  for 
tempo. 

ítem.  Dava  muy  los  perdoes  de  homecidios  e  d  oulros  casos  sem  cau- 
sa, o  que  nom  podía  fazer.  E  mais  concedía  que  os  taes  homecidas  po- 
desem  viver  no  lugar  onde  comeleram  o  tal  homecidio,  que  he  lam  es- 
candaloso que  o  papa  nunca  o  concede. 

ítem.  Todal  as  cousas  em  que  dispensava,  o  fazia  sem  conhecímento 
da  causa,  o  que  por  direito  nom  podía  fazer. 

ítem.  Porque  segundo  theor  de  suas  faculdades  nom  podia  poer  pen- 
sóos nos  beneficios,  senam  quando  eram  litigiosos  anlre  os  litigantes,  fa- 
zia ele  e  seus  oficiaes  que  as  partes  que  pediam  que  lhe  pósese  as  ditas 
pensoes  nos  beneficios,  pera  se  dizer  serem  litigiosos,  e  ele  poder  poer  as 
ditas  pensoes.  E  esto  se  fazia  em  casa  do  dito  nuncio  per  seus  oficiaes 
comummente ;  e  deste  modo  pos  muytas  pensoes  em  beneficios,  de  que 
se  ouue  muyto  dinheiro. 

ítem.  Dava  beneficios  que  vagavam  a  alguuns  naluraes  do  Reyno, 
declarando  logo  que  aviam  de  dar  pensoes  a  familiares  e  criados  seus. 
E  nesta  materia  de  dar  beneficios  se  faziam  em  sua  casa  pelos  seus,  de 
que  ele  era  bem  sabedor,  muytos  pautos  e  partidos  muyto  ilícitos  e  si- 
moníacos.  E  aínda,  se  se  virem  seus  livros  de  seu  Registro,  logo  por  eles 
se  verá  a  maneira  que  linha  no  dar  dos  beneficios,  e  a  quem  os  dava.  E 
os  ditos  pautos  simoniacos,  e  negoceacam  que  sobre  iso  se  tinha,  se  pro- 
vará  largamente  quanto  compryr. 

ítem.  Vsou  sempre  dos  poderes  que  tinha,  depois  da  morte  do  papa, 
asy  na  jurdícam  como  ñas  Vacuidades  ;  e  vsou  das  ditas  faculdades  depois 
de  lhe  serem  Revogadas  pela  Regra  notoria  nesle  Reyno  e  trazida  a  ele : 
o  que  asy  vsou  per  espaco  de  sete  ou  oyto  meses,  antes  de  lhe  vir  a  Re- 
validacam  de  seus  poderes,  asy  como  fez  ñas  cousas  que  abaixo  vam  de- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  241 

claradas,  e  geralmente  em  outras  muylas,  que  se  nom  declaram  por  evi- 
tar iproWxidade  l. 

ítem.  No  bispado  de  coinbra  proveo  antonio  lopez  bravo  de  certos 
beneficios,  que  vagaram  nos  meses  do  papa,  sobre  que  ora  pende  de- 
manda'. 

Iíem.  Dispensou,  em  abril  deste  présenle  anno,  com  dom  manuel  de 
meneses  e  dona  britiz  de  vilhena,  em  grao  publico  de  consanguinidade 
prohybido. 

Iten».  Criou  em  silves,  neste  maio  ou  junho,  Ruy  gonsaluez,  arce- 
diago  de  lamego,  em  prothonotario,  e  lhe  pasou  diso  lelras. 

ítem.  Inibio  a  relacam  de  lixboa  doCardeal,  em  Junho,  sobre  huum 
feyto  julgado  por  ela  entre  o  Cabido  de  silves  meos  conegos  e  quartana- 
rios,  e  deu  por  Juiz  apostólico  o  arcediago  meslre  parvy. 

ítem.  Proveo  huum  seu  criado  de  huuma  mea  conesia,  que  vagou 
em  mayo  na  see  de  silves,  e  lhe  mandou  dar  a  pose,  elha  deram  no  dito 
maio  de  153o  :  c  fez  oulras  muylas  cousas,  e  vsava  geralmente  das  di- 
tas faculdades  com  todas  as  pesoas  que  a  ele  vinham,  sendo  lhe  Revo- 
gadas2. 


1  No  Maco  3  de  Cartas  missivas  sem  data,  n.°  291 ,  guardase  o  apontamento  se- 
guinte  de  letra  mais  moderna. 

Des  o  terapo  do  nuncio  Senogalha  pera  ca,  de  todas  as  appellacoes,  que  vem  ao  nun- 
cio, non  conhece  o  seu  ouuidor  sem  sua  commissao,  e  desta  commissao  se  cosluma  le- 
uar  o  nuncio  seis  tostoes  e  dous  vintens ;  e  quamdo  a  comete  a  outras  pessoas  de  fora 
leua  tres  cruzados  e  dous  vintens  :  agora  este  ouuidor  prospero  Regulou  todas  estas  co- 
missoes,  que  vao  a  elle,  a  tres  cruzados  e  dous  vintens,  e  alem  mais  hum  cruzado  es- 
condido sem  o  poor  na  taxa,  e  mais  dous  tostoes  pera  fazer  a  carta,  que  sao  per  todos 
qualro  cruzados  e  meo:  c  tem  hum  seu  moco  que  he  o  escriuao,  e  elle  leua  tudo. 

E  em  todo  outro  despacho  impos  mayor  taxa,  muita  parte  mais  do  que  amtes  se 
pagaua,  e  aimda  alem  hum  cruzado  em  cada  hum,  que  nouamente  impos. 

2  Minuta  sem  data  no  Arch.  Nac,  Gav.  13,  Ma<;.  8,  n.°  12. 

TOMO  111.  31 


242  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Caria  de  II.  llartiiiho  de  Portugal  a  el-Itei. 


1535  —  «etembro  13. 


Scnhor  —  ComoVossa  Alteza  mandar  prouer  de  dinheiro  se  expi- 
diraom  as  bullas  das  casas  dos  Biguinos :  mas  vaom  por  comissaom  a 
dous  Juizes,  que  seraom  quaesVossa  Alteza  mandar  nomear,  que  vejaom 
se  as  rezoes  que  se  allegaom  por  parte  deVossa  Alteza  saora  justas,  e 
que,  se  o  forem,  se  faca.  He  necessario  queVossa  Alteza  me  mande  no- 
mear  quaes  pessoas  quer  que  sejaom  Juizes :  o  mais  se  fiará  por  quem 
Vossa  Alteza  quiser. 

A  reformacaom  dos  Mosteiros  da  Trindade  se  naom  pode  auer.  Está 
aqui  un  frade,  que  me  deu  ha  muilos  dias  hüa  carta  de  Vossa  Alteza  pera 
o  fauorecer  sobre  cousas  da  ordem  :  aqueixou-se  a  todos  desla  reforma- 
caom, e  deu  esta  memoria  que  aqui  mando  alguüs  ofíiciaes.  O  cardeal 
Triuultiis  ma  deu.  Faz  o  officio  de  prolector  delles  por  Santiqualro.  E 
Vossa  Alteza  quer  alterar  a  ordem  em  fazer  os  ministros  trianaes :  creo 
que  se  naom  fará.  Mas,  se  Vossa  Alteza  quizer  fazer  cousa  milhor,  e  mais 
seruico  de  Déos  e  mor  honra  dos  vossos  reignos,  poder  se  ha  fazer.  Es- 
tes frades  da  Trindade  nunca  haom  de  ser  boos :  tem  soos  dous  mostei- 
ros :  se  forem  reformados,  haom  de  querer  a  redencaom  dos  Calmos ; 
haom  vos  Senhor  de  dar  fadiga  sempre,  e  mostraraom  ler  rezaom  ;  e  quanlo 
mais  reformados  forem,  mor  a  tcraom.  Mude  Vossa  Alteza  esta  ordem  a 
outra.  Em  Portugal  naom  ha  mosteiro  de  cartuxa  :  soi  se  a  dizer  que 
naom  he  reigno  perfeilo  onde  naom  ha  cartuxa  :  alem  de  ser  a  mais  per- 
feita  ordem  de  todas,  traz  consigo  muitos  proueitos:  homens  fidalgos  ve- 
Ihos,  e  frades  de  bem,  ñas  oulras  partes  se  mudaom  pera  elles ;  assi  fará 
nesses  reignos.  Vossa  Alteza  naom  despenderá  nada  em  Lysboa  :  no  mesmo 
mosteiro  da  Trindade  com  a  renda  que  tem,  e  com  se  lhe  anexar  a  renda 
de  sánelo  Anlaom,  se  fará  hua  muilo  honrada  casa;  e  sancto  Anlaom  da- 
ría aos  frades  da  piadade  de  saom  Francisco,  pera  que  os  aja  em  Lysboa : 
naom  hao  mester  renda,  e  faraom  que  os  reformados  o  sejaom  mais  com 
sua  emulacaom.  Em  Santarem  outro  no  Mosteiro  da  Trindade  com  a  ren- 
das das  egrejas  que  tem,  e  as  egrejas  se  seruiraom  por  capellaes. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  243 

As  casas  dos  cartuxos  haom  mester  pouca  fabrica  :  ajudaom  se  hüas 
a  outras.  Aqui  veio  este  anno  hum  visitador  da  Carluxa  de  Ñapóles,  que 
elRey,  que  Déos  aja,  mandou,  ja  antes  que  falecesse,  chamar,  por  emfor- 
macaom  que  era  homem  virtuoso,  pera  fazer  la  hüa  casa  ou  duas.  Dixe 
mo  e  moslrou  me  a  carta  dclRey.  Assi  me  Déos  salue  queVossa  Alteza 
o  deuia  de  fazer :  fará  grande  seruico  a  Déos,  e  tirará  estes  frades  des- 
concertados do  reigno.  Se  Vossa  Alteza  quer,  mande  mo,  e  screua  ao  papa : 
logo  será  feito,  e  muilo  mais  fácilmente  que  darem  reformacao  a  estes. 
Eu  receberia  de  Déos  muita  merce  e  de  Vossa  Alteza,  por  se  fazer  laom 
santa  obra  e  taom  virtuosa  em  meu  tempo :  e  de  a  solicitar  eu,  teria  sem- 
pre  contentamente  Querendo  Vossa  Alteza,  este  padre  irá  logo  a  fazellos. 
Dixe  me  que  no  capilolo,  que  ora  tiueraom,  ordenaraom  que  elle  fosse  a 
Vossa  Alteza  nao  sei  a  que. 

Os  outros  mais  negocios  estaom  feilos :  naom  se  expedem  por  min- 
goa  de  dinheiro.  A  bulla  da  ereicaom  do  Funchal  he  certo  vergonha  naom 
se  expidir  e  serem  as  outras  expedidas.  He  grande  cargo  de  consciencia 
de  Vossa  Alteza  por  naom  querer  que  se  proueja  aquella  térra.  Tenho  lá 
mandados  seis  ou  sele  homes  pera  isso :  nao  se  faz  nada :  gastaom  me 
ahi  quanto  tenho ;  ha  huum  anno  e  meio  que  sperao  despacho.  Assi  disto 
como  de  todos  os  negocios  tenho  scrito  a  Vossa  Alteza  por  muitas  vezes  : 
pois  o  sabe,  naom  deue  ser  minha  a  culpa  de  se  naom  fazer. 

Isto  do  Preste  Joham  se  deuia  de  acabar :  pode  ser  que  nesta  con- 
juncaom  aproueite  muito  :  e  ainda  se  se  ouuer  de  fazer  guerra  ao  Turco, 
naom  quererao  nenhüa  ajuda  de  Vossa  Alteza  senaom  polla  India;  e  a 
que  se  fizer  caira  em  casa  e  acabará  de  segurar  todo  o  de  lá :  eu  o  vejo, 
que  se  se  faz  guerra  ao  Turco  e  Vossa  Alteza  quer,  sem  despesa  de  quasi 
nada,  o  Egipto  e  Suria  e  Arabia  seraom  vossos,  e  depois  lodo  o  sertao  da 
India.  No  da  India  naom  falo.  No  Egipto,  como  ho  Turco  for  apertado 
por  ca,  aquilo  fica  ermo  :  co  a  gente  e  dinheiro  do  Preste  Joham  ha  Vossa 
Alteza  tudo :  assi  o  lem  por  prophecia.  E  naom  será  muito  nauegardes  a 
India  por  est  outro  mar.  Este  papa  naom  eré  nem  creoo  nada  disto  do  Preste 
Johao  :  nunca  lhe  nisto  falei,  mas  sei  que  o  naom  ere.  Vossa  Alteza,  se 
Jhe  screuer,  seja  de  maneira  que  o  crea,  e  aíürmelho  muito  como  he 
verdade,  pois  o  he :  e  mande  lhe  dizer  os  proueitos  que  nisto  ha,  alcm 
do  de  Déos,  e  o  porque  ategora  leixou  de  entender  nisto :  eu  digo  que 
foi  por  Vossa  Alteza  esper-ar  que  se  tomasse  Dio,  e  outras  cidades,  que 

31* 


24 i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tem  mandado  a  seus  capitaes,  que  fazem  muito  pera  se  fácilmente  poder 
communicar  coin  o  Presle  Joham.  Assi  me  déos  ajude  que  he  esla  hila 
das  grandes  cousas  que  ha  no  mundo,  se  se  quisesse  aproueitar  e  co- 
nhecer. 

Sobre  o  mosteiro  Dansede  mandou  Vossa  Alteza  a  dom  Anrique  que 
falasse  ao  Cardeal  de  Trane,  e  assi  a  mim,  e  por  derradeiro  lhe  prome- 
tessemos  da  parle  de  Vossa  Alteza  a  mesma  pensaom  que  auia  de  dar  dom 
Manuel  dazeuedo:  foi  contente.  Prometemos  lho  ambos;  ha  seis  meses 
que  la  he  isto  e  carta  do  Cardeal ;  naom  vem  reposta ;  cada  día  nos  em- 
vergonha.  Vossa  Alteza  mande  o  que  auemos  de  fazer.  O  Cardeal  proce- 
derá e  temos  ha  por  homes  que  naom  comprimos  o  que  ficamos. 

Acerca  do  barroso  dom  Anrique  screuerá  o  que  passa :  fez  nisso 
quanto  pode,  como  faz  em  tudo.  O  papa  quer  que  aja  o  mosteiro,  ou 
em  recompensa  o  que  val  de  renda  ou  pensaom  sobre  algum  bispado. 
Pidi  a  Sua  Santidade  que  lhe  mandasse  dar  regresso  ao  Infante  dom  An- 
rique ao  menos.  Se  a  Vossa  Alteza  parecer  seu  seruico,  venha  procura- 
caom  do  Infante,  que  renuncia  o  direito  que  tem  neste  mosteiro  em  fauor 
de  Christouaom  de  Rarroso  por  euitar  demandas  e  gastos,  reseruando 
pera  si  regresso  per  cessum  uel  decessum.  Venha  in  forma.  E  por  os  frui- 
tos,  se  Vossa  Alteza  escreuer  ao  Papa  que  lhe  mandará  dar  ate  mil  ou 
mil  e  quinhentos  cruzados,  parece  me  que  se  acabará  o  negocio :  se  nao 
nunca  se  aleuantarao  os  interdictos.  Asaz  he  fazer  o  Papa,  pera  sua  con- 
dicaom,  que  tome  este  pensaom,  que  vaina  o  que  rende  o  mosteiro :  pera 
isto  ha  se  de  ver  o  que  val  em  tres  annos,  e  por  se  a  pensaom  por  huum 
delles. 

Screueo  me  Vossa  Alteza  os  días  passados  que,  por  parte  d'hum  Do- 
mingos gomez  do  Rispado  de  Lamego,  mandara  o  Auditor  da  cámara  hum 
monitorio  pera  Rui  de  meló,  Comendador  de  Longroiua,  leixar  em  termo 
de  seis  dias  as  vigairias  das  egrejas,  que  saom  annexas  á  dita  Comenda  ; 
e  que  isto  era  contra  a  ordem  por  ser  das  comendas  velhas,  que  staom 
em  posse  de  se  seruircm  por  capellaes :  e  diz  me  Vossa  Alteza  que  naom 
quis  auer  por  escusado  dizer  me  o  muito  desprazer  que  rccebco,  por  eti 
naom  auisar  Vossa  Alteza  de  como  isto  passaua,  por  ser  em  tanto  per- 
juiso  da  ordem.  Cerlo,  senhor,  que  naom  sao  profeta.  Como  hei  de  sa- 
ber o  que  cada  hum  faz  em  casa  duum  scriuao?Naom  parece  que  deue 
de  ser  obrigado  o  nuncio  do  papa,  ou  hum  embaixador  d  um  Principe, 


RELACÓES  GOM  A  CURIA  ROMANA  2Í5 

que  eslá  na  corte  de  Vossa  Alteza,  de  saber  se  hum  homcm  particular 
manda  citar  ante  o  Corregidor,  ou  oulro  official,  hum  oulro  homem.  Se 
fora  disto  auisado  era  menos  mal,  e  ainda  o  naom  pudera  saber.  Estes 
mandados  saom  d  estampa :  hum  notario  do  Auditor,  sem  o  elle  saber, 
nem  seos  lugar  lentes,  de  seu  officio  passa  aquellas  cartas  e  pon  lhe  o  selo. 
Como  isto  assi  estee,  naom  deue  de  ter  poder  rui  de  meló  de  dizer  a 
Vossa  Alteza  que  eu  fui  descuidado,  Porque  a  empressaom  fica,  e  a  cousa 
he  esta.  Mandei  fazer  diligencia,  o  domingos  gomoz  he  em  Túnez  :  he  hum 
moco  que  foi  de  dom  Antonio  da  costa.  Até  oge  des  que  recebi  a  carta 
de  Vossa  Alteza,  que  foi  aos  oito  d'agosto,  naom  posso  saber  quem  he  o 
notario  que  isto  passou ;  e  naom  faz  oulra  cousa  hum  meu  solicitador. 
Ora  veja  Vossa  Alteza  como  ho  auia  de  aduinhar.  Ja  por  oulro  negocio 
me  Vossa  Alteza  mandou  dizer  o  mesmo,  e  respondí  isto  :  esta  minha  deue 
ser  ma  reposta,  pois  ainda  se  me  dá  culpa.  Como  se  achar  se  fará  a  di- 
ligencia necessaria.  Isto  naom  tem  ser;  venha  hua  procuracaom  de  rui 
de  meló,  logo  será  desfeito  tudo. 

De  Roma,  xni  de  selembro,  1535'. 

Feilura  e  seruo  de  Vossa  Alteza  —  Dom  M.  de  porlugal  Are.  pri- 
mas l. 


Carta  de  D.  Martinno  de  Portugal  a  el-Re¡. 


1535  —  Setembro  13. 


Senhor  —  A  v  deste  chegou  gáspar  do  coulo  com  cartas  pera  dom 
amrique  de  meneses  e  pera  mim  :  a  copia  do  aluará  do  nuncio,  per  que 
notificou  aos  perlados  que  nao  pobricasem  a  bulla  do  perdao,  nao  veo 
ca:  ha  mister  que  venha  e  asinado  pollo  nuncio,  senao  nao  lhe  darao  ca 
fee,  e  elle,  segundo  he,  negaloha.  Diz  me  Vossa  alteza  que  a  reposta  do 
papa,  da  Inquisicao,  nao  foi  como  esperaua  e  deuera  ser ;  e  tambem  me 
faz  merce  por  auer  por  certo  que  eu  trabalhei  todo  que  pude  por  este  ne- 
gocio se  fazer:  déos  o  sabe  e  como  eu  simo  Vossa  alteza  e  com  quanla 

1  Arch.  Nac,  Gav.  13,  Mac.  8,  n.°  21. 


2Í6  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

verdade  e  lealdade.  Hua  soo  cousa  desejo  que  se  crea :  se  este  negocio 
se  pudera  fazer  como  Vossa  alteza  quería,  eu  o  acabara  em  lempo  de 
clemente  ou  desle  papa,  ou  de  qualquer  que  fora  ;  mas,  pois  eu  nao  pude, 
nao  foi  acabauel.  Dom  amrique  trabalhou  nelle  quanto  nelle  fo¡  e  segundo 
seu  parecer,  que  nao  tem  menor  que  a  vonlade,  e  vio  que  se  nao  pode 
mais  fazer :  e  de  cada  vez  que  se  negocear  nao  aproueilará  pera  mais  que 
pera  se  fazer  de  pior  condicao  e  mais  deficultoso.  E  certo,  se  me  Vossa 
alteza  responderá  a  bolonha,  e  o  emperador  nao  soubera  entao  o  negocio 
nem  dom  pedro  mascarenhas,  e  eu  o  negoceára  por  meu  modo,  Vossa 
alteza  nao  deuera  nada  ao  papa,  nem  ninguem  o  soubera;  e  por  ventura 
se  fizera  nelle  mais  do  que  se  pode  fazer  des  que  se  soube.  Digo  o  em- 
perador e  dom  pedro,  nao  porque  ho  estrouasem,  antes  mostrou  o  em- 
perador desejalo  muito ;  mas  porque  os  negocios  nesla  térra,  e  em  loda, 
tem  esta  calidade  :  se  se  sabem,  nao  se  fazem,  ou  se  fazem  mal.  Muitas 
vezes  tenho  isto  ja  escriplo.  Clemente  foi  auisado  de  santiquatro,  de  ge- 
nua,  amtes  que  lhe  eu  falase :  tomei  ho  aprecebido.  Como  se  nega  hüa 
cousa  a  Vossa  alteza,  deficel  he  concederse  pollo  emperador  ou  por  al- 
gum  outro  principe.  Os  papas  sao  homés  como  os  oulros :  nao  hao  de 
querer  negar  a  vossa  alteza  hüa  cousa,  e  fazella  por  amor  d  outro  prin- 
cipe, donde  nacería  terdes  lhe  por  isto  má  vonlade  ao  parecer  dclles,  e 
muita  obrigacao  ao  que  vos  ajudou;  e  elles  querem  o  conlrario.  Fez  se 
o  que  se  pode  com  toda  a  destreza,  e  por  todollos  meos  que  eríio  nece- 
sarios. 

Manda  vossa  alteza  que  falemos  ao  papa  sobresté  negocio  com  muita 
pressa  com  a  limitacao  que  manda.  O  papa,  a  m  desle,  partió  pera  perosa 
com  toda  esta  corle.  Eu  nao  fui,  nem  pude  nem  me  pareceo  necesario  hir 
com  elle:  nem  menos  hir  agora  la  sobresté  negocio.  Elle  ha  de  tornar 
aos  vui  d  outubro.  E  foi  asentar  aquella  cidade,  que  staua  desconcertada 
e  maltractada  por  certas  partes  que  ali  ha :  e  em  nenhum  negocio  outro 
ha  de  emtender.  E  leixou  cá  no  gouerno  desta  cidade  o  cardeal  Simo- 
neta,  que  era  auditor  da  rola,  que  ora  fez  cardeal  e  despachou  este  ne- 
gocio, que  he  dos  principaes  com  que  se  ha  de  tractar,  e  sem  elle  nao  ha 
de  fazer  nada.  E  des  que  tornar  até  os  xv  d  outubro  se  nao  ha  de  poder 
emtender  em  nenhum.  Ouue  por  milhor  auisar  vossa  alteza  ha  presa  do 
que  sucede,  pera  que  vossa  alteza  proueja.  Sabei,  senhor,  certo  que  o 
papa  nao  ha  de  mclhorar  nenhuma  cousa  desle  negocio  por  nenhum  em- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  247 

baxador  vosso :  tem  asentado  e  eré  pollo  que  tem  feito  nisto  que  merece 
canonizaren)  no :  e,  segundo  elle  agora  está  com  vossa  alteza,  seria  aca- 
bar de  perder  tudo.  Ha  hum  soo  remedio,  e  he  o  cauterio.  Vossa  alteza 
a  meu  parecer  deue  d  usar  delle.  O  emperador  he  arribado  a  cezilia,  e 
será  em  napolles  na  íim  deste  mes,  ou  a  v  ou  vi  doutubro.  Vossa  alteza 
lhe  deue  d  escreuer  e  mandar  aluaro  mendez,  que  vem  com  elle,  que  ve- 
nha  aqui :  he  auisado,  e  por  ventura  fará  mais  que  nos  outros :  ao  me- 
nos lodos  juntos  faremos  mais.  E  co  emperador  mande  alguma  pesoa  pera 
que  negoceemos  isto :  se  ho  nao  acabarmos  em  qualro  dias,  nunca  se 
fará ;  e  ha  razao  he  esta  :  o  papa  e  o  emperador  se  nao  de  concertar  pera 
o  concilio,  per'a  guerra  do  turco,  e  per'a  as  cousas  de  franca,  e  per'as  suas 
particulares.  Nesle  meo  tempo  que  hum  quer  contentar  o  oulro,  e  hum 
está  receoso  do  oulro,  se  pode  acabar  qualquer  negocio.  E  o  papa  per'as 
mesmas  quererá  ler  contente  vossa  alteza.  Se,  senhor,  esperardes  tanto 
que  elles  se  acabem  de  concertar,  que  ha  de  ser  em  mui  poucos  dias,  o 
emperador  nao  pode  estar  muito  sem  lomar  conclusao,  o  inuerno  pasará 
cedo,  e  no  principio  do  verao  ha  misler  comecar  suas  obras,  se  sao  con- 
certados de  todo,  como  casi  ho  estao  ja ;  porque  este  papa  quer  conci- 
lio, e  quer  hir  em  pesoa  contra  o  turco,  posto  que  he  de  lxx  annos,  e 
nao  se  quer  liar  co  emperador  nem  com  el  rei  de  franca  contra  chrislaos. 
Depois  o  emperador  nao  ha  polla  Inquisicao  dos  christaos  nouos  vir  cer- 
car roma  e  ha  fazer  fazer  por  forca :  quanto  mais,  se  o  papa  diser  que 
no  concilio  se  verá,  como  cosluma  agora  responder  ha  alguns  negocios 
grandes  que  nao  quer  fazer,  nao  ha  quem  reprique  mais :  quem  ha  de 
contrariar  que  requerimenlo  santo  se  nao  determine  no  concilio?  E  Vossa 
alteza  me  crea,  se  nao  mande  me  cortar  a  cabeca ;  e,  digao  uos  quantos 
letrados  la  ha  o  que  quiserem,  se  se  no  concilio  fala  na  Inquisicao,  hao 
de  desfazer  ha  de  caslella,  e  nao  hao  de  conceder  senao  muito  menos  cou- 
sas das  que  dao  nesta  a  vossa  alteza.  E  se  alguem  diser  o  conlrairo  a 
vossa  alteza,  lembrese  que  oge  eu  escrevi  isto.  E  tambem  afirmo  que,  se 
vossa  alteza  esliuer  outros  seis  meses  em  responder  a  isto,  poderá  ter  por 
cerlo  que  se  nao  fará  nada. 

Faco  conla  que  aos  xx  d  outubro  pode  aqui  ser  reposta,  e  aínda 
nao  sei  se  se  perderá  ja  tempo :  como  o  papa  vier  lhe  daremos  as  car- 
tas de  vossa  alteza,  e  lhe  falaremos  asi  como  nos  manda  sem  se  perder 
ponto :  enterterei  a  reposta  ale  fim  de  outubro,  que  pode  aqui  ser  ha  de 


2Í8  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

vossa  alloza :  se  mais  tardar  vossa  alteza  sabe  milhor  o  que  cumpre  a 
seu  seruíco. 

Porque  o  papa  antre  oulras  cousas  s  espanta  nao  lhe  querer  vossa 
alteza  nem  responder,  ao  oulro  día  que  este  chegou  me  fui  ao  cardeal  Si- 
moneta  e  lhe  fiz  escreuer  ñas  costas  das  cartas  de  vossa  alteza,  que  vi- 
nhap  pera  o  papa,  e  ñas  que  pera  mim,  e  ñas  instrucoes  que  fazern  ao 
proposito,  que  se  podem  mostrar,  o  día  em  que  vierao,  por  o  papa  ver 
quando  este  correo  chegou,  e  que  nao  foi  des  que  elle  disse  a  dom  to- 
nque o  que  vossa  alteza  verá  por  suas  cartas. 

O  lempo  e  déos  parece  que  fizerao  esta  ¡da  do  papa  pera  este  effe- 
cto  da  dilacao,  que  vossa  alteza  nos  manda ;  e  ainda  que  vossa-  alteza 
queira  esle  lempo  pera  oulro  fim,  a  meu  parecer  isto  do  emperador  he 
o  principal  nesta  conjuncao  :  larde  vira  outra  como  esta,  ou  nunca  :  por 
isto,  alem  do  mais,  mando  esle  depresa,  pera  que  vossa  alteza  saiba  como 
o  emperador  está  aqui  á  porta. 

Dise  ha  este  simoneta,  nouo  cardeal,  que  nao  quería  hir  ao  papa 
por  elle  la  nao  estar,  e  que  vossa  alteza  tinha  emformacao  de  sua  pesoa 
e  virtude,  e  que  lhe  aprouuera  muito  sua  promocao,  e  me  mandaua  que 
de  sua  parte  lhe  emeomendase  este  negocio,  que  nao  fizesse  nada  eu  sem 
elle:  estimou  ho  muito,  e  dise  me  que  todo  o  que  nelle  fosse  faria  com 
justica.  Este  he  mais  duro  que  hüa  pedra,  e  he  homem  muito  virtuoso 
e  grande  letrado ;  e  presume-se  que,  se  o  pontificado  vagar,  que  slee  a 
mor  parte  nelle  pera  o  ser.  Ja  o  clemente  o  quería  fazer  cardeal.  Será 
bom  que  vossa  alteza  mande  escreuer  ha  este,  e  ao  que  foi  auditor  da  cá- 
mara, que  he  tambem  nouamente  cardeal :  neste  maco  vao  seus  nomes 
se  se  lhes  ouuer  d  escreuer.  As  cartas  podem  ser  de  crenca :  e  ainda  que 
nellas  vossa  alteza  mostré  que  folga  com  suas  promocois,  por  serem  tais 
pesoas,  fará  muito  proueito.  Eu  lhe  direi  o  mais:  sao  nouos  e  querem 
fauor,  spícialmente  d  um  tao  grande  principe  como  vossa  alteza.  Estes  dous 
nao  de  fazer  ludo,  e  o  papa  nao  ere  nem  dá  crédito  a  outros  nenhuns : 
com  esles,  por  serem  suas  feituras,  despacha  todas  as  cousas  de  impor- 
tancia, e  delles  soos  se  fia. 

Torno  a  lembrar  a  vossa  alteza,  posto  que  lenha  oulras  rezües  e  ou- 
tras  oousas  pera  mandar,  como  vossa  alteza  diz,  denlro  nesta  dilacao,  que 
nao  ha  nenhüa  que  mais  aproueite,  se  algiía  ha  de  aproueilar,  senao  esta 
vinda  do  emperador :  quanlo  cm  outro  lempo  dcsaproueilou  agora  ha  de 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  2i9 

fazer  o  que  se  fizer  e  nenhüa  oulra  cousa  nao.  Prouuera  a  déos  que  viera 
o  negocio  a  bolonha  quando  elle  h¡  eslaua,  e  nao  depois  de  partido  como 
veo.  Vossa  alteza  por  me  fazer  muita  merce  use  delta,  e  o  pode  fazer 
muito  melhor  que  nunca  ;  pois  ja  ho  emperador  escreueo  sobre  esta  ma- 
teria algüas  vezes,  estando  tao  perlo  se  lhe  deue  demcomendar:  e  com- 
pre lhe  pera  a  sua  de  caslela ;  auendo  a  nos  regnos  de  vossa  alteza,  daa 
muita  autoridade  ha  outra  e  ha  segura  mais.  Alem  de  ser  vossa  alteza 
seruido,  que  he  a  primeira  parle  e  o  lodo  em  mim,  e  em  ler  por  certo 
qu  este  soo  remedio  ha  pera  se  fazer,  a  mim  fará  deus  a  mor  merce  que 
pode  ser  se  se  acabar.  Esta  conjuncao  he  tao  grande  que  sua  grandeza 
escusará  o  que  atequi  nao  pudemos  fazer,  e,  se  se  nao  acabar,  se  lomará 
ás  maos  que  se  nao  pode  mais  fazer :  por  islo  desejo  ca  aluaro  mendez : 
sei  que  negocea  bem,  e  será  testemunha  de  vista,  e  do  que  melle  es- 
creueo que  deziao.  No  perdao  de  clemente  nao  creo  que  se  ha  de  mudar 
nada :  ha  muitos  dias  que  me  mandou  o  cardeal  de  zinuchis,  que  airas 
dise  que  foi  auditor  da  cámara,  huns  eslromentos  de  como  fora  a  bulla 
e  breue  do  papa  clemente  notificada  aos  prelados :  dei  os  a  dom  anrique 
pera  que  os  mandase  a  vossa  alteza. 

Quanto  á  bulla  da  Inquisicao,  se  se  nao  puder  acabar  nella  mais  do 
que  se  ouue,  nao  dee  nada  a  vossa  alteza  :  pouco  e  pouco  d  aqui  a  dous 
ou  Ires  annos  por  breues  se  auerá  ludo  o  que  vossa  alteza  quiser,  como 
esquecer :  asi  foi  a  de  castella :  esquecem  as  cousas,  hum  dia  se  pede 
hüa,  outro  outra,  e  ha  se  tudo.  Seste  negocio  nao  estiuera  remontado 
como  está,  casi  ate  esta  ora  des  que  se  comecou  se  ouuera  ludo.  Agora 
ha  mister  qu  esqueca  quantas  más  palauras  temos  ditas,  e  quantos  erros 
ca  fizemos,  e  quantas  presumcois  más  demos. 

Este  duarle  de  paz  quería  daqui  fora:  nao  sei  porque  Vossa  alteza 
ho  nao  quer :  mande  ho  algüa  parle  que  lhe  pareca  que  he  a  negocio. 
Nesta  causa  faz  muilo  auer  quem  brade  justica :  nao  ha  homem  ca  que 
nao  presuma  mal  contra  toda  a  Inquisicao :  e  mais  este  papa,  como  lhe 
falao  em  justica,  fazem  no  estar  a  estaca. 

Este  couto  me  dise  que  chegára  aqui  hum  outro  correo  despachado 
dum  portugués,  que  viera  a  barcelona,  a  fazelo.  Seria  a  duarte  de  paz, 
porque  elle  logo  se  partió  pera  onde  está  o  papa.  Ou  vossa  alteza  o  mande 
botar  neste  tibre,  ou  o  mande  ir  com  algüa  cor  e  perdoelhe.  Desserue 
muito :  e  nao  estando  aqui,  nao  terao  os  chrislaos  nouos  ninguem  que 

tomo  ni.  32 


250  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tanto  possa  como  este.  Gasta  muito ;  joga  com  quanlos  pesoas  haqui  ha, 
que  valem,  e  muitos  cruzados,  e  perdeos;  e  peitará  a  outros  outros  tan- 
tos. He  audaz  e  soltó  ;  sabe  muito  bem  dizer  sua  razao  ;  pede  justica  ;  pa- 
rece que  ha  tem  ;  e  requere  que  se  ponha  ¡slo  na  rola  ou  em  letrados. 
Nos  requeremos  o  contrairo.  Todos  quantos  ha,  cardeais  e  nao  cardeais, 
o  fauorecem.  Que  se  ha  de  fazer?  repricarlhe?  desputaremos ;  e  se  di- 
xer  palaura  descortes  mátalo?  isto  nao  fará  ninguem,  se  ho  vossa  alteza 
nao  mandar,  por  que  he  vosso  deseruico,  desonra,  consciencia,  e  risco. 
Atalhar  a  ludo  fará  muito  fruto,  e  os  mesmos  cristaos  nouos  desperarao, 
e  nao  confiarao  em  ninguem. 

Pollo  grego  e  por  dom  felipe  escreui  a  vossa  alteza  hum  negocio 
com  que  pudera  ser  chamado  e  amtretido.  Nem  do  negocio,  nem  do  grego 
se  foi  lá  ter,  se  se  ouue  vossa  alteza  por  seruido  delle  na  sua  jornada, 
se  eu  fiz  bem  de  ho  mandar,  ao  menos  pera  outra  vez  nao  errar,  mo  di- 
uia  alguem  d  escreuer. 

De  Roma,  a  xm  de  septembro  de  1535. 

Feilura  e  seruo  de  vossa  alteza  —  Dom  M.  de  portugal  Are.  pri- 
mas l. 


Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  a  el-Rei. 

1535  —  OiiliilM-o  6  2. 


Senhor  —  Bem  será  Vossa  Alteza  lembrado,  cando  lhe  beyjey  a  mao 
pera  uyr  pera  qua,  que  me  mandou  que  o  que  qua  enlendesse  de  uosso 
seruyeo  ou  desseruico  uolo  fizesse  saber,  ou  mandando  mynhas  cartas  aa 
mao  de  pero  correa,  ou  a  ele  o  escreuesse  pera  o  ele  dizer  a  Vossa  Al- 
teza :  e  por  isso  eu  ha  dias  que  Ih  escreui  que  cheyraua  qua  alguma 
cousa  do  arcebispo  andar  em  ser  cardeal :  e  agora  polo  correo  que  Vossa 


1  Arch.  Nac,  Gav.  %  Mac.  2,  n.°50. 

2  Parece  que  só  foi  expedida  no  dia  i  i .  Vide  a  carta  do  f.°  de  novembro. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  251 

Alteza  qua  mandou,  per  nome  gaspar  do  coulo,  que  d  aquy  partió  a  xm 
de  setembro,  éu  Ihe  escreuy  o  que  ele  dirya  a  Vossa  Aíteza,  ou  quicaa 
Iho  nom  dirya,  porque  lhe  nom  parecerya  cousa  dina  dysso,  nem  que- 
rerya  per  ventura  azedar  vos  a  uontade  pera  ninguem  por  cousa  que  lhe 
nom  parecesse  pera  ysso,  porque  na  verdade  cu  asy  Iho  escreuya  auendo 
sempre  por  vaydode,  e  cousa  que  nom  podya  ser,  o  que  eu  mesmo  qua 
cheyraua.  E  co  estas  duuydas  lh  escreuy  que,  ou  o  fyzesse  saber  a  Vossa 
Altezaa  ou  nao,  segundo  lh  a  cousa  e  as  conjeyluras  que  lh  eu  aponlaua 
parecessem  urgentes  ou  iracas,  de  maneyra  que  nem  eu  errasse  no  que 
deuya  a  rotaba  honra,  e  aa  verdade  e  lealdade  que  deuo  a  Vossa  Alteza, 
nem  fyzesse  sem  justa  causa  desprazer  a  ninguem,  canto  mais  a  quem 
me  tem  em  casa  tanto  lempo  ha,  que  cada  huma  destas  pera  mym  e  pera 
mynha  condicao  era  forte  cousa  ;  porque  d  um  cabo  nom  querya  errar  ao 
seruico  de  Vossa  Alteza,  e  do  outro  nom  querya  ser  palha  ou  jusarte  pera 
fazer  mal  a  nynguem  coro  que  comesse  e  conuersasse ;  porcm  que  como 
homem  nom  malasse  nynguem  á  traycao,  loguo  deuya  fazer  o  que  vysse 
que  comprya  a  seiuyco  de  seu  Rey  e  Senhor,  e  mais  por  se  tyrar  da 
culpa  que  se  lhe  poderya  dar  da  cousa  yr  auanle  e  se  fazer,  se  per  sua 
negrygencya  o  nom  auisasse.  Eu,  senhor,  synti  isto  ha  dias,  e  em  que 
me  pes,  mo  dysserao  tantas  uezes  e  tantas  pessoas,  que  fuy  forcado  dar 
esta  conla  que  digno  toda  a  pero  correa,  pera,  se  uysse  que  era  bem,  uolo 
dissesse,  e  se  nao  nao.  E  com  tudo,  porque  sospeytey  que  sendo  o  papa 
em  perosa  mandaua  o  arcebispo  negocear  e  entender  nysto  mais  quen- 
temente  per  joao  machado,  seu  cryado,  escreuy  a  sanliqualro  que  olhasse 
laa  per  ysso  pera  se  nom  fazer,  como  a  uoso  seruico  comprya  que  se 
nom  fyzesse.  E  agora,  como  ele  aqui  chegou,  a  primeira  cousa  que  lhe 
faiey  foy  nysso,  cuydando  ainda  verdaderamente  que  m  aueria  ele  por 
muilo  crendeyro  em  cuydar  que  tal  se  farya  nem  falaua  soomenle ;  mas, 
como  lh  eu  toquei  na  malerya,  que  foy  a  primeira  cousa  em  nos  assen- 
tando,  ele  me  respondeo  loguo  se  lhe  falav  eu  naquylo  ou  Iho  pergun- 
taua  como  da  parte  de  Vossa  Alteza.  Eu  lhe  dysse  que  sy,  porque  ele 
uya  bem  que  a  estorya  era  tal,  que  nom  podya  eu  entender  nela,  nem 
darme  pena  nem  grorya,  senao  por  uossa  parte  e  seruyco.  Enláo  desfe- 
chou,  e  me  contou  tudo  o  passado  co  papa  antes  de  sua  yda  daquy  a 
toscana,  e  agora  em  perosa,  polo  que  lh  eu  escreuera,  de  que  fyquey 
morlo,  e,  se  eu  tyuera  huma  pouca  de  mais  confianca  de  mym  ante  Vossa 

32* 


252  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Alloza,  eu  me  partyra  loguo  pola  posla  a  dyzer  vol  o  ;  porque  verdadera- 
mente nom  fyquey  nem  fyquo  ainda  em  mym,  ate  Vossa  Alteza  nom  res- 
ponder e  fazer  nysso  o  que  compryr  a  uosso  seruico,  pera  eu  ficar  lyvre 
e  fora  desta  culpa,  em  que  podeera  mui  bem  cayr  por  ser  hum  pouquo 
mylhor  homem  do  que  deuo,  e  de  mylhor  condycao  do  que  esta  térra 
leua  nem  daa  coma  sementé.  Ora,  senhor,  dysse  eu  a  sanliquatro  o  que 
me  parecya  que  ele  deuya  a  uosso  servyco,  e  aa  conta  em  que  o  tynheys, 
e  aa  uossa  amyzade.  Ele,  duuydando  e  teniendo  muitas  cousas,  todauya 
Ihe  pareceo  bem  fazer  essa  carta  que  lh  eu  apontey  pera  lha  eu  treladar 
em  portugués  como  vay,  asynada  per  ele :  e  nom  quys  nem  fora  bem 
que  fosse  em  italiano  por  Vossa  Alteza  nom  ser  toreado  dar  déla  conta  a 
quem  nom  fosse  seu  seruyco  e  uonlade  ;  e  asy  se  fez :  a  qual  ele  nom 
querya  senao  que  algum  filho  meu  vol  a  deese,  e  eu  a  nom  fyasse  d  ou- 
trem.  Fyz  lhe  certo  que  dona  branca,  mynha  may,  uola  darya  per  sua 
mao,  e  serva  mais  segura.  Rogándomele  muito  que  pydyse  a  Vossa  Al- 
teza por  merce,  da  sua  parte  e  da  mynha,  que  como  a  lesse  a  rompesse; 
e  asy  nos  fará  a  ambos  nysso  muita  merce,  e  esta  tambem  ser  rota  com 
essoutra  :  e  pera  Vossa  Alteza  a  uer  sempre,  eu  tenho  o  trelado  em  por- 
tugués düa  e  doutra,  e  o  cardeal  a  lem  em  italiano  pera  ma  dar  cando 
me  for,  como  nessa  dyz,  se  o  Vossa  Alteza  asy  ouuer  por  seu  seruyco ; 
porque  bem  vé  o  peryguo,  que  se  me  a  mym  disto  seguyrya  se  se  sou- 
bese,  porque,  estando  eu  qua,  ha  qua  peconha,  e  estando  laa  pera  com 
Vossa  Alteza  mesmo  arreceo  muito  a  quem  islo  toca,  que  d  al  nom  lh  ey 
medo  co  ajuda  de  deus,  ao  menos  de  rosto  a  rosto,  mas  nom  arreceo  se 
nao  laa  destruyrme  e  lancarmc  a  longo  e  desonrarme  ante  Vossa  Alteza. 
A  mynha  sogra  escreuo  que  dee  estas  a  Vossa  Alteza  per  sua  mao  e  lo- 
guo, coma  cousa  outra  que  Releua  a  uosso  seruyco  e  ao  que  me  a  mym 
compre.  A  calidade  desle  negocio  Vossa  Alteza  a  vee,  e  o  que  nysso  deue 
fazer  ele  o  sabe  mylhor  que  nynguem  :  a  mym  parece  me,  senhor,  que 
o  deue  muito  dagardeccr  e  encarreguar  a  sanliquatro,  que  certo  he  muito 
uosso  seruydor ;  e  per  ele  escreuer  ao  papa  o  que  lhe  nysso  parecer,  ou 
per  mym,  posto  que  pelo  cardeal  he  mais  dysymulado,  porque  eu  nom 
posso  yr  ao  papa,  nem  dar  lhe  carta,  que  o  arcebispo  o  nom  sayba.  E 
a  mym  mande  me  Vossa  Alteza  yr  logo  prymeiro,  e  depois  a  ele.  E  pois 
falo  nysto,  Vossa  Alteza  á  me  de  perdoar  dy^er  lhe  o  que  entendo  e  synto 
qua  c  de  laa.  Perdoe  deus,  senhor,  a  quem  uol  o  qua  fez  mandar.  E  o 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  253 

que  ele  sobr  ysto  aas  uezes  diz  entra  ja  em  especia  de  myxyryquo,  de  que 
eu  nom  quero  usar  nom  locando  puntualmente  no  seruyco  deVossa  Al- 
teza, a  que  beyjarey  as  maos  por  estas  e  outras  muitas  cousas,  que  se 
nom  podem  escreuer,  me  mandar  yr  d  aquy  logo  com  muito  uosa  von- 
tade  e  seruyco ;  e  eu  laa,  homem  serey  pera  vos  seruyr  em  outras  cau- 
sas e  em  outras  parles,  coma  meus  vezynhos,  e  mylhor  qu  aquy,  porque 
per  aquy  e  perante  déos  aquy  nom  m  alreuo,  nem  alreuy  nunca,  nem  sou 
pera  ysso.  E  eu  laa,  faráVossa  Alteza  destoutro  o  que  for  mais  seu  ser- 
uico.  E  por  se  nom  presumyr  qu  eu  nysto  fuy  culpado,  parece  m  a  mym 
que  Vossa  Alteza  me  deue  de  mandar  yr  a  mym  loguo ;  e,  querendo  tam- 
bera mandar  yr  a  ele,  ser  depois  d  eu  partydo  e  antes  de  poder  ser  che- 
gado  a  Vossa  Alteza.  E,  se  o  nom  quer  mandar  yr  a  ele,  tao  pouco  nom 
será  necesaryo  canta  por  isto,  a  meu  ver,  porque  este  negocio,  em  que 
ele  anda  tao  ceeguo,  nom  se  fará  co  ajuda  de  deus,  como  Vossa  Alteza 
vee  polos  termos  em  que  eslaa.  E  com  tudo  nom  se  descuyde  de  o  es- 
creuer e  agardecer  ao  cardeal  e  ao  papa,  decrarandolhes  sua  uontade  e 
seruyco  nysso,  e  em  tudo  o  que  uyr  que  cumpre :  e  nom  serya,  senhor, 
muito  mal  amyguar  se  Vossa  Alteza  muito  co  papa,  e  lazervos  outro  ir- 
mao  cardeal.  Nom  lenho  mais  que  escreuer  a  Vossa  Alteza  neste  negocio, 
tendo  muylo  que  dizer,  senao  que  lhe  beyjarey  as  maos  perdoar  me  fa- 
zerlhe  saber  isto  lao  tarde ;  mas  eu  nunca  querya  dyzer  as  cousas  d  ante 
mao  senao  sobólo  certo.  Noso  senhor  a  vyda  e  estado  Real  de  Vossa  Al- 
teza acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  vi  doutubro,  153o. 

Criado  de  Vossa  Alteza,  que  suas  reaes  maos  beyja — Dom  anry- 
que  m.  l. 


1  Arch.  Nac,  Gav.  20,  Mar.  7,  n.°  24. 


2Si  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Breve  do  Papa  Paulo  III. 


1535  -Outubro  12. 


Paulus  Papa  Tertius  ad  futuram  rei  memoriam  l. 

Illius  vices  in  lerris  gerentes,  qu¡  non  vult  mortem  transgressorum, 
sed  potius  conversionem,  transgressoribus  huiusmodi  ianuam  pielalis  el 
misericordiae  libenter  aperimus. 

Dudum  siquidem,  poslquam  per  felicis  recordationis  Clemenlem  Pa- 
pam  seplimum,  praedecessorem  noslrnm,  accepto  quod  ¡n  plerisque  par- 
libus  regni  Porlugalliae  et  dominiis  charissimi  in  Christo  filii  nostri  Joan- 
nis  Portugalliae  et  Algarbiorum  regís  illustris,  nonnulli  ex  haebraica  per- 
fidia ad  Ghristi  fidem  conversi,  Ghrisliani  novi  nuncupali,  ad  rilum  ju- 
daeorum,  a  quo  discesserant,  rediré ;  elalii,  qui  haebraicam  sectam  num- 
quam  professi  erant,  sed  Chrislianis  parentibus  procreati,  rilum  eundem 
observare ;  el  alii  lutheranam  et  alias  deprávalas  haereses  et  errores  se- 
qui,  ac  sorlilegia,  haeresim  manifesté  sapientia,  instigante  humani  gene- 
ris  inimico,  commiltere  non  verebantur,  in  gravissimam  üei  ofTensam,  el 
orthodoxae  fidei  scandalum  ;  dictus  praedecessor  dileclum  filium  Didacum 
da  Sylua,  ordinis  fratrum  Minorum  Sancti  Francisci  de  Paula  professo- 
rem,  in  suum  et  Apostolicae  Sedis  Commissarium  ac  super  praemissis  in- 
quisilorem  in  regno  el  dominiis  praedictis,  cum  plena  facúltate  contra  de 
huiusmodi  criminibus  reos  aut  suspectos  inquirendi,  eosque  carcerandi, 
puniendi  et  corrigendi,  per  quasdam  conslitueral  el  deputaverat : 

Et  deinde,  ex  cerlis  ralionabiübus  causis,  praedictas  et  quascumque 
alias  literas  suas,  ac  per  illas  eatenus  eidem  Didaco  et  quibusvis  alus, 
etiam  locorum  Ordinariis,  super  praemissis  concessas  facúltales  et  com- 
missiones  per  alias  ad  suum  beneplacilum  suspenderat,  ac  venerabili  fra- 
tri  (Marco)  episcopo  Senogalliensi  noslro,  tune  suo,  et  dictae  Sedis  (apud 
dictum  regem)  nuncio,  inler  alia,  in  mandalis  dederat,  ul  Didaco  et  Or- 
dinariis praedictis  ac  alus  inquisiloribus  in  partibus  lilis  exislcnlibus  pos- 

1  Paulus  episcopus  servus  servorum  De¡  ad  futuram  rei  memoriam. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  255 

leriores  literas  praedictas  intimaret,  et  suspensionem  huiusmodi  inviolabi- 
liter  observan  faceret : 

Ac  poslmodum  per  eumdem  praedecessorem  etiam  acceplo  quod  non- 
nulli  ex  suspectis  de  criminibus  praedictis  a  quadraginta  annis  vel  circa, 
ex  judaismo  et  mahomética  et  alus  seclis,  quibus  tune  obeaecati  erant, 
ad  fidem  Christi  et  illius  sacrum  baptisma  suscipiendum  coacti  fueranl : 
alii  vero,  licet  sponle  sua  conuersi,  seu  de  parentibus  christianis  procreati 
fuissent ;  tamen,  ob  prcedictorum  indiscreta  commercia  vel  alias  diabó- 
lica insligalione  persuasi,  etiam  in  praedictas  et  alias  diuersas  haereses 
et  errores,  eodem  instigante  inimico,  lapsi  fuerant,  aliaque  quamplura  1 
crimina  commiserant  et  in  dies  committebant :  idem  praedecessor,  motu 
proprio  et  ex  certa  scientia  ac  de  apostolicae  poteslalis  plcnitudine,  per 
alias  suas  sub  plumbo  literas,  omnes  et  singulos  utriusque  sexus,  tam  no- 
viter  conversos,  quam  alios  quoscumque  de  praemissis  culpabiles  et  sus- 
pectos  ex  dictis  regnis  et  dominiis  oriundos,  ac  in  eis  degentes,  forenses 
et  alienígenas,  undecumque  venissent,  qui,  tempore  publicationis  ipsarum 
posteriorum  literarum  per  eumdem  Marcum  episcopum  et  nuntium,  vel 
ab  eo  deputandos,  in  singulis  civitalibus  et  diocesibus  regnorum  et  do- 
miniorum  huiusmodi  faciendae,  in  illis  domiciiium  vel  habitaíionem  ha- 
buissent,  ac  etiam  illorum  filios,  nepotes  et  descendentes,  tam  tune  prae- 
sentes  quam  absenles,  seu  qui  ab  eisdem  regnis  et  dominiis  alias  reces- 
sissent,  etiam  si  exules  et  banniti  forent,  qui  eidem  Marco  episcopo  et 
nuncio,  vel  alicui  alteri  ex  sacerdotibus  et  confessoribus  per  ipsum  Mar- 
cum episcopum  et  nuncium  ad  id  depulandis,  praesentes  videlicet  in  re- 
gnis et  dominiis  praedictis,  infra  tres  a  die  eiusdem  publicationis ;  ausen- 
tes vero  ab  eis,  infra  quatuor  seu  plures  aut  pauciores,  qui  arbitrio  dicti 
Marci  episcopi  el  nuncii  viderenlur  esse  necessarii,  a  die  earumdein  pos- 
teriorum literarum  per  eos  habendae  notitiae  compulandos  menses,  prae- 
dicta  et  alia  quaecumque,  quoteumque  el  qualiacumque  sua  crimina,  ex- 
cessus,  delicta  et  peccata  confessi  forent,  ac  quorum  nomina  el  cogno- 
mina  in  aliquo  libro  vel  memoriali  per  eosdem  confessores  descripta  fo- 
rent, et 2  si  illi  ecclesiaslici  seculares,  aut  quorumvis  Ordinum  regula- 
res, militiarum  milites,  ac  in  quibusvis  gradibus,  dignilatibus  et  ordini- 

1  quamplurima 

2  cliam 


256  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

bus  constiluli,  el  tam  ¡lli  quam  alii  Iaici  et  utriusque  sexus  personae,  cu- 
iusvis  status  et  ordinis  exislerent,  etiam  si  illi  eatenus  et  in  futurum, 
dictis  mensibus  duranlibus,  in  regnis  el  dominüs  praedictis  vel  extra 
illa,  lamquam  haerelici  sententialiler  condemnali,  el  ut  lales  ipsi  et  il lo— 
rum  bona  publicata,  aut  pro  talibus  accusati,  inquisiti,  publice  vel  oc- 
culte  diffamati,  et  ut  tales  habiti,  reconciliati  et  contra  eos  sententiae  de- 
super  latae  et  executae,  \el  illi  propterea  carcerali  extitissent,  ab  ómni- 
bus et  singulis  per  eos  hactenus '  perpelralis,  etiam  haereses  et  ab  eadem 
fide  aposlasias,  blasphemias  et  alios  quoscumque  etiam  máximos,  errores 
sapientibus,  etiam  quanlumcumque  gravibus  el  qualificatis  peccatis,  cri- 
minibus,  excessibus  et  delictis,  etiam  sub  generali  expressione  de  i u re  vel 
alias  non  venientibus  et  specialem  notam  requirenlibus ;  necnon  excoin- 
municalionum,  suspensionum,  ¡nterdictorum,  et  alus  ecclesiaslicis  ac  tem- 
poralibus,  corporalibus,  el  etiam  capitalibus,  senlentiis,  censuris  vel  poe- 
nis  a  iure  vel  ab  homine,  etiam  a  praefatis,  et  qui  pro  tempore  forent, 
inquisiloribus  baerelicae  pravitatis  huiusmodi,  praemissorum  et  alia  occa- 
sione  vel  causa  latís  et  promulgatis,  etiam  si  in  illis  ab  eisdem  quadra- 
ginta  et  ulterioribus2  annis  insorduissent,  et  illorum  obsolutio  eidem  prae- 
decessori  et  pro  tempore  existenti  Romano  Pontifici  et  eidem  Sedi,  etiam 
iuxta  illarum,  quae  in  die  Coenae  Domini  legi  consueverant,  ac  aliarum 
literarum  et  processuum  apostolicorum  tenórem  el  alias  quomodolibet  re- 
sérvala exisleret,  quorum  omnium  qualitales,  quantitates,  et  circunslan- 
tias,  etiam  haberi  voluit  pro  expressis,  a  pravitatis  videlicet  haerelicae 
huiusmodi,  in  utroque  (foro)  civili,  criminali  (el)  contentioso,  conscien- 
liae  et  animae,  penitus  el  plenarie ;  a  reliquis  vero  criminibus,  pravita- 
tem  huiusmodi  non  sapientibus,  in  foro  conscientiae  dumtaxat,  ex  tune, 
prout  ex  ea  die  et  e  contra,  praevia,  quoad  forum  conscientiae,  cordis 
contritione  et  oris  confessione,  aucloritate  apostólica  absolvit ;  ac  eosdem 
carceratos  vel  alias  detentos  et  exules  (etiam)  a  carceribus,  exiliis  et  ban- 
nis,  quibus,  occasione  criminum  haeresis,  et  apostasiae  ac  blasphemiae 
huiusmodi  detenti  et  condemnati  existebant,  relaxavit  et  liberavit  ac  re- 
laxan et  liberan  mandavit.  Et  tam  illis  quam  alus,  alia  occasione  vel 
causa  detenlis  vel  exulibus,  doñee  ab  eis,  a  quibus  delinebantur,  relaxa- 

1  catcnus 

2  ulterius 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  257 

renlur,  ct  ab  cis,  ad  quos  id  spectaret,  salvus  conduclus  et  aliae  ne- 
cessariae  securilates  eis  concederentur,  dicli  menses  currere  non  incipe- 
rent,  dummodo  ipsi  a  die  noliliae  posleriorum  lilerarum  ¡n  aliquam  hae- 
resim  cecidisse,  vel  in  veteri  errore  perstitisse  non  convincerenlur,  con- 
cessil. 

Necnon  cum  eis,  lam  praesenlibus  quam  absenlibus,  ac  etiam  cum 
clericis  el  alus  saecularibus  el  quorumvisOrdinum  regularibus,  ecclcsias- 
ticis  personis,  eliam  quaecumque,  quotcumque  el  quaiiacumque  beneficia 
ecclesiaslica,  saecularia,  et  quorumuis  Ordinum  regularía  (etiam  si  sae- 
cularia)  canonicatus  el  praebendae1,  eliam  maiores  post  pontificales  et 
principales  ac  conventuales,  personalus,  adminislraliones  et  oííicia,  eliam 
cúrala  et  electiva  in  catbedralibus,  et  metropoliíanis  et  collegialis  eccle- 
siis  ;  regularía  vero  beneficia  huiusmodi,  monasleria,  eliam  dignilales  con- 
ventuales, praeceploriae,  eliam  curatae  et  eleclivae,  et  alias,  cuiuscum- 
que  qualilalis  essent,  obtinenlibus,  etiam  si  arcbiepiscopali,  episcopali, 
magistrali  et  alia  quacumque  dignilale  praefulgerent,  super  irregularitate 
per  eos,  praemissorum  haeresum  2,  ac  aposlasiae  vel  blasphemiae  crimi- 
num  occasione  vel  causa,  ac  etiam  quia  sic  ligati  missas  et  alia  divina 
ofíicia  forsan,  non  tamen  in  conlemplum  clavium,  celebrassent,  aut  alias 
filis  se  immiscuissent,  contracta;  et  cum  his3,  qui  promoli  non  erant, 
ut  ad  omnes,  etiam  sacros  et  praesbyteralus,  ordines  promoveri,  et  in  il- 
lis,  lam  illi  quam  qui  tune,  etiam  post  dicta  crimina  perpétrala  et  abso- 
lutionem  huiusmodi,  promoli  erunt4,  etiam  in  allaris  ministerio  minis- 
trare, ac  beneficia  (ecclesiaslica),  etiam  ut  praemillilur  et  alias  (quali- 
tercumque)  qualificata,  eis  canonice  conferenda  recipere,  illaque  et  alia 
per  eos  tune  obtenta  retiñere :  ac  etiam,  lam  ipsi  ecclesiastici  et  regula- 
res ac  milites,  quam  laici  et  mulieres,  eorumque  filii,  nepotes  el  descen- 
dentes, ad  gradus,  honores,  ordines,  oííicia  et  alia  assumi,  illaque  sus- 
cipere  et  exercere,  ac  í  11  ¡s  et  alus  similibus  et  dissimilibus  iam  susceplis 
uti ;  necnon  vestes  séricas 5  et  pannos6,  cuiuscumque  etiam  rubei  colo- 

1  prebendas,  dignitates 

2  haeresis 

3  iis 

4  erant 

5  sericeas 

6  panní 

TOMO  III.  33 


2oS  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ris,  ac  aurum,  argentum,  gemmas  et  alia  iocalia,  necnon  enscm  ei  arma 
corum  slalui  condecentia  deferre ;  super  equos  et  muías  equitare ;  ac  alus 
ómnibus  et  singulis  privilegiis,  exemplionibus,  favoribus,  gratiis,  immu- 
nilalibus,  libertalibus  et  concessionibus,  quibus  alii  chrislifideles,  eorum- 
que  filii  et  nepotes  et  ab  eis  descendentes,  utebantur,  potiebantur  et  gau- 
debant,  ac  uli,  potiri  et  gaudere  poterant  *  quomodolibel  in  fulurum,  uti 
potiri  et  gaudere  libere  et  licite  valerent,  in  ómnibus  et  per  omnia,  pe- 
rinde  ac  si  ipsi,  eorumque  avi,  proavi,  parentes,  et  alii  genitores  veri 
christiani  fuissenl,  et  nunquam  a  fide  deviassent,  dispensavit,  eisque  pa- 
riter  indulsil.  Necnon  omnem  inhabililalis  et  infamiae  maculam  sive  no- 
lam  circa  eosv  praemissorum  occasione,  tam  ex  propriis  quam  illorum 
parentum,  consanguineorum  et  aíTinium  culpis  et  sentenliis,  eorumque2 
executionibus  et  alias  quomodolibet  insurgentes,  ab  eis  penitus  el  omnino 
abolevil. 

Ac  confiscaliones  bonorum,  si  quae  eatenus  factae  fuerant,  quorum 
tamen  possessio  pro  eodem  fisco  apprehensa  non  fuerat,  necnon  proces- 
sus  contra  eos  formatos,  sententiasque  latas,  ac  diclis  mensibus  duranti- 
bus  formandos3  et  ferendas ;  necnon  informationes  et  alia  quaecumque 
acta  et  gesta,  ordinaria  el  extraordinaria,  in  iudilio  et  extra,  contra  eos 
eatenus  facta,  ac  ex  tune,  prout  ex  ea  die  et  e  contra,  eisdem  mensibus 
durantibus,  facienda,  quorum  omnium  tenores,  status  et  merita  simililer 
haberi  voluil  pro  expressis,  cassavit,  irritavit,  delevit4  el  annullavit,  ac 
cassala,  irrita,  delela  et  annullata  fore  decrevit;  ipsaque  bona  sic  con- 
físcala (et  confiscanda,)  eis,  a  quibus  ablata  fuerant,  si  eidem  fisco  in- 
corpórala non  essent,  remisit,  donavit  et  reslituit,  illosque  et  illa  in  pris- 
tinum  el  eum,  in  quo  anle  praemissa,  et  tempore,  quo  baplizati  fuerant, 
erant,  statum  restituit,  reposuit  et  plenarie  rcintegravit. 

Necnon  staluil  et  ordinavit  quod  omnes  et  singuli  confessores  prae- 
dicti  quibusvis  eis,  durantibus  mensibus  supradictis,  confessis,  etiam  de 
diclis  criminibus  non  culpabilibus  nec  suspectis,  in  diclo  libro  describen- 
dis,  si  id  petiissent,  pro  illorum  super  praemissis  tutiori  cautela,  aliquam 


1  poterunt 

2  eaniinque 

3  formatas 
1  abolcvit 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  259 

cedulam  vel  scripluram  authenticam,  manu  propria  subscriptam  vel  ipsius 
nunlii  sigillo  munitam,  ¡n  lestimonium  praemissorum  gratis  et  absquc  alia 
exaclione  concederé  possent  et  deberent,  qua  perpetuis  fuluris  tempori- 
bus  per  eos  exhibita  vel  oslensa,  illa m  habenles,  vel  eliam  absque  illa, 
in  dicto  libro  descripti  et  annotali,  lu ti  et  securi  permanerent,  et  de  prae- 
diclis  criminibus,  haeresim,  apostasiam  et  blasphemiam  sapientibus,  per 
ipsos  culpabiles  (vel  suspeclos)  perpetralis  vsque  ad  diem  datae  eiusdem 
cedulae  vel  teslimonii,  seu  in  codera  libro  annotationis  et  descriptionis, 
nullatenus  inquirí  possent;  ac  quod,  praemissorum  occasione,  ipsis  des- 
cribendis  vel  suas  cédulas  praedictas  habituris,  et  illorura  filiis  et  deseen- 
dentibus  in  nullo  praeiudicari  nec  praeiudilium  afFerri,  nec  reconciliali 
censeri,  etiam  ex  eo  quod  diclorum  delictorum  seu  aliquorum  ex  eis  ve- 
nían) petiissent,  vel  ab  eis  absoluti  fuissent ;  nec  etiam  si  forsan  in  ali- 
quem  praedictorum  errorum  in  posterum  reincidissent,  vel  alias  quomo- 
dolibel  deprehensi  exlitissent,  relapsi  viderentur;  nec  aliquod  inditiura, 
eliam  minimum,  contra  eos  oriri,  allegari  vel  deduci  posset1,  in  iuditio 
vel  extra,  indulgentia,  remissio  et  alia  in  damnum,  iniuriam,  vel  aliud 
incommodum  illorum  retorqueri  nequirent. 

Quodque  si  aliqui  iam  essent  condemnati  de  criminibus  haeresis  hu- 
iusmodi,  vel  eorum  crimina  iam  essent  in  iuditio  ómnibus  notorie  pro- 
bata, ipsi,  secundum  ecclesiastica  staluta,  errores  suos  abiurare,  illisque 
publice  renunciare  deberent.  Quibus  abiuralis  et  renunciatis,  idem  nun- 
cius  eius  arbitrio  poenilentias  eis  iniungendas  vel  iniunctas,  non  tamen  in 
alias  publicas,  sed  secretas  poenilentias  commutare ;  ac  reconciliaos,  qui- 
bus aliqua  publica  poenitenlia  per  quoscumque  iudices  el  inquisilores  fuis- 
set  iniuncta,  eliam  illam,  veluli  ipsi  inquisitores  etiam  commutare  po- 
tuissent  vel  consuevissent,  in  alia  pielatis  opera  commutare  et  cum  illis 
dispensare  valeret.  Ac  quod  si  ex  supradictis  cóndemnatis,  vel  inquisi- 
tis,  aecusatis  aut  reconcilialis,  seu  relapsis  fuissent  aliqui,  qui  se  contra 
iuslitiam  grauatos  esse  assererenl,  ac  proplerea  cuperent  ul  iterum  eorum 
causae  audirentur,  liceret  eis  ad  diclum  nuncium  recurrere  et  persona- 
liter  coram  eo  comparere,  et  se  ipsos  in  eo  statu,  in  quo  tune  esse  repe- 
rirentur,  de  integro  defenderé,  sic  tamen  quod,  si  iterum  in  defensione  sua 


posse 

33* 


260  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ipsos  succumbere  contingerel,  tune,  tamquam  ob  causam  delictorum  hu- 
iusmodi  relapsi,  legitima  poena  punirentur;  caeteri  vero  secrelam  poeni- 
tentiam  susciperent,  quae  loco  legitimae  et  canonicae  poenae,  quam  pati 
debuissent,  ipsius  nuncii  arbitrio,  ipsís  imponeretur.  El  nihüominus  ii, 
qui  relapsi  non  essenl,  diclis  lileris  et  illarum  effectu  gauderent. 

Ac  quod  dicli  condemnali  aut  inquisiti,  aecusati  vel  reconciliati,  si 
iterum  in  haeresis  crimen  relabi  eos  conlingeret,  pro  relapsis  puniri  pos- 
sent,  habita  lamen  diligenti  deliberatione ;  quod  si  ex  ipsis  aliqui  essent, 
qui  se  violenler  ad  fidei  sacramentum  suscipiendum  perlractos  esse  doce- 
rent,  il lis  non  impularenlur i  culpae  ut  in  posterum  relapsorum  poena  te- 
nerentur. 

Quodque  ii,  qui  publice  de  crimine  haeresis  diíFamati,  non  tamen 
convicli  seu  aecusati  essent,  quorum  perfidia  ex  publica  voce  el  fama  ad 
aures  ipsius  nuncii  perveniret,  proprio  iuramento  el  duobus  vel  tribus 
leslibus  compurgatoribus  fidedignis,  per  eumdem  diffamalum  eligendis, 
seipsos  secrete  et  extraiudicialiler  coram  nuncio  vel  ab  eo  deputandis 
praedictis,  seu  eorum  aliquo  purgare,  seu  crimina  huiusmodi,  de  quibus 
diffamati  essent,  sua  sponte  el  cum  iuramento,  secrete  ac  etiam  extraiu- 
dicialiler, coram  eodem  nuncio  seu  deputato  aliquo,  in  praesentia  duo- 
rum  testium  vel  proprii  sacerdotis  loco  eorum,  abiurare  possent. 

Qui  omnes  aecusati,  inquisili,  condemnali,  reconcilian,  et  publice 
diffamati,  modo  et  forma  praemissis ;  caeteri  vero,  praemissa  tanlum  con- 
fessione  et  absque  aliqua  publica  poenitentia  eis  iniungenda,  plenariam  et 
totalem  veniam  et  alia  supradicla  consequi  et  oblinere  ;  ipseque  nuncius 
omnia  et  singula  supradicta  et  quaecumque  alia,  quae  alii  inquisilores 
(et)  commissarii  quicumque,  per  quascumque  praedicti  prnedecessoris  et 
dictae  Sedis  literas,  ac  etiam  de  iure  vel  consuetudine,  faceré,  gerere  et 
exercere  possent,  faceré  (gerere)  et  exercere  valerent2 :  Ac  quod  si  ali- 
qui ex  praedictis  ómnibus,  tam  noviler  conversis  quam  alus,  praesenti- 
bus  et  absenlibus,  reperirenlur,  qui  huiusmodi  gratiam,  modis  praemis- 
sis, duranlibus  diclis  mensibus,  suscipere  nollent,  lapsis  eisdem  mensi- 
bus,  graliis  praediclis  posterioribus  lileris 3  concessis  nullo  modo  gaudere 

1  illis  non  ita  imputentur 

2  libere  et  licite  valeant 

3  gratiis  per  dictas  posteriores  literas 


RELACfJES  COM  A  CURIA  ROMANA  261 

possent.  Qui  lamen  si  ad  sui  excusalionem  aliquid  afierre  vellent,  beni- 
gne  et  secundum  christianam  mansueludinem  audirentur,  et  eorum  ¡ora 
et  defensiones  ad  eumdem  praedecessorem  per  dictum  nuncium,  sub  suo 
sigillo  elausae '  milterentur. 

Quodque  contra  noviler  conversos  ac  filios  et  descendentes  eorum 
confessos  vel  non  confessos,  quorum  lamen  excusationes  per  nuncium 
aut  depulatos  praefatos,  sive  eorum  aliquem  receptae  et  ad  dictum  prae- 
decessorem transmissae  essent,  in  negolio  inquisilionis,  vel  visilalionis  or- 
dinariae  vel  extraordinariae  super  criminibus  praedictis,  iuxla  formam  li- 
terarum  praedictarum,  usque  ad  annum  a  die  ípsarum  publicalionis,  etiam 
supersederelur,  quia  interim  dictus  praedecessor,  tam  super  eodem  ne- 
gotio,  quam  etiam  circa  illorum  fuluram  vilam,  opporlune  providere  in- 
tendebat. 

Dislriclius  inhibens  ómnibus  et  singulis,  etiam  iudicibus  ecclesiasli- 
cis  et  saecularibus,  ac  praelalis,  inquisitoribus,  ordinariis,  seu  delegatis, 
quacumque  auctoritate,  poteslale  et  dignilate,  eliam  ponlificali,  archiepis- 
copali,  primatiali,  et  patria  re  baU,  ac  statur  gradu,  condilione  et  praeemi- 
nentia,  etiam  cardinalalus  honore,  fulgentibus,  ac  tali  qualitale,  de  qua 
expressa  mentio  fieri  deberet,  pollenlibus,  a  praefato  praedecessore  seu 
Sede  praedicta,  etiam  ad  inslanliam  eiusdem  regis,  depulatis,  sub  excom- 
municationis,  suspensionis  el  interdicli  senlentiis,  ac  beneficiorum  et  offi- 
ciorum  per  eos  obtentorum  privalionis  poenis,  ne  aliquos  de  praemissis 
haeresi,  apostasia,  aut  blasphemia  culpabiles  aut  suspectos,  qui  graliis 
praedictis,  iuxta  posleriorum  sub  plumbo  literarum  tenorem,  gaudere  de- 
berent,  si  quos  sub  aliqua  custodia  vel  carceribus  lenerent  aut  in  exilium 
misisent,  amplius  detinerent,  aut  contra  eos  ad  ulteriora  procederent, 
imo  captos  relaxaren!,  et  exules  ad  palriam  secure  reddire  permilterent, 
et  in  eodem  stalu,  in  quo  anle  2  aecusationes,  condemnationes,  carcera- 
tiones,  exilia  et  bannimenta  buiusmodi  exislebanl,  reponerent ;  accusalo- 
ribus  vero,  denunciatoribus,  testibus,  inquisitoribus,  iudicibus,  promoto- 
ribus,  et  alus  quibusvis,  sub  similibus  censuris  et  poenis,  ne  contra  su- 
pradictos  etiam  non  culpabiles  nec  suspectos,  praemissorum  occasione, 
se  inlromittere,  nec  aliquos  ad  leslificandum  vel  aecusaudum  seu  denun- 

1  clausa 

2  et  in  eorum  stalu,  in  quo  iam  ante 


262  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

ciandum  inducere,  vel  alias  ¡líos  super  praemissis  vel  illorum  occasionc 
molestare  quoquomodo  praesumerent. 

Ac  decemenles  omnes  et  singólos  in  praemissis  inobedientes,  vel 
conlravcnluros  easdem  sententias,  censuras  et  poenas  eo  ipso  incurrere, 
et  beneficia  per  eos  tune  obtenta  eo  ipso  vacare,  et  ab  ipso  praedecessore 
ac  quibusuis  illorum  ordinariis  collatoribus  impelrari  et  conferri  posse, 
ipsasque  impetraliones  et  collaliones  ac  alias  dispositiones,  alias  legitime 
facías,  valere,  plenamque  roboris  firmilatem  obtinere ;  ac  easdem  pos- 
teriores literas  de  surreplionis  vel  obreplionis  vilio,  seu  intentionis  de- 
fectu  notari  vel  impugnan  non  posse,  nec  sub  quibusvis  revocationibus, 
modificalionibus,  limitalionibus  el  suspensionibus  quarumeumque  similium 
vel  dissimilium  lilerarum  (ac)  etiam  per  eumdem  praedecessorem  et  Se- 
dem  praefatam  faclis  et  faciendis,  nullatenus  comprehensas,  sed  ab  illis 
semper  exceptas  esse ;  et  quoties  revócale  vel  limitatae  essent,  tolies  in 
pristinum  et  eum,  in  quo  tune  exislebanl,  statum  restituías  et  reintégralas 
existere.  Necnon  illarum  transumptis,  manu  notarii  publici  subscriplis  et 
sigillo  eiusdem  nuncii  munitis,  eamdem  prorsus,  tam  in  iudicio,  quam 
exlra  illud,  fidem  adhibere1,  quae  ipsis  posterioribus  lileris  adhiberetur, 
si  forent  exhibitae  vel  ostensae. 

Sicquc  in  praemissis  ómnibus  per  praefatos  et  quoscumque  alios  in- 
quisitores  et  iudices,  et2  Sanctae  Romanae  Ecclesiae  Cardinales,  in  qua- 
cumque  inslantia  sive  (in)  iuditio  coram  eis,  etiam  tune  3  et  in  futurum 
pendente4,  iudicari,  senlenliari  et  definiri  deberé,  subíala  eis  et  eorum 
cuilibel  quavis  aliter  iudicandi,  sentenliandi  et  definiendi  facúltate.  Ac  ir- 
ritum  et  inane  quidquid  secus  super  his  a  quocunque  \  quavis  auctori- 
late,  eliam  per  ipsum  praedecessorem,  scienler  vel  ignoranter  continge- 
ret  alientan. 

Mandans  praefaclo  nuncio  ul,  per  se  vel  alium  seu  alios,  posterio- 
res lPieras  huiusmodi,  et  in  eis  contenta  quaecumque,  ubi  et  quando  ac 
quolies  opus  esset,  solemniter  publicando6,  ac  in  praemissis  eíücaciter 

1  adhiberi  deberé 

2  etiam 

3  nunc 

4  pendenlibus 
'*  quoquam 

6  plublicans 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  263 

assistendo1,  faceret  easdem  posteriores  literas  el  in  eis  contenta  quaecum- 
que,  ubi  et  quando  ac  quoties  opus  esset,  ürmiler  observan,  ac  singu- 
los,  quos  praediclae  posteriores  literae  concernebant,  illis  pacifice  gau- 
dere.  Nec  permitteret  eos  desuper  per  inquisitores  et  iudices  praefatos  seu 
quoscumque  alios,  quomodolibel  impediri,  molestan  vel  perturban,  ac 
contradictores  quoslibet  et  rebelles  per  censuras  et  poenas  ecclesiasticas 
et  alia  opporluna  iuris  remedia,  appellatione  postposita,  compescerel ;  in- 
vócalo eliam  ad  hoc,  si  opus  fuisset,  auxilio  brachii  secularis. 

Joannem  vero  Regem  praefatum  rogans  et  hortans  in  Domino  ut, 
pro  sua  in  hanc  sanclam  Sedem  devotione  el  observantia,  ipsi  Marco  nun- 
cio suis  auctoritate  et  favore  assistens,  non  permitteret  ipsum  Marcum 
nuncium  circa  praemissorum  execulionem,  aut  illos,  qui  sub  eisdem  pos- 
terioribus  literis  comprehendebantur,  quominus  iuxla  ipsarum  lilerarum 
tenorem  gaudere  possent,  quomodolibel  lurbari  aut  impediri.  Non  obslan- 
libus  praemissis  ac  piae  memoriae  Conifacii  Papae  octaui  el  aliorum  Ro- 
manorum  Pontificum  praedecessorum  (suorum),  ac  alus  apostolicis,  nec- 
non  in  generalibus  vel  specialibus  constitutionibus  el  ordinationibus,  etiam 
ab  eisdem  praedecessoribus,  etiam  pluries,  emanatis,  legibus  imperiali- 
bus,  necnon  etiam  juramento,  confirmalione  apostólica  vel  quavis  firmi- 
tate  alia  roboratis,  officii  inquisiloris2,  ac  ecclesiarum,  regnorum  et  do- 
miniorum  praedictorum,  illorumque  civilatum  et  locorum,  etiam  munici- 
palibus,  slalutis  et  consueludinibus,  privilegiis  quoque,  indullis,  etiam  in 
corpore  iuris  clausis ;  ac  etiam  in  forma  brevis  literis,  etiam  per  dictos 
praedecessores  et  Sedem  huiusmodi,  eliam  inquisitoribus  praediclis,  etiam 
ad  instanliam  eiusdem  Joannis  et  aliorum  quorumcumque  regum  et  regi- 
narum,  aut  etiam  motu  proprio  et  de  Sanctae  Romanae  Ecclesiae  cardi- 
nalium  consilio,  eliam  apostolicae  poteslalis  plcniludine,  ac  cum  quibus- 
vis,  etiam  derogatoriarum  derogatoriis,  aliisque  eííicacioribus  et  insolitis 
clausulis,  irritantibusque  el  alus  decrelis  concessis  et  innovalis,  eliam  si 
in  eis  caveretur  expresse  quod  illis  nullatenus,  aut  non  nisi  sub  cerlis 
inibi  expressis  modis  et  formis,  derogari  posset,  quibus  ómnibus,  etiam  si, 
pro  illorum  sufficienti  derogatione,  de  illis  illorumque  totis  lenoribus  spe- 
cialis,  speciíica,  expressa  et  individua,  non  aulem  per  clausulas  genera- 

1  assistens 

2  inquisitionis 


26i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

les  idem  impórtenles  menlio  sen  quaevis  alia  expressio  habenda  aut  aliqua 
alia  exquisita  forma  ad  hoc  servanda  esset,  tenores,  (ac  si  de  verbo  ad 
verbum  ac  forma  in  illis  tradila  obsérvala  inserli  essent,)  pro  sufíicien- 
ter  expressis  habens,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  ea  vice  dum- 
taxat,  motu  simili,  specialiter  et  expresse  derogavit,  caelerisque  contra- 
riis  quibuscumque  ;  seu  si  inquisitoribus  vel  iudicibus  praediclis  vel  qui- 
busvis  alus,  communiter  vel  divisim,  ab  eadem  esset  Sede  indullum  quod 
interdici,  suspendí  vel  excommunicari  non  possent  per  literas  apostólicas 
non  facientes  plenam  et  expressam  ac  de  verbo  ad  verbum  de  indulto 
huiusmodi  mentionem. 

Et  deinde  posteriores  literas  praediclas  non  alia  ralione,  nisi  vt  prae- 
fato  regi,  qui  multa  ad  Chrisli  gloriam  perlinenlia  semper1  huiusmodi 
absolutionis  concessione  eidem  praedecessori  per  specialem  eius  oratorem 
significare  velle  praemonuerat,  salisfaceret,  edi,  et  per  dictum  Marcum, 
episcopum  et  nuncium,  publicarí  per  alias  in  forma  breuis  literas  prohi- 
buit.  Ac  poslmodum,  tam  dilecto  filio  Henrico  de  Menezes,  eiusdem  re- 
gis  nuncio,  ad  ipsum  praedecessorem  ob  hanc  causam  specialiter  desli- 
nato,  quam  venerabili  fratri  nostro  Marlino  arcbiepiscopo  Funchalensi, 
suo  apud  eumdem  praedecessorem  oratori,  auditis,  ac  ómnibus  et  singu- 
lis,  quae  per  eos  adversus  praedictae  absolutionis  concessionem  acta  et 
in  scriptis  data  fuerant,  mature  consideratis,  sufficienlique  ad  omnia  ex 
urbanilate  dato  responso,  et  quid  ad  ea  per  eumdem  regem  replicaretur 
per  quatuor  menses  et  plus  eo  expectato,  per  alias  in  forma  breuis  lite- 
ras (statuit,)  declarauit  et  voluit  quod  literae  absolutionis  huiusmodi  in 
ómnibus  et  per  omnia  eam  vim  et  auctorilalem  haberent,  ac  si  in  regno 
praedicto,  iuxta  illarum  tenorem,  publicatae  fuissenl.  Addensquod  si  (per 
eumdem  regem  ac)  per  eius  ministros  aut  populum  effectum  foret  ut  prae- 
dicti  novi  christiani  secure  non  possent  ea  adimplere,  quae  diclus  prae- 
decessor  in  praediclis  (absolutionis)  literis  implenda2  esse  mandaverat, 
ut  praediclam  absolulionem  consequi  valerent,  ipsi  nihilominus  in  eis, 
quae  ad  polestatem  ipsius  praedecessoris  temporalem  perlinebant,  quoad 
forum  conlenliosum,  absoluti  et  liberi  esse  conserentur ;  ac  nullo  modo, 


1  super 

2  adimplenda 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  265 

ratione  delictorum  praedictorum,  ex  lunc  per  viam  ¡nquisitionis  seu  visi- 
tationis  ordinariae  vel  exlraordinariae  ?  molestari  vel  inquictari  valerent. 

Mandans  eidem  Marco,  episcopo  el  nuncio,  quem  ad  id  specialiter 
executorem  consliluerat,  quod,  eius  et  diclae  Sedis  nomine,  illius  decla- 
ralionem  et  \oluntalem  huiusmodi,  sub  eisdem  comminalionibus  et  cen- 
suris,  exequi  faceret,  quae  in  praesenlis2  veniae  lileris,  sub  plumbo  da- 
tis,  continebantur.  Non  obstantibus  diclis,  tam  sub  plumbo  quam  in  for- 
ma breuis  emanatis,  literis,  quibus,  illorum  omnium  tenores  pro  suffi- 
cienter  expressis  habens,  ipse  Clemens  praedecessor  derogavil,  caeteris- 
que  contrariis  quibuscumque. 

Poslmodum  autem,  cum  diclus  3  Martinus  archiepiscopus,  et  Henri- 
cus  eüam  apud  nos  oratores,  nobis  exposuissent  quod,  licet  postea  prae- 
fatus  rex  responsiones  suas  ad  causas  praediclas  misisset,  pularetque  per 
eas  conslare  ad  absolutionem  praefalam  4  sub  forma  praefata,  etiam  cau- 
sis, quae  dictum  praedecessorem  ad  id  induxerant,  non  obstantibus,  pro- 
cedí non  debuisset ;  lamen  (quia)  praefatus  praedecessor,  cui,  cum  infir- 
mitate  gravarelur,  ipsi  Martinus  archiepiscopus  et  Henricus  oratores, 
ipsius  responsiones,  quae  lempore  dictae  infirmitatis  ad  eorum  manus  per- 
venerant,  tradere  non  potuerant,  nesciens  responsiones  praedictas  delatas 
esse,  aut 5  putans  ipsum  regem,  ex  eo  forsan  quod  causae  praedictae  ad 
eum  missae  ila  validae  \iderentur  ut  congrue  ad  eas  responden  non  pos- 
set,  ipsas  responsiones,  tamquam  non  urgentes,  non  misisse6,  praemissa 
in  ultimo  dalis  literis  contenta  statuerat  et  ordinaverat ;  quodque  nos  res- 
ponsiones ipsas  debite  altendere  et  considerare,  ac  malure  in  hoc  nego- 
lio,  ex  quo  dictorum  regnorum  quies  non  parum  pendebat,  providere  vel- 
lemus,  apud  nos,  nomine  ipsius  regis,  institissent,  nos  responsiones  prae- 
dictas per  ipsos  oratores  nobis  traditas  nonnullis  viris,  doctrina,  integri- 
tate,  gra vítate,  experientia  decoralis,  examinandas  tradidimus,  ea  inten- 
lione  ut,  habita  illorum  relatione,  in  hoc  negotio,  prout  ad  nostrum  spe- 
ctabat  oííicium,  prouideremus ;  praefaclo  Marco  episcopo  et  nuncio,  ne, 

1  ordinarie  vel  extraordinarie 

2  praedictis 

3  dicli 

4  praedictam 

5  ac 

6  missas  non  esse 

TOMO   III.  31 


266  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

etiam  vigore  praedictarum  et  quarumcumque  aliarum  literarum  a  prae- 
fato  praedecessore  emanalarum,  ac  universis  et  singulis  de  haeresi  et  a 
fide  aposlasia  culpabiiibus  seu  suspectis,  ne  modo  aliquo  literas  absolulio- 
nis  publicare,  aut,  si  publicalae  forent,  eis  uli  ;  inquisitoribus  aulem  prae- 
dictis,  ne,  vigore  literarum  per  ipsum  praedecessorem  super  eorum  deputa- 
tionem,  ut  praefertur,  concessarum  ;  ordinariis  (vero)  ne  facullatis  eis  de 
iure  vel  consuetudine  concessae  vigore,  aliquem  ex  dielis  de  haeresi  et 
apostasia  culpabiiibus  et  suspectis,  occasione  criminum  per  eos  commis- 
sorum,  modo  aliquo  moleslare  auderent  vel  praesumerent,  doñee  aliud  per 
nos  desuper  ordinatum  foret,  per  quasdam  inlerim  inhibentes,  voluimus 
quoque  ut  si  qui  ob  crimina  huiusmodi  carceribus  mancipati  inveniren- 
lur,  nisi  relapsi  forent,  dala  idónea  cautione,  de  ipsos  carceres,  quoties 
per  eos,  ad  quos  speclabat,  desuper  requisiti  forent,  intrando,  et  si  eorum 
bona  in  manus  l  fisci  devenissenl,  aut  ad  eius  inslanliam  sequeslrala  es- 
sent,  absque  alia  cautione,  ex  praefatis  carceribus  relaxarentur. 

Et  demum,  cum  praedicli  viri,  discussis  et  malure  consideralis  per 
eos  rationibus  huiusmodi  et  alus  quae  consideranda  erant,  Mieras  abso- 
lutionis,  per  dictum  praedecessorum,  ut  praefertur,  concessas,  execulioni 
debitae  demandandas  esse  nobis  retulissent,  nos  praefalo  Marco  episcopo 
et  nuncio  per  alias  nostras,  etiam  in  forma  breuis,  literas  dedimus  in  man- 
datis  quatenus  ad  execulionem  diclarum  absolutionis  literarum,  iuxla  il- 
larum  tenorem,  in  ómnibus  et  per  omnia,  perinde  ac  si  earum  execu- 
lionem per  dictas  literas  non  suspendissemus,  et,  ut  supra  est  dictum,  non 
inhibuissemus,  procederet,  prout  in  eisdem  literis,  quarum  omnium  te- 
nores hic  pro  suflicienter  expressis  haberi  volumus,  plenius  conlinelur. 

Cum  autem,  sicut  accepimus,  literae  absolutionis  huiusmodi,  si  illa 
forma,  quoad  nonnulla  in  ipsis  literis  contenta,  servelur,  de  facili,  absque 
scandalo,  executioni  demandari  non  possent,  pracscrlim  cum,  pro  non- 
nullis  Sedem  Apostolicam  concernentibus  causis,  diclum  Marcum  episco- 
pum  et  nuncium,  qui  super  praemissis  executor,  ut  praeferlur  depulalus 
fuit,  brevi  ad  nos  vocare  intendamus,  nos  ex  praemissis,  et  alus  causis 
animum  nostrum  moventibus,  literas  ipsas  suum,  prout  convenil  ad  ob- 
viandum  animarum  periculis,  eíTeclum  sorliri  volenles,  molu  proprio,  et 
ex  certa  noslra  scienlia  ac  apostolicae  poteslalis  plenitudine,  volumus  et 

1  man  i  luis 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  267 

decernimus  quod  líteme  veniae  praedictae,  quae,  ut  acccpimus,  iam  diu 
Ordinariis  regni  et  dominii  praedictorum  vcl  eorum  oííicialibus  pro  maiorí 
parle  inlimalae  fuerunt,  quoad  absolulionem  et  omnia  alia  in  eis  contenía, 
eam  vim  et  auctoritatem  habeant,  perinde  ac  si  in  regno  et  dominiis  prae- 
dictis,  iuxla  ipsarum  literarum  formam,  in  ómnibus  et  per  omnia  pu- 
blicalae,  et  novi  chrisliani,  ab  eisque  descendentes,  omnesque  alii  ab  he- 
braeis  originem  quomodolibel  habenles  l  in  praedictis 2  lileris  compre- 
hensi,  de  hacresis  el  alus  praedictis  criminibus  culpabües  et  suspecli,  et 
in  regnis  et  dominiis  praefalis  vel  extra  illa  tamquam  haerelici  inquisili, 
accusati,  publice  vel  occulle  diíTamati,  eliam  si  eorum  crimina  in  iudilio 
nolorie  publícala  fuerinl3,  et  tamquam  haerelici  senlentialiler  condemnali 
et  uli  tales  ipsi  habiti,  convicti,  reconcilian,  et  eorum  bona  publicata,  et 
contra  eos  senlenliae  desuper  lalae  et  execulae,  et  poenitentiae  publicae 
iniunctae,  vel  illi  propterea  carcerali,  confessiones,  abiuraüones,  renun- 
cialiones,  purgaliones,  poenilentias  iniunclas,  et,  iuxla  dictarum  litera- 
rum formam,  iniungendas,  omniaque  alia  in  diclis  literis  contenta,  adim- 
plevissent,  et  per  eos  realiter  adimpleta  et  cum  effectu  completa  fuissenl. 
Decernenles  quod  in  foro  lemporali,  civili  et  criminal),  etiam  conlentioso, 
de  ómnibus  et  singulis  criminibus  per  dictas  literas  veniae  (eis),  ut  prae- 
miltilur,  remissis,  eliam  hactenus  quomodolibet  per  eos,  qui  lempore  da- 
lae  dictarum  literarum  sub  plumbo  in  regno  el  dominiis  praedictis  mo- 
rabantur,  el  alios  ab  hebraeis  descendentes,  in  dictis  lileris  veniae  com- 
prehensos,  perpetratis,  plenarie  absoluti  et  liberali  sint  et  inlelligantur, 
proul  nos  eliam  (eos)  molu,  scientia  et  poteslate  similibus,  plenarie  absol- 
vimus  et  liberamus. 

Volentes  quod,  quoad  forum  fori,  ad  aliquam  confessionem,  abiu- 
rationem,  renunciationem,  purgalionem,  (poenilentiam,)  aliorumque  in  di- 
ctis literis  contentorum  executionem,  paritionem  et  diligentiam,  non  te- 
neanlur,  lam  quoad  haeresis,  aposlasiae,  blasphemiae  el  alia  praefala  cri- 
mina, quam  in  foro  conscientiae  dumlaxat  quoad  ea  et  omnia  alia  deli- 
licta  et  excessus,  pravitatem  huiusmodi  non  sapienlia,  quaecumque,  quot- 
cumque,  et  qualiacumque  fuerinl,  dummodo  eorum  errata  et  excessus 


1  tradentes 

2  pracfatis 

3  probala  fuissent 

Si* 


268  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

alicui  per  eos  eligendo  confessori  sacramentaliter  corde  contricti  el  ore 
confessi  fuerint,  absque  aliqua  publica  poenilenlia  eis  iniongenda,  in  óm- 
nibus et  per  omnia  suffragari  volumus.  Decernentes  quod,  ob  confessio- 
nem  et  conlritionem  praediclas  quomodolibet  omissas,  nullo  pacto,  tempo- 
raliter  el  in  foro  contentroso  et  civili,  quominus  plenarium  praemissorum 
effecfura  libere  consequanlur,  impediri,  molestan  seu  perturbari  possinl ; 
ac  per  eos  eligendis  confessoribus  ipsos  el  eorum  singulos  a  praemissis  ab- 
solvendi  plenariam  et  generalissimnm  poleslatem  et  facultatem  concedimus 
et  imparlimur.  Necnon  eosdem  carceratos  vel  alias  delentos  el  exules,  eliam 
a  carceribus,  (exiliis)  et  bannis,  quibus,  occasione  criminum  haeresis  et 
apostasiae  et  blasphemiae  huiusmodi,  detenli  et  condemnali  exislant,  re- 
laxamus  et  liberamus,  ac  relaxan  et  liberan  mandamus. 

Ac  ómnibus  et  singulis  alus  privilegiis,  exemplionibus,  favoribus, 
gratiis,  immunitatibus,  Übertalibus  et  concessionibus  in  dictis  literis  ve- 
niae  (contentis),  et  quibus  alii  christifideles,  eorumque  filii  et  nepotes  ac 
ab  eis  descendentes,  utuntur,  potiunlur  el  gaudent,  ac  uli,  potiri  et  gau- 
dere  libere  el  licite  valeanl  in  ómnibus  el  per  omnia,  perinde  ac  si  ipsi 
eorumque  avi,  proavi,  párenles  et  alii  genitores  veré1  chrisliani  fuissent 
et  nunquam  a  fide  catholica  deviassenl,  de  specialis  dono  gratiae  plenis- 
sime  dispensamus,  eisque  pariter  indulgemus ;  omnemque  inhabilitatis  et 
infamiae  maculam  sive  notam  circa  eos,  praemissorum  occasione,  tam  ex 
propriis  quam  illorum  parentum,  consanguineorum  et  affinium  culpis, 
etiam  sententiis  earumque  executionibus,  et  alias  quomodolibet  insurgentes, 
ab  eis  penitus  et  omnino  delemus2;  ac  confiscationes  bonorum,  siquae 
hactenus,  etiam  post  diclas  literas  veniae,  in  diclis  regnis  el  dominiis  fa- 
ctae  fuerint,  quorum  tamen  possessio  pro  fisco,  ante  dalam  lilerarum  ve- 
niae sub  plumbo  per  eumdem  Clementcm  praedecessorem  noslrum  con- 
cessarum,  apprehensa  non  fuerit,  necnon  processus  contra  illos  et  illorum 
singulos  fórmalos,  senlenliasque  latas,  necnon  informaliones  et  alia  quac- 
cumque  acta  etgesla,  ordinaria  et  extraordinaria,  in  iuditio  et  extra,  con- 
tra eos  hactenus  similiter,  eliam  post  diclas  literas,  facta,  quorum  om- 
nium  tenores,  status  et  merita,  eliam  praesenlibus  haberi  volumus  pro 
lalissime  expressis,  cassamus,  irrilamus  et  annullamus  alque  delemus,  ac 


1  ven 

2  abolemus 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  269 

Cftesala,  irrita,  delela  el  annullata  fore  decemimus ;  ipsaque  bona  sic  con- 
físcala eis,  a  quibus  ablala  fuerinl,  el,  eis  morluis,  eorum  haeredibus  et 
successoribus,  si  eidem  fisco,  ul  praemittilur,  incorpórala  non  sinl,  ple- 
nissime  remittimus,  donamus  et  resliluimus,  eosque  et  illa  in  pristinum 
et  eum,  in  quo,  ante  praemissa  el  tempore  quo  baptizali  fuerant,  stalum, 
erant,  restituimus,  reponinius  et  plenarie  reinlegramus. 

Et  insuper  aucloritate  el  lenore  supradiclis  slatuimus  et  ordinamus, 
volumus  et  mandamus  quod  praedicli  liberi  el  plenarie  absoluli,  luli  et 
securi  remaneant ;  et  de  haeresim  et  apostasiam  ac  blasphemiam  sapienti- 
bus,  et  alus  criminibus  (et)  excessibus  praediclis l,  per  ipsos  usque  ad  diem 
datae  presentium,  quomodolibet  perpetralis,  nullalenus  inquirí,  accusari  vel 
molestan  possint;  ac  quod,  praemissorum  occasione,  ipsis  vel  illorum  fi- 
liis  et  descendentibus  in  nullo  praeiudicari  nec2  praeiudicium  afferri,  nec 
reconciliati  censeri,  etiam  ex  eo  quod  diclorum  delictorum  seu  aliquorum 
ex  eis  veniam  pelierint  vel  ab  eis  absoluti  fuerinl ;  nec  eliam  si  forsan  in 
aliquem  praedictorum  errorum  in  posterum  reinciderint  vel  alias  quomo- 
dolibet deprehensi  exliterint,  relapsi  videantur,  nec3  aliquod  ex  praeleri- 
tis  indicium,  eliam  mínimum,  contra  eos  oriri,  allegan  vel  deduci  posse, 
in  iudicio  et4  extra,  indulgenlia,  remíssio  et  alia  in  damnum  iniuriam  vel 
aliud  5  incommodum  illorum  retorqueri  nequeant. 

Districlius  inhibentes  ómnibus  et  singulis,  eliam  iudicibus  ecclesias- 
licis  el6  saecularibus,  ac  praelatis,  inquisitoribus,  ordinariis  seu  delega- 
tis,  quacumque  auctorilale  seu  potestale  el  dignüale,  eliam  pontifican,  ar- 
chiepiscopali,  primaliali  et  patriarchali,  ac  slalu,  gradu,  condilione,  et 
praeeminenlia,  eliam  cardinalatus  honore,  fulgentibus,  ac  7  tali  qualilale, 
de  qua  expressa  menlio  fieri  deberet,  pollenlibus,  etiam  a  nobis  seu  Sede 
praefala  8,  etiam  ad  inslanliam  eiusdem  regis,  deputatis  et  pro  lempore 
depulandis,  sub  excommunicalionis,  suspensionis  et  inlerdicti  scntenliis,  et 

1  supradictis 

2  vel 

3  ñeque 

4  vel 

5  alium 

6  vel 
7et 

8  praedicta 


270  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

beneficiorum  ac  oííiciorum  per  eos  oblenlorum  privalionis  poenis  eo  ipso, 
nisi  parucrint,  incurrendis,  ne  aliquos  de  haeresi,  apostasia  ac  *  blasphe- 
mia  el  alus  praemissis  culpabües  aul  suspeclos,  qui  graliis  praediclis,  iuxla 
praesentium  lenorem,  gaudere  deberenl2,  si  quos  sub  aliqua  custodia  vel 
carceribus  leneant  aut  in  exilia  miserint3,  amplius  detineant,  aut  contra 
eos  ad  ulteriora  procedant,  immo  caplos  relaxent,  et  exules  ad  palriam 
rediré  permittanl,  et  in  eodem  4  slatu,  in  quo  fuerunt,  et  ante  aecusationes, 
condemnaliones,  (carcerationes,)  exilia  el  bannimenta  huiusmodi  existebant, 
reponant ;  aecusatoribus  vero,  denunciatoribus,  teslibus,  inquisitoribus, 
iudicibus,  promotoribus  el  alus  quibusvis,  sub  similibus  censuris  et  poenis, 
ne  contra  supradictos,  deliclorum  haercsim  ac  a  fide  aposlasiam  el 5  blas- 
phemiam  sapientium  haclenus  commissorum  occasione,  se  inlromiltere,  nec 
aliquos  ad  testificandum  ye!  aecusandum  seu  denunciandum  inducere,  vel 
alias  illos  super  praemissis  vel  illorum  occasione  molestare  quomodoli- 
bele  praesurnant.  Ac  decernenles  omnes  et  singulos  in  praemissis  inobe- 
dientes vel  contraventuros  7  easdem  sententias,  censuras  el  poenas  eo  ipso 
incurrere,  et  beneficia  per  eos  tune  obtenta  eo  ipso  vacare,  et  a  uobis  vel 
a  quibusvis  illorum  ordinariis  collaloribus  impetran  et  conferri  posse ; 
ipsasque  impetraliones  et  collationes  ac  aüas  disposiliones,  alias  legitime 
factas,  valere  plenamque  roboris  firmilatem  oblinere ;  ac  easdem  praesen- 
tes  literas  de  subreplionis  vel  obreptionis  vilio  seu  inlentionis  noslrae  de- 
fectu  nolari  vel  impugnan  non  posse,  nec  sub  quibusvis  revocationibus, 
modificalionibus,  limitationibus  et  suspensionibus  quarumeumque  similium 
vel  dissimilium  lilerarum,  ac  etiam  per  nos  el  Scdem  eamdem  faclis  et 
faciendis  nullalenus  comprehensas,  sed  ab  illis  se m per  exceptas  esse,  et 
quolies  revocalae  vel  limitatae  fuerint,  toties  in  pristinum  el  eum,  in  quo 
ad  praesens  exislunt,  slalum  restituías  el  reintégralas  exislere.  Necnon  il- 
larum  transumptis,  manu  nolarii  publici  subscriptis,  eamdem  prorsus,  tam 
in  indicio  quam  extra  illud,  fidem  adhiberi  deberé,  quae  ipsis  praesenlibus 

1  aut 

2  deben t 

3  emiserint 
*  corum 

1  ac 

G  qnoqtiomodo 

7  contravenientes 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  271 

adhiberelur,  si  forent  exhibitac  vel  oslensae.  Sicque  ¡n  praemissis  ómni- 
bus per  praefatos  et  quoscumque  alios  inquisitores  et  iudices,  eliam  San- 
ctae  Romanae  Ecclesiae  cardinales,  in  quacumque  inslanlia  sive  iudicio 
coram  eis,  eliam  nunc  et  in  fulurum,  pendente,  iudicari,  senlentiari  et 
definiri  deberé,  subíala  eis  et  eorum  cuilibet  quavis  aliler  iudicandi,  sen- 
lentiandi  et  definiendi  facúltate,  ac  '  irritum  et  inane  quicquid  2  secus  su- 
per  his  a  quocumque3,  quavis  auclorilale,  scienter  vel  ignoranter,  con- 
tig'erit  altentari. 

Quocirca  venerabilibus  fratribus  noslris  Tranensi  et  Ulixbonensi  ar- 
chiepiscopis  ac  episcopo  Ferrariensi  per  haec  scripla  mandamus  quatenus 
ipsi,  vel  dúo  aut  unus  eorum,  per  se  vel  alium  seu  alios,  easdem  prae- 
senles,  pro  maiori  praedictorum  nolitia,  et  in  eis  contenta  quaecumque, 
ubi  (et)  quando  et4  quolies  opus  fuerit,  eliam  in  Romana  Curia  ac  eius 
locis  solilis  et  consuelis,  publicantes,  ac  5  in  praemissis  efíicaciter  assis- 
lenles,  faciant  praesentes  et  in  eis  contenta  quaecumque,  ubi  et  quando 
et6  quolies  opus  fuerit,  firmiter  observan,  ac  singulos  quos  ipsae  prae- 
sentes concernunt,  illis  pacifice  gaudere.  Necnon  quibuscumque  habenti- 
bus  interesse  instrumenlum  intimalionis  huiusmodi,  cum  insertione  earum- 
dem  praesentium,  omni  contradictione  et  excusatione  cessante,  tradant  et 
concedant  ac  7  tradi  et  concedí  faciant.  Non  permitientes  eos  desuper  per 
inquisitores  et  iudices  praefatos  seu  quoscumque  alios  quomodolibet  im- 
pediri,  molestari  vel  perturban.  Contradictores  quoslibel  et  rebelles  per 
censuras  el  poenas  ecclesiasticas  ac8  alia  iuris  opportuna  remedia,  appel- 
lalione  postposifa,  compescendo,  invocato  etiam  ad  hoc,  si  opus  fuerit, 
auxilio  bracliii  saecularis ;  ne  autem  super  anno,  in  quo  futurae  vitae  d¡- 
ctorum  novorum  chrislianorum  modus,  iuxta  voluntalem  dicli  Clemenlis 
praedecessoris,  dari  debet,  aliqua  dubilalio  oriatur,  volumus  et  dicta  au- 
ctoritate  decernimus  ipsum  annum  a  die  datae  praesentium  incipere. 


1  et 

2  quidquid 

3  quoquam 
*  ac 

5  et 


et 


272  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Non  obslantibus  praemissis,  ac  eliam  felicis  recordationis  Bonifacii 
Papae  viu  et  aliorum  Romanorum  Ponlificum  praedecessorum  nostrorum, 
et  alus  aposlolicis,  necnon  in  gencralibus  el '  provincialibus  et  synodaübus 
concilüs  edilis,  generalibus  et2  specialibus  conslilulionibus  el  ordinatio- 
nibus,  eliam  ab  eisdem  vel  a  nobis,  eliam  pluries,  emanalis,  legibus  im- 
perialibus,  necnon  eliam  ¡nramento,  confirmalione  apostólica,  vel  quavis 
firmitale  alia  roboratis,  oíücii  inquisitionis  (el)  ecclesiarum  ac  regnorum 
et  dominiorum  praedilorum  illorumque  dignitalum  et  locoruin,  etiam  mu- 
nicipalibus  stalutis  el  consuetudinibus,  senlenlüs,  privilegiis  quoque,  in- 
dullis,  etiam  in  corpore  iuris  clausis ;  ac  eliam  in  forma  brevis  literis, 
eliam  per  nos  et  praedecessores  nostros  et  Sedem  huiusmodi,  eliam  in- 
quisitoribus  praedictis,  eliam  ad  instantiam  eiusdem  Joannis  et  aliorum 
quorumcumque  regum  et  reginarum,  aut  eliam  motu  proprio  et  de  San- 
ctae  Romanae  Ecclesiae  cardinalium  consilio,  eliam  aposlolicae  poleslatis 
plenitudine,  ac  cum  quibusvis  eliam  derogatoriarum  derogaloriis  aliisque 
efficacioribus  et  insolitis  clausulis,  irritanlibusque  el  alus  decretis,  con- 
cessis,  approbalis  et  innovalis,  etiam  si  in  eis  caventur  expresse  quod  illis 
nullalenus,  aut  non  nisi  sub  certis  inibi  expressis  modis  et  formis,  dero- 
gan possit,  quibus  ómnibus,  etiam  si,  pro  illorum  sulücienli  derogalione, 
de  illis  illorumque  totis  tenoribus  specialis,  specifica,  expressa  et  indivi- 
dua, non  autem  per  clausulas  generales  idem  importantes,  mentio  seu  quae- 
\is  alia  expressio  habenda  aut  aliqua  alia  exquisita  forma  ad  boc  ser- 
vanda  foret,  tenores  huiusmodi,  ac  si  de  verbo  ad  verbum  ac  forma  in 
illis  tradita  observata,  inserti  forent,  pro  suííicienter  expressis  habentes, 
illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  vice  dumtaxat,  harum  serie, 
motu,  scientia  et  poleslatis  plenitudine  praedictis,  specialiter  et  expresse 
derogamus,  caeterisque  contrariis  quibuscumque ;  seu  si  inquisitoribus  et 
iudicibus  praedictis  et3  quibusvis  alus,  communiler  vel  divisim,  abeadem 
sit  Sede  indullum  quod  interdici,  suspendí  vel  excommunicari  non  pos- 
sinl,  per  literas  apostólicas  non  facientes  plenam  et  expressam  ac  de  verbo 
ad  verbum  de  indulto  huiusmodi  mentionem. 

Volumus  autem  quod  carcerati  vel  sub  cautionibus  relaxati,  qui  de 


1  ac 

2  vel 
J  vel 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  273 

haeresi,  aul  a  fide  aposlasia,  seu  blasphemia  haeresim  sapienti,  condem- 
nati  aut  convicli  fuerint,  aut  desuper  confessionem  fecerint,  abiurationem 
super  hoc  coram  aliquo  iurisdictionem  habente,  per  hos  eligendo,  publice 
faceré  omnino  leneantur.  Et  abiuratione  huiusmodi  facta,  eliam  absque 
publica  poenitentia  per  eos  facienda,  iuxta  formara  praediclarum  sub 
plumbo  confectarum  literarum,  omnino  relaxentur. 

Dalum  Romae  apud  Sanclum  Petrum,  sub  annulo  Piscatoris,  die 
duodécima  oclobris,  millesimo  quingentésimo  trigésimo  quinto,  pontifica- 
tus  nostri  anno  primo.  —  Blosius1. 


1  Impresso  no  Collectorio  das  Bullas  do  Sancto  Officio,  fol.  42,  e  no  Magnum  Bul- 
larium  Romanum,  Tom.  VI,  pag.  205  (Edig.  de  Turim,  1860).  Ambos  os  transumptos 
sao  imperfeitos,  havendo  neste  ommissoes,  que  nao  se  notam  naquelle,  e  vice  versa :  pa- 
receu-nós,  com  tudo,  mais  conveniente,  na  falta  do  original  que  nao  encontramos,  tomar 
para  texto  o  Collectorio,  visto  ser  feito  para  uso  do  proprio  tribunal,  e  aproveitar  do 
Bullarium  as  palavras  que  vao  entre  parenthesis,  a  divisáo  em  §§,  e  a  orthographia, 
reservando  para  notas  as  outras  variantes  de  menos  importancia. 

Este  breve  foi  publicado  em  Roma  no  dia  2  de  novembro,  como  consta  do  seguinte 
auto,  que  transcrevemos  do  Bullarium  citado  (pag.  217,  col.  1.a  e  2.a):  Anno  a  nativi- 
tate  Domini  millesimo  quingentésimo  trigésimo  quinto,  indictione  octava,  die  vero  se- 
cunda mensis  novembris,  pontificatus  sanctissimi  in  Christo  patris  et  domini  nostri  do- 
mini Pauli,  divina  providenlia  Papae  m,  anno  primo,  retroscriptae  literae,  in  forma 
brevis,  in  praesenti  quinterno  descriptae,  affixae  et  publicatae  fuerunt  in  acie  Campi 
Florae  valvisque  Cancellariae  Apostolicae  ac  in  valvis  Principis  Apostolorum  de  Urbe 
et  in  alus  locis  publicis  et  solitis  ac  consuetis  Romanae  Curiae,  ut  moris  est,  per  me 
Simonem  de  Bellavilla,  sanctissimi  domini  nostri  praelibati  Papae  cursorem  — Aymo 
Gilleon,  magister  cursorum. 

TOMO  III.  35 


27 i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Carta  de  D.  Heiirique  de  llenezes  a  el-Itei. 

1535 — Novemliro  1. 


Senhor  —  A  xi  deste  oytubro  partió  d  aqui  hum  correo  pera  castela, 
e  per  ele  escreuy  a  Vossa  Alteza,  dirygydo  o  maco  ao  bispo  de  lyáo,  e 
Ihe  dey  larga  conta  do  que  passa  nesle  cardealado,  que  o  arcebispo  tanto 
Requere,  e  lhe  mandey  hua  carta  de  santiquatro  sobr  ysso  muy  larga 
em  portugués.  Creo  que  estas  cartas  deuem  ser  em  máo  de  Vossa  alteza, 
e  que  leraa  feilo  e  escryto  sobr  ysso  o  que  for  seu  seruico,  e  por  ysso 
Ihe  nom  torno  a  Resumyr  aqui  outra  uez  ludo  pelo  myudo.  Mas  agora, 
auerá  qualro  ou  cinquo  dias,  me  tornou  santiquatro  a  chamar,  e  me  disse 
que  de  nouo  lhe  tornou  o  papa  a  dizer  a  instancia  que  nysso  se  lhe  fa- 
zia,  estando  lodauya  em  prepósito  de  o  nao  fazer  polas  Rezóes  ja  ditas ; 
e  dizendome  santiquatro  que  outra  uez  per  este  correo  tornasse  auysar 
Vossa  Alteza  que  escreuesse  a  ele  e  ao  papa  sobr  ysso  uossa  tencao,  e 
lh  agardecesseis,  senhor,  o  amor  e  respeilo  que  nysso  vos  lem  :  e  que 
em  todo  caso  vos  auysasse,  e  que  Vossa  Alteza  escreuesse  sua  uontade  e 
agardeeymentos,  que  fossem  aquí  antes  das  qualro  témporas  de  santa  lu- 
zia,  porque,  com  quanto  o  papa  eslaua  naquele  bom  proposito,  lodauya 
que  era  uelho  e  poderya  este  homem  peitar  alguum,  ou  a  pero  luys,  íi- 
lho  do  papa,  e  poderya  ñas  qualro  témporas  sayr  alguma  cousa  per  peita 
ou  emporlunac,ao  de  que  Vossa  Alteza  nom  fosse  seruydo,  porque  nesle 
tempo  crya  que  faryao  alguns  cardeaes.  Peco  muito  por  merce  a  Vossa 
Alteza  que  se  nom  descuyde,  se  nysto  quer  ser  seruydo  ou  nom  quer  ser 
desseruydo :  e  escreua  ao  cardeal  e  per  ele  ao  papa  sua  vonlade  no  por- 
uyr  e  agardecymenlos  polo  passado,  e  farsaa  o  que  Vossa  Alteza  quyser 
e  mandar.  E  por  cao  largo  e  craro  lho  escreuemos  santiquatro  e  eu,  como 
diguo,  nom  lenho  nysto  mais  que  dizer  senao  que  este  homem  trabalha 
e  nom  fala  em  al  senao  em  ser  cardeal ;  por  ysso,  se  o  Vossa  Alteza  quer 
ou  nao  ele  o  veja,  que  eu  nom  posso  nem  sou  mais  obrygndo  fazer  que 
fazer  uolo  saber,  e  Vossa  Alteza  faca  o  que  for  mais  seu  seruyeo,  que  a 
mym  islo  nom  me  pesará  nem  m  aprazerá  por  mais  que  por  como  Vossa 
Alteza  for  diso  seruydo  ou  desseruydo.  O  que  eu  nislo  peco  a  Vossa  Al- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  275 

leza  sao  duas  merces :  a  primeira  que  isto  se  faca  que  se  nom  possa  pre- 
sumyr  que  o  eu  somente  entendo  nem  cheyro,  qua  nem  laa ;  porque  qua 
ha  hum  Rio,  a  que  chamao  o  tybre,  onde  se  lancarao  ja  muitos  homens 
mylhores  que  eu,  e  ha  tambem  peconha  com  que  se  despacharao  outros 
mais  honrados:  e  darao  a  entender  que  christaos  n-ovos  mo  fizerao.  E 
sanliquatro  me  dysse  antontem  que  este  homem  Ihe  comecaua  a  dyzer 
mal  de  mym,  e  que  eu  me  deuya  de  mudar  daquy  ou  guardarme  muito 
bem  de  peconha  :  e  isto  nom  pode  ser  nem  lem  nynhurn  Remedio  senao 
o  de  deus  e  de  Vossa  Alteza.  A  segunda  merce  que  peco  he  que  me  mande 
yr  loguo  d  aquy,  como  lhe  tenho  muitas  uezes  pydydo  e  agora  muito 
mais,  sern  se  poder  somente  presumyr  o  porque :  e  eu  ydo  fará  d  est  ou- 
tro  o  que  quyser ;  e  será  mylhor,  a  meu  uer,  antes  d  eu  poder  ser  che- 
gado  a  Vossa  Alteza,  ou  da  maneira  que  lhe  mylhor  parecer,  porque  isto 
vay  de  maneira  que,  ou  me  Vossa  Alteza  ha  ¿le  mandar  yr  com  muito 
seu  seruyco,  ou  eu  yrme  meter  no  lymoeyro  sem  sua  licenca,  ou  enco- 
mendar vos  mynha  molher  e  filhos,  como  fez  o  conde  meu  avo,  porque 
o  que  eu  synto  nom  no  posso  ainda  dyzer  canto  mais  escreuer.  E  por- 
que o  tempo,  que  Vossa  Alteza  quys  queu  aquy  mais  estiuesse,  he  passa- 
do,  beyjarlhey  as  maos  co  a  Reposta  desta,  ou  sem  ela,  auer  por  bem 
que  me  vaa  sem  esperar  mais  as  dylacoes  deste  negocio.  E  fazendo  Vossa 
Alteza  esta  dyligencia  que  diguo  de  escreuer  ao  cardeal  e  ao  papa,  nom 
deue  d  arrecear  que  se  faca  nada  em  uosso  desseruyco  ate  mandardes,  se- 
nhor,  yr  esloutro  embaixador  cando  diguo,  ou  vos  parecer  mylhor  e  mais 
uosso  seruyco  e  seguranca  mynha ;  porque,  como  ja  disse  na  outra,  nom 
arreceo  senao  isto,  e  que  a  quem  isto  toca  ante  Vossa  Alteza  mesmo  me 
lancar  a  longe  mynha  honra  e  vyda,  porque  abertamente  e  de  Rosto  a 
rosto  bem  nos  auyryamos  co  ajuda  de  deus.  Vossa  Alteza  nom  deyxe  isto 
a  beneficio  de  natura,  e  despache  loguo,  se  jaa  nom  lem  despachado,  que 
possa  ser  aquy  antes  de  santa  luzia,  postoque,  se  o  ja  nom  lem  feyto,  este 
parle  a  tempo  que  nom  creo  que  possa  ser,  porque  ja  o  papa  sabe  que 
he  Vossa  Alteza  disto  auisado  per  santiquatro,  e  lhe  preguntou  se  serya 
ja  la  este  recado  que  d  aquy  mandamos  a  xi  d  oytubro,  como  ja  dysse. 
E  pois  eles  querem  nom  fazer  o  de  que  Vossa  Alteza  seja  desseruydo, 
querem  tambem  que  Iho  agardecao  e  saber  uossa  uontade,  e  he  Rezao. 
Disto  nom  posso  mais  nem  mais  craro  escreuer.  Vossa  Alteza  faca  o  de 
que  mais  for  seruydo. 

Jo* 


276  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ítem.  Senhor,  se  Vossa  Alteza  nom  tem  respondydo,  responda  ao  que 
lliescreny  pelo  seu  correo,  o  couto,  que  daquy  parlyo  a  xiu  de  setem- 
bro,  sobo  los  queixumes  do  papa  ;  porque  crea  Vossa  Alteza  que  nem  ao 
datayro  nem  ao  cardeal  Zinuclie,  que  foy  auditor  da  cámara,  nom  se  pode 
falar  em  nada  desse  Reyno,  quer  seja  negocio  uosso  quer  alheo,  que  nom 
digao  que  se  nom  pode  fazer  nada  por  cao  mal  enformado,  e  cao  indi- 
nado o  papa  estaa  dele  e  de  seu  Reino.  E  isto  tudo  he  pola  pregacao  de 
mestre  aflbnso,  e  polo  mosteiro  de  cristovao  leilao,  e  mestura  se  o  bar- 
roso em  tudo,  e  entao  o  nuncio  que  assoprou  sempre  estes  foles  canto 
pode:  por  ysso Vossa  Alteza  responda  e  salisfaca  ao  papa  muito  bem  e 
com  breuydade,  senao  nom  se  pode  nunca  fazer  nem  falar  nada  de  uosso 
seruyeo,  nem  do  cardeal  uosso  irmao,  que  tambem  o  metem  na  culpa 
da  pregacao  de  mestre  Affonso.  E  a  meu  ver  Vossa  Alteza  o  deuya  des- 
cusar  huns  dias  e  escreuer  ao  papa  muitas  satisfáceles  sobrysso,  e  seres 
amygos  e  concertados,  e  poderaa  Vossa  Alteza  ser  seruydo.  E  pois  nom 
quer  brygas  co  ele  polo  mais,  nom  as  deue  de  querer  polo  menos,  e  deue 
de  procurar  e  folgar  co  esta  concordya,  e  mais  pois  custa  tao  pouquo.  E, 
se  me  meto  a  falar  nyslo  mais  do  que  posso,  Vossa  Alteza  mo  perdoe  que 
o  nom  faco  senao  por  me  parecer  que  faco  o  que  deuo,  e  sou  a  ysso 
obrygado  polo  que  me  parece  que  toca  a  uoso  seruyeo. 

ítem.  Senhor,  porque  ja  em  outra  fyz  queixume  a  Vossa  Alteza  que, 
dando  me  o  papa  palavra  de  me  conceder  a  mynha  despensacao  de  my- 
nha  filha  degraca,  agora  co  estes  desconténtamelos  m  a  nom  querya  con- 
ceder asy  nem  asy,  Ihe  faco  saber  que  ja  a  ouue  per  meus  meyos  muilo 
fora  de  meus,  porque  foy  emcobryndo  humas  cousas  e  negando  oulras, 
e  auendo  hum  pedaco  pelo  datayro  per  composicao,  e  outro  pedaco  per 
penitenciarya,  de  maneira  que  coma  em  tutuao  ou  co  xaryfe  acabey  este 
resgate  por  muito  pouco  dynheyro,  porque  asy  se  fazem  os  resgates  com 
alfaqueques  auisados :  cuslou  me  duzentos  e  cinquoenta  ducados,  que  foy 
menos  ametade  do  que  cuydey,  e  do  que  eles  cuydarao  que  me  fyzeriio  a 
graca,  se  ma  fyzerao;  mas  eu,  como  uy  a  sua  volta,  nom  quys  mais  falar 
niso  per  aquele  caminho  que  asy  comprya  a  muitas  cousas,  porque  eu 
muilo  proue  sou  mas  nom  tanto.  Nom  tenho  mais  que  dizer  a  Vossa  Alteza 
senao  outra  uez  Ihe  torno  a  lembrar  e  pedyr  muito  por  merce,  quequeyra 
muilo  em  breue  acudyr  e  satisfazer  a  ludo  isto;  e  asy  ao  de  barroso, 
em  que  eu  nom  falo  por  estas  cartas  derradeiras,  em  que  manda  soltar  o 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  277 

mosteyro,  ale  rae  Vossa  Alteza  nom  responder  dentro  deste  oytubro  ao  que 
Ihescreuy  a  xm  de  setembro  per  couto,  seu  correo,  que  se  querés,  se- 
nhor,  dar  salisfacao  polo  mosteiro  que  uola  acey.tarao ;  e  se  isto  nom  vem 
neste  tempo  que  digo,  ou  ale  meado  novembro  porque  oytubro  ja  he  ydo, 
nom  poderey  al  fazer  senao  soltar  o  mosleiro,  porque  ja  o  areebispo  o  tem 
dyto  que  Vossa  Alteza  o  manda  soltar,  muito  contra  mynha  uonlade,  e  me 
mata  porque  o  nom  faco  ;  e  eu  nom  querya  ate  nom  ver  se  quererá  Vossa 
Alteza  dar  outra  satisfacao  de  que  se  contentem,  por  este  tredor  nom  ler 
nada  em  uosso  Reino,  posloque,  como  Iheu  ja  escreuy,  mylhor  he  dar 
Iho  e  nom  lho  deyxar  lograr  senao  yndo  laa,  o  que  ele  nom  sey  se  fará 
de  boa  vontade :  e  se  Vossa  Alteza  a  ysto  nom  tem  muito  determinada- 
mente respondydo,  ja  nom  creo  que  poderey  esperar  po  reposta  desla, 
nem  poderaa  ser  senao  soltar  o  mosteiro  como  digno.  A  mym  me  mande 
Vossa  Alteza  loguo  yr  por  me  fazer  muyta  merce,  pois  mo  tem  tantas  ue- 
zes  prometydo  e  vee  canto  compre  a  mynha  uyda  e  honra,  e  a  uosso  ser- 
uyco,  qu  eu  muito  mais  estimo  que  ludo. 

ítem.  Senhor,  no  negocio  da  vynda  do  nuncio  e  no  mosteiro  de  Ra- 
foyos,  que  Vossa  Alteza  mandou  pydyr,  postoque  o  areebispo  o  fez  muito 
e  muy  bem,  sanliqualro  todavya  falou  nysso,  e  o  papa  a  ele,  e  fez  nysso 
canto  pode,  e  Vossa  Alteza  foy  em  tudo  seruydo,  deus  seja;  louado.  E  a 
bofee,  senhor,  segundo  eu  ouuy  hum  dia  o  areebispo  co  papa  sobrysso, 
nom  trabalhou  nysso  pouquo  ;  e  per  aquy  verá  Vossa  Alteza  como  estaa 
co  papa,  pois  d  hum  mosteiro,  de  que  fez  correo  primeiro  que  nynguem, 
ios  nom  faz  graca  senao  com  lanta  dyfyculdade  e  tanta  pralica  como  eu 
mesmo  ouvy. 

Ilem.  Senhor,  depois  desta  atequy  feita  soube  que  espede  o  papa 
hum  breue  em  fauor  dos  crislaos  novos,  pera  que  dous  cardeaes  qua  e 
voso  irmao  laa  pubryquem  o  que  Ihes  eslna  concedydo,  rae  dysserao  ao 
que  quer  Duarle  de  paz  fazer  hum  correo  pera  laa  mandar  noteficar ;  e 
eu  nom  Ihe  posso  valer  por  como  o  papa  ja  estaa  neste  negocio,  e  poi- 
que nom  sey  se  pareceraa  ao  areebispo  lao  mal  com  a  mym,  e  aínda  que 
lho  pareca  ja  nom  creo  que  nada  desto  tem  Remedio.  E  o  porque  isto  he 
perdydo,  e  o  foy  muito  ha,  Vossa  Alteza  o  deue  de  saber,  pois  nom  se 
dyz  al  em  Roma  nem  era  caslela  ñera  em  porlugal,  e  o  conde  do  uy- 
myoso  o  escreueo  ja  qua  ao  areebispo;  e  posto  que  al'guma  cousa  toquey 
dysto,  dias  ha,  a  pero  correa  pera  o  dizer  a  Vossa  Alteza,  ñora  auendo 


278  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ainda  o  mal  por  tanto,  e  por  isso  nom  quysera  eu  proprio  dizel  o,  nom 
posso  porem  deyxar  de  o  dizer,  e  he  que  des  que  aquy  sou  ategora,  on- 
tem  e  antontem  e  oje  e  cada  dia,  o  arcebispo  tem  oras  e  portas  por  onde 
falla  canto  quer  com  duarte  de  paz,  e  toda  Roma  o  sabe  e  mo  dyz,  e  eu 
nom  sey  que  faca  senao  pydyr  aVossa  Alteza  por  amor  de  deus  que, 
pois  este  negocio  he  perdydo,  que  nom  queyra  que  o  seja  eu  tambera,  e 
mais  desonrado  do  que  sou,  e  me  mande  logo  yr  daquy  sem  outra  di- 
lacao,  que  nom  he  rezao  qu  eu  ande  e  seja  tanto  tempo  vendydo  sem  po- 
der prestar  pera  nada :  e  mais  nom  posso  auer  paciencia  com  o  papa  que- 
rer que,  a  ludo  o  que  todo  este  lempo  lhe  neste  negocio  Requerymos, 
fosse  sempre  presente  Duarte  de  paz  ou  lho  notificassem,  e  a  nos  nom 
manda  dar  conla  nem  parte  do  que  faz  co  ele  e  por  ele,  e  por  can  los  ju- 
deos  ha  nesle  Reino.  Co  isto  nom  tenho  paciencia  ;  e  Vossa  Alteza  aja  por 
cerlo  que  isto  nom  tem  nynhum  Remedio,  e  queyra  que  o  lenh  eu  por 
amor  de  deus  e  por  me  fazer  muita  merce,  que  ainda  serey  pera  vos  ser- 
uyr  em  oulras  cousas  e  em  oulras  partes,  e  nom  desejo  nem  querya  pres- 
tar pera  outra  cousa  esses  dias  que  uyuer,  os  quaes  nom  sey  se  serao 
muitos  segundo  me  esta  térra  e  esta  negoceacao  tem  atormentado.  Nosso 
Senhor  a  vyda  e  estado  Real  de  Vossa  Alteza  acrecenté  como  eu  desejo . 

De  Roma,  o  primeiro  de  nouembro,  ante  menha,  15'3o. 

Criado  de  Vossa  Alteza,  que  suas  Reaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m.  '. 


Carta  do  cardeal  Santiquatro  a  cl-Rci. 


1535  —  Dezcinbro  ÍO. 


Senhor  —  Eu  Receby  a  carta  de  Vossa  Alteza  e  entendy  per  dom  an- 
ryque,  seu  embaixador,  a  sua  vontade  acerqua  da  soprycacao,  que  eu  es- 
creuy  a  Vossa  Alteza  :  e  porque  eu  per  uentura  nom  poderey  falar  ao  papa 
antes  da  partyda  deste  correo,  segundo  a  pressa  que  lhe  daa  dom  mar- 
lynho,  assy  largamente  como  comprya,  faco  saber  a  Vossa  Alteza  que 

1  Arch.  Nac,  Gav.  20,  Ma$.  7,  n.°  23. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  279 

deue  destar  de  boa  uonlade,  porque  o  amyguo  vos  lomará  a  beyjar  a 
mao  com  capelo  de  cor  Yerde  e  nao  d  escaríala,  porque  o  capelo,  que  o 
cardeal  uosso  irraao  tem,  abasta  pera  dar  lustro  a  loda  espanha.  E  nysto 
concrudo  beyjando  as  maos  a  Vossa  Alteza,  reseruando  me  a  escreuer  mais 
largamente  polo  primeiro  que  partyr  :  e  digo  mais  a  Vossa  Alteza  que  suas 
cousas  depois  da  partyda  deste  amyguo  se  farao  muilo  mylhor  que  ale- 
quy  a  lodo  meu  poder. 

De  Roma,  a  x  de  dezembro,  1535*  *. 

Confirmo  quanlo  di  sopra  e  scriplo. 

De  V.  M.ta —  Uiimillis  seruitor —  A.  CardinaUs  Sanctorum  Quat- 
luor,  Maior  penilenciarius2. 


Carta  do  cardeal  Santiqtiatro  a  el-Rei. 


1535 — Dezembro  1C. 


Senhor —  Depoys  de  leer  a  oulra  espritla  socedeo  a  partida  de  dom 
Marlinho  per  mandado  de  Vossa  Alteza,  e  por  ysto  me  pareceo  bem  aui- 
salla  que  a  mais  principal  causa  de  se  publicar  o  dito  perdam  foy  que 
dom  Marlinho,  nam  soomenle  aconselhou  que  a  derradeyra  inslrucam  de 
Vossa  Alteza  nom  se  amostrasse  ao  Papa,  co  a  qual,  amostrándose,  fora 
satisfeyto  a  quem  requería  e  aaquelo  que  se  requería,  mas  que  o  que  a 
mym  mays  afrigyo  foy  que  o  dito  dom  Marlinho,  fyamdose  do  seu  pro- 
prío  juizo,  sem  sabedoria  nem  conselho  do  seu  companheiro  dom  Amri- 
que,  pouco  antes  que  o  perdam  se  pobricasse,  se  foy  ao  papa,  e  por  am- 
bos serdes  fora  de  tanta  fadiga,  aconselhou  a  Sua  Sanlidade  que  serva 
bem  que  o  dito  perdam  se  pubricasse  em  porlugal.  O  papa  mostrou  que  fol- 
gaua  muito  com  tal  lembranca,  e  dy  a  pouco  depoys  fyz  saber  ao  dito  dom 
Marlinho  per  Micer  Ambrosio,  seu  secretario  secreto,  que  milhor  lhe  pa- 


1  Até  aqui  é  da  letra  de  D.  Henrique  de  Menezex. 

2  Arch.  Nac.  Gav.  20,  Mac.  7,  n.°  1.  (1.°)  Por  urna  cota,  que  tem  no  verso,  se 
$aie  que  esta  carta  chegou  a  Lisboa  a  28  de  Dezembro. 


280  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

recia  publicar  o  dito  perdara  primeiro  em  Roma  que  em  portugal,  e  asy 
se  fez  sem  dom  Anrique  nem  eu  saberemos  dyslo  parte,  a  saber,  do  con- 
selho  que  dom  iMartinho  deraa  ao  papa,  nem  da  resolucam  que  o  papa 
nysto  tomaraa.  Eu  creo  bem  que  nam  sem  proposito  e  a  boom  fym  se 
mouesse  dom  Martinho  a  fazer  yslo  e  dar  este  conselho  ao  papa  ;  mas, 
qualquer  fym  que  o  a  elle  mouesse,  sey  eu  bem  yslo  que,  poys  lhe  elle 
deu  tal  conselho,  nam  podemos  nos  conlraryar  a  pubricacam  do  dito  per- 
dam.Tudo  yslo  quis  decrarar  a  Vossa  Alteza  porque  sayba  com  quanlo 
resguardo  o  papa  procedeo  nesta  publicacao,  poys  por  huum  dos  seus 
embaxadores  foy  esforcado  a  fazella,  sem  sabedoria  de  dom  Anrique  nem 
minha;  pollo  qual,  a  meu  parecer,  Vossa  Alteza  nam  pode  fazer  cousa 
mays  escrarecyda,  nem  de  mayor  seu  louuor,  que  deyxar  toda  esta  car- 
rega  desle  perdao  sobre  los  ombros  do  papa,  a  quem  loqua  e  conuera  cu- 
rar das  ouelhas  das  quays  he  pastor,  e  seer  Vossa  Alteza  contemte  que 
esta  mysera  jemte  de  chrislaos  nouos  recebam  da  see  aposloliqua  a  re- 
missam  da  pena  temporal  de  todos  seus  pequados  passados,  como  pay  pia- 
doso, porque  tambem  o  Rey  com  seus  subditos  e  \assallos  lem  lugar  de 
pay,  e  agora  ao  presernte  fazer  instancia  co  a  Santidade  de  nosso  Senhor 
polla  bulla  da  Inquisicao,  á  qual  Vossa  Alteza  me  crea  que  o  papa  nom 
deyxaraa  de  fazer  cousa  nenhuuma. 

Batum  Rome  ex  aedibus  sacre  penitentiarie,    die  xyi  decembris, 

MDXXXV. 

E  M.tis  V.  —  Humillis  servilor  idem  A.  Cardinalis1. 


Carta  do  cardeal  Saiitiquatro  a  el-Rei. 


1535  —  Dezembro  19. 


Senhor  —  Sempre  se  acha  alguma  cousa  de  nouo  no  negocyo  do  ar- 
cebispo  do  funchal.  Digo  islo  porque  esta  manha  me  dysse  hum  grande 
meu  amyguo  que,  como  me  Vossa  Alteza  fizesse  saber  per  carta  sua  que 

1  Aac.  Nac,  Gav.  20,  Mac.  7,  n.°  1.  (2.°)  Esta  carta  fox  escripia  por  D.  Uenrique 
de  Menezes,  e  datada  e  assignada  pelo  cardeal. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  281 

o  arcebispo  nom  aueraa  de  tornar  mais  a  Roma,  que  enlao  me  dyrya 
huma  gra  cousa  que  o  dyto  dom  marlynho  tem  em  sua  mao,  a  qual  im- 
petrou  do  papa  clemente,  que  toca  ha  dynydade  que  ele  andana  procu- 
rando. E  creo  eu  que  he  hum  breue,  no  qual  o  papa  clemente  ou  lhe 
promelya  de  o  fazer  cardeal,  ou  o  pronuncyaua  por  cardeal  com  certa 
condycao,  asy  como  poderya  ser  se  ele  arcebispo  fosse  ao  preste  yoao. 
Diguo  isto  porque,  poucos  dyas  antes  da  sua  parlyda  de  Roma,  me  dysse 
que  ele  tinha  muito  encarregado  e  louvado  o  preste  yoao  ao  papa  cle- 
mente, e  mostrado  a  sua  santydade  que  aquele  Reyno'merecya  ser  lhe 
mandado  hum  cardyal  legado  de  lalere,  a  qual  cousa  aprouvera  muito  a 
sua  santidade,  de  boa  memorya.  Agora,  cotejando  eu  o  que  me  dysse  este 
meu  amyguo  co  as  palavras  do  dyto  arcebispo,  duvydo  que  nom  seja  al- 
guma  cousa  semelhante :  e  depois  que  ele  fosse  cardeal  nom  lhe  falla- 
ryao  ocasyoes  pera  nom  yr,  ou  per  enfermydade,  ou  por  tormentas  do 
mar,  ou  por  outra  causa  fingyda.  Como  ouuermos  por  cerlo  que  nom 
torna  a  Roma,  entao  saberey  a  uerdade  de  tudo,  e  o  farey  saber  a  Yossa 
Alteza,  cuja  vyda  e  estado  noso  senhor  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  xvn  de  dezembro,  jaa  muito  de  noyle,  1335. 

De  Vossa  Alteza  —  Humillis  seruilor — A.  Cardinalis  Sanclorum 
Quatluor,  Maior  Penilenciarius1. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 


1535  —  Dezembro  1*. 


Paulus  papa  ni  charissime  in  christo  fili  noster  salulem  et  aposloli- 
cam  benedictionem. 

Hodie  dilectus  filius  Enricus  de  Menezes,  oralor  tuus,  reddilis  nobis 
tuae  Serenitalis  lilteris  fidem  eius  \erbis  facientibus,  mandata  tuae  Sere- 
nitatis  sólita  fide  et  prudentia  nobis  exposuit,  super  quibus  nos  ea  illi  res- 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  56,  Doc.  111.  Apenas  a  assignatura  é 
da  letra  do  cardeal :  o  resto  foi  escripto  por  D.  Hcnrique  de  Menezes. 

TOMO  III.  36 


282  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pondimus,  quae  ex  eius  lilleris  tua  Serenitas  intelliget.  Cum  uero  paulo 
ante  ex  oratore  véneto  laelissimum  nuncium  accepissemus  magnae  clatlis 
per  sophianos  decima  terlia  oclobris  prelerili  Turéis  infliclae,  ex  qua  ipsi 
Turcae  máximo  detrimento  et  jactura  sunt  affecti,  Nos  eidem  Enrico  cun- 
eta libenlissime  communicauimus  ad  Maiestatem  tuam  pcrscribenda,  vi  et 
ipsa,  quamquam  aliunde  forsitan  hoc  audilura,  nobis  etiam  scribenlibus 
hoc  gaudio  frueretur,  cum  preserlim  ipsa,  ut  inlelligimus,  nonexpers  fue- 
rit  huius  sophianorum  victoriae,  quos  subministratione  tormenlorum  bel- 
licorum  adiuuerft.  Nos  quidem  Deo  altissimo  gralias  egimus  et  conlinue 
agimus,  tanlum  ac  tam  manifestum  eius  beneficium  agnoscentes,  non  so- 
lum  quod  proxime  Africanae  expeditionis  foelicissimum  exitum  nobis  ac 
Serenissimo  Caesari  tuaeque  Serenilati  concesserit,  verum  etiam  quod  ad 
futuras  victorias  ac  successus  viam  manifestissime  ostendat,  et  quasi  ve- 
xillum  proposuisse  suis  Fidelibus  uideatur  ad  hunc  communem  hoslem  ex 
tolo  delendum,  quem  el  superioris  Anni  calamitatibus,  et  his  recentibus 
detrimenlis,  infirmum  ac  debilem  reddiderit.  Itaque  Nos,  quibus  licet  im- 
paribus  primae  parles  hortandorum  vrgendorumque  in  hoc  Principum  ex 
pasloraü  oíDcio  sunt  attributae,  cum  tantam  occasionem  ñeque  nostra  ñe- 
que patrum  nostrorum  memoria  nobis  a  Deo  tributam  uideamus,  omni 
sumus  studio  et  feruore  incensi  ad  illam  et  capessendam  arripiendamque 
pro  nostris  viribus  et  suadendam  Principibus  caeteris,  Ipsique  Caesari  in 
primis,  quem  Neapolim  iam  constilutum  propediem  in  hanc  Almam  vr- 
bem  venturum  expeclamus,  sumusque  viua  voce  hoc  ofíicium  non  tam 
horlatiónis  necessariae  cum  illo.  Quid  enim  eius  pielale  el  alacrilate  in 
hoc  manifestius,  quam  currenti,  ut  dicilur,  calcar  addituri,  acturique  cum 
eius  Maiestale  quo  máxime  modo  huius  sanctae  expeditionis  faciliorem 
successum  consequi  possimus.  Quam  ob  rem  te,  charissime  fili,  omni  nos- 
tri  cordis  afieclu  hortamur,  et  per  communem  relligionem  aslringimus, 
vt  et  ipse  pro  lúa  consueludine  et  gloria  in  hanc  sanclam  expeditionem 
incumbere,  lantamque  occasionem  elabi  non  sinere,  et  ipsi  Caesari,  quo 
cum  aífinitale  et  amore  iunctus  es,  ídem  tua  auctoritate  et  gratia  persua- 
dere  velis  vt,  ómnibus  alus  priuatis  rationibus  et  humanis  afíeclibus  post- 
habilis,  id  suscipere  alque  exequi  non  diíferat,  sicut  próxima  eius  in 
África  gesta  nobis  et  caeteris  firmiler  pollicentur  cum  esse  facturum.  Sed 
cum  haec  plenius  et  parlicularius  cum  eodem  oratore  tuo  simus  prose- 
culi,  et  tuam  pietalcm  semper  in  hoc  uersatam  slimulis  non  egere  ccrlo 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  283 

sciamus,  ad  litleras  eiusdem  luí  oratoris  nos  referentes  tuae  Serenitati  om- 
nera  foelicilalem  oplamus. 

Datum  Romac",  apud  sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  xvn 
Decembris,  mdxxxy,  Pontificatus  Nostri  Anuo  Secundo  —  Blosius1. 


Carta  cíe  Alvaro  lleudéis  de  Vaseoncellos  a  el-Rei. 


1535  —  Dezcmbro  99. 


Senhor — Terca  feira  xx  de  dezembro,  dya  de  san  lomé,  chegou  dom 
anrique  de  meneses  a  esta  cidade  de  ñapóles  a  esta  mynha  pousada  po- 
las postas,  e  me  deu  hua  carta  de  vossa  alteza  de  xxm  de  novembro,  na 
qual  me  faz  saber  como  manda  ?yr  aquy  o  dito  dom  anrique,  asy  pera 
yr  co  enperador  ate  Roma,  e  se  ofrecer  a  seruilo  aly  ñas  cousas  que  tra- 
tar, como  pera  Ihe  dar  conta  destes  negocios  da  Inqysycao  ;  e  que,  pera 
vossa  alteza  ser  mylhor  imformado,  manda  ir  o  arcebispo  do  funchal  po- 
las postas.  Diz  mais  vossa  alteza  que  o  correo  anlonio  dinis  hera  chega- 
do,  e  que  ao  que  convier  responder  me  o  mandará  fazer  co  a  breuidade 
necesaria ;  E  que  me  manda  que  com  toda  instancia  que  me  for  pusiuel 
Requeira  e  procure  o  efeito  desle  negocio  da  Inquisicáo ;  e  tambem  me 
manda  que  agasalhe  dom  anrique  e  Ihe  faca  toda  boa  conpanhia. 

Nesta  soomente  Responderei  ao  que  ácima  diguo,  e  em  outra  direi 
o  que  mais  ha  que  escreuer ;  e  porque  dom  joao  de  meneses  nao  vay 
muito  depresa,  mando  estas  cartas  por  duas  uias,  a  saber,  por  hum  cor- 
reo do  emperador,  que  parte  amenha  pera  a  enperatriz,  e  oulras  taes  pelo 
dito  dom  joao  de  meneses. 

Dom  anrique  chegou  o  día  que  ja  disse,  e  nao  foy  ao  enperador  se- 
nao  ontem,  segunda  feira  xxvi  deste  mes,  asy  por  mandar  fazer  vestido 
con  que  fosse,  como  por  estar  o  enperador  acupado  hum  dia  en  se  con- 
fesar, e  outro  com  huns  enbaixadores  de  veneza  como  em  outra  direy. 
E  antes  que  ele  fosse  eu  falei  ao  enperador,  e  Ihe  disse  o  que  me  vossa 
alteza  em  sua  carta  mandou,  de  que  mostrou  contentamento,  e  me  disse 

1  Arch.  Nac,  Mac.  25  de  Bullas,  n.°  42. 

36  * 


284  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

que  dom  anrique  fosse  bem  vindo,  e  que  em  tudo  moslraua  vossa  alteza 
o  muilo  amor  que  Ihe  Unha  como  lho  ele  merecía.  E  que  quanlo  aos  ne- 
gocios da  Inquisycao,  que  ele  faria  o  que  ja  tinha  dito,  e  que  pera  ele 
hera  escusado  mais  enformacao ;  que  visemos  o  que  conpria  a  bem  do 
negocio  e  lho  Requeresemos,  e  que  faria  quanto  Ihe  fosse  pusyuel  por 
acabar  o  que  vossa  alteza  quería,  como  conpria  a  seruico  de  deus  e  de 
todos.  Sobrysto  Ihe  falou  dom  anrique,  ao  qual  Recebeo  mui  bem  e  com 
muito  gasalhado,  e  Ihe  disse  o  que  me  ja  tinha  dito ;  e  que  falassemos 
com  cobos  e  nos  Resumisemos  no  que  ele  agoura  faria  antes  de  sua  ida 
a  Roma,  e  que  tudo  faria.  Co  isto  nos  despedimos,  e  oje  estamos  deter- 
mynados  de  falar  a  cobos,  como  adianto  direy :  e,  se  o  enperador  disse 
mais  palauras  a  dom  anrique,  ele  as  escreuerá  a  vossa  alteza. 

Quanto  á  hida  de  dom  martinho  ho  enperador  me  mandou  que  es- 
creuese  a  vossa  alteza  que  aguora  tinha  o  negocio  por  feito,  pois  dom 
martinho  nao  estaua  em  Roma.  Nao  escreuo  disto  mais  porque  aínda  isto 
ouvera  por  escusado,  se  o  enperador  me  nao  mandara  espressamenle  que 
o  fizese. 

Ao  cuidado,  que  me  vossa  alteza  manda  que  tenha  deste  negocio,  es- 
pero em  noso  senhor  que  Respondamos,  dom  anrique  hi  eu,  co  a  mesma 
obra  como  tenho  feito  nos  que  atequi  negoceey.  Por  luis  aífonso  escreui 
a  vossa  alteza  tudo  o  que  tinha  feito  e  dito,  e  despoís  dele  partido  soce- 
deo  o  seguinte.  Respondeo  o  conde  de  cifontes  ao  emperador  huma  carta, 
que  o  enperador  me  mandou  mostrar,  em  que  dezía  que  Sua  Santidade 
se  escusaua,  com  muitas  Rezoes,  de  Reuogar  este  derradeiro  breue,  en  que 
diz  que  nao  fez  mais  que  perdoar  os  crimes  cometidos  ate  ho  ano  de  xxxn, 
e  que  no  mais  da  Inquísicao  ele  o  faria,  por  Respeíto  de  vossa  alteza  e 
do  enperador,  de  maneíra  que  fossem  contentes ;  e  que  o  dito  breue  pa- 
sara por  Ihe  ser  feito  no  modo  de  negocear  muilo  grande  desacato,  asy 
ñas  dilacoes  da  Reposta,  como  nos  modos  que  os  enbaixádores  de  vossa 
alteza  com  ele  tiuerao  :  e  desles  modos  faz  grande  manjar  dando  Ihe  mui- 
tas culpas.  Sobresté'  Recado  veo  aguora  a  Reposta  de  pero  luis,  filho  do 
papa,  a  quem  o  enperador  encarregou  o  negocio,  como  ja  escreui  hi  cu 
Ihe  faley,  e  quasy  he  como  a  do  conde  de  cifontes,  se  nao  quanlo  diz 
mais  que,  se  o  emperador  nao  for  contente,  que  lho  faca  saber,  c  que 
tudo  trabalhará  que  se  emmende  o  milhor  que  for  posyuel,  pera  que  ele 
seja  salisfeilo.  Isto  he  o  que  ateguora  pasa. 


RELACCJES  COM  A  CURIA  ROMANA  285 

A  enformacao  que  eu  disto  tenho,  e  a  que  me  vossa  alteza  por  suas 
instrucoes  tem  mandado,  e  polos  trelados  dos  breues,  he,  segundo  o  que 
de  dom  anrique  tenho  entendido,  toda  a  que  se  podía  dar.  Aguora  temos 
pralicado  em  que  falaremos  com  cobos,  a  saber,  o  que  pediremos  ao  em- 
perador que  faca  antes  de  sua  yda ;  e  porque  eu  arreceo  que  ele  estee 
poucos  dias  em  Roma  e  o  lancem  d  aly  muy  em  breue,  determino,  e  asy 
parece  bem  a  dom  anrique,  aperlarmos  daqui  o  negocio  de  maneira  e 
por  taes  termos  que  o  mesmo  papa  e  seu  filho  creao  que,  demais  de  fa- 
zerem  o  que  deuem,  fazem  seu  propio  negocio  em  contentarem  e  fazerem 
co  isto  boca  boa  ao  emperador :  e  sendo  asy  tratado,  creo  que  nao  pa- 
sará de  Roma  sem  deixar  acabado  o  que  lhe  Requerymos.  O  meu  prin- 
cipal intento,  ou  hum  dos  principaes,  he  dizer  ao  emperador  que  este  ne- 
gocio he  lanío  seu  como  de  vossa  alteza,  asy  por  tocar  a  caslela  tanto 
como  ele  me  tem  dilo,  como  por  ser  de  vossa  alteza.  Recebeo  muilo  bem, 
e  espero  em  nosso  senhor  que  se  fará  como  déos  e  vossa  alteza  sejao  ser- 
uidos ;  e  asy  o  parece  a  dom  anrique,  ainda  que  do  pasado  estaua  tam 
atormentado  como  hera  Rezao :  e  polo  desejo  e  afeicao  que  lhe  uejo  ao 
seruico  de  vossa  alteza  e  bem  do  negocio,  bem  creo  que  nos  nao  descon- 
certaremos :  e  polo  que  tem  pasado,  de  que  aguora  estou  bem  cerleficado, 
me  atreuo  a  dizer  a  vossa  alteza  que  he  muita  Rezao  auer  muilo  grande 
doo  dele  e  do  que  tem  sofrido.  Ho  gasalhado  e  ospedagem  que  lhe  faco 
he  como  de  quem  anda  co  fato  aas  costas.  Vossa  alleza  me  fez  merce  em 
mo  mandar  encomendar,  porque  he  sinal  que  eslaa  tao  contente  de  seus 
seruicos  como  lhe  merecem  os  de  seus  pasados  e  os  seus.  E  segundo  o 
que  ele  deste  negocio  entende,  e  o  desejo  que  tem  de  o  acabar,  eu  nao 
farei  mais  que  ajudalo  em  quanto  me  for  pusyuel.  Noso  senhor  a  vida  e 
Real  estado  de  vossa  alteza  acrecenté  como  deseja. 

De  ñapóles,  a  xxvn  de  dezembro  de  vcxxxvi  anos. 

Reijo  as  Reaes  maos  de  vossa  alleza  —  Aluaro  menúes  de  uascon- 
celos ' . 


1  Abch.,  Nac.  Gav.  2,  Mac.  5,  n.°  í>3.  NoU-se  que  data  do  auno  do  nascimenlo  co- 
meeado  em  25  de  Dezembro.  Alvaro  Mendes  era  o  embaixador  portuguez  na  corte  de 
Carlos  V. 


286  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Carta  de  O.  Henricjuc  de  llcnczes  a  cl-Ilci. 


1536  —  Janeiro  19. 


Senhor  —  Como  aquy  cheguey  escreuy  a  Vossa  Alteza  per  duas  uvas 
o  que  faley  co  emperador,  e  o  que  mandou  que  se  fizesse,  e  me  dele  pa- 
recya,  o  qual  foy  per  dom  yoao  meu  sobrinho  per  huma  uya,  e  per  hum 
correo,  que  hya  a  valhadolyd,  per  oulra;  e  polas  mesmas  escreueo  o  em- 
baixador  a  Vossa  Alteza  ludo  mais  largamente.  O  que  depois  alegora  so- 
cedeo  he  que  nos  mandou  o  emperador  falar  com  covas,  a  que  falámos 
muito  e  muilo  largo  :  e  depois  falou  ele  mesmo  emperador  com  o  nun- 
cio aquy  do  papa  muito  quenlemenle,  segundo  nos  o  mesmo  nuncio  dysse, 
porque  o  mandou  o  emperador  ajuntarse  com  nosquo  e  com  covas  :  onde 
sendo  todos  junios  lhe  falámos  e  deemos  as  Razoes  que  no  negoeyo  com- 
prya,  e  de  que  o  nuncio  íicou  salisfeylo,  desejando  porem  de  uer  alguns 
escrylos,  que  hy  ha  do  mesmo  negocio,  pera  com  mylhor  enformacao  ele 
fazer  e  negocear  co  papa  islo  coma  cousa  que  lao  aperladamente  lh  o  em- 
perador encarregaua.  Pera  satisfacao  do  qual  fuy  eu  co  embaixador  ao 
oulro  dia  a  sua  casa,  e  lhe  mostramos  nosos  papéis,  e  o  salisfizemos  do 
negoeyo  cao  bem  podya  ser,  ficando  ele  disso  muy  encarregado  pera  com- 
prir  o  que  o  emperador  lhe  mandaua.  E  per  cyma  dislo  ludo  despachou 
o  emperador  huma  posta  ao  conde  cyfuenles  com  huma  carta  pera  o  papa 
com  Regras  de  sua  mao,  e  outra  ao  conde  encarregando  lhe  o  caso  canlo 
foy  posyuel  pera  que  se  fyzese  ludo,  assy  o  do  perdao  como  o  'da  in- 
quysycao,  propiamente  como  em  castela,  que  nysto  estryba  o  emperador 
e  estrybamos  noos.  Toda  esta  delygencya  pareceo  bem  ao  embaixador,  e 
aprocurou  que  se  fyzesse  d  aquy  porque  o  negocio  ande  quenle,  e  por- 
que nom  possa  ser  eslar  o  emperador  lao  pouco  em  Roma  que  nom  aja 
lempo  pera  o  acabar,  como  todos  desejamos  e  esperamos  que  se  faca.  Do 
que  sobr  yslo  se  fez  em  Roma  nom  he  aínda  uyndo  recado  :  se  antes  qu  es- 
tas partao  uier  Vossa  Alteza  o  saberá.  Eu  nom  tenho  nysto  que  dizer, 
senao  que  o  embaixador  eslaa  nysto  tao  inslruto  c  mais  queu,  e  o  faz 
como  Vossa  Alteza  sabe  que  ele  faz  todalas  outras  cousas  de  uosso  ser- 
uyeo,  de  maneira  que  ncm  pera  cmformacao  nem  pera  solicilacao  cu  sou 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  287 

nyslo  bem  pouco  necessaryo.  Do  emperador  cerlefico  aVossa  Alteza  que 
cslaa  nysso  lao  bem  posto,  e  com  tanto  cuydado  e  lembranca,  como  deue 
a  hum  tal  negocio  e  a  hum  tal  irmao :  e  oxalá  fora  isto  mais  cedo,  que 
ele  fora  feyto  mylhor  do  que  o  Vossa  Alteza  deseja  ou  consente.  O  em- 
baixador  dyrá  o  que  mais  entender  disto,  e  do  emperador,  e  dos  despa- 
chadores com  que  isto  falamos,  que  he  covas,  que  nysto  cerlo  mostra 
muita  vonlade  e  dyligencya  pola  calydade  do  mesmo  negocyo,  e  pola  von- 
tade  que  vé  que  o  emperador  pera  ysso  tem. 

ítem.  Senhor,  em  outras,  que  d  aquy  escreuy,  como  digo,  escreuy 
a  Vossa  Alteza  o  que  aquy  tornarey  a  dyzer,  e  hum  pouco  mais,  a  sa- 
ber, que  o  emperador  parlyrá  d  aquy  na  entrada  de  fevereiro,  e  de  Roma 
dizem  que  se  yrá  na  de  marco  ate  meado  o  mes :  ate  o  qual  tempo  este 
negocio  ha  de  lomar  concrusao  boa  ou  maa.  E  parlydo  ele,  a  mym  nom 
me  tica  que  fazer  senao  ficar  em  Roma  matando  caes  com  desonra  my- 
nha  e  pouquo  seruyco  de  Vossa  Alteza.  Escreuy  lhe  que  lhe  beyjarya  as 
maos  mandarme  licenca  pera  que,  indo  se  o  emperador,  me  poder  yr 
sem  mais  esperar  recado  seu ;  porque,  se  Vossa  Alteza  espera  que  depois 
de  chegar  a  Roma  Iho  escreua  e  me  responda,  antes  se  yrá  o  emperador 
que  essa  resposla  uenha,  e  eu  fi carey  no  ar  sem  ter  como  nem  por  que 
estar  em  Roma,  nem  ser  ja  tempo  d  eu  deuer  d  eslar  mais  nem  tanto  de 
nenhuma  feyciio  que  fosse  ;  polo  qual,  senhor,  nesta  digo  mais  hum  ponto 
que  ñas  outras,  e  he  que,  se  ale  meado  marco,  ou  ate  a  yda  do  empe- 
rador de  Roma,  que  ate  enlao  deue  de  ser,  Vossa  Alteza  me  nom  man- 
dar recado  e  licenca  pera  myr,  eu  a  ey  por  auyda  e  me  yrey  dar  lhe 
conta  do  que  tyuer  feyto  mal  ou  bem,  porque,  como  quer  que  no  nego- 
cio nom  se  pode  fazer  mais,  depois  do  emperador  parlydo  ey  eu  que  fico 
desobrygado  de  mais  estar  qua,  e  me  posso  yr  sem  Vossa  Alteza  ser  nyso 
desseruydo,  nem  eu  fazer  o  que  nom  deuo.  Reyjarey  as  maos  a  Vossa  Al- 
teza nom  ter  a  ysto  nynhum  pejo  nem  inconuenyenle  e  auelo  asy  por 
seu  seruyco.  Nosso  Senhor  a  uyda  e  estado  Real  de  Vossa  Alteza  acre- 
centé como  eu  desejo. 

De  ñapóles,  a  xvn  de  Janeiro,  1536. 

Criado  de  Vossa  Alteza,  que  suas  reaes  maos  beyja  —  Dom  anry- 
que  m..  l. 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.  Part.  I,  Mae.  56,  Doc.  128. 


288  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Carta  cíe  Alvaro  Hiendes  de  Va  seo  nocí  I  os  a  el- He  i. 

1536  —  Fevereir©  3. 


Hontem,  o  primeiro  (leste  feuereiro,  respondeo  o  Conde  de  Sifuen- 
tes  ao  Emperador  que  achaua  o  Papa  muito  duro  neste  negocio  da  Inqui- 
sicao, e  porem  que  Ihe  dizia  que  coni  a  prezenca  sua  (udo  se  bem  faria 
quanto  á  Inquisicao;  mas  que  no  perdao  lhe  nao  fallassem,  porque  em 
nenhua  maneira  mudaría  o  que  tinha  feito :  e  que  juntamente  com  estas 
palauras  e  outras  se  rezumira  em  lhe  pedir  o  modo  de  que  se  concederá 
a  Inquisicao  de  Caslella,  o  qual  lhe  ja  tinha  dado  mui  copiosamente  apon- 
tado  por  hum  Doctor  do  Emperador,  que  em  Roma  rezide,  que  foi  sem- 
pre  participante  em  lodalas  cousas,  que  tocarao  e  tocao  á  Inquisicao  de 
Caslella.  Dis  mais  o  dito  Conde  que  elle  solicita  e  solicitará  o  negocio  de 
maneira  que,  se  se  nao  acabar  antes  que  o  Emperador  ua,  que  está  o  mais 
do  caminho  andado.  Isto  me  mandou  o  Emperador  mostrar  em  sua  carta, 
e  o  mesmo  me  escreue  o  Conde  em  reposta  de  oulra  que  lhe  escreui. 

Hoje,  dia  de  nossa  Senhora  das  Candeas,  me  mandou  chamar  o  Em- 
perador, e  me  dise  o  que  ácima  digo  que  escreuesse  Vossa  Alteza  ;  e  des- 
pois  me  perguntou  que  era  o  que  eu  tinha  uisto  na  carta  do  Conde  de 
Sifuentes,  que  me  mandara  mostrar,  e  o  que  me  parecía  que  se  deuia 
agora  mais  fazer.  Resumí  lhe  o  que  ácima  digo,  e  disselhe  que  quanto 
ao  perdam  que  nao  díssesse  o  Papa  que  reuogaua  o  que  tinha  feito  e 
mandado,  posto  que  fosse  tam  justo  reuogal  o ;  mas  que  o  declarasse  de 
maneira  que  parecesse  que  tinha  mais  respeilo  ao  seruico  de  Déos,  que 
satisfazer  aos  confessos :  na  qual  declaracao  auia  de  dizer  que  os  perdoaua 
com  tal  que  abjurassem  seus  pecados,  e  fossem  escritos  os  taes  abjura- 
dos em  hum  liuro  da  mesma  maneira  que  Vossa  Alteza  em  seus  aponta- 
mentos  declara.  E  que  desta  maneira  nao  se  reuogaua  o  perdam  que  lhes 
tinha  dado,  nem  se  lhes  daua  lugar  a  cahir  cm  majores  erros.  E  que 
quanto  á  Inquisicao,  que,  como  fosse  em  tudo  como  a  de  Caslella,  Vossa 
Alteza  seria  contente ;  e  que  escreuesse  ao  Conde  de  Sifuentes  que  nisto 
fizesse  toda  a  instancia  posiuel  pera  que,  quando  elle  chegasse  a  Roma, 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  289 

tiuessc  menos  que  fazcr.  Respondeo  me  que  lhe  parecía  muito  bem  o  que 
eu  dizia,  e  que  me  ajuntasse  com  Cobos  e  lhe  fizesse  escreuer  a  dila 
carta  pera  o  Conde,  pera  que  logo  lhe  fosse ;  e  que  elle  esperaua  em  Déos 
que  o  negocio  se  acabasse  de  maneira  que  Vossa  Alteza  fosse  contente  e 
Dcos  seruido.  Amenha  me  hirei  a  casa  de  Cobos,  e  despachar  sea  logo 
a  dila  carta,  e  aquentarseá  o  negocio  de  maneira  que  por  nenhüa  min- 
goa  nem  negligencia  se  possa  leixar  de  fazer. 

Daqui  abaixo  direi  o  mais  que  a  esle  negocio  toca,  e  me  parece  que 
compre  a  uosso  seruico  escreuel  o.  Primeiramente  digo. que  nao  fallo  a 
Vossa  Alteza  em  Dom  Martinho,  e  no  que  delle  se  dis  em  Roma,  por- 
que, segundo  tenho  sabido  por  hum  Capellao  de  Vossa  Alteza,  que  se 
chama  Doria,  que  de  Roma  partió  ha  poucos  dias,  saberá  tudo  larga- 
mente, assi  o  que  lhe  Santiqualro  disse  que  a  Vossa  Alteza  disesse,  como 
todo  o  mais  que  se  dis  de  seus  Breues  e  legitimacoes,  como  de  seus  se- 
gredos  com  Duarle  de  Pas,  que  nunca  ui  nem  ouui  majores  \ergonhas. 
Tudo  o  Emperador  sabe  e  m  o  contou  muito  espantado :  nisto  nao  fallo 
mais.  Quanto  a  Dom  Henrique  de  menezes,  depois  que  aqui  chegou  nao 
uio  o  Emperador  mais  que  a  primeira  ues,  porque  sucederam  logo  estas 
duas  mortes  em  que  o  Emperador  lomou  dó ;  e  porque  o  dó  he  de  paño 
lino,  feselhc  de  mal  com ,. 


1  Exlrahimos  este  fragmento  de  um  livro  manuscripto,  numerado  de  folhas  4  a  86, 
onde  se  encontrara  copiadas  varias  cartas  de  diferentes  personagens,  desde  4487  ate' 
4576.  Infelizmente  faltam-lhe  quatro  folhas  (como  se  conhece  pelo  salto  na  numeracao 
antiga,  que  ainda  se  divisa) ,  onde  devia  estar  o  resto  desta  carta  e  mais  algumas  domes- 
rno  embaixador,  porque  a  folha  46  actual  (24  antiga),  immediata  aquella  onde  acaba 
o  fragmento  que  publicamos,  traz  o  fim  de  urna  carta  de  20  de  fevereiro. 

Este  livro  parece  ser  o  que  Fr.  Luiz  de  Sousa  teve  em  seu  poder,  e  donde  lirou  os  apon- 
tamentos,  que  se  leem  a  pag.  597  dos  Annaes  de  D.  Joao  m.  IJoje  guardase  no  Archivo 

Nacional,  mas  nao  tem  titulo  nemoulra  indicacao  além  das  letras^  na  lombada. 

en 

TOMO  III.  37 


290  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGIM 

Carta  fio  Bispo  de  Sinigaglia  (a). 

1536  —  Marco  1. 


Quando  auisai  del  recepulo  dele  di  V.  S.  del  ultimo  di  oüobre,  li 
scrissi  la  diíliculta  trovai  nela  prima  pralica  con  questa  genle,  circa  al 
volere  attender  le  promesse  del  Commendalore :  dapoi  déla  quale,  prima 
parlisse  de  Lisbona,  ne  hebbi  molte  altre.  Né  fu  remedio,  né  co'  persua- 
sioni  né  col  mellerli  timore,  servato  il  decoro,  com'ela  mi  comanda,  po- 
lerne  cavar  altro,  se  n5  che  fariano  quanto  si  erano  per  'serillo  meco 
obligati  *,  non  polendo  piíi ;  et  che  se'l  commendalore  havea  promesso, 


(a)  Vejase  o  que  acerca  desta  singular  carta  diz  o  Sr.  Alexandrc  Ilerculano  a  pag. 
15o  do  Tom.  II  da  Origem  e  estabelecimento  da  Inquisicao. 
1  Allude  aos  seguintes  documentos. 

CAPITOLO  ET  OBLIGATIONE   DE*  CHRISTIANE  NDOVI. 

Che  in  nessun  modo  si  conceda  inquisitione  né  devassa  generali  contra  li  nuovi 
cristiani  né  suoi  descendenti,  atiento  il  modo  della  conuersione,  ct  l'odio  et  le  coniu- 
rationi  et  occisioni  et  altre  molte  iuridiche  cause,  che  ui  sonó ;  et  quelli,  che  errarano 
in  crimine  d'eresia,  siano  punid  dagli  Ordinarii,  mediante  aecusationi  et  denunciatio- 
ni,  il  che  basta  per  farsi  giustitia,  con  le  dichiarationi  sotloscritte. 

Primo.  Con  le  conditioni  dello  Privilegio  et  contratto  celebra to  frá  il  Ré  Don  Ema- 
nuele  et  detto  Popólo  al  tempo  di  sua  conuersione,  confirmati  dipoi  per  il  Re  Nostro 
Signore,  quali  sonó  li  sequenti : 

Quelli,  che  seranno  aecusati  per  qualunque  errore  d'eresia,  si  proceda  contro  loro 
come  si  procede  in  tutti  gli  altri  delitti  non  eccetuati. 

ítem.  Che  non  sia  ammesso  nessuno  testimonio  per  denuntiarc  o  testimoniare  con- 
tra alcuno,  saino  dentro  di  xx  giorni,  numerati  dal  di  che  si  commise  il  dclitlo ;  né  sia 
admessa  aecusatione  ó  quercla  saluo  dentro  il  detto  tempo  :  et  passati  detli  xx  giorni 
non  possono  essere  piü  aecusati. 

ítem.  Che  li  beni  uenghino  a  suoi  Eredi  et  descendenti.  Et  per  che  quella  clau- 
sula, che  dice  in  questo  delitto  si  proceda  come  negli  altri,  é  genérale,  supplicano  a 
Sua  Santitá  dichiari  le  cose  sequeuti,  quali  sotto  detta  clausula  si  comprendono,  cioé, 
carceri  aperti  et  publici,  come  in  gli  altri  delitti. 

ítem.  Che  possino  ricusare  li  Giudici  etOfficiali,  et  siano  pronunliati  sospelli  per 
gli  Arbitri  secondo  l'ordine  et  figura  di  Judicio. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  291 

no  era  stalo  de  lor  commessione,  anzi  havea  ció  fatto  per  ruinarla  co' 
nostro  signore,  promeltendo  quello  ch'era  certo  no  possevano  attendere : 
lamen tandosi  di  luí  sopra  modo,  che  li  hauea  rubbati,  et  che  sapevano 
havea  quatlro  mila  ducati  in  Banco  in  Roma,  li  quali  erano  loro,  et  ne 
facevano  servilio  a  Sua  Santitá,  che  se  li  pigliasse.  Vista  tal  resolutione, 
gli  dissi  in  favore  de!  Commendatore  quel  che  mi  parse,  soggiongendoli, 
poiche  credevano  havesse  ció  fatto  per  ruinarli,  no  doveano  loro  adem- 
pir  la  sua  mala  volunta,  come  facevano,  no  attendendo  impero  che,  et 
nostro  signore  si  riputeria  ingannato,  vedendo  essi  restar  contenli  della 
expeditione  et  mancar  deli  mezzi  (?)  li  quali  hanno  causali ;  et,  proce- 
dendosi  di  queslo  modo,  dubitavo  nel  futuro  retrovasero  Sua  Santitá  et 
tutli  !i  altri  freddi :  et  quanlunque  fussi  certo  no  si  mancaria  de  farsegli 
juslitia,  pero  che  da  uno  a  un  allro  modo  importava  molió,  come  haveano 


ítem.  Che  possino  eleggere  quelli  Procuralori  et  Auuocati  uorrano,  etsi  siano  di 
detti  Christiani  nuovi,  Et  siano  obligati  pigliare  sua  difensione.  Et  etiam  suoi  parenli 
et  amici  li  possino  aiutare  et  favorire  et  consigliare,  senza  incorrere  in  pena  nessuna, 
saluo  se  fossero  pertinaci  et  indurati  in  qualche  erética  opinione. 

ítem.  Che  all'accusar  si  dichiari  in  l'accusatione  il  di,  tempo,  et  luogo,  nel  modo, 
che  stará  dichiarato  nelle  colpe  :  né  si  mettano  in  l'accusatione  altri  delitti,  saluo  quelli 
che  si  trouaranno  dichiarati  in  le  colpe. 

ítem.  Che  non  imparino  alli  Testimonii  le  cerimonie,  delle  quali  habbino  a  testi- 
moniare; ne  si  faccino  Editti  publici,  ne  bandi  generali,  per  li  quali  ammonischino  ó 
imparino  quelli,  che  uerrano  ad  accusare  ó  dinuntiare. 

ítem.  Li  schiaui  non  si  admettino  per  testimonio,  ne  li  serví,  ne  li  familiari,  che 
saranno  cacciati  di  casa,  ó  se  ne  usciranno  di  essa  ;  né  li  nemici,  né  persone  uili :  né 
constringano  per  essere  esaminate  quelle  persone,  che  de  Jure  non  possono  esaminarsi 
in  gli  altri  delitti :  né  saranno  admessi  a  testimoniare  li  socii  del  delitto,  né  gli  accusati 
6  condennati  di  detto  crimine,  né  si  dia  crédito  ai  suoi  testimonii. 

ítem.  Chi  uorrá  dinuntiare,  accusare,  ó  testimoniare  contra  d'alcuno,  primo  dichia- 
rará  se  il  delitto  fu  commesso  doppo  la  venia  :  per  altrimenti  non  vaglia  il  suo  detto. 

ítem.  Che  si  publichi  li  nomi  de'testimonii  et  accusatori,  a  qual  si  possa  opporre 
eccettioni,  come  in  gli  altri  delitti :  et  sopra  la  denuntiatione  di  dette  eccettioni  s'inca- 
richino  le  conscientie  de'Judici. 

ítem.  Che  alli  testimonii  falsi,  et  alli  denunciatori  et  accusatori,  che. falsamente 
accusaránno,  si  diano  le  medesime  pene,  che  harriano  patito  gli  accusati ;  et  alli  Giudici 
s'imponga  pena  che  súbito  li  carcerino  et  castighino. 

ítem.  Che  possino  appellare  alia  santa  Sede  Apostólica  da  qualche  sententia  diffi- 
nitiva  ó  interlocutoria,  che  habbia  forza  di  diffinitiva,  et  che  fosse  data  per  Vescovo, 
Arcivescovo,  Cardinalc,  ó  quache  allro  Prelalo  et  Giudice ;  et  non  sia  prohibito  a  nes- 

37* 


292  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

provato  ncl  perdono,  nel  quale  no  era  diíTcrcnlia  nel  fine,  ma  nel  modo  : 
pero,  per  queste  ct  molte  allre  ragioni,  no  mi  pare va  douessero  dír  di  no 
voler  compir,  ma,  se  no  havevano  per  al  hora  il  modo,  represenlassero 
a  Nostro  Pignore  le  lor  necessila,  che  allcgavano  ;  poi  si  rimelessero  alia 
sua  volunta,  che  credevo  ccrlo  Sua  Beatiludine  acceüerebbe  la  lor  scusa, 
sapendo  no  si  movea  per  premio.  Né  queslo  potei  di  lor  conseguiré,  res- 
pondendomi,  quando  havessero  data  la  parola  et  Nostro  Signore  aceelasse, 
erano  conslretli  di  salisfar  al  che  no  auriano  modo.  Visto  che  non  li  po- 
levo  persuader,  mi  ridussi  pagassero  li  cinque  mila :  risposero  l'obbligo 
era  di  poi  de  liberarsi  li  presi ;  che  ció  falto  non  mancariano.  Passate 
queste  pratichc  in  Lisbona,  me  ne  tornai  in  Evora,  dove~  feci  le  medesi- 
mc  instancie  co'quelli,  che  no  si  trovarono  in  Lisbonna.  Or,  vedulo  che 
dali  mercanti  no  potevo  cavar  resoluzione,  mandai  per  tre  doltori  deli 

suna  persona  andaré  o  mandare  a  richiederc  sua  giusticia  in  Roma,,  et  impetrare  dalla 
Sede  Apostólica  qualche  gratie,  né  incorrano  percio  in  pena  nessuna. 

ítem.  Che  nessuno  possa  essere  aecusato  poi  la  morte  sua. 

ítem.  Che  nella  concessione  di  beni  si  dichiari  che  gliaecusati,  incarcerati,  inqui- 
siti,  ó  culpati  in  qualquc  errore,  per  li  quali  si  debbiano  perderé  detti  beni,  non  li 
siano  sequestrati  né  dcscritti;  ma  liberamente  li  possa  usare  in  vita  sua,  et  per  morte 
sua  restino  a  suoi  heredi. 

Et,  oltre  le  dette  dichiarationi  incluse  in  detta  clausula,  concessa  in  detto  priuile- 
gio,  domandano  il  seguente  : 

Che  si  limiti  tempo  d'un  'Anno,  al  piü,  nel  quale  si  fornischino  li  processi  ncl  Re- 
gno,  salvo  se  l'accusato  domandasse  dilatione  di  piü  longo  tempo  per  bene  di  sua  giusti- 
tia  ;  et  passato  l'Anno  resti  la  causa  devoluta  alia  Sede  Apostólica,  volendo  l'accusato. 

ítem.  Siano  giudicati  per  sospetti  a  questo  Popólo  tutti  quclli,  che  contradissero 
alia  Venia  ct  altrc  lctlcre  Apostoliche  speditc  sopra  cssa. 

ítem.  Che  si  possino  andaré  del  llegno  con  suoi  beni  et  famigüe  a  quclla  térra  de 
Christiani  che  vorrano,  non  oslante  la  legge,  et  che  mai  si  faccia  altra  simile  ;  né  li  sia 
prohibito  uendere  suoi  beni  mobili  et  stabili  et  qualunque  altri,  come  non  si  prohibisce 
agli  altri  antichi  christiani. 

Tutto  il  sopradetto  si  determini  ¡uridicameiitc  mediante  molti  consigli  ct  cuiden- 
tissime  ragioni,  che  questo  vogliono  e  piü,  quali  piü  largamente  si  proporrano  ;  et  di 
tutto  si  faccia  una  decisione  o  stravaganle  incorpórala  nel  Jus  commune,  in  modo  che 
se  non  si  possa  revocare;  elqucllo  che  non  potra  stare  de  Jure,  si  faccia  per  gratia  spe- 
cialc  senza  far  mentione  di  priuilegio  ;  et  con  derogazionc  di  tulle  le  leggi  et  disposilioni 
in  contrario. 

Et  tutte  queste  cose  si  concedano  in  perpetuo  senza  limitationc  di  lempo. 

Se  Suq  Santita  non  uorra  denegare  Kl iiquisilioiio,  almeno  mandi  soprasederc  ogni 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  293 

loro,  co'  li  quali  si  consigliano  nel  negocio :  et,  referlogli  quanlo  havevo 
passato,  mi  dolsi  molto  de  tal  procederé  et  de  tanta  ¡rresolutione  in  quel 
tempo  doveano  esser  pío  resoluli,  máxime  se  lemevano  l'andata  de  Ce- 
sare a  Roma  no  fusse  per  nuocergli,  tanto  nel  presente  quanto  nel  futuro, 
come  mi  dicevano ;  per  il  che  mi  pare  va  il  dover  del  gioco  che  súbito  si 
spaciasse  una  diligenlia,  che  porlasse  buona  resoluzione  del  passato.  Ris- 
posero  che  gli  pareva  molto  bene  quanto  dicevo,  et  che  sarebbono  insie- 
me  per  veder'  di  disponergli.  Furono  insieme :  la  resoluzione  fu  che,  par- 
tilo  dalla  corte,  dove  no  si  poteva  negociar,  in  Santeren,  verriano  a  tro- 
varmi  dui  ó  tre  di  loro  cola  resoluzione  del  tullo.  Parlilo  dalla  corle,  man- 
dai  un  mió  a  Lisbona,  dove  erano  lornali  per  la  maggior  parle  per  sol- 
lecitar  la  resoluzione  et  le  lellere  deli  5.000,  poiche  gli  presi  erano  libe- 
rati,  et  mi  redussi  nel  predetlo  loco,  dove,  quando  aspeltavo  che  com- 


cosa  sino  al  Concilio  futuro,  doue  si  trattará  detta  causa  judicialmente,  et  si  determi- 
nará se  contra  detto  Popólo  debbia  cssere  Inquisitione,  ó  no  :  et  se  in  questo  mezzo  al- 
cuno  sará  colpalo  in  modo  che  l'Ordinario  de  Jure  debba  contra  di  lui  procederé,  che 
in  tal  caso  proceda  nel  modo,  clausole,  et  conditioni  sopradette. 

ítem.  Se  Sua  Santitá  non  uorrá  dilatare  fino  al  Concilio,  che  in  tal  caso  commetta 
la  Causa  in  Rota,  et  in  essa  iudicialmente  si  tratli  et  si  facci  giustitia;  et  finche  sia  dc- 
terminato,  mandi  ogni  cosa  soprasedere  come  di  sopra. 

Itera.  Hauendo  da  essere  Inquisitione  in  detto  Regno,  o  che  sia  deterrainato  per 
giustitia  che  debba  essere,  o  che  Sua  Santitá  uolontariamente  la  conceda,  in  tal  caso  si 
facci  con  le  conditioni  et  appuntamenti  sopradetti ;  et  nessuno  officiale  dell'Inquisitione, 
possa  hauer  salario,  ne  altra  cosa,  delli  beni  et  robba  degli  aecusati  et  condannati ;  ne 
possa  per  se,  ne  per  parenti,  ó  amico  suo,  impetrare  in  nessun  tempo  cosa  alcuna  di 
detti  beni  et  robba. 

ítem.  Che  non  si  metta  nessuna  parola,  per  la  quale  dica  che  si  proceda  secondo 
consuetudine. 

ítem.  Che  si  commandi  agli  Ordinarii,  sotto  pene  et  censure  et  priuatione  di  Be- 
nefitii,  che  sempre  siano  presentí,  et  non  lascino  le  cause  agli  Inquisitori  ;  ne  gli  In- 
quisitori  possano  procederé  senza  esso,  sotto  le  medesime  pene;  ne  gli  incarcerati  siano 
cauati  fuora  di  sua  diocese,  o  per  trattarc  6  agitare  li  Processi,  o  per  esseguire  le  pene. 

COPIA  DELL'  OBLIGATION'E. 

Tome  Serrano  et  Manuel  Méndez,  in  nome  delli  Christiani  nuovi  di  questi  Regni, 
per  uirtüdclla  podestá  el  commissione,  che  hauemo  di  quclli  di  Lisbona  etd'alcuni  del 
Regno,  dicemo  che,  hauendo  rispetto  alie  grandi  spese,  che  lo  nostro  molto  Santo  Pa- 
dre ha  et  fá  contro  gli  Infideli,  et  per  ¡1  desiderio  che  hauemo  di  viuere  in  questi  Re- 


294  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

parissero,  mi  scrissero  che,  essendo  tórnalo  un  maestro  Georgio  di  Evora 
a  Sua  Maesta  (é  capo  principale  el  piü  misero  che  la  miseria),  li  haueva 
detlo  che  per  niente  nó  venissero  a  trovarmi,  che  sarebbe  la  tolal  ruina 
del  lullo,  perche  Sua  Maesta  molió  si  era  doluta  déla  pralica  lenevan 
meco.  Per  questo  quelli,  che  erano  ín  procinto  di  venir,  no  venivano, 
onde  col  mió  risolveriano  il  tutto,  et  manderianlo  ben  resoluto.  La  reso- 
lulione  li  dellero,  fü  le  lettere  deli  5.000,  che  co'  molto  (ravnglio  se  gli  ca- 
vorono  de'mani,  dele  quali  mando  la  seconda  inclusa  :  un'altra  se  n'é  man- 
data  in  Fiandra,  co'  mió  ordine.  Subilo  si  faccino  pagare  in  Roma,  secondo 
l'ordine  deV.S.,  il  che,  se  nó  trovaró  exequito,  súbito  faro  exequir.  No 
so  che  mi  dir  di  tal  procederé,  se  gia  nó  fusse  vero  l'accordo,  dice  il  Ca- 
pitán Ceyton,  del  quale  di  qua  nó  si  senté  cosa  alcuna,  ne  vede  fumo, 
anzi  a  quelli  doltori,  a  quali  Sua  Maesta  commandó  andassero  ad  revo- 
car quanto  havevano  ricercato  fsicj.  II  Cardinal,  tra  le  altre  cose,  che 
Sua  Maesta  disse,  per  quanlo  mi  dicano,  li  disse  :  «  quando  si  fara  un'al- 

gni  in  la  nostra  Santa  fede  catholica,  et  non  essere  persequitati  et  uessati,  siamo  con- 
tenti  seruire  á  Sua  Santitá  com  30  mila  scudi,  concedendone  Sua  Santitá  che  non  sia 
inquisitione  contra  detto  Popólo  di  nuovi  Christiani;  et  questo  con  tutu  li  Capitoli  et 
appuntamenti  et  dichiarationi  poste  in  queste  carte  retroscritte.  Et  se  questo  non  con- 
cederá Sua  Santitá  ma  commettere  la  causa  al  Concilio  ó  alia  Rota,  per  che  si  determine 
de  jure  se  debbia  essere  detta  Inquisitione  contro  detto  Popólo  o  nó,  et  facendo  che 
ogni  cosa  si  sopraseda  fino  alia  determinatione,  secondo  domandano  in  questi  appunta- 
menti, la  seruiremo  con  dieci  mila  ducati.  Et  determinandosi  che  contra  detto  Popólo 
non  debbia  essere  Inquisitione,  perche  Sua  Santitá  conceda  et  dichiari  tutti  li  Capitoli 
per  noi  domandati,  perche'  si  usi  del  modo  che  in  lor  dicemo  in  tutto  e  per  tutto,  la 
seruiremo  con  20  mila  ducati,  oltre  delli  x  mila,  che  sarrano  in  tutto  30  mila.  Et  in 
euento  che  si  giudichi  che  debbia  essere  Inquisitione,  perche  Sua  Santitá  mandi  et  di- 
chiari che  si  faccia  conforme  allí  detli  appuntamenti  retroscritti,  li  faremo  seruitio  di 
x  mila  ducati,  oltre  li  dieci  primi  per  commettere  la  causa,  che  saranno  xx  mila  per 
tutti.  Et  in  euento  che  Sua  Santitá  non  uoglia  nessuna  delle  cose  sopradctte,  et  mandi 
mettere  Inquisitione  in  questi  Regni  con  leconditioni  contcnute  innelli  nostri  appun- 
tamenti perpetuamente,  solamente  li  beni  restino  agli  heredi  per  xii  anni,  deindc  a  be- 
neplácito di  Sua  Santitá,  per  questo  la  seruiremo  con  xv  mila  ducati.  Et  perche  di  questo 
semo  stati  contenti  hauemo  sottoscritti  questi,  fatti  in  Evora,  a  di  24  d'Aprile,  ncl  1535 
anni — Tome  Serrano —  Manuel  Méndez  '. 

1  Copia  na  Bibliotheca  d'Ajuda,  Codex  Diplomaticus,  Tom.  III  (Symmieta,  Tom. 
46.)  pag.  449  e  scg.  Da  un  Códice  Vaticano,  della  Biblioteca  de'  Duchi  d'Orbino,  num. 
966,  pag.  118. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  29o 

tra  unione  contra  di  voi,  anderele  al  Papa,  che  vi  proveda»;  le  quale 
parole  mostrano  gran  colera.  Pero  no  mi  posso  persuader  sia  vero  lal 
accordo ;  anzi  credo  ch'el  lenere  poco  modo  del  denaro  li  habbia  conlra 
ma  volunta  fatli  indugiar  tanto.  Nondimeno,  se  in  Fiandra  no  mi  man- 
dano  resolutione,  cosi  di  quello  vorrebono  de  futuro,  come  de  satisfaré  in 
tutto  ó  in  parte  Fintenlione,  che  ha  dalo  il  Commendatore,  fará  forza 
persuadersi  6  che  siano  li  maggiori  Asini  del  mondo,  ó  che  abbiano  qual- 
che  servilü  delle  cose  loro,  la  qual  non  vedo  come  possi  seguir  senza  l'au- 
torita  de  Sua  Sanlita.  Per  quello,  quando  quella  no  slabilisca  cosa  alcuna 
prima  déla  mia  ármala,  si  potra  trovar  qualche  modo,  se  sonó  asini, 
di  farlilo  conoscere,  et  se  per  danari  si  sonó  voluti  assicurar  da  chi  non 
puó,  il  medesimo  faccino  con  chi  puó,  che  in  lal  caso  si  potra  cavar  la 
maschera  giusta  e  santamente.  El  quando  questo  lor  proceder  naschi  da 
asinaria,  V.  S.  creda  certo  che,  quando  Nostro  Signore  mostrera  di  voler 
conceder  la  Inquisilione  rigorosa,  come  si  domanda,  no  solo  faranno  quanto 
in  lor  nome  si  é  promesso,  ma  quanto  si  vorra.  Dubito  anche  non  abbino 
lárdala  la  resolutione  per  star  a  vedere  se  Nostro  Signore,  a  requisilion 
di  Cesare,  muta  cosa  alcuna  del  perdono  et  consente  Pinquisilione  come 
in  Castiglia,  sapendo  il  Re  sopra  ció  d'havergli  serillo,  acció  meglio  pos- 
sino saper'come  spendano  il  danaro  ;  et  quando  sia  per  questo,  no  s'in- 
novando  altro,  credo  faranno  il  debito  sino  in  Cama.  Che  per  questo  l'an- 
data  mia  per  Fiandra  sará  a  proposito,  essendo  li  Diego  Mendes,  fratello 
di  Francesco,  che  mori,  e'I  piü  ricco  di  loro,  et  di  maggiore  autorita,  e 
dopo  lui  la  moglie  del  delto  Francesco ;  la  quale,  se  no  fusse  stala  pronla 
a  pigliare  una  gran  parte  del  peso  ale  spalle,  per  inslantia  et  diligentia  del 
mió  Bartolomeo  Castodengo,  che  fu  quel  mandai  a  Lisbona,  nó  era  molió 
no  cavar  questi  5.000.  Per  il  che  mi  son  tróvalo  molte  volle  di  malavo- 
glia,  et  ancor  mi  trovo,  nó  vedendo  Nostro  Signore  ben  satisfalto ;  né  mi 
consola  altro  che  l'hauer  úsalo  ogni  diligentia  et  industria  possibile,  il 
che  prego  V.  S.  mi  creda,  ne  imputi  me  che  per  nó  scriver  questa  irre- 
solutione  ho  tardato  tanto,  credendomi  pur  possergli  scriver  cosa  di  mag- 
gior  satisfatione,  come  mi  sforzeró  di  fare  con  ogni  mió  ingegno,  sapendo 
quanto  devo. 

Circa  il  Commendatore  nó  pensó  siano  per  darli  danari  per  li  oíD- 
ci ;  et,  se  faranno  alcuna  cosa,  credo  sara  conslituirli  alcuna  certa  pro- 
visione.  Et,  se  questo  si  fara,  procederá  dalla  opra  mia,  la  qual  se  nó 


296  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTÜGÜEZ 

era,  mi  parevano  risoluli  no  negociasse  piü  cose  loro,  restando  da  lui 
molto  scandalezzati ;  pur  mi  son  sforzalo  lo  inlcrlenghino,  et  si  porlino 
ben'  di  esso.  No  so  che  faranno  ;  é  ben  vero  che  bisogna  che  lui  también  si 
comporti  co'  essi  loro,  et  sia  piü  parco  nel  spendere,  che  si  dogliono  sino 
al  cielo  che  habbi  giá  speso  dieci  mila  ducali,  né  possono  patire  quella 
ha  scrilta  a  Sua  Sanlila;  el  se  lui  si  allarga  nel  promelter,  credaV.  S. 
che  costoro  si  slringono  nell'allender.  Per  da  qui  avanti  sará  necessario 
le  promesse  siano  in  serillo,  no  in  voce,  poiche  non  vogliono  slar  se  no 
alia  scritlura. 

Havendo  serillo  fin  qui,  credendomi  spacciar  alli  4  di  Febbrajo, 
sopragiunsero  leltere  da  quesla  gente,  per  le  quali  si  avvisava  che,  es- 
sendo  falta  molla  inslantia  per  parle  de  certi  parlicolari  al  Cardinal  di  no- 
tificar il  breve  processato,  no  se  ne  contentando  il  Re  per  quanlo  si  crede, 
S.  Sig.ria  R.ma  mandó  per  quelli  rhavevano  preséntalo  et  lo  restituí,  per 
il  che  mi  pregavano  volessi  far  detla  notificalione.  Visto  queslo,  et  paren- 
domi  quesla  slraniezza  usatagli  dovesse  esser  atta  ad  farli  resolver'  in 
quel  che  doveano,  dissi  che  non  mi  pareva  bene  mi  facessero  far  tale 
effetlo ;  imperoche,  se  queslo  procedeva  da  Sua  Maeslá,  tanto  piü  la  in- 
citarían conlro  di  essí,  pero  il  dover  del  gioco  mi  pareva  mi  dessero  buona 
resoluzione  circa  la  promessione  et  intenlion  data  del  Commendatore ;  et 
ció  fatto,  si  mandasse  una  diligentia  et  si  supplicasse  Sua  Sanlila  che  sú- 
bito facesse  far  tal  nolificalione,  overo  si  mandasse  a  ciaschedun  Ordina- 
rio un  processo :  el  perche  no  paresse  ció  nuovo  a  Sua  Maeslá,  che  io 
screverei  di  aver  sapula  la  proibizione,  et  poi  ch  ela  no  voleva  si  facesse 
queslo  né  per  me  né  per  altri,  no  potevo  mancar  darne  súbito  avviso  a 
Sua  Santila  acció  le  provedesse  come  gli  pareva,  et  a  queslo  modo  lor  res- 
taño discolpati,  et  passava  la  cosa  con  maggior  reputalione :  nondimeno 
se  pur  volevano,  no  mancarei  di  far  la  inlimalione,  ben  recordavo  se'l 
mandare  a  Roma  pareva  buono,  non  se  facesse  senza  delta  resolutione. 
Piacque  a  quelli  che  mi  parlavano  il  consiglio,  el  mi  pregorono  volessi 
soprasedere  il  dispaccio  per  tulto  Febbraro,  che  súbito  scriveriano  el  spe- 
ravano  buona  resolutione.  Ho  expeltato  sin'oggi,  primo  di  Marzo  :  non  so 
cosa  alcuna :  se  verra  per  tullo  domani,  avviseró  il  tutto,  et,  se  no,  hó 
delibéralo  non  tardar  piü  queslo  dispaccio,  acció  V.  S.  intenda  non  aver 
io  máncalo  di  far  tullo  per  mandarlo  buono.  Poiche  Sua  Santifa  aprc  la 
porta  alie  riserve  in  queslo  Regno,  ho  pensato  domandarne  una  buona 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  297 

per  V.  S.  el  per  me,  la  quale  son  cerlo  sia  per  aver  preslo  effelto,  et  é 
questa.  Qui  si  rilrova  un  Vescovo  di  Saphi,  nominato  Giovan  Solil,  che 
tiene  un  Monasterio,  overo  Priorato  sólito  governarsi  per  Priorem  Sancti 
Salvaloris  de  igrejó,  sive  de  ecclesiola,  ordinis  Canonicorum  Regularium 
Sancti  Auguslini,  Porlugallensis  Diócesis,  che  valerá  presso  due  mila  du- 
cati,  ¡1  quale  é  vecchio  el  infernio  di  maniera  che  no  puó  durar  molió, 
pero  supplico  V.  S.  si  sforzi  di  oltener'  súbito  di  questo  riserva  in  peclore, 
con  darsi  commissione  al  signore  Datario,  et  dove  bisogna,  che  \enendo 
l'avviso  Sua  Sanlitá  sia  avverlita  ;  et  contenlandosi  di  farci  quesla  gratia, 
dica  dármelo  per  ricompensa  delle  mié  fatiche,  c|je  spereró  con  l'ajuto 
de  Dio  et  buoni  amici  cavarne  construtlo,  se  bene  intendo  Sua  Maestá 
pensi  domandarlo  per  unirlo  con  Santa  Croce  de  Colymbria,  che  vale 
presso  de  ventimila  ducati,  sotto  preteslo  de  una  Universita,  che  li  si  é 
cominciata,  alia  quale  puó  supplire  delta  Santa  Croce,  et  quando  no,  puó 
Sua  Maestá  darli  del  suo.  Et  poiche  mi  trovo  in  queslo  ragionamento, 
diró  che,  se  Sua  Santila  non  serra  la  porta  a  simile  unione,  et  altre  che 
si  fanrro  a  capelle  adminístrale  et  mangiate  da  Layci,  colla  quantilá  delle 
Commende,  tra  dieci  anni  no  restara  al  Clero  di  Porlugallo  se  no  Cano- 
nicali  eVicarie  di  poco  momento,  che,  oltre  il  carico  di  coscienlia,  sará 
grandissimo  danno  della  camera  et  infamia  del  ordine  ecclesiaslico. 

Diró  anche  dirsi  che  Sua  Maestá  procura  di  ollencre  in  commenda 
per  un  suo  fratello,  che  si  casa  con  la  sorella  del  Duca  di  Braganza,  il 
predetto  Priorato  di  Santa  Croce,  che  hor  tiene  l'Infante  Arcivescovo  di 
Braca  :  et  quanlunque  Sua  Maesta  et  suoi  fratelli  siano  degni  di  ogni  gra- 
lia,  non  taceró  che  mai  piíi  salira  de  layci,  fratelli,  o  figli  di  Re.  II  che 
fo  no  per  impedir  li  disegni  loro,  ma  per  far  mió  debito  di  av visar  Sua 
Sanlitá,  ació  sappia  quel  che  se  gli  domanda. 

Se  acaso  l'avviso  in  Fiandra  mandato  no  fusse  capitato,  mando  questa 
secunda  con  l'ordine  mió  accio  Sua  Sanlitá  si  possa  valere  *? 


1  Copia  muito  imperfcila  na  Bibuotheca  ü'Ajuda.  Symmicta,  Tom.  II,  fol.  252, 
Ex  Códice  Vat.  6.210,*  pag.  21. 

TOMO  III.  38 


!98  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGIIEZ 

Carta  do  cardeal  *uni ¡quatro  a  el-Rei. 

1536  —  Malo  2. 


Senhor — Receby  carias  do  Senhor  Cardeal  seu  Irmíio,  feylas  aos 
xxvii  de  Marco,  ñas  quays  me  escreue  queVossa  Alteza  tinha  mandado 
que  o  negocio  de  barroso  se  acabasse  segundo  o  concertó  e  apunlamentos 
feytos  por  dom  Anrique  por  mandado  e  commissao  deVossa  Alteza.  Bem 
me  pesa  que  as  cartas  suas  sobre  isto  nam  sejatn  vyndas  pera  que  todo 
se  concruysse,  porque  este  concertó  me  parece  muito  boom  pollo  Senhor 
lffante  dom  Anrique,  por  respeyto  do  regresso ;  porque,  ainda  que  bar- 
roso estee  ia  boom  e  sam,  porem  he  de  crer  que  nom  uiueraa  muito,  e, 
se  morresse  amtes  d^sto  acabado,  o  papa  sem  duuida  daría  o  moyslciro 
ao  cardeal  farnés ;  e  por  ysto,  e  porque  tenho  dito  ao  papa  que  este  con- 
certó era  acabado,  lhe  peco  por  merce  que  queira  mandar  que  se  despa- 
che e  concruya  segundo  os  apontamentos  feytos nam  perca  o 

crédito  com  Sua  Santidade de  V.  Alteza,  o  que  certo  nam  se- 
ria seu  seruico. 

Tambem  Dom  Pedro  Mascarenhas  daraa  a  Vossa  Alteza  huuma  pili- 
cam  de  Ghristowam  leylam,  a  qual  eu  encomendó  a  Vossa  Alteza,  pcdin- 
do  lhe  por  merce  que  a  queira  bem  despachar,  porque  me  parece  tam  de- 
uoto  e  boom  vassallo  seu  que  me  parece  fazer  seruico  a  Vossa  Alteza  em 
Iho  encomendar  em  tantas  suas  fortunas  e  miserias ;  e  eu  cerlamente  re- 
ceberey  em  merce  muy  asinalada  toda  a  que  a  elle  fizer,  parecendo  me 
que  elle  he  homem  virtuoso  e  muy  anymoso  em  esta  sua  tanta  velhice. 

Os  conegos  regrantes  de  santa  Cruz  de'Coymbra  sam  despachados 
de  Sua  Santidade  como  pediram  e  como  deseiaram,  que  se  nam  mudou 
huuma  soo  palaura  de  sua  piticam  ;  e  ludo  se  fez  a  supplicacam  de  Vossa 
Alteza :  e  na  composicao  Ihes  fiz  fazer  graca  da  o  Dalario  de  duzentos  e 
cincoenta  cruzados.  Acerca  da  reserua  do  moysteiro  de  grijoo  nam  ueio 
maneira  pera  que  Vossa  Alteza  seia  seruida,  se  nam  faz  que  o  que  o  tem 
resine  em  fauor  do  lffante  dom  Anrique  com  reseruacam  dos  fruylos  em 
sua  vida:  e  nesta  maneira  nam  haueraa  nysto  difliculdade,  e  doulra  ma- 
neira nam  veio  como  se  possa  fazer,  como  a  ellcs  tenho  dito  muitas  uezes. 


RELAGÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  299 

Com  esta  seraa  huuní  Breue  de  Sua  Santidade  a  Vossa  Alteza  sobre 
a  Vagante  do  doutor  Joam  br/iuo,  a  qual  cerlo  fora  toda  de  Vossa  Alteza 
e  do  Iffiínle  dom  Anrique,  se  quatro  dias  antes  nam  fosse  vyndo  huum 
correo  do  Nunlio  ao  Reuerendissimo  Gardeal  de  Samta  flor,  netto  de  Sua 
Santidade,  sobryslo,  a  quem  ja  hera  dada;  e  pidimdo  eu  por  merce  a 
Sua  Santidade  que  me  fizesse  merce  do  Arcediagado  de  Barroso  pelo 
Jfíanle  dom  Anrique  pera  huum  seu  criado,  Sua  Santidade  foy  contemte 
de  mo  conceder.  Peco  por  merce  a  Vossa  Alteza  que  queira  hauer  por 
encomendado  o  dito  Gardeal  de  santa  flor,  o  qual,  por  ser  netto  de  Sua 
Santidade,  e  muy  caro  netto,  merece  todo  fauor  e  graca,  que  Ihe  Vossa 
Alteza  nysto  fizer,  que  asy  demos  esperamca  que  faria  Vossa  Alteza,  os 
dous  embaixadores  seus  e  eu,  a  Sua  Santidade :  e  ysto  tanto  mays  eííi- 
cazmente  peco  a  Vossa  Alteza,  quanto  Sua  Santidade  nos  lem  prometido 
fazello  resinar  em  fauor  de  quem  quiser  Vossa  Alteza,  com  huuma  pensao 

honesta  pollo  dito  Gardeal.  Spero  d  ysto  reposta  booa  co  es ilhor, 

tornando  lho  a  pedir  de  nouo  por  muy  grande  e  asenalada  mercee. 

Vossa  Alteza  receberaa  do  Gardeal  seu  irmao  a  copia  da  Bulla  da 
legitimacao  de  dom  Martinho,  Arcobispo  do  funchal ;  e  se  mandar  que  se 
despeda  a  Bulla  reuo^oria  della,  porque  dom  Anrique,  Aluaro  mendez, 

e  eu  nos  resol uemos  de  a  nao  espedir  sem  mandado  de  Vossa  Alteza 

fazer  tanta  honra,  mandará  o  que  for  mays  seu  seruico  que  logo  seraa 
feyto.  E  tambem  poderaa  veer  a  copia  da  cedola  do  Arcobispado  do  fum- 
chal,  a  qual  dom  Martinho  me  fez  asynar,  nam  cuydando  que  fosse  nella 
senam  o  que  se  cosluma  de  poer,  e  o  que  na  verdade  se  passara  ;  porem 
depoys,  lembrandome  a  sua  condicam,  e  quanto  se  podia  delle  confiar, 
mandey  que  se  nam  espedisse  a  contracedula,  se  na  cedola  hauia  cousas 
exorbitantes,  e  asy  m  a  tornaram  :  na  qual  Vossa  Alteza  poderaa  veer  que 
homem  he  dom  Martinho,  poys  me  fazia  asynar  o  que  eu  nunca  pedy  ao 
papa  em  nome  de  Vossa  Alteza,  nem  Sua  Santidade  nunca  me  concedeo  : 
e  se  he  pera  ca  tornar,  bem  lhe  peco  por  merce  que  por  ysto  nam  tome 

particolar  indinacao  contra  o  dito  dom  Martinho meu  habito  e 

profissam  quer  que  eu  procure  o  bem  e  nam  o  mal  de  ninguem ;  e  por 
ysto  nunca  seria  contemte  se  por  minha  enformacam  elle  recebesse  al- 
guum  desprazer  ou  descontenlamenlo.  A  minha  seruitude,  que  tenho  com 
Vossa  Alteza,  e  o  meu  officio  de  proteger  e  olhar  por  todalas  cousas  de 
seus  Reynos  e  suas  em  esta  corle,  parece  me  que  me  obrigua  a  lhe  fazer 

38  * 


300  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

saber  ludo,  pera  que,  ou  por  elle,  ou  por  outras  pessoas  de  scus  Rey- 
nos,  se  nam outras  cousas  seraelhantcs  contra  seu  seruico  e 

uoontade.  Abaste  a  Vossa  Alteza  ler  conhecido  sua  natura,  e  o  dcixe  go- 
zar seu  fumo,  com  tanto  que  nam  damne  as  viamdas  suas,  como  as  dam- 
naua  uerdadeyramentc  nesta  corle. 

Tambem,  Senhor,  eu  tenho  esprilto  largamente  a  dom  pedro  maz- 
carenhas  sobre  o  caso  de  dom  Aunque,  do  qual  me  pesa  soomenle  pollo 
desprazer  que  Vossa  Alteza  dysto  tomou,  porque  do  mays  nam  faeo  conla 
nenhuuma.  Suprico  Vossa  Alteza  que  ten  ha  por  corto  que  nam  he  cousa 
pera  fazer  conta  delta,  e  dom  Anrique  nam  pequou  nem  errou  maliciosa- 
mente, antes  escriuia  zombando ;  e,  se  Sua  Santidade  nam  teuera  rece- 
bydo  desprazer  por  outra  cousa  que  por  ysto,  nam  fallara  d  ysto  palaura, 
yorem  ¿Melando  se  huuma  cousa  com  outra,  nam  pudo  nam  o  sentir  muito 
Sua  Santidade.  Depoys  conheceo  a  verdade,  e  nam  deyxou  de  veer  e  ou- 
uyr  dom  Anrique  de  booa  uontade,  e  partir  se  ha  conlemte  desta  Ierra  co 
a  Bulla  da  Inquisicam,  e  Sua  Santidade  fiqua  salisfeyla  de  dom  Anrique  ; 
contra  o  qual  lhe  peco  tambem  por  merce  que  queira  leer  o  mesmo  ani- 
mo, que  soya,  ate  que  o  ueja  e  ouca,  porque  conhecerá  seer  asy  como 
eu  lhe  espreuo,  e  como  dom  Pedro  lhe  diraa  por  parte  minha. 

Depoys  de  teer  esprilto  atequy,  receby  Ires  cartas  de  Vossa  Alteza 

dos  ...  n  e  vi  do  mes  passado,  e  lhe  bejo  as  maos  polla  merce  que 

a  Cesare  Biamquelti,  meu  camareyro,  e  ao  caualeyro  Ugolino :  ao  mays 
das  cartas  nam  respomdo,  porque  nam  pudi  fallar  ao  papa  depoys.  Rejo 
as  reays  maaos  de  Vossa  Alteza,  cuia  vida  e  real  estado  nosso  senhor 
guarde  e  acrecemte  como  deseia. 

De  Roma  aos  n  de  Mayo  de  mdxxxvi  Annos. 

Di  Vostra  Maesía  —  HumUlis  Ser  nitor  A.  Cardinalis  Sancionan 
Qualtuor,  Maior  Penilenciarius l . 


1  Documento  muito  qucimado  da  tinta  no  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  F,  >F.>r, 
57,  Doc.  29.  As  patarras  c  letras  em  itálico  apenas  se  podem  ler  por  covjectura,  e  al 'gu- 
iñas sao  duvidosas. 


relacOes  gom  A  CURIA  ROMANA  301 


Carta  de  D.  Hcnriquc  de  Ilenezes  a  el-Rei. 


153G  —  llaio  3. 


Senhor  —Per  este  mesmo  correo  derradeiro  recebi,  de  nom  se¡  quem, 
duas  carias  de  Vossa  Alteza,  huma  sobre  cousas  de  tomar,  qu  eu  ja  nom 
poderei  fazer  e  deixalasey  ao  embaixador,  como  Vossa  Alteza  manda; 
a  oulra  sobre  falar  a  joam  machado  n  urna  igreja  d  um  frey  antonio,  freiré 
de  chrislos,  no  qual  loguo  Ihe  falei,  e  ele  me  deu  n  ysso  de  sy  muy  boa  re- 
zao:  e  com  ludo  me  deu  essa  carta,  que  aquy  vay,  pera  hum  seu  feitor 
logo  entregar  o  socreslo  e  executoryaes,  que  laa  tem  ha  muilo  tempo, 
a  Vossa  Alteza  pera  fazer  nysso  o  que  mais  for  seruydo,  como  he  rezao 
que  faca  todo  bom  portugués  e  honrado  como  ele  he.  Vossa  Alteza  o  ueja, 
e  faca  o  que  for  mais  seu  seruyeo,  que  ele  disso  será  contente  ;  e  porem, 
senhor,  se  isso  for  seu,  Vossa  Alteza  creo  eu  que  o  nom  dará  senao  a 
a  seu  dono.  No  outro  negocio  com  pero  de  Sousa,  tambem  Ihe  faley  duas 
ou  tres  uezes  da  parte  de  Vossa  Alteza  o  mylhor  que  eu  pude:  parece 
me  que  esse  crauo  estaa  mais  alto.  Ele  escreue  essa  carta  sobrysso  a 
Vossa  Alteza  :  eu  nao  tenho  ja  tempo  de  nysso  fazer  nem  falar  mais,  nem 
pera  disputar  quem  tem  rezao,  que  o  nom  posso  bem  entender  per  aquy 
e  perante  deus,  e  nao  digo  disto  mais. 

ítem.  Senhor,  a  cristovao  leilao  falei  muilas  uezes,  e  outros  seus 
amigos  por  seruico  de  Vossa  Alteza.  A  ele  meterao  Ihe  em  cabeca,  creo 
que  seryao  judeus,  que  eu  o  aguardava  pera  o  matar,  e  sobr  ysto  me  pus 
co  ele  na  cruz  e  Ihe  fiz  myl  comprimentos  damyzade,  e  ja  o  nom  ere. 
Diz  que  tem  respondido  a  Vossa  Alteza,  e  nom  sey  se  Responderaa  agora. 
Santiquatro  tambem  Ihe  falou  e  fala  :  diz  que  quer  pedroso,  ou  que  Vossa 
Alteza  lhescreua  a  merce  que  Ihe  quer  fazer,  e  nysto  estaa  meo  outi- 
cordo  (?)  e  asmatiquo  que,  asy  deus  me  salue,  qu  ey  doo  dele.  Vossa  Al- 
teza o  deue  mandar  yr  com  mais  palavras  de  merce,  e  escreuer  sobr  ysso 
a  santiquatro :  quycaa  o  tyraraao  desla  leyma  em  que  anda  ;  dizendo  po- 


302  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

rem  sempre  canto  deseja  uoso  seruico.  Nosso  Senhor  a  vyda  e  [leal  es- 
tado deVossa  Alteza  acrecenté  como  eu  desejo. 

De  Roma,  a  tres  do  mayo,  1536. 

Criado  de  Vossa  Alteza,  que  suas  reaes  maos  beyja  —  Dom  Ánry- 
que  M.  l. 


Bulla  do  Papa  Paulo  III  dirigida  aos  Rispos 
de  i  o  i  ni  lira.  Lamego,  e  Ceuta. 

153G— Halo  23. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  Dei  Venerabilibus  fratribus  Co- 
limbriensi  et  Lamacensi  ac  Septensi  Episcopis  Salutem  et  apostolicam  be- 
nedictionem. 

Cum  ad  nil  magis  nostra  aspiret  intenlio  quam  ut  fides  catholica, 
nostris  polissime  temporibus,  ubique  floreat  et  augealur,  et  omnis  praui- 
tas  a  Christi  fidelibus  nostra  diligentia  procul  pellatur,  ac  ipsorum  fide- 
lium  animas  deo  lucrifaciamus,  libenter  operam  vigilem  impendimus  ut 
diabólica  fraude  decepti  ad  aulam  dominicam  reuerlantur,  ac,  cunctis  er- 
roribus  extirpalis,  eiusdem  fidei  zelus  et  obseruantia  in  ipsorum  corda 
fidelium  fortius  imprimatur  ;  et  siqui  animorum  peruersitale  ducti  in  eorum 
damnato  proposito  perseuerare  maluerint,  taliter  in  illis  animaduertalur 
quod  eorum  pena  alus  sit  in  exemplum.  Cuín  itaque,  ut  ex  fidedigno- 
rum  relatione  plurimorum  nobis  displicenter  innotuit,  in  plerisque  par- 
tibus  Regni  Portugalie  et  dominiis  Carissimi  in  Christo  filii  nostri  Johan- 
nis,  Portugalie  et  Algarbiorum  Regis  illuslris,  ac  eidem  Regi  medíale  vel 
immediate  subieclis,  nonnulli  ex  hebraica  perfidia  ad  chrislianam  fidem 
conuersi,  chrisliani  noui  nuncupati,  ad  ritum  judeorum,  a  quo  discesse- 
rant,  rediré,  et  alii,  qui  hebraicam  seclam  nunquam  professi  sunt,  sed  e 
parentibus  iam  chrislianis  sunt  procreati,  ritum  iudeorum  huiusmodi  ob- 
seruare,  ac  alii  Lulheranam  et  maumethanam  et  alias  damnatas  hereses 
et  errores  sequi,  ac  sortilegia  heresim  manifesté  sapienlia,  instigante  hu- 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  57,  Doc.  30. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  303 

raani  generis  inimico,  comittere  non  vereanlur,  in  grauissimam  diuine 
magestatis  offensam,  ac  orlhodoxe  fidei  scandalum,  necnon  animarum  sa- 
lulis  pernitiem  et  irreparabile  delrimentum  :  Nos,  ne  huiusmodi  pestes  in 
perniliem  aliorum  sua  venena  difFundant,  opporlunis  remedüs,  prout  nos- 
tro  incumbit  oificio,  prouidere  volenles,  vos,  de  quorum  circumspectio- 
ne,  prouidenlia,  reclitudine,  experientia  et  doctrina  prefatus  Johannes  Rex 
per  Oratorem  suum  nobis  fidem  fecil,  et  de  quibus  propterea  plurimum 
confidimus,  necnon  unum  alium  E'piscopum,  aut  unum  Religiosum,  vel 
clericum  secularem  in  dignitate  ecelesiaslica  constitutum,  et  sacre  Theo- 
logie  vel  sacrorurn  canonum  professorem,  quem  idem  Johannes  Rex  ad 
hoc  duxerit  eligendura  seu  assumendum  et  deputandum,  ac  singulos  ves- 
trum  in  nostros  et  appostolice  sedis  commissarios,  ac  super  premissis  in- 
quisitores  in  Regnis  et  dominiis  prediclis,  aucloritale  apposlolica  tenore  pre- 
senlium  constiluimus  et  deputamus :  ac  vobis  contra  eos,  qui  ante  tempus 
dalarum  aliarum  lilterarum  a  nobis  duodécimo  mensis  Octobris  proxime 
preleriti  in  forma  breuis  emanalarum,  per  quas  ipsis  nouis  christianis,  et 
alus  ab  hebraica  gente  per  Jineam  paternam  vel  maternam  descendenlibus, 
preleritorum  errorum  veniam  concessimus,  ad  christianam  fidem  con- 
uersi,  ad  rilum  Judeorum  a  tempore  dalarum  earundem  litlerarum  redie- 
runt ;  et  e  contra  ex  iam  christianis  parentibus  procreatos  ritum  Judeorum 
seruantes,  alios  Lulherane  et  aliarum  heresum  sectatores,  necnon  sorti- 
legia  manifestam  heresim  sapientia  commiltenles,  illorumque  sequaces  et 
fautores :  ac  preterquam  ab  eis  vigore  lilterarum  in  forma  breuis  a  no- 
bis vigessimo  die  Julii  proxime  preteriti  emanatarum  eis  desuper  conces- 
sarum,  illarum  forma  seruata  pro  tempore  susceplos  defensores;  necnon 
íllís  alias  quam  pro  eis  aduocando  et  patrocinando,  ac  eos  quomodolibel 
iuxta  earundem  litlerarum  conlinenliam  adiuvando,  auxilium,  consilium  vel 
fauorem,  directe  vel  indirecle,  publice  vel  occulte,  prestantes,  cuiuscun- 
que  status,  gradus,  ordinis,  condilionis  vel  preeminenlie  fuerint,  una  cum 
locorum  ordinariis  in  casibus  in  quibus  de  iure  interuenire  debent,  si  1¡- 
gilime  requisili  interuenire  voluerint,  quibus  ut  ab  accusatis  vel  inquisi- 
tis  pro  tempore  requisili  per  se,  aut  eorum  in  spirilualibus  vicarios  ge- 
nerales, il lis  intersint,  in  virtute  sánele  obedienlie  districte  precipimus  et 
mandamus,  Alioquin  conslito  in  aclis  de  ligilima  eorum  requisitione,  si 
per  eos  sterit  quominus  vellent  interesse,  sine  illis,  iuxla  lamen  canóni- 
cas sanctiones,  Sic  lamen  quod  in  quocunque  slatu  cause,  si  ipsi  Ordi- 


30 i  COKPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

narü  interesse  voluerinl,  non  obstante  quod  prius  recusauerint,  admilli 
dcbeanl,  inquirendi,  Et  ut  in  homicidü,  furti,  et  alus  similibus  crimini- 
bus  per  Triennium  a  die  publicationis  presentium  in  dicto  Regno  Portu- 
galie  facienlc  compulandum  dunlaxat;  ac  eisdem  Tribus  Annis  elapsis 
iuxta  ¡uris  dispositionem,  preterquam  in  deliclis  infra  dictum  Triennium 
perpelralis,  in  quibus  quandocunque  inquirí  et  procedi  contigerit,  etiam 
lapso  Triennio  huiusmodi  simililer  ut  in  furti,  homicidü,  et  alus  huius- 
cemodi  criminihus  inquirí  el  procedi  debeal ;  Necnon  precedentihus  suf- 
fienlibus  indiciis  ad  capturan)  procedendi,  et  eos  carceribus  mancipandi, 
et  finalem  senlenliam  contra  eos  proferendi,  ac  delinquenles  iuxta  canó- 
nicas sancliones,  prout  qualilas  excessuum  exegerit,  penis  debilis  aííicien- 
d¡ :  Et  si  ipsi  Ordinarii  prius  inceperint,  nihilominus  elíam  vos  cum  eis 
vos  intromiltere  et  procederé  possilís.  Ita  lamen  quod  bona  ultimo  sup- 
plicio  damnatorum  per  decem  Annos,  simililer  a  die  publicationis  presen- 
tium compulandos,  dunlaxat,  non  publicentur,  nec  fisco  applicenlur,  sed 
ad  eorum  proximíores  consanguineos  et  aniñes  christianos,  qui  alias  ipsis 
condemnalís,  si  chrisliani  decessissent,  in  huiusmodi  bonis  succedere  de- 
berent,  Et,  si  aliqui  ex  proximioribus  Consanguineis  et  aííinibus  prefalis 
ad  succedendum  inhábiles  fuerint,  ad  alios,  qui  post  illos  succederent, 
transeant,  et  ad  eos  libere  deueniant :  omnesque  Officiales,  videlicel,  pro- 
curatorem  fiscalem,  ac  notarios  públicos,  et  alios  ad  premissa  necessa- 
rios,  etiam  clericos,  siue  religiosos  cuiuscunque  ordinis  fuerint,  una  cum 
locorum  Ordinariis,  vel  sine  illis,  prout  in  ipsa  rei  exigentia  ordo  iuris 
poslulal,  adhibendi,  ac  eos  ut  onus  inquirendi,  et  alia  premissa,  que  ad 
eorum  oíBcium  respecliue  speclauerint,  faciendi,  etiam  superiorum  licen- 
tia  super  hoc  minime  requisita,  applicenl  et  subeant  in  virtute  sánete  obe- 
dienlie  precipiendi:  Et  si  necesse  fuerit  aliquem  clericum,  etiam  in  sacris 
et  presbileratus  ordinibus  constitulum,  propter  premissa  degradari,  re- 
quisilo  desuper  loci  Ordinario,  si  idem  Ordinarius  id  exequi  recusauerit, 
per  quemeunque  Calholicum  Anlistitem,  quem  duxerilis  deputandum,  con- 
nocalis  et  sibi  ad  hoc  assislentibus  duobus  Abbatibus,  aut  alus  personis 
in  dignilale  ecclesiaslica  conslilutis,  ad  aclualem  degradalionem  talis  cle- 
rici,  eiusque  Curie  seculari  Iradilionem,  alias  prout  de  iure  procedi  fa- 
ciendi, ac  contradictores  quoslibel  el  rebelles  ¡uris  remediis  compescendi, 
et  auxilium  brachii  secularis  inuocandi  :  necnon  ad  verilalis  lumen  re- 
diré, ac  huiusmodi  hereses  el  errores  abiurarc  volcnlcs,  si  alias  relapsi 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  305 

non  fuerint,  clerici  el  ¡n  sacris  ordinibus  consliluti  ante  illorum  degra- 
dalionem  exclusive;  Laici  \e\o  usque  ad  ullimam  in  eos  iuslitie  execu- 
lionem,  recepta  prius  ab  eis  heresis  et  error um  huiusmodi  abiuralione 
pubüce,  veslrum  vel  a  vobis  subsliluli  aut  subslitutorum  arbitrio  facien- 
da,  preslandoque  per  eos  desuper  iuramenlo  quod  la  lia  deinceps  non  corn- 
miltenl,  nec  la  lia  vel  alia  biis  similia  commiltentibus,  seu  illis  adheren- 
libus,  auxilium,  consiüum  vel  favorem  per  se,  ^el  alium  seu  alios,  prcs- 
tabunt,  et  alias  in  forma  ecclcsie  consuela  ab  biis,  et  quibusvis  censuris 
et  penis  ecclesiaslicis,  quas  propter  premissa  incurrissent,  eliam  si  vide- 
bitur  iuncta  eis  publica  penitencia,  absolvendi,  ac  publicas  reconciüatio- 
nes  et  absolutiones  cum  solennilalibus  a  iure  requisilis,  Ordinario  loci 
aut  aliquo  alio  Episcopo  minime  requisito,  faciendi,  et  ad  ecelesie  gre- 
mium  et  unitatem  resliluendi  el  reponendi,  necnon  ad  nostram  et  dicte 
sedis  graliam  et  benedictionem  recipiendi ;  omniaque  alia  el  singula,  que 
ad  huiusmodi  hereses  el  errores  ac  sortilegia  reprimenda,  et  radicilus  ex- 
tirpanda  iusla  inris  ordinem  necessaria  fore  cognouerilis,  el  ad  oíficium 
inquisilionis  huiusmodi  de  iure  perlinent,  faciendi,  gerendi,  ordinandi, 
exercendi  et  exequendi  :  necnon  ad  premissa  alias  personas  ecclesiaslicas 
idóneas,  litteralas,  el  deum  timenles,  dummodo  sint  in  Iheologia  magis- 
tri,  seu  in  altero  iurium  Doctores  vel  Licentiati,  aut  Baccalarii  in  aliqúa 
universitate  Studii  generalis  graduati,  el  ad  minus  trigesimum  sue  etatis 
annum  atlingentes,  seu  ecclesiarum  Cathedralium  Canonici,  vel  alias  in 
ecclesjaslica  dignilate  consliluti,  quoliens  opus  esse  cognouerilis,  cum  si- 
mili  aut  sentenliis  finalibus  condemnalionibus,  et  alus,  de  quihus  vobis 
videbilur,  reserualis,  limítala  facúltale  assumendi,  subdelegandi,  el  de- 
pulandi,  ipsosque  in  loto  vel  parle  ad  veslrum  libilum,  eliam  in  causis 
et  negociis  per  eos  tune  inceplis,  revocandi,  et  loco  ipsorum  alios  simi- 
liter  qualificatos  depulandi,  Ha  lamen  quod  vos,  ac  alii  a  vobis  pro  lem- 
pore  deputati,  ac  Ordinarii  prefali,  nullos  officiales,  presertim  religiosos, 
nisi  necessarios,  sub  pena  excommunicationis  ipso  fació  incurrenda,  de- 
putare  possilis :  Necnon  inquisilores,  ac  alios  quoscunque  inquisilionis 
huiusmodi  officiales,  per  vos  aut  a  vobis  deputalis  pro  tempore  depula- 
tos  dunlaxat,  qui  in  eorum  ofücüs  deliquerint,  eliam  si  cuiuscunque,  eliam 
mendicantium  ordinum,  ac  exempli  fuerint,  iuxta  suorum  delictorum  ex- 
higenliam,  proul  iuris  fueril,  puniendi  el  casligandi  plenam,  liberam,  et 
omnimodam  facullalem  concedimus :  dislricle  precipiendo  mandantes  In- 

TOMO   III.  39 


306  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGUEZ 

quisitoribus  ipsis  ¡n  virtute  sánete  obedientie  ul  oíficium  Inquisilionis  hu- 
iusmodi,  iuxla  ¡uris  communis  disposilionem,  el  presentium  litlernrum 
formam,  conlinenliam  el  lenorem,  fideliler  et  debite  exercere  studeanl  et 
procurent.  Et  nihilominus  auclorilate  et  lenore  prediclis  slaluimus  et  or- 
dinamus  quod  omnes  et  singule  appellaliones  per  eos,  contra  quos  vigore 
presentium  procedí  conligerit,  a  quibuscunque  grauaminibus,  sique  eis  a 
vobis  aut  pro  tempore  existente  generali  Inquisilore,  seu  aiiis  per  vos  pro 
tempore  deputalis,  aut  ordinariis  prefalia  inferan  tur,  si  a  vobis  videlicet, 
aut  pro  tempore  existente  Inquisilore  generali,  ad  consilium  genérale 
ipsius  inquisilionis  per  vos  auclorilate  nostra  consliluendum,  super  quo 
vobis  ex  nunc  harum  serie  facultatem  concedimus ;  ab  alus  vero  predi- 
clis ad  vos,  si  inlerponi  contingel,  et  pro  tempore  exislenlem  generalem 
Inquisilorem,  qui  illas  cum  ómnibus  el  singulis  earum  emergenlibus,  in- 
cidenlibus,  dependenlibus  et  annexis,  audire,  cognoscere  et  decidere,  ac 
in  quacunque  inslanlia  fuerint,  fine  debito  terminare,  ac  execulioni  de- 
bite demandare,  el  quorum  inlererit  citare  :  Necnon  quibus  de  iure  fue- 
rit  inhibendum  inhibere,  el  appellanles  simpliciler  vel  ad  cautelara  a  qui- 
buscunque excoramunicationis  et  alus  senlentiis  in  eos  latís  absoluere  pos- 
silis,  proul  de  iure  fuerit  faciendum;  Decernenles  irrilura  et  inane  quic- 
quid  secus  super  hüs  a  quoquam  quavis  auclorilate  scienler  vel  ignoran- 
ter  conligerit  allemplari :  Non  obslantibus  felicis  recordationis  Bonifacii 
papae  oclavi,  predecessoris  noslri,  qua  cavetur  ne  quis  extra  suara  Ci- 
vilalem  vel  diocesim,  nisi  in  certis  exceplis  casibus,  et  in  illis  ultra  uñara 
dielam,  a  fine  sue  diócesis  ad  iudicium  euocetur,  Seu  ne  Judices  a  sede 
predicla  depulati  extra  civilalem  vel  diocesim,  in  quibus  depulati  fuerint, 
contra  quoscunque  procederé,  aut  alii  vel  alus  vices  suas  comraillere  pre- 
sunianl,  et  de  duabus  dielis  in  Concilio  generali  edila,  ac  alus  conslilu- 
tionibus  el  ordinalionibus  apposlolicis,  Necnon  quacunque  Lege,  seu  qui- 
buscunque Legibus,  in  dicto  Kegno,  eliam  per  prefaluin  Johannem  llegem, 
haclenus  quomodolibel  edilis,  omnes  supradiclos  novos  chrislianos,  qui 
alias  iuxla  inris  disposilionem  pótenles  censendi  non  sint,  pótenles  esse 
seu  censeri  declaranlibus,  quas  harum  serie  cassamus,  annullaraus  el  ir- 
rilamus,  ac  etiam  quibusvis  Komanorum  ponlificum  predecessorum  nos- 
trorum  exlrauaganlibus,  aul  alus  in  conlrarium  quomodoübet  facienlibus, 
ne  publicalio  nominum  aecusatorum  et  lestium  in  personis  irapolentibus 
contra  iuris  communis  formam  impediatur.  Quibus  ómnibus  tenores  il lo— 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  307 

rum,  ac  si  de  verbo  ad  verbum  nihil  penilus  omisso,  inserti  forent,  pre- 
senlibus  pro  suíficienter  expressis  habenles,  illis  alias  in  suo  robore  per- 
mansuris,  harum  serie  specialiler  el  expresse  derogamus,  contrariis  qui- 
buscunque.  Aut  si  personis  prefalis,  ve!  quibusvis  alus  communiler  vel 
diuisim  ab  eadem  sit  sede  indultum  quod  interdici,  suspendí,  vel  excom- 
municari,  aut  exlra  vel  ullra  cerla  loca  ad  iudicium  euocari,  non  pos- 
sint  per  lilleras  appostolicas,  non  Sacíenles  plenam  et  expressam,  ac  de 
verbo  ad  verbum,  de  indulto  huiusmodi  menlionem,  El  quibuslibel  alus 
priuilegiis  indulgenliis  el  litleris  apposlolicis,  saluis  remissionis  prelerito- 
rum  errorum  venie,  et  de  suscipiendis  defensoribus  et  aduocalis,  ac  alus 
auxilium  prestaluris  supradictis,  sub  quibuscunque  tenoríbus  el  formis 
concessis,  per  que  presenlium  lillerarnm  et  vestre  iurisdiclionis  in  pre- 
missis  executio  quomodolibel  impediri  vel  differri  posset,  que  quoad  hoc 
ipsis  aut  alicui  eorum  mi  ni  me  suffragari  posse  vel  deberé  decernimus. 

Datum  Home,  apud  Sanctum  petrum,  Anno  Incarnalionis  dominice. 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  sexto,  Décimo  kalendas  Junii,  Ponti- 
ficatus  nostri  anuo  secundo  —  Blosius1. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rci. 


1536  —  Maio  »6. 


Paulus  Papa  m  Charissime  in  Christo  fili  noster  salutem  et  aposto- 
licam  benediclionem. 

Cum  dileclus  filius  Henricus  de  Menezes,  orator  apud  nos  tuus,  ad 
Maiestalem  luam  reuerlerelur,  etsi  fuimus  cum  eo  ac  Dilecto  eliam  filio 
noslro  Cardinale  Sanctorum  Quattuor,  lui  Regni  apud  nos  protectore, 
diffusius  colloculi  super  his,  quae  parlim  publice  partim  priualim  ad  Ma- 
iestatem  luam  nostramque  erga  te  beniuolenliam  pertinebant ;  tamen  ea 
ipsa  noslris  etiam  literis  prosequenda  duximus,  ut  plenius  et  vberuis  nos- 

1  Arch.  Nac,  Mac.  9  de  Bullas  n.°  15.  Esta  bulla,  embora  tenha  a  data  de  23  de 
Maio,  parece. que  só  foi  remettida  em  meado  de  Julho  (Sonsa,  Annaes  de  D.  Joao  III. 
pag.  398).  O  auto  de  acceitacao  della  pelo  bispo  Inquisidor-mór  é  de  5  de  Outubro. 
(Collectorio  das  Bullas  do  Sancto  Officio.  fol.  4). 

39* 


308  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tro  erga  le  amori  satisfaceremus.  Ac  primtim  ea  nos  impeliente  chántate, 
qua  omnium  Maiestatis  luae  letorum  ac  trislium  debemus  esse  participes, 
condolemus  ei  ex  animo  de  obitu  clarae  memoriae  Prúicipis  Nati  luí,  qui 
nvperrime  a  Deo  vocalus,  et  te  graui  uulnere  afílixit,  et  nos  propter  te 
par/ictpe  meróre  aífexit :  sed  quamuis  res  acerba  et  seuus  est  dolor,  con- 
uenit  lamen  uel  sapienliae  Serenilalis  luae  alto  el  regio  animo  superare 
humanos  casus,  uel  plelati  conformare,  el  diuinis  placitis,  quibus,  cum 

obsisti  non  possit,  non  solum  laudis  sed  etiam est  acquiescere, 

Quodcunque  enim  a  Deo  fit,  etiam  si  noslris  sensibus  graue  appareat,  ta- 
men  pro  salutari  alque  ulili  accipiendum  est.  Proinde  diuinam  implora- 
mus  clementiam  ut  Maiestalem  tuam,  duorum  iam  {\\\orum  oibilate  per- 
cussam,  deinceps  aliorum  diulurniorwwi  concessione,  et  huius  cjuem  reli- 
quum  Ubi  fecit  longeua  aetate  prosperaque  felicitate  consolari  dignetur. 
Quod  et  futurum  in  eiusdem  Dei  misericordia  tuisque  erga  chrislianam 
Rempublicam  merilis  eo  magis  confidimus,  quo  nunc  diuinae  prouidenliae 
ac  jusliliae  inditia  recenlia  habemus.  Aecidil  enim  nuper,  fili  charissime, 
quod  diuino  ¡udicio  faclum  nemo  dubilare  possit,  quodque  quamu'is  tuae 
Maicslati  aliunde  significandum,  non  pulauimus,  a  nobis  prelermit/cnrfttm 
essel  vi  sicut  asperilalcm  aliarum  literarum  nostrarum  super  eodem  ncce- 
pt'sti,  ¡la  nunc  letiores  acciperes.  Wex  enim  Angliae  Henricus,  qui  pro- 
pter Annam  adulleram  lanta  se  immanilale  impkVMe  et  sacrilegüs  fcdaue- 
rat,  nunc  illam  cum  suis  in  carcerem  couiecit,  quae  res  initium  resipis- 
cenliae  eius  fore  speralur,  tanquam  causa  morbi  atóssa  et  maüs  consi- 
liis  repudialis,  ad  gremium  el  obedientiam  sanclae  Romanae  ecclesiae  re- 
diluri.  Quod  nos  lelan/er  ampíenles  pari  laelilia  a  lúa  Serenilale  ac  Prin- 
cipibus  caeleris  accipiendum  exislimnmus,  non  lam  nouissima  huius  Re- 
gis  demerita,  quam  uelera  merila  recordantes,  egregium  enim  et  picn- 
tissimum  Principen)  antea  se  praestitil,  sicut  lúa  Serenilas  meminisse  po- 
test,  cum  in  herelicis  slilo,  lum  in  scismalicis  bello  persequendis,  íide- 
que  et  deuotione  singulari  Romanis  Ponlificibus  et  aposlolicae  sedi  sem- 
per  exhibenda.  Vlinam  igilur  Pastor  celestis  hanc  ouem  lam  nobilem  ad 
ouile  pietatis  reducal  el  eum  finem  uideamus  diuinae  jusliliae  ac  beni- 
gnitatis,  quem  haec  inüía  nobis  pollicenlur.  Cuelerum  bullam  inquisilio- 
nis  pelilam  per  te  a  nobis  in  tuo  Regno,  quantum  cum  dei  honore  po- 
tuimus,  et  libenter  et  ampliter  concessimus.  Dillicullalcs  equidem  non 
paucas  ñeque  paruas,  quae  obsislebant,  onmes  inluilu  luae  M 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  309 

gratificandi  superauimus,  quemadmodum  ex  literis  dicli  Cardinalis  cocióse, 

nec  minus  ex  sermone  ipsius  Henrici,  qui  ómnibus  interfuit 

scire  poteris,  quem ' hunc  hominem  ad  te  mine  redeunlem,  et  in  tuis  ne- 

gociis  singularí  semper  íide  ac  diligenüa  uersatum,  hbenler et 

commendatione  noslra  apud  te  prosequimur,  sicut  apud  nos  beniuolentia 

proseculi  /u/mus,  facile  enim  oblili  suraus  siquid aut  parum 

considérale  de  nobis  loculus  sil,  aut  in  nos  quomodolibct  errauerit,  quod 

lotum  naturae  quidem  et  officii parum  sed  máxime  inluitu  tuae 

Serenitalis,  cuius  locum  is  gerebai,  libenlissime  condonauimus.  lldque  pe- 
timus  a  Serenitate  tua  ul  non  modo  eidem  Henrico  nihil  ob  hanc  cawsam 
deinceps  succenseat,  sicut  haclenus  eam  fechse  audiuimus,  et  beniuolen- 
tiam  inde  luam  perspeximus,  verum  etiam  eodem  loco  amoris  et  graliae 
eum  recipiat,  quo  alioqui  fides  et  merila  ac  nobililas  eius  poslulant.  ldque 
a  tua  Serenitate  ualde  gralum  et  acceptum  recipiemus. 

Dalum  Romae,  apud  sanclum  Pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  xxvi 
Maii  mdxxxvi,  Ponlificalus  noslri  Atino  secundo  —  Blosius1. 


Carta  do  cardcal  Santiquatro  a  el-Rci. 


1536— Maio   2H. 


Syre  —  Non  ho  poluto  trouare  mai  modo  per  satisfaré  a  Vostra  Maestá 
circa  el  breue  di  don  Marlino,  Perche  non  occorreua  argumento,  se  non 
con  honore  suo,  II  che  non  iudicauo  a  proposito  di  quanlo  la  Maesla  V«os- 
tra  desideraua.  Donde  pensai  procederé  per  un  altra  uia,  et  feci  formare 
una  commissione  in  nomo  del  Procuralor'  Phiscale  di  Vostra  Maesla,  Per 
la  quale  si  commilleua  nel  suo  regno  la  reuisione  del  processo  primo  di 
don  Martino,  com  ampia  faculta  di  rilrouare  tulte  le  falsita,  quali  occor- 
sono  nel  dello  Processo.  El  cardinale  campeggio,  quale  ha  la  signatura 
di  iustilia,  non  uolse  segnare  detta  commissione,  allegando  dúo  cose:  la 
Prima  che  haueua  sententialo  in  delta  causa  in  la  seconda  instanlia  ;  l'al- 

1  Documento  muito  estragado  e  roto  em,  partes,  no  Arch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas, 
n.°  51.  As  palavras  e  letras,  que  váo  em  itálico  no  corpo  do  breve,  foram  lidas  com  muila 
difíiculdade,  e  algumas  por  conjectura. 


.110  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tra  non  esséV  conuenienle  una  causa  termínala  in  Roma  per  Cardinali 
commellersi  fuora  di  Roma.  Fui  conslrello  hauer'  ricorso  al  Papa,  el  gli 
narrai  lullo.  Sua  Santitá  hebbe  gran  dissimo  piacere  di  queslo  modo  ha- 
ueuo  trouolo,  el  mi  dissi  fnssi  con  il  cardinale  Simonella,  el  per  parle 
di  Sua  Sanlila  gli  dicessi  che  con  ogni  diügentia  uedcssi  tal  commissio- 
ne, et  Irouassi  modo  da  polerla  signare,  et  la  porlassi  a  Sua  Sanlila  per- 
che la  signerebbe  di  sua  mano.  El  non  dubilo  che  Sua  Sanlila  la  signera, 
perche  mi  disse  queslo  essere  buono  mezzo  a  polere  expedir'  due  bolle 
conlro  a  don  Marlino :  el  non  sara  alcuno  che  possa  diré  male  di  Sua 
Sanlüa  come  inimica  della  memoria  di  Papa  Clemenle,  essendo  uscito  da 
Papa  Clemenle  le  due  prime  commissione  in  fauore  di  don  Marlino,  quasi 
che  hauessi  piacere  che  uno  bastardo  uenissi  al  grado  del  cardinalalo  e 
fusse  capace  della  Regia  dignila  ;  ma  el  consistorio  prima,  el  poi  luí  tí  li 
altri,  che  legeranno  le  delle  due  bolle  expedite,  lauderanno  Papa  Paulo 
sopra  lale  expedilione,  poi  che,  per  virlu  della  sopradella  commissione, 
si  sara  ril rállalo  e!  primo  processo  in  partibus  jurídicamente,  el  rilroualo 
le  falsita  de'  teslimonii  el  de'  nolarii,  et  le  collusioni  delle  parti.  Sí  che 
Vostra  Maesla  si  conlenti  di  quesla  resolutione,  la  quale  é  molió  migliore 
che  la  reuocalione  absoluta  della  bolla  di  don  Marlino,  la  quale  non  era 
possibile-expedirsi  nel  modo  che  la  Maesla  Voslra  auisaua,  ma  quando  si 
hauessi  hauulo  ad  expediré,  non  conueniua  expedirla  in  altro  modo  che 
come  la  Maesla  Voslra  uedra,  Perche  ne  ho  lassato  la  copia  a  messere  Pie- 
tro  de  Sousa.  Et  sappi  la  Maesla  Vostra  che  la  delta  bolla  senza  questa 
commissione  con  grande  falica  el  Papa  Tharebbe  expedita  per  la  ragione 
di  Papa  Clemente,  quale  di  sopra  é  delta,  II  che  Papa  Paulo  da  Principio 
non  pensaua  ;  ma  essendo  poi  da  me  slrello  in  nome  della  Maesla  Vostra, 
et  leggendo  a  Sua  Sanlila  le  lellera  di  Voslra  Maesla  ad  Aluero  mendez 
et  a  me,  del  li  vni  de  Aprile  passato,  Sua  Sanlila  deliberó  salisfare  alia 
Maesla  Voslra  in  ogni  modo,  et  conferendo  quesla  sua  deliberatione  fu 
aduerlita  del  rispetto  di  papa  Clemenle,  come  di  sopra  dico  :  ma  passando 
la  commissione,  ogni  cosa  si  expedirá  senza  biasimo  di  Sua  Sanlila,  et  con 
molla  satisfaclione  della  Maesla  Vostra,  alia  quale,  desiderando  io  seruire, 
in  tullo  quello  che  posso,  con  honor'  prima  della  Sede  apostólica  et  poi 
contento  déla  Maesla  Voslra,  non  hauendo  poluto  trouar'  modo  di  man- 
dare quel  breue  di  comandamenlo  a  don  Marlino,  feci  studiare  el  caso  ad 
vno  aduocalo  consistorial,  el  secondo  el  suo  consiglio  mando  incluso  alia 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  311 

MaestaVostra  l'ordine  xjuale  ha  da  tenere  conlro  a  don  Marlino,  Perche 
non  possi  salire  del  suo  regno  conlro  al  uolere  déla  Maestá  Vostra,  senza 
oíFendere  lo  honore  della  sede  apostólica  et  liberta  ecclesiaslica.  Et  queslo 
uale  tanlo  quanto  el  breue.  El  perché  la  MaestaVostra  potessi  piu  libe- 
ramente  exequire  quanto  nela  inclusa  nota  si  contiene,  la  uolsi  prima 
leggere  a  Sua  Santila  che  ala  MaestaVostra  la  mandassi,  et  Sua  Santila 
ne  rimase  ben'  contenta. 

Altro  per  la  presente  non  me  occorre,  senon  supplicare  la  Maest'a 
Vostra  gli  piacci  tenere  in  se,  et  appresso  di  se,  quanto  per  quesla  gli 
scriuo,  baciando  sue  sacratissime  inani,  Quae  felicissime  valeat. 

Dalum  Vilerbii,  xxvm  Maii,  1536. 

La  Maesla  Vostra  stia  secura  che  el  detlo  don  Marlino  non  hará  mai 
la  licenlia  dal  Papa  di  poler'  partiré. 

E  Majeslatis  Vestrae — Humillis  sernilor  A.  Cardinalis  Sanctorum 
Quattuor,  Maior  Penitentiarius. 


Mandetur  Archiepiscopo  funchalensi  per  Serenissimum  Regem  Por- 
tugalliae,  seu  oííiciales  Regís,  sub  penis  priuationis  bonorum  tempora- 
hüio  el  sequeslrationis  omnium  reddituum  ecclesiaslicorum,  ne  a  finibus 
regni  discedat  aut  discedere  audeat,  doñee  per  Romanum  Pontificem  sibi 
licenlia  discedendi  concedatur  per  literas  in  forma  breuis,  de  quibus 
eídem  Regi,  uel  eius  officialibus,  fíat  fides ;  et  diclum  mandalum  fit  cer- 
lis  ratíonabilibus  causis  eidem  Sanclissimo  Domino  Noslro  Papae  expo- 
nendis.  ítem  huiusmodi  mandalum  potest  deduci  ad  nolitiam  oííicialium 
Regís,  ne  inlerim  permillant  eundem  Archiepiscopum  ab  eodem  Regno 
seu  finibus  eius  exire,  et  tentantem  detineant,  cum  honore  lamen  vt  Ar- 
chiepiscopum decet,  el  statim  eundem  Sanctissimum  de  ómnibus  per  lite- 
ras ipsius  Regis  certiorem  reddere  l. 


1  Arch.  Nac,  Gav.  20,  Mac.  7,  n.°  26.  Tanto  a  carta  como  a  nota  Um  traduceoes 
em  vulgar,  feitas  em  Lisboa. 


312  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 


Bulla  do  Papa  Paulo  III. 


153G —  .1  ii  11  lio  ¡8. 


Paulus  Episcopus  seruus  seruorum  dei  ad  fuluram  rei  memoriam. 

Ad  dominici  gregis  curam  el  régimen,  diuina  disponenle  prouiden- 
tia,  assumpti,  nihil  magis  ex  animo  desiderauimus,  el  ab  omnipolenli  Deo 
continué  precali  sumus,  quam  ul  Eeclesiam  suam,  nobis  commissam,  lot 
heresum  et  errorum  uepribus  inmpridem  in  ea  suborlis,  spiritus  sancti 
operante  gralia  noslroque  sludio,  aliquando  repurgalam,  eiusque  mori- 
bus  in  melius  reformalis,  debito  nilori  el  syneerilali  restituían),  in  san- 
clilate  el  iustilia  gratum  domino  obsequium  praeslare  uideamur.  Sed  el 
illa  nihilominus  cura  nos  angil,  cum  consideramus,  atque  adeo  oculis 
ipsis  cernimus,  Chrislianam  Rempublícam,  inteslinis  fidelium  odiis  bellis- 
que  el  infidelium  ui  ac  dolo  aíílictam,  in  dies  magis  dissipari  atque  di- 
minuí. Quibus  malis  opporíuna  remedia  adhibere  pro  pastorali  cura  sum- 
mopere  cupientes,  cum,  mullís  uariisque  uiis  per  nos  diligenler  exami- 
naos, nullam  aliam  iudicauerimus  meliorem  aut  promptiorem  ea,  quam 
maiores  nostri  sanclissimi  uiri,  adeoque  uniuersalis  ipsa  Ecclesia  in  hu- 
iusmodi  casibus  experla  esí  saluberrimam,  generalis  uidelicel  Concilii  ce- 
lebrationem  :  idcirco,  eorum  sanclis  uesligiis  insistentes,  sacrosanctum 
oecumenicum  seu  uniuersale  Concilium,  quod  eliam  tum  quum  in  mino- 
ribus  essemus  a  nobis  máxime  desiderátum,  ineunte  slalim  Ponlificatu 
nostro  celebrare  omnino  slatuimus  ;  el  de  hac  noslra  conslanli  uoluntate 
non  solum  palam  loculi  sumus,  sed  el  charissimos  in  Chrislo  filios  nos- 
Iros  Carolum,  Romanorum  Imperatorem,  et  alios  Chrislianos  Reges  et 
Principes  per  lilleras  et  nunlios  nostros  cerliores  fecimus  :  nunc  auctore 
Domino  ¡ndicere,  et  exinde  in  loco  el  (empore  per  nos  inferius  declarando 
celebrare,  ac  demum  ad  optalum  íinem  perducere  omnino  decreuimus, 
speranles  et  cum  Dei  auxilio  nubis  prominentes,  per  hoc  tam  sanctum  et 
salulare  remedium  non  solum  omnes  haereses  el  errores1  ex  agro  Domini 
exlirpandos,  et  Chrisliani  populi  mores  corrigendos,  sed  et  uniucrsalem 
inter  fideles  pacen)  componendam,  et,  facía  sub  uexillo  salutiferae  Cru- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  313 

cis  conlra  infideles  generali  expeditione,  regna  et  térras  noslras  ab  illis 
occupatas  recuperandas,  capliuosque  innumerabiles  liberandos,  et  infide- 
les ipsos  ad  sanclam  religionem  noslram,  fauente  Domino,  conuertendos, 
ut  sic  ab  uniuerso  orbe  in  unum  idemque  ouile  Domini  coalescente,  in 
uera  fide,  spe  el  charilale,  sobrie  et  inste  et  pie  uiuatur,  et  inde  ab  om- 
nipotenti  Deo  corona  iuslitiae  expecletur.  Hoc  igilur  pcrpetunm  et  cons- 
lans  animi  nostri  snper  uninersalis  Concilii  celebratione  proposilum  etsen- 
tentiam,  ad  Dei  laudeni  et  gioriam,  Ecclesiaeque  suae  salulem,  decus  et 
incrementum,  exeqni  aggredienles,  In  nomine  sanctae  el  indiuiduaeTri- 
nitalis,  palris  et  filii  el  spiritus  sancti,  auclorilale  omnipolentis  Dei,  ac 
bealorum  Pelri  et  Pauli  apostolorum  eius,  qua  in  terris  fungimur,  deVe- 
nerabüium  fralrum  nostrorum  sanclae  Romanae  Ecclesiae  Cardinalium 
consilio  et  assensu,  oecumenicum  seu  uniuersale  ac  genérale  Concilium 
in  ciuitate  Mantuana,  loco  tuto,  commodo,  fertili,  et  domorum  ac  bona- 
rum  habitationum  copia  praedilo,  anno  Domini  millesimo  quingentésimo 
trigésimo  séptimo,  die  uigcsima  (ertia  mensis  Maii,  quae  erit  Feria  quarta 
post  sacralissimum  feslum  Pentecostés,  inchoandum,  et,  ul  sequitur,  con- 
linuandum,  et  auctore  domino  finiendum,  nunliamus,  conuocamus,  sta- 
tuimus,  indicimus  et  ordinamus,  uniuersis  et  singulis  Yenerabiübus  fra- 
tribus  nostris  Palriarchis,  Archiepiscopis,  Episcopis,  et  dileclis  filiis 
Abbalibus,  et  caeleris  Ecclesiarum  et  monasteriorum  Prelalis  ubique  ter- 
rarum  constitutis,  in  uirtute  praesliti  iuramenti,  ac  sanclae  obedientiae, 
et  sub  poenis  de  iure  uel  consuetudine,  aut  alias  conlra  eos,  qui  ad  ge- 
nérale Concilium  non  accedunl,  stalutis,  mandantes,  quatenus  personali- 
ter;  praediclos  uero  Imperalorem,  Reges,  Principes,  Duces,  Marcbiones, 
et  alios,  qui  de  iure  uel  consuetudine  in  huiusmodi  Concilio  inleresse  de- 
bent,  per  uiscera  charitatis  domini  nostri  Jesu  Christi  inuitanles  et  ex- 
hortantes quatenus  pro  pace,  salule  et  augmento  Ecclesiae  Dei,  el  ipsi 
personaliter,  quod  mallemus,  uel,  si  personaliter  non  possunt,  per  so- 
lennes  Oratores  suos  congruo  tempore  huic  sacro  Concilio,  in  dicta  ci- 
uitate Mantuae,  ut  praefertur,  celebrando,  debeant  interesse ;  qui  la- 
men, si  considerent  quam  nobis  iucunda,  Chrislianae  uero  Reipublicae 
eliam  máxime  necessaria  futura  sit  eorum  in  dicto  Concilio  personalis 
praesentia,  non  dubilamus  quin  tum  alii  omnes  supradicli  Reges  el  Prin- 
cipes, tum  Carolus  Imperalor,  et  Franciscus  Francorum  Rex  Christianis- 
simus  sint  illic  personaliter  intcrfuturi :  siquidem  Carolus,  pro  sanclae  fi- 

TOMO  III.  40 


íüí  corpo  diplomático  portuguez 

de¡  noslac  zclo  ct  amore,  lam  suo  quam  Serenissimi  Fcrdinandi,  Roma- 
norum  Regis,  fratris  sui,  ac  electoruin  caeterorumque  sacri  Romani  im- 
perü  ordinum  nomine,  pro  uniuersalis  Concilii  celebratione,  apud  felicis 
recordationis  Clemenlem  Papam  vil,  praedecessorem  nostrum,  saepenu- 
mero  et  maximopere  insletit ;  et  cum  uariis  rerura  perlurbalionibus  et  bel- 
lis,  ac  alus  legilimis  de  causis,  et  praeserlim  praedicti  Clementis  super- 
uenienle  obitu,  tam  sancti  operis  et  optimi  animi,  quem  ad  hoc  idem  prae- 
decessor  babebat,  irapedilus  esset  effeclus,  nobis  ob  hanc  nostram  prom- 
ptam  ultroque  sibi  et  ómnibus  supradictis,  ab  inilio  usque  noslri  Ponliíi- 
catus,  ut  praedictum  est,  ac  nobis  significatam  et  oblalam  super  dicto 
Concilio  per  nos  indicendo  et  celebrando  deliberationem,  et  proxime  in 
praediclorum  fralrum  noslrorum  sanctae  Romanae  Ecclesiae  Cardinalium 
generali  congregatione  decrelam  et  declaratam  conclusionem,  qua  decuit 
liliali  reuerenlia,  eodem  nomine  máximas  gratias  egit:  a  Francisco  uero 
Rege  praedicto,  qui  eliam  ad  eundem  Clementem  el  sacrum  ipsorum  Car- 
dinalium collegium  plenas  pietatis  ac  religionis  hac  de  re  Hileras  scripse- 
rat,  quale  a  Principe  uere  Christianissimo  sperabamus,  consonum  et  con- 
forme huic  nostrae  uolunlati  super  huiusmodi  Concilii  negocio  responsum 
accepimus.  Et  nihilominus  eosdem  Impcratorem,  Reges,  Principes  et  alios 
supradiclos  similiter  rogamus  el  hortamur  ut,  omni  adhibita  opera  et  stu- 
dio,  eííiciant  ut  omnes  et  singulae  personae  in  eorum  regnis  el  dominiis 
consistentes,  quae  de  iure  uel  consuetudine  generalibus  Conciliis  interesse 
debent,  ad  Concilium  huiusmodi,  cessanle  legitimo  impedimento,  de  quo 
legitime  docere  leneantur,  pcrsonaliter,  alias  per  idóneos  Nuntios,  procu- 
ralores,  uel  Oralores  legitima  mándala  habentes,  Concilio  praedicto  inte- 
resse, ac  usque  ad  ipsius  conclusionem  et  absolutionem  in  dicta  ciuilale 
Mantuae  morari  debeanl,  ut  sic  congrégala  mullitudine  Christianorum  co- 
piosa, ea,  quae  ad  Dei  laudem,  Ecclesiae  in  moribus  reformationem  et 
exaltationem,  haeresum  uero  omnimodam  cxlinclionem,  fideliumque  prae- 
diclorum concordiam  et  salutem,  ac  generalem  contra  infideles  expeditio- 
nem  pertineant,  in  eodem  Concilio,  Deo  auctore  et  adiulore,  salubriler  or- 
dinentur.  Insuper,  ut  praemissa  omnia  el  singula  ad  quos  spcclat  noti- 
liam  deueniant,  nullusque  de  eis  ignorantiam  iusle  praetendere  possit,  aut 
se  ligilime  excusare,  cum  etiam  ad  personaliler  inlimandum  praesentes  lit- 
leras  aliquibus  personis,  quae  in  ¡psis  comprehendunlur,  ibrsan  tutus  non 
paleal  accessus,  uolumus  el  decernimus  praediclas  Hileras  per  aliquos  Cu- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  315 

riac  noslrac  Cursores,  uel  Notarios  públicos,  in  Basílica  Principis  apos- 
tolorum  de  Vrbe,  et  Ecclesia  Lateranensi,  dum  ibi  multitudo  populi  ad 
diurna  audiendum  conuenire  et  congregan  consueuit,  publice  ac  alta  et 
intelligibili  noce  legi  et  publican,  et  Basilicae  ac  Ecclesiae  praediclarum, 
nccnon  Cancellariae  apostolicae  porlis,  siue  ualuis,  et  in  acie  Campi  FIo- 
rae  affigi,  et  ibidem  per  aliquod  temporis  spatium  dimitti,  ac  copiam  ipsa- 
rum  affixam  relinqui,  affixionemque  sic  factam,  omnes  el  singulos,  ad 
quos  spectat,  cuiuscunque  gradus  et  dignilatis  existant,  post  lapsum  Duo- 
rum  Mensium  a  die  affixionis  et  publicationis  praedictarum  numerando- 
rum,  perinde  in  ómnibus,  et  per  omnia  afficere  et  astringere,  ac  si  eis 
praesenles  uel  earum  transumpta,  quibus  manu  publicorum  Notariorum 
factis  uel  subscriplis,  et  sigillo  alicuius  personae  in  dignilale  ecclesiatica 
constitutae  munitis,  fidem  indubiam  adhiberi  uolumus,  personaliler  inli- 
matae  fuissent. 

Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  nostrae  nunliatio- 
nis,  conuocationis,  slatuti,  indictionis,  ordinationis,  mandali,  inuilationis, 
exhorlationis,  rogationis,  uoluntatis  et  decreti  infringere,  uel  ei  ausu  te- 
merario contraire.  Si  quis  aulem  hoc  altenlare  praesumpserit,  indignatio- 
nem  omnipotentis  Dei  ac  beatorum  Petri  et  Pauli  apostolorum  eius  se  no- 
uerit  incursurum. 

Datum  Romae,  apud  sanctum  Petrum,  anno  incarnationis  Dominicae 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  sexto,  quarto  Nonas  Junii,  Ponlificatus 

noslri  anno  secundo. [-Ego  Paulus,  calholicae  Ecclesiae  Episcopus, 

subscripsi  [Logar  do  rodado  do  Papa,  com  a  legenda  :  Confirma  hoc  Deus 

quod  operatus  es  in  nobis) f-Ego  Joannes,  Episcopus  Ostiensis,  Car- 

dinalis  Senensis,  subscripsi (-Ego  Joannes  Dominicus,  Episcopus  Por- 

tuensis,  Cardinalis  Tranensis,  subscripsi \-Ego  Bonifacius,  Episcopus 

Sabinensis,  Cardinalis  Ipporigiensis,  manu  propria  subscripsi |-Ego 

Laurentius,  Episcopus  Praenestinus,  Cardinalis  Campegius,  manu  propria 

subscripsi |-Antonius,  Presbiler  Cardinalis  de  Sancto  Seuerino,  manu 

propria  subscripsi |-Auguslinus,  Cardinalis  Perusinus,  Sanctissimi  Do- 

mini  Nostri  Papae  Camerarius,  subscripsi  —  -(-Vincentius  Carrafa,  Car- 
dinalis Neapolitanus,  manu  propria  subscripsi [-Andreas,  Cardinalis 

Palmerius,  manu  propria  subscripsi 1- Franciscus,  Cardinalis  Sanctae 

Crucis,  manu  propria  subscripsi 1- Franciscus,  Cardinalis  Cornelius, 

manu  propria  subscripsi 1-  Nicolaus,  Cardinalis  Capuanus,  manu  pro- 

40* 


816  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pria  subscripsi h^o°  Hieronymus,  Cardinalis  de  Ghinucciis,  manu 

propria  subscripsi |-Jacobus,  Cardinalis  Simoneta,  manu  propria  sub- 
scripsi  [-Gaspar,  Cardinalis  Contarenus,  manu  propria  subscripsi  — 

-[-Paulus,  Sancli  Eustachii  Diaconus  Cardinalis,  subscripsi |-Alcxan- 

dcr,  Cardinalis  Caesarinus,  subscripsi [-Joannes,  Cardinalis  de  Sal- 

uiatis,   manu  propria  subscripsi f-Nicolaus,  Cardinalis  Rodulphus, 

subscripsi |-Ego  Augustinus,  Sancti  Adriani  Diaconus  CardínalisTriuuI- 

tius,  manu  propria  subscripsi |-Ego  Franciscus,  Cardinalis  Pisanus, 

manu  propria  subscripsi 1-  Ego  Hercules,  Sanctae  Mariae  Nouae  Dia- 
conus Cardinalis,   manu   propria  subscripsi |-Ego  Nicolaus,  sancti 

Theodori  Diaconus,  Cardinalis  de  Gaddis,  subscripsi [-Hieronymus, 

Cardinalis  Grimaldus,  subscripsi [-  Alexander,  Cardinalis  de  Farnesio, 

Vicecancellarius,  subscripsi [-Guido  Ascariius  Sforlia,  Cardinalis  San- 
ctae Florae,  manu  propria [-Marinus,  sanctae  Mariae  in  Aquirio  Dia- 
conus Cardinalis  Carraciolus. 

Blosius  B.  Molía1. 


Carta  de  Alvaro  lleudes  de  Vasconeellos  a  el-lte¡. 


1536  —  .1  ii  11  h  o  a  O. 


Depois  de  todas  ess  outras  cartas  escritas,  e  o  maco  cerrado,  me 
mandou  dizer  o  nuncio  do  Papa,  que  nesta  corte  reside,  que  he  meu 
amigo  e  homem  de  bem,  que  liaba  hila  carta  de  Sua  Sanctidade,  a  qual 
fallaua  toda  comigo ;  que  elle  uiria  amenhaa  ouuir  missa  e  comer  comi- 
go,  e  ma  mostraría  e  daría  conla  de  algüas  couzas  que  imporlauao :  e 
porque  o  correo  se  partirá  amenha  em  companhia  de  hum  fidalgo,  que 
ha  de  passar  por  Genova,  eu  caualguei  logo  e  fui  a  casa  do  dito  nuncio, 
o  qual  me  moslrou  hüa  carta  que  dizia  :  a  Fazei  entender  ao  Embaxador 


1  Exemplar  impresso,  mas  aulhenticado  por  um  Notario  da  Cámara  Apostólica,  no 
Abch.  Nac,  Mac..  31  de  Bullas,  n.°  3.  Encontrase  tambcm  cm  Raynald.,  Annal.  ec- 
cles.,  e  no  Biillariuní  Komanum  (edic.  de  Turim,  1860)  Tom.  VI,  pag.  22í. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  317 

de  Portugal  Aluaro  mendes  que  o  negocio  da  Inquisicáo  está  já  em 
mao  de  Dom  Henrique  e  de  Sanliqualro,  E  em  tudo  se  comprio  a  uon- 
tade  de  seu  senhor.  Praticareis  com  elle  nossas  cousas  porque  delle  te- 
mos confianca  que  nos  fará  bom  officio,  asim  com  seu  Rei  como  em  toda 
a  couza  acerca  do  Emperador».  Nao  estou  ainda  bera  certeíicado  se  ino- 
uou  Dorn  Henrique  algum  ponto,  ou  se  consentio  em  algüa  couza  de  mais 
de  que  eu  deixei  feito :  elle  oirá,  e,  se  o  nao  embarasarem  seus  nego- 
cios, nao  tardará  muito,  e  dará  conta  do  que  fes,  se  alguma  couza  ino- 
uou.  Disseme  mais  o  dito  nuncio  que  o  Papa  mandaua  aquí  hum  legado 
e  oulro  a  franca,  os  quaes  nao  tardariao,  e  que  elle  nao  quería  dizer 
nada  ao  Emperador,  nem  a  outrem,  ate  que  uiessem  ;  e  que  uinhao  pera 
trabalhar  na  paz ;  e  achando  disposicao  auizaria  logo  a  Sua  Sanctidade 
o  mais  súpito  que  fosse  possiuel :  parece  me  tarde  pera  concluir  lamanha 
empreza  e  desfazer  tamanhos  nublados.  Disse  me  mais  o  dito  nuncio  que 
o  Papa  escreueria  a  Vossa  Alteza  todos  os  annos  e  offerecimenlos  possi- 
ueis,  e  me  mandaría  aquí  a  carta  pera  que  eu  a  mandasse  a  Vossa  Al- 
teza, e  o  cerleíicasse  que  teria  nelle  verdadeiro  pai  e  amigo.  Isto  uem  já 
da  pralica,  que  com  elle  e  com  o  Papa  tiue  em  Roma,  e  me  aíBrmo  no 
que  nesle  capitulo  abaxo  direi. 

E,  se  Vossa  Alteza  quer  seus  negocios  em  Roma  muito  bem  feiíos, 
e  acabados  os  que  parecerem  impossiueis,  faca  muito  boa  elleicao  da  pes- 
soa,  que  ali  mandar  por  seu  Embaxador,  como  ja  escreui ;  e  mande  hum 
prezente  ao  Papa  de  brincos  e  couzas  que  tenhao  torno  de  ate  oulo  ou 
dez  mil  cruzados,  e  quanto  mais  tanto  melhor  e  contente :  e  com  isto,  e 
com  a  boa  diligencia  feila  por  pessoa  limpa,  que  nao  lenha  mais  respeilo 
a  seu  interesse  que  a  Vossa  Alteza  e  a  uosso  seruico,  farseao  uossos  ne- 
gocios como  Vossa  Alteza  quizer.  E  se  a  pessoa,  que  Vossa  Alteza  man- 
dar, ouuer  de  uir  por  onde  eu  estiuer,  eu  me  alreuo  a  o  informar  de  ma- 
ne ira  que  \á  mais  de  meo  pralico  em  ludo.  Tambem  me  disse  o  dito  nun- 
cio que  a  Bulla  do  Concilio  era  publicada  pera  desla  Paschoa  a  hum  anno. 
Isto  deuia  de  ser  mais  cauza  da  paz,  se  a  só  Déos  se  olhasse. 

Esta  mesma  tarde  tenho  bem  sabido,  e  corto,  que  o  Emperador  tem 
certo  auizo  que  EIRei  de  Franca  tem  \inte  e  dous  mil  scocios,  afora  os 
seis  mil  Alemaes  que  tem  consigo,  e  fas  muita  gente, d  armas  e  muita  de 
pe  da  térra.  Isto  se  ordena  desta  maneira.  Por  Joao  de  Sepulueda  ou  por 
Dom  Henrique,  e  por  ambos,  escreuerei  o  que  mais  suceder  e  eu  son- 


318  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

ber.  Parece  me  que,  tratando  Vossa  Alteza  com  Inglaterra,  que  seria  bom 
fazerse  parte  com  o  Papa  na  obediencia  que  lhe  o  dito  Reí  der,  porque 
tenho  entendido  e  sabido  que  o  Emperador  tcm  dado  conta  ao  Papa  des- 
les  cazamcnlos  de  Inglaterra,  dando  lhe  a  entender  que,  pelo  tornar  a  sua 
obediencia  e  lhe  fazer  auer  do  dito  Reí  algum  proueilo,  moue  estes  ca- 
zamentos  e  negocios.  Tenho  determinado,  se  me  o  nuncio  nisto  toca,  de 
lhe  dizer  que  Vossa  Alteza  he  o  que  nao  quer  tratar  com  Inglaterra, 
sem  que  primeiro  esté  na  obediencia  do  Papa  ;  e  conforme  a  isto  o  que 
me  mais  parecer  e  a  pratica  der:  digo,  se  me  elle  falar  nisto ;  e,  se  nao, 
nao.  Vossa  Alteza  responda  com  breuidade  a  tudo,  e  no  do  Papa  olíie 
muito  bem  por  seus  negocios,  porque  com  pouca  couza  se  ganha  muilo 
proueito ;  e  sem  fazer  o  que  tenho  dito,  e  digo,  ou  mais,  nao  se  fará  nada 
e  perderse  ha  muito. 

Nosso  Senhor  a  uida  e  Real  estado  de  Vossa  Alteza  acrecenté  como 
dezeja. 

Aste,  10  de  Junho  de  536  annos  *. 


Breve  do  Papa  Paulo  III,  dirigido  aos  Bispos 
de  Lamego,  Sant-Iago,  e  S.  Thomé. 

1536  —  <J  u  n  lio  12. 


Paulus  Papa  ni  Venerabiles  fratres  salutem  et  appostolicam  benedi- 
ctionem. 

Exponi  nobis  fccit  dilectus  filius  Procurator  fiscalis  Regius  Regni 
Portugaliae  quod  venerabilis  frater  Martinus  a  Portugalia,  Archiepiscopus 
Funchalensis,  primo  ad  felicis  recordationis  Clemenlem  papam  vn,  prae- 
decessorem  nostrum,  et,  ipso  defuncto,  Nobisque  divina  favente  clemen- 
tia  ad  apostulalus  apicem  assumplis,  ad  Nos  charissimi  in  Ghristo  filii 
noslri  Joannis,  Portugaliae  et  Algarbiorum  Regís,  Orator  dislinatus,  m¡- 
nus  quain  conueniret  ad  Regia  negocio  el  nimis  ad  sua,  ¡nlentus  minus 

1  Copia  a  fol.  18  (23  antiga),  do  manuscripto  citado  a  pag.  289  deste  volume. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  319 

probé,  el  eliam  quam  par  esset  ad  infrascripta,  ut  credilur,  anhelans  et 
aspirans,  poslquam  lam  a  conceplione  quam  a  nativitale  sua,  usque  ad 
tcrapus  non  sanae  mentís  infra  dicendae,  lam  viuentibus  bonae  memoriae 
Episcopo  Elborensi  et  Briorangia  de  Freylas  suis  parentibus,  quam  ipsis 
defunctis  pro  ¡Ilegitimo  se  gesserat  el  nominauerat,  pariformiterque  lam 
ab  ipsis  quam  etiam  ab  ómnibus  alus  publice  pro  ¡Ilegitimo  habilus,  len- 
lus,  nominalus,  traelatus  et  reputalus  fuera t ;  seque  eliam  talem  se  asse- 
rens  super  lali  illegitimitate  desuper  necessarias  apostólicas  dispensalio- 
nes,  eliam  super  oblinendis  beneficiis  ecclesiasticis,  ac  forsan  etiam  quod 
in  quibuscumque  graliis,  et  litteris  tam  gratiae  quam  iuslitiae  a  sede  apos- 
tólica impetralis,  de  dicta  illegitimitate  mentionem  faceré  non  teneretur, 
el  lalium  dispensationum  vigore  certa  beneficia  ecclesiastica  obtinuerat,  et 
eliam  ad  dictam  ecclesiam  Funchalensem  promotus  et  illam  asseculus  fue- 
rat,  etiam  auctoritali  Regiae  praedictae  innixus  et  frelus,  subtiliter  exco- 
gitare et  callide  confinxit  quod  ante  praedicli  sui  Geniloris  ad  sacros  el 
praesbiteratus  ordines,  et  ecclesiam  praediclam  promotionem  et  illius  con- 
secralionem,  ac  suam  conceplionem  siue  natiuilatem,  párenles  sui  prae- 
dicti  forsan  clam  inuicem  Malrimonium  certo  modo  conlraxerant ;  seque 
proplerea  de  legitimo  Matrimonio,  et  tamquam  a  ligitimis  parentibus  siue 
Coniugibus  procrealum,  ligilimum,  et  tamquam  talem  singularum  suces- 
sionum  patris  et  matris,  ac  quorumcunque  ascendentium  descendentium- 
que  et  (ransuersalium  successiones  el  bona,  ac  ad  omnia  iura  ciuilia  aclus- 
que  ligilimos,  honores,  et  etiam  Regna  et  Regia  Dominia,  el  quaecunque 
alia  illegilimis  lam  de  iure  quam  de  consueludine  velita  et  interdicta,  et 
veris  ligitimis  concessa,  habilem  et  capacem  se  asserens,  contra  quosdam 
Ludovicum  Méndez  Correa  et  Simonem  etiam  Correa,  quos  certo  suo  modo 
sibi  aduersarios  elegit  siue  consliluit,  materiam  quaeslionis,  ut  dicilur, 
suscitauít,  praelensasque  causam  et  causas,  quam  et  quas  contra  ipsos 
mouere  el  habere,  ut  asseruit,  intendebat,  cerlo  suo  affeclalo  el  postúlalo 
praetenso  iudici  apostólica  auctoritate  in  parlibus  commilti  fecit:  Necnon 
adhibitis  et  induclis  certis  leslibus,  ab  ipso  subordinalis  et  subornatis  ac 
corruplis,  contra  eosdem  aduersarios  minime  se  defendentes,  et  praelen- 
sum  iudicium  eliam  alias  voluntarie  substinentes  et  colludentes,  diíinitiuam 
praelensam  senlenliam,  quae  forsan  in  rem  dicitur  transiuisse,  iudicalam 
in  sui  fauorem  per  dictum  assertum  delegalum  et  corruplum  iudicem, 
ferri  el  promulgan,  ac  successiue  eliam  diversis  modis,  et  per  praelen- 


320  CO«PO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGUEZ 

sas  Hileras  apostólicas,  et  forsan  noslras,  auclorisari  el  confirman,  el  for- 
san  n»agis  ampliari,  oblinuit.  Et,  sieut  eadem  exposilio  subiungcbal,  cum 
praemissa  ad  noticiara  procuraloris  praéfali  deuenerint,  ipse  procuralor, 
proul  ad  suum  officium  spcctat,  prouide  animaduerlens  quam  periculosa 
el  perniciosa  sil,  el  ullerius  magis  essel,  planta  huiusmodi,  nisi  abscin- 
deretur,  quolque  et  quanlos  possel  malos  cfleclus  parcre,  quandoquidcm 
(quod  Dcus  auertat  et  absit)  possel  conlingere  quod  ipsimel  Marlino,  vel 
ipso  hoc  non  faciente  et  tácente,  per  alium  siue  alios  simililer  illigitimos, 
qui  more  ipsius  Marlini  inuitali  et  ducli  isla  reproba  via  ad  Regnum  anhe- 
lantes, in  neces  Regum  Regni  praedicli  conspirarenl  vel  alias  machina- 
renlur,  regnandi  desiderio  ducli,  aul  alias  cum  legitimis  concurrentes  li- 
tes scandala  et  peiora  exinde  orireniur,  ultra  quod  similia  apud  illos,  qui 
publice  tales  illegilimos  nouerint,  et  postea  máxime  auctorilate  apostólica 
súbito  illos  viderunt  ligilimatos,  el  derisus  et  oblocutionis  causam  praes- 
lant,  cedantque  id  máximum  el  perniciosum  exemplum  omnium  et  scan- 
dalum,  Nec  propterea  sunt  toleranda,  proul  ipse  procurator  fiscalis  iure 
medio  non  tolerare  Sed  de  medio  resecare  et  resecari  deberé  et  velle  prae- 
tendit:  Quare  pro  parte  eiusdem  procuraloris  Nobis  fuil  humililer  suppli- 
calum  ul  causam  et  causas,  quam  et  quas  ipse  habet  et  mouet,  habcre- 
que  et  mouen*  vull  et  intendit,  contra  praediclos  Ludovicum  el  Symonem 
confíelos  et  collusores  adversarios,  quam  praetensos,  corruptos,  suborna- 
losque  el  subordiaatos  lestes,  ac  Martinum  praefatum  de  et  super  dele- 
gendis  collusionibus  et  falsitalibus  ac  machinalionibus,  dolis  et  artibusdo- 
losis  huiusmodi,  nullilaleque  ac  iniuslitia,  tam  singularum  praelensarum 
sentenliarum  latarum,  quam  praclensorum  processuum  desuper  ubilibet 
habitorum  el  factorum,  Necnon  obreplionis,  subreptionis  et  inlentionis  de- 
feclu  quarumeunque  litterarum  aposlolicarum  confirmaliuarum  siue  am- 
plialiuarum  praemissorum  desuper  impelratarum,  rebusque  alus  in  aclis 
causae  el  causarum  huiusmodi  lalius  deducendis,  el  illorum  occasione 
alicui  Praelalo  in  illis  partibus  commoranti,  etiam  summarie,  simpliciler 
et  de  plano  audiendas,  cognoscendas,  decidendas,  fineque  debito  termi- 
nandas,  commilere  et  mandare,  aliasque  in  praemissis  opportune  proui- 
dere,  de  benignilate  apostólica  dignaremur.  Nos  igilur,  slalum  omnium 
et  singulorum  praemissorum,  aliorumque  hic  generaliler  vel  specialilcr 
narrandorum  tenores  el  compendia,  ac  singulorum  iudicum  nomina  et  co- 
gnomina  ac  títulos,  praesentibus  pro  suííicienler  expressis  habentes,  hu- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  321 

iusmodi  supplicationibus  inclinati,  Fraternitali  vestrae  per  présenles  com- 
miltimus  el  mandamus  qualenus  vos,  vel  dúo  aut  unus  vestrum,  vocalis 
vocandis,  omnes  et  singulas  causas  praediclas,  cum  ómnibus  el  singulis 
earum  incidenlibus,  dependenlibus,  emergentibus,  annexis,  el  connexis, 
eliam  summarie,  simpliciler  et  de  plano,  ul  praemittilur,  aucloritale  nos- 
Ira  audiatis,  el  auditis  hinc  inde  proposilis,  quod  iuslum  fuerit,  appella- 
tione  remola,  decernalis,  facienles  quod  decreuerilis  per  censuram  eccle- 
siaslicam  firmiler  obseruari ;  Nos  enim  rralernilali  vestrae  praedictos  ad- 
uersarios  et  alios  supranominalos,  Necnon  omnes  alios  et  singulos,  tam 
in  decreto,  quam  executione  citalionis  praesentium  vigore  decernendae 
nominandos,  etiam  per  edictum  publicum,  conslito  summarie  de  non  tulo 
accessu,  citandi,  ac  ómnibus  quibus  inhibendum  fuerit,  subcensuris  eccle- 
siaslicis,  ac  etiam  pecuniariis  paenis,  tuo  arbitrio  moderandis,  inhibendi, 
omniaque  alia,  quae  in  praemissis  el  circa  ea  necessaria  et  oportuna  fue- 
rint,  faciendi,  exercendi  et  exequendi  plenam  et  liberam  tenore  prae- 
sentium licentiam  concedimus  et  facultatem.  Non  obstantibus  praemissis, 
ac  recolendae  memoriae  Bonifacii  viii,  etiam  praedecessoris  noslri,  de  una 
et  in  concilio  generali  aedita  de  duabus  dielis,  dummodo  ultra  tres  die- 
tas aiiquis  auctorilate  praesentium  ad  iudicium  non  trahatur,  etaliis  apos- 
tolicis  constilutionibus,  contrariis  quibuscunque.  Aut  si  praenominalis, 
vel  quibusvis  alus  communiter  vel  diuisim  ab  apostólica  sit  sede  indul- 
tum  quod  interdici,  suspendí,  vel  excommunicari  non  possint  per  litle- 
ras  apostólicas  non  facienles  plenam  et  expressam,  ac  de  verbo  ad  ver- 
bum,  de  indulto  huiusmodi  mentionem. 

Datum  Romae,  apud  Sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscaloris,  Die 
xii  Junii  m.d.xxxvi,  Pontificatus  Nostri  Anno  secundo1. 


1  Arch.  Nac,  Mac.  24  dé  Bullas,  n.°  3a. 
TOMO  III.  41 


322  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Carta  de  cl-Rci  ao  Papa  Paulo  III. 

ir»;i«í— a  ii  i  lio  «o. 


Sanctissime  in  Christo  Pater,  ac  Beatissime  Domine. 

Joannes  Dei  Gralia  Rex  Portugalliag  et  Algarbiorum,  citra  et  ultra 
mare  in  África,  Dominus  Guineae,  atque  expeditionis  et  nauigationis, 
et  commercii  Aelhiopiae,  Arabiae,  Persiae,  atque  Indiae,  ut  tilius  pien- 
tissimus  post  humillima  beatorum  pedum  oscula.  Si  unquam  principes 
Ghrisliani  de  victoriis,  quas  aduersus  orthodoxae  fidei  hostes  adcpli  sunt, 
summo  Pontifici,  perinde  ac  vero  Chrisli  Vicario  gralulati  sunt :  id  cerle 
hoc  tempore  máxime  apud  Sanctitatem  vestram  a  me,  ulpote  eius,  san- 
claeque  Sedis  Apostolicae  filio  pienlissimo,  obsequentissimoque  fieri  opor- 
tet.  Vrbs  enim  Dium  clarissimum  lotius  Orienlis  Emporium  forlissimum- 
que  Indiae  propugnaculum,  cuius  expugnandae  causa,  tot  bella  gesla, 
totque  expeditiones,  superioribus  annis  a  nostris  Ducibus  faclae  fuerant, 
nunc  tándem,  Deo  Óptimo  máximo  adiuuante,  se  nobis  dedere,  nostrae- 
que  ditioni  parere  coacta  est.  Etenim  cum  mullae  maximaeque  in  Sancli- 
tate  vestra  virtutes  floreant,  ob  quas  iure  óptimo,  sánelo  Spiritu  suffra- 
gante,  ad  summum  Apostolatus  apicem  euecla  est :  nulla  lamen  ex  óm- 
nibus admirabilior  censeri  debet,  quam  quod  perpetuo  quodam  Christia- 
nae  religionis  propagandae  zelo,  omni  studio,  patrisque  indulgenlissimi 
affectu,  dat  operam,  ut  pace  inter  Chrislianos  principes  fúndala,  ac  sla- 
bilila,  Chrisli  vexilla  usque  ad  últimos  terrarum  fines  prodeant,  Maho- 
metisque  impidas  de  medio  tollalur.  Maiores  quidem  nostri  iam  inde  ab 
huius  regni  origine  id  constanler  pro  \iribus  conlendebanl :  ut  clarissi- 
mis  rebus  geslis,  veré  eos  principes  cristianos  esse  conslaret ;  idque  quem- 
admodum  optabant,  consequuli  sunt.  Nam  et  Maurorum  gentem,  ipsorum 
regibus  superatis,  Hispania  expulerunl;  et  Mauritaniae  oppida  arcesque 
munitissimas,  trans  fretum  Herculeum  expugnarunl :  quae  et  hodie  nos- 
trae  ditionis  sunt  praesidiisque  validis  tenenlur.  Porro  faelicis  memoriac 
Emanuel  rex,  pater  meus,  non  sal  habens,  egregias  et  ipse  de  África  vi- 
ctorias reporlasse :  cum  Atlanticum  mare  antea  ignotum,  anliquorumquo 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  323 

modo  fabulis,  miraculisque  celebratum,  classibus  aperuisset  (in  quo  no- 
nullorum  maiorum  suorum  exemplum  sequutus  est)  magnamque  Aelhio- 
piae  litloralis  parlem  inuiclis  Ducibus  peragrasset,  ad  fidemque  Ghrisli 
instituisset.  Nauibus  deinde,  exercituque  ad  mare  usque  rubrum,  ac  Per- 
siam,  totamque  Indiam  transuectis :  iam  notum  est  ómnibus  quid  gesse- 
rit :  quot  populos,  vrbes,  reges,  in  deditionem  suam  redegerit.  In  qui- 
bus  ómnibus  vera  el  immortali  gloria  dignissimus  censendus  esl :  cum 
ob  id  quod  inaccessas,  atque  incógnitas  antea,  tum  coeli,  terrae,  maris- 
que plagas  primus  omnium  notas  fecerit,  tum  vero  quod  princeps  Chris- 
tianissimus  ad  ouile,  Ecclesiamque  Domini,  lot  animarum  millia  variis 
inuolula  suprestitionibus  poluerit  aggregare.  Ego  vero  ubi  primum  Deo 
máximo  ila  volenle  ad  regiam  dignilalem  eueclus  sum,  tametsi  liquido  in- 
telligerem  quantam  hominum  expeclationem  sustinerem,  quern  par  erat 
plurimis  de  causis,  palris  inuictissimi,  omnibusque  soeculis  memorandi 
virlutibus  responderé :  tamen  Deo  iuuante,  non  omnino  despondi  ani- 
mum :  verum  me  ila  ad  paternas  laudes  imitandas,  ac  prosequendas  col- 
legi,  u t  quantum  fieri  posset  eiusdem  vestigiis  (ut  bonum  filium,  regem- 
que  decebat)  haererem  atque  insislerem.  Itaque  elsi  statim  a  principio  re- 
gnandi  non  paucae  difiicullales,  nostrarumque  nauium  iacturae  sequutae 
erant,  quae  tam  longinquae  expeditioni  vehementer  obslare  videbantur : 
nos  lamen  incommodis  quibusque  superatis,  nom  solum  res  Indicas  proul 
a  patre  reliclae  fuerant,  Dei  gratia  facile  tutati  sumus  :  verum  eas  subinde 
noiiis  victoriarum  accessionibus  roborauimus.  Et  quoniam  ad  stalum  re- 
rum  nostrarum  in  Oriente  vehementer  conducere  videbatur,  si  urbs  Dium 
in  ipso  littoris  Indici  ingressu  posita,  in  nostram  dilionem  veniret:  ita 
enim  et  Oceani  Indici  late  domini  et  aduersusTurcarum  expediliones  tuti 
futuri  eramus  (nam  hi  classe  ingenti  in  fine  Arabici  sinus  comparata,  se 
per  maris  rubri  ostia  egressuros,  nobisque  bellum  ex  ea  vrbe  illaturos 
minabantur)  has  ob  causas  nihil  unquam,  simul  atque  regnare  coepimus 
nec  maius  nec  antiquius  habuimus,  quam  ut  ea  ciuitas  nostri  iuris,  et 
potestalis  eííiceretur.  Quamquam  vero  a  noslris  Ducibus,  praefeclisque 
strenuae  aduersus  eandem  expediliones  susceplae  essent,  nihilque  omnino 
ab  bis  foret  praelermissum,  quo  urbs  munitissima  posset  expugnan :  la- 
men ob  loci  naluram  inexpugnabilem,  saepe  ea  res  frustra  tentata  est. 
Quippe  urbs  Dium  in  extremo  promontorio  sinus  Canticolpi  sila,  et  su- 
per  saxi  crepidine  fundata,  validis  muris,  turribusque,  atque  omnifariam 

41* 


32i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

aeneis  tormenüs  undequaque  cingitur,  introrsus  vero  qua  sese  portus  re- 
cipit,  qui  et  ¡pse  validis  calhenis  clauditur,  adeo  munitis  tam  ab  vrbe 
quam  a  medio  mari  propugnacuüs  valíala  est,  ut  cum  per  spacium  inler 
ipsa  propugnacula  interiacens,  nauibus  modo  inuadi,  oppugnarique  va- 
leat  (elenim  a  continenti  in  morem  insulae  mari  per  fossam  deriualo  ablui- 
tur)  illud  inlerim  ex  eo  sequatur,  ut  eiusmodi  oppugnatio  propler  ap- 
positam  undique  tormentorum  vim  longe  difficillima,  ac  pene  ultra  vires 
humanas  esse  videatur.  Accedebat  et  illud  incommodum,  quod  ea  urbs 
manebal  sub  ditione  Regis  potentissimi  citerioris  Indiae,  Mahometanae  se- 
clae  cultoris,  quem  regem  Cambaiae  vocant.  Atque  is  facile  intclligens 
máximum  in  ea  ciuitate  momenlum  esse  ipsam  superioribus  annis  per 
Melchiazum  praefeclum,  quantum  humano  consilio,  aut  arte  eítici  polerat 
muniri  iusserat.  Ita  urbs  natura,  situque  valida,  opera  hominum,  praesi- 
diisque  largiler  accedentibus,  inexpugnabilis  reddita  erat.  Is  autem  rex 
Cambaiae,  ut  de  eius  prope  incredibilibus  diuitiis  taceam,  facile  centum 
millo  equitum  armare,  peditum  vero  CCC  millia,  sexcenlosque  elephan- 
tos,  glandiumque  ignitarum  iaculatorum  non  mediocrem  numerum  in 
aciem  educere  potest :  ad  haec  tormenta  aenea  omnis  generis  curribus  óp- 
tala, non  minus  habet,  quam  septingenta.  Quo  apparatu  idem  paucis  ab 
hinc  annis,  finitimo  regi  defectionem  meditanti,  bellum  inlulit,  eumque 
regno  expulit.  Sed  quanquam  tot  incommodis  Duces'  nostri  urgerentur, 
nos  lamen  id  omni  studio  indefessoque  animo  agitantes,  ut  hoc  oppido 
in  potestalem  nostram  redacto,  rerumque  nostrarum  slatu  in  Oriente  fír- 
malo, Chrisli  fides  per  uniuersam  Indiam  longe  laleque  posset  propagari. 
Ob  eas  res  Nonio  a  Cugna  Indiae  Gubernalori,  praefectoque  nostro  maiori 
mandauimus,  ut  quia  in  oppugnando  eo  oppido  parum  proficeretur,  m 
praesentia  quidem  ab  eo  desislerel :  caelerum  regi  Cambaiae  térra  man- 
que bellum  inferret,  uniuersamque  maritimam  regni  Cambaiae  oram,  quac 
non  mediocri  liltoris  tractu  porrigilur,  ila  classibus  instruclis  populare- 
tur,  assidueque  infeslaret,  ut  aliquando  rex  Cambaiae  Radur  (id  enim  no- 
men  illi  est)  suis,  suorumque  malis  edoclus,  tot  damna,  direplionesque, 
deditione  diclae  ciuilalis  redimere  cogerelur.  Id  cum  ila  factum  esset, 
bellumque  acre  ac  perpeluum  ómnibus  Guzaratum  populis  marilimis  illa- 
tum  traherelur  (ita  enim  subditi  regis  Cambaiae  vocantur)  rex  Radur  cum 
non  paucas  regni  sui  ciuilates,  oppida,  arces,  vicos,  per  noslros  praefe- 
clos,  classesquc  capí,  diripi,  atque  inccndi  cum  magna  suorum  strage. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  325 

audiret,  in  quorum  direptione  ingens  aeneorum  tormentorum  numerus, 
mullique  bellici  apparatus  a  nostris  inueniebantur.  Cumque  non  minus 
intelligeret,  nostrorum  classibus  infesta  omnia  reddentibus,  ñaues  merca- 
torum  ad  ipsius  regni  porlus  nullalenus  accederé,  nec  ultro  citroue  com- 
meare  iam  audere,  idque  inlerim  magna  eius  vecligalium  iactura  acci- 
dere.  Ad  haec  cum  animaduerleret  maiora  in  poslerum  ex  eiusmodi  causa 
regno  suo  damna  instare,  quibus  deinde  omni  potentia  nequáquam  resis- 
tere  posset:  cum  haec  omnia  secum  reputarel,  diuque  tamen  dolorem  au- 
dacter  praemeret :  etsi  nunquam  antea  secum  de  pace  agi  passus  fueral, 
ad  extremum  maiore  melu  perculsus,  consilium  sibi  coepil,  nostraque  impe- 
rata  faceré,  Diumque  dedere  cogitauit :  \idelicet  in  eo  magnorum  Aelhio- 
piae  Orientis  regum  multorumque  Indiae  salraparum  exemplum  sequu- 
tus.  Qui  nobis,  (Deo  iuvante)  superiori  tempore  obedire  appetiuerant, 
idque  magno  orthodoxae  fidei,  animarumque  bono  euenerat,  quae  incre- 
dibili  numero  ab  Idolorum  vanitale,  ad  Chrislianam  pietatem  et  conuer- 
sae  sunt,  et  quotidie  conuertuntur.  Itaque  íl le  polenlissimus  rex  Badur, 
Indiae  uniuersae  terror,  a  quo  nonnulli  regnum  Pori  maximi  quondam 
regis  teneri  affirmant :  quique  lol  annos  frustra  minis  in  nostros  deto- 
nuisset,  tándem  per  legatos  a  gubernatore  nostro  supra  memóralo,  pa- 
cem  suppliciter  postulat.  Summa  legalionis  eral,  velle  se  his  conditioni- 
bus  nobis  obsequi :  quae  omnino  gratae  nobis  fulurae  erant :  Consilio  igi- 
tur  de  ea  re  diligenler  habito,  placuit  Nonio  gubernatori,  caelerisque  prae- 
fectis  nostris,  \irisque  nobilibus,  qui  in  India  iussu  nostro  mililant,  pa- 
cem  cum  rege  iis  condilionibus  fieri :  quae  cerle  nobis,  regnisque  nostris 
pulcherrimae,  el  honeslissimae  exlilerunt.  Atque  harum  nonnullas  San- 
ctitali  veslrae  his  litteris  declarandas  esse  duxi.  Placeré  regi  Cambaiae 
(Cambaia  ciuitas  est  insignis  marilima  unde  rex  denominalur,  aliler  Gu- 
zaralum  rex  vocatur)  et  arcem  el  ciuilatem  Bazaim,  quae  ciuitas  ad  Orien- 
tem  versus  circiler  octoginta  millibus  passuum  a  Dio  abest,  in  ius  ac  di- 
tionem  noslram  transferri :  seque  nobis  in  perpetuum  iis  cederé  cum  óm- 
nibus agris,  insulis,  oppidis,  vicis,  prouentibus,  vectigalibusque  regiis, 
caeterisque  ómnibus  quomodocumque  ad  eandem  vrbem  eiusdemque  re- 
gis  deditionem  in  ea  regione  speclantibus.  Nec  minus  cederé  se  ea  vecti- 
galium summa  (ea  ingens  eral)  quae  ex  annorum  proximorum  pensione 
dictae  ciuitalis  Rcgi  debila,  nondumque  per  quaestores  regios  exacta  fue- 
rat.  ítem  ut  Lusitani,  qui  captiui,  aliquot  iam  annos  apud  regiam  vrbem 


32G  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTÜGUEZ 

Gampancllum  tenebanlur,  gubernatori  nostro  quamprimum  redderentur. 
His  alque  alus  per  quam  honorificis  regno  nostro  condilionibus  firmalis, 
non  fia  mullo  posl  et  captiui  ipsi  reddili  sunt,  quorum  libertalem  propler 
eorundem  merila,  fidelemque  operam  nobis  multis  annis  praestitam,  ma- 
gni  fecimus  :  et  possessio  vrbis  Bazaim  meo  nomine  a  nostris  inila  est. 
Est  autem  Bazaim  vrbs  marilima  insignis,  cuín  ob  agri  insularumquo  adia- 
cenlium  mirificam  quandam  ubertatem,  tum  vero  ob  sylvarum  maleriae- 
que  commodilatem,  quae  abunde  in  hoc  uno  citerioris  Indiae  loco,  naui- 
bus  fabricandis  suppetit.  Sic  ut  ad  classium  noslrarum  quantumuis  nu- 
merosam  aedificationem,  siue  commeatus  haec  una  posse  su  ulcere  videa- 
tur.  Sed  ñeque  usquam  in  uniuerso  Indiae  littoralis  Iractu  tanta  utrius- 
que  rei  copia  possil  inueniri.  Hinc  est  quod  intra  líazainensis  agri  earum- 
que  insularum  ambilum,  quae  eius  territorii  sunt,  ob  admirandam,  lar- 
geque  omnia  praebentem  soli  faecundilatem,  sexcenti  admodum  vici,  mí- 
nimum alius  ab  alio  distantes  inuenianlur,  quos  Guzarales  habilant :  in- 
terque  eos  vicos,  et  oppida  nonnulla,  et  ciuitates  eliam  visunlur.  Singuli 
porro  ab  vrbe  nostra  Bazaim  ius  accipiunt :  nobisquc  hi  timnes  cum  ci- 
uitate  simul,  annua  centum  millia  aureorum,  ex  vecligali  regio  pendunt: 
breui  autem  fore  speramus,  ut  vecligalium  magna  fiat  accessio,  quod  pro- 
pter  pacem,  quam  iis  dedimus,  affalim  ad  habitandum  Guzaralum  mul- 
titudo  confluat  in  ea  loca.  ítem  rex  Badur  anno  non  loto  verlenle,  ut  mu- 
tuam  nobiscura  pacem  maiore  pignore  retineret,  sanciretque,  ilemque  ut 
nobis  gralior  el  acceplior,  dicto  Nonio  Indiae  gubernatori  ultro  per  literas 
significauit,  velle  se  cerlis  condilionibus,  quae  paci,  et  amicitiae  utrius- 
que  noslrum  expedirent,  ipsam  ciuilatem  Dium  mihi  dedere ;  it  ut  ea  in 
poslerum  valido  Lusitanorum  praesidio  teneretur:  Ea  recognita,  cum  No- 
nius  ingenli  classe  ab  vrbem  Dium  accessisset,  mox  ea  parte  vrbis  potis- 
simum  leda,  quae  porlui,  propugnaculisque  in  mari  extruclis  immine- 
bat,  arcem  magna  celerilale  aedificare  aggressus  est :  quam  propediem 
absolulam  iri  confidimus.  Alque  fortissima  ciuilalis  parle,  propugnacu- 
lisque ipsis,  lum  maris,  tum  lerrae  omni  tormentorum  genere,  bellico- 
que  apparalu  instructissimis  a  rege  traditis,  nostroque  praesidio  firma- 
lis,  in  quibus  et  oppidi,  et  portus  vires  facile  conlinenlur,  arce  etiam  in- 
superabili  a  nostris  iisdem  in  locis  fundata,  plañe  illud  sequi  necesse  est, 
el  nunc  eam  ciuitalem  penitus  in  nostra  poleslale  esse,  et  in  posterum 
Dco  benc  iuuante  sub  noslra  dilione  perpetuo  mansuram  :  ita  Deo  Opti- 


RELACfJES  COM  A  CURIA  ROMANA  327 

mo  Máximo  fauente,  citra  ullum  sanguinem,  meorumque  subditorum  pe- 
riculum,  ea  vrbe  potili  sumus,  quae  iampridem  a  faelicis  memoriae  pa- 
tre  Emanuele,  nostrorumque  excrcilu,  magnis  cum  sudoribus,  impensis- 
que  petila,  nunquam  lamen  polueral  expugnan.  Vnaque  opera  lum  rebus 
noslris  Indicis  securilatem,  tum  paci  ornamentum,  tum  bello  singulare 
perpetuumque  praesidium  comparauimus.  Cumque  omnes  fere  Orienlis 
ñaues,  quae  per  Indicum  Oceanum  mareque  rubrum  ullro  cilroque  ex- 
currunt,  ad  huno  porlum  necessario  feranlur,  facile  ex  eo  iudicare  est, 
quicunque  tam  celebris  emporii  dominus  fuerit,  eum  nauibus  lolius  Orien- 
tis  quodammodo  dominan  oportere.  Eodem  tempore  inter  noslros,  regem- 
que  Cambaiae  conuenlum  est,  neTurcarum  quispiam  inlra  eius  regni  fi- 
nes admilteretur,  neue  hospitio,  commeatu,  auxilioue  quocunque  iuuare- 
tur.  ítem  ne  per  uniuersum  regni  Cambaiae  littus,  ullum  Guzaratum  na- 
uigium  bello  aplum  fabricare  liceret :  si  qua  aedificata,  aut  inslrucla,  ins- 
truiue  coepla  inuenirentur,  ea  in  (errara  subducerentur.  Postremo  utquae- 
cumque  Guzaratum  nauis  e  lillore  patrio  nauigatura  esset,  ea  priusquam 
solueret,  a  praefacto  arcis  nostrae,  quae  intra  Dium  est,  liberi  commea- 
tus  diploma  impelraret:  alioqui  eam  nauigationem  suo  periculo  facluram 
esse.  Atque  ut  mirabilis  nostrorum  faelicilati  cumulus  adderetur,  accidit 
per  haec  témpora,  ut  Aimanus  potentissimus  Carmaniae  rex,  usque  ad 
Indi  fluminis  ostia,  aliarumque  late  regionum  Septenlrionem  versus  (nunc 
regem  Dely  vocant)  et  ipse  impielatis  Mahomelanae  cultor,  bellum  Cam- 
baiae regí  inferret,  quod  is  affinem  quendam  suum  qui  ab  Aimano  trans- 
fugeral,  reddere  nollet.  Quod  ubi  rex  Badur  intellexit,  non  ita  multo  post 
ingenti  exercilu  coacto,  qualem  supra  memorauimus  ex  aduerso  processit. 
Quamquam  vero  Carmaniae  rex  equilum  millia  sepluaginta  duceret,  qui 
more  Parthorum  saggillandi  perilissimi,  inter  fugiendum  spicula  dirigunt: 
peditum  vero  ducenla  millia  haberel.  Tamen  si  stalim  Cambaiae  rex  cum 
hoste  coníligere  noluisset,  dubium  non  erat,  quin  regem  Dcly  primo 
Ímpetu  fuisset  superaturus.  Verum  ille  prauis  consiliis  Rumetanis  prae- 
fecti  sui,  cui  multum  tribuebat,  persuasus,  cum  se  intra  castra  conline- 
ret,  nec  copiam  pugnandi  faceret :  interim  interceptis  ab  hoste  commea- 
tibus,  diraque  (ame  atque  ex  eo  hominum  equorumque  strage  in  exer- 
cilu sequula  ad  exlremum  fuga  sibi  consulere,  ne  in  poleslatem  hoslium 
veniret  compulsus  est.  Igitur  cum  faeda  fuga,  ac  consternalio  totis  cas- 
tris,  ipsius  regís  fuga  intellecta,  oriretur,  Magores  súbito  superuenienles 


328  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

omnia  proslernunt,  alque  occupant.  Mogores  ¡i  sunt  qui  primum  cum 
rege  ipsorum,  Carmaniam  :  deinde  Ariam  el  Drangianam,  aliasque  Dique 
ad  ruare  Cnspium  regiones  (quas  nunc  regnum  Dely  vocanl)  armis  occu- 
parunl.  Dicli  Mogores  vel  a  Populis  Persarum  Megoribus,  vel  qiiod  nunc 
Turcae  a  Persis  Mogores  appellantur.  ítem  tamen  se  ab  exlremis  Scylhis 
oriundos  iaclant :  Regemque  hunc  Aimanum  illius  Magni  Tamberlani  Scy- 
tharum  Imperatoris  trinepolem  praedicant.  Cerle  genlem  exercitumque  Mo- 
gorum  cum  multi  Vzbequi,  natío  eiusdem  generis  beliicosa,  aüique  populi 
auxiliares,  tum  magna  vis  Scytharum,  Tartarorumque  comilabanlur.  Fu- 
giens  ¡laque  rex  Cambaiae  cum  malre,  suisque,  ac  praefectorum,  proce- 
rumque  suorum  uxoribus,  magnaque  parte  thesaurorum,  diuitiarumque 
suarum,  se  ad  Dium  recipit  ulpote  totius  regni  vrbcm  validissimam  mu- 
nilissimamque.  Ibi  haec  omnia,  seque  insuper  tradidit  in  fidem  lutelam- 
que  Nonii  gubernatoris,  praefeclique  noslri  maioris.  Et  nunc,  Deo  volenle 
polentissimus,  alque  opulenlissimus  Indiae  cilerioris  Rex  cum  arce  regni, 
vxoribus,  rebusque  pretiosissimis,  in  nostra  manet  poleslate.  Gonslare 
arbitror  ex  his  Sanctitati  vestrae  quantum  Dei  Optimj  Maximi  clementia, 
rebus  nostris,  totique  adeo  reipublicae  Ghrislianae  incrementum  sit  adie- 
ctum.  Quanlus  item  aditus  hoc  tempore  sit  faclus  ad  Ghrisli  veram  fidem, 
per  vasta  illa  Orientis,  alque  Indiae  utriusque  regna  longe  lateque  pro- 
paganda. Quod  etsi  temporibus  meis  et  mea  meorumque  opera,  Deo  adiu- 
uante,  accidisse  mihi  (ut  par  est)  gralissimum  esse  debeat,  lam  prospe- 
ran), tamque  admirandam  rerum  successionem  inprimis  Sanctilali  vestrae 
faelicitali  acceptam  referri  oportet :  cuius  virlute  ac  meritis,  ulpole  San- 
ctissimi  dignissimique  Petri  successoris,  fideique  orlhodoxae  propagaloris 
maximi,  breui  temporis  circulo  factum  est,  ut  tam  in  África  quam  in 
Asia,  insignes  Ghrislianis  victoriae  partae  sint.  Ego  autem  Domino  Deo 
nostro  gratias  summas  ago  pro  tanta  benignitate,  quanta  nos  immeritos 
prosequi  dignitalus  est :  idemque  a  Sanctitate  veslra  totius  reipublicae 
Chrislianae  nomine  fieri,  et  spero  el  opto.  Cumque  ab  ipsius  pontificalus 
inilio  Chrislianus  orbis  nouis  victoriarum  accessionibus  non  mediocriter 
auclus  fuerit,  idque  ipsum  (ut  dixi)  iure  óptimo  eiusdem  Sanclilatis  ves- 
trae  summis  virlulibus,  perpeluoque  religionis  affeclui  ascribi  oporteat, 
omnes  qui  Chrislum  profilemur  sperare  debemus  fore,  ut  rebus  per  ean- 
dem  inler  Principes  Chrislianos  pacalis,  el  composilis  Sanclilatis  vestrae 
z        meritis,  consiliis,  virtute,  auctorilate,  Dei  religio  magis  magisque  floreal, 


UELACOES  GOM  A  CURIA  ROMANA  329 

et  digna  (ut  par  est)  accipiat  incrementa.  Vt  tándem  verae  pietalis  hosti- 
bus  aut  euersis,  aut  profligatis,  idolorumque,  et  Mahometano™ m  impia 
vanitate  delela,  crux  Domini  Nostri  Jesu  Christi  in  uniuerso  orbe  cola- 
tur,  atque  adorelur.  Sanctissime  ¡n  Christo  Pater  et  Domine  noster,  Deus 
Omnipotens  Sanclilalem  vestram  diulissime  et  felicissime  augere,  et  con- 
servare dignelur,  ad  sui  sanctissimi  obsequii  sanclae  malris  Ecclesiae  bo- 
num,  et  utilitatem.  Datae  Eborae  die  xx  Julii  Anno  Domini  mdxxxvi  l. 


Carta  de  el-Rei  ao  cardeal  Santiquatro. 


1536  — 


Reverendissimo  in  Christo  padre  que  como  Irmao  muyto  amo,  Eu 
dom  Joham  per  graca  de  deus  Rey  de  portugal,  e  dos  Algarues  d  aquem 
e  dalem  mar,  em  afriqua  Senhor  de  Guiñee,  e  da  conquista  nauegacam  e 
comercio  de  Elhiopia  arabia  persia  e  da  India,  vos  emvio  muyto  saudar. 

A  carta  que  me  escrevestes,  feita  de  dous  dias  de  junho  passado2, 
sobre  a  expedicam  da  bula  da  Inquisicam  dos  cristaos  novos  de  meus  re- 
gnos  e  senhorios,  vos  farey  por  esta  resposta  ás  cousas  déla  a  que  me 
parecer  que  convem  ;  e  escusarey  o  mais  que  poder  de  a  fazer  longa  por 
vos  nom  ser  trabalho  a  lerdes  pelas  muytas  que  aguora  sobre  meus  ne- 
gocios vos  escrevo,  ainda  que  por  muy  ce  rio  tenho  que  o  nom  Recebes 
em  minhas  cousas.  E  primeiro  quanlo  á  expedicam  da  dita  bula,  que  me 
enviasles  por  dom  Anrique  de  meneses,  por  muy  certo  tenho  que  se  nom 
fez  a  expedicam  déla  sem  muyto  voso  cuidado  e  trabalho  (pera  que  foy 
ainda  mais  causa  os  embaracos,  que  niso  se  ofereceram  da  parte  de  quem 
niso  vos  devera  ajudar  e  nom  iorvar)  e  em  muy  singular  prazer  Recebo 
de  vos  acabarse  como  se  acabou  e  aceitey  por  todas  as  Rezoes,  que  por 
esta  vosa  carta  me  destes  naqueles  pontos  em  que  se  moueram  duuidas : 
nem  que  foram  mais  prejudiciaes  fizera  ao  santo  padre  nenhuuas  repri- 
quas,  pois  a  vos  asy  voló  pareceo,  que  creyó  que  em  todas  minhas  cou- 

1  Impressana  Hispania  illustrata,  Tom.  2.° pag.  1316,  d'onde  fox  copiada  fielmente. 

2  Nao  encontramos  esta  carta. 

TOMO  III.  42 


330  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sas,  e  mais  em  special  nesla,  que  he  de  tan  lo  servico  de  noso  senhor,  nom 
avües  de  ter  outro  respeilo,  senam  o  que  vos  parecese  que  era  milhor 
pera  o  efeito  do  desejo,  que  sempre  Uve  e  lenho  de  noso  Senhor  ser  nesta 
obra  servido.  E  ao  sánelo  padre  vos  roguo  muyto  que  diguaes  de  anota 
parle  que,  pela  merce  que  me  fez  em  se  acabar  esla  expedicam,  na  qual 
nunca  tive  nem  lenho  oulro  respeilo  senam  o  servico  de  noso  senhor, 
bejo  os  pees  a  sua  sanctidade,  e  o  Recebo  em  muy  singular  merce;  E  que 
espero  em  noso  senhor  de  se  fazer  lam  bem,  e  com  lanío  seu  servico  e 
louuor  de  sua  sanclidade,  que  aja  por  muy  bem  me  conceder  todas  as 
cousas,  que  pela  ventura  agora  faleceram,  e  que  pera  inteiro  efecto  desta 
sánela  obra  forem  necesarias. 

E  acerqua  do  que  me  dizés  sobre  os  pejos,  que  o  papa  teve  no  Rispo 
de  lameguo,  e  as  causas  porque,  nom  ey  por  necesario  vos  dizer  outra 
cousa,  soomente  que,  pois  Sua  Santidade  o  ouue  asy  por  bem,  asy  he  o 
milhor;  e  mais,  pois  tem  do  bispo  aquele  conceito  e  boa  informacam, 
que  se  deue  ler  de  huum  tam  boom  e  uerluoso  perlado  como  ele  he,  e 
que  niso  ouuera  de  servir  a  noso  Senhor  tam  inteiramenle  como  em  tal 
obra  se  Requere  fe  que  andando  a  obra  verá  a  graveza  das  culpas,  e 
nam  averá  por  mal  serení  os  que  nelas  ham  de  entender  aínda  mais  Hi- 
gos do  que  Ihe  foi  dilo  que  era  o  bispoj.  E  que  tenho  muyto  em  merce  a 
Sua  Sanclidade,  gardarse  ao  bispo  o  que  em  caso  semelhanle  por  sua 
honra  e  auctoridade  se  devia  guardar. 

E  no  que  toqua  ao  ponto  dos  tres  annos,  vy  todas  as  Rezoes  e  cau- 
sas, que  dizés  que  vos  moueram  pera  asy  o  aceitardes ;  e  pois  vos  pa- 
receo  asy  bem,  iiam  me  pode  a  mym  parecer  oulra  cousa,  por  aver  por 
muy  cerlo  que  o  avües  muy  bem  dolhar  fe  tnays  por  nacerem  lanías 
cabecas  á  idra,  como  dizés  que  naciamj. 

E  com  voso  parecer,  que  me  daes  acerqua  que  eu  seja  contente  do 
que  he  feito,  porque,  se  depois  quisese  mais  alguua  cousa,  se  poderia 
aver  mylhor,  eu  sam  contente,  como  airas  vos  diguo ;  e  pera  o  seer  nam 
me  moveo  pouquo,  mas  muylo,  ha  esperanca  de  se  fazer  o  que  dizés,  que 
espero  que  a  obra  mostré,  e  que  nom  aja  pejo  no  que  se  requerer  pera 
o  efecto  déla  ser  lam  inteiro  como  deve.  E  acerqua  do  que  nesle  capitulo 
dizés  do  bispo  de  lameguo,  pela  obra  que  se  fizer,  e  pelo  que  se  achar, 
se  suplicará  o  que  milhor  for  pera  noso  senhor  ser  milhor  servido. 

E  Recebo  de  vos  em  singular  prazer  a  Ienbranca,  que  me  fazés  do 


RELACÓES  com  a  CURIA  ROMANA  331 

modo,  do  proceder,  e  do  resguardo  e  caridade  que  niso  se  deue  ter ;  e 
espero  em  noso  senhor  que  se  faca  tan  bem  que,  depois  de  noso  senhor 
ser  bem  servido,  se  veja  que  se  nom  teve  a  oulra  cousa  respeilo.  E  pa- 
receo  me  bem  o  pregar  da  Inquisicam  e  as  amoestacoes  que  nelas  se  fa- 
cam.  E  em  ludo  se  terá  toda  boa  maneyra,  E  tal  que  com  Rezam  se  nam 
posa  receber  nenhuum  escándalo. 

ítem  :  quanto  ao  que  me  lembraes  acerqua  daqueles,  a  que  se  diz 
que  foy  feyla  precisa  forca,  nesla  parle  nom  ha  agora  oulra  cousa  que 
\os  dizer,  soomenle  que  vos  Rogo  muylo  que  creaes  que  nesle  paso,  e 
em  todos  os  outros  sobre  que  se  Requerer  justica,  se  ha  de  guardar  in- 
le  ira  mente.  E  que  nam  se  poderá  oferecer  cousa  em  que  asy  nom  seja 
feilo,  E  em  tal  maneira  que  muy  claramente  se  veja  que  se  faz,  E  que 
nom  lenha  nynguem  Rezam  de  se  agravar :  E  em  toda  esta  obra  asy  es- 
pero que  se  faca,  que  ao  sancto  padre  se  sigua  muyto  louuor  e  contenta- 
mentó. 

Acerqua  do  capitolo,  em  que  falaes  na  piedade,  que  se  aja  do  pay, 
may  e  irmaos  e  filhos  de  duarte  de  paz,  aos  quaes  prometeo  o  papa  huum 
breve  pera  se  poderem  yr,  com  o  mais  que  sobre  iso  dizés,  vos  podes  ser 
certo  que  nunqua  acerqua  destes  se  fez  cousa,  de  que  se  deuesem  agra- 
var, postoque  pelos  merecimentos  de  duarte  de  paz  eles  merecesem  ou- 
tras  obras.  E  muy  integramente  Ihe  será  guardada  sua  justica,  nem  lhe 
será  feito  cousa  que  nam  deva,  nem  se  terá  em  nenhuua  cousa,  que  a  es- 
tes loquar,  respeito  ás  culpas  de  duarte  de  paz;  E  asy  se  fizera  nom  es- 
crevendo  vos  sobre  eles,  quanto  mais  encomendándoos  aguora  do  modo 
em  que  os  encomendaes.  E  porem,  porque  he  bem  que  acerqua  deste  eu 
vos  Responda  claro,  ele  nam  ha  de  vyr  nem  entrar  em  meus  regnos, 
porque,  tendo  Recebido  de  mym  fauor  a  muyto  larguo  modo,  e  servindo 
me  dele  em  cousas  de  muyta  confianca,  E  aquele  dia,  que  de  minha  corte 
partió  pera  yr  entender  em  cousas  de  meu  servico,  lhe  foy  lancado  o  abito 
de  Jesu  cristo,  mudar  ele  o  carainho  pera  se  yr,  como  foy,  a  Roma  a 
torvar  minhas  suplicacoes,  e  do  modo  que  niso  teve,  e  tam  publicamente, 
E  com  tanto  desacatamento  a  meu  servico,  poderia  eu  mal  consentir  tor- 
nar ele  a  meus  Regnos  e  senhorios,  nem  ser  neles  visto,  porque,  nem  zelo 
acerqua  de  sua  gente,  nem  cousa  outra,  o  deuera  mover  a  tam  grande 
desacatamento  fazer.  E  pera  verdes  a  vertude  que  ha  nele,  vos  envió  com 
esta  carta  as  propias  carias,  que  ele  la  deu  ao  arcebispo  do  funchal  pera 

42* 


332  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

me  enviar,  per  que  me  descobria  alguus  de  sua  gente,  e  dos  principies, 
que  de  ca  se  queriam  fugir,  pera  serem  presos  E  se  proceder  contra  eles ; 
E  o  que  niso  se  oferecia  fazer,  e  a  provisao  minha  que  pera  iso  me  re- 
quería, que  nom  era  zelo  eslreme  de  precurar  o  bem  e  descanso  da  sua 
gente,  porque  ele  procurava  mais  ¡ntarese  propio  de  que  ele  viue  o  mais 
acerqua  do  que  la  fazia,  do  que  outra  verlude.  E  esta  soo  abastaría  pera 
se  crer  que  nom  era  mouido  senom  cora  malicia.  E  ¡slo  destas  cartas  que 
vos  envió  avee  por  certo  que  ele  fez,  E  o  afirmay  asy  ao  sancto  padre 
(nem  cuydo  que  foy  sem  sabedoria  da  pesoa  que  la  eslava,  e  com  que 
eslas  e  oulras  laes  ele  consultaba). 

E  Acerqua  das  feridas,  que  la  lhe  foram  dadas1,  afirmay  lanbem  a 
sua  sanclidade  que  nunqua  era  tal  cousa  cuidey  nem  foy  em  minha  sa- 
bedoria;  E  crede  uós  tanbem,  e  o  afirmay  a  sua  sanctidade,  que,  se  eu 
em  tal  cousa  cuydara,  se  fizera  d  outra  maneyra  fe  que  lhe  ficára  pou- 
quo  luguar  pera  suas  malicias).  E  certo  que  eu  Receby  muylo  despra- 
zer  de  tal  lhe  ser  feyto  tanto  em  presenca  do  sancto  padre  como  dizés. 
E  ho  que  me  foy  dicto  depois  de  seu  ferimento  foy  que  huu  clérigo,  com 
que  ele  linha  debates,  lhe  fizera  ou  mandara  fazer  aquele  ferimento.  E 
muyto  me  pesa  por  estas  cousas,  E  por  outras  muytas,  de  que  eu  com 
Rezam  devo  ter  grande  descontentamento  de  duarte  de  paz,  vos  nom  po- 
der satisfazer  acerqua  de  sua  pesoa  como  mo  encomendaaes,  nem  ho  papa 
o  deue  aver  por  bem. 

Do  que  me  lembraes  acerqua  do  que  será  bem  que  se  faca  depois 
de  ser  deputado  Inquisidor  geral  e  conselho  da  Inquisicam,  todo  este  ca- 
pitulo vy  inleiramenle,  como  vy  todos  os  outros  desta  uosa  carta,  e  Re- 
cebo em  singular  prazer  todas  as  lembrancas  dele,  que  sam  como  de  quem 


1  Fr.  Luiz  de  Sousa  (Annacs  de  D.  Joao  III,  pag.  397)  diz  o  seguinte  a  respeito 
destes  ferimentos : 

Carta  de  Alvaro  Mendes  de  Vasconcellos,  de  Ñapóles,  de  3  de  Fevereiro,  1536  : 
avisa  que  em  Roma  se  deráo  quatorze  punhaladas  em  Duarte  de  Paz,  hura  Christao 
novo  portuguez,  que  fortemente  enconlrava  a  Inquisigáo  que  EIRey  pedia  :  deixadopor 
morto,  viven  todavía  em  virtude  de  boas  armas  que  trazia.  E  dcste  diz  que  quizera  fa- 
zer libelo  contra  Sua  Alteza  e  os  de  seu  conselho,  e  que  trazia  o  habito,  sendo  delle 
inhibido. 

Comojá  advertimos,  falta  no  manvscripto,  citado  a  pag.  289,  a  parte  da  carta,  onde 
vinha  a  narracao  desta  tentativa  de  assassinaio. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  333 

eu  creo  que  Receberá  muyto  contenta  mentó  de  minhas  cousas  serem  fey- 
tas  de  modo  que  se  sigua  muyto  meu  louuor ;  e  espero  em  nosso  Se- 
nhor,  como  atrás  em  oulro  capitulo  ja  o  digo,  que  a  obra  e  os  efeylos 
desta  sánela  Inquisicam  se  facam  de  maneyra  que,  depois  de  noso  senhor 
ser  servido,  como  em  tal  cousa  se  deue  fazer,  nom  aja  causa  de  ninguem 
com  Rezam  se  deuer  agravar,  e  que  muy  inleiramcnle  seja  guardada  a 
todos  Juslica,  E  que  ao  sánelo  padre  se  sigua  muyto  louuor,  e  a  vos 
muyto  contentamente  pela  parte  que  tivestes  na  conclusam  da  bula  desta 
Inquisicam,  a  que  eu  ey  muilo  de  folgar  que  se  tenha  special  respeito  por 
vos  contentardes  muyto  do  Irabalho  que  na  expedicam  leuasles,  e  o  ofe- 
recerdes  em  servico  a  noso  senhor,  que  ey  por  cerlo  que  uolo  tem  acei- 
tado. 

Acerqua  do  que  nesta  carta  me  dizés  sobre  dom  Anrrque  de  mene- 
ses,  folgüey  de  ver  que  tendes  dele  boom  conceito :  eu  terey  dele  e  de 
seu  servico  aqueta  lenbranca,  que  folgo  de  ler  d  aqueles  que  me  bem  ser- 
vem  ;  E  nom  lhe  aproueilará  pouquo  encomendardes  mo. 

Reverendissimo  in  christo  padre,  que  como  irmao  muyto  amo,  nosso 
senhor  vos  aia  sempre  em  sua  sancta  guarda. 

Scripta  em  euora,  a  dias  de  de  1536  \ 


Carta  de  el-Rei  a  Pedro  de  Sonsa  de  Tatora. 


Pero  de  sonsa  Eu  elRey  vos  envió  muyto  saudar. 

Com  esta  minha  carta  vos  será  dado  huum  maco  de  Cartas  minhas, 
que  escrevo  ao  cardeal  de  santiquatro,  em  que  vay  huuma  suplicacam 
pera  o  santo  padre,  pela  qual  lhe  soprico  e  peco  por  merce ;  que  queira 
conceder  despensacam  para  o  Ifante  dom  duarte,  meu  muyto  amado  e 
precado  Irmao,  casar  com  dona  Isabel,  filha  do  duque  de  Rraganca  dom 
James,  meu  primo,  que  déos  aja,  com  que  o  tenho  concertado  e  sam  fei- 
tas  as  escrituras  do  contrato,  e  eles  ja  jurados  pera,  vinda  a  dita  dis- 

1  Minuta,  dentro  de  outra,  no  Ahch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  1,  n.°  28.  O  que  mi  em 

itálico  está  riscado. 


334  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pensacam,  se  fazer  o  casamento  por  palavras  de  présenle,  como  manda 
a  sania  madre  Igreja.  Logo  como  esla  vos  l'or  dada  day  ao  dilo  cardeal 
o  dilo  maco,  pera  apresentar  minha  suplicacam  ao  sanio  padre,  e  Iraba- 
Ihar  de  frzer  a  expedicam  da  dila  dispensacam  no  modo  que  lhe  escre- 
vo,  da  qual  quería  e  averey  por  muilo  meu  seruico  que  o  breue  ou  bulla, 
se  por  breuc  non  poder  vyr,  venha  em  grande  diligencia.  E  vos  solici- 
lay  e  Requere  com  grande  Instancia  ao  cardeal  o  despacho  diso,  e  asy 
o  fazerem  se  a  bula  ou  breue  o  mais  breuemente  que  seja  posivel  pera 
asy  logo  mo  mandardes  em  diligencia.  E  com  esta  vos  envió  provisam 
pera  la  averdes,  da  pesoa  ou  pesoas  a  que  vaao  aderencadas  as  letras,  o 
dinheiro  que  for  necesario,  assy  pera  o  que  se  ouuer  de  dar  na  cámara 
apostólica,  como  pera  os  costos  que  se  ouuerem  de  fazer:  e  lembrares 
ao  Cardeal  que  seja  o  da  Cámara  apostoliqua  o  menos  que  posa  ser,  e 
vos  por  voso  cabo  trabalhay  niso  e  aproveylay  o  que  bem  poderdes,  ainda 
que  creo  que  custará  pouco  por  enxemplo  do  que  ñas  semelhantes  dispen- 
sacóes  se  costuma  dar  na  cámara  apostólica.  E  do  que  se  despender  em 
tudo  manday  conla  asinada  por  vos  pera  eu  a  ver.  A  brevidade  do  des- 
pacho averey  por  muyto  meu  servico  que  seja  a  maior  que  for  posivel, 
e  asy  a  vinda  das  ditas  bulas;  e  muyto  voló  gradecerey  f. 


Carta  de  el-Rci  a  Pedro  de  Sousa  deTavora. 


Pero  de  Sousa  Eu  el  Rey  vos  emvio  muyto  saudar. 

Allem  das  sopricacoes,  que  agora  faco  ao  santo  padre,  que  emvio 
ao  cardeal  Santiqualro,  sobre  a  dispensacao  pera  o  casamento  do  Ifante 
dom  duarle,  meu  muyto  amado  e  precado  irmao,  com  dona  Isabell,  filha 
do  duque  de  Braganca  dom  James  meu  primo,  que  déos  aja ;  c  do  dom 
priorado  moor  de  santa  cruz  de  coimbra,  que  tinha  em  emcomenda  o 

1  Minuta  no  Arch.  Nac,  Mac.  2  de  Cartas  missivas  sem  data,  n.°  357.  Colloca- 
mos  ncste  logar  esta  e  a  scguinte  minuta,  na supposicao  de  que  seriam  feitas  logo  depois 
de  assignadas  as  escripturas  de  casamento,  as  quaes  foram  lavradas  em  Evora  a  %i  de 
agosto  de  1536. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  335 

Ifante  dom  amrique,  meu  muito  amado  e  precado  irmao,  que  ho  renu- 
cia  pera  viir  ao  dito  Ifante  dom  duarle,  como  he  decrarado  em  minha 
sopricacao,  pera  cujo  efeylo  vaao  todas  as  cousas  necesarias,  asy  de  pre- 
curadores  que  pera  yso  faz  nesa  corte,  como  da  renunciacáo ;  e  tambem 
pera  o  regresso,  que  no  dito  mosleiro  linha  o  cardeal  Ifante  meu  irmaao, 
como  veres  pellas  propias  espriluras  cliso,  que  vaao  no  maco  do  Cardeal 
Santiquator,  a  que  emvio  minhas  sopricacoes  pera  as  apresentar  ao  santo 
padre,  e  trabalhar  de  fazer  as  expedieóes  d  ambas  estas  cousas  como  lho 
esprevo  e  encomendó,  vos  emvyo  outras  sopricacoes  pera  sua  santidade 
sobre  cousas,  que  todas  sao  de  muyto  a  seruico  de  noso  senhor,  e  de  que 
eu  receberey  muyto  contentamento  por  serem  das  calidades  que  por  ellas 
verees,  a  saber,  huuma  sobre  cousas  de  que  ha  muyta  necessidade  na  Im- 
dia,  e  sem  que  noso  senhor  nao  pode  ser  bem  seruido  como  eu  desejo  em 
todas  as  partes,  e  mais  em  especial  n  aquellas  honde  tanto  cumpre ;  e  ou- 
tra  pera  a  reformacam  dos  moesteiros  dos  frades  da  ordem  de  santo  agos- 
tinho  destes  reynos,  que  muy  necesaria  he,  e  sem  a  qual  nam  pode  noso 
senhor  ser  bem  seruido,  pello  gramde  desmancho  em  que  estaa  posta  aquella 
ordem  e  religiam  ;  e  sobre  huuma  prouisam,  que  se  requere  pera  o  pa- 
dre frey  bras,  frade  da  hordem  de  sam  geronymo,  que  agora  resyde  na 
gouernamca  do  mosteyro  de  santa  cruz  de  coimbra,  pera  a  reformacam 
dos  moesleiros  da  ordem  de  santo  agoslinho ;  e  sobre  certa  provisam  pera 
o  mosteiro  de  freirás  da  ordem  e  religiam  de  sam  benlo,  que  novamenle 
fez  elRey  meu  senhor  e  padre,  que  déos  lem,  e  eu  depois  de  seu  faleci- 
mento  acabey,  na  cidade  do  porto ;  e  outra  sobre  cerlos  chaaos  pera  os 
colegios,  que  ordeno  na  cidade  de  coimbra,  como  compridamenle  pellas 
ditas  minhas  sopricacoes  veres.  E  porque  eu  desejo  e  folgarey  muyto  de 
todas  as  ditas  minhas  sopricacoes  serem  beem  despachadas,  e  asy  como 
por  ellas  se  requere,  vos  emcomendo  muyto  que  tornees  diso  grande  e 
especial  cuydado  ;  e  darés  de  todas  ellas  conta  ao  cardeal  Santiquator, 
e  per  sua  ordenanca  sejam  apresenladas  ao  Samlo  Padre,  ou  as  apresen- 
tará  elle  a  sua  santidade,  ou  em  consistorio,  ou  naquelles  lugares  em  que 
se  ouuerem  de  ver  e  despachar :  e  eu  lhe  espreuo  emcomendando  lho 
muyto.  E  vos  teres  grande  e  especial  cuidado  de  trabalhar  como  se  faca 
a  expedicao  dellas  asy  como  por  mym  he  sopricado,  porque  nam  sam 
mouydo  a  yso  com  outra  tencam,  senam  por  me  parecerem  cousas  de 
muyto  seruico  de  noso  senhor,  e  de  que  se  syguyrá  muyto  louuor  ao 


336  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sanio  padre.  E  daquellas  que  se  expedirem  e  despacharen!  conformes  a 
minhas  sopricacóes  expedirés  as  bullas  e  prouisóes  necesarias,  e  mas  en- 
viares no  milhor  aviamento  que  for  posyuel.  E  se  pella  ventura  pera  a 
expedicam  dellas  nom  leuerdes  la  dinheiro  meu,  me  spreuerés  as  que 
sam  concedidas,  e  o  que  poderám  fazer  de  custo,  pera  com  voso  recado 
mandar  prouer  acerqua  disso.  E  no  despacho  das  dyías  sopricacóes  en- 
tenderás, ymdo  naquelles  tempos  em  que  vos  parecer  que  melhor  se  po- 
derám despachar  e  sem  fazerdes  niso  muyta  ymportunacam  ao  sanio  pa- 
dre, ao  menos  alee  serem  despachadas  as  sopricacóes  das  cousas  que 
agora  sopriquo  a  sua  santidade  pera  o  Ifante  dom  duarle,  meu  irmaao. 
Porem  as  sopricacóes  que  tocam  a  reformacam  da  ordem  e  religiam  dos 
fradcs  de  sanio  agoslinho,  e  ao  mosteiro  das  freirás  da  ordem  e  religiam 
de  sam  benlo  da  cidade  do  porto,  eslas  duas  folgaria  muyto  que  fosem 
despachadas  e  expedidas  as  bullas  dellas  ho  mais  em  breue  que  vos  seja 
posyuel :  e  asy  vollo  emcomendo  muyto.  E  do  que  nestas  cousas  fezer- 
des  e  fordes  fazendo  vos  encomendó  muyto  que  me  avises  compridamen- 
te,  e  muyto  vos  gradecerey  todo  o  que  niso  trabalhardes  e  fezerdes.  Spri- 
ta 1. 


Hulla  do  Papa  Paulo  III. 

1536  —  Agosto  25. 


Paulus  Episcopus  Servus  servorum  Dei  Ad  Perpetuam  Reí  memo- 
riam. 

Gregis  dominici,  nostre  custodie,  licet  imparibus  meritis,  commissi, 
vigilem  sollicilamque  curam  gerentes,  et  statum  piorum  locorum  et  reli- 
giosarum  personarum  quarumlibet,  presertim  sub  regularibus  mililiis, 
pro  fidei  catholice  defensione  militantium,  diligenter  allendentes,  ea  sic 
nostre  prouisionis  ope  dirigí  cupimus,  per  que  a  detrimenti  subleuentur 
incommodis,  et  prosperis  iugitur  proficiant  incrementis.  Dudum  siquidem 


1  Minuta  no  Arch.  Nac,  Mar.  2  de  Cartas  missivas  sem  data,  n.°  160. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  337 

postquam  felicis  recordationis  leo  papa  x,  predecessor  Dosier,  procurante 
clare  memorie  Emanuele,  Portugallie  Et  algarbiorum  rege,  qui  tune  in 
humanis  agens  multas  térras,  prouintias  el  ínsulas  a  capilibus  do  Boiador 
usque  ad  indos  possidebat,  in  quibus  nullus  episcopus,  qui  ea  que  erant 
iurisdiclionis  Episcopalis  exerceret,  habebatur,  excepto  Vicario  pro  tem- 
pore  existente  oppidi  deThomar,  nullius  diócesis,  qui  frater  mililie  Jesu 
christi,  Gistertiensis  ordinis,  existebat,  et  iurisdictionem  episcopalem  Ín- 
ter alia  in  diclis  terris  prouinliis  et  insulis  ex  priuilegio  apostólico  olim 
sibi  concesso  habebat,  vicariam  eiusdem  oppidi  de  Thomar  de  consensu 
bone  memorie  Didaci  pinheiro,  olim  episcopi  funchalensis,  tune  in  huma- 
nis agentis  et  ipsius  oppidi  vicarii,  apostólica  auctoritale  suppresserat  et 
extinxerat ;  ac  tune  parrochialem  ecclesiam  beale  marie,  per  eundem  Ema- 
nuelem  regem  in  ciuitate  do  funchal,  in  Ínsula  da  madeira,  in  mari  Océano 
sita,  consistenlem,  íundalam,  in  qua  vnus  vicarius,  frater  dicte  militie, 
et  nonnulli  beneficiali  presbiteri  seculares,  beneficia  ecelesiastica  porlio- 
nes  noncupala  obtinentes,  existebant,  in  chaledralem  ecclesiam  cum  sede 
ac  episcopali  et  capitulan  mensis,  aliisque  cathedralibus  insigniis  honori- 
bus  et  preeminentiis ;  ac  in  ea  vnum  decanatum,  qui  inibi  post  ponlifi- 
calem  maior  pro  vno  decano,  qui  curam  capituli  haberet,  et  vnum  ar- 
chidiaconatum  pro  vno  archidiácono,  necnon  vnam  cantoriam  pro  vno 
cantore,  et  unam  thesaurariam  pro  vno  thesaurario,  et  vnam  scholaslriam 
pro  vno  scholaslico,  non  maiores  post  ponlificalem  inibi  dignilales ;  nec- 
non duodecim  canonicatus  et  totidem  prebendas  pro  duodecim  canonicis, 
qui  cum  decano,  archidiácono,  cantore,  thesaurario,  et  scholastico  pre- 
falis  capitulum  ipsius  ecclesie  constituerent,  erexeral  et  instiluerat :  ipsi- 
que  ecclesie  do  funchal  omnia  et  singula  fructus,  reddilus,  prouentus  et 
emolumenta,  que  vicarius  deThomar  pro  tempore  existens  ex  iurisdictione 
et  vicaria  suppressa  huiusmodi  percipíebat ;  necnon  annuos  reddilus  quin- 
gentorum  ducatorum  auri  de  camera  ex  annuis  redditibus,  ad  ipsum  Ema- 
nuelem  regem  in  ipsa  Ínsula  da  madeira  spectantibus,  de  ipsius  Emanue- 
lis  regís  consensu,  necnon  pro  dignitatum  et  canonicatuum  ac  prebenda- 
ruin  predictorum  dote  bona  alias  diclis  beneficiis  pro  illorum  dote  assi- 
gnata,  perpetuo  applicaueral  et  appropriauerat :  ac  ciuitatem  prediclam 
pro  ciuitate,  necnon  illius  díslrictum  seu  terrítorium,  cum  predicla  da 
madeira  ac  ómnibus  alus  insulis,  terris,  prouintiis  et  locis  quibuscumque 
dicto  vicario  subiectis,  et  que  de  iure,  priuilegio  uel  indulto  apostólico 
tomo  ni.  43 


338  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

subiici  debebanl,  ac  castris  el  uillis  in  diclis  ¡nsuüs,  terris,  prouinciis,  et 
Iocis  consislenlibus  pro  diócesi ;  necnon  omnes  et  singulos  elencos  et  quo- 
rumuis  ordinum  religiosos  pro  clero,  incolasque  el  habitatores  ipsamm 
ciuitatis  et  diócesis  do  funchal  pro  populo,  concesserat  et  assignauerat :  ac 
ius  patronatus  et  presenlandi  Romano  pontiíici  pro  tempore  existen  ti  perso- 
nan! idoneam  ad  canden»  ecclesiam  funchalensem,  dum  illam  pro  tempore 
uacarc  contingeret,  prefalo  Emanueli,  et  pro  tempore  existenti  Portugallie 
et  Algarbiorum  regi,  ad  effectum  ut  eidem  ecclesie  de  persona  per  regem 
nominanda  huiusmodi  et  non  alias  per  eundem  Leonem  el  successores 
suos  prouideri  deberet ;  ad  dignitates  vero  ac  canonicatus  el  prebendas 
huiusmodi  pro  lempore  exislenli  magistro  dicte  mililie,  ad  quem  ius  pa- 
tronatus seu  presenlandi  ad  dicta  beneficia  dum  pro  tempore  \acabant  per- 
linebat ;  instilutionem  aulem  eidem  episcopo  funchalensi  pro  tempore  exis- 
tenti perpetuo  reseruauerat ;  ac  eidem  ecclesie  sic  erecle  ab  eius  primeua 
erectione  huiusmodi  tune  vacanti  de  persona  prefali  Didaci  dicta  auctori- 
tate  prouiderat,  preficiendo  ipsum  illi  in  episcopum  et  pastorem  :  Et  post- 
modum,  dicto  Didaco  episcopo  extra  Romanan»  Curian»  uita  fundo,  pie 
memorie  Clemens  papa  vn,  etiam  predecessor  nosler,  procurante  carissi- 
mo  in  christo  filio  nostro  Joanne,  moderno  Portugallie  et  Algarbiorum 
rege  illustri,  prefati  Emanuelis  nato  el  successore,  jdictam  ecclesiam  fun- 
chalensem, tune  per  eiusdem  Didaci  episcopi  obitum  huiusmodi  vacan- 
tem,  in  Metropolilanam,  aclndiarum,  necnon  omnium  el singularum. alias 
pro  illius  diócesi  assignatarum,  ac  ceterarum  temporalis  ditionis  Portu- 
gallie insularum,  prouinliarum  el  terrarum  nouarum,  ealcnus  reperlarum 
et  in  futurum  reperiendarum,  ac  ecclesiarum,  ciuitatum  el  diocesium  in 
eis  pro  tempore  erigendarum,  Primalialem  cum  archiepiscopali  ac  prima- 
tiali  dignitale,  preeminentia,  iurisdiclione,  superioritale,  auclorilate  et  cru- 
cis  delalione,  ac  alus  melropolilicis  et  primalialibus  insigniis  remanenti- 
bus  in  ea  dignitalibus  canonicatibus  et  prebendis,  ac  beneficiis  et  otíiciis, 
ceterisque  ómnibus  el  singulis  inibi  per  dictum  Leonem  predecessorem 
inslitutis  et  ordinatis,  de  fratrum  suorum,  de  quorum  numero  lunc  era- 
mus,  consilio,  eadem  auctoritate  simililer  erexerat  et  insliluerat ;  illi us— 
que  presulem  pro  lempore  exislentem  archiepiscopum,  necnon  indiarum 
et  insularum  ac  prouinliarum  et  terrarum  predictarum,  necnon  ecclesia- 
rum ciuilatum  et  diocesium  in  eis  pro  tempore  erigendarum  primatcm 
inslilueral  et  deputauernt,  ac  perpetuis  fuluris  temporibus  esse  volucrat : 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  339 

necnon  ¡n  tertia  in  illius  oppido  Dangra  '  nuncupato  sancli  Salualoris, 
sub  sancli  Salualoris,  necnon  in  sancli  Jacobi  do  Cabo  uerde  in  ea  parte, 
que  ribeira  grande  nuncupalur,  Sancli  Jacobi,  sub  eiusdem  Sancli  Ja- 
cobi do  cabo  uerde,  ac  in  sancli  Thome  beale  Marie  de  gratia,  sub  sanoli 
Thome,  necnon  in  de  Goa  nuncupatis  in  diclo  mari  Occeano  consislenti- 
bus  insulis,  que  ínter  alia  dicle  ecclesie  funchalensi  in  illius  ereclione  hu- 
iusmodi pro  eius  diócesi  assignale  fuerant,  sánele  Calherine  sub  eiusdem 
Sánete  Calherine  de  Goa  inuocationibus  parrochiales  in  cathedrales  eccle- 
sias,  cum  sede  el  episcopali  ac  capitulan  mensis,  ac  certis  dignitalibus, 
necnon  canonicalibus  el  prebendis,  aliisque  cathedralibus  insigniis  tune 
expressis,  ac  loca  seu  pagos,  in  quibus  ipse  parrochiales  ecclesie  consis- 
tebant,  in  ciuitates,  que  sancti  Saluatoris,  et  sancti  Jacobi  do  Cabo  Verde, 
ac  sancti  Thome,  necnon  sánele  Calherine  De  goa  respectiue  nuncuparen- 
tur,  similibus  consilio  et  auclorilate  etiam  erexerat  et  instituerat :  ac  post 
Humen  de  Canagala2  in  África,  prope  caput  seu  promonlorium  Viride, 
omnes  et  singulas  reliquas  térras  et  prouintias,  tam  in  Affrica  quam  in 
Asia  existentes,  ac  illis  predictas  et  alias  tune  expressas  adiacentes  Ínsu- 
las, antea  diócesis  funchalensis  huiusmodi,  cum  ómnibus  et  singulis  illa- 
rum  caslris,  villis  et  locis  ac  districlibus,  necnon  clero  et  populo,  perso- 
nis,  ecclesiis,  monasteriis,  hospitalibus,  et  alus  piis  locis  ac  beneficiis 
ecclesiasticis,  cum  cura  et  sine  cura,  secularibus,  et  quorumuis  ordinum 
regularibus,  ab  eadem  ecclesia  seu  archiepiscopali  Mensa  funchalense  per- 
petuo dismenbrauerat  et  separauerat :  ipsisque  sic  ereclis  ecclesiis  loca  seu 
pagos  sic  in  Ciuitates  erecta  seu  erectos  pro  earum  Ciuitatibus,  ac  ínsulas 
et  partes  terre  continentis  dismémbralas  huiusmodi  pro  singularum  earum- 
dem  districtibus  diocesibus  et  territoriis,  ac  omnes  et  singutos  clericos  et 
religiosos  pro  Clero,  Incolasque  et  habitatores  illarum  Ciuitatum  et  dio- 
cesium  pro  Populo,  respectiue  concesserat  et  assignauerat :  ac  diocesim 
funchalensem  per  diclum  flumen  de  Canagala,  et  alias  etiam  tune  expres- 
sas térras  et  ínsulas,  terminauerat  et  limitauerat:  ¡psique  funchalensi 
loco  huiusmodi,  et  aliorum  tune  ab  ea  dismembratorum,  fructuum  et  red- 
dituum  preter  Quingentorum  ducatorum  supradictorum  aliorum  Quingen- 
torum  ducatorum  auri  largofum,  Cruciatorum  nuncupalorum,  summam, 

•  Léase:  d'Angra 
z  Léase:  Senegal 

43* 


3Í0  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

adeo  quod  ¡llius  fructus  redditus  et  prouentus  ad  Mille  ducatorum  auri, 
Cruciatorum  nuncupatorum,  valorem  annuum  ascendant ;  ac  pro  illius 
decanatus  ac  reliquarum  Quatuor  dignitatum  huiusmodi,  necnon  Canoni- 
catuum  el  prebendarum  preter  eorum  antiquos  alios  tune  expressos  ube- 
riori  dote,  singuüs  vero  ex  sancti  Salualoris  ac  sancti  Jacobi  do  Cabo 
verde,  et  sancti  Thome,  necnon  sánete  Catherine  de  Coa  ecclesiis  pre- 
dictis sic  ereclis,  omnia  et  singula  redditus  et  emolumenta  episcopaüa, 
que  Episcopus  funchalensis  ex  Insulis  et  terris  separatis  huiusmodi  per- 
cipiebat  seu  percipere  poterat,  et  tam  ilÜs  quam  dignitatibus  ac  Cano- 
nicatibus  et  prebendis  predictis,  pro  illorum  eliam  dote,  cerlos  alios  etiam 
tune  expressos  annuos  fruclus,  redditus  et  prouentus  ex  annuis  reddi- 
tibus  ad  ipsum  Joannem  Regem  in  singuüs  ex  dictis  Insulis  perlinenti- 
bus,  de  ipsius  Joannis  Regis,  et  etiam  tune  dicte  Mililie  perpetui  Admi- 
nistraloris  in  speritualibus  et  temporalibus  per  sedem  aposlolicam  depu- 
tati,  expresso  consensu,  respectiue  perpetuo  applicauerat  et  appropria- 
uerat,  aliasque  et  alia  fecerat  disposueral  et  ordinauerat,  proul  in  singuüs 
nostris  inde  confectis  litleris,  cum  diclus  Clemens  predecessor,  antequam 
eius  littere  desuper  confecte  fuissent,  sicut  domino  placuit,  rebus  fuisset 
humanis  exemplus,  plenius  continelur :  Nos  huiusmodi  donalionibus  et 
dotationibus  ipsius  Joannis  Regis  et  Administraloris,  ac  alus  cerlis  iuslis 
suadentibus  causis,  superioritatem,  adminislrationem,  correplionem,  re- 
formalionem,  visitationem,  et  iurisdictionem,  eliam  Episcopalem,  quas  vi- 
carius  deThomar  pro  tempore  existens  ante  suppressionem  vicarie  huius- 
modi in  terris  et  locis  ecclesiis  ac  personis  in  regnis  Portugalüe,  tam  in 
Europa  quam  AíTrica,  habebat  seu  exercebat,  ac  omnia  et  singula  fru- 
ctus, redditus  et  prouentus,  iura,  obuentiones  et  emolumenta,  que  antea 
vicarius  predictus  inibi  percipiebat;  necnon  sánete  Marie  dos  Oliuaees, 
que  capul  ipsius  Conuentus  de  Thomar  existit,  et  sancti  Jacobi  de  San- 
tarem,  Vüxbonensis,  ac  Dalcacere  l  Tingencnsis  seu  Septensis  diócesis  in 
AíTrica,  omniaque  et  singula  alia  ecclesias,  vicarias,  Capellas  et  loca,  que 
vicario  ante  suppressionem  predictam,  et  post  eam  episcopo  funchalensi 
predictis  inibi  comodoübet  subiiciebantur,  cum  illorum  personis  quibus- 
cum(jue,  tam  regularibus  quam  secularibus  ab  ecclesia  seu  Mensa  Ar- 
chiepiscopali  et  funchalensi  huiusmodi,  ipsius  Joannis  Regis  et  Adminis- 

i  Léase:  d'Alcaccr 


RELAQOES  COM  A  CURIA  ROMANA  341 

tratoris  etiam  ad  id  accedente  consensu,  eadem  apostólica  auctoritate  le- 
nore  presentium  perpetuo  dismembramus  et  separamus,  illasque  et  illa 
conuenlui  eiusdem  Oppidi  de  Thomar,  qui  caput  dicte  Militie  existit,  cu- 
ius  ante  diclam  suppressionem  erant,  restiluimus  ac  perpetuo  applicamus 
et  appropriamus.  Et  nihilominus  quod  eiusdem  sánete  Marie  dos  Oliuaees, 
et  sancti  Jacobi  de  Sanlarem,  ac  Dalcacere  in  A  (Trica  prediclarum,  nec- 
non  ceterarum  ecclesiarum,  Vicariarum,  Capellarum  et  locorum  ac  Mem- 
brorum  eorundem,  et  illis  annexorum  ac  ¿ib  eis  dependentium  dismem- 
bratorum,  restilulorum  el  applicatorum  huiusmodi,  celeraque  fructus  red- 
ditus  et  prouenlus,  iura  obuentiones  et  emolumenta,  sic  ab  eadem  eccle- 
sia  funchalensi  dismémbrala  etdiclo  Conuentui  restituía  etapplicata,  prout 
necessar.ium  fuer  i  t,  in  fabricam  et  manutentionem  ipsius  Conuenlus,  ac 
illius  ecclesiarum,  vicariarum,  Capellarum,  locorum  ac  membrorum  et 
eis  annexorum  ac  ab  illis  dependentium  huiusmodi,  necnon  personarum 
inibi  altissimo  famulantium  ;  residuum  vero  in  conslrutionem  el  símiles 
sustentalionem  et  manutentionem  vnius  Hospitalis  in  dicto  Oppido  de  Tho- 
mar, sicul  accepimus,  plurimum  necessarii,  iuxta  prouidam  ordinatio- 
nem  et  dispositionem  ipsius  Joannis  Hegis,  et  pro  tempore  existenlis  dicte 
Militie  Magistri  seu  Administratoris,  desuper  pro  tempore  faciendam  con- 
uerli :  Quodque  idem  Joanncs  Rex,  et  pro  tempore  exislens  ipsius  Militie 
Magister  seu  Administrator,  loco  olim  vicarii  de  Thomar,  vnam  perso- 
nam  ydoneam,  dicte  vel  cuinsuis  alterius  Militie  aut  ordinis,  etiam  obser- 
nanlie  regularis,  que  Prior  de  Thomar  nuncupelur,  nominare  el  deputa- 
re,  seu  quotiens  sic  expedienlius  iudicauerit  eleclionem  eiusdem  persone 
eidem  conuentui  de  Thomar  relinquere,  ac  tune  el  eo  casu  ipse  Conuen- 
lus vnam  personam  in  Priorem  Conuenlus  de  Thomar  huiusmodi,  secun- 
dum  eiusdem  Conuentus  ordinationes  et  staluta  Capituli,  ac  de  Triennio 
ad  Triennium  eligere;  Et  nihilominus  idem  Joannes  Rex,  et  similiter  pro 
tempore  existens  ipsius  Militie  Magister  seu  Administrator,  personam  hu- 
iusmodi per  illum  sic  nominatam  aut  deputalam,  seu,  sicut  prefertur,  per 
dictum  Conuentum  in  Priorem  eleclam,  ad  ipsius  Joannis  Regis,  ac  Ma- 
gistri seu  Administraloris  similiter  pro  tempore  exislentis,  solum  nutum, 
totiens  quotiens  amouere,  ac  aliam  similem  vel  dissimilem  personam  loco 
amóte  in  Priorem  dicti  Conuentus  nominare  deputareque,  seu  in  similem 
ipsius  Conuentus  eleclionem  relinquere ;  Ac  etiam  tune  et  eo  casu  ipsi 
Conuentus  vnam  personam  in  Priorem  de  Thomar,  ut  prefertur,  eligere 


3i2  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

respecliue  dcbeant  ct  tcneantur:  quodque  dicta  persona,  sic  pro  tempore 
nomínala  etdeputata,  seu,  vt  prefertur,  electa,  nominalionis  et  depulatio- 
nis  seu  eleclionis  huiusmodi  vigore,  absque  alia  sibí  desnper  facienda 
concessione,  prouisione  seu  cohíirmalione,  ómnibus  et  singulis  gratiis, 
priuilegiis,  indultis,  concessionibus,  facultalibus,  superioritatibus,  admi- 
nistrationibus,  correctionibus,  reformationibus,  visilationibus,  el  iurisdi- 
tionibus,  etiam  Episcopalibus,  meris  et  mixtis,  quibus  ante  suppressionem 
prediclam  Vicarius  de  Thomar  pro  tempore  existens  de  iure,  previlegio 
v'el  consueludine  seu  alias  comodolibet  ulebatur,  potiebalur  et  gaudebat, 
ac  uti,  polín  el  gaudere  comodolibet  poterat  el  debebal,  utalur,  políalur 
et  gaudeal ;  ac  in  Ierras,  loca,  ecclesias,  Vicarias,  Capellas  ac  dictum 
Conuentum  et  eius  membra,  ac  illi  vel  illis  annexa,  et  ab  ea  vel  mem- 
bris  huiusmodi  dependenlia,  necnon  personas,  tam  seculares  quara  regu- 
lares, terre  Gontinentis  Regnorum  Porlugallie  huiusmodi  in  Europa  el 
Aííiica,  in  quibus  Vicarius  pro  tempore  existens  ante  suppressionem  hu- 
iusmodi superioritalem,  administrationem,  correclionem,  reformationem, 
visilationem  el  iurisdiclionem  habcre  et  exercere  consueuerat,  easdem  su- 
perioritatem,  administrationem,  correclionem,  reformationem,  visilationem 
el  iurisdiclionem,  eliam  Episcopalem,  celeraque  omnia  et  angula  alia  ad 
oífilium  Vicarii  de  Thomar  ante  eandem  suppressionem  comodolibet  per- 
tinentia,  et  que  ad  ipsum  olfitium  pro  tempore  pertinebunl  in  res  ac  per- 
sonas ac  in  ómnibus  et  per  omnia,  etiam  in  vtroque  foro,  habeat  et  exer- 
ceat  ac  habere  (sic)  necnon  per  se  vel  alium  seu  alios  loco  sui  pro  tempore 
deputandum  seu  deputandos,  ac  prout  uidebitur  amouendum  seu  amouen- 
dos  exercere ;  necnon  in  ecclesiis,  vicariis,  Capellis,  locis  ac  membris  an- 
nexis  et  dependentiis  supradictis  personas  seu  capellanos  depulare,  qui 
depulationis  huiusmodi  vigore  curam  animarum  parrochianorum  eorun- 
dem  gerere,  ac  illis  ecclesiastica  sacramenta  ministrare  et  diuina  oííicia 
celebrare  debeant,  ac  personas  et  capellanos  prefatos  ad  residenliam  per- 
sonalem  in  singulis  ecclesiis,  Capellis,  locis  membris  annexis  et  depen- 
dentiis huiusmodi  faciendam  cogeré  et  competiere  :  Necnon  fralres  in  eodem 
Conuenlu  de  Thomar  pro  tempore  professos,  a  quibusuis,  eliam  maioris 
excommunicalionis,  suspensionis  et  interdicli,  aliisque  ecclesiasticis  sen- 
lentiis,  censuris  et  penis,  a  iure  vel  ab  nomine,  quanis  occasione  vel 
causa  pro  tempore  lalis,  in  quibus  etiam  pro  tempore  irretiti  fuerint,  etiam 
si  illorum  absolulio  sedi  apostolice  spetialiter  vel  generaliler  reseruata 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  343 

fueril ;  necnon  a  quibusuis  etiam  Symonie  labe  in  ordinibus  vel  benefi- 
ciis  incurse,  et  alus  excessibus  et  delictis  quanlumcunque  grauibus  et 
enormibus,  etiam  in  casibus  sedi  prcdicle  reseruatis,  exceptis  conlenlis  in 
litteris  in  Die  Cene  domini  legi  consuetis,  per  eos  lam  anle  quam  posl  in- 
gressum  ipsius  Conuenlus  pro  tcmpore  commissis,  absoluere :  ac  cum  eis 
su  per  quacunque  irregularilale,  prelerquam  homicidii  volunlarii  per  eos 
quomodolibet  pro  tempore  contracta,  etiam  ad  hoc  ut  ad  omnes  etiam  sa- 
cros et  presbiteratos  ordines  prornoueri,  et  in  illis  promoti,  ac  etiam  in 
ómnibus  per  eos  iam  susceptis  ordinibus,  etiam  in  Altaris  ministerio  mi- 
nistrare possinl  dispensare :  ipsosque  professos  per  quencumque  Calholi- 
cum  Anlislilem  graliam  et  communionem  dicte  sedis  habenlcm  ad  mino- 
res et  omnes  etiam  sacros  subdiaconatus  et  diaconatus,  ac  in  vigésimo  se- 
cundo sue  etalis  anno  constituios,  alias  tamen  ad  hoc  idóneos,  quoliens 
id  pro  Missis  inibi  celebrandis  expediré  viderit,  iuxta  eius  discretionem, 
ad  presbileratus  ordines,  absque  alia  dispensatione  vel  examinatione,  aut 
Ordinarii  loci  in  quo  iidem  Anlisliles  fuerint  licentia,  etiam  extra  témpora 
a  iure  slatuta,  aliquo  fesliuo  die  in  quocunque  Monasterio  vel  quacun- 
que ecclesia  alias  rile  prornoueri  faceré :  ipsaque  persona  in  Priorem,  ut 
perfertur,  pro  lempore  nomínala  depulata  seu  electa  ut  aliquem  presbi- 
lerum  secularem  seu  dicti  vel  cuiusuis  alterius  ordinis  regularen),  qui 
eam  simili  modo  absoluere  ac  cum  ea  dispensare,  dicloque  Antistiti  ut 
professos  prefalos  ad  ordines  predictos,  ut  preferlur,  promouere,  ét  ipsis 
professis  ut  illos  recipere  libere  et  licite  possint  et  valeanl,  eisdem  aucto- 
rilale  et  tenore  concedimus  el  indulgemus,  ac  perpetuo  slatuimus  et  or- 
dinamus.  Et  nihilomiuus  personam  sic  in  Priorem  pro  tempore  nomina- 
tam  depulalam  seu  eleclnm   huiusmodi,  el  alias  ipsius  iurisdictionis  et 
administrationis,  ac  etiam  dicti  Conuenlus  deThomar  seculares  et  regu- 
lares personas  quascunque  ac  olim  vicarii,  necnon  persone  huiusmodi 
eius  loco  in  priorem  deThomar,  ut  prefertur,  nominande,  depulande  seu 
eligende  prediclas  superiorilalem,  administrationem,  correclionem,  refor- 
mationem  et  iurisdiclionem  ;  necnon  ecclesias,  Vicarias,  Capellas,  membra 
annexa  et  dependen'ia  el  alia  pia  loca  ac  illorum  bona  el  illa  pro  tem- 
pore obtinenles  in  Regnis  Porlugallie  et  partibus  Europe  et  Africe  huius- 
modi ab  omni  superioritale,  administratione,  correclione,   reformalione, 
visilaíione,  et  iurisdictione  Archiepiscopi  funchal.ensis  pro  tempore  exis- 
tentis,  eiusdem  Joannis  Regís  et  administraloris  etiam  ad  hoc  accedenle 


341  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

consensu,  similibus  auctoritate  el.  tenore  perpetuo  eximimus  el  nobis  ct 
sedi  predicte  immediate  subiicimus  et  submillimus,  irritumque  decerni- 
mus  et  inane  si  secus  super  hiis  a  quoquam  quauis  auctoritate,  scienter 
vel  ignoranler,  conligerit  altemptari.  El  insuper  Venerabili  fratri  Episcopo 
Cacertanensi,  ac  dilectis  filiis  Vlixbonensi  et  Elborensi  Ofíiciaübus  per 
apostólica  scripta  mandamus  qualinus  ipsi,  vel  dúo  aut  vnus  eorum,  per 
se  uel  alium  seu  alios,  auctoritate  noslra  faciant  presentes  lilteras  et  in 
eis  contenta  quecunque  plenum  eífeclum  sortiri  ac  perpetuo  inuiolabililer 
obseruari,  Illisque  dictura  Joannem,  ac  pro  tempore  existenlem  dicte  Mi- 
litie  Magistrum  seu  Adminislratorem,  necnon  personan)  in  Priorem  de 
Thomar  sic  pro  tempore  nominandam  depulalam  seu  eleclam  pacifice  fruí 
et  gaudere,  nec  permiltant  quemquara  contra  illarum  tenorem  comodoli- 
bet  moleslari  impidiri  aut  inquielari,  Contradictores  per  censuram  eccle- 
siaslicam,  appellatione  poslposita,  compescendo,  Inuocato  eliam  ad  hoc, 
si  opus  fuerit,  auxilio  brachii  secularis.  Non  obstantibus  premissis  ac 
apostolicis  Constilutionibus  et  ordinationibus,  necnon  ecclesie  funchalen- 
sis  ac  Militie  et  ordinis  prediclorum  iuramento,  confirmatione  apostólica, 
vel  quauis  firmitale  alia  roboratis,  slaiutis  et  consuetudinibus,  slabelimen- 
lis,  vsibus  et  naturis,  Privilegiis  quoque,  indullis  et  litleris  apostolicis 
illis  ac  illorum  superioribus,  necnon  per  felicis  recordationis  Joannem  pa- 
pam  xxn,  eliam  predecessorem  nostrum,  Monasterio  Dalcobaca  '  Cislertien- 
sis  ordinis,  Vlixbonensis  diócesis,  seu  illius  Abbati  aut  Commendatario  pro 
tempore  existenli  super  ipsius  Conuentus  de  Thomar  visitalionem  et  re- 
formalionem,  ac  quibusuis  alus  locis  el  personis  in  genere  vel  in  specie  ac 
alias  comodolibet  et  sub  quibuscunque  lenoribus  et  formis,  necnon  cum 
quibusuis,  etiam  derogatoriarum  derogatoriis,  aliisque  eííicatioribus  et  in- 
solitis  clausulis  ac  irrilantibus  el  alus  decretis,  eliam  iteratis  vicibus  con- 
cessis,  approbatis  et  innoualis,  eliam  si  de  illis  eorumque  totis  tenoribus 
spelialis,  specifica  et  indiuidua  ac  expressa  et  de  verbo  ad  verbum,  non 
aulem  per  clausulas  generales  idem  importantes  mentio,  seu  queuis  alia 
expressio  habenda  aut  aliqua  alia  exquisita  forma  ad  hoc  seruanda  foret, 
tenores  huiusmodi  ac  illorum  concessionum  causas  pro  plene  et  suíücien- 
ler  expressis  habenles,  quibus  /¿ac  vice  spetialiter  et  expresse  derogamus 
ceterisque  contrariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceal 

1  Léase:  d'Alcobaca 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  345 

hanc  paginam  noslre  concessionis,  indulli,  slatuli,  ordinationis,  exem- 
ptionis,  subiectionis,  decreti,  mandati,  el  derogationis  infringere,  vel  ei 
ausu  temerario  c-onlraire.  Siquis  aulem  hoc  attemptare  presumpseril  in- 
dignationem  omnipotenlis  dei,  ac  beatorum  Petri  et  Pauli  Aposlolorum 
eius,  se  nouerit  incursurum. 

Dalum  Rome,  apud  Sanctum  Marcum,  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quin#£/tlesimo  trigésimo  sexto,   Oclauo  kalendas  Septembris, 
'  Pontificatus  nostri  Anno  secundo1. 


Breve  da  Penitenciaria  Apostólica. 


1536 — Setembro  5. 


Venerabili  in  christo  patri  dei  gralia  Episcopo  Lamacensi,  et  Dis- 
creto viro  Officiali  Elborensi,  Antonius,  miseralione  diuina  tituli  sánelo- 
rum  Quattuor  Goronalorum  presbiter  Cardinalis,  Salutem  et  sinceran)  in 
domino  charitalem. 

Ex  parle  Serenissimi  Johannis,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regis  II- 
luslris,  nobis  óblala  pelitio  continebat  Quod  alias  ipse,  prouide  conside- 
rans  Ciuilalem  Elborensem,  que  de  principalioribus  Regni  Portugallie 
existit,  magnam  aque  penuriam,  preserlim  pro  polu  hominum,  pati,  ex 
nonnullis  fontibus  ab  eadem  Giuilate  per  Tres  Leucas  et  "vllra  distanlibus, 
máxima  cum  impensa,  magnam  aque  quantilatem  ad  bibendum  optimam 
vsque  ad  muros  dicle  Ciuilalis  per  aqueductus  CQnduci  fecit;  et  vi  ho- 
mines  tam  dicle  Ciuilalis  quam  forenses,  qui  ad  eandem  confluunt,  com- 
modius  possint  dicta  aqua  vti  et  frui,  ordinauit  quod  ea  vsque  ad  pla- 
tean), que  est  in  medio  dicte  Ciuilatis  prope  parrocbialem  ecclesiam  san- 
cti  Antonii,  conduceretur,  quem  locum  ad  vsum  communem  dicle  aque 
magis  conuenienlem  et  ydoneum  iudicauit,  vbi  caslellum,  ex  quo  fluat 
aqua  in  quendam  Craterem,  quem  vulgo  chafariz  appellant,  edifican  ius- 
sit,  pro  cuius  opere  et  edificio  necesse  fuit  cimiterium  ac  quandam  par- 
uam  Capellán)  el  Sacristiam  dicte  ecclesie  oceupari,  Cappellamque  et  Sa- 

1  Em  publica  forma  de  5  de  Maio  de  1539  no  Arch.  Nao.,  Mac.  7  de  Bullas  n.°  9. 
TOMO   III.  44 


346  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

cristiam  huiusmodi  demoliri,  prout  de  Ioci  ordinarü  ac  clericorum  dicte 
ecclesie  consensu  fieri  ceplum  seu  ad  presens  iam  factum  exislit,  cons- 
truclis  seu  construí  ceplis  ex  alio  laíere  alia  Capella  el  Sacristía  maiori- 
bus  el  melioribus,  seu  propediem  construendís.  Cum  autem,  sicul  eadem 
subiungebat  petiiio,  prelibatus  Serenissimus  Rex,  ex  eo  quod  occupalio- 
nem  el  demolilionem  el  ediíicium  huiusmodi  absque  sedis  apostolice  1¡- 
centia  fieri  fecit,  aliquas  senlenlias,  censuras  et  penas  incurrisse  dubitet, 
Cupiantque  lana  ipse  quam  alií,  quí  in  oceupatione  demolitione  ac  edificio 
prefatis  quoquomodo  inleruenerunt,  ab  huiusmodi  sententiis  censuris  et 
penis,  si  eisdem  innodali  existunt,  absolui,  ac  oceupalioncm  demolilro- 
nem  el  edifieia  huiusmodi  facía  et  fienda  apostólica  auctoritate  confirman, 
suppücari  fecit  humililer  idem  exponens  sibi  super  his  per  sedem  aposlo- 
licam  de  absolulionis  debite  beneficio  et  opportune  dispensationis  gratia 
mizericordiler  prouideri.  Nos  igitur  Auctoritate  domini  pape,  cuius  peni- 
tentiarie  curam  gerimus,  Et  de  eius  speciali  mandato  super  hoc  viue  vo- 
cis  oráculo  nobis  fado,  Circunspectioni  vestre  et  cuilibet  veslrum  commit- 
timus  quatenus,  si  est  ila,  exponentem  prefalum  ac  omnes  alios,  qui  in 
oceupatione  demolitione  ac  edificio  prefatis  quomodolibet  inleruenerunt,  seu 
consilium  opern  et  auxilium  dederunt,  a  quibusuis  sententiis  censuris  et 
penis,  quas  propler  premissa  quomodolibet  incurrerunl,  absolualis  hac 
vice  in  forma  ecclesie  consuela,  Iniuncta  inde  sibi  pro  modo  culpe  peni- 
lentia  salutari,  et  alus  que  de  iure  fuerint  iniungenda,  Demum  oceupa- 
tionem  demolitionem  ac  edificia  predicta  facta  et  fienda  apostólica  aucto- 
ritate confirmetis  el  approbelis,  Supplentes  omnes  et  singulos  lam  iuris 
quam  facli  defectus,  si  qui  forsan  in  eis  interuenerint :  Non  obslantibus 
premissis,  ac  conslitulionibus  et  ordinationibus  apostolicis,  Celerisque 
conlrariis  quibuscunque. 

Dalum  Rome,  apud  Sanctum  petrum,  sub  sigillo  officii  penilentia- 
rie,  Nonas  Septembris,  Ponlificatus  domini  Pauli  pape  m  Anno  Secun- 
do l. 


Arch.  Nac,  Mar..  32  de  Bullas  n.°  17. 


RELACÜES  COiM  A  CURIA  ROMANA  347 

Breve  do  Papa  Paulo  III,  dirigido  a  el-Rei. 

I53G  —  Dezembro  « l . 


Paulus  Tapa  ni  Charissime  in  christo  fili  noster  salutem  el  aposto- 
licam  benediclionem. 

Preler  eam  curam  indiclionis  generalis  Concilii  particularius  in  tuis 
Regnis  significandae,  quam  dilecto  Glio  Magistro  Hieronymo  Ricenati,  Se- 
dis  aposlolicae  prolhonotario  et  Nuntio  ad  te  nostro,  demandauimus,  Su- 
per  qua  re  seorsum  alias  Hileras  ei  ad  Maieslalem  tuam  dedimus,  etiam 
nonnulla  alia  ipsi  Hieronymo  Nunlio  commisimus  noslro  nomine  luae  Ma- 
ieslali  referenda,  sicul  ex  eo  diffusius  lúa  Maieslas  intelliget.  Quem  qui- 
dem,  elsi  mullo  antea  mittere  istuc  statueramus,  tamen  bellorum  impedi- 
mentis  Iransitum  eius  prohibentibus  hucusque  retiñere  coacli  sumus.  Hor- 
lamur  igitur  illam  in  Domino  ul  ipsius  Hieronymi  Nuntii  uerbis  nunc  et 
deinceps  quolienscunque  tuam  Maieslatem  ex  parte  nostra  alloquetur,  haud 
aliam  fidem  habere  uelis  quam  si  nos  ipsi  presentes  cum  Maieslale  tua 
colloqueremur. 

Datum  Romae,  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die 
xxiin  Decembris,  mdxxxvi  Pontificatus  nostri  Anno  Terlio  —  Blosius1. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 


1536  —  Dezembro  34 , 


Paulus  Papa  m  Charissime  in  Christo  fili  noster  salutem  el  apos- 
lolicam  benedictionem. 

Licet  quemadmodum  luae  serenitali  iam  innoluisse  potuit  aecume- 
nicum  vniuersale  et  genérale  concilium,  de  fratrum  nostrorum  consilio 

1  Arch.  Nac,  Maco  25  de  Bullas  n.°  48. 


318  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

el  assensu,  ¡ndixerimus  ct  publicauerimus  in  ciyitate  Manluae  celebrán- 
dolo, et  xxm  Maii  proxime  futuri  incohandum,  ipsamque  indictionem  et 
publicalionem  Romae  faclam  sufficere  sciamus ;  Tamen  illa  non  conlcnli 
Nunlios  noslros  per  omnia  christianilatis  Regna  cum  exemplis  Bullarum 
ipsius  indiclionis  destinandos  duximus,  quo  certior  ac  plenior  rei  nolilia 
a  cunctis  habeatur :  ad  luam  uero  serenitatem  ac  Regni  tui  prelalos  Di- 
lectum  filium  Hieronymum  Ricenalum,  sedis  apostolicae  prolhonolarium, 
presentium  latorem,  Nunlium  noslrum,  virum  nobis  doctrina  probitate 
et  nobililate  sua  ualde  charum  et  probalum,  cum  ipsis  exemplis  desti- 
namus.  Hortamur  igitur  serenilalem  tuam  in  domino,  quamquam  lúa  pie- 
tas  hortatione  non  egit,  vt  el  ipsum  Nunlium  noslrum  rem  lam  salula- 
rem  afferentem  benigne  ipse  excipere,  et  lo  ipse  quod  mallemus,  aut 
sallem  per  solennes  oratores  luos  congruo  tempore  eidem  concilio  in  dicta 
ciuitate  Manluae  interesse,  vtque  praelali  lui  Regni  personaliler  inter- 
sint,  eíficere  uelis,  iuxla  ipsius  Bullae  indiclionis  conlinenliam,  sicut  pro 
certo  habemus  tuam  serenitatem  pro  oplimi  ac  pientissimi  principis  o(íi- 
cio  esse  factura m. 

Dalom  Romae,  apud  sanclum  Pelrum,  sub  annulo  piscaloris,  Dio 
xxm  Decembris,  mdxxxvi,  Pontificalus  Nostri  Anno  Tertio. — Blosius  \ 


Breve  do  Papa  Paulo  III 
dirigido  a  Jeronymo  Rieeiíati  Capodiferro. 

1539      Janeiro  O. 


Paulus  Papa  m  Dilecle  fili  salutem  et  apostolicam  bcncdiclionem. 

Cum  nos  le  ad  charissimum  in  christo  filium  noslrum  Johannem, 
Porlugallie  et  Algarbiorum  Regem  illustrem,  necnon  vniuersam  Portu- 
ga'liam,  noslrum  et  apostolice  sedis  cum  poleslate  legati  de  laíere  nun- 
tium  duxerimus  destinandum,  vlque  erga  personas  ad  te  recurrentes,  ac 
familiares  tuos  continuos  comensales  te  posses  reddere  gratiosum,  non- 

1  Arch.  Nac,  Mac.  25  de  Bullas  n.°  52.  O  nuncio  só  veiu  a  partir  ero  fevereiro  do 
anno  seguinte.  Vide  adiante  o  breve  de  7  e  as  instruccoes  de  47  d'esse  mez. 


RELACOES  COiM  A  CURIA  ROMANA  349 

nullas  facultates  tibi  concesserimus :  Nos,  qui  contra  de  heresi  ac  a  fide 
aposlasia  suspectos  inquirendi  et  culpabiles  reperlos  puniendi  cerlis  per- 
sonis  in  partibus  illis  concessimus  facullatem,  volentes  ut  forma  facultatis 
huiusmodi  seruetur,  et  negocium  hoc  iuslo  et  absque  alicuius  ¡nimia  pro- 
cedat,  tibi,  de  cuius  doctrina,  probilate  et  integritate  nobis  notis  plurimum 
confidimus,  ut  de  quibuscunque  causis  hereses  et  a  fide  catholica  apos- 
tasias  et  siue  blasferniam  sapientibus,  tam  ex  mero  tuo  officio,  quam 
per  uiam  simplicis  querele  et  appellalionis,  a  quibuscumque  inquisitori- 
bus  et  alus  iudicibus,  etiam  a  sede  apostólica  delegalis  uel  subdelegalis, 
ad  ipsam  sedem  pro  tempore  inlerposite,  uel  alias  ad  te  quomodocumque 
delatis  in  quacumque  inslantia,  iuxla  facullatem  diclis  inquisiloribus  con- 
cessam,  uel  formam  a  sacris  canonibus  inlroductam,  etiam  solus  cognos- 
cere,  causasque  ipsas  coram  quibuscumque,  etiam  coram  inquisilore  ma- 
iori,  forsan  pro  tempore  pendentes,  in  quocumque  slatu  fuerint,  ipsum 
statum  omniumque  aliorum  generaliter  uel  speciatiler  narrandorum  teno- 
res et  compendia  pro  sufficienter  expressis  habendo,  ad  le  auocare  el  ad 
te  auocatos,  una  cum  ómnibus  et  singulis  incidentibus,  dependentibus, 
emergentibus,  anexis  et  conexis,  similiter  cognoscere  et  fine  debito  termi- 
nare, ac  innocentes  absoluere,  culpabiles  uero  debilis  penis  puniré;  ipsis- 
que  inquisiloribus  et  alus  iudicibus,  etiam  sub  priualionis  beneficiorum 
ecclesiaslicorum,  et  alus  etiam  pecuniariis  penis  ipso  fado  incurrendis, 
inhibere,  inhibitionesque  huiusmodi,  ac  quascumque  cilaliones,  quando 
lulo  in  personas  fieri  non  possent,  per  ediclum  publicum  exequi,  omnia- 
que  el  singula  alia  in  premissls  et  circa  ea  necessaria  seu  quomodolibet 
opporluna,  faceré  possis  et  ualeas,  auctoritate  apostólica  plenam  tibi  per 
presentes  concedimus  facultalem.  Tibi  nihilhominus  in  uirlute  sánele  obe- 
diente et  sub  indignalionis  nostre  pena  mandantes  ut  ad  te  tam  per  uiam 
appellalionis  etiam  ab  interloculoriis  uim  diffinitiue  habentibus,  quam  per 
uiam  querele  recurrenlium  causas,  ut  perferlur,  audias,  cognoscas  et  ter- 
mines. Non  obstantibus  quibuscunque  litterisapostolicis,  etiam  sub  plumbo, 
etiam  super  inquisilione  herelice  prauitatis,  ac  priuilegiis  et  indultis  apos- 
lolicis  quibusuis  personis,  etiam  cuiuscumque  dignitatis  exislentibus,  sub 
quibuscumque  tenoribus  el  formis,  ac  cum  quibusuis  clausulis  et  decre- 
tis,  etiam  irritantibus,  eliam  per  nos,  etiam  ex  quibusuis  causis  de  qua- 
uis  etiam  Regia  consideralione,  aul  motu  proprio,  ac  alias  quomodolibet 
concessis  et  approbaíis,  quibus  ómnibus  illorum  lenores  formas  et  efi'eclus, 


350  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ac  si  do  verbo  ad  verbum  nihil  penitus  omisso  inserti  forent,  presentibus 
pro  suííicienler  exprcssis  habenles,  quoad  premissa  specialiler  el  expresse 
derogamos,  eelerisquc  contrariis  qoibuscunque. 

Datum  Home,  apud  Sanclum  Petrum,  sub  anulo  pisoaloris,  die  vitn 
Januarii,  ponliíicalus  noslri  Anno  lerlio.  —  Blosius  l. 


Breve  da  Penitenciaria  Aposto! lea. 

153*—  Janeiro  29. 


Anlonius,  miseratione  diuina  tituli  sanctorum  Quattuor  Coronatorum 
presbiler  Cardinalis,  Dilectis  in  christo  llluslribns  Oduardo,  Infanli  Por- 
tugallie,  filio  clare  memorie  domini  Emanuelis,  Regis  Porlugallie  et  Al- 
garbiorum,  ac  fralri  germano  Serenissimi  domini  Johannis,  Moderni  Por- 
tugallie  et  Algarbiorum  Regis,  necnon  Isabelle,  filie  quondam  Jacobi,  Du- 
cis  Braganlie,  ac  sorori  Theodosii,  Moderni  Ducis  Bragantie,  mulieri, 
Salulem  in  domino. 

Ex  parle  vestra  fuit  proposilum  coram  nobis  Quod  vos,  cum  quibus 
dudum  vt,  Terlio  et  Duplici  Quarto  vel  vlleriori  aut  remoliori  gradibus 
Consanguinitalis,  quibus  inuicem  estis  coniuncti,  non  obslanlibus,  matri- 
monium  intcr  vos  contrahere,  et  in  eo  postmodum  licite  remanere  possi- 
tis,  apostólica  fuit  auclorilate  dispensalum  seu  dispensan  mandatum,  prout 
in  literis  aposlolicis  desuper  expeditis  latius  dicitur  contineri,  desideratis, 
pro  eo  quod  témpora  ad  id  a  Jure  statuta  commode  expectare  non  vale- 
lis,  matrimonium  huiusmodi  quadragesimale  vel  alio  quocunque  Anni 
lempore,  etiam  a  Jure  prohibito,  contrahere,  illudque  in  facie  sánele  ma- 
tris  ecclcsie  solennizare,  Super  quibus  supplicari  fecistis  humililer  vobis 
per  sedem  apostolicam  de  opportuno  remedio  misericordiler  prouideri. 
Nos  igitur  Auctorilate  domini  pape,  cuius  penitenliarie  curam  gerimus, 
Et  de  cius  speciali  et  expresso  mandato  super  hoc  viue  vocis  oráculo  no- 
bis fado,  vobis  vt  matrimonium  inler  vos  quadragesimali,  vel  alio  quo- 

1  Transumpto  authentico  no  procetso  de  Ayres  Vas.  Arch.  Nac.  Inquisicao  de  Lis- 
boa, Processo  n.°  13:  186. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  351 

cunque  anni  tempore,  et  extra  témpora  ad  id  a  Jure  vel  alias  requisita 
contrahere,  illudque  in  facie  ecclesie  solemnizare  et  in  eo  poslmodum  re- 
manere,  libere  et  licite  possitis  et  valeatis,  lenore  presentium,  alio  vobis 
non  obstante  canónico  impedimento,  licentiam  impartimur  ac  vobiscum 
misericorditer  dispensamus.  Non  obstantibus  aposlolicis  ac  in  Prouincia- 
libus  et  Synodalibus  Conciliis  edilis  generalibus  vel  specialibus  Conslitu- 
lionibus  et  ordinationibus,  Ceterisqne  conlrariis  quibuscunque. 

Dalum  Rome,  apud  Sanctum  Petrum,  sub  sigillo  olíicii  penitentia- 
rie,  vi  kalendas  Februarii,  Pontificatus  domini  Pauli  pape  ni  Anno 
Terlio1. 


Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  a  el-Rei. 


1539  — Janeiro  31. 


Senhor.  —  Ho  Cardeal  Santiqualro  me  avisou,  pouco  antes  d  escre- 
ver  esta,  como  ho  papa  lhe  mandara  que  escreuesse  a  Vossa  Alteza  so- 
bre as  decimas,  E  que  Sua  Sanlidade  espedia  huum  a  ysso.  A  isto  nao 
tenho  que  escreuer  mais  que  o  que  disse  ñas  outras,  quando  ho  fiz  saber 
a  Vossa  Alteza,  e  mais  pois  se  diz  que  ho  embaixador,  que  emuia,  vena 
instrulo  asy  pera  isto  como  pera  as  outras  cousas.  Nem  a  pressa  do  Car- 
deal me  dá  vagar  pera  mais  que  cerrar  esta,  e  emuiar  Iha  pera  a  meter 
no  seu  maco :  e  com  ella  emvio  os  capítulos,  que  aqui  enuiou  ho  nun- 
cio do  papa  que  está  em  franca,  antre  ho  rey  della  e  o  Emperador. 

De  Roma,  ho  deradeiro  de  Janeiro,  1537.  —  Pero  de  sonsa  de  la- 
uora2. 


1  Arch.  Nac.  Mae.  34  de  Bullas,  n.°  32. 

2  íbid.,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  58,  Doc.  43. 


352  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rci. 


1537 —  Fevereir©  *. 


Charissime,  etiam  (sic)  superiori  anno,  sicul  Maiestas  tua  novit,  ad 
eius  preces  Inquisitionem  generalem  contra  haereticos  tui  Regni  concessi- 
mus,  idque  libenter  fecimus  spernnles  inde  absque  iusla  alicuius  quaerela 
Dei  honorem  ac  Religionis  nostrae  propagationem  subsequuluram  ;  Verum 
assiduis  quaerelis,  sen  potius  lacrymis,  necnon  Chrislianorum  dicti  tui  Re- 
gni moti,  non  potuimus  eos  non  audire,  licel  (?)  ante  argumenta  et  lalio- 
nes,  quas  notiiler  nobis  adduxerunt,  talia  sint  ut  mérito  súbito  remedio 
dignae  viderentur :  ut  lamen  Maieslali  tuae,  ut  consueuimus,  paternum 
noslrum  animum  ostenderemus,  remedium  huiusmodi  quousque  a  nobis 
deferendum  esse  decernimus  quoad  dilectus  filius  Hieronymus  Recenali, 
nuntius  noster,  ad  xWaiestatem  tuam  perueniat,  cum  (cui?)  omnia  tibi  latis- 
sime  ex  parte  nostra  referenda  commisimus :  freti  itaque  bonitate  tuae  Ma- 
iestatis,  speranlesque  eam  in  his,  quae  Dei  honorem  et  justitiam  ac  Chris- 
tianam  pietatem  concernunt,  facile  nobiscum  concursuram,  omnia  in  lem- 
pus  communicationis  per  diclum  Nuntium  cum  Maieslate  tua  facienda 
reseruanda  duximus.  Horlamur  itaque  illam  ut  dicti  Hieronymi  Nunlii 
verbis  plenam  fidem  habere,  et  in  hoc  Dei  justitiae,  ac  nostro  et  tuo  ho- 
nore  consulere  nobiscum  velit,  sicut  in  ea  speramus. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  7 
februarii  1537,  Auno  3.°  —  Blosius1. 


1  Copiaría  Bibuotbkca  d'Ajüda,  Symmicta,  Tom.  32,  íol.  65. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  353 


Ore  ve  do  Papa  Paulo  III  dirigido 
ao  Cardeal  de  Portugal. 

1539  —  Fevereiro  1. 


Dilecte  fili  noster  salulem. 

Dileclus  filius  Hieronymus  Ricenati,  nuntius  noster,  inter  caetera, 
quae  circumspectioni  tuae  ex  parte  nostra  referet,  dicet  etiam  nonnulla 
ad  causam  novorum  christianorum  islorum  Regnorum  spectantia,  super 
quibus  hortamur  ut  eidem  nuntio  fidem  adhibere  et  ipsum  in  hoc  tua  au- 
ctoritate  apud  Serenissimum  fratrem  tuura  juuare  uelis. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  Pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  7 
Februarii,  millesimo  quingentésimo  Irigesimo  séptimo,  Pontificatus  nostri 
anno  3.°  —  Blosius1. 


Ore  ve  do  papa  Paulo  III  dirigido 
ao  nuncio  Rieenati. 

1539  —  Fevereiro  9, 


Dilecte  fili  salulem. 

Quoniam  in  negotio  Inquisilionis,  contra  haereticos  Regnorum  Por- 
lugalliae  et  Algarbiorum  per  nos  concessae,  nonnulla  ad  rem  ipsam  spe- 
clantia  charissimo  in  Christo  filio  nostro  Joanni,  dictorum   Regnorum 

Regi,  per  te volumus,  quae  tibi  coram  diximus,  ut  ipsa 

Inquisilio  rite  et  rede  procedal  et  fiat ;  nos  nedum  de  his  ages  in  nego- 
tio huiusmodi  aliter  quam  mentís  nostrae  sit  procedatur  prouidere  volen- 
les,  tibi,  si  Inquisitores  el  alii  ofíiciales  super  negotio  huiusmodi  depu- 

1  Copia  na  Bibliotheca  d'Ajuda.  Symmicla,  Tom.  32,  fol.  66  v.  Accnscenta :  Si- 
milem  dilecto  filio  nobili  viro  Aloysio  Infanti  Portugalliae. 

TOMO  III.  i-rj 


354  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tati  a  te  super  generaü  vel  speciaü  supersedilione  requisili  supersedere, 
aut  te  ad  processus  faciendos  admitiere,  seu  alias  in  hoc  negalio  concur- 
rentibus  mandalis  tuis  obedire  noluerint,  dictam  Inquisitionem  auctorilale 
nostra  et  ad  noslrum  beneplaciturn  etiam  in  genere  suspendendi,  omnia- 
que  et  singula  alia  in  praemissis  el  circa  ea  necessaria  seu  quomodolibet 
opportuna  coniunclim  et  separalim  faciendi,  plenam  per  praesenles  con- 
cedimus  facultalem :  non  obstanlibus  litteris  nostris  super  dicta  Inquisi- 
tione  expeditis,  caeterisque  contrariis  quibuscunque. 

Dalum  Romae,  apud  Sanctum  Petrum,  sub  annulo  Piscatoris,  die 
séptima  februarii,  millesimo  quingentésimo  trigésimo  séptimo.  —  Blosius  '. 


Instruecftes  ao  nuncio  Ricenati. 

ORDO  TENENDUS   A  R.    D.    NUNTIO  IN  REGNO  PORTUGALLIAE 
QUOAD  MERA  SÍ   EXEQUÜTIONEM. 

Postquam  praesenlauerit  Breuia  concernentia  concilium,  praesenla- 
bit  Regi  Breue  super  Inquisitione  ipsi  directum,  et  eidem  enarrabit  omnia 
illa,  quae  Sanctitalem  Suam  mouerunt  ad  Breue  illud  mittendi  et  in  causa 
ista  prouidendi,  secundum  ea,  quae  latissime  eidem  Domino  Nunlio  data 
sunt  in  scriplis,  et  finaliter  concludat  ut  Serenitas  Sua  faciat  causam  sus- 
pendí secundum  attentionem  Sanctitatis  Suae,  ut  inlerim  tam  ista  Sereni- 

latis  Suae  ore  et  L agentibus  auditis,  prout  juris  fuerit,  deler- 

minelur,  quod  ut  recle  fíat  Serenitas  Sua  Oratorem  in  Curia  millere  po- 
terit,  et  vsque  ad  qualuor  ex  praediclis  in  eadem  Curia  pro  juslilia  pe- 
tenda  uenire  permillat. 

Et,  ut  ad  effectum  suspensionis  a  Rege  fiendae  perueniatur,  dabit 
breue  Cardinali,  et  lnfanti  Ludouico,  quibus  ut  a  Rege  suspensio  fíat  cuín 
eodem  velint  instare  deprecabilur. 

Quod  si  a  Rege  faclum  fuerit  informabitur  late  de  ómnibus,  quae 
infanli  narralione  consislunt,  et  Suam  Sanctitatem  de  praediclis  faciet  cer- 
tiorem  ut  quod  Juris  fuerit  Deo  dante  exequutioni  mandetur. 

1  Copia  na  Bibmotheca  d'Awda,  Symmicta,  Tom.  32,  fol,  67. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  35o 

Sed  si  Rex  praedictam  suspensionem  faceré  noluerit,  expresse  no- 
lendo  vel  responsum  differendo,  tune  virlute  Breuis  eidem  Nuntio  con- 
cessi  in  ómnibus  causis  cum  Inquisiloribus  se  intromiltet,  lale  viendo  fa- 
cúltate eidem  in  hoc  concessa. 

Videbit  etiam  aedictum  illud  genérale,  el  per  Breue  eidem  desuper 
concessum  super  eodem  prouidebit. 

Quod,  si  praefati  Inquisitores  eidem  in  ómnibus  et  per  omnia  ob- 
temperare noluerint,  tune  in  causa  procedet  secundum  facultates  sibi  con- 
cessas. 

Sed ómnibus  eidem  obtemperauerinl,  Rex  vero  suspen- 
sionem praedictam  faceré  noluerit,  Ita  quod  in  causae  Inquisitionis  pro- 
cedatur,  uletur  tune  Breuis  suspensionis  secundum  facultalem  eidem  in 
eo  attribulam. 

Dirigendo  sempre  unum  oculum  ad  gralificandum  Regi,  dexlerum 
vero  ad  Justiliam,  et  ad  procurandum  ne  quis  islorum  miserorum  justam 
habeat  causara  de  Sanctitale  Sua  et  Sede  Apostólica  conquerendi. 

In  ómnibus,  in  quibus  a  Populo  isto  fueril  requisitus  ut  erga  istam 
causam  in  justis  et  honestis  Regem  alloqualur,  faciat  ut  de  ómnibus  fidem 
Sanctitali  Suae  possit  perhibere1. 


Instruccocs  ao  ouncio  Rocina  ti 

1539 — Fevereiro  I?. 

ISTRUZIONE  DI    SUA   SANTITA  PER   IL  SIGNOR  NUNZIO  DI   PORTUUALLO 

M.   G1R0NIM0  CAPO  DI  FERRO,  GENTILUOMO   ROMANO 

E  PROTONOTARIO   APOSTÓLICO. 


Pervenuta  sara  V.  S.  col  nome  di  Dio  al  primo  luogo  di  Portu- 
gallo,  vuole  Sua  Santitá  che  quella  per  cortesía  espedisca  un  suo  servi- 
tore  a  quel  Serenissimo  Re,  scrivendoli  aver  commissione  da  sua  Beati- 

1  Copia  na  Bibi.iotheca  d'Ajüda,  Symmicta,  Tom.  32,  fol.  68.  Os  pontos  estáo 
tambem  na  copia,  que  transcrevemos. 

45' » 


356  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

tudine  che  tócenlo  il  primo  luogo  del  Regno  súbito  farlo  inlendere  a  Sua 
Maesta,  dimonslrnndo  nello  scriuere  desiderio  di  ritrovarsi  quanlo  piü 
presto  per  conferiré  li  negozj  seco  commessili  da  Sua  Sanlila. 

Poi,  giunla  che  sará  alia  Corte,  fatla  la  pubblica  visilazione,  retí- 
ralo con  Sua  Maesla  secondo  la  costuma,  in  quel  luogo  appartato  espona 
delle  cause  della  sua  ándala  quelle  che  le  pareno  a  proposito  in  quel 
primo  congresso,  parlando  sempre  con  la  maggior  cortesía  del  mondo. 

Nel  negoziar  di  continuo  sí  sforzi  di  persuadere  l'animo  di  Sua  San- 
tila  essere  buonissimo  verso  Sua  Maesta  e  suoi  regni,  né  doversi  mular 
punto  se  non  se  le  da  occasione,  essendo  risoluta  di  volere  conservare 
l'autoritá  sua  el  il  giusto  senza  rispelto,  e  piü  preslo  di  moriré  che  tol- 
lerare  loppressione  della  Sede  apostólica  a  suo  tempo,  poiche  nostro  Si- 
gnore  Iddio,  e  non  opra  umana,  l'ha  collocato  in  esto. 

Nel  negozio  de'  frutli  mal  percetti  V.  S.  porli  seco  le  citazioni  fatte 
ad  istanza  del  íiscale ;  e  puma  che  l'eseguisca  Sua  Santita  vuole  che  se 
ne  parli  con  Sua  Maesta,  e  se  li  dica  che,  avendo  reso  il  nunzio  passato 
li  suoi  conti  in  Camera,  si  sonó  trovati  molli  aver  godute  le  commende 
molti  anni  prima  di  avere  avuto  la  nuova  provisione,  e  per  questo  non 
hanno  fatto  i  frutli  suoi,  onde  pretendendo  il  fiscale  sieno  della  Camera 
apostólica,  ha  domandalo  sopra  di  ció  giustizia  :  ne  potendosegli  negare, 
li  Signori  Chierici  hanno  decernute  le  cilazioni  contro  di  molti,  che  sia 
particularmente  quanto  hanno  goduto,  e  generalmente  contra  tullí  gli  al- 
tri:  le  quali  cilazioni,  se  bene  Sua  Sanlila  vuole  si  eseguiscano  in  ogni 
modo,  non  vuol  pero  si  faccia  senza  notizia  prima  di  Sua  Maesta,  la 
quale  V.  S.  esorlera  esser  fautrice  del  servizio  di  Sua  Santita  siccome 
lei  saria  del  commodo  suo  quando  li  bisognasse  di  qua  cosa  alcuna :  e 
quando  Sua  Maesla  non  si  contentasse  di  tal'  efFello,  che  non  si  crede, 
dopoi  d'inslatola  dui  ó  tre  volte,  le  dirá  non  poler  mancare  della  sua 
commissione,  la  quale  seguirá  senza  fallo,  ó"  personalmente,  ó*  per  edillo 
alie  loro  commende,  commellendo  ag!¡  oííiciali  degli  Ordinarj  sub  penis  et 
censuris  che  facciano  Teñello. 

E  se  per  questo  si  venisse  a  ragionamento  di  composizione,  Sua 
Sanlila  si  contenta  per  sodisfazione  di  Sua  Maesla  se  M  prestí  orecchie, 
e  condolía  la  cosa  dove  finalmente  vorranno  aggiungere,  darne  súbito 
avviso,  et  aspettare  la  risoluzione  di  qua,  avendo  Tocchio  nel  mancggio, 
che  lali  frulli  imporlano  piíi  di  cenlo  mila  ducali. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  357 

Circa  il  negozio  di  rilirare  le  chiese  lolle  per  le  commende  e  non 
sonó  ancora  vacate,  essendo  gia  passate  il  numero  delli  20  mila  crociati 
concessi  per  il  Papa  Leone,  la  S.  V.  dirá  a  Sua  Maeslá  che,  quantunque 
molti  Signori  Cardinali  et  allri  abbia  (sen)  inslato  per  la  retirazione  di 
delle  Chiese,  Sua  Santita  non  Tha  pero  \oluto  fare  che  prima  non  abbia 
esortato  Sua  Maestá  di  rilassarle  da  se,  essendo  grandemente  carico  di 
coscienza  di  voler'  piü  di  quello  gli  é  slato  concesso  con  tanto  pregiudi- 
cio  del  clero.  E  perche  forse  Sua  Maestá  rispondera  che  quando  le  pre- 
dette  Chiese  furono  pigliate  non  vale-vano  piü  di  quello  furono  ragionatc 
allora,  ma  che  dopo  sonó  cresciule  tanto  importando  l'annale  che  ha  scosso 
il  nunzio  passato  piü  de  20  mila  ducali,  nel  qual  numero  non  entraño 
molte  che  hanno  págalo  in  Roma,  e  molte  che  sonó  delle  cinquanta,  delle 
quali  Sua  Maesla  ebbe  grazia  non  avessero  a  pagare,  ollra  che  non  l'ha 
scosse  tulle,  e  che  molti  hanno  laciulo  il  vero  valore ;  le  quali  cose  met- 
tendosi  giunle  manifestaranno  le  commende  d'oggi  arrivar  forse  bene  a 
30  mila  crociati,  nel  che  Sua  Santita  é  contenta  di  non  guardare,  anzi 
sel  vi  fosse  scrupolo  alcuno  di  conscienza  torio  a  Sua  Maestá  purché  la 
ceda  alie  non  vacate.  E  perché,  oltre  la  prima  risposta,  gli  agenli  di  Sua 
Maestá  sogliono  diré  non  pensare  si  loglia  a  Sua  Maeslá  quel  che  al  Re 
suo  Padre,  di  glorioza  memoria,  fu  concesso,  E  se  il  medesimo  dicesse 
lei  a  V.  S.,  responderá  che  non  li  si  toglie,  anzi  se  li  lascia,  e  di  piü 
assai,  ond'ela  si  deve  contentare,  e  quando  pur'ela  non  si  contenli,  dirli 
che  Sua  Santita  non  potra  mancare  di  fare  quanto  si  deve,  poiché  averá 
usata  quella  cortesía  si  conviene. 

Poiché  sv  vede  per  esperienza  che  pochi  nominati  alie  Commende 
per  Sua  Maestá  vengono  a  Roma  per  la  nuova  provisione,  come  sonó 
obbligati,  Sua  Santila  vuole  che  la  S.  V.  pratichi  con  Sua  Maestá  di 
trovar  modo  sicuro  che  la  Camera  apostólica  non  resli  defraudata  ;  e 
quando  Sua  Maesla  non  abbia  miglior  modo,  parerá  buono  l'infrascrilto  ; 
che,  quando  non  si  trova  nel  Regno  nuncio  con  facolla  di  far  simili 
nuovi  provisioni,  vacando  alcuna  commenda,  l'Ordinario  di  quel  luogo 
pigli  la  possessione  e  rilengala  sin  tanto  che  ¡1  nommato  mostri  la  nuova 
provisione  e  quitanza  dell'annala,  e  li  frulli  in  quel  mezzo  correnli  sieno 
d'ella  Camera,  e  secondo  l'ordine  di  essa  dello  Ordinario  abbia  a  dis- 
porre,  per  questo  sia  obbligato  súbito  dar  avviso  ad  essa  Camera  della 
Commenda  vacante  e  del  crédito:  nel  qual  modo  si  provederá  a  due  di- 


358  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

sordini ;  ruñe  che  non  si  scorderanno  di  mandare  a  Roma  ;  l'altro  che, 
non  mandando,  non  avranno  causa  di  restituiré  i  frutli  mal  percetti. 

Circa  il  negozio  delle  Decime,  le  quali  Sua  Santitá  vuole  in  ogni 
modo,  V.  S.  fará  sapere  a  Sua  Maestá  quesla  deliberata  volonla  di  Sua 
Bealitudine  per  queste  urgenti  necessüá  del  Turco  :  e  se  Sua  Maestá  ris- 
pondera  non  si  sonó  avuti  per  il  Papa  ne'  altri  Regni,  risponderli  che 
assai  si  sonó  avuti  per  Sua  Sanlita  quando  Tha  avuti  l'Imperalore  per  le 
imprese  contra  Infideli,  per  le  quali,  quando  non  li  avesse  dalo  quello, 
saria  slata  necessitala  darli  allro ;  e  che  al  Re  di  Francia  si  sonó  con- 
cesse  per  riscotere  i  figli,  che  fu  giuslissima  causa  pervenire  alia  pace 
el  evitare  infiniti  scandali,  che  polevano  succedere ;  e  se  per  caso  l'hanno 
úsate  male  che  il  difetto  é  slato  loro,  e  non  della  concessione  di  Sua 
Santitá,  la  quale  la  concederebbe  anco  a  Sua  Maestá  quando  la  doman- 
dasse  per  causa  giusla,  non  li  essendo  meno  cara  lei  di  quello  siano  gli 
altri  Principi  Cristiani :  e  se  Sua  Maesla  rispondesse,  come  molte  altre 
volle  ha  fallo,  che  li  Preli  ajulano  li  parenti  loro,  che  vanno  alia  guerra 
d'Africa  et  India,  il  che  cede  in  utililá  sua,  risponderli  che,  avendo  Sua 
Maestá  acquistata  la  cilla  di  Diü  piena  di  tante  riccherze  come  ha  serillo, 
mediante  la  quale  manca  di  grandissima  spesa,  e  cresce  di  grossa  entrata, 
non  deve  aver  per  male  che  Sua  Santitá  si  vaglia  un  poco  di  quello  della 
Chiesa  neH'istanli  pericoli,  in  quel  tempo  che  la  Sede  apostólica  non  fu 
mai  piü  povera,  avendo  permesso  che  lei  come  dice  tanto  tempo  se  ne 
sia  valuta:  e  quando  ció  non  basli  per  disponerla,  dirli,  poiche  Sua  Ma- 
esla non  consente  si  riscotano  di  suo  consentimento,  Sua  Santilá  dará  or- 
dine  come  si  abbino  ar  riscotere :  e  falta  questa  scusa  V.  S.  si  valerá  del 
modo  gli  é  stato  dato  in  caso  che  lei  non  le  possa  riscotere. 

Quanto  all'Inquisizione  la  S.  V.  dirá  a  Sua  Maestá  come,  non  os- 
tanli  li  nuovi  clamori  e  gemiti  di  quella  misera  gente,  Sua  Santitá  non 
ha  voluto  mutar  cosa  alcuna  di  quel  che  si  é  falto ;  nondimeno  per  dis- 
canco della  coscienza  sua  li*  ha  commesso,  finché  si  trovera  nel  Regno, 
intravenga  in  tutte  le  cause,  che  in  questa  materia  si  trateranno,  per  ve- 
dere  se  li  ministri  eletti  servano  l'ordine  della  Bolla,  e  le  promissioni 
fatte  a  Sua  Santilá  fuor  della  Bolla,  et  in  caso  che  si  devii,  il  che  non 
crede,  ch'  ela  proceda  secondo  il  bisogno ;  e  sopra  tutto  li  ha  commesso 
non  permetta  intravenire  in  questo  maneggio,  ne  directe  ne  indirecle,  al- 
cuno  di  quelli  hanno  impugnato  il  perdono,  avendosi  a  presumere  ab- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  359 

biano  da  procederé  contro  di  loro  piü  presto  per  odio  che  per  zelo  di 
giustizia  ó  Religione ;  e  specialmente  che  non  intravengano  né  Giovanni 
montero  né  maestro  alfonso,  quali  si  maraviglia  molto  Sua  Santila  che 
Sua  Maestá  tenga  apresso  di  se  e  gli  dia  crédito,  essendo  certificata  esser 
molto  scandaloso  et  ávido  di  dissensioni,  como  mostró  in  casliglia  net 
tempo  delle  communila,  la  qual  cosa,  con  molte  allre,  Sua  Sanlita  non 
avria  creduto  se  non  li  fosse  slalo  accerlato  che,  nelle  Corli  si  fecero  in 
Evora,  tulto  il  popólo  del  Regno  domando  per  capitolo  che  Sua  Maesta 
lo  devesse  levar  \ia,  il  qual  comune  consenso  non  saria  seguilo,  se  non 
fusse  vero  quel  che  di  lui  si  parla.  Imperó  Sua  Maeslá  farebbe  bene,  et 
a  Sua  Santila  cosa  grata,  di  mandarlo  via  a  viver  fuor  di  Corte  nel  suo 
monaslero,  e  far  penitenza  degli  errori  passati.  Ollre  di  queslo,  essendo 
stato  rífenlo  da  questi  Reverendissimi,  allí  quali  Sua  Santila  commise  úl- 
timamente che  intendessero  i  clamori  di  quelli  miseri,  essere  in  ogni 
modo  necessario  chíarir  alcune  cose  in  questo  negozío  deirinquisizione, 
vuole  che  la  S.  V.  operi  con  qualche  buon  modo  presso  Sua  Maesta  che, 
avendosi  ad  usar  questa  Inquísizione,  si  avesse  a  satisfaré  a  questi  nuovi 
crisliani  di  mettersi  Giudici  et  oíBcialí  non  sospettí,  da  quali  ha  da  d¡- 
pendere  il  male  et  il  bene  che  in  questa  Inquísizione  ha  da  succedere,  e 
questo  non  manco  per  discarico  di  noslro  Signore  che  di  Sua  Maesta,  la 
quale  deve  ancora  aver  piacere  che  coloro,  che  eseguiranno  detta  Inquí- 
sizione, lo  facciano  perché  si  viva  bene  nel  suo  Regno,  e  che  siano  cas- 
tigati  li  tristi,  e  non  per  l'odio,  ch'é  fra  li  Cristiani  nuovi  e  li  vecchi, 
sieno  perseguitati  e  privi  di  vita  onore  e  robba  in  un  tratto,  per  il  qual' 
odio  e  privilegj  a  loro  concessi  par  bene  a  Sua  Santitá  dichiarar  me- 
glio  la  mente  sua  in  alcune  cose  per  maggior  siccurezza  che  ¡1  castigo  si 
faccia  per  giuslizia  e  non  per  vendetta  :  e  se  in  questo  mezzo  V.  S.  ve- 
dra  far  torto  ad  alcuno,  vuole  Sua  Santila  che  per  vigore  delle  sue  com- 
missioni  quella  senza  manco  inlravenga  ;  e,  quando  ció  non  basti,  ini- 
bisca,  overo  avochi  la  causa  a  se,  come  meglio  le  parera  ;  e  se  per  caso 
non  le  sara  permesso  usare  l'aulorita  sua,  in  tal  caso  dia  subilo  avviso, 
che  in  questo  modo  si  dará  nuova  e  giusta  causa  a  Sua  Santila  de  ri- 
vocare  e  sospendere  questa  Inquísizione,  accioque  i  poveri  uomini  non 
siano  mallrattati  con  la  mano  di  sua  Realitudine. 

Parendo  anco  a  Sua  Sanlita  cosa  slrana  che  Sua  Maestá  non  revo- 
chi  quella  legge  rinovata  conlra  li  nuovi  crisliani,  che  non  possano  salire 


360  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

del  Regno  n  suo  piacere,  e  siano  di  peggior  condizione  che  infiniti  schiavi, 
che  si  trovano  di  la,  vuole  che  sopra  tal  rivocazione  V.  S.  faccia  ogni 
gagliarda  insiajiza  con  diré  a  Sua  Maesta  che  tullo  il  mondo  presume  non 
abbia  voluto  Tlnquisizione  per  zelo  di  Religione,  ma  per  distruzione  di 
quelli  miseri,  tenendoli  cosi  schiavi,  oltra  che  li  da  occasione  di  diven- 
tar peggio  che  Giudei,  parendoli  d'essere  ritornali  nella  callivita  d'Egitto  : 
e  quantunque  quella  ció  faccia  soltó  prelesto  che  non  vadano  a  divenlar 
Giudei,  minor  male  é  che  diventino  Giudei  per  loro  mala  volonla  che  per 
nostra  iniquita,  non  potendo  a  ogni  modo  Sua  Maesta  violentarli  la  vo- 
lonla, quale  Dio  l'ha  falta  libera,  la  quale  si  piegaria  forse  meglio  al  bene, 
se  si  usasse  con  esso  loro  carita  e  pieta,  e  si  desistesse  dalla  violenza,  la 
quale  in  niun  modo  puó  essere  né  buona  né  giusta.  Avendo  Sua  Sanlitá, 
oltra  le  predette  cose,  inteso  che  súbito  vacato  un  beneficio  li  Giudici  se- 
colari,  et  altfe  persone  senza  titolo,  s'intrudeno,  e  si  dilapida  la  robba 
della  chiesa  con  quella  dello  defunto,  vuole  che  V.  S.  sopra  di  c¡6  fac- 
cia officio  con  Sua  Maesta  di  modo  che  si  proveda  a  tali  inconvenienti. 

Oltre  di  questo,  avendo  anche  inleso  che  le  lettere  apostoliche,  con- 
cernenti  cosi  grazia  come  giuslizia,  difficilmente  si  possono  mandare  ad 
esecuzione,  perché  le  persone  pubbliche  e  Giudici  nominati  nelle  Bolle  non 
ardiscono  eseguirle  senza  licenza  delli  minislri  della  Corte  Regia,  vuol 
parimente  sopra  cióV.  S.  faccia  con  Sua  Maesta  tale  officio  che  le  cose 
di  qua  non  siano  impedile,  ma  favorite  secondo  il  dovere.  E  perché  avviene 
che  alie  volte  gl'  Ordinarj  impediscono  li  Giudici  delegati,  non  gli  las- 
ciano  eseguire  le  loro  commissioni,  vuole  Sua  Santita  che  V.  S.  sopra  di 
ció  li  avverla,  et  accadendo  facciano  dopo  tal'  impedimento,  la  proveda 
secondo  il  poter  delle  sue  facolla ;  e  quando  il  delinquente  fusse  persona, 
alia  quale  V.  S.  dovesse  avere  rispetto,  overo  agente  di  símil  persona, 
quella  lo  fara  subilo  sapere  a  Sua  Santita,  la  quale  non  é  per  contó  al- 
cuno  per  tolerare  (ale  abuso :  e  se  allegano  che  li  delegati  non  siano  per- 
sone qualificale,  gli  risponda  che,  se  ben  son  tali,  non  vuole  per  questo 
Sua  Santita  rimpediscano,  ma  diano  di  ció  avviso  e  mandino  le  loro  sen- 
tenze  inique,  accio  si  possano  castigare. 

Sapendo  Sua  Santita  che  in  quel  Regno  non  sonó  fsicj  molli  beneficj 
patronali  de'  laici,  e  che  quando  vacano  li  padroni  si  convengono  con  alcun 
vil  Prete,  qual  presentano  lassando  del  reddito  mínima  porzionc,  il  reslo 
mangiano  per  cssi ;  parimcnle  che  molli  vendono  c  comprano   benefizj 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  361 

sanza  timore  di  Dio  e  wgogna  del  mondo,  \uo!e  Sua  Santitá  che  sopra 
di  questi  due  eccessiV.  S.  inquira,  e  quelli  si  troueranno  compresi  nel 
primo  siano  casligati  e  privali  i  Padroni  delia  prcsenlazione,  i!  presentato 
del  beneficio,  awertendo  gli  ordinarj  che  in  queslo  aprano  gli  occhi ;  e 
quelli  che  si  troveranno  compresi  nel  secondo  sieno  parimcnte  casligati 
rigorosamente. 

Ancora,  perché  si  sa  che  molte  persone  ecclesiastiche  d'ogni  grado  e 
condizione  alienano  in  perpetuo  li  beni  mensali  delle  loro  chiese,  e  che 
ancor  peggio  molte  volte  li  danno  in  dote  alli  íiglioli,  \uole  Sua  Santitá 
che  sopra  di  cióV.  S.  faccia  anco  inquisizione  e  punisca  quelli,  ch'  ela 
potra,  delli  allri  avvisi,  e  si  restituiscano  li  loro  beni  alie  chiese. 

Dispiacendo  a  Sua  Santitá  sommamente  le  falsitá,  et  essendo  certi- 
íicata  che  in  quei  Regni  questo  delitto  é  molto  universale,  e  piü  ne'  Preti 
che  negli  altri,  \uole  cheV.  S.  usi  ogni  diligenza  per  ritrovare  simili  ri- 
baldi,  e  ritrovandone  alcuno  il  castighi  rigorosamente  per  esempio  degli 
altri. 

Le  predette  sonó  le  cose  che  particularmente  Sua  Santitá  comanda 
aV.  S.  Quella  come  prudentissima  si  sforzera  d'esiguirle  tulte,  et  non 
solo  queste  espresse,  ma  tutte  l'altre  che  le  occorreranno  dov'ela  conosca 
il  servizio  di  Dio,  Ponore  e  l'utile  di  Sua  Santitá  e  di  questa  Santa  Sede. 

Romae,  17  de  Februarii,  1537  K 


Hulla  do  Papa  Paulo  III.  dirigida 
ao  Hispo  de  Goa. 

1539— Abril  11. 


Paulus  Episcopus  seruus  seruorum  Dei  Dilecto  filio  Johanni  de  al- 
boquerque,  electo  goanensi,  salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Regimini  Vniuersalis  ecclesie,  meritis  licet  imparibus,  disponente  do- 
mino presidentes,  deVniuersis  orbis  ecclesiis  et  ipsarum  pastoribus  pro 
earum  statu  salubriter  dirigendo  sollicite,  quantum  nobis  ex  alto  concedi- 

1  Copia  na  Bibliotheca  d'Ajuda,  Symmicta,  Vol.  33,  fol.  149. 
TOMO   III.  46 


362  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

lur,  cogilamus;  sed  illa  propensius  solliciludo  máxime  nos  vrgel  vt  eccle- 
siis  ipsis,  que  suis  sunt  destilule  pasloribus,  ne  in  spiritualibus  et  tem- 
poralibus  delrimenta  suslineant,  de  salubri  remedio,  prout  ecclesiarum 
ipsarum  necessitas  ot  locorum  ac  lemporum  qualilas  exigunt,  consulamus. 
Sane  Ecclesia  goanensis,  quam  dudum,  poslquam  felicis  recordationis  Leo 
papa  x,  predecessor  noster,  procurante  clare  memorie  Emanuele  portu- 
gallie  et  algarbiorum  rege,  qui  tune  in  humanis  agens  multas  Ierras,  pro- 
uinlias  et  Ínsulas  a  capite  de  Gueer  vsque  ad  Indos  possidebat,  in  qui- 
bus  nullus  Episcopus,  qui  ea  que  erant  ordinis  Episcopalis  exerceret,  ha- 
bebalur,  excepto  Vicario  pro  lempore  existente  oppidi  deThomar,  nuliius 
diócesis,  qui  frater  militie  Jesu  Christi,  Cisterciensis  ordinis,  existebat, 
et  iurisdictionem  Episcopalem  inter  alia  in  dictis  terris,  prouintiis  et  in- 
sulis  ex  priuilegio  apostólico  olim  sibi  concesso  habebat,  vicaria»  de  tho- 
mar  huiusmodi,  de  consensu  bone  memorie  Didaci  pinheiro,  olim  Episcopi 
funchalensis,  tune  in  humanis  agentis,  et  dicti  oppidi  Vicarii,  apostólica 
auctorilate  supresserat  et  exlinxerat ;  ac  tune  parrochialem  ecclesiam  beate 
marie,  per  eumdem  Emanuelem  regem  seu  eius  predecessores  in  ciuitate 
de  funchal,  et  Ínsula  de  madeira  in  mari  océano  sita,  consistente,  funda- 
tam,  in  quibus  Vicarius,  frater  dicte  millitie,  et  nonnulli  benefitiali  pres- 
biteri  seculares  benefilia  ecclesiastica,  porciones  nuncupata,  obtinentes, 
exislebant,  in  calhedralem  ecclesiam,  cum  sede  et  Episcopali  ac  capitu- 
lan mensis,  aliisque  calhedralibus  insigniis,  inter  alia  erexerat  et  insti- 
tuerat ;  illique  pro  eius  dote  fruetus,  reddilus  et  prouentus,  quos  Vicarius 
de  thomar  pro  tempore  existens  ex  iurisdiclione  et  vicaria  huiusmodi  per- 
cipiebat,  ac  cerlos  tune  expressos  annuos  reddilus  perpetuo  applicauerat 
et  appropriauerat ;  necnon  Giuitalcm  de  funchal  pro  ciuitate,  eiusque  Dis- 
triclum  seu  territorium  cum  predicta  de  madera,  ac  ómnibus  el  singulis 
alus  insulis,  terris,  prouinciis  et  locis  quibuscumque  dicto  vicario  subie- 
clis  pro  diócesi,  inler  alia  concesserat  et  assignauerat ;  necnon  ius  pa- 
tronalus  et  presenlandi  Romano  pontifici  pro  tempore  exislenti  personan) 
ydoneam  ad  eamdem  ecclesiam  funchalensem,  dum  illam  pro  tempore  va- 
care contingeret,  prefalo  Emanueli,  et  pro  lempore  exislenti  porlugallie 
el  algarbiorum  regi,  ad  eíTectum  ut  eidem  ecclesie  de  persona  per  regem 
nominala  huiusmodi,  et  non  alias,  prouideri  deberel,  reseruaueral ;  ac 
eidem  ecclesie  funchalensi  sic  erecle  ab  eius  primeua  ereclione  tune  va- 
canti,  de  persona  prefati  Didaci  dicla  auctorilate  prouideral,  preficiendo 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  363 

ipsum  illi  in  Episcopum  et  pastorem  :  cum  dicto  Didaco  Episcopo  post- 
modumvita  fundo  pie  memorie  Clemens  papa  seplimus,  eliam  predeces- 
sor  nosler,  procurante  charissimo  in  christo  filio  noslro  .Johanne,  portu- 
gallie  et  algarbiorum  rege  ¡Ilustre,  prefati  Emanuelis  nato  et  successore, 
diclam  ecclesiam  funchalensem  in  metropolilanam  cum  Archiepiscopali  di- 
gnitate,  preeminentia,  iurisdictione,  superioritate,  auctorilate,  crucis  de- 
latione,  ac  alus  rnetropolilicis  insigniis,  de  tune  Sánete  romane  ecclesie 
Cardinalium,  de  quorum  numero  tune  eramus,  consilio,  similiter  apos- 
tólica auctoritate  erexisset  et  inslituissel ;  ac  inter  alias  Ínsulas  eidem  ec- 
clesie funchalensi  pro  eius  diócesi  assignatas,  Ínsula  de  Goa  nuncupala, 
in  partibus  Indie,  in  eodem  mari  océano  sita,  notabilis  et  magno  chris- 
tianorum  populo  refería  et  munila  existeret,  idem  clemens  predecessor  ex 
parrochiali  ecclesia,  sub  inuocatione  Sánete  calherine  dicata,  in  ipsa  Ín- 
sula goanensi  consistente,  cui  per  uicarium  perpetuum  in  diuinis  deser- 
uiri  consueuerat,  de  eorundem  cardinalium  consilio  eadem  auctoritate, 
prefato  Johanne  rege  procurante,   in  calhedralem  Ecclesiam  goanensem 
numeupandam  sub  eadem  inuocatione  pro  vno  Episcopo  goanensi  nuncu- 
pando,  qui  eidem  ecclesie  goanensi  preesset,  ac  illius  edifitia  ampliaret  et 
ad  formam  cathedralis  ecclesie  redigi  faceret  et  procuraret ;  necnon  in 
ea  ac  in  illius  Ciuitate  et  diócesi  dignitales,  Ganonicatus  et  prebendas, 
aliaque  beneficia  ecclesiaslica,  cum  cura  et  sine  cura,  erigeret  et  insti- 
tueret ;  necnon  spiritualia,  prout  pro  diuini  cultus  augmento  et  anima- 
rum  salute  expediré  cognosceret,  conferret  atque  seminaret ;  necnon  Epis- 
copales iurisdictionem,  auctoritatem  et  polesíatem  exerceret,  ac  omnia  et 
singula  alia,  que  alii  Episcopi  regnorum  etdominiorum  portugallie  el  algar- 
biorum in  suis  ecclesiis,  ciuilatibus  uel  diocesibus  de  iure  uel  consuetu- 
dine,  seu  alias  faceré  poterant,  faceré  libere  et  licite  posset  et  deberet,  ac 
pro  tempore  existenti  Archiepíscopo  funchalensi  iure  metropolilico  subes- 
set  cum  sede  ac  Episcopali  et  capitulan  mensis,  aliisque  insigniis  et  iu- 
risdictionibus  Episcopalibus,  necnon  priuilegiis,  inmunitatibus,  facultatibus 
et  gratiis,  quibus  alie  calhedrales  ecclesie  el  earum  presules  in  eisdem 
portugallie  et  algarbiorum  regnis  consistentes  similiter,  de  iure  uel  con- 
suetudine,  vtebanlur,  poliebantur  et  gaudebant,  ac  \ti  poliri  et  gaudere 
possent  quomodolibet  in  futurum,  vti  potiri  et  gaudere  posset  el  ualeret, 
perpetuo  erexit  et  instituit.  Ac  in  qua  perpetuam  vicariam  ipsius  erecte 
ecclesie  dignitatem  post  pontificalem  maiorem  esse,  el  cuius  tune  \ica- 

46  * 


364  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

num  illam,  absque  alia  noua  prouisione  sibi  desuper  facienda,  retiñere 
posset,  voluit,  ac  cui  locum  seu  pagum,  in  quo  ipsa  erecta  ecclesia  con- 
sistebal,  etiam  per  eumdem  Clemenlem  in  ciuilalem  ereclum,  pro  Ciui- 
late,  necnon  ipsius  loci  dislrictum  seu  territorium  ac  Insulam  de  goa  hu- 
iusmodi,  que  cuna  ómnibus  et  singulis  illorum  castris,  villis,  locis  et  dis- 
triclibus,  necnon  clero,  populo,  personis  ecclesiasticis,  monasleriis.  ospi- 
talibus  et  alus  piis  locis  ac  beneficiis  ecclesiasticis,  cum  cura  et  sine  cura, 
secularibus,  et  quorumuis  ordinum  regularibus  et  Diócesi  funchalensi,  cu- 
ius  anlea  erant,  ipsius  Johannis  Regis  ad  id  tune  expresso  accedente  con- 
sensu,  perpetuo  dismembrauerat  et  separauerat,  cum  ómnibus  iuribus  et 
pertinentiis  suis  pro  illius  Diócesis  districlu  et  territorio  in  spirilualibus 
et  lemporalibus,  prout  ad  dictam  ecclesiam  funchalensem  perlínebanl  et 
pertinere  polerant,  illarumque  ínsulas  el  habitatores  pro  clero  et  populo, 
concessit  et  assignauit;  et  cuius  presulis  pro  lempore  existenlis  clerum  et 
populum  Ciuilalis  el  diócesis  goanensis,  huiusmodi,  cure  et  iurisdictioni, 
quoad  legem  diocesanam  et  iurisdiclionem,  perpetuo  subiecil ;  cuique  pro 
illius  dote  omnia  et  singula  iura  et  emolumenta  Episcopalia,  que  Episco- 
pus  funchalensís  in  loco  seu  pago  el  Ínsula  goanensi  separatis  huiusmodi 
percipiebat  seu  percipere  polerat,  ualorem  annuum  cenlum  et  octuaginta 
ducatorum  auri  de  Camera  communi  exlimatione  non  excedentes,  el  alios 
redditus  annuos  per  ¡psum  regem,  ex  reddilibus  annuis  ad  eum  in  dicla 
ínsula  goanensi  speclantibus,  eidem  ecclesie  goanensi  iara  forsan  assi- 
gnatos  seu  assignandos,  de  eiusdem  Johannis  regis  consensu,  perpetuo 
applicauit  et  appropriauil :  el  ad  quam  i'us  patronatus  et  presenlandi  in- 
fra  annum,  propter  loci  dislanliam,  eidem  Clemenli  predecessori,  et  pro 
tempore  exislenti  romano  ponlifici,  personam  ydoneam  ad  ipsam  Eccle- 
siam goanensem,  quotiens  illius  vacalio,  ea  prima  uice  excepta,  pro  tem- 
pore oceurret,  per  eundem  Clementem  el  pro  tempore  exislentem  Roma- 
num  pontiíicem  in  eiusdem  ecclesie  goanensis  Episcopum  et  paslorem  ad 
presenlationem  huiusmodi,  et  non  alias,  perficiendam,  eidem  Joanni,  et 
pro  tempore  existenti  porlugallie  el  algarbiorum  regí,  de  símili  consilio 
perpetuo  reseruauit  el  concessit :  ac  cui  sic  erecle  ab  eius  primeua  ere- 
ctione  tune  vacanti,  de  persona  quondam  francisci  de  mello,  olim  Ele- 
cli  goanensis,  tune  in  humanis  agentis,  símili  consilio  dicla  aucloritate 
prouidit,  perficiendo  ipsum  illi  in  Episcopum  et  pastorem,  per  obilum 
eiusdem  francisci  Elecli,  qui  lilteris  apostolicis  super  prouisione  et  per- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  365 

fectione  de  persona  sua  faclis  huiusmodi  non  confeclis,  ac  possessione 
seu  quasi  regiminis  et  adminislralionis  ipsius  ecclesie  goanensis  ac  il- 
lius  bonorum  per  eum  non  habila,  exlra  Romanam  Curiam  dicm  clau- 
sit  exlremum,  pastoris  solalio  deslitula  :  Nos  vacatione  huiusmodi  fide 
dignis  relatibus  intellecta  ad  prouisionem  dicte  ecclesie  goanensis  cele- 
rera  et  felicem,  ne  ecclesia  ipsa  goanensis  longe  uacationis  exponatur  in- 
commodis,  paternis  et  sollicilis  studiis  inlendenles,  post  deliberationem, 
quam  de  prefiriendo  eidem  ecclesie  goanensi  personam  \lilem  et  eliam 
fructuosam  cum  fratribus  nostris  habuimus  diligentem,  demum  ad  te,  or- 
dinis  fralrum  minorum  professorern,  in  presbiteratus  ordine  constilutum 
et  in  theologia  peritum,  quem  prefatus  Johannes  Rex  nobis  ad  hoc  per 
suas  litteras  presentauit,  el  cui  apud  nos  de  uite  munditia,  honeslate  mo- 
ruro, spirilualium  prouidentia,  et  lemporalium  circunspeclione,  aliisque 
multiplicum  uirlulum  donis  fidedigna  testimonia  peribentur,  direximus 
oculos  nostre  mentís,  quibus  ómnibus  debita  medilatione  pensatis,  te  a 
quibusuis  excommunicationis  suspensionis  et  interdicti,  aliisque  ecclesias- 
ticis  sententiis,  censuris  et  penis,  a  iure  uel  ab  nomine,  quauis  occasione 
uel  causa  latis,  si  quibus  quomodolibet  innodatus  existís,  ad  eflectum  pre- 
sentium  dumtaxat  consequendum,  harum  serie  absoluentes  et  absolutum 
fore  censentcs,  de  persona  tua,  nobis  et  eisdem  fratribus  ob  tuorum  e\i- 
gentiam  meritorum  accepta,  eidem  ecclesie  goanensi  de  ipsorum  fratrum 
consilio  apostólica  auctoritate  prouidimus,  teque  illi  in  Episcopnm  prefi- 
cimus  et  pasto  re  m,  curam  et  adminístralionem  ipsius  Ecclesie  goanensis 
libi  in  spirilualibus  et  temporalibus  plenarie  committendo,  in  illo,  qui  dat 
gratias  et  lurgitur  premia,  confidentes  quod,  dirigente  domino,  actus  tuos 
prefala  ecclesia  goanensis  sub  tuo  felici  regimine  regetur  vliliter  et  pros- 
pere dirigetur,  ac  grata  in  eisdem  spirilualibus  et  temporalibus  suscipiet 
incrementa  :  iugum  igitur  domini  luis  impositum  humeris  prompta  deuo- 
lione  suscipiens,  curam  et  adminístralionem  ipsius  ecclesie  goanensis  pre- 
dictas  sic  exercere  sludeas  sollicite  fideliler  et  prudenter,  quod  Ecclesia 
ipsa  gubernatori  prouído  et  fructuoso  adminislralori  gaudeat  se  commissam, 
tuque,  preter  eterne  retríbutionís  premium,  nostrara  et  dicte  sedis  benedi- 
ctionem  et  gratiam  ex  inde  vberius  consequi  merearis :  quo  circa  dileclis 
filiis  capitulo  et  uassallis  dicte  ecclesie,  ac  clero  et  populo  ciuitatis  el 
diócesis  goanensis,  per  apostólica  scripta  mandamus  quatenus  capitulum 
tíbi,  tamquam  patri  et  pastori  animarum  suarum  humiliter  intendentes 


366  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

exhibeanl  tibí  obedientiam  debitas  el  deuotas,  ac  clerus  pro  riostra  el  se- 
dis  predicte  reuerenlia  benigne  recipientes  el  honorifice  pertractanles,  tua 
salubria  mónita  el  mándala  suscipiant  humiliter  et  eíficaciler  adimplere 
procurent :  populus  uero  te,  tamquam  palrem  el  pastorem  animarum  sua- 
rum,  deuole  suscipientes,  et  debita  honorificentia  prosequentes,  luis  mo- 
nilis  et  mandatis  salubribus  inlendant,  ita  quod  tu  in  eos  deuotionis  fi- 
tios,  et  ipsi  in  te  patrem  beniuolum  inuenisse  gaudeatis :  vassalli  autem 
prefati  te  debito  honore  prosequentes  tibi  fidelilatem  solitam,  necnon  con- 
sueta seruitia  et  iura  tibi  ab  eis  debita  integre  exhibere  procurent,  alio- 
quin  senlenliam  siue  penam,  quam  respecliue  in  rebelles  rile  luleris,  ra- 
tam  habebimus  et  faciemus  auctore  domino  vsque  ad  satisfalionem  con- 
dignam  inuiolabiliter  obseruari.  Rogamus  quoque  ethortamur  áltenle  pre- 
fatum  Johannem  Regcm,  necnon  vcnerahilem  fratrem  nostrum  Archiepis- 
copum  funchalensem,  ipsi  Archiepiscopo  per  apostólica  scripta  mandan- 
tes quatcnus  te,  et  prefatam  ecclcsiam  goanensem  dicli  Archiepiscopi  suf- 
fraganeam,  habentes  pro  nostra  et  Sedis  predicte  reuerenlia  propensius 
commendalos,  in  ampliandis  et  conseruandis  eiusdem  ecclesie  goanensis 
iuribus,  sic  te  benigni  fauoris  auxilio  prosequantur,  quod  tu,  eorum  ful- 
tus  presidio,  in  commisso  tibi  cure  pastoralis  oíficio  possis  deo  propifio 
prosperari,  Ac  eidem  Johanni  regi  adeo  perennis  vite  premium  et  a  no- 
bis  condigna  proueniat  actio  graliarum,  ipseque  Archiepiscopus  pro  inde 
diuinam  misericordiam  ac  noslram  el  eiusdem  sedis  benedictionem  et  gra- 
tiam  valeat  vberius  promereri.  Et  insuper  ad  ea,  que  ad  tue  commodila- 
tis  augmenlum  cederé  valeant,  fauorabililer  intendentes,  tibi  ut  a  quocum- 
que  malueris  catholico  antislite,  gratiam  et  communionem  prefate  sedis 
habente,  accitis  et  in  hoc  sibi  assistenlibus  duobus  uel  tribus  catholicis 
Episcopis,  símiles  gratiam  el  communionem  habenlibus,  munus  consecra- 
tionis  recipere  ualeas,  ac  eidem  antistiü  vt,  recepto  prius  per  eum  a  le 
nostro  et  romane  Ecclesie  nomine  fidelilalis  debite  sólito  juramento,  iuxta 
formam  presenlibus  annolatam,  munus  predictum  auclorilate  nostra  in- 
pendere  licite  possit,  plenam  el  liberam  earundem  tenore  presentium  con- 
redimus  facultatem.  Volumus  autem  et  auctoritale  predicta  statuimus  et 
decernimus  quod  si,  non  recepto  a  te  per  ipsum  antistitem  predicto  Ju- 
ramento, idem  antistes  munus  ipsum  tibi  impenderé  el  tu  illud  suscipere 
presumpseritis,  dictus  anlistes  a  pontificalis  oíBcii  exercitio,  et  tam  ipsi 
quam  tu  ab  administratione  tam  spiritualium  quam  temporalium  ecclesia- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  367 

rum  vestrarum  suspensi  silis  eo  ipso.  Preterea  volumus  quod  formam  iu- 
ramenti  a  te  tune  preslandi  huiusmodi  nobis  de  uerbo  ad  uerbum  per  tuas 
patentes  litteras,  tuo  sigillo  munitas,  per  proprium  nuntium  quantotius 
destinare  procures,  quodque  per  hoc  prefato  Archiepiscopo  nullum  im- 
posterum  preiuditium  generetur.  Forma  autern  iuramenti  quod  prestabis 
hec  est :  — Ego  Johannes  electus  goanensis  ab  hac  hora  in  antea  fidelis  et 
obediens  ero  bealo  petro,  Sancteque  apostolice  romane  ecclesie,  ac  domino 
noslrum  nostro  domino  paulo  pape  tertio,  suisque  successoribus  canonice 
intrantibus.  Non  ero  in  consilio  aut  consensu  uel  fado  ut  vilam  perdant 
aut  membrum,  seu  capianlur  mala  captione,  aut  in  eos  manus  violenter 
quomodolibet  ingerantur,  aut  iniurie  alique  inferanlur,  quouis  quesito  co- 
lore. Gonsilium  uero,  quod  michi  credituri  sunt  per  se  aut  per  nuntios  seu 
litteras,  ad  eorum  damnum  me  sciente  nemini  pandam.  Papatum  Roma- 
num  et  regalia  sancli  petri  adiutor  eis  ero  ad  retinendum  et  defendendum 
contra  omnem  hominem.  Legatum  apostolice  sedis  in  eundo  et  redeundo 
honorifice  tractabo,  el  in  suis  necessitatibus  adiuuabo.  Jura,  honores,  pri- 
uilegia  el  auctoritatem  Romane  ecclesie  domini  nostri  pape  et  successo- 
rum  predictorum  conseruarc,  defenderé,  augere  et  promouere  curabo.  Nec 
ero  in  consilio  uel  fado  seu  traclalu,  in  quibus  contra  ipsum  dominum 
noslrum,  uel  eamdem  Romanam  Ecclesiam,  aliqua  sinislra  uel  preiudi- 
tialia  personarum,  iuris,  honoris,  status  et  potestatis  eorum  machinentur; 
et  si  talia  a  quibuscumque  procurare  nouero  uel  tractari  impediam  hoc 
pro  posse,  et  quantotius  potero  comode  significabo  eidem  domino  nostro 
uel  alleri,  per  quem  ad  ipsius  notitiam  peruenire  possit.  Regulas  sanclo- 
rurn  patrum,  decreta,  ordinaliones,  sententias,  disposiliones,  reseruationes, 
prouisiones  et  mandata  apostólica  tolis  uiribus  obseruabo  el  faciam  ab  alus 
obseruari.  Heréticos,  scismaticos  et  rebelles  domino  nostro  et  successo- 
ribus predictis  pro  posse  persequar  et  impugnabo.  Vocatus  ad  Sinodum 
veniam,  nisi  prepeditus  fuero  canónica  prepedictione.  Apostolorum  Li- 
mina  Romana  Curia  existente,  citra  singulis  annis,  vltra  uero  montes  sin- 
gulis  bienniis,  aut  per  me  ipsum  aut  per  meum  nuntium  visitabo,  nisi 
apostólica  absoluar  licenlia.  Possessiones  uero  ad  mensam  meam  perti- 
nentes non  vendam,  nec  donabo,  nec  impignorabo,  nec  de  nouo  infeu- 
dabo,  uel  aliquo  modo  alienabo,  etiam  cum  consensu  capituli  ecclesie 
mee,  inconsulto  romano  pontifice.  Sic  me  deus  adiuuet  et  hec  sancta  dei 
evangelia. 


368  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Dalum  Rome,  apud  sanclum  petrum,  anno  incarnationis  dorninice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  seplimo,  terlio  idus  aprilis,  pontifica- 
tus  noslri  anno  lertio  f. 


Carta  de  Pedro  de  Sonsa  de  Tavora  a  el-Rei. 


1539  — Abril  12. 


Senhor  —  Sesta  feira  antes  de  dia  de  ramos,  xxm  do  passado,  re- 
cebi  huma  deVossa  Alteza  deuora,  de  x  de  Janeiro,  em  que  me  man- 
daua  que  supricasse  ao  papa  que,  a  presentacao  de  Vossa  Alteza,  conce- 
desse  a  frey  Johao  dalbuquerque  ho  bispado  de  goa;  e  outras  cousas,  que 
mais  largamente  se  continhao  ñas  enformacoes,  que  com  ha  dita  carta  vi- 
nhao.  E  porque  isto  veo  ja  caisy  na  somana  Santa,  e  em  tempo  que  nao 
se  fazem  consistorios,  conueo  esperar  atee  que  se  fizessem,  que  foy  de- 
pois  das  oitauas  de  pascoa.  E  antes  fallei  ao  papa  sobre  tudo  juntamente 
com  ho  Cardeal  Santiquatro,  e  lhe  dey  a  carta  de  Vossa  Alteza.  E  Sua 
Santidade  mostrou  vontade  de  comprazer  a  Vossa  Alteza.  E  ouuera  se  de 
propoer  este  bispado  antontem,  que  foy  ho  primeiro  consistorio,  que  se 
fez  depois  que  recebi  suas  cartas.  E  porque  nelle  se  tratou  soomente  da 
partida  do  papa  para  o  concilio,  em  que  ouue  muitas  opinioes  e  longos 
razoamentos,  nao  se  pode  propoer  nenhum  bispado,  e  ficou  assy  este  como 
oulros  para  o  seguinte  consistorio,  que  se  fez  oge,  E  nelle  foy  concedido 
goa  a  presentacao  de  Vossa  Alteza  ao  mesmo  frey  Johao.  As  bullas  e  o 
mais  que  Vossa  Alteza  manda  s  espedirá  com  toda  ha  presteza  possiuel. 
E  sendo  me  suas  cartas  dadas  tam  larde  que  nao  se  pode  fazer  esta  pro- 
posicao  senao  nesle  mes  d  abril,  pode  bem  considerar  quam  impossiuel 
era  enuiarse  a  exposicao  pera  ser  lá  no  mes  de  feuereiro  passado,  como 
dezia  que  conuinha  polla  armada  se  partyr  em  marco. 

Ho  papa,  quando  lhe  falley  no  padre  frey  Johao  dalboquerque,  algo 
se  alterou  pollo  que  ja  outras  vezes  tem  dito  ao  Cardeal  Santiquatro  que 

'  Em  transumpto  do  Vigario  (¡eral  de  Lisboa,  de  30  de  Janeiro  de  1558,  no  Arch. 
Nac,  Mac.  15  de  Bullas,  n.°  20. 


RELAQOBS  COM  A  CURIA  ROMANA  369 

escreuesse  a  Yossa  Alteza  que  nao  deuia  apresentar  frades  a  seus  bispados 
auendo  hy  creregos  pera  ysso.  A  isto  se  Ihe  responder»  que  este  bispado 
era  tao  longe  que  mal  se  podiao  achar  crerigos,  que  tyuessem  as  quali- 
dades  que  conuem,  que  la  quisessem  ir.  E  o  Cardeal  Sanliquatro  tomou 
a  mao  e  disse  rindo  :  «  padre  Sánelo,  estes  frades,  que  renunciaron)  ja 
ho  mundo  por  amor  de  déos,  nao  he  muito  que  por  elle  renunciem  tam- 
bem  suas  térras:  e  este  he  pessoa  mui  suficiente,  e-ha  de  hyr  resedir». 
Folgou  ho  papa  de  saber  que  Yossa  Alteza  quer  que  este  se  passe  logo 
a  seu  bispado,  entendendo  que  he  para  naquellas  partes  fazer  muito  fruito, 
e  nao  ambicioso  nem  desejoso  de  honrras  e  dinidades,  como  elle  tem  que 
sao  os  mais  dos  frades. 

As  outras  cousas,  que  Vossa  Alteza  quer,  algumas  se  concedem,  ou- 
tras  se  limitao,  como  escreuerey  quando,  prazendo  a  nosso  Senhor,  as 
enuiar,  e  dyrey  o  que  nisso  passa. 

Estes  dias  passados  ouue  ho  papa  reposta  dos  Luteranos,  que  Ihe  en- 
uiou  ho  seu  nuntio,  que  aquy  tambem  enuio  com  ha  carta  do  mesmo  nun- 
tio  sobre  ysso.  E  antes  desta  reposta  Sua  Santidade  estaua  mui  deliberado 
de  hyr  ao  concilio,  e  muito  mais  se  deliberou  depois  della  sabendo  que 
os  Luteranos  nao  querem  viir.  E  os  mal  dizenles  nao  se  podem  ler  que 
nao  digao  que  quer  ho  papa  comparecer  e  correr  ho  campo  em  absentia 
dos  imigos. 

E  metendo  se  Sua  Santidade  e  lodos  em  ordem  pera  a  xx  deste  se 
partyrem,  chegarom  cartas  do  duque  de  manlua,  em  que  dezia  que  nao 
podia  consentyr  que  em  mantua  se  fizesse  concilio,  sem  ter  hy  huma  guar- 
nicao  de  gente  sufficiente  pera  a  guarda  e  seguridade  assy  sua  como  do 
concilio.  Ysto,  e  asy  a  comum  vontade  dos  Cardeaes  e  de  toda  esta  corte, 
que  he  que  em  tempos  tao  reuoltos  e  perigosos  se  deua  mais  entender  em 
pacificar  estes  principes  e  defenderse  do  turco,  que  em  concilio,  a  que 
nao  s espera  que  venhao  os  que  hao  e  deuem  nelle  enlreviir,  fez  muylo 
refriar  ao  papa  desta  partida,  que  quería  fazer,  porque  elle  nao  se  cree 
que  queyra  espender  nada  naquella  guarda,  que  ho  Duque  de  mantua 
requere,  nem  tao  pouco  tem  rezao  de  se  escusar  disso,  senao  se  quizer 
dizer  que  nao  é  necessaria  guarda,  pois  nao  s  espera  que  nesle  concilio 
queyram  ou  possam  viir  os  chamados :  e  isto  por  sua  honrra  nao  ho  dyrá 
por  nao  Ihe  dizerem  que,  pois  nao  espera  que  venhao,  a  que  quer  ir  la. 
E  se  quizer  mudar  ho  lugar  do  concilo,  he  necessario  que  ho  torne  de 

tomo  ni.  57 


370  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

nouo  a  intimar  a  todos  principes  chrislaos ;  e  nisto  se  passará  todo  este 
ano  e  parte  do  que  vem,  e  depois  déos  sabe  o  que  será. 

Tem  todauia  ho  papa  tornado  a  escreuer  ao  Duque  de  mantua  que  se 
marauilha  muylo  viir  elle  agora  com  esta  nouidade.  E  porem  que  Ihe 
mande  dizer  que  pode  importar  a  custa  desta  guarda  que  quer  ter,  e  que 
por  ventura  pode  ser  tal  que  Sua  Sanlidade  a  pague.  E  porem  todos  tem 
por  certo  que  ja  por  este  anno  nao  se  poderá  tomar  concrusao  alguma 
do  concilio,  asy  por  esta,  como  por  outras  muilas  diíficuldades  que  hy  ha, 
e  cada  dia  nacem.  E  porem  ca  he  tudo  tao  variauel,  que  nao  se  pode 
cousa  nenhuma  affirmar  senao  depois  de  feita.  Ho  papa,  alem  deste  acha- 
que do  concilio,  he  muylo  incrinado  a  andar  de  qua  pera  la,  e  mostrar- 
se, mormenle  naquellas  parles  onde  ainda  o  nao  virao  papa,  como  he  em 
bolonha,  e  prasenca,  e  parma,  onde  foy  bispo;  e  cada  verao  vay  fora : 
por  onde  nao  será  muylo  quequeira  dar  huma  vista  a  estes  lugares,  mor- 
menle agora  que  ho  emperador  manda  dar  ao  senhor  pero  luis  a  cidade 
de  nouara,  que  he  gram  cousa,  e  nao  está  muy  longe  destas  Ierras  da 
Igreja,  e  he  no  ducado  de  miláo,  e,  segundo  me  dizem  homens  daquellas 
bandas,  se  nao  he  o  terco  do  ducado,  ao  menos  he  a  quarta  parle  em 
jurdicao  e  termo,  e  tem  muitas  villas  soieilas,  de  que  todos  os  milanezes 
se  descontentado  muilo  porque  dizem  que,  com  se  apartar  esta  cidade  do 
ducado,  fica  muy  pequeño,  e  que  desta  maneira  donde  delle  soya  ser 
huum  dos  principaes  da  christandade  vira  a  ser  dos  comues. 

Em  Esclauonia  se  tinha  por  Elrey  dos  romaos  a  cidade  de  Clisa, 
que  tem  hum  porto  muy  seguro  e  capaz,  e  de  grande  importancia  por 
ser  vezinho  a  turquia  ;  e  por  ysso,  de  gram  lempo  a  esta  parle,  os  Reís 
de  Vngria  s  esforcarao  de  soster  hy  huma  fortaleza,  que  guardasse  ho 
porto,  contra  a  qual  ho  turco  fez,  anos  ha,  outra  fortaleza  pera  lhe  pro- 
hibir as  vitualhas  e  socorro,  de  maneira  que  veo  ha  fortaleza  dos  chris- 
laos a  estar  em  muyta  eslreita  e  necessidade,  principalmente  de  lenha,  e 
ha  linham  os  que  nella  estauam  ja  quaise  toda  desfeita  das  obras  de  ma- 
deira.  Emlcndido  isto  asy  por  Elrey  dos  romaos  como  pollo  papa  man- 
daron! ambos  gente  a  soccorrella,  ho  papa  italianos,  e  elrey  tudescos,  os 
quaes  por  sua  desordem  e  desauenca,  e  lambem  por  scrcm  poucos,  que 
seriao  alee  quatro  mil,  forom  todos  desbaratados  e  morios  pollos  turcos, 
que  a  isso  se  ajuntarom  e  recrecerom  muitos :  e  pera  mais  desgraca  dos 
christaOs  aquello  dia  deste  desbarato  clioueo  tanto,  que  nunca  poderoin  dis- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  371 

parar  os  Arcabuzes  que  leuauaO,  o  que  nao  foy  asy  nos  turcos,  que  des- 
pararom  rauito  a  sua  vontade,  e  em  cheo,  os  arcos  e  Trechas,  que  traziao 
sem  contó.  Os  da  cidade,  vendo  islo,  pedirom  aos  hircos  termo  pera  se 
render,  e  os  turcos  lho  derom  e  se  retyrarom  huma  legoa  ou  mais  atrás, 
e  créese  que  por  tyrarem  toda  ocasyom  de  saco  aos  soldados.  A  noite  se- 
guinte  todos  os  da  cidade  se  sayrom  e  a  leixarom  vazia.  Da  fortaleza  nao 
se  sabe  ainda  que  he  feito,  porem  tem  se  por  cerlo  que  deua  ser  ou  to- 
mada por  forca  ou  rendida  aos  turcos;  do  que  se  seguirá  grande  perigo 
a  estas  partes,  moormente  a  Ancona,  e  a  toda  a  marca,  que  sao  térras 
da  Igreja  a  que  se  pode  viir  por  mar  em  xni  ou  xnn  oras,  e  asy  as  tér- 
ras de  Venezianos.  Ysto  tem  dado  ao  papa  mais  particular  cuidado  e  ar- 
receo  da  viuda  do  turco. 

A  armada  do  turco  ateegora  nao  tem  abalado  dcVellona,  saluo  cin- 
coenta  gallees,  que  dizem  que  vao  a  volla  de  marselha  a  ajuntarse  com 
os  francezes,  e  he  capitao  ho  judio.  Ho  resto,  que  podem  ser  ale  cl  gal- 
les, estao  ainda  na  Vellona,  com  muytas  taforeas  pera  passarem  caual- 
los ;  e  porem  créese  que  ho  turco  fará  muilo  mor  esforco  pella  banda  de 
Vngria.  As  cousas  de  piamonle  e  Saboya  pouco  mais  alteracao  ha  nellas 
que  d  antes,  saluo  que  ho  marques  de  Saluco,  que  se  linha  passado  del- 
rey  de  franca  ao  Emperador,  se  afíirma  aquy  por  mui  certo  que  ho  ma- 
taron) com  hum  arcabuz  os  de  huum  lugar,  que  elle  tinha  cercado. 

Delrey  de  franca  se  diz  tambera  que  tem  lomado  hum  lugar  em  fran- 
des,  que  se  chama  hedim,  £  que  por  aquella  parle  quer  talhar  os  paes 
e  destruyr  tudo  de  maneira  que  per  aly  nao  Ihe  possa  ho  Emperador  fa- 
zer  guerra:  E  feylo  islo  se  vira  a  lyom  a  volta  de  Italia.  E  aflfyrmase 
que  tem  grandes  praticas  com  os  luteranos,  e  que  lhe  dáo  muyta  gente. 

Estando  escreuendo  esta,  me  derom  outras  cartas  duplicadas  de  Vossa 
Alteza  por  via  de  Ruy  fernandes  sobre  a  mesma  expedicao  de  goa,  e  es- 
creue  de  Campenha  a  vi  do  passado:  as  outras  primeiras  recebi  por  via 
de  Johao  rabello,  que  escreue  de  Valhadolit  a  xxvi  de  Janeiro. 

Esta  escreuo  de  pressa  por  hum  que  leua  ho  capello  ao  filho  do 
Duque  de  gandia,  que  soube  que  parte  agora.  Disse  ao  Cardeal  Santiqua- 
tro  se  quería  escreuer  a  Vossa  Alteza.  Esc u so u  se  com  dizer  que  ho  faria 
quando  se  emuiasse  ho  despacho  de  goa :  tornou  rae  porem  a  lerabrar  o 
que  soe  de  suas  cousas  pera  com  Vossa  Alteza.  E  porque  ñas  passadas  te- 
nho  acerca  disso  escrito  largo,  me  parece  que  comprirei  com  elle  de  mi- 

47* 


372  CORPO  DIPLOJIATICO  PORTUGUEZ 

nha  parle  com  remeterme  ao  ja  lanías  vezes  dito,  que  quandoVossa  Al- 
teza lyver  vonlade  de  Ihe  fazer  merce,  como  elle  espera,  muilo  menos  do 
dito  abasta.  E  nosso  Senhor  a  vida  e  real  estado  deVossa  Alteza  acre- 
centé e  conserue  com  toda  a  prosperidade  que  deseja. 

De  Roma  a  xn  d  abril,  1537  —  Pero  de  Sousa  de  tauora  l. 


Carta  de  Pedro  de  Sousa  de  Tavora  a  el-Rei. 

1531— Abril  «O. 

Senhor — Depois  de  ler  escrito  est  oulra,  por  o  que  ha  ha  de  leuar  se 
detcer  alguma  cousa  mais,  tyue  tempo  para  escreuer  esta  e  dizer  as  no- 
uas  que  depois  vierom. 

Soubese  agora  como  os  turcos,  depois  de  tomada  clysa,  tomarom 
tambem  por  forca  a  fortaleza,  e  cortarao  a  cabeca  ao  alcaide,  e  os  nari- 
zes  a  cento  e  cincoenta  homens,  que  acharom  dentro ;  e  enuiarom  asi  os 
narizes  como  a  cabeca  ao  turco. 

Soube  se  asy  mesmo  ser  certa  a  morle  do  marques  de  Salueo,  de 
hum  arcabuz  dos  de  carminhola,  villa  de  Salueo,  que  elle  tinha  cer- 
cada. 

Ho  Senhor  da  mirándola,  que  he  huma  villa  muy  forte  em  Lom- 
bardia,  antre  bolonha  e  mantua,  deu  a  dita  villa  a  Elrey  de  franca  a  troco 
de  mais  renda  em  franca.  Dizem  agora  que  a  esta  mirándola  sao  hidos 
eapitaes  do  mesmo  Rey  com  dinheiros  e  comissao  de  fazerem  hy  vinte 
mil  fanles  Italianos,  com  que  se  hao  do  ajunlar  quatorse  mil  Soicos,  que, 
se  asy  for,  poerám  em  muyla  mais  duvyda  as  cousas  do  emperador. 

Das  cento  e  dez  galles,  que  a  Senhoria  de  Veneza  faz  armar,  foram 
adiadas  seis  foradas  por  debaixo,  e  os  buracos  tapados  solilmenle  de  ma- 
neira  que  nao  se  enxergauao ;  e  níio  se  sabe  aínda  quem  ho  fez.  Ha  hy 
proposlos  grandes  premios  a  quem  ho  descobrir,  aínda  que  seja  o  feilor, 
com  tanto  que  diga  quem  Iho  mandou  fazer. 

Contarom  me  lambem  agora  huma  graca,  que  aconleceo  em  Veneza 
com  hum  enuiado  d  elrey  de  franca  ao  seu  embaixador  que  hy  tem,  que, 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.  Part.  I,  Mac.  58,  Doc.  80. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  R03IANA  373 

por  erro  ou  malicia  de  hura  barqueyro  que  ho  guyou,  foy  leuado  ao  em- 
baixador  do  Emperador,  que  disimulou  ho  caso  ale  ouuir  delle  a  creen- 
ca,  e  recebeo  as  carias:  eré  se  que  as  leria  :  e  depois  lhas  lornou  di- 
zendo  Ihe  que  aquellas  carias  nao  vinhao  a  elle,  que  era  embaixador  do 
Emperador:  que  vista  bem  a  quera  vinhao  e  lhas  leuasse. 

Os  do  Emperador  aperlao  muyto  com  o  Papa  que  Ihes  dé  quorenta 
mil  duquaclos  quada  mes,  que  lhe  promeleo  de  sua  parle  ho  senhor  Pero 
Luis  era  genoua  para  esta  guerra  contra  o  turco.  Ho  Papa  nam  quer  dar 
mais  que  vinte  mil  ao  mes  por  tres  meses  lodo  :  créese  que  a  cousa  se 
compoerá  em  que  dé  ho  Papa  cem  mil  ducados  era  lodo. 

Ca  se  diz  que  Vossa  Alleza  e  o  emperador  se  vem  em  guadalupe ;  e 
que  se  traía  de  darem  a  Vossa  Alleza  era  penhor  Zamora,  badajos,  e  cida 
rodrigo  por  dinheiros,  que  Vossa  Alleza  empresla  ao  Emperador.  E  po- 
rem  eré  se  que  eslas  nouas  as  finjem  os  do  Emperador.  Tarabem  dizem 
que  ho  ajuda  com  huma  grande  armada.  E  nao  me  pareceo  inconuenienle, 
ainda  que  isto  la  se  trate,  escreuer  a  Vossa  Alteza  o  que  ca  se  diz.  E 
muylos  ha  hy,  que  se  dao  por  seruidores  de  Vossa  Alteza,  que  nam  apro- 
vam  estas  vistas  porque,  se  sao  pera  coracertos,  muyto  melhor  se  tratao 
por  terceiros-,  e  tera  ca  por  muy  certo,  e  allegao  muytos  exempros,  que 
nunca  se  virao  princepes,  que  depois  nao  fiquasem  mal. 

Estando  escreuendo  esta,  me  mandou  ho  papa  chamar,  que  me 
achasse  ás  desaséis  horas,  que  he  huma  pn  antes  do  meio  dia,  em  con- 
sistorio, onde  mandaua  que  viessem  lodos  os  embaixadores  e  agentes  dos 
Princepes  ehristaos,  que  nesla  corte  residiao.  Fuy  me  logo  ao  Cardeal 
Sanliqualro,  que  hya  tarabem  pera  o  paco,  e  conley  lhe  a  embaixada,  que 
me  fora  feita  da  parle  do  papa.  Disse  me  que  fosse,  que  lá  ouuiria  ha  de- 
liberacao  do  papa  acerca  do  concilio.  E  a  esle  tempo  aribarora  tambem 
ho  conde  de  Ciffuenles,  e  o  marques  d  aguillar,  e  com  elles  se  ajuntou 
huum,  que  alegora  chamarom  secrelayro  delrey  de  Romaós,  e  agora  lhe 
chamao  seu  Embaixador,  os  quaes  todos  tres  se  aparlarom  e  me  rogarom 
que  tambem  entreviesse  no  que  queriáo  communicar.  E  depois  de  passa- 
das  algumas  cortesías  antre  o  conde  e  o  marques,  de  se  rogarem  quem 
diría  primeiro,  ho  Conde,  como  mais  velho  asy  na  embaixada  como  nos 
dias,  disse  corao  ho  papa  ho  dia  d  antes  ao  marques  e  a  elle  dissera  muy- 
tas  causas  por  onde  convinha  mudar  ho  lugar  do  concilio;  e  auendose 
de  mudar  que  era  tambem  necessario  prorogar  ho  tempo ;  e  que  sobre 


37 i  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTÜGUEZ 

isto  tudo  hauia  de  fazer  oge  consistorio,  no  qual  se  hauia  de  resoluer  em 
tudo  o  que  a  este  caso  locasse  :  e  que  cría  que  esta  chamada  era  sobre 
isso,  e  que  era  bem  que  praücassemos  o  que  nos  parecía  que  se  deuesse 
responder  ao  papa  :  e  que  seu  parecer  era  que  carregassemos  tudo  sobre 
ho  papa,  remetendonos  ao  que  Sua  Santídade  fizesse.  E  desle  parecer  foy 
ho  marques,  e  o  embaixador  d  elrey  dos  Komaos.  Eu  Ihe  respondy  que 
eu  nao  cria  que  ho  papa  tomasse  parecer  de  nos,  senao  que  quisesse  no- 
tificar nos  sua  determinacao,  pera  que  ho  escreuesse  cada  huum  a  seu  prin- 
cipe ;  e  que,  quando  quisesse  parecer  ou  voto,  que  eu  nao  tinha  comis- 
sao  em  tal  caso  deVossa  Alteza,  senao  de  lhe  escreuer  o  que  passaua. 
E  estando  nestas  praticas,  se  abrió  ho  consistorio  e  nos  chamariío.  Entra- 
dos, e  feita  a  reuerencía  custumada,  ho  papa  de  sua  cadeyra  consisto- 
rial, estando  todos  os  Cardeaes  em  seus  escabellos,  e  todos  os  outros  em 
pee  com  os  barates  fora,  disse  em  seu  italiano  desla  manoira  :  «Senhores 
embaixadores  e  agentes  dos  príncipes  chrislaos,  que  aquy  vos  achaís,  eu 
\os  fiz  chamar  pera  vos  dizer  que,  tendo  eu  ho  ano  passado  proposto  e 
denunciado  ho  concilio  geral  pera  se  hauer  de  celebrar  na  cidade  de  man- 
tua,  e  comecar  a  vinle  tres  de  mayo,  que  ora  vyrá  do  ano  presente;  e 
desejandoho  por  muytas  e  euidentes  causas  necessarias  á  christandade,  e 
tendo  pera  se  efleituar  usado  de  minha  parte  toda  a  deligencia  que  con- 
uinha,  asy  em  ho  fazer  intimar  a  todos  os  principes  e  pouos  christaos, 
como  no  al,  e  estando  determinado  de  eu  em  pessoa  entreuyr  no  dito  con- 
cilio, e  aparelhando  me  pera  me  partyr  a  ysso,  encomendey  por  meus 
breues  ao  senhor  duque  de  mantua  que,  neste  meo  que  eu  hya,  fizesse 
bem  receber  e  tratar  os  que  pella  ventura  primeyro  que  eu  aribassem. 
Do  qual,  respondendo  me,  entendy  que  quería  seguridade,  a  qual  era  que 
lhe  dessem  o  necessario  pera  asoldadar  gente  de  pee  e  de  cauallo,  asy 
para  sua  guarda  como  do  concilio.  E  posto  que  tornassemos  ha  escreuer 
lhe  que  nao  era  cousa  conueniente  hauer  se  de  ter  presidio  de  gente  de 
guerra  no  concilio,  principalmente  á  nossa  custa,  por  muytas  razoes,  e 
antre  as  oulras  porque  os  luteranos,  por  cuja  causa  moormente  este  con- 
cilio se  faz,  nao  podessem  allegar  que  lhe  era  sospeito  e  niio  tuto  acesso, 
o  dito  Senhor  Duque  de  mantua,  bem  que  com  muyta  modestia,  persistió 
sempre  em  querer  a  dita  guarda.  Pollo  qual,  consultando  nos  isto  com 
estes  Reuerendissimos  Senhores  Cardeaes,  pareceo  que  se  deuesse  mudar 
ho  lugar  do  concilio  pera  outro.  onde  nao  ouuesse  este  inconuenienlc.»E 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  375 

aínda  que  ao  papa  soo  pertenca  asy  o  conuocar  e'fazer  concilio  geral,  e 
asy  o  mudar  o  lugar  e  tempo ;  todauia,  por  mais  satisfacao  dos  princi- 
pes chrislaós  e  dos  que  hao  de  viir,  pareceo  tambem  deuel  o  communicar 
com  os  mesmos  principes.  E  porque  nesla  comunicacíio  e  reposta  neces- 
sariamente  se  requere  tempo,  para  ho  hy  auer  para  ludo  prorogámos  ho 
concilio  a  hum  certo  termo,  que  nem  fosse  tao  longo  que  parecesse  que 
alentamos  nada  ho  desejo  que  temos  grande  de  celebrar  este  concilio  pera 
seruico  de  Déos,  nem  tao  pouco  tao  curto  que  nao  podesse  isto  ser  no- 
tificado aos  principes  e  auer  sua  feposta.  E  a  prorogacao  he  ate  o  prin- 
cipio do  mes  de  nouembro,  primeiro  que  vier,  passado  ho  dia  de  todo- 
Ios  Santos  e  dos  mortos.  E  certo  este  empedimento,  que  se  agora  offre- 
ceo,  foy  com  muyta  molestia  de  nosso  animo  pollo  ardor  e  vontade  que 
tinhamos  de  comecar  e  proseguir  ho  dito  concilio,  ho  qual  ao  seruico  de 
Déos  e  bem  da  christandade  julgamos  sempre  muy  necessario  e  sauda- 
uel ;  mas,  pois  que  al  se  nao  pode  fazer,  he  de  crer  que  Déos,  por  cuja 
mao  se  ordena,  e  a  cujo  prouimento  todos  os  conselhos  humanos  sao  in- 
feriores, ho  quer  asy  por  milhor.  E  que  neste  meo  poderá  fazer  se  paz 
antre  estes  principes  christaos,  e  alguum  ou  alguuns  delles  poderao  viir  ao 
mesmo  concilio,  e  asy  outras  pessoas  com  mais  comodidade :  e  lambem 
em  tanto  se  entenderá  milhor  no  prouimento  da  defensao  contra  os  apa- 
ratos grandes  do  turco  contra  a  christandade,  e  nos  nao  leixaremos  em 
tal  tempo  a  Roma,  que  nossa  he  propria  sede,  o  que  nao  podera  ser,  par- 
lindo  nos,  sem  grande  perlurbacao  e  temor  dos  que  ficarao  em  nosso 
absensia,  posto  que  ha  nao  o.uueramos  de  leixar  desprouida.  Ysto  quis 
dezeruos  pera  que  ho  facaes  asy  entender  a  vossos  principes  com  toda 
a  presteza  que  poderdes.  E  nos  tambem  avisaremos  a  nossos  nuncios  do 
mesmo,  e  faremos  as  mais  prouisoes  necessarias  a  esta  notificacao  e  a  todo 
ho  sobre  dito». 

A  isto  respondeo  ho  Conde  de  CifFuenles  que  elle  tinha  ouuido  e 
entendido  todo  o  que  Sua  Santidade  dezia,  de  que  parte  communicara  ho 
dia  d  antes  com  ho  marques  d  aguilar,  que  hy  estaua  presente,  e  com 
elle ;  e  que  elles  ambos  fariao  ho  officio  de  avisar  com  prestesa  ao  Em- 
perador seu  senhor  da  deliberacao  de  Sua  Santidade.  E  todos  os  outros 
diserom  que  fariao  o  mesmo  a  seus  princepes,  e  en  disse  que  faria  o 
mesmo  a  Vossa  Alteza  com  toda  deligencia  e  fieldade.  E  com  isto  e  com  a 
bencao  do  papa  nos  despedymos  todos. 


376  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

i 

Depois  me  disse  ho  Cardeal  Santiquatro  que  podia  tambem  escrcuer 

aVossa  Alteza  que  ho  papa  estaua  muy  posto  em  fazer  esle  concilio;  e 
que,  aínda  que  aly  nao  proposera  lugar  determinado,  sua  tencao  era  fa- 
zello  ou  em  bolonhn,  ou  em  prasenca,  ou  em  Roma,  porque,  perseue- 
rando  elle  nesta  neutralidade,  em  que  está  muy  constante,  via  que  em  tér- 
ras do  Imperio,  ou  feudatarias  a  elle,  como  he  mantua,  e  as  que  lem  os 
venezeanos,  e  as  do  ducado  de  milao,  nao  se  contentaría  elrei  de  franca  ; 
nem  lao  pouco  ho  Emperador  das  delrey  de  franca,  ou  suas  aíTeicoadas. 
Disse  me  tambem  que  elle  escreueria  á  Vossa  Alteza,  posto  que  hy  nao 
auia  mais  que  dizer  acerca  deslas  cousas. 

A  expedicao  do  bíspado  de  goa,  alem  de  ho  auiso  de  Vossa  Alteza 
sobre  elle  me  ser  dado  lao  tarde,  e  no  tempo  que  tenho  dito,  ouue  mais 
dilacao  do  que  ouuera,  por  causa  de  qua  nao  se  achar  a  sedula  consisto- 
rial da  eleicao  de  francisco  de  meló,  posto  que  se  achasse  disso  e  da  erei- 
cao  de  Goa  huma  breue  memoria  nos  liuros  do  consistorio.  E  os  do  Ar- 
cebispo  Dom  marlinho,  que  aquy  estao,  bem  que  se  lembrao  desla  erei- 
cao,  nao  se  delerminarao  se  a  cédula  se  asynou,  e  remetían  se  ás  escri- 
turas do  dito  Arcebispo,  que  dizem  que  elle  leixou  cerradas  em  hum  co- 
fre de  que  leuou  a  chaue.  E  andando  nesta  busca  se  passou  tempo ;  e 
depois,  em  tornar  a  fazer  outra  cedola,  mais,  por  nos  conuiir  hyr  nislo 
como  ás  escuras,  por  eu  nao  ter  lume  algum  das  particularidades,  mais 
que  aquella  geral  memoria  do  consistorio.  Outra  cousa  nao  se  oífrece,  e 
esta  conuem  cerrala  logo,  porque  ho  homem,  que  na  outra  disse  que  es- 
taua pera  partyr,  esperou  ategora,  creo  ppr  leuar  tambem  esta  lesolu- 
cao.  Nosso  Senhor  a  vida  e  real  estado  de  Vossa  Alteza  acrecenté,  e  con- 
serue  com  toda  prosperidade. 

De  Roma,  xx  de  Abril,  1537. 

Soube  agora  como  ho  viso  rey  de  ñapóles  faz  deslclhar  todas  as  ca- 
sas de  ñapóles,  que  estao  a  marinha,  e  enchelas  de  Ierra :  e  poe  nellas 
muyla  artelharia,  pera  a  qual  faz  desfazer  todos  os  synos  e  almofarizes, 
que  ha  na  cidade  e  fora.  E  per  aquy  pode  Vossa  Alteza  veer  quam  em 
breue  esperao  a  furia  dos  turcos  afora  a  dos  francezes. 

Pero  de  sonsa  de  lauora  l . 


1  Ahch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  58,  Doc.  83.  Estao  em  cyfra  as  pala- 
bras que  vao  em  itálico  no  principio  desla  caria. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  377 

Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

1539  —  Abril  «3. 


Paulus  Papa  tu  Carissime  in  chrislo  fili  nostcr  salutem  et  apostoli- 
cam  benediclionem. 

Non  dubitamus  quin  Tua  Maiestas,  pro  suo  studio  in  fidem  calho- 
licam  el  rempublicam  christianam,  quae  hoc  lempore  celebrationem  ge- 
neralis  Goncilii  máxime  postulant,  moleste  acceplura  sit  id  impedimen- 
lum,  quod  dicto  Concilio  per  Ducem  Mantuae  nunc  allatum  est.  Is  enim, 
cura  essemus  eum  per  Hueras  nuper  horlati  uí,  appropinquante  concilii 
incohandi  lempore,  ckiitatem  ordinatam  et  preparatam  in  hospitiis  et  vi- 
clualiis  haberet  ad  laníos  hospites  excipiendos,  nosque  cum  noslra  curia 
iam  ad  iter  accingeremur,  ecce  súbito,  quod  nunquam  antea  nobis  signi- 
ficauerat,  presidium  militare  et  pro  eo  stipendium  a  nobis  petiit  nd  nos- 
tram  máxime,  ut  dicebat,  securitatem  ;  cumque  nos,  non  tam  pecunia 
paréenles,  cui  tamen  parcere  cogimur,  cum  preter  alias  impensas  nos- 
tras  et  apostolicae  sedis  sólito  grauiores,  nunc  etiam  littora  et  vrbes  sta- 
tus nostri  ab  utroque  Italiae  mari  ob  melum  Turcarum  defenderé  coga- 
mur,  quam  malum  exemplum  habendi  armati  concilii  uitantes,  statim  ipsi 
Duci  rescripsissemus  nihil  nos  limere,  et  ceteros  eliam  omnes  situ  loci 
ac  diligentia  ipsius  Ducis  satis  tutos  esse  posse,  Ipse  secundo  rescripsit 
se  non  tanlum  nobis,  uerum  etiam  sibi  et  suae  ciuitati  metuere,  propte- 
reaque  se  et  illam  ciuilatem  tot  nationibus  simul  conuenturis,  sine  opor- 
tuno presidio,  committere  non  audere.  Replicauimus  ei  terlio  rem,  quam 
peteret,  non  solum  fore  suspitiosam  multis,  uerum  eliam  actioni  tam  piae 
esse  incongruam,  cum  ad  concilium  homines  non  armati  sed  pacati,  fe- 
reque  omnes  ecclesiastici,  conueniant ;  nec  aequum  esse  arma  ibi  cons- 
pici,  ubi  libera  omnium  suífragia  esse  debeant,  neminemque  esse  ausu- 
rum  perturbare  ipsum  concilium,  quod  ex  omni  christianitalis  corpore 
congregatum  esset. 

His  rationibus  cum  acquieturum  eum  putaremus,  nihil  tamen  pro- 
ficere  tot  suasionibus  ac  totiens  iteratis  potuimus,  nam  terlio  suum  ho- 

TOMO  III.  48 


378  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

minem  cum  eisdem  mandatis  de  presidio  et  stipcndio  ad  nos  misit.  Oua 
reí  nouilale,  fili  carissime,  et  tanta  obstinalione  ipsius  Ducis,  ita  perlur- 
hati  fuimus  ut  nulla  porturbalione  grauius  aííici  hoc  tempore  potuerimus. 
Cum  enim  propediem,  nulla  elalis  nostra  uel  alia  ratione  habita,  nos  ad 
iler  daturi  essemus,  hoc  inopinato  casu  in  maximam  anxietatem  coniecti 
sumus,  non  solum  quod  rem  tam  salutarem  quam  primum  aggredi  cu- 
piebamus,  uerum  eliam  quod  uerebamur  multos  ex  conuenturis  nostra 
indictioni  confisos  iter  ¡ngredi  cepisse,  et  magno  cum  suo  incommodo  et 
nostro  pudore  uel  progressuros  unde  exclusi  iam  sunt,  uel  tanto  itinere 
frustra  susceplo  in  suam  palriam  reddituros.  In  hac  ilaque  solliciludine 
positi,  ut  quam  citius  incommodis  uenienlium  occurreremus,  Die  veneris 
próxima,  in  consistorio  nostro  secreto,  de  Venerabilíum  fratrum  nostro- 
rum  Sanclae  Romanae  ecclesiae  cardinalium  consilio,  quod  et  necessitas 
ipsa  nobis  praescribebat  locum  mutandum  esse  decreuimus ;  utque  inte- 
rim  de  alio  loco  per  nos  eligendo  deliberare,  et  de  electo  tempestiue  si- 
gnificare ómnibus  possemus,  tempus  incohandi  Concilii  ad  calendas  No- 
uembris  proximi  prorogauimus,  ipsamque  loci  mutandi  deliberationem  et 
temporis  prorogationem  tuo  agenti,  et  ceterorum  principum  oratoribus 
apud  nos  existentibus,  quos  ad  ipsum  consistorium  proplerea  uocari  fece- 
•  ramus,  statim  significauimus,  ut  idem  tuus  Agens  Tuae  Maiestali,  et  suis 
quisque  Principibus  nostro  nomine  perscriberent.  Licet  igitur  credamus 
dictum  Agentem  luum  suo  oíBcio  functum  esse,  hoc  tamen  eliam  noslris 
litteris  ei  innotescere  uoluimus,  cui,  sicut  nunc  de  tempore  prorogato,  ita 
de  alio  loco,  quera  elegerimus,  qua  quidem  in  eleclione  omnem,  que  ha- 
bed debeal  et  possit,  ralionem  habere  conabimur,  propediem  significabi- 
mus,  et  litteris  eliam  sub  plumbo  nostris  ad  omnium  noliliam  deducemus. 
Dalum  Romae,  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscaloris,  Die 
xxim  Aprilis  moxxxyii,  Pontificatus  noslri  Anno  Terlio — Blosius1. 


1  Arch.  Nac,  Mac.  23  de  Bullas  n.°  17. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  379 


Carta  de  Pedro  fie  Sonsa  fie  Tavora  a  el-Rei. 


153*  —  Abril  «4. 


Senhor — Vindo  me  agora  ter  ás  maos  huma  caria,  que  Elrey  de 
franca  enuiou  aos  eleitores  do  imperio  e  cerlos  Senhores  de  Alemanha, 
parecendome  queVossa  Alteza  folgará  de  ha  ueer,  Iha  enuio.  lie  tuda  ca 
por  elegante :  e  quanlo  á  sustancia  della  ha  hy  diuersos  goslos  desuay- 
rados ;  e  la  por  ventura  hauerá  oulros. 

E  porque  vim  a  falar  na  elegancia,  se  me  offrece  de  dizer  aVossa 
Alteza  que,  quanlo  ao  lalim,  vejo  que  tem  Vossa  Alteza  necessidade  de 
huma  pessoa,  que  corresponda,  ao  menos  em  parte,  a  sua  grandeza  ;  e 
que,  se  la  a  tiuesse,  muitas  cousas  ha  hy  e  se  ofírecem  cada  dia  em  seus 
reynos,  muilo  grandes  e  sinaladas,  que  pareceriao  o  que  sao,  e  que  eu 
vejo  estar  ás  escuras.  Se  Vossa  Alteza  mandar  que  dos  que  qua  ha  se  lhe 
enculque  huum  sufficiente  para  ho  seruyr  em  semelhantes  cousas,  farey 
o  oñicio  nisso  que  vyr  que  compre  a  seu  seruico. 

Reijo  as  maos  de  Vossa  Alteza. 

De  Roma,  xxim  d  abril,  1537 — Pero  de  Sonsa  de  lavora1. 


■Breve  da  Penitenciaria  Apostólica. 


1531  —  Abril  81. 


Anlonius,  miseralione  diuina  tituli  sanctorum  Quattuor  Coronatorum 
presbiter  Cardinalis,  Venerabili  in  chrislo  palri  domino  Johanni,  dei  gra- 
tia  Electo  ecclesie  Ciuilatis  de  Goa,  in  India,  Salutem  et  sinceram  in  do- 
mino charitatem. 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  58,  Doc.  84. 

48* 


380  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Sedis  apostolice  ¡ndefessa  clemenlia  circumquaque  peruigil,  cum 
(emporum  et  personarum  ac  locorum  qualitas  id  exigit,  rigorem  Juris 
mansueludine  temporare,  et  animarum  chrisliíidelium  saluti  et  tranquil- 
lilnti  consulere,  ac  exigentibus  meritis  eorum  commoditalibus  consulere ; 
et  ne  chrislifideles  ipsi,  qui  ob  uiarum  longinquitatera  et  discrimina  ad 
sedem  ipsam  proplerea  recursum  habere  commode  non  possunt,  ob  id  pa- 
tianlur,  personis  prouidis  et  circunspeclis  desuper  vices  suas  libenter  com- 
m  i  Itere,  presertim  in  partibus  de  nouo  ad  fidem  conuersis,  consueuit, 
prout  id  in  domino  salubriter  expediré  cognoscit.  Sane,  exhibita  nobis 
nupcr  pro  parte  Serenissimi  domini  Joannis,  porlugallie  et  Algarbiorum 
Regís,  pelitio  continebat  quod,  cum  ipse,  et  predecessores  sui  porlugallie 
el  Algarbiorum  Reges,  zelo  propagande  fidei  catholice  diuersas  Ciuitales, 
oppida  et  prouincias  in  parlibus  Indie,  el  forsan  Ethiopie,  Arabie  ac  per- 
sie,  ab  Infidelium  manibus,  non  sine  magnis  eorum  expensis,  et  quando- 
que  subditorum  suorum  christifidelium  periculis  et  cedibus,  eripuerint 
et  partí  fuerinl,  ac  sub  eorum  christiano  dominio  et  polestale  reduxerint, 
et  in  eas  plures  christianos  íncolas  traduxerint,  et  diligenti  verbi  diuini 
predicalione  Regia  solliciludine  adhibita  quamplures  infideles  ad  lidem 
catholicam  conuersi  fuerinl  et  in  dies  conuertanlur,  nec  valeat  cum  illis 
ob  ipsorum  paucitatem  et  alias  rigor  Canonum  sanctorum  palrum  obscr- 
uari,  sed  expediat  rigorem  ipsum  circa  eos,  adhuc  in  cunabulis  fidei  cons- 
tituios, in  pluribus  occurrentibus  casibus  relaxan  ;  et,  ob  magnam  loco- 
rum a  sede  apostólica  distantiam  notoriam,  deíBcile  et  quasi  impossibile 
sil  ¡n  singulis  eisdem  casibus  ad  sedem  predictam  habere  recursum,  Et  pro- 
plerea si  vobis,  de  cuius  persona  dicta  sedes  apostólica,  ad  nominalíonem 
dicli  Regis,  vestris  exigentibus  meritis,  ecclesie  Ciuilatis  de  Goa,  nuper  in 
cathedralem  per  eandem  sedem  erecte,  prouidit,  Vos  ilü  preficiendo  in  Epis- 
copum  el  pasto  reno,  et  de  cuius  circunspectione  plurimum  esl  in  domino 
coníidendum,  et  vestris  in  dicta  ecclesiasuccessoribus,  vtquoscunquechris- 
tifideles,  tam  de  nouo  conuersos  ad  fidem  quam  a  parentibus  chrislianis 
progenilos,  in  partibus  Ethiopie,  Arabie,  persie.et  Indie  huiusmodi  pre- 
fato  Regi  nunc  el  pro  lempore  subiectis,  pro  tempore  commorantes,  etiam 
exemptos,  etiam  quorumcunque,  etiam  mendicanlíum,  ordinum  religio- 
sos, Videlicel  ad  omnes,  etiam  sacros  et  presbiteralus,  ordines,  etiam  ex- 
tra lempora  a  Jure  statuta,  aliquibus  diebus  dominicis  vel  festiuis,  etiam 
in  sexto  décimo  ad  subdiaconatum,  et  in  décimo  oclauo  ad  diaconalum, 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  381 

et  in  vigésimo  tertio  annis  inceplis  constituios  ad  presbileralum  promo- 
viere ;  et  a  non  suis  Episcopis,  etiam  extra  témpora  ac  ante  etatem  legi- 
timam  vel  per  sallum  ac  ad  fictum  titulum  promotos,  copulaliue  vel  de- 
iunctiue,  ab  excessibus  huiusmodi  el  censuris  proplerea  incursis  absol- 
uere  ;  et  cum  eis  ac  quibusuis,  qui  censuris  irretili  missas  et  alia  diuina 
officia,  non  lamen  in  conlemplum  clauium,  celebrauerint,  ac  alias  illis 
se  immiscuerint,  ad  ordines  susceptos  et  suscipiendos  ac  beneficia  eccle- 
siaslica  óblenla  el  oblinenda  dispensare  ;  Ac  confessiones  quorumcunque 
chrislifidelium  partium  earundem,  seu  in  illis  moram  trahenlium,  per 
vos  vel  a  vobis  pro  tempore  deputandos,  quorum  probitas  et  suíficientia 
vobis  nota  exislant,  audire,  eosque  in  quibusuis  casibus,  etiam  sedi  apos- 
tolice reseruatis,  etiam  conlenlis  in  bulla  in  Cena  domini  nuncupala,  in 
foro  conscientie  tanlum  absoluere;  et  de  nouo  ad  fidem  calholicam  venien- 
tes, per  vos  vel  alium  seu  alios,  baptizare  ;  necnon  ecclesias  quascunque 
consecrare,  ac  ecclesias,  cimiteria  et  loca  sacra,  sanguinis  aut  seminis 
bumani  effusione  polluta,  reconciliare;  necnon  Ires  religiosos  ordinis  mi- 
norum,  cuius  vos  professi  eslis,  cuiuscunque  prouincie,  quos  duxerilis 
eligendos  in  socios  veslros  pro  verbo  diuino  in  dictis  partibus  predican- 
do, et  confessionibus  audiendis,  et  eis  vel  eorum  aliquo  defuncto  seu  de- 
functis,  vel  eis  de  licentia  vestra  ad  ordinem  ipsum  redeunlibus,  alium 
seu  alios  eorum  loeo,  dummodo  omnes  insimul  tres  numero  non  exce- 
dant,  ad  effeclum  prediclum,  licentia  superiorum  diclorum  religiosorum 
per  eos  super  hec  pelila  licet  non  oblenta,  assurnere ;  et  insuper  vnum 
ex  dictis  religiosis,  qui  confessione  vestra,  quotiens  confiten  volueritis, 
diligenter  audila,  vos  ab  ómnibus  et  singulis  peccalis  vestris  et  censuris 
proplerea  incursis,  etiam  in  casibus  sedi  apostolice  reseruatis,  eliam  con- 
lenlis in  bulla  in  Cena  domini  nuncupata,  absolua't,  et  pro  commissis  pe- 
nitentiam  salularem  iniungat,  pro  tempore  eligere  libere  el  licite  posselis 
facultas  concederetur,  profecto  ex  hoc  ecclesie  in  partibus  illis  slatui  et 
animarum  fidelium  prediclorum  saluli  et  spirituali  consolalioni,  ac  illo- 
rum  necessitatibus  non  modicum  consulerelur :  Quare  supplicari  fecit  hu- 
mililer  dominus  Johannes,  Rex  prefalus,  sibi  super  bis  per  sedem  apos- 
tolicam  de  opportuno  remedio  misericordiler  prouideri.  Nos  igitur,  ze- 
lum  dicti  domini  Regís  in  his  plurimum  in  domino  comendantes,  ac  cu- 
pienles  ne  ecclesia  et  christifideles  in  partibus  predictis  ob  earum  dis- 
tantiam  a  sede  apostólica  patiantur  prouidere,  eiusdem  domini  Regis  sup- 


382  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

plicationibus  inclinati,  aucloritale  domini  pape,  cuius  penitenliarie  curam 
gerimus,  et  de  eius  speciali  el  expresso  mandato  super  hoc  viue  vocis 
oráculo  nobis  facto,  paternitati  vestre  quoad  uixeritis,  el  in  dicla  ecclesia 
de  Goa  successoribus  vestris,  vsque  ad  vigintiquinque  anuos  quoad  suc- 
cessores  ipsos,  ao  vobis,  el  vsque  ad  diclum  lerapus  eorum  cuilibel,  vt  in 
parlibus  Elhiopie,  Arabie,  persie  ac  Indie  prefalo  Regi  nunc  el  pro  tem- 
pore  subieclis,  lam  veslre  quam  aliarum  quaruncunque  Ciuilatum  el  dio- 
cesium,  quoscunque  chrislifideles,  lam  de  nouo  ad  íidcm  conuersos, 
quam  a  parentibus  chrislianis  progenilos,  ibidem  nunc  et  pro  tempore 
commorantes,  etiam  exemptos  et  sedi  apostolice  imediate  subieclos,  et 
quoruncunquc,  etiam  mendicanlium,  ordinum  religiosos,  ad  omnes,  etiam 
sacros  et  presbiteratus,  ordines,  dummodo  alias  ydonei  existant,  et  secu- 
lares clerici  sufíicienlem  titulum  habeant,  etiam  extra  témpora  a  Jure  sla- 
tuta,  aliquibus  diebus  dominicis  aut  fesliuis,  dummodo  vno  et  eodem  die 
dúo  sacri  ordines  non  conferantur,  etiam  in  sexto  décimo  ad  subdiaco- 
natum,  et  in  décimo  octauo  ad  diaconalum,  ac  in  vigésimo  tertio  annis 
inceplis  conslitutos  ad  presbiteratum  ordines,  alias  rite  et  dummodo,  si  in 
aliena  Quilate  et  diócesi  ordines  huiusmodi  contuleritis,  ad  hoc  per  dio- 
cesanum  ipsum,  vel  eius  vicarium  in  spiritualibus,  fueritis  inuitati,  pro- 
mouere ;  et  a  non  sois  Episcopis,  aut  extra  témpora,  vel  ante  elatem  ligi- 
timam,  seu  per  saltum  siue  ad  fictum  titulum  promolos,  copulatiue  vel  dis- 
iunctiue,  ab  excessibus  huiusmodi  et  censuris  propterea  incursis  absoluere; 
et  cum  eis  ac  qui  censuris  irretiti  missas  el  alia  diuina  ofíicia,  non  lamen 
in  contcmptum  clauium,  celebrauerint,  aut  alias  illis  se  immiscuerint,  su- 
per irregularitate  inde  contracta  ad  ordines  susceptos  elsuscipiendos  et  ad 
beneficia  ecclesiaslica  obtenía,  et  preterquam  episcopalem  dignilatem  obti- 
nenda,  dispensare,  dummodo  ante  ligitimam  etalem  promoti  in  ordinibus 
sic  susceptis,  doñee  ad  etalem  ligitimam,  aut  saltem  subdiaconi  ad  sextum- 
decimum,  et  diaconi  ad  decimum  oclauum,  ac  presbiteri  ad  vigesimum 
tertium  suarum  etatum  annos  peruencrint,  in  eisdem  sic  susceptis  ordi- 
nibus non  minislrenl;  et  insuper  confessiones  eorundem  christitidelium  di- 
ctarum  parlium,  vel  in  illis  morara  trahentium,  per  vos  vel  a  vobis  pro 
tempore  depulandos,  audire,  eosque  in  quibusuis  casibus,  etiam  sedi  apos- 
tolice reserualis,  etiam  contentis  in  bulla  in  Cena  domini  nuncupala, 
absoluere,  et  deuotio  ad  íidcm  catholicam  venientes  per  vos  vel  alium  seu 
alios  baptizare  ;  preterea  ecclesias  quascunque  consecrare  el  cimileria  be- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  3S3 

nediccre,  ac  ecclesias  cimiteria  et  loco  sacra,  sanguinis  \el  seminis  hu- 
mani  effusione  polluta,  reconciliare,  dummodo  ad  consecralionem  et  be- 
nediclionem  ac  reconcilialionem  ecclesiarum,  cemiteriorum  et  locorum, 
allerius  quam  veslre  ciuitalis  et  diócesis,  a  diocesano  illius,  vel  eius  vi- 
cario in  spirilualibus,  aut  Rectore  seu  alias  beneficialo  ipsius  ecclesie, 
fueritis  inuilati;  necnon  Tres  religiosos  dicti  ordinis  Minorum  cuiuscunque 
pouincie,  per  vos  eligendos  in  socios  vestios,  pro  diuini  verbi  in  diclis 
partibus  predicatione  ac  confessionibus  audiendis  assumere,  et  eis  vel 
eorum  aliquo  defunclo,  vel  ad  ordinem  ipsum  de  vestra  licentia  redeun- 
te,  aüos  eorum  loco,  dummodo  omnes  simul  tres  numero  non  excedant, 
ad  cffeclum  prediclum,  licentia  Superiorum  diclorum  religiosorum  per  eos 
su  per  boc  per  se,  vel  alium  seu  aüos,  petila  licel  non  obtenía,  assumere; 
preterea  vnum  ex  diclis  religiosis,  qui,  confessione  vestra  quotiens  confi- 
leri  voluerilis  diligenler  audita,  vos  ab  ómnibus  peccatis  vestris  et  cen- 
suris  propterea  incursis,  eliam  in  casibus  sedi  apostolice  reseruatis,  eliam 
contentis  in  bullís  Cena  domini  nuncupatis,  absoluat,  et  pro  commissis 
penitenliam  iniungal  salutarem,  pro  tempore  eligere;  ac  vos,  domine  Jo- 
hannes,  ómnibus  et  singulis  priuilegiis,  fauoribus,  gratiis,  concessioni- 
bus,  indulgenliis  et  indullis,  tam  spirilualibus  quam  temporalibus,  qui- 
bus  fralres  dicli  ordinis  minorum  in  illius  domibus  commorantes  vtun- 
tur,  potiuntur  et  gaudent,  vti  potiri  et  gaudere  libere  et  licite  valeatis, 
lenore  presenlium  facullalem  concedimus,  vobisque  et  diclis  religiosis  pa- 
riter  indulgemus.  Non  obslantibus  aposlolicis,  ac  prouincialibus  et  Syno- 
dalibus  Conslitulionibus  el  ordinationibus,  necnon  ecclesiarum,  ciuitalum, 
prouinciarum,  ordinum  et  monasteriorum  quorumeunque,  etiam  jura- 
mento, confirmatione  apostólica,  vel  quauis  firmilate  alia  roboratis,  sta- 
tulis  et  consuetudinibus,  priuilegiis  quoque,  indullis  et  lilleris  aposlolicis, 
iilis  ac  quibusuis  alus,  sub  quibus  verborum  formis  et  clausulis,  etiam 
derogatoriarum  derogatoriis,  aliisque  forlioribus  efficalioribus  et  insoülis, 
irritantibusque  et  alus  decrelis  concessis,  confirmatis  el  eliam  iteralis  vi- 
cibus  innoualis,  etiam  Marimagno,  aut  bulla  áurea,  vel  alias  nuncupa- 
tis, quibus  ómnibus  illorum  tenores,  ac  si  de  verbo  ad  verbum  insere- 
rentur,  presentibus  pro  plene  et  sufficienler  expressis  habenles,  illis  alias 
in  suo  robore  permansuris,  hac  vice  dumlaxat  specialiter  et  expresse  de- 
rogamus,  ceterisque  contrariis  quibuscumque. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  pelrum,  sub  sigillo  oíficii  penitencia- 


381  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

rie,  viii  Kalendas  Maü,  Pontificalus  domini  Pauli  pape  lerlii  Anno  Ter- 
lio1. 

Bi«evc  da  Penitenciaria  Apostólica. 

1539  —  llaio  18. 


Antonius,  miseratione  diuina  liluli  sanclorum  Quattuor  Coronatorum 
presbiter  Gardinalis,  Serenissimo  portugallie  et  Algarbiorum  Regí  Illustri 
Salulem  in  domino. 

Ex  iniunclo  nobis  a  sede  aposlolica  seruitutis  oíficio  ad  ea  libenler 
intendimus,  perqué  diuinus  cultas  vbique  incremenlum  suscipiat  et  christi- 
fidclium  deuotio  augealur,  eorumqtic  animarum  saluli  salubriter  in  do- 
mino consulatur.  Sane  exhibita  nobis  niiper  pro  parte  vestra  petitionis  se- 
ries continebat  quod,  cum  in  parlibus  Indie,  et  forsan  Ethiopie,  Arabie, 
persie,  diuina  fauente  clementia  nuper  vestre  ditioni  adiectis,  ob  diuersi- 
latem  climatis  earundem  parlium,  dies,  quo  solennis  fesliuitas  sacralissi- 
mi  Corporis  christi  ex  vniuersali  instituto  ecclesie  celebralur,  in  hiemale 
tempus  incidat,  ideoque  cum  debilis  cerimoniis  eaque  qua  decel  solenni- 
late  eo  lerapore  celebran  nequeat,  desideratis  fesliuitatem  eandem  in  aliud 
tempus,  quo  absque  hiemis  impedimento  conuenientius  et  decentius  cele- 
bran possit,  transferri ;  Cumque  partes  predicle  a  Regno  veslro  portu- 
gallie nimium  remote,  ac  in  illis  etiarn  Giuitates  et  oppida  ac  prouincie 
inler  se  valde  dislent,  eoque  fíat  vt  diííicile  aut  ex  dicto  vestro  Regno 
portugallie  ac  illas  partes,  aut  ex  aliquo  earundem  parlium  loco  siquis 
ibi  resideal  Catholicus  Antistes  ad  alia  loca  dislantia  accederé,  el  in  illis 
ornamenta  ecclesiarum  diuino  cullui  necessaria  benedicere,  ipsasque  eccle- 
sias  et  cimileria,  humani  sanguinis  vel  seminis  effusione  polluta,  recon- 
ciliare valeat ;  ac  proplerea  oleum  sanclum  quolibet  anno  vbique  coníici 
aut  confectum  ex  dicto  veslro  Regno  portugallie  ob  nauigalionis  diflicul- 

1  Em  transumpto  do  Vigario  geral  de  Lisboa,  de  30  de  Janeiro  de  4558,  no  Arch. 
Nac,  Mac.  15  de  Bullas,  n.°  14.  Ñas  costas  do  documento  lé-se  a  nota  seguinte  :  Trc- 
lado  da  bula,  que  o  bispo  de  goa  dom  Johiío  d  alboquerque  letiou  pera  a  India  das  fa- 
culdades  que  se  concederam  das  que  se  pediam  :  e  estas  que  se  concederam  sam  ao  bis- 
po que  ora  he  em  sua  vida,  e  a  seus  subcesores  per  xx  anos  somente  (sic). 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  385 

talcm  eo  aduehi  nonnunquam  iuxta  Juris  dispositionem  haberi  non  pos- 
sit,  singülis  Recloribus  ecclesiarum  dictarum  partium  ornamenla  predicta 
benedicendi,  el  ecclesias  ac  cimiteria  polluta  reconciliando  vel  nouiter 
erectas  et  erecla  benedicendi,  necnon  oleo  sánelo  ex  porlugallia  adduelo 
per  Quinquennium,  aut  per  aliquem  Antislitem  in  illis  parlibus  confeclo 
et  consécralo  per  Triennium,  vtendi  licentiam  concedí ;  Insuper  cum  sepe 
contigat  aliquos  in  parlibus  prediclis  orthodoxam  fidem  abnegare,  et  post- 
niodum  diurna  inspiratione  resipiscentes  ad  eandem  fidem  reuerli,  ac  quam- 
plures  lurchas  et  Mahumetam  seu  allerius  cuiusuis  erroris  seclatores  ad 
diclam  fidem  conuerti,  nec  ad  sedem  aposlolicam  aut  ab  ea  in  dicto  ves- 
tro  Regno  portugallie  pro  his  semper  recursus  haberi  possit,  eisdem  Re- 
cloribus ecclesiarum  parlium  earundem  redeuntes  ad  fidem  christi  reci- 
piendi  el  absoluendi,  ac  in  prislinum  et  eum,  in  quo  antea  erant,  slatum 
in  ómnibus  el  per  omnia  reponendi  et  reslituendi,  plenam  el  liberam  fa- 
cullatem  tribuí:  Super  quibus  supplicari  fecislis  humiliter  vobis,  dictarum- 
que  parlium  populis  vobis  subiectis,  per  sedem  eandem  de  opportuno  reme- 
dio misericorditer  prouideri.  Nos  igilur,  Iaudabilia  desideria  vestra  huius- 
modi  in  domino  commendanles,  volentesque  ea  fauore,  vt  tenemur,  prose- 
qui  gralioso,  auctorilate  domini  pape,  cuius  penitenciarle  curam  gerimus, 
el  de  eius  speciali  et  expresso  mandato  super  hoc  viue  vocis  oráculo  nobis 
fado,  ómnibus  et  singülis  venerabilibus  in  christo  patribus  dei  grafía  Epis- 
copis  illarum  partium  ad  vos  successoresque  veslros  nunc  et  pro  lempore 
speclantium,  vel  eorum  in  spiritualibus  vicariis  generalibus  nunc  et  pro 
tempore,  vt  cum  eorum  respectiue  cleri  et  populi  consilio  diclam  festiuita- 
tem  sacratissimi  Corporis  christi  in  aliud  tempus,  quo  absque  hiemis  impe- 
dimento cum  debitis  solennitatibus  et  cerimoniis  decenter  celebran  queat, 
transferre  possit ;  Quodque  hi,  qui  fesliuitatis  sic  transíate  celebrationi  in- 
terfuerint,  omnes  et  singulas  indulgentias  et  gralias,  quas,  si  die  ab  vni- 
uersali  ecclesia  statulo  illi  inleressent,  consequerentur,  consequantur,  il- 
lisque  pariter  gaudeant ;  ac  ómnibus  et  singülis  Rectoribus  pro  tempore 
ecclesiarum  earundem  partium  vt  vestes,  cruces,  imagines,  et  alia  orna- 
menta ecclesiastica  quecunque  diuino  cullui  necessaria  et  opportuna,  in 
eorum  respectiue  ecclesiis,  citra  tamen  cálices  et  palenas,  benedicere ;  ac 
ipsas  ecclesias,  Cappellas  et  Cimiteria,  humani  sanguinis  vel  seminis  effu- 
sione  pollutas  et  polluta,  vel  nouiter  erectas  et  erecta,  cum  aqua  per  ali- 
quem Episcopum,  seu  absenté  Episcopo  per  aliquam  personam  in  digni- 

TOMO  III.  49 


386  COilPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

late  (¡eclesiástica  conslilutam,  seu  Picctorem  alicuius  parrochiaüs  ecclesie 
curam  animarum  acta  exercenlem,  bcnedicla,  et  alus  adhibitis  opportunis 
rituque  et  more  solilis  debite  obseruatis,  \bique  aliqu-is  Catholicus  Antis- 
tes  presens  in  loco  non  fuerit,  reconciliare  et  benedicere,  ac  oleo  sánelo 
ex  portugallia  adducto  per  quinquennio,  et  si  illis  partibus  aliquis  Catho- 
licus Antistes,  qui  illud  nouum  coníiciat,  existat,  per  Triennium,  vti ;  Nec- 
non  quoscunque,  qui  sacrum  baptisma  semel  susceperint,  et  veram  chrisli 
fidem  abnegantes  et  ad  eandem  postmodum  redeuntes,  ab  heresi,  quain 
propterea  incurrerunt,  quoliens  in  eam  quouis  modo  lapsi  fuerint,  et  a 
quibuscunque  alus  maculis  el  labibus,  quibus  huiusmodi  occasione  aspersi 
et  notati  fuerint,  absoluere,  et  ad  gremium  sánete  malris  ecclesie,  ac  in 
pristinum  et  eum,  in  quo  antea  erant,  slalum,  in  ómnibus  et  per  oninia  re- 
ponere  et  reslituere,  eisque  pro, modo  culpe  penitentiam  salularem  iniun- 
gere,  possint  et  valeant,  dummodo  ea,  que  per  Episcopum  quando  est 
presens  sunt  exequenda,  in  locis  in  quibus  Episcopus  presens  sit  non  exe- 
quantur,  licentiam  plenamque  et  liberam  facultatem  concedimus.  Non  ob- 
stanlibus  apostolicis,  ac  in  prouincialibus  et  Synodalibus  Conciliis  editis, 
generalibus  vel  specialibus  Constilulionibus  et  ordinationibus,  ac  statulis 
ct  Consuetudinibus,  Celerisque  contrariis  quibuscunque. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  petrum,  sub  sigillo  officii  penitentia- 
rie,  xv  Kalendas  Junii,  Pontificatus  domini  Pauli  pape  ni  anno  terlio  l. 


Bulla  do  Papa  Paulo  III. 

1539-   .Saillu»  12. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Ad  futuram  rci  memoriam. 

Considerantes  et  animo  reuoluentes  quod  impiissimus  Turcharum  ty- 
fannus,  non  contenlus  quod  superioribus  annis  Belgradu,  quod  non  modo 
regni  Vngariae  sed  eliam  totius  christianilatis  solidum  antemurale  crat, 
expugnauerit,  et  deinde  insulam  et  ciuitatem  Rhodi,  que  totius  orienlalis 


1  Transumpfn  de  30  de  Janeiro  de  1ñ?>8,  no  Abch.  Nac,  Mnr.  13  de  Bullas,  n. 
27. 


RELACÜES  COM  A  CUH1A  ROMANA  387 

«taris  quasi  custodia  et  ianua  quedara  erat,  in  polestalem  suam  redege- 
rit,  ac  posímodum  totum  Vngariae  rognum  deuastaueril,  et  subsequenlcr 
ciuitatem  Viennensem,  quae  caput  Archiducalus  Austriae  extilil,  seua  et 
longa  obsidione  oppresseril,  ac  in  eius  agro  el  locis  illi  uicinis  innúmera 
darana  inlulerit,  ac  demum,  paulo  ante  decessum  pie  mcmorie  Clementis 
Pape  vii,  praedecessoris  noslri,  insignem  pyralam,  Rarbarrossam  nuncu- 
patum,  ad  occupandum  Tuneli  regnum  cum  ingenti  classe  deslinauerit, 
qui  ipsum  regnum  postea  occupauit,  et  adhuc  occupatum  teneret  nisi  uir- 
tute  charissimi  in  Christo  filii  noslri  Caroli,  Romanorum  Imperatoris  sem- 
per  Augusti,  qui  illuc  ad  hoc  se  personaliter  contulit,  viriliter  expulsus 
esset :  Considerantes  etiara  quod  in  presentiarum  idem  Tyranus,  his  non 
contentos,  sed  tot  uictoriis  aduersus  Christianos  reportatis  elatus,  ad  Si- 
ciliae  Cilrapharura  regnum  maximam  triremium  et  aliorum  nauigiorum 
quanlitatem  cura  magna  mililura  manu  misit,  ibique  iam  quamplures  Ier- 
ras ferro  el  igne  deuaslauit,  mullis  Christianis  occisis  seu  in  miseram  ser- 
uilutem  redactis,  et  in  dies  ad  ulteriora  procederé  non  cessat,  ea  inten- 
tione,  \t  ab  exploratoribus  fidedignis  intellectum  est;  ut  almam  Vrbem, 
beali  Pelri  et  Romanorum  Pontificum  peculiarem  sedem  toliusque  chris- 
tiani  orbis  capul,  ac  demum  uniuersam  Italiam,  Qua  subiecta  facile  re- 
siduum  christianitatis  sibi  subiicere  posse  anliqua  historiarum  documenta 
nos  edocenl,  in  miseram  seruitutem  reducere  possit,  ac  tándem  christi 
nomen  sanctissimum  una  cum  illius  cultoribus  tolo  orbe,  nisi  quantotius 
eius  occurralur  furori,  delere  penitus  moliatur :  Nos,  uices  saluatoris  nos- 
lri Jesu  christi,  qui  pro  redemplione  humani  generis  a  iniserabili  Sathane 
seruitute  se  in  precium  immolando  non  abnuit  vi  nos  sui  regni  celestis 
eilicerel  possessores,  licet  immerili  gerentes  in  lerris,  vigilis  more  pastoris, 
quibus  possumus  mediis  cunctorum  fidelium  mentes  pro  instantis  temporis 
necessitale  ad  eiusdem  catholicae  fidei  defensione,  el  ut  morbo  tantum  in- 
ualescenti  et  uirus  suum  dilatanti  el  diffundenti  congruum  antidolura  exhi- 
bere,  ac  omnia  nobis  possibilia  ad  resistenduin  eisdem  Turchis  peragere 
continué  non  cessamus,  parati  pro  defensione  huiusmodi,  si  opus  fuerit, 
illius  exemplo  cuius  (ut  praefertur)  uices  gerimus,  proprium  effundere 
sanguinem,  et  incommoda  quaecunque  subiré.  Sed  cum  ad  tantae  rei  mo- 
lem  perferendam  nostrae  et  eiusdem  Romanae  ecclesiae  facúltales  non  sup- 
petant,  propter  ipsius  rei,  quae  aduersus  nos  paratur,  magniludinem,  et 
cura  ab  his  christianis  principibus,  qui  promptius  subsidium  nobis  minis- 

49* 


388  COüPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

irarc  possent,  illorum  animis  adeo  in  muluam  sui  rerumque  suarum  pro- 
sequutionem  ct  defensionem  ¡nlentis  et  occupatis,  ut  nemo  ad  id  salis  fa- 
cultatem  habere  exislimet,  ea  subsidia,  quae  alias  ipsi  Principes  praede- 
cessoribus  nostris  etiam  ullro  offerre  et  prestare  consueuerunt,  expectare 
non  ualeamus,  ac  aerarium  sedis  apostolicae  ex  preteritis  calamitalibus 
alque  ruinis  et  bellis  ita  exauslum  sit  ut  uix  habeamus  unde  ordinarü 
sumptus  suslineri  possint :  Et  licet  tam  laicis  in  ciuilatibus  terris  oppidis 
et  locis  nobis  et  sanctae  Romanae  Ecclesiae  in  temporalibus  subieclis,  quam 
clericis  in  tota  Italia  existentibus,  ultra  alias  impositiones,  quas  praefatus 
Clemens  predecessor  paulo  ante  eius  obitum  imposuerat,  certa  onera  pro- 
pterea  imposuerimus ;  Cum  tamen  ualde  exigua  pecunia  rei  magniludine 
considérala  expectari  possit,  ne  ob  defectum  pecuniarum,  quae  neruus 
belli  semper  exliterunt,  imparati  offendamur,  cogimur  ad  aliorum  chris- 
tifidelium,  presertim  clericorum,  qui  in  regnis  et  dominiis  aliorum  Prin- 
cipum,  quorum  erga  dictam  fidem  deuotionem  et  erga  christianam  reli- 
gionem  pietatem  ipsa  sedes  experta  est,  et  refugium  recurrere.  Matura 
igitur  cum  venerabilibus  fratribus  noslris  Sanctae  Uomanae  ecclesiae  Car- 
dinalibus  super  hoc  deliberatione  prehabita,  de  eorundem  fratrum  consi- 
lio,  Duas  decimas  prouentuum  ecclesiasticorum  secundum  uerum  ualorem 
annuum  quarumcunque  cathedralium,  etiam  melropolitanarura,  ac  parro- 
chialium,  aliarumque  ecclesiarum,  necnon  monasteriorum,  prioratuum, 
praeceptoriarum,  Praeposilurarum,  Dignitatum,  personaluum,  Adminis- 
tralionum  et  officiorum,  ac  canonicatuum  et  prebendarum,  ceterorumque 
beneficiorum  ecclesiasticorum,  ac  hospitalium,  preterquam  in  quibus  hos- 
pilalitas  aclu  obseruatur,  ac  aliorum  piorum  locorum  cum  cura  et  sine 
cura  saecularium  ;  ac  etiam  Sancti  Benedicti,  Sancti  Augustini,  Cister- 
ciensis,  Cartusiensis,  Premonstratensis,  Cruciferorum,  Sancti  Hieronymi, 
et  aliorum  quorumuis  ordinum,  Necnon  Gassinensis,  alias  Sanctae  Jusli- 
nae  Monlisoliueti,  Sancti  Salualoris  et  Lateranensis,  aliarumque  Congre- 
galionum  regularium  ;  necnon  quarumuis  mililiarum,  tam  virorum  quam 
mulierum,  etiam  mendicantium,  ex  priuilegio  uel  alias  bona  immobilia 
sub  cerlos  redditus  habenlium,  a  singulis  venerabilibus  fratribus  nostris 
Palriarchis,  Archiepiscopis,  Episcopis,  ac  dilectis  filiis  cleclis  Adminislra- 
toribus,  Abbatibus,  Prioribus,  Preposilis,  Prelatis,  Capitulis,  Conuenti- 
bus,  Clero  et  personis  ecclesiasticis,  secularibus  et  regularibus,  quorum- 
uis ordinum,  etiam  mendicantium,  ex  priuilegio  uel  alias  bona  stabilia, 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  389 

ut  preferlur,  possidentibus,  aut  certos  reddilus  percipientibus,  pro  rala 
bonorum  seu  reddiluum  eorundem,  necnon  congregntionum  ac  mulierum 
omnium  exemplis  et  non  exemptis,  Dilcctis  filiis  Magislro,  Prioribus,  Prae- 
ceploribus,  ac  fralribus  domorum  hospitalis  Sancli  Joannis  Hierosolymi- 
lani,  ac  Domini  nostri  Jesu  chrisli,  Cisterciensis,  et  Militiae  Sancli  Jacobr 
et  de  Auis  Sancti  Augustini  ordinis,  qui  se  et  sua  contra  hostes  ipsius 
christianae  fidei  ¡ugiler  exponunt,  ac  clericis  ¡n  prouenlibus  ecclesiasli- 
cis  ullra  ualorem  viginliquatuof  Ducalorum  auri  de  Camera  annualim 
non  habentibus,  duntaxat  exceptis,  huiusmodi  fruclus  reddilus  el  prouen- 
lus  in  Porlugalliae  el  Algarbiorum  regnis,  quae  charissimus  in  Chrislo 
filius  nosler  Joannis,  ipsorum  Regnorum  Rex  Uluslris,  possidet,  habenti- 
bus et  percipientibus,  ac  infra  annum  proxime  fulurum  habituris  et  per- 
cepluris,  eliam  exemptis,  et  quantumcunque  priuilegiatis,  infra  annum  a 
Dala  presentium  computandum,  in  terminis  ac  Iocis  et  modis  per  dile- 
clum  filium  noslrum  Hieronymum  Ricenatem  de  Capite  férreo,  noslrum. 
et  apostolicae  sedis  in  dictis  regnis  Nuntium,  quem  super  praemissorum 
omnium  executione,  cuín  plena  libera  el  omnímoda  facúltale  que  circa 
praemissa  fuerit  necessaria  et  opporluna  faciendi,  nostrum  et  apostolicae 
sedis  Commissarium  constituimus  et  depulamus,  ordinandis  el  declaran- 
dis,  persoluendas,  Ac  per  Nunlios  et  Collectores  ac  Subcolleclores,  uiros- 
ulique  prouidos  ac  fide  et  facúltale  locupleles  el  solertes,  per  ipsum  Nun- 
lium  et  Commissarium  deputandos  et  ordinandos,  exigendas  et  leuandas, 
ac  in  praemissum  fidei  lam  coniunclum  sanclum  tamque  necessarium  opus, 
videlicet,  defensionis  fidei  et  fidelium  eorundem  aduersus  ipsos  perfidissi- 
mos  Turchas,  et  non  alios  usus,  omnino  conuertendas,  auclorilale  apos- 
tólica lenore  presentium  imponimus,  et  imposilas  esse,  ipsosque  Palriar- 
chas,  Archiepiscopos,  Episcopos,  electos,  AdminisTralores,  Priores,  Prae- 
ceptores,  Praeposilos,  Prelatos,  Capellam,  Conuenlus,  Clefum  et  perso- 
nas ecclesiasticas,  ad  earundem  solulionem  iuxta  illarum  impositionem, 
huiusmodi  eíficaciter  obligatos  fore,  et  ad  illius  solutionem  censuris  et 
poenis  ecclesiastieis,  eliam  interdicti  appositione,  et  ómnibus  alus  iuris  et 
facli  remedHs,  cogi  et  compelli  posse,  Ac  omnes  et  singulos  pensionarios 
seu  eos  quibus  loco  pensionum  fructus  in  tolo  uel  in  parle  reseruali  sunt, 
cuiuscunque  condilionis  existant,  mililibus  praefatis  ex  causis  praemissis 
exceplis,  ad  huiusmodi  decimae  prestationem  in  ómnibus  et  per  omnia, 
per  inde  ac  si  illa  nominatim  ac  specialiter  el  expresse  imposila  fuissent 


300  COUPO  DIPLOMÁTICO  POttTUGUEZ 

clausulis  et  decrelis  in  Iitleris  apostolicis  rcserualionum  pensionum  huius- 
modi  apposilis,  eliam  quod  diclae  pensiones  ab  omni  decima  subsidio, 
eliam  chariialiuo,  et  quouis  alio  onere,  lam  ordinario  quam  extraordina- 
rio, quauis  auctoritale  apostólica,  etiam  pro  expeditione  Turcharum,  tam 
defensiua  quam  offensiua,  et  contra  alios  infideles,  aut  reipublicae  chris- 
lianae  ab  illorum  conatibus  quauis  defensione,  ac  eliam  pro  recuperalione 
terrae  sanctae,  seu  Fabrica  basilicae  Principis  Apostolorum  de  Vrbe,  uel 
pro  alus  necessitalibus,  etiam  si  saeculari  instantia  seu  quacunque  alia 
excusabili  causa  a  Romano  Pontífice  pro  tempore  existente,  etiam  Molu 
proprio  el  ex  certa  scientia,  imposilo  et  imponendo  exemptae  sint  dispo- 
nenlibus  nequáquam  obslantibus,  teneri  et  cííicaciler  astrictos  esse,  et  si 
pensiones  seu  fructus  reseruali  huiusmodi  exemptae  seu  exempli  fuerint, 
Praelati  seu  Redores  ecclesiarum,  monasteriorum,  beneficiorum,  super 
quorum  fruclibus  seu  quorum  fructus  reseruaiae  seu  reseruati  existunt, 
nisi  pro  rala  seu  parte  fructuum,  quibus  potiuntur  el  gaudenl,  grauari 
non  posse,  caeleris  uero  pensionibus  seu  fructuum  reseruationibus  non 
exemptis,  ipsos  titulares  pensionariorum  suorum,  seu  quibus  fructus  sunt 
reseruati,  si  forsan  ipsi  essent  in  mora,  satisfacere  posse,  Ac  libere  post- 
modum  sua  propria  auctoritale  penes  seu  pro  se  lotum  illud,  quod  ipsis 
pensionariis,  seu  pro  eis  quibus  fructus  huiusmodi  sunt  reseruati,  persol- 
uerint,  retiñere  posse,  decernimus  el  declaramus.  Et  insuper  uolumus 
quod  huiusmodi  decimae,  poslquam  collectae  fuerint  per  Nunlios  et  Col- 
lectores  et  subcollectores  praefalos,  penes  personas  fide  et  facultalibus  idó- 
neas, per  ipsum  Nunlium  el  Commissarium  eligendas,  cuín  conditionibus 
cautelis  et  obligalionibus  necessariis,  depnnantur  ad  hoc  ut  in  huiusmodi 
sanctum  opus  iuxta  rei  exigenliam  conueniri  possint.  Caelerum,  \olenles 
illos,  quos  Dei  limor  a~malo  non  reuocat,  sallem  formidine  poenae  et  pu- 
blica disciplina  compescere,  omnes  et  singulos  cuiuscunque  dignitatis, 
status,  gradus,  ordinis  uel  conditionis  fuerint,  eliam  si  Pontificali  digni- 
tate  polianlur,  qui  de  huiusmodi  exigendis  decimis  aliquid  usurpare  siue 
distrahere,  aut  illas  exigendo  colligendo  uel  conseruando  fraudcm  aut 
deceptionem  aliquam  commiltere,  malicióse  persumpserint,  maioris  ex- 
communicationis  sententia,  ac  eliam  priualionis  beneficiorum  suorum, 
quae  oblinent,  nccnon  inhabilitaos  ad  illa  et  alia  obtinenda,  senlenlias 
censuras  et  poenas  incurrere  uolumus  ipso  fado,  el  ab  eadem  cxcommu- 
nicatione  ab  alio,  quam  a  Romano  Pontífice,  practcrquam  in  morlis  ar- 


RELACQES  CÜM  A  CURIA  ROMANA  391 

ticulo,  beneficium  absolulionis  nequeant  obíisíere.  Et  nihilominus  Nuntiis, 
et  Coilectoribus  ac  subcollecloribus  per  Nunlium  et  Commissariura  prae- 
fatum  deputandis,  vi  illos  de  prouintiis,  ciuitalibus  et  diocesibus,  in  qui- 
bus  depulali  fuerint,  quos  ex  defeclu  non  factae  solutionis  huiusmodi  dun- 
laxat  excommunicalionissuspensionis  et  interdicli  senlentias  incurrere  for- 
tasse  contigerit,  ab  eisdem  posl  salisfaclionem  debilam,  facta  prius  fide 
ipsis  Nunliis  et  Coilectoribus  ac  subcollecloribus  de  salisfaclione  praedi- 
cta,  absoluere,  et  cum  eis  super  irregularitate,  si  qua  sinl  ligali,  non  la- 
men in  conlemplum  clauium,  diuina  celebrando  seu  illis  se  immiscendo 
contraxerint,  dispensare ;  Necnon  eisdem  Nunlio  et  Commissario  ut  ab  eo 
depulandos  Nuntios  et  Collectores  el  subcolleclores,  qui  in  huiusmodi  Col- 
lectoris  uel  subcollectoris  olGciis  negligentes  fuerint  uel  remissi,  aut  alias 
mutiles  uel  suspecli,  absque  processu  aliquo,  ab  huiusmodi  oííiciis  qtio- 
lies  opus  fuerit  pro  ipsius  nulu  amouere,  el  prout  qualitas  excessuum 
exegerit  corrigere  et  puniré,  ac  alium  seu  alios  eorum  loco  surrogare  et 
deputare,  similiter  ualeat,  plenam  et  liberam  facullalem  concedimus.  Non 
obslantibus  constilutionibus  et  ordinalionibus  aposlolicis,  ac  ecclesiarum, 
monasleriorum,  Prioratuum,  ordinum,  congregalionum  et  militiarum  hu- 
iusmodi, iuramenlo,  confirmatione  apostólica,  uel  quauis  Imítate  alia  ro- 
boratis,  statulis,  consueludinibus,  stabilimentis,  usibus  et  naturis,  necnon 
quibusuis  priuilegiis,  indultis,  exemptionibus,  eliam  incorpore  iuris  clau- 
sis,  immunilalibus  et  litteris  aposlolicis,  quibusuis  Dignilatibus,  Capilu- 
lis,  Conuenlibus,  ac  etiam  singulis  praediclis  ordinibus,  congregationibus, 
Mililiis  et  Conuenlibus,  generaliler  uel  specialiter,  sub  quacunque  forma 
et  uerborum  expressione,  ab  eadem  sede  concessis,  quibus  ómnibus  ac 
litteris  reseruationum  pensionum  et  fructuum  huiusmodi,  eliam  si  de  illis 
eorumque  totis  tenoribus  de  uerbo  ad  uerbum  mentio  seu  quaeuis  alia 
expressio  habenda  foret,  et  in  eis  cauca  tur  expresse  quod  per  huiusmodi 
generales  clausulas,  etiam  specialem  mentionem  importantes,  eis  deroga- 
tum  non  censerelur,  nec  derogari  uiderelur,  nisi  sub  cerlis  modo  el  forma 
in  eis  expressis,  tenores  huiusmodi  pro  suiíicienter  expressis  habenles, 
illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  uice  duntaxat  specialiter  et  ex- 
presse derogamus,  ceterisque  contrariis  quibuscunque.  Aut,  si  Patriar- 
chis,  Archiepiscopis,  episcopis,  clericis,  Administratoribus,  Prioribus, 
Praeceploribus,  Preposilis,  Capitulis,  Conuenlibus,  Clero  et  personis  pre- 
fatis,  uel  quibusuis  alus  communiler  uel  diuisim,  ab  eadem  sil  sede  in- 


392  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dullum  quod  ad  solulionem  uel  prestationem  alicuius  subsidii  uel  Deci- 
mae  minime  leneanlur,  et  ad  id  compelli,  aut  quod  interdici  suspendí  uel 
excommunicari,  siue  proplerca  priuari,  non  possint  per  Hileras  apostólicas 
non  facienles  plenam  et  expressam,  ac  de  uerbo  ad  uerbum  de  indulto 
huiusmodi,  ac  eorum  personis  locis  ordinibus  et  nominibus  propriis,  mentio- 
nem,  et  quibuslibet  alus  priuüegiis,  indulgenliis  et  litteris  aposlolicis,  ge- 
neralibus  uel  specialibus,  quorumcunque  tenorum  exislant,  per  quae  pre- 
senlibus  non  expressa  uel  tolaliter  non  inserta  eífeclus  earum  impediri 
ualeat  quomodolibel  uel  difFerri,  et  de  quibus  quorumque  totis  tenoribus 
habenda  sil  ¡n  nostris  litteris  mentio  specialis,  Quae  quoad  praemissa  uo- 
lumus  aliquatenus  suffragari.  Vt  aulem  presentes  ad  omnium  noliliam  de- 
ducanlur,  eas  in  duarum  aut  trium  cathedralium,  aut  aliarum  ecclesia- 
rum,  per  ipsum  Nuntium  et  Commissarium  eligendarum,  ualuis  afligí  seu 
appendi  facimus,  quae  se  suo  quasi  sonoro  preconio  et  patulo  iudicio  pu- 
blicabunt  vi  hi,  quos  praemissa  conlingunt,  quod  ad  ipsos  non  peruene- 
rinl  aut  ea  ignorauerint,  nullam  possint  pretendere  seu  ignoranliam  al- 
legare, Cum  non  sit  uerisimile  quo  ad  ipsos  remanere  incognitum,  quod 
tam  patenter  ómnibus  extilit  publicatum.  Caeterum,  quia  difficile  foret 
presentes  ad  singula  quaeque  loca,  in  quibus  expediens  foret  deferri,  vo- 
lumus  et  apostólica  auctorilate  predicta  decemimus  quod  earundem  pre- 
senlium  transsumplis,  manu  alicuius  Notarii  subscriptis  et  sigillo  alicuius 
curiae  ecclesiasticae,  aut  personae  in  dignilale  ecclesiastica  constilutae, 
munilis,  ea  prorsus  fides  in  iudicio  et  extra  in  ómnibus  et  per  omnia  ad- 
hibeatur,  que  ipsis  presentibus  adhiberetur,  si  forent  exhibitae  uel  osten- 
sae.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  noslrae  constitulio- 
nis,  deputalionis,  impositionis,  concessionis,  declarationis,  derogationis, 
uoluntatis  et  decreli  infringere,  uel  ei  ausu  temerario  contraire.  Si  quis 
aulem  hoc  atlentare  presumpserit,  indignationem  omnipolenlis  dei,  ac  bea- 
lorum  Petri  et  Pauli  Aposlolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Dalum  Romae,  apud  Sanctum  marcum,  Anno  Incarnationis  Domi- 
nicae  Millesimo  quingentésimo  trigésimo  séptimo,  Quarto  Idus  Julii,  Pon- 
tificatus  nostri  anno  Terlio1. 


1  Inserta  no  breve  da  Cámara  Apostólica,  de  22  de  novembro  de  1539,  no  Abcií. 
Nac,  Mac.  10  de  Bullas  n.°  22. 


RELACÓES  com  a  CURIA  UOMANA  3*3 


Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  a  el-ltei. 


1539  —  .luí  lio  19. 


Senhor  —  Esperando  de  cada  dia  acabar  despedir  esles  despachos, 
queVossa  Alteza  me  lem  enuiados,  e  osenuiar  com  ho  moniz,  que  Irouxe 
muita  parte  delles,  fazia  conta  de  com  elle  escreuer  sobre  ludo  largamen- 
te;  todauia,  offerecendo  se  outro  primeiro  mesejeyro  nesles  lempos,  em 
que  sempre  ocorrem  nouidades  e  cousas,  que  eu  creo  queVossa  Alteza 
folgará  entender,  direi  o  que  a  breuidade  do  lempo  me  der  lugar. 

Ho  viso  Key  de  ñapóles  avisou  aquy  ao  papa  como  o  turco,  aos  oilo 
deste,  era  chegado  a  velona  com  trezentas  velas,  e  esperaua  oulras  cento 
e  cincoenla  ;  e  em  tanto  andaua  á  caca.  E  onlem  chegou  aqui  aviso  dan- 
cona  conforme  a  isto,  e  mais  disse  que  erao  aribados  trezentos  Camelos 
á  mesma  velona  com  armas  e  outros  prelechos.  Ho  exercito  de  térra  he 
cento  e  cincoenta  mil  caualos,  e  a  genle  de  pee  huma  cousa  sem  contó; 
e  que  trazem  tres  mil  bocas  dartelharia  em  suas  carretas,  antre  arlelha- 
ria  de  campo  e  outra  grossa  pera  combater  lugares.  Este  exercito  se  affir- 
ma  que  hyrá  a  uolta  de  Esclauonia  e  friuol,  térra  de  Venezeanos :  outros 
dizem  que  hyrá  contra  Vngria.  E  alguuns  querem  affirmar  que  he  este 
exercito  tao  grande  que  poderá  tomar  seguramente  estas  duas  empresas 
e  sayr  com  ellas.  Da  armada  tao  pouco  nao  se  sabe  certo  onde  dará : 
em  genoua  se  fortificao  e  se  tcmem  muito ;  e  asy  em  lodolos  pontos  de 
cizilia,  e  reyno  de  ñapóles,  e  em  Ancona.  E  porem  agora  s  escreueo  aqui 
de  ñapóles  como  ho  visorey  era  partido  a  gram  furia  com  dous  mil  ho- 
mens  pera  brindisi,  que  he  huma  cidade  que  lem  hum  porto  muy  capaz 
e  bom,  porque  se  entendía  que  a  armada  do  turco  daria  sobre  elle  :  e 
mais  se  dizia  que  o  Alcayde  s entendía  com  ho  mesmo  turco.  Nao  pode 
tardar  muito  que  nao  venha  alguma  gram  noua  daribada  desta  armada 
turquesca :  praza  a  déos  que  seja  de  áua  deslruicao.  Ho  campo  dos  fran- 
cezes  se  refez  e  engrosou  alguma  cousa  mais  em  piamonte,  e  os  impe- 
riaes  leyxarom  a«Aste,  a  qual  agora  dizem  que  os  franceses  ocuparom 
logo  que  os  spanhoes  se  parlyrom.  E  porem  ategora,  em  todas  as  esca- 

tomo  ni.  50 


Iti  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ramucas  e  arebales,  que  antre  os  huuns  e  os  outros  ouue,  sempre  os  Im- 
periaes  forom  superiores. 

De  frandes  creo  que  ja  Vossa  Alteza  terá  sabido  como  os  framengos 
fizerom  huum  campo  de  vinte  mil  peoes  e  sete  mil  caualos,  gente  muy 
luzida  e  com  muita  e  boa  arlelharia.  Derom  em  Sampo,  que  eslaua  pel- 
los franceses,  onde  auia  lies  mil  infantes  e  cento  e  cincoenta  lancas,  e  a 
baterom  e  tomarom  por  forca,  e  depois  a  arrasaron).  Ali  forom  tomadas 
algumas  pessoas  de  contó,  antre  os  quaes  nomeao  ho  preuosle  de  paris, 
e  huum  Rey  de  tyfe  tafe,  que  nunca  de  tal  Rey  tyue  noticia,  nem  elle 
anda  no  qualandayro.  E  daly  forom  mais  adiante,  e  se  Ihes  deu  huma 
boa  cidade  d  aquellas  partes,  que  chamam  moslrul,  onde  estaua  ho  par- 
lamento de  picardía.  E  dy  se  dezia  que  hyriao  sobre  bolonha,  donde  foy 
conde  vosso  antecessor  elrey  dom  Anrique  fsic).  De  maneira  que  alegora 
os  framengos  se  lem  bem  vingado  da  tomada  de  hedim,  a  qual  fazern  conta 
de  recuperar  e  lomar  á  fome,  porque  Ihe  tem  tomados  todos  os  lugares 
donde  Ihe  podem  vyr  mantymenlos :  e  asy  esperao  oito  mil  spanhoes, 
que,  se  Ihes  vem,  darao  bem  que  cuydar  a  franceses.  Ho  Emperador  tem 
enuiado  a  estas  parles  crédito  de  hura  milhom  e  dozentos  mil  ducados, 
donde  se  cree  que  elle  passará  a  ellas  depois  que  la  fizer  suas  cortes.  E 
de  Ingralerra  hum  seu  embaixador  mendoca,  que  está  n  aquella  corle,  es- 
creue  que  as  cousas  \am  la  muito  ao  prepósito  do  Emperador;  e  gran- 
des esperancas  de  aquelle  Rey  se  reduzir  á  verdadeira  religiao  nossa.  E 
do  casamento  do  líTanle  dom  luys  com  sua  filha  ho  dizem  e  aíürmao  por 
concruydo,  nao  somente  os  imperiaes,  mas  tambem  os  franceses:  e  ainda 
que  todos  quaisy  concruem  ñas  condieoes  desles  casamenlos,  no  modo  do 
represéntalas  sao  descordes,  porque  os  franceses  dizem  que  ho  Empera- 
dor, por  se  yslo  concruyr,  consenle  que  a  filha  d  elrey,  sua  prima,  seja 
decrarada  por  yligilima;  os  Imperiaes  negao  islo  ,  e  dizem  que  ho  empe- 
rador, por  comprazer  a  elrey  d  ¡ngraterra,  por  ventura  consenlyrá  que 
esta  sua  prima  renuncie  á  sucesao  do  reyno  de  Ingralerra.  Asoulras  con- 
dicoes nao  refyro  porque,  se  algo  he,  Vossa  Alteza  as  lera  muilo  milhor 
sabido  :  somenle  toquei  yslo  por  dizer  ho  sonsonete  dos  huuns  e  dos  ou- 
tros. Eu,  em  algumas  praticas  que  me  achey,  tenho  dilo  que  nao  creo 
que  Vossa  Alteza  consinta  que  o  Ifianle  faca  este  casamento  com  nenhu- 
ifíá  condiciio  de  bastardía ;  nem  menos  creo  que,  ainda  que  ho  Empera- 
dor quisesse,  nem  ella  mesma,  Ihe  poderao  tyrar  ser  ella  ligilima,  por- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  395 

que,  aínda  os  doutores,  que  escreuerom  nesta  causa  d  yngraterra  contra 
a  rainha,  que  déos  tem,  vossa  tya,  disserom  que,  poslo  que  o  casamento 
anlre  ella  e  elrey  fosse  ynvalido,  esta  sua  filha  era  ligilima  polo  casa- 
mento ser  feyto  bona  fide,  e  nao  ha  quem  a  isso  contradiga.  Ñas  cousas 
do  Concilio,  e  no  lugar  e  lempo  delle,  todauia  ho  papa  fala  em  seus  con- 
sistorios, poslo  que  as  do  turco  esteno  tao  quenles,  e  as  dos  principes 
christaos  tao  mal  despostas.  E  élrey  de  franca  fez  que  se  dissesse  ao  papa 
de  sua  parte  que  se  marauilhaua,  estando  as  cousas  nos  termos  em  que 
estao,  cuydar  Sua  Santidade  que  se  poderia  fazer  concilio,  a  que  vies- 
sem  os  que  deuiao  entrevio*;  porem  que,  pois  tanta  vc-nlade  tynha,  se  o 
quisesse  fazer  em  lyom  de  franca,  que  hy  poderiao  seus  prelados  vyr.  E 
com  ludo  ho  papa  manda  chamar  todos  os  Cardeaes:  e  porem  nao  se 
cree  que  os  que  estao  longe  queyrao  nem  possao  vyr,  e  os  de  Caslella 
diz  que  tem  respondido  que,  estando  as  cousas  da  maneira  que  estao,  Sua 
Santidade  os  aja  por  escusados.  Ho  papa  tambem  emtende  em  fortificar 
estes  seus  portos  e  esta  cidade  ;  e  nisto,  e  em  fazer  lyrar  dinheiros  pera 
isso,  he  tao  ocupado,  que  todas  as  outras  Espedicoes,  que  com  elle  se 
hao  de  fazer,  sao  muilo  longas.  Folgou  de  saber  ho  recebimenlo  e  gasa- 
lhado  e  bom  trato,  que  la  se  faz  ao  seu  nuncio ;  e  tanto  mais,  quanto  ca 
avia  alguma  sospeita  do  contrayro.  E  veo  esta  noua  a  muy  bom  tempo 
pera  o  Cardeal  Sanliqualro  poder  outer  ho  indulto  do  Iffante  dom  Anri- 
que  em  sua  vida. 

Estes  dias  passados  se  deu  aqui  a  obediencia  d  elrey  de  polonia  por 
huum  fidalgo  de  sua  casa,  que  veo  a  ysso  asaz  priuadamenle,  escusan- 
do  se  que  seu  rey  estaua  la  muy  empedido  em  guerras,  e  que  os  cami- 
nhos  pera  outras  embaixadas  pomposas  erao  muy  perigosos.  Sobre  yslo 
escreuerey  mais  de  vagar  a  Vossa  Alteza,  cuja  vida  e  real  estado  nosso 
senhor  acrecenté  e  conserue  com  toda  a  prosperidade  que  deseja. 

De  Roma,  xix  de  Julio,  1537  —  Pero  de  sousa  de  lavora1. 


1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  59,  Doc.  11. 

50 


396  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Carta  de  Pedro  de  Sousa  de  Tabora  a  el-Rei. 


1539—  Jal  bol9. 


Senbor  —  Depois  de  ler  scrilo  aVossa  Alteza  as  nouas  geraes  des- 
las  parles,  sobreueo  huum  caso  muito  mais  particular  para  o  deuer  avi- 
sar, e  he  que  hum  aluaro  madeira,  natural  de  Sousel,  chegou  aqui,  e  me 
disse  que  vinha  da  India,  e  sua  vinda  conla  que  foy  desta  maneira.  Que 
elle  foy  preso,  com  hum  manuel  de  meneas,  em  Xael ;  e  el  rey  de  Xael 
o  mandou,  com  oulros  xxxim  portugueses,  ao  gram  turco  em  prezente, 
e  leuouos  per  seu  mandado  hum  turco,  que  veo  de  Diu  em  huma  nao, 
com  licenca  de  nuno  da  cunha,  o  qual  os  enlregou  ao  capiliio  do  Cayro. 
£  este  capitao  se  enformou  quaes  destes  portugueses  eráo  mais  praticos 
na  India,  e  antre  elles  escolheo  este  Aluaro  madeira  e  a  hum  diego  mar- 
tins,  chrislao  nouo,  e  os  mandou  ao  gram  turco  pellas  postas  a  coslan- 
tinopra,  onde  ho  gram  turco  se  enformou  largamente  das  cousas  da  In- 
dia deste  Diego  martins,  por  lhe  dizerem  que  era  piloto.  E  depois  forom 
entregues  a  hum  Joham  francisco  Justiniano,  Venezeano,  que  ja  esleue  em 
portugal,  de  que  ho  gram  turco  faz  gram  conta  pera  as  cousas  da  India. 
E  logo  enlao,  que  podiao  ser  xv  dias  de  outubro  passado,  despachou  ho 
turco  solymam  bassa  pera  que  fosse  fazer  prestes  a  armada,  que  tern  em 
Cuez,  pera  irem  contra  a  de  Vossa  Alteza.  A  qual  armada  he  de  sesenta 
galees,  e  sete  nu  oito  galleoes,  que  lhe  mandou  elrey  de  Cambaya  depois 
de  Diu  ser  tomado  :  com  os  quaes  galleoes  veo  huum  embayxador  do 
mesmo  Rey  de  Cambaya,  e  leuou  ao  gram  turco  huum  gram  seruico  de 
dinheiro,  que  segundo  emtendeo  seriao  qualro  milhoes  douro,  e  islo  pera 
que  ho  gram  turco  ho  socorresse  contra  Vossa  Alteza  com  aquella  ar- 
mada e  com  gente,  com  que  lhe  pedia  trinta  mil  homes,  dizendo  que  o 
concertó,  que  fizera  com  os  de  Vossa  Alteza  sobre  diu,  fora  pera  mais  os 
descuydar  com  crerem  que,  tendo  diu,  tinhao  a  India  segura,  e  pera  nesse 
meo  o  gram  turco  poder  fazer  sua  armada  prestes  com  aquella  gente  que 
mandaua  pedir ;  e  que  elle  lhe  daría  ho  porto  de  cúrrate  ou  Cambaiete, 
onde  se  poderiáo  acolher  sem  ho  saberem  os  de  Vossa  Alteza ;  e  que  de- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  397 

pois  que  os  turcos  la  fossem  elle  lhe  daría  diu,  e  os  portugueses  que  hy 
estevessem  :  e  asy  lh  enuiou  pilotos  mouros.  Com  a  qual  embaixada  ho 
turco  muito  folgou,  crendo  que  per  esta  uia  poderia  conquistar  a  India; 
e  por  tanto  logo  niandou  fazer  a  armada  e  a  gente  prestes,  e  asy  man- 
dou  que  se  reteuessem  todas  as  naos,  que  viessem  da  India  a  Judá  e  a 
meca,  pera  que  leuassem  gente  e  mantimentos  pera  esta  armada.  E  de- 
pois  desto,  nesle  mes  de  marco  ora  passado,  despachou  ho  turco  por  ca- 
pitao geral  desla  empresa  huum  seu  cunhado,  irmao  de  huma  de  suas 
molheres,  de  que  lhe  nao  lembra  ho  nome,  e  por  capitao  do  mar  huum 
mouro  capitao  das  gallees  d  alexandria,  e  ao  Johiio  francisco  jusliniano 
mandou  que  fosse  por  sobreentendenle  e  conselheyro  e  como  piloto  moor, 
e  com  elles  se  tornou  ho  embaixador  d  elrey  de  camba  ya.  E,  como  áci- 
ma se  disse,  estes  Aluaro  madeira  e  diogo  martins  hyao  em  poder  do  .lus- 
tiniano,  e  partyrom  de  costantinopra  dia  de  pascoa.  E  o  diego  martins 
se  tornou  mouro.  E  asy  forom  fer  a  ilha  de  Xio,  que  he  dos  genoueses, 
tributayra  ao  turco,  onde  este  aluaro  madeira  leue  despozicao  de  fugir,  e 
com  muita  difficuldade  veo  ter  aqui  pera  passar  ho  mais  prestes  que  po- 
der em  portugal,  e  dar  estas  nonas  a  Vossa  Alteza,  posto  que  diz  que  de 
costantinopra  escreueo  por  tres  vías  a  Vossa  Alteza,  e  deu  as  cartas  a 
mercadores  venezeanos.  E  nesle  meo  que  ho  apercebo,  porque  elle  vem 
muy  destrocado,  me  pareceo  necessario  escreuer  esta,  a  qual  duplicarei 
por  outras  vias,  e  tras  ella  irá  com  ajuda  de  nosso  Senhor  o  mesmo  au- 
tor com  toda  a  presteza  possiuel. 

De  Roma,  xix  de  Julho,  1537 — Pero  de  sonsa  de  tauora. 

Diz  este  madeira  que  o  prepósito  desta  gente  do  turco  he  irem  pri- 
meiramenle  sobre  ormuz,  e  dy  passarem  a  Cambaya.  E  diz  mais  que, 
segundo  os  moucOes  e  o  tempo  pera  se  fazerem  prestes,  nao  podem  sayr 
do  estreyto  de  meca  sonao  este  feuereyro  que  vem  \ 


1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  59,  Doc.  12.  As  palavras  «m  itálico 
e.stao  comidas  da  tinta. 


398  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTUGUEZ 


Carta  de  Pedro  fie  Sonsa  deTavora  a  el-Rei. 


1531  —  «Tul  lio  29. 


Senhor  —  Aluaro  madeyra,  portador  desta,  me  disse  algumas  cou- 
sas que  julguey  ser  seruico  de  Vossa  Alteza,  nao  soomenle  escreuerlhas, 
como  ja  lenho  feyto,  mas  tambem  que  ho  mesmo  lhas  fosse  dizer ;  e  por 
tanto  ho  remediey  d  algumas  cousas  necessarias,  e  Ihe  dey  espesa  para 
ho  caminho.  Delle  entenderá  ho  mais,  e  de  my  que  me  pareceo  hum 
muito  fiel  e  bom  vasallo  de  Vossa  Alteza,  em  que  bem  cabera  toda  merce. 
Praza  a  nosso  Senhor  que  ho  leue  a  saluamento,  e  a  uida  e  real  estado 
de  Vossa  Alteza  acrecenté  e  conserue  com  toda  a  prosperidade  que  de- 
seja. 

De  Roma,  29  de  Julho,  1537 — Pero  de  Sousa  de  tavora1. 


Bulla  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

1539—  Agosto  «I. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio  Jo- 
hanni,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi  illustri,  Salulem  el  aposlolicam 
benedictionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconnium  acquirilur,  si 
per  seculares  principes  ecclesiarum  prelalis,  preserlim  ponlificali  digni- 
tate  preditis,  opporluni  fauoris  presidium  et  honor  debitus  impendalur. 
Hodie  siquidem  ecclesie  Saphienis,  tune  per  obitum  bone  memorie  Jo- 
hannis,  olim  Episcopi  Saphiensi,  extra  Romanam  Guriam  defuncli,  pas- 
toris  solalio  deslilute,  de  persona  dilecti  filii  Gundisalui,  Electi  Saphien- 
sis,  nobis  et  fratribus  nostris  ob  suorum  exigentiam  merilorum  accepta, 

1  Abch.  Nac,  Gav.  15,  Mag.  19,  n.°  39. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROiMANA  399 

de  fratrum  eorundem  consilio  apostólica  auctoritate  prouidimus,  ipsum- 
que  illi  in  Episcopum  prefecimus  el  pastorem,  curam  et  administralio- 
nem  ipsius  ecclesie  sibi  in  spirilunlibus  et  temporalibus  plenarie  commit- 
tendo,  prout  in  nostris  inde  confeclis  lilteris  plenius  continetur.  Cum  ila- 
que,  fili  Carissime,  sit  virlulis  opus  dei  ministros  benigno  fauore  prose- 
qui,  ac  eos  verbis  et  operibns  pro  Regís  elerni  gloria  veneran,  Maiesta- 
lem  tuam  regiam  rogamus  et  horlamur  atiente  quatenus,  eundem  Gun- 
disalnum  Eleclum,  et  ecclesiam  predictam  sue  cure  commissam,  habens 
pro  nostra  et  dicte  sedis  reuercntia  propensius  commendalos,  in  amplian- 
dis  el  conseruandis  iuribus  suis  sic  eos  benigni  fauoris  auxilio  prosequa- 
ris,  quod  ipse  Gundisaluus  Electus,  tue  Celsitudinis  fultus  presidio,  in 
commisso  sibi  cure  pastoralis  officio  possit  Deo  propicio  prosperan,  ac 
Ubi  ex  inde  perennis  vite  premium  et  a  nobis  condigna  proueniat  actio 
graliarum. 

Datum  Rome,  apud  Sanclum  marcum,  Anno  Incarnalionis  dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  séptimo,  Nono  Kalendas  Septembris, 
Pontificalus  nostri  Anno  Tertio  l. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

1531  —  Agosto  30. 


Paulus  Papa  m  Carissime  in  christo  fili  nosler  salutem  et  apostolicam 
benedictionem. 

Recepimus  I it leras  Maieslalis  tuae,  die  xxv  Maii  proxime  preteriti 
Eborae  datas,  per  quas  eadem  Tua  Maieslas  a  nobis  pelit  ut  cum  dilecli 
filii  Cardinalis  Portugallensis  et  Henricus  electus  Rracharensis,  frates  tui, 
caeterique  regnorum  luorum  Praelali,  Episcopi,  alque  Abbates,  qui,  iuxta 
formam  indictionis  vniuersalis  Concilii  in  virlute  sanclae  obedientiae,  el 
sub  vinculo  praestili  iuramenti,  ad  diclum  Concilium  venire  et  personali- 
ter  inleresse  lenentur,  partim  ob  aduersam  valeludinem,  partim  uero  ob 

1  Arch.  Nac,  Maco  17  de  Bullas  n.°  31. 


400  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

lemporum  diflicultales,  ac  multis  alus  de  causis,  in  dicto  Concilio  omnes 
adesse  non  possent,  vellemus  eis  ómnibus  censuras  huiusmodi  obedienliae 
ac  iuramenti  presliti  tuo  intuitu  relaxare,  lotumquc  hoc  negocium  in  tuam 
fidem  reiieere,  le  postea  eos  electurum  venturos,  qui  magis  idonei  et  ne- 
cessarii  forent  ut  dicto  Concilio  interessent  et  causam  catholicae  fidei  age- 
rent.  Cui  quidem  tuac  Maieslalis  desiderio  ac  petilioni  libenlissime  satis- 
fecissemus,  nihil  enim  est  quod  fidei  tam  pii  el  tam  catholici  Principis 
non  commelli  posse  credamus ;  Verum,  fili  carissime,  ea  sunl  témpora, 
ea  in  hoc  Concilio  traclanda  sunt,  ¡s  esl  aduersariorum  numerus,  ea  au- 
dacia, vi  non  facile  paruus  calholicorum  numerus  sulficere  possit,  plus- 
que  mulliludo  bene  sentienlium,  quam  causa  ipsa,  quam  tuemur,  profu- 
lura  esse  videatur.  Boni  ¡taque  consulet  Tua  Maiestas  si  quod  petit  ei  non 
concedimus,  quando  ob  has  rationes  maiorem  quam  possumus  bonorum 
numerum  ex  lotius  christianitatis  locis,  praeserlim  ab  haeresibus  intaclis, 
sicut  tua  sunl  regna,  id  quod  cum  tua  magna  laude  libenter  referimus, 
exquirere  et  coadunare  cogimur;  eíücielque  pro  sua  veleri  et  insigni  pie- 
tate  ut  quotquot  dictorum  tuorum  Regnorum  Praelali  ad  ipsum  Concilium 
venire  poterunt,  id  eis  cum  tua  bona  venia  libere  faceré  liceat,  vi  etiam 
difficultatibus  superatis,  vna  nobiscum  et  cum  caeteris  bene  senlientibus 
pro  tua  luorumque  regnorum  gloria  el  honore  fidem  Jesu  Christi,  Domini 
et  Salualoris  nostri,  aduersus  impíos  asserere  possint.  Sicut  in  tua  Maies- 
tate,  cui  omnem  oplamus  felicitatem,  firmiler  speramus,  et  Nuntius  apud 
te  noster  tibi  latius  referet. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Marcum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
xxxAugusli,  mdxxxvii,  Pontificalus  nostri  AnnoTerlio  —  Fabius  Vigil1. 


1  A«ch.  Nac.  Mac.  7  de  Bullas  n.°  4,  e  Mac.  23,  n.°  4. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  401 

Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

1531  —  Agosto  30. 


Paulus  papa  ni  Carissime  in  Christo  fili  noster  salutem  et  apostóli- 
ca m  benedictionem. 

Superioribus  diebus  cum  clero  vniuersae  Italiae  et  ei  vicinarum  in- 
sularum  Duas  Decimas  fructuura  ecclesiasticorum,  et  nobis  sanclaeque 
huic  sedi  temporaliter  subditis  diuersa  alia  subsidia  imposuissemus,  ut 
pro  nostra  virili  Turcis  Ilaliam  inuadentibus  obsisteremus,  et  huiusmodi 
subsidia  ad  tam  acre  bellum  valde  tenua  ac  pama  essent,  cogitaremusque, 
sicut  vniuersa  christianitas  in  hoc  defendebatur,  ita  omnes  christianos  in 
defensionis  partem  assumendos  esse,  de  clero  etiam  tuorum  Regnorum 
fiduciam  sumpsimus,  eique  duas  símiles  Decimas  imposuimus,  dilectum 
filium  Hieronymum  Ricenatem,  Nunlium  apud  te  noslrum,  illarum  col- 
lectorem  deputantes,  prout  ex  alus  nostris  sub  plumbo  expeditis  literis 
tuae  Maiestali  latius  constabit.  Quamobrem,  elsi  id  non  minus  tua  pie- 
tale  confisi  quam  nostro  iure  vientes  fecimus,  nec  dubilamus  Maiestatem 
tuam  suis  etiam  opibus,  quando  accidat,  nos  coadiuuaturam  esse ;  nihilo- 
minus,  pro  nostra  potius  in  eam  paterna  beniuolentia  quam  quod  ne- 
cesse  esse  arbitremur,  Maiestatem  luam  hortamur  et  requirimus  ut  eidem 
Nunlio  collectori,  et  subcollectoribus  ab  eo  deputandis,  omni  ex  parle  be- 
nigne  adesse  et  fauere  velit,  ut  dictae  Decimae  celeriter,  sicut  res  postu- 
lat,  exigi  possint.  In  quo  rem  sua  pietate  ac  probitate  dignam,  Deo  sicut 
debitam  ita  acceptam,  et  nobis  gratissimam  faciel. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Marcum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
xxx  Augusli  mdxxxvii,  Pontificatus  nostri  Anno  tertio — Fabius  Vigil.  K 


1  Arch.  Nac,  Mac.  7  de  Bullas,  n.°  7. 
TOMO   III.  Í>1 


402  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

HiTir  do  Papa  Paulo  III. 

1539—  Agosto  31. 


Paulus  tertius  etc.  Ad  futuram  rei  memoriam. 

Dudum  a  Nobis  emanarunt  litterae  tenoris  subsequentis :  (Segué  o 
breve  de  20  de  julho  de  1535,  que  publicamos  a  pag.  220  desle  volu- 
me.J  Cum  autem,  sicut  accepimus,  a  nonnullis  plusquam  oporteat  sapere 
uolenlibus  asseratur  palrocinium,  auxilium,  consilium  et  fauorem,  de 
quibus  in  eisdem  praeinserlis  lilteris  menlio,  solum  de  Aduocatis  et 
Procuratoribus  intelligi,  et  ipsis  pro  incarceralis  tantum  palrocinari  li- 
cere,  non  posseque  illis,  contra  quos  super  haeresi  proceditur,  pecunias 
uel  alia  auxilia  subministran  :  Nos,  cupienles,  ul  par  est,  unicuique  ad 
praemissam  defensionem  aditum  patere,  uolentesque  omnia  obstacula,  per 
quae  huiusmodi  defensio  impediri  possit,  tollere,  motu  proprio  et  scientia 
simiübus  per  praesentes  decernimus  et  declaramus  Paires,  fratres,  filios, 
consanguineos,  afíines,  amicos,  et  quascumque  alias,  etiam  vlriusque  se- 
xus,  personas,  Christianam  Religionem  profilentes,  pro  ipsis  conuersis  ad 
fidem  calhoücam,  eorumque  descendenlibus,  tam  ibidem  praesentibus 
quam  ab  inde  absenlibus,  quoties  ipsos,  uel  eorum  aliquem,  de  he- 
resis  et  Apostasiae  seu  blasphemiae  criminibus  denuncian,  inquirí  uel 
accusari,  seu  alias  publice  uel  occulte  diffamari,  seu  propterea  incarce- 
rari  contigeril,  tam  in  judicio  quam  extra  illud,  patrocinan,  consu- 
lere,  sollicitare  et  procurare,  ac  palrocinium,  defensionem,  auxilium, 
opem,  consilium  et  fauorem,  lam  in  partibus  illis  quam  in  Romana  Cu- 
ria, el  extra  eam,  ubique  locorum  praestare ,  ac  pecunias  et  alia  ad 
eorum  defensionem  necessaria  subministrare ;  ipsosque  paires,  fratres, 
Olios,  consanguineos,  amicos,  et  quascumque  alias  personas  pro  ipsis  ad 
fidem  conuersis  sollicilantes,  negoliantes,  procurantes,  subsidia  et  auxilia 
ministrantes,  et  alus  viis  et  modis  a  jure  permissis  eos  quomodolibet  de- 
fendenles,  dummodo  crimine  huiusmodi  accusali  aut  delali  uel  inquisili 
seu  publice  diffamati  non  sint,  pro  fautoribus  haereticorum  huiusmodi 
haberi,  leneri,  uel  repulan,  ñeque  inquirí,  denuntiari,  uel  accusari,  aut 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  403 

alias  molestan,  nullamque  praemissorum  occasione  infamiae  notam  aut 
inhabililalis  maculara,  aut  senlentias,  censuras  et  poenas  in  fautores  hae- 
reticorum  a  jure  statutas,  aliquatenus  incurrere :  ac  dislriclius  inhiben- 
tes  eisdem  Archiepiscopis,  Episcopis  et  alus  Praelalis,  eorumque  in  spi- 
ritualibus  et  temporalibus  Vicariis  Generalibus,  ac  alus  Officialibus,  nec- 
non  Inquisitoribus  et  Judicibus,  quauis  auctoritate  et  praeeminenlia  ful- 
gentibus,  sub  excoramunicalionis,  suspensionis  et  inlerdicti  senlenliis,  et 
beneficiorum  ac  officiorura  priuationis  poenis,  eo  ipso  si  contrauenerint 
incurrendum,  ne  eosdem  patres,  fratres,  filios,  consanguíneos,  affines, 
amicos,  et  aliasque  quascumque  personas  pro  dictis  ad  fidem  conuersis, 
ut  praefertur,  negotianles  eosque  defendenies,  quominus  omnia  et  singula 
supradicta  iuxta  praesentium  lenorem  libere  et  sine  aliquo  impedimento 
faceré  et  gerere  possinl,  quouis  quaesilo  colore  impediré,  perturbare,  aut 
illos  praemissorum  occasione  quomodolibet  molestare,  audeant  uel  prae- 
suraant.  Joannem  uero  Regem  praediclum  in  Domino  horlantes  et  requi- 
rentes  ut,  pro  sua  in  hanc  Sacrosanctam  Sedera  deuolione  et  reuerenlia, 
ipsos  negoliantes  et  defendenies,  quominus  ómnibus  et  singulis  in  prae- 
sentibus  litteris  comprehensis  gaudere  possint  et  ualeant,  ab  aliquibus  im- 
pediri  seu  molestan  non  permittat  uel  consentiat.  Decernentes  quoque 
easdem  praesenles  lilteras  sub  quibusuis  reuocalionibus,  modificationibus, 
limitationibus  et  suspensionibus  quarumeuraque  similium  uel  dissimilium 
litterarum,  ac  etiara  per  nos  et  Sedem  eandem  faclis  et  faciendis,  nulla- 
tenus  comprehensas,  sed  ab  illis  seraper  exceptas  esse,  et  quolies  reuo- 
catae  uel  liinitatae  fuerint  tolies  in  prislinum  et  eum,  in  quo  ad  prae- 
sens  existunt,  statum  restituías  et  reintégralas  existere,  et  sic  per  quos- 
cumque,  tam  ordinaria  quam  delégala  et  mixta  aucloritale  fungentes,  iu- 
dices  et  personas  ubique  iudicari,  cognosci  et  decidí  deberé,  sublata  eis 
et  eorum  cuilibet  quauis  aliler  iudicandi,  cognoscendi,  decidendi  et  in- 
terpraetandi  facúltate  et  auctoritate,  irritum  quoque  et  inane  quidquid  se- 
cus  super  his  a  quoquam  quauis  auctoritate,  scienler  uel  ignoranler,  con- 
tigerit  atientan.  Et  nihilominus  eisdera  Archiepiscopo  Tranensi,  et  Pisau- 
riensi,  necnon  Ferrariensi  Episcopis,  per  easdem  praesentes  mandamus 
quatenus  ipsi,  uel  dúo  aut  \nus  eorum,  pro  se,  uel  alium  seu  alios,  au- 
ctoritate nostra  faciant  easdem  praesentes  lilteras,  el  in  eis  contenta  quae- 
cumque,  plenum  effectum  sorliri,  omnesque,  qui  in  ipsis  praesenlibus  lit- 
teris comprehenduntur,  earum  effectu  pacifice  frui  et  gaudere,  nec  per- 

51* 


404  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

mittant  eorum  quemlibet  molestan,  impediri  aut  inquietan,  contradicto- 
res quoslibet  et  rebelles  ac  defensionem  huiusmodi  quomodolibel  in  d¡- 
ctis  Regnis  et  extra  impedientes,  cuiuscumque  dignüatis,  status,  gradus, 
ordinis  uel  conditionis  existant,  etiam  per  quascumque  de  quibus  eis  pla- 
cuerit  censuras  et  poenas,  appellatione  postposita,  compescendo  :  non 
obstantibus  constitutionibus  et  ordinationibus  Aposlolicis,  ac  ómnibus  il- 
lis,  qoae  in  eisdern  praeinsertis  litteris  uoluimus  non  obstare,  Caeterisque 
contrariis  quibuscumque. 

Datum  Romae,  apud  Sanctum  Marcum,  sub  annulo  Piscatoris,  die 
ultima  Augusti,  millesimo  quingentésimo  trigésimo  séptimo,  PonliQcalus 
nostri  anno  terlio  l. 


Breve  do  Papa  Paulo  III,  dirigido  a  el-Rei. 


1539  —  Ont  uliro  19. 


Paulus  Papa  m  Charissime  in  chrislo  íili  noster  salutem  et  aposlo- 
licam  benedictionem. 

Prorogalionem  vniuersalis  concilii,  quam  superioribus  mensibus,  cum 
Dux  Manluae  suam  ciuilatcm  per  nos  ad  id  electa m  concederé  nobis  no- 
luisset,  ut  de  alio  loco  malurius  cogitare  possemus,  in  Calendas  Nouem- 
bris  futuri  fecimus,  Tuae  Maieslati  tune  per  alias  lilleras  noslras  signifi- 
cauimus,  et  de  allerius  loci  eleciione  nos  signiíicaluros  pollicili  sumus : 
cum  uero  nos  deinde  nullibi  in  Italia  aut  commodius  aut  liberius  quam 
in  Dominio  venetorum  ipsum  concilium  celebran  posse  existimaremus,  et 
plusquam  medietas  lemporis  prorogali  elapsa  iam  foret,  nec  a  te,  cuius 
opinionem  super  hac  noui  loci  eleciione  rescire  cupiebamus,  sicut  a  Nun- 
tio  apud  te  nostro  intelligere  potuisti,  aliquid  certi  haberemus,  licet  Tur- 
cae  Italiam  tune  inuadenles  nos  non  nihil  in  hoc  suspensos  facerent.  Di- 
lectos filios  Nobiles  viros  Ducem  et  Senatum  venetiarum,  apud  quos  \t 
vna  nobiscum  el  cum  Serenissimo  Cesare,  affine  tuo,  foedus  contra  Tur- 
cas inirent  antea  institeramus,  requisiuimus  vt  vnam  ex  suis  ciuilalibus, 

1  Copia  na  Bibuotheca  d'Ajuda,  Symmicta,  Tom.  32,  fol.  114. 


RELAQÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  405 

quarum  copiara  habebant,  ad  celebrationem  concilii  nobis  accomodarenl, 
Qui,  a  veleri  eorum  in  Deum  pietate  et  erga  chrislianilalem  amore  non 
discedenles,  simul  foedus  ipsum  percusserunl,  simul  vicentiam  pro  cele- 
bralione  Synodi  alacri  animo  nobis  oblulerunt.  Quod  aulem,  etsi  locum 
habcbamus  quem  desyderaueramus,  concilium  ipsum  in  dictis  calendis 
non  inciperemus  illud  nos  impediebat  quod  residuum  temporis  prorogali 
Principibus  chrislianis,  qui  voiuissent,  et  Praelatis,  qui  eidem  concilio  in- 
leresse  debuissent,  ad  ueniendum  vicentiam  non  sufficere  arbitrabamur, 
ex  qno  factum  est  vt,  de  venerabilium  fratrum  nostrorum  sanctae  Roma- 
nae  ecclesiae  cardinalium  consilio,  dictam  celebrationem  in  calendas  Maii 
proxime  venturi  distulerimus :  quam  quidem  dilalionem  Tuae  Maiestati, 
sicut  caeteris  chrislianis  Regibus  et  Principibus,  per  has  nostras  litteras 
significare  voluimus,  illam  quanto  possumus  studio  hortanles  et  in  Domino 
rogantes  vt,  quando  iam  locus  situ  et  positione  conventuris  commodus, 
hospiliis  et  annonae  vbertate  refertus,  ac  aeris  temperie  salubris,  et  ne- 
mini  jure  suspectus,  nobis  concessus  est,  velis  eandem  synodum,  per  quam 
catholicae  fidei  defensionem,  incremenlum  religionis  christianae,  tot  ve- 
nenosarum  heresum  ardentium  extinctionem,  honorem  summi  Dei,  et 
christianorum  Principum  gloriam,  sperare  omnes  debemus,  tua  presentía, 
si  poteris,  uel  saltem  luis  oraloribus,  exornare,  curareque  efíicaciter  vt 
tuorum  Regnorum  Praelali  eidem  celebrationi  dicto  tempore,  in  quo  hanc 
•sanctam  Synodum  in  nomine  Domini  ac  cum  eius  máxime  auxilio  ad  eius 
gloriam  el  laudem  omnino  inchoare,  et  ipso  Deo  actus  noslros  dirigente 
ad  finem  perducere  statuimus,  intersint.  Sicut  Maiestatem  Tuam  pro  sua 
veteri  probitale  ac  pietate  facluram  esse  non  dubitamus. 

Dalum  Romae,  apud  sanctum  Petrum,  sub  Annulo  Piscatoris,  Die 
xviii  Octobris  mdxxxvii,'  Ponlificatus  Nostri  Anno  Terlio  —  Fabins  Vi- 
gil. '. 


1  Arch.  Nac,  Mar.  25  de  Bullas,  n.°  21, 


406  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTUGÜEZ 


Carta  de  Pedro  de  Sousa  de  Taiora  a  el-ltei. 


1539 — TVoventbro  15* 


Nao  se  tendo  acerca  do  concilio  innouado  outra  cousa  mais  do  que 
tenho  escrito  a  Vossa  Alteza,  linha  deliberado  nao  despachar  este  correo 
senao  com  enuiar  a  Vossa  Alteza  lodo  o  resto  dos  negocios  que  me  fica- 
uao.  E  andando  nisso  chegou  aquy  a  noua  da  passada  dos  franceses  em 
Italia,  onde  o  papa  tomou  ocasión  de  querer  escreuer  a  Vossa  Alteza,  e 
mostrou  desejo  que  este  correo  se  despachasse  logo,  e  que  me  conlentasse 
eu  que  leuasse  elle  os  negocios  que  achasse  despachados,  que  os  outros 
hyriao  de  mao  em  mao.  E  com  esta  vontade  do  papa  concorreo  tambem 
ha  do  Cardeal  Santiqualro,  que  muito  a  ysso  me  exhortou  e  disse  que 
releuaua,  e  que  ho  breue  do  papa  pera  Vossa  Alteza  era  polla  moor  parte 
credencial,  remetendose  ao  que  a  seu  nuncio  acerca  disto  escreue  que 
falle  com  Vossa  Alteza,  que  em  suma,  segundo  pude  comprender,  he  ex- 
hortar Vossa  Alteza  que  queyra  enlrepoerse,  e  esforcarse  quanto  nelle 
for  a  induzyr  ao  Emperador  a  fazer  paz  com  el  rey  de  franca,  e  poer  fim 
a  esta  tao  perigosa  discordia  na  chrislandade,  que  parece  craramente  que 
pode  ser  a  total  destruycao  della.  E  a  isto  emuiar  hüa  pessoa  d  autori- 
dade  a  tratar  isto  com  ho  Emperador,  e  do  que  achar  responder  a  Sua 
Santidade.  E  porque  ho  ducado  de  miláo  he  ha  dama  sobre  que  estes  com- 
petidores metem  tudo  em  reuolta,  e  o  Emperador  tem  muitas  vezes  dito 
por  se  justificar  e  mostrar  que  ho  que  faz  nao  he  por  cobica,  senao  por 
sua  seguridade,  diz  ho  Cardeal  que,  querendo  ho  Emperador  '  verdadera- 
mente sem  nenhua  tea  a  paz,  se  achara  bem  ho  modo  de  o  segurar. 
Mais  diz  que  se  vee  craramente  que  ho  Emperador  todo  seu  intento  he 
fazer  se  senhor  de  Italia  ;  e  que,  tendo  ho  reino  de  ñapóles,  jenova,  e  os 
estados  de  frorenca,  sena  e  milam,  craramente  se  vee  que  ho  que  fica  he 
tao  pouco  e  de  maneira  que  nelle  estará  querello  ou  nao.  E  que  vendo 
como  disto  se  tem  hyndo  emposando  se  pode  bem  julgar  que  ho  quererá 

1  Estas  palavras,  e  todas  as  outras  em  itálico,  cstao  em  cyfra. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  407 

tambem  fazer  do  reslo.  E  que  depois  que  tiver  a  italia,  e  a  Rei  de  franca 
abaixado  e  enfraquecido  de  maneira  que  lhe  nao  possa  resistyr,  tambem 
desejará  delle  e  dos  oulros  seus  vezinhos  ouqupar  ho  que  poder,  mor- 
menle  o  que  lhe  parecer  que  milhor  lhe  vem.  E  que  nao  deue  ser  sem 
desejo  de  querer  tambem  portugal,  pois  isso  soo  empede  que  nao  lenha 
todo  espanha,  e  o  mais.  E  que  se  lembre  Vossa  Alteza  que  em  cousas  de 
estado  nao  se  olha  nem  ha  respeito  a  parentesquo,  nem  a  outras  razoes 
por  grandes  que  sejao.  E  que  postoque  Vossa  Alteza,  confiado  ñas  que  hy 
ha  mullas  antre  ela  e  ho  Emperador,  nao  duuide  que  em  seus  lempos  se 
intente  cousa  tal,  deue  arecear  que  nos  erdeiros  de  huum  e  do  outro  pos- 
sao  soceder  azos  pera  ysto,  socedendo  a  ho  Emperador,  na  grandeza  e 
desigualdade  que  quer  ter,  socessor,  que  herde  com  tanto  estado  desejo 
de  ho  acrecentar,  como  vemos  que  naturalmente  nao  mingoa  nunca,  an- 
tes crece  com  ter  vonlade  de  ter  mais.  E  que  a  estes  inconuenienles  pode 
Vos^a  Alteza  hyr  á  mao  com  induzir  ao  Emperador  a  esta  paz  tao  santa 
e  necessaria  á  christandade,  e  tao  proueitosa  para  a  conservacam  dos  ou- 
tros  Estados,  de  que  a  Vossa  Alteza  toqua  tao  grande  e  tao  notauel  parte, 
se  considera  no  pormr  e  no  fim  das  cousas.  E  que  agora,  offrecendo  se 
esta  ocasyao  tao  honesta  de  Vossa  Alteza  poder  entreviir  a  persuadyr  esta 
paz  e  acaballa,  nao  deue  leyxar  passar  ho  aparelho  disse,  antes  se  deue 
prezar  muilo  de  ser  autor  de  hüa  tal  paz,  que,  alem  de  ser  tao  necessa- 
ria a  ho  comum  e  a  cada  hum,  julga  que  redundará  em  tanta  honra  e 
louuor  de  Vossa  Alteza,  como  a  moor  Vitoria  que  lhe  podesse  soceder.  E 
nesta  opiniao  e  desejo  de  se  conciuyr  esta  paz  concorre  ho  mundo  todo. 
E  o  papa  ha  deseja  sobre  lodalas  cousas.  E  os  Venezeanos  a  trabalhao  por 
suas  vias  qúanto  podem,  posloque  queyrao  liga  com  Emperador  contra 
ho  turco.  E  diseme  mais  ho  Cardeal  estas  palavras,  pera  que  vejaes  a 
tencao  do  Emperador :  estes  dias,  falando  se  ñas  condicocs  desta  liga  an- 
tre o  papa  Emperador  e  venezeanos,  nam  houveram  vergonha  os  agentes 
do  Emperador  de  dizer  que  seu  amo  nao  podía  concorrer  aas  espesas  desta 
liga  contra  ho  turco,  fazendo  lhe  o  Rei  de  franca  guerra  no  ducado  de 
milao,  se  o  Papa  e  Venezeanos  ho  nam  ajudavam  para  a  defensam  de 
milao.  E  que,  ajudando  ho,  eles  prometem  que  o  Emperador  concorrerá 
com  toda  ha  suma,  que  lhe  couber  para  esta  liga.  E,  se  comprir,  que 
viraa  em  pessoa  contra  ho  turco,  e  poerá  sobre  ysso  todo  seu  Estado,  e 
em  oulra  maneira  nam.  E  que  d  aquy  socederá  que,  nom  querendo  ho 


408  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Papa  nem  Venezeanos  ser  em  fauor  do  Emperador  a  esta  defensam  do  es- 
tado de  mylao,  os  venezeanos  forjadamente  se  acordarao  com  ho  turco, 
de  cuja  concordia  pende  rauito  o  acrecenlamenlo  das  Coreas  do  turco  e  de- 
minuicao  das  da  chrislandade.  E  estando  isto  asy,  e  a  rota  grande,  que 
agora  ouue  ho  campo  delRei  dos  romaos  do  Vaivoda,  ajudado  dos  tur- 
cos, e  franceses  ja  entrados  em  Italia  poderosamente,  e  esta  guerra  de 
maneira,  que  mostra  que  he  para  durar  algum  tempo,  parece  lhe  que  lem 
Vossa  Alteza  aparelho  pera,  entrepoendose,  poder  acabar  esta  paz,  e  sa- 
tisfazer  a  todolos  bees,  que  déla  se  seguem,  que  sao  muitos  e  grandes, 
alem  do  louuor  que  serapre  lhe  darao,  nao  somente  do  effeito,  mas  do 
intento,  ainda  que  ho  nao  acabe.  E  por  tanto  lhe  parece  que  Vossa  Alteza 
em  todalas  maneiras  enuie  esta  pessoa  bem  inslruta  ao  Emperador,  que 
com  ha  auloridade  de  Vossa  Alteza  e  seu  bom  modo  e  razoes  possa  con- 
duzir  a  bom  porto  esta  santa  empresa,  mormente  sendo  cousa  que  lhe  re- 
quere ho  santo  padre,  e  em  que  Vossa  Alteza  nao  encorre  periigo  de  ne- 
nhüa  parte,  e  de  todas  lhe  resultará  sempre,  de  qualquer  maneira  que 
ella  soceda,  grande  groria  acerca  do  mundo,  e  nao  menor  mérito  pera 
com  déos,  alem  do  contentamento  e  fama  que  leixao  cada  uez  mais  as  obras 
vertuosas,  ainda  que  sejao  trabalhosas  e  de  muito  custo,  o  que  esta  pa- 
rece que  nao  será  a  Vossa  Alteza. 

Parece  lambem  ao  Cardeal  que  Vossa  Alteza  deue  entrar  nesla  liga 
contra  ho  turco,  comum  imigo  da  christandade,  e  de  Vossa  Alteza  tam- 
bera em  particular,  segundo  se  vee  polas  armadas,  que  continuamente  faz 
contra  as  da  India  de  Vossa  Alteza. 

Acerca  das  decimas  passa  o  que  tenho  escrito  a  Vossa  Alteza.  E  des- 
cobrio  me  ho  mesmo  Cardeal  que,  depois  de  ho  papa  as  ler  empostas  em 
portugal,  e  sobrysso  escrito  a  Vossa  Alteza  e  a  seu  nuncio,  como  terá 
visto,  parecendo  ao  Cardeal  que  nisso  fazia  negocio  e  seruico  a  Vossa  Al- 
teza, estivera  em  fazer  com  o  papa  que  enuiasse  la  huum  a  contratar  com 
Vossa  Alteza  que  tomasse  ametade  d  estas  decimas  pera  sy  ;  e  islo  pera 
fazer  mais  fácil  e  correnle  ha  arecadacao  d  ellas.  Pareceo  me  que  quería 
tentarme,  e  ver  o  que  em  mym  achaua.  Eu,  nao  tendo  outra  comissao, 
nao  quis  nem  pude  allargar  me  a  mais  que  a  dizer  lhe  os  grandes  gastos, 
que  Vossa  Alteza  continuamente  faz,  asy  nos  lugares  d  alem  como  na  In- 
dia, contra  os  Infieis,  e  os  muito  moores  que  agora  se  lhe  oflfrecem  pera 
resistir  á  grossa  armada,  que  ho  turco  enuia  á  India  contra  Vossa  Alteza: 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  409 

por  onde  muy  alhea  cousa  parecería  intentar  se  de  tyrar  nada  dos  rey- 
nos  e  senhorios  deVossa  Alteza  pera  guerra  deoulras  prouincias,  lendo 
haVossa  Alteza  ñas  suas  lao  necessaria  e  tao  santa.  Donde  elle  concruyo 
de  sobrestar  alé  tomar  lyngoa  do  parecer  e  gosto  deVossa  Alteza  sobre 
isto.  Beijarlheey  as  maos,  se  nisso  mois  me  fallaren),  escreuerme  o  que 
manda  que  lhes  responda,  e  como  quer  que  nisso  me  aja  ate  que  venha 
esse  embayxador,  que  escreueo  que  despachaua  pera  qua,  ao  qual  ueste 
caso  e  nos  mais  deue  dar  larga  inslrucao  e  comissao. 

E  nao  querendo  Vossa  Alteza  que  as  decimas  se  lyrem  em  seus  rey- 
nos,  como  parece  que  nao  deue  consentyr  senao  se  forem  peía  ajuda  das 
guerras  deVossa  Alteza,  pode,  anlre  as  outras  cousas,  licitamente  res- 
ponder ao  papa,  ou  a  scu  nuncio  que  lho  screua,  que,  posto  que  Sua 
Santidade  possa  das  cousas  ecclesiasticas  fazer  o  que  quer,  nunca  se  cos- 
tumou  empoer  decimas  em  térras  de  nenhuum  principe  senao  a  sua  re- 
quisicao,  e  para  algua  obra  pya  ou  necessidade  das  mesmas  Ierras  e  se- 
nhorios donde  se  empoe. 

Eu  enuio  agora  a  Vossa  Alteza  dous  despachos:  hum  das  bullas  do 
bispado  de  Cafym  em  pessoa  de  goncallo  pinheiro ;  outro  das  do  mosteiro 
de  trauanca  em  dom  manuel  de  sousa.  E  vay  a  conla  d  ambas  as  espe- 
dicoes.  O  que  se  pos  mais  que  o  que  pera  ellas  se  enuiou  saberá  fer- 
nam  dalueres,  que  deu  as  pólices  e  letras  de  caymbo  pera  ysso ;  e  a  elle 
lambem  tocará  fazer  se  pagar  a  demasía  do  que  mais  custaram  que  o  que 
elle  ouue  das  partes.  Os  banqueyros  \sao  ca,  quando  lhe  mandao  algua 
expedicao  e  menos  dinheiro  do  que  ella  importa,  expedir  as  bullas,  e 
mandal  as  a  seus  respondentes  que  as  nao  dem  até  nao  serem  pagos  do 
que  poseríto  do  seu.  Digo  isto  porque,  pois  o  que  mais  sespendeo  foy  de 
alguus  dinheiros  que  *ca  estauao  de  fernao  daluerez,  a  elle  parecería  ho- 
nesto que  as  bullas  se  dessem,  pera  que,  quando  as  partes  as  \iesem  to- 
mar, averiguassem  lambem  com  elle  suas  contas. 

As  oulfas  espedicoes,  a  saber,  ha  despensacao  que  os  da  India  pos- 
sao  casar  se  no  terceyro  grao  etc.,  e  a  das  destribuyeoes  quotídianas  pera 
os  Inquisidores,  e  a  cousa  dos  panes,  espero,  prasendo  a  déos,  enuiar 
com  ho  primeiro.  E  pera  isto  e  cousas  semelhantes  parece  que  nao  de- 
uia  Vossa  Alteza  enuiar  correo  a  posta,  pois  pode  \iir  ho  recado  disso  e 
enuiar  se  com  muilo  menos  espesa  pollos  ordinayros  e  bancos  de  merca- 
dores  com  algua  avanlajem  mais  do  custumado.  E  em  cousas  de  vagan- 

TOMO  in.  5'2 


410  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tes  e  de  mor  importancia  podía  Vossa  Alteza  mandar  seus  correos ;  pos- 
toque acerca  das  vagantes  nao  sey  como  daquy  em  diante  acharey  o  Car- 
deal  Santiqualro,  e  tenho  arreceo  que  se  leuante  com  ha  presa,  se  Vossa 
Alteza  com  elle  nao  vsa  outros  meos.  E  ainda  que  eu  lenha  rezao  de  me 
queixar  delle  pollo  de  trauanca  e  de  mancellos,  com  tudo  me  parece  que, 
pois  Vossa  Alteza  ja  tomou  esta  via  d  encomendar  nesta  corte  suas  cousas 
a  este  homem,  e  elle  lem  n  ellas  tao  metidos  os  bracos,  que  ho  deue  amy- 
mar  e  responder  lhe  ás  suas,  mormenle  no  que  falla  ero  seus  inleresses, 
e  dar  lhe  alguum,  e  a  vollas  d  isso  esperanzas,  que  ho  entretenhao.  E,  se 
vagar  alguum  mosteiro  ou  outra  cousa,  dar  lhe  sobre  elle  algüa  pensao. 
E  ás  vezes  enuiarlhe  hua  pouca  de  canella  e  especiaría  pera  a  cozinha, 
e  cousinhas  da  India,  que  a  Vossa  Alteza  he  pouco,  e  elle  ho  eslimará 
muito  e  se  honrará  d  isso,  e  sey  que  ho  assoalhará  bem,  o  que  redundará 
em  muito  crédito  e  autoridade  de  Vossa  Alteza.  Mas  nao  ver  elle  em  tanto 
tempo  nunca  senao  negocios  de  maa  disistao  que  aja  de  tralar  com  ho 
papa,  e  nao  lhe  responderem  ás  suas,  sendo  frorenlim,  que  tem  ingenhos 
diabólicos,  e  nao  menos  apiletos  que  os  outros  homens  a  seus  inleresses, 
cuyde  Vossa  Alteza  que  animo  pode  ser  ho  seu.  E  nao  mo  diz  por  ace- 
nos,  senao  ja  agora  muito  craramente  se  queixa  e  leuanta  a  voz ;  e  nao 
tenho  nunca  com  elle  pratica,  por  apartada  que  seja  deste  proposito,  que 
elle  a  nao  rodee  de  maneira  que  venha  teer  a  queixar  se :  e  como  n  isso 
entra  nunca  acaba. 

E  do  papa,  principalmente,  Vossa  Alteza  se  deueria  lembrar,  pois 
lhe  pode  fazer  muitos  prazeres,  e  tambera  desgoslos ;  e  quando  nao  al, 
ao  menos  das  cousas  da  India  enuiar  algo,  que  se  lhe  possa  dar,  que  el- 
les  ludo  tomao.  E  quando  a  Vossa  Alteza  parccesse  cousa  baixa  mandar 
cousas  semelhanles  em  nome  de  presente,  se  leria  maneira  que  eu,  ou 
outro  qualquer  homem  de  Vossa  Alteza  que  ca  esté,  ho  desse  como  a  furto 
de  Vossa  Alteza,  que  elles  enlenderiam  por  descricao  o  que  fosse  bem  que 
enlendessem. 

ítem.  A  estes  micer  Ambrosio  e  micer  Durante,  secretario,  e  cama- 
reyro  de  Sua  Sanlidade,  deue  Vossa  Alteza  logo  mandar  comprir  com  o 
que  lhe  tenho  scrito,  que  he  pouca  cousa  e  importa  muito  ao  seruico  de 
Vossa  Alteza.  E  quanto  maís  prestes,  muito  mais  aceito  será,  e  nao  dará 
lugar  ás  desconfianzas,  que  comummente  a  tardanca  consigo  soe  trazer.  E 
pode  Vossa  Alteza  mandar  escreuer  em  algum  capitoío  de  algfia  carta,  que 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  411 

mescreua,  que  eu  de  parle  de  Vossa  Alteza  Ihes  agradeca  a  boa  vonlade, 
que  mostrao  ler  a  seu  seruico,  como  por  minhas  cartas  tem  entendido. 
Sao  estas  cousas,  que  cuslao  pouco  e  ás  vezes  vallem  muilo. 

Bem  vejo  que,  quando  pera  oulra  cousa  nao  aproueilar  esta  minha 
carta,  ao  menos  será  pera  que  Vossa  Alteza  se  rya  das  piquyces  rnuitas 
que  nella  digo :  e  porem  eu  quero  antes  que  me  tenha  por  tal,  que  por 
menos  fiel  em  nao  Ihe  dizer  o  que  synto  que  he  seu  seruico. 

Estando  pera  cerrar  esta  me  mandou  chamar  ho  Cardeal,  e  foy  co- 
migo  tambem  ho  correo,  que  vio  a  pralica  cuslumada,  em  que  logo  co- 
mecou  a  entrar.  Eu  o  atalhei  e  acalantei  ho  milhor  que  pude.  O  que  que- 
ría era  fallar  em  hua  obrigacao,  em  que  diz  que  el  rey  dom  manuel,  que 
aja  groria,  vosso  pay  lhe  he,  por  razom  da  qual  Vossa  Alteza  pos  de 
tenca  a  Cesar  bianqueto,  seu  camareiro,  lxxv  ducados  cad  ano,  que  cor- 
rem  des  ho  ano  de  xxxv  a  esta  parte :  que  supricasse  a  Vossa  Alteza  que 
os  mandasse  pagar  la  a  lucas  giraldes.  E  por  este  respeilo  diz  que  tam- 
bem deu  Vossa  Alteza  licenca  que  se  posessem  outros  lxxv  ducados  de 
pensao  sobre  ho  mosteiro  de  grijó  em  fauor  de  Jorge  Vgolino,  seu  primo, 
que  agora  he  castellao  de  Santo  angello,  e  correm  ha  duas  pagas :  su- 
prica  a  Vossa  Alteza  que  tambem  mande  que  lhe  sejao  ca  pagos.  E  pois 
isto  he  ja  deuido,  e  a  merce  d  isso  ja  feita,  deue  Vossa  Alteza  mandar  que 
se  cumpra  e  alguem  que  lho  lembre :  eu  escreuo  ao  bispo  de  Lamego  da 
parle  do  mesmo  Cardeal  que  ho  faca.  Beijarei  as  maos  de  Vossa  Alteza 
mandal  oasy,  e  que  aja  eíTeito ;  que  d  oulra  maneira  nao  se  pode  viuer 
nem  tratar  com  este  Cardeal :  e  ho  correo  poderá  dizer  as  vozes  que  ou- 
uyo,  postoque  niío  entendesse  ho  italiano. 

Os  franceses,  depois  que  enlrarao  em  Italia,  nao  fizerom  oulra  cousa 
mais  nclauel  que  passar  o  passo  dos  montes,  que  era  guardado  dos  im- 
periaes ;  os  quaes  tao  pouco  nao  se  esmerarao  muilo,  antes  alegora  se 
moslrarom  inferiores,  asy  em  Ieixal  o  passo,  em  que  poucos  podem  re- 
sistyr  a  muitos,  como  em  se  retyrarem  a  lugares  fortes,  e  comsigo  toda 
a  vilualha  que  poderao  meter,  e  a  outra  toda  queymarom  e  destruyrao. 
Os  que  os  querem  desculpar  atribuem  a  siso  este  seu  retroer,  com  dizer 
que  a  primeira  furia  francesa  se  deue  leyxar  passar.  Os  franceses  dizem 
que  sao  cincoenta  mil  fantes,  e  tres  mil  caualos  antre-ligeiros  e  homes 
d  armas.  E  na  verdade  os  imperiaes  sao  menos  ametade  desle  numero ;  e 
porem  boa  gente  e  pratica.  E,  se  elles  refusao  batalha  campal,  durará  a 

52* 


412  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

guerra  mais,  se  os  franceses  achao  que  comer  no  campo  de  que  ategora 
sao  senhores,  o  que  se  cree  que  nao  acharáo  polla  deligencia  que  n  isso 
vsarao  os  imperiaes.  E  sendo  asy,  conuirá  aos  franceses,  depois  de  ler 
socorrido  a  lurim  e  a  pinharol,  que  ategora  esliuerao  cercadas  e  em  grande 
aperto,  ou  lomarse  a  franca,  ou.  tomarem  a  via  de  loscana  e  frorenca 
pollas  térras  do  papa  e  do  duque  de  ferrara,  que  lhes  nao  negarao  ho 
passo  e  vitualhas.  E  fazendo  esta  uia  poeráo  em  muito  perigo  as  cousas 
de  frorenca,  e  as  do  reyno  de  ñapóles  tambem  vacilarao.  E  pera  isto  será 
necessario  o  que  se  diz:  que  el  rey  de  franca  vem  logo  tambem  em  Ita- 
lia com  outro  exercito,  que  nao  pode  ser  menos  vindo  em  pessoa  como 
dizem  ;  e  que  ja  está  em  briancao,  que  he  muito  perto  dos  montes.  Com 
este  exercito,  que  he  passado,  vem  ho  gram  mestre  de  franca.  O  que 
mais  soceder  escreuerei  de  mao  em  mao  a  Vossa  Alteza,  cuja  vida  e  real 
estado  nosso  senhor  acrecenté  sempre  e  conserue  com  toda  a  prosperi- 
dade  que  deseja. 

De  Roma,  xv  de  nouembro,  1537  —  Pero  de  Sousa  de  Tavora1. 


Despachos,  que  le voii  D.  Pedro  Ilasearenlias. 

1531  —  Dezembro  «9  *. 


CRENCA    QUE    LEUOU    DOM    PEDRO  3    MAZCARENHAS,    QUE    FOY  POR    EMRATXADOR 

AO  PAPA. 


Muito  santo  in  christo  padre  e  muito  bem  aventurado  Senhor,  o  voso 
deuoto  e  obediente  filho  dom  Joham  etc.,  com  toda  humildade  enuio  bei- 
jar  seus  santos  pees. 

1  Abch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  5,  n.°  26. 

2  É  o  dia  da  partida  do  embaixador,  e  nao  a  data  dos  despachos,  porque  as  minu- 
tas nao  a  trazem.  Convém  advertir  que  D.  Pedro  Mascarcnhas  ia  tambem  encarregado  de 
tractar  negocios  de  ponderacao  ñas  cortes  de  Carlos  V  c  de  Francisco  I,  o  que  fez  retar- 
dar muito  a  sua  chegada  a  Roma. 

3  Na  minuta  está  dom  p.°,  que  lémos  dom  pcdro,  porque  assim  temos  algumas  ve- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  413 

Muito  Santo  in  christo  padre  e  muito  ben  aventurado  senhor,  eu 
pela  grande  confianca  que  tenho  de  dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  con- 
selho,  e  experiencia  de  seus  servicos,  e  por  me  ter  dada  de  sy  em  ludo 
o  de  que  o  emcarreguey  muito  boa  eonta,  o  escolhi  pera  o  mandar  a 
Vosa  Santidade  por  meu  embaixador,  e  em  sua  corte  Residir  e  o  seruir 
em  ludo  conforme  a  meus  grandes  desejos  e  obriguacam,  que  tenho  como 
filho  obediente  de  Vosa  Santidade  e  d  esa  santa  see  apostólica  pera  em  tudo 
o  seruir.  Sopliquo  e  peco  muito  por  mercé  a  Vosa  Santidade  que  o  queira 
ouuir,  e  em  todas  as  cousas  que  de  minha  parle  Ihe  diser  lhe  dar  inteira 
fce  e  crenca,  e  o  íauorecer  e  mandar  tratar  como  lhe  eu  mereco  pelo 
muy  grande  amor  de  verdadeiro  filho,  que  lhe  sam,  e  a  todas  as  cousas 
de  seu  seruico  tenho,  que  Receberey  de  Vosa  Santidade  em  muy  singular 
merce.  E  eu  lhe  mando  que  continuamente  me  mande  nouas  da  saude  e 
disposisam  de  Vosa  Santidade,  que  espero  em  nosso  Senhor  déos  por  sua 
mysericordia  que  sejam  sempre  lam  boas,  como  Vosa  Santidade  deseja. 

Muito  Santo  In  christo  padre,  etc. 


INSTRUCAO  QUE  LEUOU  DOM  PEDRO  DO  QUE  HADE  FALAR  AO  PAPA. 

O  que  vos  dom  pedro  mazcarenhas  de  minha  parte  direes  ao  santo 
padre,  a  que  vos  enuio  por  meu  enbaixador  pera  em  sua  corte  residir- 
des,  he  o  seguinte : 

ítem.  Vos  leuaes  carta  de  minha  crenca  pera  Sua  Santidade,  peí;  que 
lhe  fago  saber  como  vos  mando  por  meu  enbaixador  pera  residirdes  em 
sua  corle.  Esta  lhe  darés  a  primeira  vez  que  a  Sua  Santidade  falardes,  e 
lhe  beijarés  por  mim  com  toda  humildade  seus  santos  pees,  sem  por  err- 
tam  nem  por  vertude  della  lhe  dizerdes  mais  que  o  que  a  mesma  carta 
diz,  por  aquellas  pallauras  que  vos  milhor  parecerem.  E  ao  que  vos  Sua 
Sanlidade  emlam  pergunlarlhe  respóndeles:  e  a  reposta  remito  a  vosa 
descricam.  E  no  fim  da  pratica  que  emlam  teuerdes,  que  deueraa  de  ser 
breue,  dirés  a  Sua  Santidade  que  vos  lhe  leuaes  oulras  carias  minhas,  e 


zes  encontrado  por  extenso  este  nome,  embora  em  geral  se  dissesse  Pero.  Suppomos  que, 
por  alguma  razao  de  euphonia,  por  nos  ignorada,  ora  se  escrevia  Pero,  ora  Pedro,  con- 
forme era  ou  nao  precedido  pelo  titulo  de  Dom,  ou  outro  semelhante. 


414  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

)hc  aveos  de  falar  em  algumas  cousas,  que  leixaes  pera  quando  Sua  San- 
tidade  for  seruido  de  vos  ouuir,  e  que  vos  fará  merce  ser  o  mais  cedo 
que  poder  ser. 

Ilem.  Se  loguo  vos  quiser  ouuir,  lhe  darés  a  derradeira  caria  que 
leuaes  accrqua  da  materia  do  concilio;  e  cnlam,  ou  quando  vos  der  au- 
diencia senam  for  no  mesmo  dia,  depois  de  a  1er,  lhe  direes  que  eu  vos 
liue  despachado  ha  muilos  dias  pera  loguo  parlirdes  apos  a  carta,  que 
escreuy  a  Sua  Santidade  em  reposta  de  seu  breue  e  bula  do  concilio,  como 
n ela  Iho  escreuy;  e  que  naquela  conjuncam  me  vieran)  nouas  da  India 
dos  grandes  apcrcebimentos  e  armadas,  que  alguuns  Reis  mouros  muy 
poderosos  e  muy  ricos  faziam  pera  conlra  minhas  forlelezas  e  armadas; 
e  que  nam  somente  eles  por  sy  e  com  seu  poder  me  queriam  mouer  guer- 
ra, mas  com  seus  tisouros  ajudariam  o  turquo  pera  com  maior  facilidad* 
poder  ajudal  os  a  elles,  e  ofender  a  mim  e  a  meu  estado  por  aquela  banda. 
E  d  el  Rey  de  canbaya,  que  he  hum  muy  grande  e  muy  poderoso  Rey, 
imiguo  muy  antiguo  da  nacam  portuguesa  por  longua  guerra,  que  ja  do 
lenpo  del  Rei  meu  senhor  e  padre,  que  santa  gloria  aja,  senpre  lhe  foy 
feila,  e  por  mim,  e  grandes  danos  que  recebeo,  asy  por  mar  como  por 
térra,  fuy  certeficado  que  tinha  mandado  ao  turquo  enbaixadores  a  pe- 
dir lhe  armadas  e  jente  grossa,  pera  o  que  lhe  mandou  loguo  grande  soma 
de  dinheiro,  que  sam  certeficado  ser  oilo  comtos  douro,  e  com  islo  muita 
arlelharia,  de  que  elle  lem  muy  grande  canlidade.  E  juntamente  com  islo 
me  veio  outro  recado,  per  pesoa  certa,  que  a  armada  e  jente  do  turquo 
era  prestes  em  suez  pera  partir  loguo  pera  a  india ;  e  que  leuaua  vinte 
cinco  mil  homeens,  de  que  os  tantos  mili  eram  arcabuzeiros,  que  o  tur- 
quo mandou  escolhidos  de  constanlinopoly/e  a  outra  jente  toda  lympa  e 
de  guerra,  que  se  enbarcaua  em  sesenta  galees  e  oulros  muitos  navios 
de  remo  e  naaos  e  nauios  outros,  bem  armados  e  artilhados  e  com  muita 
abastanca  de  monicao  e  manlimentos.  Com  arreceo  das  quaes  cousas  to- 
das, que  sam  lanto  pera  arrecear  como  Sua  Santidade  vee,  meu  gouer- 
nador  e  capitaes  com  muy  grande  pressa  me  mandam  pedir  socorro  de 
naaos  e  jenles  e  arlelharia,  porque,  sem  iso,  temiam  que  minhas  cousas 
e  vassallos  corresem  muy  gram  periguo :  no  que,  alem  da  perda  de  tamla 
e  tam  leal  gente,  todos  criados  e  naluraes,  e  oulros  muitos  chrislaos  da 
mesma  térra,  era  poer  em  claro  risquo  todo  o  fruilo  que  eslaa  feito,  e  se 
continuadamenle  faz  e  espera  fazer,  no  seruico  de  déos  e  acrecenlamenlo 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  415 

de  sua  santa  fee  n  aquelas  parles,  o  qual  he  lanío  que  eu  tenho  por  cerlo 
que,  arada  que  se  nom  digua  por  rwim,  a  fama  e  a  grandeza  da  cousa 
tenha  chegado  militas  vezes  ás  orelhas  de  Sua  Sanlidade.  E,  pela  armada 
que  me  veio  de  la  o  ano  pasado,  soube  que  em  huma  muy  pequeña  pro- 
uincia  das  sogeitas  a  mim,  que  he  no  cabo  de  comorim,  se  conuerleram 
e  receberam  aguoa  do  sanio  bautismo  pasante  de  cincoenta  mil  almas,  e 
se  esperaua  em  noso  Senhor  que  se  conuerteria  toda  a  térra  ;  os  quaes 
sam  christaaos  aguora,  e  nom  soomenle  tem  recebido  o  nome  de  Chrislo 
geralmenle,  mas  em  particular  os  nomes  da  igreja  Romaa,  e  neles  se  veo 
lam  manifeslamenle  a  graca  do  esprito  sanio  pelas  obras  e  feruor  com 
que  receberam  a  fee,  e  fazem  o  que  Ihe  he  emsinado  por  os  sacerdotes 
e  letrados,  de  que  la  tenho  pera  estes  semelhanles  efeilos  mandado  grande 
cantidade,  que  isío  me  fez  ainda  recear  mais  os  mouimentos  dos  imiguos, 
e  me  pos  em  tamanha  fadigua,  e  asi  do  esprito  como  em  necesidade  da 
fazenda,  pela  grande  armada  com  que  conuinha  socorrer,  de  que  ja  he 
hida  huma  boa  parle,  que  esliue  em  a  Sua  Sanlidade  o  fazer  saber  por 
vos,  e  Ihe  pedir  que  pera  cousa  lamanha,  e  em  lempo  de  tamanhas  mi* 
nhas  despesas  necesarias  a  tantas  oulras  minhas  comquislas,  que  tenho 
contra  iníiees  em  tantos  e  lam  desuairados  luguares,  com  lamto  espargi- 
mento  de  sangue  portugués,  pois  a  Sua  Sanlidade,  como  a  pastor  vni- 
uersal,  tamto  he  encomendado  a  defensam  d  aquella  térra  e  desta,  como 
da  em  que  reside,  que  me  quisese  ajudar  com  alguma  parle  dos  tesou- 
ros  da  see  apostólica,  como  os  pontífices  pasados  aos  Reís  desles  Regnos 
em  menores  necesidades  que  esta  senpre  o  cuslumaram  fazer,  porque  cla- 
ramente viram  de  que  inportancia,  nom  somente  a  toda  a  espanha,  mas 
a  toda  a  christindade,  he  a  continua  guerra,  que  tenho  em  afíiqua  com 
el  Rey  de  fez  e  el  Rey  de  marrocos,  dous  muy  grandes  e  poderosos  Reis 
imiguos,  por  rezam  da  guerra  e  da  fee,  em  cujos  Reinos  posuyo  quatro 
cidades  e  qualro  villas  ganhadas  aos  mouros  por  forca,  e  cercadas  del- 
les  casy  por  todas  as  parles,  e  defendidas  milagrosamente  alem  do  mar 
na  face  de  lamanho  poder.  Onde  allem,  das  despesas  ordinarias,  que  sam 
muy  grandes,  vos  Ihe  podes  dizer  as  extraordinarias,  que  nom  sam  me- 
nores dos  socorros  e  rebates  de  cada  dia.  E,  se  no  mesmo  tenpo  me  nom 
vieram  nouas  da  vinda  dos  turquos  á  llallis,  a  qual  cousa  casy  me  pu- 
nha  em  me  esquecer  de  todo  das  minhas,  sendo  tamanhas,  eu  pedirá  a 
Sua  Sanlidade  a  ajuda,  que  ácima  diguo,  e  me  parecia  ler  muita  rezam 


41G  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pera  n  esperar.  E  porque  tanbem  depois  Sua  Santidade  me  fez  saber  por 
seu  breue  a  porrogacam  do  concilio,  e  eu,  pera  por  vos  lhc  poder  mi- 
lhor  mandar  dizer  o  que  niso  me  parecía,  quiz  esperar  mais  certeza  do 
lugar  e  tenpo  de  que  aguora  me  certeficou  ;  a  qual  noua,  juntamente  com 
a  retirada  dos  lurquos,  e  ligua  que  Sua  Santidade  fez  com  o  enperador 
meu  irmaao  e  com  a  República  deVeneza,  foy  pera  mim'de  tanto  pra- 
zcr  e  contenlamenlo,  que  nom  soomente  por  cartas,  mas  por  pesoa  certa 
me  pareceo  bem  mostrar  lho  e  vos  mandey  logo  partir.  E  dir  Ihces  que 
por  todas  estas  tres  cousas  dey  e  dou  muito  grandes  gracas  a  noso  Se- 
nhor,  porque  em  cada  huma  d  ellas  ha  partes  muy  grandes  pera  esperar 
que  noso  Senhor  se  quer  lenbrar  da  christindade,  pois  juntamente  as  traz 
a  tal  caminho  e  as  guardou  pera  seu  tenpo,  no  qual,  por  suas  grandes 
vertudes  e  carreguo  e  santísimo  zelo  de  verdadeiro  vigairo  de  sam  pe- 
dro,  nom  se  pode  esperar  senam  todo  bem.  E  por  tudo  o  que  Sua  San- 
tidade n  isto  faz,  lhe  beijo  seus  santísimos  pees,  que  verdaderamente  sam 
obras  propias  pera  o  tenpo ;  e  no  louuor  de  todas  ellas' tem  elle  muy  par- 
ticular parte,  porque  da  retirada  do  turquo  tanbem  se  vee  claramente  que 
as  prouysoes  e  apercebimentos  de  Sua  Santidade,  e  principalmente  a  obra 
que  fez  na  conclusam  da  lingua,  foy  a  principal  causa.  E  déla  espero  em 
noso  Senhor  que  se  sigam  outros  maiores  beens  com  a  paz  dos  christaos, 
que  se  aguora  trata,  e  em  que  tanbem  nom  poso  leixar  de  lhe  louuar 
muito  a  deligencia  grande  e  cuidado,  com  que  a  ajuda  e  procura  ;  e  asy 
lhe  pedir  muito  omildosamente  por  merce  que  nesta,  como  em  parte  muy 
principal,  nom  canse,  porque  sua  autoridade  e  santas  amoestacoes  ham 
de  ser  muy  grande  parte  da  conclusam  ;  e  concluindose  a  ele  se  siguirá 
muy  grande  louuor  no  mundo  e  merecimenlo  ante  déos,  e  se  lhe  azara 
ter  juntamente  a  principal  parle  da  gloria  e  viloria  dos  chrislaaos  contra 
os  infyees  imygos  de  nosa  santa  fee  católica,  na  qual  sem  a  paz  da  chris- 
tindade nom  se  pode  cuidar,  e  com  ela  deuese  de  ter  por  muy  certa  com 
a  recuperacam  de  tantos  inperios  e  Reinos  e  Senhorios  perdidos  mais  pela 
discordia  dos  nosos  que  por  forca  dos  imiguos :  pera  a  qual  obra  eu  es- 
pero na  misericordia  de  noso  Senhor,  e  na  santa  lemeam  e  desejos  de 
Sua  Santidade,  que  lhe  dará  forras  iguaes  pera  conforme  a  elles  a  poder 
efeiluar,  no  que  eu,  como  obediente  filho  e  seruidor  de  Sua  Santidade, 
ey  senpre  de  poer  todas  minhas  forcas  e  as  de  meus  Regnos  e  Senhorios 
por  cima  de  todas  minhas  necessidades  ditas,  e  oulras  quaesquer  que  se 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  417 

me  posam  oferecer,  comprindo  em  ludo  o  que  deuo  a  Rey  christaao  e 
ao  grande  amor,  que  a  Sua  Sanlidade  tenho  pera  em  tam  santa  e  tam 
gloriosa  obra  muilo  folguar  de  Ihe  ter  companhia  e  o  seruir. 

Ilem.  Depois  de  dizerdes  a  Sua  Sanlidade  o  sobredilo,  lhe  direes 
que,  alem  do  que  lhe  escreuo  acerqua  do  concilio,  eu  lhe  beijo  seus  san- 
ios pees  pela  firme  delriminacam  e  muy  sanio  prepósito  em  que  estaa 
acerqua  da  celebracam  delle,  e  do  lenpo  e  luguar ;  e  lhe  peco  muitas  \e- 
zes  por  merce  que  queira  proseguir  niso  conforme  a  tall  principio,  e  ao 
que  a  necesidade  da  fee  e  aseseguo  do  pouo  christaao  requere,  que  nam 
pode  ser  mais  pellas  vniuersaes  discordias  dos  christaos,  e  principal- 
mente das  erradas  openioes  na  Religiam,  a  que  Sua  Sanlidade  com  ta- 
manha  presteza  e  vigia  deue  socorrer  e  prouer  que  a  tardanca  nom  faca 
o  malí  incurauel,  ou  ao  menos  de  cura  muy  deficultosa ;  e  que  olhando, 
asi  como  por  suas  obras  claramente  se  \ee  que  olha,  non  leixará  de  fa- 
zer  cousa  allguma  das  necesarias  aa  conclusam  de  cousa,  a  que  elle  lem 
tam  grande  obriguacam,  e  lhe  tam  particularmente  por  seu  carreguo  e 
oficio  pastoral  perlence,  da  qual  sem  duvida  pende  o  soo  remedio  de  lam- 
los  malíes  e  eresias  do  mundo,  e  em  partes  tam  periguosas,  e  tanto  pera 
temer  mais  ainda  o  futuro  que  o  presente,  as  quaes  cesando  deuemos  de 
ter  firme  esperanca  que  cesará  a  ira  de  déos,  pera  o  que  sua  auloridade, 
contra  a  qual  mais  se  emderenca  as  armas  dos  imiguos  da  fee,  he  a 
que  mais  pode  e  ha  d  aproueilar :  pera  cuja  defensam  e  efeito  da  mesma 
obra  Sua  Santidade  pode  ser  muy  certo  que  eu  trabalharey  senpre  por 
fazer  inteiramenle  meu  oficio,  e  comprir  com  o  que  deuo  a  déos  e  a  elle, 
tomando  seu  exemplo  como  de  pay  que  tam  inteiramenle  cumpre  com  o 
que  deue  a  déos  e  a  sy  mesmo.  E  esta  lenbranca,  posloque  eu  veja  que 
onde  ha  tanto  cuidado  e  vontade  he  muy  pouquo  necesario,  todavia,  por- 
que ñas  cousas  de  lamanha  calidade  nunqua  acabo  de  me  satisfazer,  lhe 
torno  a  pedir  outra  vez  com  muita  vmildade  por  merce  que  a  tenha  sen- 
pre diante  de  sy,  e  a  tome  de  mim  corno  de  obidiente  filho  e  verdadeiro 
seruidor  seu,  que  em  todas  as  cousas  de  seruico  de  noso  Senhor  desejo 
seu  louuor  tam  adiantado  como  elle  mesmo  o  deseja. 

ítem.  O  santo  padre  me  escreueo  e  mandou  fallar  por  seu  nuncio 
acerqua  de  duas  dizimas,  que  quer  da  clerezia  de  meus  Regnos,  apuntan- 
do me  as  necesidades  da  see  aposloliqua  e  suas.  E  as  minhas  sam  sabi- 
das e  notorias  em  toda  parle  da  christindade,  onde  quer  que  se  sabem 

TOMO  III.  53 


418  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

rainhas  comquistas  e  continuas  guerras  comtra  infiees,  e  eslas  de  cada 
anuo,  alem  das  outras  que  ácima  vaáo  apontadas  no  primeiro  capitulo 
desta  vosa  instrucam,  das  quaes  nunqua  se  pode  dizer  tanto  que,  con- 
sirando  a  importancia  das  cousas  da  india  e  periguo  presente  em  que  el- 
las estam,  que  se  nom  deua  crer  muito  mais.  E  allem  desta  rezam  ha 
outras  muitas  e  muy  grandes,  pelas  quaes  os  papas  pasados  concederán! 
militas  vezes  aos  Reis  destes  Regnos  muitas  gracas,  como  foram  tercas, 
cruzadas,  e  outras,  avendo  consiracam  aos  seruicos,  que  a  mesma  Seo 
apostólica  destes  Regnos  continuadamente  recebia  no  proseguimento  da 
guerra  dos  infiees,  cora  a  qual  á  custa  das  fazendas  dos  Reis  meus  an- 
tepasados e  minhas,  e  de  muitas  vidas,  e  com  muito  espargimento  de 
sangue,  sam  ganhadas  mais  allmas  á  fee  de  noso  Senhor  Jesu  Ghrislo,  e 
edificados  mais  templos,  e  adqueridas  mais  rendas  á  Igreja,  que  em  parte 
alguma  da  chrislindade  :  e  n  estas  cousas  todas  senpre  polo  amtiguo  e  leal 
custume  destes  Regnos  e  de  meus  vasalos  tiueram  senpre  tanta  parte  os 
perlados  e  clerezia,  ajudando  seus  párenles  que  na  guerra  seruiam,  e  seu 
Rei  em  suas  necesidades,  e  suas  ígrejas  na  defensam  dellas  mesmas,  que 
senpre  se  ouue  por  tanta  rezam  averlhes  respeito,  como  a  todos  os  ou- 
tros  que  na  mesma  guerra  pesoalmente  pelejauam  :  e  isto  eu  nom  espero 
que  Sua  Santidade  o  consire  menos,  sendo  minhas  necesidades  maiores, 
e  meus  seruicos  a  déos  e  á  Igreja  nom  menores,  do  que  o  fizeram  os  san- 
tos padres  seos  antecesores  aos  meus  antepasados.  O  que  tudo  o  mais 
larguamente  que  poderdes  apresentarés  a  Sua  Santidade,  e  lhe  direes  que 
eu  lhe  peco  muito  por  merce  que  nom  queira  fazerme  tamanho  agrauo 
como  n  isto  me  faria,  que  eu  nam  espero ;  nem  tirar  de  meu  Regno  em 
tal  tempo  dinheiro,  que  ha  clerezia  de  meus  Reinos,  pelo  conlinu  ser- 
uico  que  me  fazem  no  modo  sobredito  nom  menos  seruem  a  déos  que 
em  reedificar  suas  proprias  ígrejas,  seria  muy  difícil  e  casy  inposiuel  pa- 
guar.  E  n  isto  insistirás  quanlo  poderdes,  como  em  cousa  de  grande  meu 
seruico,  e  que  seria  de  muy  perjudicial  exemplo  ao  porviir ;  e  comíio 
que  nam  leixarés  nada  por  dizer  nem  líazer  pera  que  eu  seja  n  isto  ser- 
uido. 

ítem.  Quando,  depois  de  n  iso  terdes  insistido  muito  e  por  muitas 
vezes,  o  papa  por  cima  de  tudo  se  resoluer  em  todauia  querer  as  dizi- 
mas, em  tal  caso  tornares  a  lhe  pedir  que  Sua  Santidade  vos  dee  tempo 
pera  me  escreuerdes  sua  reposta,  porque  pera  outra  cousa  nam  leuaes 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  419 

minha  comisam,  nem  eu  podía  crer  que  cousa  tam  justa  e  em  tal  tenpo 
me  ouuese  de  ser  negada ;  e  em  toda  deligencia  me  avisares. 

ítem.  O  sanio  padre  tem  chamado  ao  concilio,  alem  do  cardeal  e 
Iffante  meus  irmaaos,  todos  os  perllados  e  abades  e  outras  pesoas  de  meus 
Regnos,  que  ao  concilio  sam  obrigados ;  e  porque  eu  ey  de  folguar  de 
en  tudo  comprazer  e  servir  Sua  Santidade,  e  principalmente  pera  as  cou- 
sas do  concilio,  cuja  autoridade  eu  ey  senpre  de  procurar  quanto  em 
mim  for,  e  tiramdo  aquellas  pesoas,  que  Sua  Santidade  com  rezam  deua 
escusar,  e  as  que  o  direito  escusa,  ey  dauer  por  bem  que  vam  todos 
aquelles  de  que  nosso  Senhor  posa  la  ser  seruido,  e  fazer  fruito  no  que 
se  ouuer  de  tratar ;  e  seria  grande  inconueniente,  e  ainda  cousa  desar- 
rezoada,  que,  tendo  os  laes  perlados  e  pessoas  muitos  beneficios,  asi 
de  meu  padroado  como  outros,  que  senpre  os  papas  proueram  e  deram 
a  soplicacam  dos  Reis,  e  a  pesoas  de  merecimento,  que,  morrendo  os 
taes  no  caminho  ou  durando  o  concilio,  que  seus  beneficios  fosem  la  pro- 
uidos  a  outras  pesoas,  e  nam  a  aquelas  por  que  eu  suplicase,  o  que  me 
seria  e  a  meus  Regnos  muy  grande  perjuizo ;  vos  direes  a  Sua  Santidade 
que  lhe  peco  muito  por  merce  que  pera  isto  me  queira  mandar  sua  pro- 
uisam,  asi  declarada  que  nela  nom  posa  aver  duuida  allguma,  e  com  to- 
das as  clausulas  necesarias  pera  inleira  seguranca  do  sobredito.  A  qual 
prouisam  trabalharés  muito  por  ser  muy  abastante  asi  nos  beneficios  de 
meu  padroado,  como  outros  quaes  quer  que  os  taes  perlados  e  pesoas  te- 
uerem :  e  avendo  n  iso  allguma  duuida  ou  lemitacam,  que  nam  espero, 
me  escreuerés  o  que  Sua  Santidade  vos  responde  e  niso  esperaes  que  se 
faca,  e  com  tall  deligencia,  qual  conuem  sendo  o  tenpo  do  dito  concyüo 
tam  chegado. 

ítem.  Porque  as  cousas  da  paz  antre  o  enperador  e  elRey  de  franca 
estam  tanto  avante  que  parece  que  com  ajuda  de  noso  Senhor  tomarám 
asento,  e  o  enperador  me  tem  n  iso  oferecido  o  de  que  se  vos  ca  deu  parte, 
e  de  que  vistes  a  reposta  que  lhe  mandey,  nom  me  pareceo  fora  de  pre- 
pósito fazer  uos  esta  lenbranca  pera,  quando  fordes  em  Roma,  trabalhar- 
des  de  sentir  e  saber  mui  particularmente  o  que  se  pratica  n  esta  mate- 
ria, e  parte  que  se  de  la  dá  ao  santo  padre,  e  o  que  Sua  Santidade  pode 
n  ella  ajudar ;  e  conforme  a  iso,  e  as  praticas  que  com  Sua  Santidade  ti- 
uerdes,  vendo  boa  conjuncam  posaes  pedir  lhe  de  minha  parte  que  no  que 
a  sua  maao  vier,  e  em  que  se  requerer  seu  parecer,  que  nam  pode  lei- 

5*3  * 


420  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

xar  de  ser  em  muitas  cousas,  tenha  lenbranca  das  minhas,  pois  que, 
sendo  a  tencam  de  Sua  Santidade  ser  a  paz  muy  inteira  e  tal  que  nom 
posa  nacer  iiouos  inconuenientes,  sem  asento  de  minhas  cousas  com  franca 
nunqua  poderia  deixar  de  nacer  ocasiam  de  deferencas,  e  deltas  outros 
inconuenientes  mayores,  por  onde  a  obra  da  paz  nam  íicase  tam  perfeita, 
como  sey  certo  que  Sua  Santidade  deseja,  no  que  eu  particularmente, 
pollo  desejo  que  tenho  do  aseseguo  de  meus  vasallos  com  os  d  el  Rey  de 
franca,  toda  ajuda  eexortacam  de  Sua  Santidade  nesta  materia  receberey 
em  grande  merce.  E  porem  n  isto  avees  de  ter  muy  grande  tentó  que  nam 
posa  parecer  que  se  faz  por  nenhuma  desconfianca,  que  eu  tenha  do  que 
vistes  que  o  enperador  n  iso  me  mandou  oferecer.  E  do  que  n  isto  fizer- 
des,  ou  vos  parecer  que  se  deue  fazer,  me  avisares  muy  declaradamente, 
e  de  maneira  que  vos  nom  fique  nada  por  dizer,  nem  la  se  perca  ne- 
nhuma ocasiam,  se  a  virdes  tal  que  ajuda  do  papa  seja  necesaria. 

ítem.  Vos  leuaes  cifras:  por  ellas  me  escreuerés  aquellas  cousas, 
que  forem  de  tal  calidade  que  por  outra  nenhuma  via  vos  pareca  que  se 
me  deue  escreuer ;  e  das  cousas  d  ilalia  e  estado  em  que  eslam ;  e  asi 
do  concilio,  e  certeza  delle  e  da  paz ;  e  o  que  la  se  ere  ou  espera  da  em- 
preza  contra  os  infiees,  e  per  que  parte  e  com  que  eixercilos.  E  de  tudo 
o  rnais,  que  virdes  que  cumpre  eu  ser  avisado,  me  avisares  asi  larguo  e 
declaradamente  como  cada  cousa  requerer ;  e  muy  em  especial  trabalha- 
rés  por  saber  o  modo,  em  que  as  cousas  do  lurquo  estam,  e  o  que  se 
dele  teme,  e  que  jente  tem  ou  faz,  asi  de  mar  como  da  térra,  e  em  que 
partes. 

PERA  O  PAPA  —  REPOSTA  DO  RREUE  DO  CONCILIO. 

Muito  santo  im  chrislo  padre  etc. 

Vosa  Santidade  me  escreueo  os  dias  pasados  sua  santa  delrimina- 
cam  de  fazer  concilio  jeral,  e  me  mandou  sua  bulla  de  chamamento,  de 
que  depois  me  mandou  porroguacam  pelas  causas  e  inpidimentos,  que  en- 
tam  se  ofreceram  ao  lugar  onde  se  avia  de  celebrar.  E  a  anbas  suas  car- 
tas tenho  respondido  a  Vosa  Santidade  ludo  o  que  me  pareceo  que  con- 
uinha,  como  terá  visto  por  minha  reposta.  E  aguora  Jerónimo  Ricenate, 
seu  nuncio,  me  deu  hum  seu  breue  e  bula  do  tenpo  e  declaracam  do  lu- 
gar do  dito  concilio,  e  me  dise  o  que  mais  Vosa  Santidade  Ihe  mandou 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  121 

que  de  sua  parle  me  disese  accrqua  desta  materia,  e  seu  grande  desejo 
n  ella  mouido  de  muitas  e  muy  samtas  e  verdadeiras  rezoes,  pelas  quaes 
sem  nenhuma  duuida  se  ha  de  crer  que  pera  os  males  presentes  e  dis- 
cordias da  Ghristindade,  e  tam  perigosas  heresias  como  andam  espacia- 
das pello  pouo  ehristaao,  nom  se  podía  agora  achar  nem  desejar  mais 
cerlo  remedio,  nem  mezinha  mais  propia,  que  a  do  concilio  geral ;  pera  o 
que,  quando  nenhuma  oulra  rezam  lenbrase,  abastaua  a  clara  experien- 
cia dos  concilios  pasados,  com  os  quaes  se  remediaran)  sempre  grandes 
males,  e  sem  elles  nunqua  se  achou  maneira  de  dar  verdadeiro  aseseguo 
ñas  cousas  da  Reepublica  chrislaa,  lanío  ñas  dcferencas  dos  estados  como 
ñas  das  opiniocs  na  Religiam,  com  as  quaes  anda  lam  conjunto  o  desa- 
seseguo  do  mundo,  quasy  por  pena  de  erro  que.se  comete  contra  déos, 
que  senpre  se  vio  tras  bom  e  santo  concilio  seguir  boa  e  santa  paz  na 
christindade;  e  pela  mesma  maneira,  asi  como  as  boas  ordenanzas  e  asen- 
tos  dos  taes  concilios  se  foram  apartando  dos  fundamentos  com  que  se 
tomaram  santamente,  asy  tanbem  lodo  o  aseseguo  dos  estados  comecou  a 
descair,  e  os  imyguos  da  fee  a  tomar  pee  contra  os  chrislaaos  e  crece- 
rem  suas  forcas,  ajudados  mais  por  nosos  erros  e  deminuicam  das  no- 
sas  que  por  outra  nenhuma  cousa.  E  como  isto  asi  seja,  e  aínda  no  tenpó 
presente  pela  ventura  mais  que  em  muitos  dos  pasados,  pela  calidade  dos 
erros  e  grandeza  dos  pouos  em  que  andam,  e  a  que  parece  que,  se  muy 
asinha  se  nam  acode,  poderám  tomar  raizes  taes  que  seja  despois  ou  muy 
trabalhoso  ou  imposiuel  o  remedio,  que  noso  senhor  nam  permita,  eu,  pella 
parte  que  como  a  Rei  Christaao,  menbro  d  este  corpo,  deuo,  e  especial- 
mente pelo  particular  desejo,  que  ao  bem  da  christindade,  e  acrecenta- 
mento  da  fee  caloliqua,  e  autoridade  da  samta  see  apostólica  e  de  vosa  san- 
lidade,  me  sempre  moueo  e  moue,  nam  poso  leixar  de  particularmente  lhe 
ter  em  muy  singular  merce  ludo  o  que  n  esta  materia  ateegora  tem  feito 
e  faz,  que  he  obra  lam  santa  e  necesaria,  e  tam  deuida  a  vigairo  de 
Ghristo  e  pastor  vniuersal,  que  nenhuma  o  pode  ser  mais:  e  assy  muy 
afectuosamente  peco  por  merce  a  Vosa  Santidade  que  a  continué  com 
aquella  mesma  vontade  e  santo  zelo,  com  que  a  comecou  e  tem  posta  em 
tam  bom  termo ;  e  que  nenhum  inpidimento  posa  nacer,  que  estorue  a 
conclusam  de  tamanho  seruico  de  déos.  E  posto  que  em  seus  santos  de- 
sejos  pouquo  ou  nada  posa  acrecentar  nenhuma  lenbranca  de  fora,  eu  to- 
davía,  por  esta  minha  obrigacam,   e  porque  ysto  particularmente  me 


\ii  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

parece  que  erdey  de  meus  antepasados  Reis  desles  Regaos,  c  dos  outros 
de  que  desccndo,  peco  outra  vez  muy  omildosamente  por  merce  a  Vosa 
Sanlidade  que  esta  lenbranca  tenha  sempre  ante  seus  olhos  como  cousa 
muy  principall,  e  muy  dina  de  suas  grandes  vertudes  e  dignidade,  pera 
efeito  da  qual  eu  tambem  de  minha  parte  Ihe  ofereco  meu  seruico  com 
todos  meus  Regnos  e  senhorios,  e  com  a  propia  pesoa,  quando  fose  po- 
siuel,  como  verdadeiro  e  obediente  filho  e  seruidor  da  santa  see  apostó- 
lica e  de  Vosa  Santi.dade ;  e  i§lo  com  maior  contentamento  ainda  por  ser 
em  seu  lenpo,  pera  o  qual  parece  que  nosso  senhor  guardou  esta  santa 
obra,  e  de  tam  grande  merecimento  amle  elle,  e  louuor  no  mundo. 
Muito  santo  etc. 


PERA   PERO   LUIS,   FIUIO   DO  PAPA. 

Illustrisimo  e  excelente  principe,  eu  dom  johao  etc.  vosemuio  muito 
saudar. 

Eu  enuio  dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho,  ao  santo  padre 
por  meu  enbaixador,  e  pera  em  sua  corle  residir  e  o  seruir  em  todas  as 
cousas,  que  de  seu  seruico  se  oferecerem,  como  he  meu  desejo  pello  grande 
amor  que,  aliena  da  obrigacam  geral  de  Rey  chrisláo,  tenho  a  sua  san- 
tísima pesoa.  E  porque  a  vos,  asi  pela  rezam  de  Sua  Santidade,  como 
por  vosa  pesoa  e  grandes  merecimentos,  eu  tenho  muy  especial  afeicam, 
e  vomtade  pera  em  tudo,  o  que  vos  de  mim  comprir  de  voso  contenta- 
mentó  e  honra,  vos  comprazer  como  a  irmaao,  lhe  mandey  que  de  mi- 
nha parte  vos  vesitase,  e  em  tudo  o  que  la  a  minhas  cousas  cumprise 
vos  requerese  com  aquella  comfianca,  que  eu  muito  folguarey  que  vos 
tenhaes  em  mim  pera  me  requerer  no  que  virdes  que  eu  poso  aprouei- 
tar  a  vos  e  a  vosas  cousas.  E  receberey  muyto  prazer  elle  achar  em  vos 
toda  ajuda  e  fauor,  e  no  mais  que  de  minha  parte  vos  diser  o  ouuirdes 
e  lhe  dardes  fee  e  crenca. 

Illustrisimo  etc. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  .  423 


PERA  O  CARDEAL  SANGTÍ  QUATUOR. 


Reuerendissimo  mi  Christo  padre  etc. 

Eu  pela  muita  confianca,  que  tenho  em  dora  pedro  raazcarenhas,  do 
meu  conselho,  o  escolhy  pera  delle  me  seruir  nesa  corte,  onde  o  mando 
por  meu  enbaixador  ao  santo  padre.  E  por  o  grande  e  especial  amor, 
que  vos  tenho,  e  rezam  que  ha  pera  asi  ser,  eu  lhe  mandey  que  de  mi- 
nha  parte  vos  vesitase,  e  de  minhas  cousas  vos  dése  senpre  aqueta  parte 
que  requere  a  confianca,  que  eu  tenho  em  vos  pela  maneira  que  nellas 
senpre  obrastes,  e  vontade  e  amor  com  que  0  fezestes  ateeguora,  que  eu 
espero  que  ao  diante  seja  o  mesmo,  e  mais  se  posiuel  for.  Muito  vos  ro- 
guo  que,  em  ludo  o  que  se  oferecer  de  meu  seruico,  o  ajudés  e  ende- 
rencés  asi  com  o  fauor,  que  sey  que  lhe  podes  dar,  como  com  o  avisar- 
des  das  cousas  de  que  vos  parecer  que  cumpre  elle  ser  sabedor  pera  me 
milhor  poder  seruir;  e  por  muy  certo  tenho  que  vos  o  farés  asy  pera 
que,  alem  do  muy  grande  contentamento,  que  eu  tenho  de  vosas  obras, 
seja  causa  pera  se  me  acrecentar  muito  mais.  E  folgarey  muito  de  em 
tudo,  o  que  de  minha  parte  vos  diser,  lhe  dardes  fee  e  crenca. 


PERA  O  VICE  CHANGELER,   NETO  DO  PAPA. 

Reuerendissimo  im  christo  padre  etc. 

Eu  mandey  a  dom  pedro  raazcarenhas,  do  meu  conselho,  que  ora 
emuio  ao  santo  padre  por  raeu  embaixador,  e  pera  em  sua  corte  residir 
e  o  seruir,  que  de  minha  parte  vos  vesitase,  e  de  vosa  boa  disposicam 
me  mandase  nouas,  que  praza  a  noso  Senhor  que  senpre  sejara  tam  boas 
como  vos  desejaes.  "E  de  minhas  cousas,  principalmente  das  que  muito 
me  releuasem,  vos  dése  parte,  e  nellas  vos  pedise  ajuda,  que  eu  tenho 
por  muy  certo  que  migares  de  lhe  dar.  E  o  que  n  iso  fizerdes  receberey 
de  vos  em  mui  singullar  prazer :  e  asi  receberey  grande  contentamento 
de  crerdes  que  eu  vos  tenho  muy  especial  amor,  asy  por  respeilo  do  Santo 
padre,  como  pelo  do  Ulustnsimo  dom  pedro  luis  de  fernese  voso  pay,  e  de 


424  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

vosa  pesoa  c  grandes  merecimenlos  ;  e  que  pera  ludo  o  que  a  vosa  pesoa 
c  honra  conprir  me  teres  muy  corlo  e  com  muilo  boa  vonlade. 
Reuerendissimo  ele. 


PEBA  O  CARDEAL  DE  SANTA  FLOR,  LEGADO  DE  BOLONHA  E  CAMARLENGO 
DA  SEE  APOSTOLLICA. 

Reuerendissimo  etc. 

Dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho,  enuio  por  meu  enbai- 
xador  ao  sanio  padre  pera  em  sua  corle  residir  e  o  seruir.  E  porque, 
pela  rezam  do  sanio  padre,  e  asy  por  vosa  pesoa,  eu  vos  tenho  muito 
amor,  e  folguarey  de  vollo  mostrar  em  tudo  o  que  de  mim  vos  cunprir, 
lhe  mamdey  que  asy  vollo  disese  de  minha  pane,  e  vos  vesitase,  e  quando 
Ihe  cumprise  vos  requerese  e  vsase  de  voso  fauor  e  ajuda  pera  me  mi- 
Ihor  poder  seruir,  que  eu  sey  que  podees  muito  aproueilar,  e  comfio  que 
o  farés  com  boa  vonlade,  e  a  que  vos  eu  tenho  o  merece;  e  eu  Ihe  man- 
dey  que  sempre  de  vossa  boa  disposisam  e  saude  me  avisase,  que  praza 
a  noso  Senhor  que  sempre  seja  a  que  vos  desejaes.  E  no  que  o  dito  meu 
embaixador  de  minha  parte  vos  diser  averey  muito  prazer  lhe  dardes  im- 
teira  fee  e  crenca. 

Reuerendissimo  etc. 


PERA    O  CARDEAL    DE   SENA. 

Reuerendisimo  im  chrislo  padre  etc. 

Porque  eu  mando  dom  pedro  mazcarenhas  ao  sanio  padre  por  meu 
enbaixador  pera  residir  em  sua  corte,  e  sey  o  grande  amor  com  que  sem- 
pre folguastes  de  ajudar  em  minhas  cousas,  por  que  vos  sam  em  grande 
obrigacam,  eu  lhe  mandey  que  vos  visitase  de  minha  parle,  e  vos  dése 
as  gracas  pelo  que  asi  tendes  feito,  que  de  vos  recebo  em  muy  singullar 
prazer.  E  vos  roguo  muito  que  assy  o  queiraes  continuar,  e  no  que  meu 
enbaixador  vos  requerer  acerqua  de  minhas  cousas  lhe  dardes  toda  ajuda, 
que  em  vos  for,  como  sey  que,  folgarés  de  o  fazer ;  e  em  todo  o  que  de 
mim  vos  comprir,  e  a  vosas  cousas,  achares  aquela  boa  vontade,  que  re- 
quere vossos  grandes  merecimenlos ;  e  senpre  ha  d  acrecentar  muito  no 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  425 

grande  amor,  que  vos  tenho,  a  muy  estreita  e  especial  afeicam,  que  sen- 
pre  el  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  sania  gloria  aja,  teue  a  vosa  muy 
nobre  Reepublica  de  sena,  e  que  ella  teue  e  tem  á  nacam  portuguesa,  que 
eu  islimo  tanto  como  he  rezan). 
Reuerendisimo  etc. 


PERA    O   CARDEAL   CAMPELO. 

Reuerendissimo  im  christo  padre  etc. 

Eu  tenho  sabido  a  muito  boa  vomtade,  com  que  senpre  folguastes 
de  ajudar  as  cousas  que  me  tocauam,  e  que  asi  o  fazés  em  tudo  o  que 
se  oferece  continuadamente,  e  o  istimo  tamlo  quanto  he  rezam,  e  comfio 
que  ao  diante  o  farés  asy :  pello  que  mandey  a  dom  pedro  mazcarenhas, 
do  meu  conselho,  meu  enbaixador,  que  de  minha  parte  vos  vesitase,  e 
de  minhas  cousas  vos  dése  aqueta  parle,  que  comuem  ao  muito  amor, 
que  vos  tenho.  E  em  syngullar  prazer  receberey  de  vos  em  tudo  o  que 
vos  requerer  o  ajudardes,  pera  me  milhor  poder  seruir :  e  de  mim  sede 
certo  que  desejo  muito  de  a  vos  e  a  vosas  cousas  aproueitar  com  muito 
amor. 

Reuerendissimo  im  christo  padre  etc. 


PERA    O  CARDEAL   DE  SALUIATE. 

Reuerendissimo  etc. 

Dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho,  vay  pera  n  esa  corte  do 
santo  padre  e  com  Sua  Sanlidade  residir  por  meu  enbaixador :  e  porque 
sey  quanto  senpre  folguastes  de  me  comprazer  e  ajudar  em  minhas  cou- 
sas, e  o  grande  amor  com  que  o  fizestes,  Ihe  mandey  que  de  minha  parte 
vos  vesitase.  E  eu  recebo  de  vos  o  que  lendes  feito  em  muy  singular  pra- 
zer, e  vos  roguo  muito  que  ao  diante  o  queiraes  continuar  asy,  porque 
em  mim  senpre  achares  pera  vos  e  vosas  cousas  toda  boa  vomtade,  e  asy 
como  o  merecem  vosas  obras,  e  se  deue  a  vosos  grandes  merecimenlos. 

Reuerendisimo  etc. 

tomo  ni.  oí 


426  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


PERA  O  CARDEAL  DE  SANTA  CRUZ. 

Reuerendissimo  etc. 

Pelo  muito  amor,  que  sey  que  tendes  pera  me  comprazer,  e  quanto 
em  minhas  cousas  sempre  folguaes  daproueitar,  mandey  a  dom  pedro 
mazcarenhas,  meu  enbaixador,  que  em  tudo  o  que  me  comprir  vos  re- 
queira  e  aproueite  de  vosa  ajuda  e  autoridade,  que  eu  sey  que  he  muy 
grande  e  que  pode  muito  aproueilar.  Receberei  de  vos  em  singular  pra- 
zer  no  que  se  oferecer  folguardes  de  fazer  o  que  acustumaes,  e  o  que 
vos  merece  o  grande  amor  e  boa  vontade  que  vos  tenho.  E  eu  mandey 
ao  dito  meu  enbaixador  que  de  minha  parte  vos  vesitase,  e  que  me  mande 
nouas  de  vosa  boa  disposicam,  que  praza  a  noso  Senhor  que  seja  senpre 
tam  boa  como  vos  desejaes. 

Reuerendissimo  etc. 


PERA  O  CARDEAL  DE  GINUCHE. 

Reuerendissimo  etc. 

Dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho  e  meu  embaixador,  que 
mando  ao  santo  padre  pera  em  sua  corle  residir,  vos  dará  conta  d  algu- 
mas  cousas  minhas,  em  que  lhe  mandey  que  o  fizese  pelo  grande  amor, 
com  que  tenho  sabido  que  senpre  em  ludo  o  que  se  ofereceo  follgastes  de 
me  comprazer,  que  muito  istimey  e  istimo  de  vos ;  e  tenho  muy  grande 
confianca  que  ñas  mesmas  obras  e  vontade  continuares  asi  como  a  minha 
vollo  merece,  que  eu  senpre  vos  mostrarey  com  efeito  em  tudo  o  que  de 
mim  vos  comprir  e  me  requererdes.  E  allem  de  vosos  grandes  mereci- 
menlos,  e  calidades  de  vosa  pesoa,  acrecenta  no  amor  que  vos  tenho  a 
grande  aífeicam,  que  senpre  el  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  santa  glo- 
ria aja,  teue  a  vosa  Reepublica  de  Sena,  da  qual  a  nacam  portuguesa  re- 
cebe tam  bom  tratamento  como  em  meus  propios  Regnos,  que  eu  muito 
istimo. 

Reuerendissimo  etc. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  427 


PERA    O   CARDEAL   CESARINO. 

Reuerendissimo  im  christo  padre  etc. 

Eu  enuio  dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho,  por  meu  en- 
baixador  ao  sanio  padre  pera  residir  em  sua  corle.  E  porque  eu,  asy  por 
vosos  merecimentos,  como  por  o  muito  amor  que  sey  que  senpre  raos- 
trastes  em  minhas  cousas,  vos  tenho  syngullar  afeicam,  Ihe  mandey  que 
de  mioha  parle  vos  vesilase,  e  de  vos  me  mandase  nouas,  que  sempre 
quería  que  fosem  tam  boas  como  vos  desejaes.  E  asi  que,  quando  se  ofe- 
recese,  vsase  de  vosa  ajuda  pera  me  melhor  poder  seruir,  a  quall  com- 
fio  que  sempre  folguarés  de  Ihe  dar,  e  de  vos  o  receberey  em  singullar 
prazer.  E  podees  crer  que  eu,  no  que  a  vos  e  a  vosas  cousas  comprir, 
folguarey  de  vos  mostrar  a  muito  boa  vomtade,  que  vos  tenho. 

Reuerendissimo  etc. 


PERA  PERO  DE  SOÜSA. 

Pero  de  sousa,  eu  el  Rey  vos  enuio  muito  saudar. 

Eu  enuio  dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho,  ao  santo  pa- 
dre por  meu  enbaixador,  e  pera  em  sua  corte  residir.  E  ouue  por  meu 
seruico  vos  avisar  d  iso,  E  vos  encomendó  e  mando  que  Ihe  entregues  to- 
dos os  papees,  de  qualquer  calidade  que  sejam,  que  a  meu  seruico  to- 
quem,  asy  os  que  vos  leixou  o  arcebispo  do  Funchal,  á  sua  partida,  como 
todos  os  outros,  que  despois  vos  foram  ;  e  Ihe  dees  conta  de  tudo  o  que 
nos  neguocios  teuerdes  feito,  e  toda  outra  emformacam  do  que  esteuer 
por  expedir,  e  dos  termos  em  que  cada  neguocyo  estaa,  e  das  pesoas  por 
cujas  maaos  se  tratam,  e  tudo  asi  declaradamente  e  taulo  pelo  miudo  que 
nom  vos  fique  nada  por  Ihe  dizer,  nem  por  mingua  d  iso  leixe  em  ne- 
nhuma  cousa  de  ser  seruido,  nem  nos  neguocios  posa  aver  dillacam  all- 
guma. 

Esprita. 


54* 


428  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


PEBA  PERO   DE  SOÜSA. 

Pero  de  sousa,  eu  elRey  vos  emuio  muito  saudar. 

Eu  mando  ao  santo  padre  por  raeu  enbaixador  dom  pedro  mazcare- 
nhas,  do  meu  conselho.  E  posto  que  eu  lhe  mandey  que  fizese  seu  cami- 
nho  coni  a  maior  deligencia,  que  lhe  fose  posiuel,  todauia  me  pareceo 
meu  seruico  vos  avisar  de  como  asy  vay  e  o  tenho  despachado,  pera  o 
dizerdes  ao  santo  padre ;  e  que  espero  que  seja  muy  cedo  com  Sua  San- 
tidade,  a  que  por  elle  escreuo  e  mando  fallar  muy  largamente  em  ludo 
o  que  se  me  ofereceo  em  todas  as  cousas,  assy  sobre  o  que  Sua  Santi- 
dade  me  tem  escrito,  e  mandado  fallar  por  seu  nuncio,  como  em  todas 
asoutras,  em  que  me  pareceo  conveniente  ao  tenpo  e  necesidade  dachris- 
tindade  e  de  seu  seruico  lhe  mandar  fallar.  E  esta  vos  leua  correo  pro- 
pio, que  mandey  que  pasase  em  toda  deligencia,  e  nom  vay  a  outra 
cousa.  E  vos  na  ora  que  ella  vos  chegar  dizee  ao  santo  padre  tudo  o  que 
ácima  diguo. 

Esprita. 

PERA  PERO  DE  SOUSA  SOBRE  SUA  VINDA. 

Pero  de  sousa  etc. 

Ey  por  meu  seruico  que,  tanto  que  em  boa  ora  cheguar  a  esa  corte 
dom  pedro  mazcarenhas,  do  meu  conselho,  que  enuio  por  meu  enbaixa- 
dor ao  santo  padre  pera  em  sua  corte  residir,  vos  vos  partaes  e  venhaes 
em  boa  ora.  E  asy  vos  encomendó  e  mando  que  o  facaes :  e  trazé  con- 
uosco  todas  as  prouisoes  de  quaesquer  negocios,  que  teuerdes  expedidos 
e  acabados,  d  aquelles  que  vos  tenha  sprilo  e  mandado  que  suplicaseis  ao 
santo  padre  e  expediseis. 

Escripia '. 


1  Minutas  na  Bibliotheca  d'Ajüda,  Correspondencia  original  de  D.  Pedro  Masca- 
rcnhas,  fol.  2  a  10.  Seguem  as  instruccoes  do  que  tinha  a  tractar  com  o  Imperador ;  e 
na  capa,  que  cobre  tudo,  lé-se:  Caderno  do  despacho  que  leuou  Dom  pedro  mazcarenhas, 
que  foy  por  enbaixador  ao  papa.  E  partió  de  lixboa  oje  sábado  xxix  dias  de  Dezembro 
de  vcxxivm.  Note-se  que  dala  do  anno  do  nascimento,  comecado  em  25  de  Dezembro. 


RELAgÜKS  COM  A  CURIA  ROMANA  429 


Bulla  do  Papa  Paulo  III. 


1&3S —  Janeiro  V. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  Dei  ad  perpetúan)  rei  raemoriam. 

Dum  ad  fidei  constanliam  et  deuotionis  aflectum,  quibus  Carissimus 
in  chrislo  filius  nosler  Johannes,  Porlugallie  et  Algarbiorum  Rex  Ulus- 
tris,  in  noslro  el  apostolice  sedis  conspectu  clarere  dinoscitur,  noslre  con- 
siderationis  aciem  dirigimus,  mérito  inducimur  ut  que  predecessoribus 
suis  per  diclam  sedem  benigne  concessa  fuerunt  amplianles,  ea  sibi  fauo- 
rabiliter  concedamus,  per  que  sui  et  successorum  suorum  indemnitati  pro- 
uideri  ac  profectui  consuli  possit.  Dudum  siquidem  felicis  recordationis 
Leoni  pape  x,  predecessori  nostro,  pro  parte  clare  memorie  Emanuelis,  olim 
Porlugallie  et  Algarbiorum  Regis,  expósito  quod  licet  antea  Palus  de  Muía, 
prope  Opidum  de  Muia,  Vlixbonensis  diócesis,  aquis  desiccata  et  illius 
terre  ad  culturam  reduele  fuissenl ;  lamen  postea  tempore  succedenle, 
propter  ingentes  impensas,  ut  uerisimililer  credebatur,  quas  Coloni  el  Agri- 
cole  in  manutenendo  Ierras  dicte  paludis  aquis  siccas  et  arabiles  ac  cul- 
tiuas  subiré  cogebanlur,  paulatim  Ierras  ipsas  colere  et  remedia  necessa- 
ria  pro  illorum  cultura  faceré  omiserant,  ipsaque  palus  ad  prislinam  suam 
naturam  redierat,  adeo  quod  ibidem  terre  tune  non  colebantur,  nec  re- 
periebatur  aliquis,  ob  graues  impensas  quas  in  ipsius  paludis  desiccatione 
fieri  necesse  erat,  qui  illius  desiccalioni  intenderet,  eodem  Emanuele  Rege 
excepto,  qui  utilitali  subdilorum  suorum  et  aeris  salubritati  dicti  Opidi 
libenter  intendens,  illorumque  cupidus  omni  studio  arte  et  impensa  ad  id 
necessariis  paludem  ipsum  desiccari  el  ad  culturam  reduci,  illamque  fer- 
tilem  et  arabiiem  eñici  desiderabat,  quod,  cum  non  sine  magna  expensa 
efíicere  posse  considerel,  volebat  orones  decimas  ex  fruclibus  in  terris  di- 
cte paludis,  si  illa  ad  culturam  redigeretur  el  arabilis  ac  ferlilis  reddere- 
lur,  excrescenlibus  pro  tempore  prouenienles  per  eundem  Emanuelem 
Regera  in  prosecutione  bel li  Aphrici,  quod  contra  pérfidos  christi  nomi- 
nis  hosles,  partes  dicte  Prouincie  Aphrice  oceupantes,  conlinue  gerebat, 
et  successores  suos  Porlugallie  Reges  pro  tempore  existentes,  ac  in  ma- 


430  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGÜEZ 

nutenlionem  duorum  perpetuorum  Capellanorum  seu  plebanorura,  qui  par- 
rochiali  ecclesie  dicli  Opidi,  cui  decime  ¡pse  quando  dicla  palus  coleba- 
tur  persolui  consueuerant,  perpetuo  deseruirent  in  diuinis  et  non  alios 
usus  conuerlendas,  sibi  per  eundem  predecessorem  concedí,  ídem  prede- 
cessor,  ¡psius  Emanueüs  Regís  in  ea  parte  supplicationibus  inclinatus, 
prefalo  Emanueli  Regí,  pro  se  suisque  successoribus  prefalis,  omnes  et 
singulas  decimas  fructuum  tam  predicte  quam  quarumcunque  alíarum  in 
suis  Regnis  et  dominüs  consislentíum  paludum,  quas  suis  opera  et  im- 
pensa  desiccari  et  cultíuas  arabiles  et  fértiles  reddi  contingeret,  pro  tem- 
pore  excrescentium,  per  eundem  Emanuclem  Regem  in  proseculione  di- 
cli belli,  et  dictos  successores  suos  Portugallie  Reges  pro  tempore  exis- 
tentes, et  manutentionem  perpetuam  singulorum  duorum  perpetuorum  Ca- 
pellanorum seu  plebanorum,  qui  in  dicta  et  singulis  alus  parrochialibus 
ecclesiis,  quibus  deberentur  decime  ratione  paludum,  quas  pro  tempore 
desiccari  contingeret,  ut  prefertur,  diuina  oíficia  celebrare  deberent,  et 
non  in  alios  usus  conuertendas,  ex  certa  sua  scienlia  ac  de  apostolice  po- 
testatis  plenitudine  per  suas  Hueras  perpetuo  concessit  et  elargitus  fuit, 
prout  in  illis  plenius  continelur.  Cum  autem,  sicut  exhibita  nobis  nuper 
pro  parte  dicti  Johannis  Regis  petitio  continebat,  licet  credatur  diclum 
Leonem  predecessorem  decimas  paludum,  in  dictis  Regnis  per  Emanue- 
lem  Regem  et  successores  prefatos  pro  tempore  desiccatarum,  eisdem  Ema- 
nueli Regi  et  successoribus  ut  prefertur  concederé  uoluisse,  et  prefalus 
Johannes  Rex,  post  ipsius  Emanueüs  Regís,  Geniloris  sui,  obilum,  non- 
nullas  paludes  in  dictis  Regnis  consistentes  suis  opera  et  impensa  desic- 
cari et  ad  culturam  redigi,  sub  spe  decimas  ex  illis  percipiendi  et  ut  pre- 
fertur conuertendi,  procurauerit,  el  ut  alie  in  futurum,  danle  domino, 
desiccentur  procurare  inlendal ;  Nichilominus  a  nonnullis  nimium  curio- 
sis,  sub  pretextu  quod  in  litteris  predecessoris  huiusmodi  diclum  fuerit 
de  paludibus,  quas  opera  et  impensa  ipsius  Emanuelis  Regis  desiccari 
contingerel,  asseratur  Johannem  Regem,  et  successores  suos,  solum  de- 
cimas fructuum  ex  paludibus  per  Emanuelem,  et  non  per  Johannem,  Re- 
ges prefatos,  pro  tempore  desiccalis  excrescentium  prouenienles  percipere 
posse ;  Et,  sicut  eadem  petitio  subiungebal,  paludum  huiusmodi  in  illis 
partibus  desiccationes  et  ad  culturam  reductiones,  pro  quibus  faciendis 
eundem  Johannem  Regem  notabiles  expensas  subiisse  et  subiré  necesse 
fuit  et  est,  chrislifidelium  salutem  el  propagationem  plurimum  concor- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  431 

nant,  et  in  dicto  Opido  de  Muia,  et  forsan  in  certis  alus  paludosis  locis, 
aeris  intemperies  plurimum  uigeat,  et  exinde  flal  ut  plerumque  pauci 
presbiteri,  qui  in  i  11  ís  proprie  uile  discriminis  metu  morari  et  residere 
uelint,  reperiantur ;  Et  si  Johannes  Rex  et  successores  prefati  in  singulis 
ecclesiis,  quibus  decime  paludum  per  Johannem  Regem  et  successores  pre- 
falos  pro  tempore  desiccatarum  debentur  seu  deberi  spes  est,  dúos  sin- 
gulos  Capellanos  manutenere  deberent,  decime  ipse  ad  sustentationem  Ca- 
pellanorum  huiusmodi  minime  suppelerent,  sed  Johannes  et  successores 
Reges  prefati  de  suo  proprio  exponere  cogerentur,  nullum  aut  saltem 
minimum  inde  lucrum  reportaren!,  uel  emolumenta  nequáquam  expen- 
sis  responderet :  pro  parle  eiusdem  Johannis  Regis  nobis  fuit  humiliter 
supplicatum  ut,  ad  omnem  in  preraissis  ambiguitalem  lollendam,  Hileras 
prediclas,  eliam  quoad  decimas  ex  terris  paludum  per  Emanuelem  ac 
Johannem,  et  successores  Reges  prefatos,  eorum  opera  et  impensa  nunc 
et  pro  tempore  desiccaiarum  et  desiccandarum,  et  ad  culturam  ac  ferli- 
litatem  reductarum  et  reducendarum  pro  tempore  prouenientes,  extendere 
et  ampliare,  et  qualinus  opus  sil  sic  intentionis  et  mentis  prefali  prede- 
cessoris  fuisse  decernere  el  declarare,  aliasque  in  premissis  oporlune  pro- 
uidere  de  benignitate  apostólica  dignaremur.  Nos  igitur,  qui  fidelium  quo- 
rumlibet,  presertim  Calholicorum  Regum,  uotis,  quantum  cura  deo  pos- 
sumus,  libenter  annuimus,  ipsius  Johannis  Regis  in  hac  parle  supplica- 
lionibus  inclinati,  litteras  prediclas,  cum  ómnibus  et  singulis  in  eis  con- 
tenlis  clausulis,  etiam  ad  hoc  ut  tam  Johannes,  quam  successores  Reges 
prefati,  omnes  decimas  ex  terris  paludum  per  Emanuelem,  et  Johannem, 
ac  successores  Reges  prefatos,  eorum  opera  et  industria  nunc  et  pro  tem- 
pore desiccatarum,  et  ad  culturara  ac  fertilitalera  reductarum,  pro  tem- 
pore prouenientes,  percipere  libere  et  licite  ualeant,  auctoritate  apostólica 
tenore  presentium  exlendimus  et  ampliamus,  Et  quatinus  opus  sit  sic  in- 
tentionis et  mentis  prefati  predecessores  fuisse  decernimus  et  declaramus. 
Et  nichilominus  eidem  Johanni,  et  successoribus  Regibus  prefalis,  ut  pro 
paludibus,  tam  per  Emanuelem  quam  per  Johannem  et  successores  Reges 
prefatos  pro  tempore  desicatis  et  desiccandis,  et  ad  culturam  reductis  et  re- 
ducendis,  dúos  tantum  perpetuos  uel  ad  nutum  amouibiles  Capellanos,  qui 
in  dicta  de  Muia,  uel  alus  ecclesiis,  infra  quarum  limites  paludes  ipsas 
pro  tempore  desiccari  et  ad  culturam  reduci  ac  fértiles  effici  conligerit, 
prout  ipsi  Johanni  Regi  et  successoribus  suis  prefatis  Regibus  Portugallie 


432  CÜRPO  DIPLOMÁTICO  PORJUGUEZ 

pro  tempore  existentibus  videbitur,  diuina  officia  celebrare  debeant,  ex 
dictis  decimis  manutenere  teneantur,  eisdem  auctorilate  et  tenore  de  spe- 
ciali  gratia  perpetuo  concedimus  et  indulgeraus  :  Non  obstantibus  premis- 
sis,  et  aposlolicis,  ac  in  prouincialibus  et  Sinodalibus  Concilüs  editis,  ge- 
neralibus  uel  specialibus,  Constitutionibus  et  ordinationibus,  ac  ómnibus 
illis,  que  diclus  predecessor  in  dictis  suis  litteris  uoluit  non  obstare,  ce- 
terisque  contrariisquibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc 
paginam  noslrarum  extensionis,  ampliationis,  decreti,  declarationis,  con- 
cessionis  et  indulti  infringere,  uel  ei  ausu  temerario  contraire.  Si  quis 
autem  hoc  atternptare  presumpserit,  indignationem  omnipotentis  dei,  ac 
beatorum  Petri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Daíum  Rome,  apud  Sanctum  Petrum,  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  séptimo,  Séptimo  Idus  Januarii,  Pon- 
tificalus  nostri  Anno  Quarto*. 


Carta  de  Pedro  de  Sousa  de  Tavora  a  el -Re  i. 

153*  —  Janeiro  SO. 


Senhor  —  Ja  a  Vossa  Alteza  tenho  scrito  como  ho  papa  mandou  pren- 
der micer  Ambrosio,  seu  secretairo,  por  muitas  peitas,  que  se  achou  que 
tinha  tomadas  muy  em  grosso.  E  anlre  as  outras  ho  bispo  de  senegalha 
Ihe  apresen lou,  logo  quando  veo  de  portugal,  quinhenlos  cruzados  por 
parte  dos  crislaos  novos2.  Tambem  entendí  que  ho  nuncio,  que  agora  la 
está,  nao  sabendo  de  sua  prisam,  ho  mandaua  cometer,  por  parte  dos 
raesmos  crislaos,  com  hum  tributo  cada  ano  de  mil  cruzados,  ou  mais, 
pera  que  os  fauorecesse.  E  estas  cartas  vieram  ter  ás  maos  do  Papa,  e 
as  viho  ;  por  onde  nao  creo  que  tenha  muito  conlentamento  do  dito  nun- 
cio, porque,  quem  aquillo  comete  a  outrem,  he  sinal  que  nao  duuidará 
para  sy  tambem  tomar  o  que  Ihe  derem. 

Ho  papa,  como  por  outras  tenho  scrito  a  Vossa  Alteza,  está  muy 


1  Abch.  Nac.  Ma$.  7  de  Bullas,  n.°  33. 
*  As  palavrat  em  itálico  estáo  em  cyfra. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  433 

posto  em  hir  a  Lombardia,  por  teer  intelligencia  que  ho  Emperador  viirá 
aly,  e  asy  El  rey  de  franca,  d  acordó  d  ambos,  pera  que  Sua  Santidade 
em  suas  deferencas  ponha  fim  :  o  que  a  cada  hum  delles  será  mais  repu- 
lacao  parecer  ao  mundo  que  se  decem  de  seus  direilos  e  intentos,  mais 
pollo  papa  nisso  entreviir  e  o  rogar,  que  por  oulra  via.  E  se  estes  dous 
principes  vem  e  ficao  em  concordia,  entao  se  deliberará  do  Concilio.  E 
antes  nao  parece  que  se  pode  delle  dizer  cousa  certa,  ainda  que  seja  ho 
papa,  porque  tambem  elle  pende  n  islo  d  este  sucesso. 

Pollo  que  de  lia  escreuerom,  empós  ho  papa  as  decimas  em  portu- 
gal :  e  pollo  que  agora  tambem  escreuem,  torna  apertar  muito  em  amel- 
las, e  me  disem  que  quer  despachar  a  isso.  Vossa  Alteza,  creo  eu,  terá 
em  cousa  tao  importante  deliberado  o  que  mais  for  seu  seruico  e  bem  de 
seus  reynos.  E  n  este  caso  tenho  escrito,  ja  muitos  dias  ha,  hum  cerlo 
discurso,  a  que  me  remeto.  E,  se  se  ellas  hao  de  consentyr,  nao  deuem 
tao  pouco  denegar  a  Vossa  Alteza  gracas  coslumadas  fazer  se  aos  oulros 
Reys,  como  he  a  presenlacao  dos  moesteiros  in  perpeluum,  como  se  con- 
cedeo  ao  Emperador  e  a  El  rey  de  franca.  As  nouas  tenho  por  outras  uias 
escrito,  e  as  que  ca  ha  teerá  Vossa  Alteza  mais  de  perlo,  pois  vem  d  es- 
sas  partes. 

De  Roma,  xx  de  Janeiro,  1538. 

Esta  he  copia  d  outra,  que  ja  ha  dias  escreui  a  Vossa  Alteza  —  Pero 
de  Sousa  de  tauora  ! . 


Carta  d'el-Rei  a  ■».  Pedro  Mascarenhas. 

(1538  — Abril  ÍO?)  2. 


Dom  pedro  etc.  —  Por  outro  coreo,  que  d  aquy  vos  mandey  despa- 
char e  partió  aos  xix  dias  de  marco,  teres  visto  tudo  o  que  vos  mandey 
que  deseseys  ao  Santo  padre  acerqua  das  cousas  da  India,  e  periguo  em 


1  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  60,  Doc.  76. 

2  A  fol.  25  da  Correspondencia  original,  já  citada,  lé-se  a  cota  seguinte:  Cartas 
pera  dom  p.°  mazcarenhas  que  levou  o  sobrinho  de  luys  a.°  o  qual  partió  de  lixboa 

TOMO  III.  o 5 


434  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

que  eslam  segundo  os  avisos  que  tenho.  E  creo  que  teres  n  iso  feyto  o  que 
vos  mandey  asy  inteiramente,  e  com  todo  aquele  boom  modo,  que  o  sem- 
pre  fazés  ñas  cousas  de  meu  servico ;  e  que  os  caminhos  eslaram  bem 
despostos  pera  o  que  agora  vos  escrevo  e  mando  que  faeaes,  porque  com 
ese  fundamento  se  vos  escreveo  entam  tam  larguo,  de  que  vos  vay  com 
esta  o  trelado  pera  todo  caso  que  ao  coreo  posa  ter  acontecido.  E  por- 
que, como  vedes,  as  novas  sao  de  tamanha  importancia,  e  a  materia 
tam  periguosa  e  em  que  vay  tudo ;  e  por  estas  rezois  polo  remedio  se 
ha  de  fazer  tudo,  nem  pode  aver  cousa  nem  de  tamanho  gasto  nem  de 
tamanho  trabalho  que  nao  se  deua  a  tamanho  risquo,  como  he  o  em 
que  estaa  todo  meu  estado  da  India,  e  tam  grande  numero  de  meus 
vasalos  e  nobreza  portuguesa,  se  se  nao  socorre  com  todalas  forcas  po- 
siues,  que  pera  abastarem  ham  de  ser  muy  grandes,  por  quam  grande 
he  o  imigo,  que  ainda  he  muyto  mayor  polo  aparelho  da  térra  e  con- 
formidade  da  seyta  na  mayor  parte  déla,  e  odio  que  naturalmente  os 
sojugados  e  vencidos  tem  sempre  aos  vencedores  :  e  sendo  esta  necesi- 
dade  tamanha,  e  as  cousas  de  minha  fazemda,  por  outras  tantas  a  que 
sempre  foy  necesario  acodir,  estando  nos  termos  em  que  estam,  seria  im- 
posiuel  sem  nova  ajuda  poder  satisfazer  a  este  novo  caso.  E  despois  de 
cuydar  todolos  outros  remedios  e  modos  pera  poder  ser,  nam  acho  po- 
sebilidade  sem  ajuda  da  See  Apostólica  e  thesouros  da  Igreja  de  Déos, 
por  cujo  servico  se  comecaram  todos  estes  trabalhos  com  esperanca  nele, 
e  se  continuaran) :  e  pois  á  mesma  Igreja,  asy  n  aquelas  partes  como  n  es*- 
tas,  se  faz  tanto  servico  com  o  contino  acrecenlamento  dos  christaós  e 
nouas  obediencias  e  reconhecimentos  da  See  apostoliqua,  ey  por  cousa 
muy  conviniente,  quando  se  todos  estes  bees  aventuran»,  socorer  me  a 
ela,  como  em  menores  casos  sempre  meus  antepasados  o  íizerao,  nam  es- 
perando eu  agora  menos  merco,  do  que  eles  receberam  todalas  vezes  que 
pediram  ajudas ;  antes  sendo  em  tempo  do  Santo  padre,  cujas  grandes 
vertudes  e  grandes  obras  pera  bem  da  christindade  e  confusao  dos  In- 


quarta  feira  ás  vn  oras  depois  meio  dia,  x  días  de  abril  de  1538.  Esta  folha  serviu  evi- 
dentemente de  capa  ás  minutas  das  cartas,  a  que  se  refere ;  mas  essas  minutas  nao  se  en- 
contram  no  volume.  Crémos  que  urna  d' ellas  é  esta  (pie  publicamos,  e  á  qual  parece  re- 
ferirse um  rascunho,  tambem  sem  data,  que  publicaremos  depois  do  Breve  de  3 /  de 
maio. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  43S 

fies  me  prometem  tudo,  sendo  esta  necesidade  das  propias,  por  que  vejo 
que  Sua  Santidade  faz  ludo,  fiquo  com  muy  certa  speranca  que  ele  nam 
averá  esta  térra,  nem  meus  vasalos,  onde  quer  que  estam  servindo  a  déos 
e  pelejando  por  Sua  Santa  fee,  por  menos  seus  e  do  seu  cural,  a  que  ele 
como  pastor  vnyuersal  he  obrigado,  que  os  propios  povos  de  Italia,  e 
térra  em  que  agora  reside,  pois  toda  a  Chrislindade  sem  deferenca  ne- 
nhuuma  he  seu  asento  pola  vniuersal  obrigacam  e  vniuersal  poder  em 
toda  ela.  Estas  cousas  todas  Ihe  dires,  e  que  eu,  vendo  me  nesta  fadigua, 
me  socorro  a  Sua  Santidade,  como  Rey  christao  e  como  a  viguairo  de 
Christo.  E  que  nao  deixa  de  me  acrecentar  muyto  tambem  a  esperauca 
de  aver  de  receber  dele  toda  merce,  saber  de  mym  o  que  desejo  servilo, 
e  o  grande  amor  que  Ihe  tenho,  e  sey  que  elle  me  tem,  por  onde  par- 
ticularmente devo  confiar  que  este  meu  trabalho  aja  de  ser  ainda  mais 
propio  seu.  E  porque  o  socorro  de  laa  é  merce  de  Sua  Santidade  nao  po- 
deria  ser  de  sua  propia  fazenda,  de  que  eu  a  tambem  speraria  quando 
nam  soubese  os  gastos  de  laa,  me  pareceo  bem  apontar  as  cousas  em  que, 
com  o  d  esta  mesma  térra  de  cuja  defensam  se  trata,  Sua  Santidade  me 
pode  socorrer  em  alguma  parte,  que  em  tudo  seria  imposiuel ;  e  mais  neste 
ensejo,  em  que  eu,  polas  grandes  fomes  e  carestía  era  que  a  térra  estaa, 
e  trabalho  de  todo  o  pouo,  ey  de  trabalhar  quanlo  poder  de  vsar  o  me- 
nos que  me  for  posiuel  das  propias  merces,  que  me  Sua  Santidade  fizer. 
E  as  cousas  sam  estas  : 

Primeiramente  todo  o  dinheiro,  que  se  arrecadar  d  estas  duas  dizi- 
mas, que  Sua  Santidade  mandou  por  n  esta  térra  á  clerezia,  que  nam  se- 
ria rezam,  sobrevindo  tamto  mayor  necesidade  a  mym  e  á  coroa  de  meus 
Reynos,  do  que  pode  ser  nenhuuma  oulra,  tirarse  déla  a  propia  forca  e 
dinheiro  pera  outra  parte.  E  por  muy  certo  tenho  que  Sua  Santidade  sem- 
pre  neste  negocio  teria  resguardado  todo  lempo  e  caso,  em  que  qua  a  ne- 
cesidade fose  maior  que  a  de  laa,  que  he  este  verdaderamente. 

ítem.  Hos  comendadores  e  rendas  da  ordem  de  Sao  Joham  do  os- 
pital  nestes  Reynos  paguam  certas  responsoees  cada  anno  ao  gram  mes- 
tre.  E  que  seja  pouqua  cantidade,  todavía  deue  Sua  Santidade  dauer  por 
bem  que  neste  tempo,  em  que  craramente  pera  defender  meus  vasalos  e 
estado  os  naturais  de  qua  das  rendas,  que  qua  tem,  paguem  antes  qua 
por  algum  tempo,  que  a  outra  nenhuma  parte,  onde  se  nao  pode  fazer 
igual  servico  a  déos  na  mesma  causa  pera  que  esta  reuda  he  dcputada  e 

55* 


436  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

ordenada  pelos  Santos  padres.  E  esta  merce  ey  por  bem  que  pecáis  so- 
mente  por  tenpo  de  cinco  annos.  Polo  qual  tempo  de  cinquo  annos  pe- 
dirés  tambem  a  Sua  Santidade  que  me  faca  merce  das  rendas  de  tres  an- 
nos de  todolos  beneficios,  que  em  meus  Reynos  e  senhorios  vagarem,  que 
forem  de  valia  de  dozenlos  cruzados  pera  cima,  tirando  conesias  e  co- 
mendas. 

ítem.  Que  Sua  Santidade  aja  por  bem  que  eu  posa  vender  todas  as 
Jurdicoes  de  vasalos,  que  os  arcebispados  e  bispados  e  moesteiros,  asy 
domeñs  como  de  molheres,  tem  n  estes  Reynos,  áquelas  pesoas  que  me 
bem  parecer,  e  polos  precos  que  me  parecer,  pera  se  converter  n  esta  santa 
obra  e  defensao,  qua  nao  he  de  crer  que  aos  mesmos  dotadores,  que  fo- 
ram  os  propios  Reis  desta  térra,  e  que  a  ganharam  pelejando  sendo  vi- 
vos, e  vendo  estoutras  necesidades,  parecese  outra  cousa.  E  eu  spero  em 
noso  Senhor  que,  com  a  ajuda  de  Sua  Santidade  e  com  a  justica  da  causa, 
ele  me  dará  tal  mao  contra  os  imigos  de  sua  Santa  See  Gatoliqua,  que  a 
igreja  d  este  Reyno  aja  mor  recompensa  de  tudo  o  que  se  agora  vender. 

ítem.  As  igrejas  e  moesteiros  e  bispados  deste  Reyno  tem  mu  y  tos 
prazos,  que  comummenle  se  aforam  em  tres  pesoas:  a  qual  maneira  d  afo- 
rar ñas  térras  de  paa  he  boa ;  ñas  casas,  vinhas,  orlas,  moinhos  e  oli- 
vaes  he  contraria  ao  propio  bem  e  proveito  da  igreja,  porque  sam  pro- 
priadades  que  recebem  grande  perda,  e  muytas  se  perdem  totalmente  soo 
pola  daneficacao ;  e  bemfeitorias  nao  as  faz,  senao  quem  cuyda  que  o  que 
gasta  ha  de  ficar  a  sua  socesao  :  dizei  a  Sua  Santidade  que  lhe  peco  muito 
por  merce  que  aja  por  bem  de  eu  poder  aforar  em  fatiota  todas  estas  er- 
dades  d  esta  calidade  ás  pesoas  que  me  bem  parecer,  e  com  o  acrecenta- 
menlo  dos  foros  que  for  comviniente.  E  que  o  dinheiro,  que  as  partes 
quizerem  dar  por  estes  aforamentos,  eu  o  posa  mandar  arrecadar  e  gastar 
neste  mesmo  vso  da  guerra  dos  iníieis.  E  nisto  Sua  Santidade  crea  que 
as  igrejas  nam  receberám  perda  nenhuuma.  E  de  mym  deue  de  confiar 
que  no  aforar  mandarey  ter  tal  maneira,  e  se  fará  com  tanto  respeito  ao 
bem  da  igreja,  que  na  mesma  cousa  em  que  eu  recebo  merce  os  clérigos 
recebam  proveito. 

Estas  sam  as  cousas,  que  ey  por  meu  seruico  pedirdes  ao  Santo  Pa- 
dre de  minha  parte,  e  em  que  Sua  Santidade  me  pode  fazer  merce  sem 
poer  mais  de  sua  casa  que  sua  auloridade.  E  porem,  por  cima  de  todas 
minhas  necesidades,  e  deste  tamanho  perigo  da  india,  se  déos  o  nao  re- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  437 

medea,  minha  tencam  nara  he  pedir  ao  papa  senam  aquelas  cousas,  que 
o  emperador  meu  irmao  lem  ávidas,  porque  estas,  ainda  que  ao  pedilas 
se  nam  aja  de  nomear  o  emperador,  todavia  he  de  crer  que,  lenbrando  se 
Sua  Sanlidade  que  lhas  tem  concedidas,  as  nam  negará  a  mym.  E  por- 
que eu  sam  informado  que  alguüas  d  estas  tem  pedidas  e  lhe  sam  con- 
cedidas, vos  trabalharés  la  pera  saberdes  as  que  pedio  e  lhe  deram,  e  es- 
sas  pedirés  somente,  nam  falando  ñas  outras  ate  mo  nam  escreverdes,  ti- 
rando as  dizimas  e  responsoes  das  rendas,  e  licenca  de  emprazar  em  fa- 
liota,  porque  n  estas  falarés  sem  embargo  do  emperador  as  nam  ter  pe- 
didas. E  farés  toda  instancia  posivel  e  deligencia  por  que  se  tudo  con- 
ceda na  forma  em  que  se  pede.  E  ey  por  escusado  emcaregar  vos  estes 
negocios  mais,  porque  o  ternpo  e  causa  per  que  se  pedem,  e  voso  desejo 
de  me  servir,  volos  encaregam  tanto  que  abasta.  E  eu  confio  de  vos  que 
n  islo  me  servirés  tan  bem,  como  sempre  o  fazés.  E  de  tudo  o  que  fizer- 
des  e  passardes  com  o  papa,  e  Sua  Santidade  vos  responder,  e  vos  pare- 
cer em  cada  cousa,  me  avisares  muy  meuda  e  declaradamente. 
Sprita  etc. '. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 


I5a«  —  Abril  20. 


Paulus  Papa  111  Carissime  in  Christo  fili  noster  salutem  el  aposloli- 
cam  benedictionem. 

Quarto  iam  scribimus  ad  dilectum  filium  nostrum  Cardinalem  Por- 
tugalliae,  fratrem  luum,  ut  aduentum  ad  nos  suum  ulterius  non  differat; 
Non  enim  conuenit  illius  aetalis  et  dignilatis  virum  itinerum  labores,  aut 
ulla  alia  incommoda  pro  celebratione  vniuersalis  Concilii,  et  pro  pacan- 
dis  inter  se  Ghristianis  Principibus,  euilare,  Quando  nos  ipsi  in  hac  cons- 
tiluli  aetate  pro  hoc  peregrinan  et  omnes  labores  subiré  non  recusamus, 
ut  tándem  aliquando  per  ipsorum  Principum  pacem,  et  eiusdem  synodi 
celebrationem,  miseram  Christianilalem,  tam  diu  aíílictam,  consolari  pos- 

1  Rascunho  no  Arch.  Nac,  Cartas  missivas  sem  data,  Mac.  2,  n.°  353. 


138  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

simus.  Qua  in  re  eiusdem  fratris  tui  presentía,  pro  sua  virlulc  et  aucto- 
ritale,  non  parum  profutura  et  particulariler  luo  Regno  honorem  ac  uti- 
litalem  allatura  est.  Quapropter  Maiestalem  luam  in  Domino  requirimus 
ui,  sine  alia  ulteriori  excusatione,  quam  quidem  admissuri  non  suraus, 
eundem  Gardinalem  horlari  uelit  ut  tándem  islinc  discedere  et  ad  nos  ue- 
nire  maturet,  in  quo  tua  Maiestas  rem  nobis  gratissimam  faciet. 

Datum  in  Ciuitate  nostra  Placentiae,  sub  annulo  Piscaloris,  Die  xxvi 
Aprilis,  mdxxxviii,  Ponlificatus  nostri  Anno  Quarto  —  Fabius  Vigil. l. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 

153*—  Maio  *«. 


Paulus  Papa  m  Carissime  in  christo  fili  noster  salulem  et  apostoli- 
cam  benedictionem. 

Dicet  Maiestati  tuae  nostro  iussu  dilectus  filius  Hieronymus  Ricenas 
de  Capite  férreo,  Nuntius  apud  te  noster,  quo  desyderio  aduentum  Prae- 
latorum  tui  Regni  ad  vniuersalis  concilii  celebrationem  expectemus.  Quare 
Maiestatem  tuam  hortamur  ut  eidem  Nuntio  super  hoc  solitam  Gdera  ha- 
bere  et  nostrum  hoc  desyderium  tua  auctoritate,  si  opus  fuerit,  confouere 
uelis. 

Datum  in  Domo  sancli  Francisci  extra  muros  Nicienses,  sub  annulo 
piscatoris,  Die  xxn  Maii,  mdxxxviii,  Pontificatus  nostri  Anno  Quarto  — 
Fabius  Vigil. 2. 


1  AncH.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n.°  55. 

2  Ibid.  n.°  57. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  439 


Bulla  do  Papa  Paulo  III, 
dirigida  ao  Infante  I*.  Uenrique. 

1538—  Halo  31. 


Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Henrrico,  electo 
Bracharensi,  Salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Personam  tuara  nobis  et  apostolice  sedi  deuolam  tuis  exigentibus  me- 
ritis  paterna  beniuolentia  prosequentes,  illa  tibi  fauorabililer  concedimus, 
que  tuis  commodilatibus  fore  conspicimus  opporluna.  Cum  itaque  Prio- 
ratus  Monasterium  nuncupatus  per  Priorem  soliti  gubernari  Sancli  Mar- 
tini  de  Caramoros,  ordinis  sancli  Augustini  Canonicorum  regularium,  Bra- 
charensis  diócesis,  ex  eo  quod  dilectus  filius  noster  Franciscus,  lituli  Sán- 
ete Crucis  in  Ihierusalem  presbiter  Cardinalis,  cui  alias  Prioralus  predi- 
ctus,  certo  tune  expresso  modo  vacans,  per  eum  quoad  uiueret.  etiam  \na 
cum  Sánele  Crucis  in  Ihierusalem,  que  tituli  sui  cardinalatus  existit,  ac 
quibusuis  alus  ecclesiis  monasteriis  et  beneficiis  ecclesiaslicis,  que  ex  qui- 
busuis  concessionibus  et  dispensationibus  apostolicis  in  tilulum  seu  com- 
mendam  vel  alias  obtinebal  et  expectabat,  tenendus  regendus  et  gubernau- 
dus  apostólica  fuerat  auctoritate  commendatus,  ipsius  Prioratus  possessione 
per  eum  non  habita,  commende  huiusmodi  ac  omni  iuri  sibi  in  dicto  Prio- 
ratu  vel  ad  illum  quomodolibet  competenti  hodie  in  manibus  nostris  sponte 
et  libere  cessit,  nosque  cessionem  huiusmodi  duximus  admillendam  adhuc 
eo  quo  ante  commendam  eandem  uacabat  modo  uacare  noscatur  ad  pre- 
sens :  Nos  tibi,  qui,  sicut  accepimus,  Carissimi  in  christo  filii  nostri  Jo- 
hannis,  Portugalie  et  Algarbiorum  Regis  Illustris,  fraler  germanus,  Infans 
nuncupatus,  existís,  vt  statum  tuum  iuxta  Pontificalis  dignilatis  exigentiam 
decenlius  tenere  valeas,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere,  pre- 
missorumque  meritorum  intuitu  specialem  gratiam  faceré  uolenles,  teque 
a  quibusuis  excommunicationis  suspensionis  et  interdicli,  aliisque  eccle- 
siasticis  sentenliis  censuris  et  penis,  a  iure  uel  ab  homine  quauis  occasione 
uel  causa  latis,  si  quibus  quomodolibet  innodalus  existís,  ad  effeclum  pre- 
senlium  duntaxat  consequendum,  harum  serie  absoluenles  etabsolutum  fore 


440  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

cénsenles  ;  necnon  omnia  et  singula  beneficia  ecclesiastica,  cum  cura  et  sine 
cura,  que  in  litulum  et  commendam,  seu  alias,  etiam  ex  quibusuis  conces- 
sionibus  et  dispensationibus  apostolicis,  oblines  et  expectas,  ac  in  quibus 
et  ad  que  ius  Ubi  quomodolibet  compelit,  quecunque  quotcunque  et  qua- 
liacunque  sint,  eorumque  fructuum,  reddiluum  et  prouentuum  ueros  an- 
nuos  valores,  ac  huiusmodi  concessionum  et  dispensationum  tenores,  ue- 
rumque  et  ultimum  dicti  Prioralus  uacalionis  modo,  etiam  si  ex  illo  que- 
uis  generalis  reserualio,  etiam  in  corpore  iuris  clausa,  resultel,  presenti- 
bus  pro  expressis  habentes ;  Prioratum  huiusmodi,  qui  conuentualis  est, 
cuiusque  et  illi  forsan  annexorum  fructus  reddilus  et  prouentus  Sexin- 
genlorum  ducatorum  auri  de  Camera  secundum  communem  exlimatio- 
nem  ualorem  annuum,  ut  asseris,  non  excedunt,  siue  premisso  siue  alio 
quouismodo  aut  ex  alterius  cuiuscunque  persona,  seu  per  liberam  cuiusuis 
resignationem  de  illo  in  Romana  Curia  vel  extra  eam,  etiam  coram  Nota- 
rio publico  et  testibus  sponte  factam,  aut  Constitutionem  felicis  recordatio- 
nis  Johannis  pape  xxn,  predecessoris  nostri,  que  incipit  « Execrabilis » 
vel  assecutionem  alterius  beneíicii  ecclesiastici  quauis  auctorilate  collati 
uacel,  etiam  si  tanto  tempore  uacauerit  quod  eius  collatio  iuxta  Latera- 
nensi  slalula  Concilii  ad  sedem  apostolicam  legitime  deuolula,  ipseque  Prio- 
ratus  disposilioni  apostolice  specialiter  vel  ex  eo  quod  est  dignilas  conuen- 
tualis generaliter  rescruatus  exislat,  et  ad  illum  consueuerit,  quis  per  ele- 
ctionem  assumi,  eique  cura  etiam  iurisdilionalis  immineal  animarum  su- 
per  eo  quoque  inler  aliquos  lis,  cuius  stalum  presenlibus  haberi  volumus 
pro  expresso,  pendeat  indecisa,  dummodo  tempore  date  presentium  non 
sit  in  eo  alicui  specialiter  ius  quesilum,  cum  annexis  huiusmodi  ac  óm- 
nibus iuribus  et  pertinenliis  suis,  tibí  per  te  quoad  uixeris,  etiam  vna  cum 
ecclesia  Rracharensi,  cui  preesse  dinosceris,  ac  quibusuis  alus  beneficiis 
ecclesiasticis,  cum  cura  et  sine  cura,  secularibus  et  quorumuis  *ordinum 
regularibus,  que  ut  preferlur  obtines  et  imposterum  oblinebis,  tenendum 
regendum  et  gubernandum,  Ha  quod  liceat  Ubi,  debitis  el  consuelis  Prio- 
ratus  huiusmodi  ac  dileclorum  íiliorum  illius  Conuentus  supporlatis  one- 
ribus,  de  residuis  illius  fruclibus  reddilibus  et  prouenlibus  disponere  et 
ordinare,  sicuti  illum  in  tilulum  pro  tempore  oblincnles  de  illis  dispo- 
nere et  ordinare  potuerunl  seu  etiam  debuerunt,  alienatione  lamen  quo- 
rumcumque  illius  bonorum  immobilium  el  preciosorum  mobilium  Ubi  peni- 
tus  interdicta,  apostólica  auctoritate  tenore  presentium  commendamus.  Quo- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  441 

circa  Venerabilibus  fratribus  nostris  Gaietano  et  Caserlano  Episcopis,  ac 
dilecto  filio  Officiali  Bracharensi  per  apostólica  scripta  mandamus  qua- 
tinus  ipsi,  uel  dúo  autvnus  eorum,  per  se  uel  alium  seu  alios,  te,  recepto 
prius  a  le  noslro  et  Romane  ecclesie  nomine  fidelitatis  debite  sólito  iura- 
mento  iuxta  formam  quam  sub  bulla  nostra  miltimus  introclusam,  uel  pro- 
curatorem  tuum  nomine  tuo,  in  corporalem  possessionem  Prioratus  et  an- 
nexorum  iuriumque  et  pertinenliarum  predictorum  inducanl  auclorilate 
nostra  et  defendant  inductum,  amoló  ex  inde  quolibet  ilücilo  detentore, 
facientes  te  uel  pro  te,  procuratorem  predictum,  ad  Prioralum  huiusmodi 
ut  est  moris  admilti,  tibique  de  illius  ac  annexorurn  huiusmodi  fruclibus 
redditibus,  prouentibus,  iuribüs  et  obuentionibus  uniuersis  integre  res- 
ponden, Contradictores  auctorüate  nostra,  appellalione  postposita,  compes- 
cendo.  Non  obstantibus  pie  memorie  Bonifacii  pape  yui,  eliam  predecesso- 
ris  nostri,  et  alus  aposlolicis  Conslitutionibus,  ac  Monasterii  el  ordinis  predi- 
ctorum iuramento  confirmatione  apostólica  uel  quauis  firmitate  alia  robora- 
tis  statulis  et  consueludinibus  confrariis  quibuscumque.  Aut  si  aliqui  super 
commendis  sibi  faciendis  de  Prioralibus  huiusmodi  speciales  uel  alus  bene- 
ficiis  ecclesiasticis  in  illis  parlibus  generales  dicte  sedis  uel  Legatorum  eius 
litteras  impetrarinl,  eliam  si  per  eas  ad  inhibitionem,  reserualionem  et  de- 
crelum  uel  alias  quomodolibet  sit  processum,  quibus  ómnibus  te  in  assecu- 
lione  dicti  Prioratus  uolumus  anteferri,  sed  nullum  per  hoc  eis  quoad  asse- 
cutionem  Prioraluum  seu  beneficiorum  aliorum  preiudicium  generan.  Seu 
si  pro  tempore  exislenti  Archiepiscopo  Bracharensi  et  eisdem  Conuentui  uel 
quibusuis  alus  communüer  uel  diuisim,  ab  eadem  sit  sede  indultum  quod 
ad  receplionem  uel  prouisionem  alicuius  minime  teneantur  et  ad  id  compelli 
aut  quod  interdici  suspendí  uel  excommunicari  non  possint;  quodque  de 
Prioralibus  huiusmodi,  uel  alus  beneficiis  ecclesiasticis  ad  eorum  collalio- 
nem  presenlationem  eleclionem  seu  quamuis  aliam  disposilionem  coniun- 
ctim  uel  separatim  spectantibus,  nulli  ualeat  prouideri  seu  commenda  fieri 
per  lilteras  apostólicas  non  facientes  plenam  et  expressam  ac  de  uerbo  ad 
uerbum  de  indulto  huiusmodi  mentionem,  et  qualibet  alia  dicte  sedis  in- 
dulgenlia  generali  uel  speciali  cuiuscumque  tenoris  exislat,  per  quam  pre- 
sentibus  non  expressam  uel  tolaliler  non  insertam  eíFectus  huiusmodi  gra- 
tie  impediri  ualeat  quomodolibet  uel  diferri,  et  de  qua  cuiusque  loto  tenore 
habenda  sit  in  nostris  litteris  mentio  specialis.  Volurnus  autem  quod  pro- 
pter  huiusmodi  commendam  dictus  Prioratus  debilis  non  fraudetur  obse- 
tomo  ni.  56 


442  COKPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

quiis,  et  animarum  cura  in  eo  siqua  illi  immineat  nullatenus  negligalur, 
sed  eius  ac  Conuentus  predictorum  congrue  supporlentur  onera  antedi- 
cía.  Et  insuper  e\  nunc  irritum  decernimus  et  inane  si  secus  super  hiis 
a  quoquam  quauis  auctoritate  scienter  uel  ignoranter  conligerit  atternptari. 
Nulli  ergo  omnino  hominuin  liceat  hanc  paginam  nostre  absolutionis  com- 
mende  mandati  decreti  et  uolunlatis  infringere,  uel  ei  ausu  temerario  con- 
traire.  Siquis  aulem  hoc  attemptare  presumpserit  indignationem  omnipo- 
tenlis  dei,  ac  beatorum  Petri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incur- 
surum. 

Datum  extra  muros  Nicienses  Anno  Incarnationis  Dominice  Millesi- 
rao  quingentésimo  trigésimo  octauo,  pridie  kalendas  Junii,  Pontificalus 
nostri  Anno  Quarto  1. 


Carta  d'el-Itei  a  D.  Pedro  llascarenhas. 

(1538  —  „.*) 


Dom  pedro  etc.  —  Eu  vos  escreyy  e  respondy  a  todas  vosas  cartas 
largamente,  e  se  vos  despachou  correo,  que  daquy  partyo  aos  x  d  abril, 
emderencado  pola  corle  da  emperatriz  por  via  de  francisco  pesoa.  E  por 
este  correo  vos  mandey  cartas  pera  o  papa,  e  outras.  E  porque  era  ja 
tempo  da  reposta  d  estas  minhas  cartas  ser  vinda,  e  nam  vem,  me  pare- 
ceo,  asy  pola  calidade  dos  tempos  que  correm,  e  por  oulros  desastres, 
que  em  lodo  tempo  soyem  acontecer  a  correos,  que  poderia  ser  este  que 
vos  despachey  ter  ávido  alguum  impedimento.  E  porque  as  cousas  que 
leuaua  releuavam  todas ;  e  a  meu  servico  agora  releva  muylo  mais  ver 
reposta  délas,  e  do  que  por  aquelas  cartas  vos  mandava  que  diseseys  e 
negoceaseys  com  o  Santo  padre,  e  o  que  Sua  Santidade  vos  respondeo 
e  manda,  me  pareceo  necesario  vos  tornar  a  despachar  este  coreo  com 
toda  diligencia.  E  por  ele  vos  mando  o  duplicado  de  tudo  o  que  o  outro 
levou,  porque,  se  por  alguum  caso  as  outras  cartas  ainda  nao  forem  em 
vosa  mao,  por  estas  posaes  fazer  o  mesmo,  que  pelas  outras  vos  man- 

1  Abch.  Nac,  Mac.  21  de  Bullas,  n."  24. 


relacOes  com  a  curia  romana  U 3 

flava  que  fizeseys.  E  en  lal  caso  he  bem  saber  de  vos  Sua  Santidade  a 
causa  da  lardanca  das  oulras  cartas.  E  muy  lo  vos  emcomendo  que,  se  ainda 
nam  tendes  respondido  ás  oulras,  que  a  estas,  e  ao  que  vos  agora  mais 
sprevo,  o  facaes  com  a  mayor  presteza  que  vos  for  posivel. 


GAPITOLO    POR  SY  APARTADO. 

Porque,  despois  d  estas  cartas  que  vos  sprevy,  ouue  avisos  por  muy- 
tas  vias  asy  da  partyda  do  papa  pera  nica,  como  dos  legados,  que  man- 
dou  a  vincenca,  serem  partidos  pera  darem  principio  ao  Concilio ;  e 
agora  de  Sua  Santidade  ja  ser  em  Saona ;  e,  segundo  parece,  as  cousas 
se  vao  achegando  a  mais  concrusao,  da  que  antes  parecía ;  e,  sendo  asy, 
he  tambem  rezao  eu  apertar  mais  a  resol  ucao  do  que  devo  fazer  em  todas 
estas  cousas,  que  sempre  ha  de  ser  o  que  me  parecer  que  he  mais  ser- 
vico  de  déos  e  bem  do  mesmo  negocio,  e  servico  de  Sua  Santidade ;  e 
como  vedes  pelas  outras  cartas,  e  pelo  duplicado  d  elas,  eu  escrevy  a 
Sua  Santidade  e  a  vos  asaz  declaradamente  o  que  me  pareceo  que  con- 
vinha,  e  em  que  eu  desejaua  de  receber  merce  de  Sua  Santidade ;  por- 
que lhe  nao  pareca  pela  ventura  agora  que,  com  se  la  apertarem  as  cou- 
sas, e  eu  nam  apertar  tambem  qua,  nem  me  determinar  de  todo  do  que 
deuo  fazer,  he  alguum  descuido,  ou  nam  ter  esta  vontade  que  digo,  que 
em  mym  he  e  será  sempre  muy  determinada  e  verdadeira,  vos  quys  com 
esta  dyligencia  e  presteza  sprever.  E  ha  Sua  Santidade  darés  minha  carta 
de  crenca,  que  com  esta  vos  vay,  e  lhe  dirés  que  eu  vos  despachey  os 
dias  pasados  sobre  estas  cousas  todas,  como  lera  visto,  ou  agora  verá 
pelo  duplicado  que  vos  mando ;  e  que,  por  eslar  cada  dia  esperando  sua 
resposta,  sem  a  qual  eu  nam  quis  fazer  outra  mudanca,  parecendo  que 
o  que  se  ouuer  de  fazer  se  fará  muy  lo  milhor  despois  de  ver  sua  vontade 
determinada,  que  eu  sempre  ey  de  folgar  de  compryr,  e  obedecer  como 
o  devo  a  Rey  christaao,  e  como  filho  muy  obidiente  seu  e  servidor  ;  e  por 
me  tardar  a  reposta  d  estas  cartas,  que  de  qua  partiram  aos  x  d  abril, 
quys  tornar  a  sprever  e  despachar  este  coreo  em  toda  diligencia  pera,  se 
o  outro  leve  impidimento  e  nam  pasou,  este  fazer  o  mesmo  efeyto,  e,  se 
lardou,  este  vos  solicitar  mais  e  me  trazer  a  reposta,  com  a  qual  me  re- 
solverey  logo  e  conformarey,  quanto  me  a  mym  for  posivel,  com  ho  que 

J)6  * 


444  COBPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

Sua  Santidade  ouver  mais  por  seu  servico  e  me  mandar,  que  eu  tenho 
por  muy  cerlo  que  será  sempre  conforme  a  suas  grandes  vertudes,  e  ao 
que  deue  a  verdadeiro  vigairo  de  christo,  e  seu  santísimo  oficio  pasto- 
ral, e  conforme  ao  que  as  necesidades  da  christindade,  e  perigo  em  que 
a  fee  e  povo  chrislao  n  estes  lempos  estaa,  pera  ajuda  e. presteza  das  quaes 
cousas  e  remedio  délas  eu  ey  de  poer  todas  as  forcas  minhas  e  de  meus 
regnos  com  a  mayor  autoridade,  que  poder,  e  com  toda  a  de  meus  es- 
tados, prelados,  e  clerezia  deles.  E  em  tudo  lomarey  resolucam  no  ponto 
que  me  seu  recado,  e  reposta  do  que  lhe  tenho  sprito,  e  por  vos  mandado 
dizer,  me  chegar :  nem  averá  outra  dilacam  em  Sua  Santidade  ser  servido 
no  que  eu  dever  de  fazer,  que  a  que  ouuer  em  eu  ser  certo  da  concru- 
sao  que  as  cousas  la  tomam,  e  certeficado  de  sua  vontade. 

E  esta  he  a  causa  porque  se  despacha  este  coreo,  juntamente  com 
arrecear  do  outro  nam  ser  la,  e  ser  causa  de  me  mais  tardar  esta  reposta, 
que  eu  quería  que  me  viese  ho  mais  asinha  que  pódese  ser,  porque,  pera 
fazer  o  que  devo  ao  servico  de  déos  e  a  bem  da  christindade,  e  mays 
em  lempo  de  Sua  Santidade,  me  pesaría  mu  y  lo  de  qualquer  impedimento, 
que  se  me  oferecese,  por  pequeño  que  fose,  por  quam  verdaderamente 
desejo  de  comprir  em  tudo  inteiramente  minha  obrigacam. 

Acerqua  das  dizimas  nao  ha  que  vos  mais  dizer  que  o  que  por  vo- 
sas Istrucoes  levastes,  e  despois  se  vos  escreveo,  e  agora  por  estas  du- 
plicadas veres  muy  largamente.  E  avendo  tantas  rezois  como  ha  pera  o 
papa  n  iso  folgar  de  me  comprazer  e  fazer  merce,  eu  confio  em  Sua  San- 
tidade e  em  voso  boom  cuidado,  e  maneyra  que  n  iso  teres,  que  o  nego- 
cio sayrá  conforme  a  esperanca,  que  dele  me  escrevestes  em  vosas  dera- 
deiras  cartas  que  levaveys,  polo  que  Cobos  vos  disera,  e  alcancarcys  na 
corle  do  emperador  meu  irmao. 

E  quanto  á  yda  de  meus  irmaos  ao  concilio,  e  oferecímcnto  que 
mando  fazer  ao  papa,  nam  ha  que  mudar  nem  vos  mais  sprever,  que  o 
que  vos  tenho  sprito  e  mandado  que  digáis,  somenle,  pois  que  as  cousas 
estam  ja  tao  achegadas  a  concrusam,  e  o  emperador  e  o  papa  juntos, 
segundo  tenho  aviso  por  cartas  de  dom  aleixo,  que  de  sua  chegada  a 
vila  franqua  me  avisou,  e  de  como  o  santo  padre  era  em  Saona  e  seria 
logo  em  nica,  nao  parece  que  posa  estar  o  negocio  do  concilio  e  prose- 
guimento  dele  mais  lempo  sospenso.  E  porque  o  nuncio  do  Santo  padre 
dá  mu  y  la  presa  aos  perlados  de  meus  Rey  nos,  e  he  cousa  de  grande  im- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  ftS 

portancia  eu  saber  o  termo  em  que  verdadeiramente  as  cousas  la  estam, 
e  o  que  devo  fazer,  asy  acerqua  de  meus  Irmaos  como  dos  oulros  per- 
lados, que  com  eles,  ou  sem  eles,  ouuerem  de  hyr ;  E  todavía  averia 
por  muyto  meu  sen  reo  Sua  Santidade  querer  leixar  em  mym  os  que  ou- 
uerem dyr,  pois  he  certo  que  eu  niso,  nem  em  oulra  nenhuma  cousa, 
onde  entrar  o  servico  de  déos,  e  necesidade  das  cousas  da  fee,  e  autori- 
dade  da  See  apostólica  e  de  Sua  Santidade,  eu  ey  sempre  de  querer  e 
escolher  o  que  a  este  preposylo  mais  fizer  e  no  negocio  lodo  mais  posa 
aproveitar  e  servyr.  As  quaes  rezois  todas,  alem  de  as  ja  levardes  em 
vosas  Instrucoes,  e  despois  volas  ter  repricadas  e  mandado  que  as  aprc- 
sentaseys  ao  Santo  padre,  e  trabalhaseys  por  ele  o  querer  asy ;  todavía 
nao  ouue  por  sobejo  voló  tornar  nesta  a  lembrar,  e  vos  emeomendo  muyto 
e  mando  que  niso  torneys  apertar  todo  o  posivel.  E  do  que  Sua  Santi- 
dade vos  responder,  e  determinadamente  asentar,  me  avisares  com  grande 
diligencia,  e  muy  declaradamente  porque,  como  no  capitolo  atrás  vos 
sprevo,  sperar  sua  reposta,  e  delerminacao  do  que  manda,  me  detem  no  que 
devo  fazer,  e  nam  outra  cousa.  Estando  as  cousas  de  maneyra  e  Sua  San- 
tidade em  tal  determinacam  que  nam  aja  remedio  de  a  tal  eleicao  deixar  a 
mym,  e  todavía  quiser  que  vao  lodos  os  que  nam  tiverem  legitimo  impedy- 
mento,  e  virdes  que  niso  nao  aja  mais  que  esperar,  entam  pedirés  a  Sua  San- 
tidade, como  nes  outras  cartas  vos  vay  aponlado,  que  alargue  alguum  tempo 
pera  se  pórem  em  ordem  os  que  ouuerem  d  yr.  E  asy  mesmo  trabalharés 
muyto  por  lirardes  despacho  e  breve  de  Sua  Santidade,  como  em  vosas 
instrucoes  leváis  muy  declarado,  acerqua  dos  beneficios,  asy  bispados  como 
moesteyros,  dos  prelados  que  forem.  E,  se  acertar,  yndo,  estando,  ou  tor- 
nando, de  falecer,  que  desles  se  proveja  a  mynha  vontade  e  contenta- 
mentó,  qua  nam  seria  rezam,  pois  que  quando  acontece  os  taes  beneficios 
vagarem  em  meus  Reynos  nunqua  se  dam,  senam  ás  pesoas  pera  que  eu 
os  peco,  e  asy  déos  he  mais  servido,  porque  eu  sempre  escolho  os  que 
mais  sam  pera  eles,  morendo  as  mesmas  pesoas  em  servico  de  déos  e 
da  Igreja  e  na  obidiencia  de  Sua  Santidade  e  por  meu  mandado,  averem 
o  que  vagar  pesoas  estranhas.  E  posto  que  eu  tenha  por  muy  certo  que 
Sua  Santidade,  nem  o  Sagrado  Concilio,  nam  provena  em  outra  maneyra, 
nem  me  faria  lamanho  agravo  ;  todavía  ey  por  muy  necesario  pera  tirar 
toda  duuida,  e  a  Sua  Santidade  causa  de  importunacoes,  ysto  pasar  per 
breve  muy  declarado,  e  com  taes  clausulas  que,  acontecendo  tal  caso, 


4iG  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nam  posa  nacer  duvida  alguuma.  E  esla  provisam  me  mandares  com  os 
primeiros  recados.  m 

Muyto  íolgarey  de  me  spreverdes,  por  todas  as  vias  que  vos  forem 
posives,  asy  de  coreos  do  emperador  meu  irmao,  e  por  via  da  corle  da 
emperatriz  enderezando  as  carias  a  antonio  homem,  meu  capelam,  que 
nela  pera  esle  efeyto  mando  andar,  como  por  via  de  mercadores,  e  de 
qualquer  outra  que  se  oferecer,  porque  os  lempos  sam  de  calidade  e  os 
negocios  do  mundo  lámannos,  que  por  todalas  vias  nam  podem  deixar 
de  a  mym  toquar  muylo  e  muy  particularmente.  E  de  todas  queria  ser 
avisado  muyto  ameude  e  muy  largamente,  e  em  special  da  paz  antre  o 
emperador  e  el  Rey  de  franca,  o  que  nela  he  feyto  ou  s  espera  que  se 
faca  ;  e,  avendo  impedimentos  ou  dilacam,  que  noso  senhor  nam  permita 
por  sua  misericordia,  a  calidade  dos  impedimentos,  e  tudo  o  mais  que 
nesla  materia  e  na  do  Concilio  e  cousas  de  laa,  e  apercebimentos  do  tur- 
quo  poderdes  saber,  porque,  como  forem  cousas  pubricas,  e  em  que  se 
trate  do  bem  ou  mal  uniuersal,  nao  podem  deixar  de  serem  ante  mym 
muy  particulares,  e  de  me  toquarem  particularmente. 

Sprila  etc. 

Muyto  Sancto  ele.  Eu  sprevy  os  días  pasados  a  Vosa  Sanlidade,  e 
por  dom  pedro  mascarenhas,  do  meu  conselho  e  meu  enbaixador,  lhe 
mandey  dizer  alguuas  cousas,  e  responder  a  seus  breves  e  ao  que  seu 
nuncio  de  sua  parte  me  dise.  E  porque  a  reposta  d  eslas  cartas  tarda,  e 
pode  ser  que  nam  pasase  lara  asinha,  polo  desejo  grande  que  lenho  de 
em  tudo  comprir  com  o  que  devo  e  os  mandados  de  Vossa  Santidade, 
torno  a  despachar  este  coreo  em  toda  diligencia  pera  de  sua  vonlade  em 
todas  as  sobre  ditas  cousas  ser  certeficado,  e  conforme  a  ela  poder  obrar 
e  o  servyr,  como  mais  largamente  dom  pedro  lhe  dirá.  Soprico  e  peco 
a  vosa  santidade  muy  humildosamente  que  o  ouca  e  crea  em  ludo  o  que 
de  minha  parle  lhe  diser. 

Muylo  Sancto  etc.  K 


1  fíascunho  no  Arcii.  Nac,  Cartas  missivas  sera  data,  Mar.  2,  n.°  123.  Di;  ño 
verso:  Pera  dom  Pedro  mascarenhas,  que  leuou  sylva. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  4  47 


ISreve  cío  Papa  Paulo  III 
dirigido  ao  Infante  D.  Henrique. 

153$       Setembro  16. 


Paulus  episcopus,  Seruus  Seruorum  dei,  Dilecto  filio  Henrico,  In- 
fanti  Porlugalie,  Electo  Bracharensi,  Salutera  et  apostolicam  benedictio- 
nem. 

Personam  tuam  nobis  et  apostolice  sedi  deuotam,  tuis  exigentibus 
meritis,  paterna  beniuolenlia  prosequentes,  illa  tibi  fauorabiliter  concedi- 
mus,  que  tuis  commoditatibus  fore  conspicimus  opportuna.  Dudum  si- 
quidem  omnes  dignitates,  celeraque  beneficia  ecclesiastica,  cum  cura  et 
sine  cura,  apud  sedem  apostolicam  tune  vacantia  et  in  antea  vacatura, 
collationi  et  dispositioni  nostre  reseruauimus,  decernentes  ex  tune  irritum 
et  inane,  si  secus  super  hiis  a  quoquam  quauis  auctoritate  scienter  vel 
ignoranter  contingeret  attemplari.  Cum  itaque  postmodum  Prioratus  se- 
cularis  et  collegiate  ecclesie  sancli  marlini  de  Cedofeita,  prope  et  extra 
muros  Portugalenses,  per  liberam  resignationem  dilecli  filii  Emanuelis 
de  Sousa,  nuper  ipsius  ecclesie  Prioris,  de  illo  quem  tune  oblinebat  per 
dilectum  filium  Petrum  Mascarenhas,  militem  mililie  Jesu  chrisli,  Cister- 
tiensis  ordinis,  procuratorem  suum  ad  hoc  ab  eo  spetialiler  constilutum, 
in  manibus  nostris  sponte  faclam  et  per  nos  admissam,  apud  sedem  pre- 
dictam  uacauerit  et  vacet  ad  presens,  nullusque  de  illo  preter  nos  hac 
vice  disponere  poluerit  siue  possil,  reserualione  et  decreto  obsistentibus 
supradictis,  Nos  tibi,  qui,  vt  asseris,  Carissimi  in  Ghrislo  filii  nostri 
Johannis,  Portugalie  et  Algarbiorum  Regis  Illustris,  frater  germanus 
existís,  vt  slatum  luum  iuxta  pontificalis  dignitalis  éxigentiam  decentius 
tenere  valeas,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere,  ac  premissorum 
meritorum  tuorum  intuitu  specialem  gratiam  faceré  volenles,  teque  a 
quibusuis  excommunicalionis  suspensionis  et  interdicti,  aliisque  ecclesias- 
ticis  sententiis  censuris  et  penis,  a  iure  vel  ab  homine,  quauis  occasione 
vel  causa  latis,  si  quibus  quomodolibet  inodatus  existís,  ad  effectum  pre- 
sentium  dunlaxat  cousequendum,  harum  serie  absoluentes  el  absolulum 


148  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

fore  cénsenles ;  Necnon  omnia  et  singula  monasleria  et  beneficia  ecclesias- 
lica,  cum  cura  et  sine  cura,  secutaría  et  quorumuis  ordinum  regularía, 
que  ex  quibusuis  dispensationibus  el  concessionibus  aposlolicis  in  tilulum 
el  commendam  ac  alias  obtines  et  expectas ;  necnon  in  quibus  et  ad  que 
ius  tibi  quomodolibet  competit,  quecunque  quolcunque  et  qualiacunque 
sinl,  eorumqne  fructuum  reddiluum  et  prouentuum  veros  annuos  valores 
ac  huiusmodi  dispensalionum  et  concessionum  tenores ;  necnon  quarum- 
cunque  pensionura  annuarum  tibi  super  quibusuis  fruclibus  reddilibus  et 
prouentibus  ecclesiasticis  assignatarura  quanlitates,  presentibus  pro  ex- 
pressis  habentes,  Prioratum  predictum,  qui  inibi  dignilas  principalis  exis- 
lit  et  cuius  fructus  redditus  et  proucntus  trecenlorum  et  septuaginla  du- 
catorum  auri  de  Camera,  super  quibus  pensio  annua  quinquaginta  du- 
calorum  auri  similium  dilecto  filio  Roderico  López  de  Carualho,  clerico 
illam  annuatim  percipienli,  apostólica  auctorilale,  vi  etiam  asseris,  reser- 
uata  exislit,  secundum  cnmmunem  extimationern  valorem  annuum,  vt  si- 
mililer  asseris,  non  excedunl,  siue  premisso,  siue  alio  quouis  modo  aut 
ex  alterius  cuiuscuuque  persona,  seu  per  similem  resignalionem  dicti 
Emanuelis  vel  cuiusuis  alterius  de  illo,  in  Romana  Curia  vel  extra  eam, 
eliam  coram  notario  publico  et  lestibus  sponte  factam,  aut  Constilulio- 
nem  felicis  recordationis  Johannis  pape  xxn,  predecessoris  nostri,  que 
incipit  «Execrabilis»,  vel  assecutionem  alterius  beneficii  ecclesiastici  qua- 
uis  auctoritate  collali  vacet,  eliam  si  tanlo  lempore  vacauerit  quod  eius 
collalio  iuxla  Laleranensis  statuta  Concilii  ad  sedem  prefatam  legitime  de- 
uolula,  ipseque  Prioratus  dispositioni  apostolice  specialiter  vel  alias  gene- 
raliler  reseruatus  existal,  et  ad  illum  consueuerit,  quis  per  eleclioncm 
assumi  eique  cura  eliam  iurisdictionalis  immineat  animarum  super  eo 
quoque  inter  aliquos  lis,  cuius  slalum  presentibus  haberi  voíumus  pro 
cxpresso,  pendeat  indecisa,  dummodo  eius  dispositio  ad  nos  hac  vice  peiti- 
neat,  cum  ómnibus  iuribus  et  perlinentiis  suis  tibi  per  te  quoad  uixeris, 
eliam  vna  cum  ecclesia  Bracharensi,  cui,preesse  dinosceris,  eliam  poslquam 
munus  consecrationis  susceperis,  ac  ómnibus  et  síngulis  monasteriis  et  be- 
neficiís  ecclesiasticis,  cum  cura  et  sine  cura,  secularibus  et  regularibus, 
que  in  litulum  et  commendam  ac  alias  obtines,  vt  preferlur,  el  im  posterum 
obtinebis,  ac  pensionibus  annuis,  quas  percipis  et  percipies  in  futurum, 
lencndum,  regendum  et  gubernandum.  Ha  quod  liceat  tibi,  debilis  el  con- 
suetis  ipsius  Prioratus  supportalis  oneribus,  de  residáis  illius  fruotibufl 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  449 

reddilibus  et  proucntibus  disponere  et  ordinare,  siculi  illum  pro  lempore 
ifi  titulum  oblinenles  de  illis  disponere  et  ordinare  poluerunt  seu  etiam 
debuerunt,  Alienatione  lamen  quorumcunque  illius  bonorum  immobilium 
et  preciosorum  nobilium  libi  penilus  interdicta,  auctoritate  apostólica 
commendamus,  Decernentes  prout  est  irritum  et  inane,  si  secus  super 
hiis  a  quoquam  quauis  auctoritate  scienter  vel  ignoranter  altemplatum 
forsan  est  hactenus,  vel  imposterum  conligerit  atlemplari.  Non  obslanti- 
bus  pie  memorie  Bonifacii  pape  VIH,  etiam  predecessoris  nostri,  et  alus 
aposlolicis  Constitutionibus,  ac  dicte  ecclesie  sancli  Marlini  iuramento, 
confirmalione  apostólica,  vel  quauis  firmitate  alia  roboratis  statulis  et  con- 
suetudinibus,  contrariis  quibuscunque,  Aut  si  aliqui  super  prouisioni- 
bus  seu  commendis  sibi  faciendis  de  dignitatibus  ipsius  ecclesie  sancti 
Marlini  speciales,  vel  alus  beneficüs  ecclesiasticis  in  illis  parl¡bus  genera- 
les, dicte  sedis  vel  legatorum  eius  litteras  impetrarint,  etiam  si  per  eas 
ad  inhibitionem,  reseruationem  et  decretum,  vel  alias  quomodolibet  sit 
processum,  Quibus  ómnibus  te  in  assecutione  dicti  Prioralus  voiumus  an- 
teferri,  sed  nullum  per  hoc  eis  quoad  asseculionem  dignitatum  vel  be- 
neficiorum  aüorum  preiudicium  generari,  Seu  si  vcnerabili  fratri  nostro 
Episcopo  Portugalensi  et  dilectis  íiliis  Capitulo  ipsius  ecclesie  sancíi  Mar- 
lini vel  quibusuis  alus,  communiter  vel  diuisim,  ab  eadem  sit  sede  in- 
flultum  quod  ad  receptionem  vel  prouisionem  alicuius  minime  teneantur, 
et  ad  id  compelli  non  possint.  Quodque  de  dignitatibus  eiusdem  ecclesie 
sancti  Marlini,  ac  huiusmodi  vel  alus  beneficüs  ecclesiasticis  ad  eorum 
collationem,  prouisionem,  presentationem,  electionem,  seu  quamuis  aliam 
dispositionem,  coniunctim  vel  separalim,  spectantibus  nulli  valeat  proui- 
deri,  seu  commenda  fieri  per  Hileras  apostólicas,  non  facientes  plenam  et 
expressam  ac  de  verbo  ad  verbum  de  indulto  huiusmodi  menlionem,  Et 
qualibet  alia  dicte  sedis  indulgenlia  generaü  vel  speciali,  cuiuscunque 
tenoris  exislat,  per  quam  presentibus  non  expressam,  vel  totaliter  non 
inserlam,  eíFectus  huiusmodi  gratie  impediri  valeat  quomodolibet  vel  dif- 
feri,  Et  de  qua  cuiusque  tolo  lenore  habenda  sit  in  nostris  litteris  menlio 
specialis,  Prouiso  quod  propter  huiusmodi  commendam  dictus  prioratus 
debitis  non  fraudetur  obsequiis,  et  animarum  cura  in  eo,  siqua  illi  imi- 
neat,  nullatenus  negligalur,  sed  eius  congrue  supporlentur  onera  ante- 
dicta. Nulli  ergo  omnino  hominum  liceal  hanc  paginam  nostre  absolutio- 
nis,  commende,  decreti,  et  voluntalis  infringere,  vel  ei  ausu  temerario 
tomo  tu.  57 


450  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

contraire.  Siquis  aulem  hoc  attemptare  presumpserit  indignationem  omni- 
potenlis  dei,  ac  beatoruin  Petri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  in- 
cursurum. 

Datum  Rome,  apud  sanclum  marcum,  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  oclauo,  Sexto  décimo  Kalendas  Oclo- 
bris,  Pontificatus  nostri  Anno  Quarlo1. 


Bulla  do  Papa  Paulo  III  dirigida  ao  Hispo 

de  Casería  e  aos  Vggarios  geraes 

do  Porto  e  de  Eiora. 

1538—  Setembro  1G. 


Pau!us  episcopus  seruus  seruorum  dei  Venerabili  fralri  Episcopo 
Casertano,  et  dilectis  filiis  Portugalensi  et  Elborensi  Oííicialibus,  Salu- 
tem  et  apostolicam  benedictionem. 

Hodie  dilecto  filio  Henrico,  Infanti  Portugalie,  Electo  Bracharensi, 
Prioralum  secularis  et  Collegiale  ecclesie  sancti  Martini  de  Cedofeita, 
prope  et  extra  muros  Portugalenses,  tune  per  liberam  resignationem  di- 
lecli  filii  Emanuelis  de  Sousa,  nuper  ipsius  ecclesie  Prioris,  de  il lo  quem 
tune  obtinebat,  per  certum  procuratorem  suum  ad  id  ab  eo  specialiler 
constitutum,  in  manibus  nostris  sponte  factam  et  per  nos  admissam,  apud 
sedem  apostolicam  vacantem,  et  antea  dispositioni  apostolice  reseruatum, 
cum  ómnibus  iuribus  et  pertinentiis  suis,  per  eum  quoad  viueret  tenen- 
dum  regendum  et  gubernandum  per  alias  nostras  lilteras  commendaui- 
mus,  prout  in  eisdem  litleris  plenius  continelur.  Quocirca  Discretioni 
veslre  per  apostólica  scripla  mandamus  quatenus  vos,  vel  dúo  aut  vnus 
vestrum,  si  et  postquam  dicte  littere  vobis  preséntate  fuerint  per  vos,  vel 
alium  seu  alios,  eundem  Henricum,  recepto  prius  ab  co  nostro  el  Ro- 
mane ecclesie  nomine  fidelilalis  debite  sólito  iuramenlo,  iuxla  formam, 
quam  sub  Bulla  nostra  mitlimus  introclusam,  vel  procuratorem  suum  eius 
nomine,  in  corporalem  possessionem  Prioratus  iuriumque  et  pertinenlia- 

1  Abch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  26. 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  451 

rum  prediclorum  ¡nducatis  auclorilate  nostra,  et  defendalis  inductum, 
amoló  exinde  quolibet  detenlore,  facientes  Henricum,  vel  pro  eo  procu- 
ralorem  predictum,  ad  Prioratura  huiusmodi,  \t  est  moris,  admilti,  sibi- 
que  de  ipsius  Prioratus  fruclibus,  redditibus,  prouentibus,  iuribus  et  obuen- 
tionibus  vniuersis  integre  responden,  Contradictores  auctoritate  nostra 
appellalione  poslposila  compescendo :  Non  obstantibus  ómnibus,  que  in 
dictis  lilteris  voluimus  non  obstare.  Seu  si  venerabili  fratri  nostro  Epis- 
copo  Portugalensi,  et  dileclis  filiis  Capitulo  dicte  ecclesie,  vel  quibusuis 
alus  communiler  \el  diuísim  ab  eadem  sil  sede  indullum  quod  inlerdici, 
suspendí,  vel  excommunicari  non  possint  per  litteras  apostólicas,  non  fa- 
cientes plenam  et  expressam  ac  de  verbo  ad  verbum  de  indulto  huius- 
modi menlionem. 

Datum  Rome,  apud  Sanclum  marcum,  Anno  Incarnalionis  dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  oclauo,  Sexto  décimo  Kalendas  Oclo- 
bris,  Pontificatus  nostri  Anno  Quarlo1. 


Dulla  do  Papa  Paulo  III  dirigida  a  el-Rei. 


1538  —  Setembro  23. 


Paulus  episcopus,  seruus  seruorum  dei,  Carissimo  in  chrislo  filio 
Johanni,  Porlugallie  et  Algarbiorum  Regi  Illustri,  Salulem  et  aposlolicam 
benediclionem. 

Gratie  diuine  premium  acquiritur  et  humane  laudis  preconium,  si 
per  seculares  principes  ecclesiarum  prelatis,  preserlim  pontificali  dignitate 
preditis,  opportuni  fauoris  presidium  el  honor  debilus  impendalur.  Hodie 
siquidem  ecclesie  Siluensi,  tune  per  obitum  bone  memorie  Ferdinandi, 
olim  episcopi  siluensis,  extra  Romanam  Curiam  defuncti,  pastoris  solatio 
destitute,  de  persona  dilecli  filii  Emanuelis,  Electi  Siluensis,  nobis  et  fra- 
tribus  nostris  ob  suorum  exigenliam  merilorum  accepta,  de  fratrum 
eorundem  consilio,  apostólica  auctoritate  prouidimus,  ipsumque  illi  in 
Episcopum   prefecimus  el  pastorem,  curam  et  administralionem  ipsius 

1  Arch.  Nac,  Mac.  31  de  Bullas,  n.°  10. 

57* 


432  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ecclesie  sibi  in  speritualibus  et  temporalibus  plenarie  committendo,  prout 
in  nostris  inde  confectis  ülteris  plenius  continelur.  Gum  itaque,  fili  Ca- 
rissime,  sit  virtulis  opus  dei  ministros  benigno  fauore  prosequi,  ac  eos 
verbis  et  operibus  pro  Regís  elerni  gloria  veneran,  Maieslatem  tuam  re- 
giam  rogarnus  et  hortamur  áltenle  qualenus  cundem  Emanuelcm,  Ele- 
clum,  et  ecclesiam  predictam  sue  cure  commissam,  habens  pro  nostra  et 
apostolice  sedis  reuerenlia  propensius  commendalos,  in  ampliandis  et  con- 
seruandis  iuribus  suis  sic  eos  benigni  fauoris  auxilio  prosequaris,  quod 
ipse  Emanuel,  Elcclus,  tue  Celsiludinis  fullus  presidio,  in  commisso  sibi 
cure  pastoralis  oííicio  possit  deo  propicio  prosperar  i,  ac  libi  exinde  a  deo 
perennis  vite  preminni  et  a  nobis  condigna  proueniat  aclio  graliarum. 

Datum  Rome,  apud  Sanclum  inarcum,  Anno  Incarnalionis  domi- 
nice  millesimo  quingentésimo  trigésimo  octauo,  Nono  Kalendas  Octobris, 
Pontificatus  nostri  Anno  Quarto1. 


Hulla  tío  Papa  Paulo  III  dirigida  a  el-Itci. 

1538  —  Setembro  «3. 

Paulus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  Cristo  filio  Jo- 
hanni,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi  Illustri,  Salutem  et  apustolicam 
benedictionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconium  acquiritur,  si 
per  seculares  principes  ecclesiarum  prelatis,  presertim  ponlificali  digni- 
tate  predilis,  opportuni  fauoris  presidium  el  honor  debitus  impendalur. 
Hodie  siquidem  ecclesie  Sancti  Jacobi,  Insule  sancli  Jacobi  de  Cabo  verde 
nuncupate,  tune  per  obitum  bone  memorie  Blasii,  olim  Episcopi  sancti 
Jacobi  eiusdem  Insule,  extra  Romanam  Curiam  defuncti,  pasloris  solatio 
destilute,  de  persona  dilecti  filii  Johannis,  Elecli  sancli  Jacobi  dicte  In- 
sule, nobis  et  fratribus  nostris  ob  suorum  exigentiam  meritorum  accepta, 
de  fratrum  eorundem  consilio,  apostólica  aucloritale  prouidimus,  ipsum- 
que  illi  in  Episcopum  prefecimus  et  pastorem,  curam  et  adminislrationcm 

1  Arch.  Nac,  Mag.  17  de     ullas,  n.°  23. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  453 

ipsius  ecclesie  sibi  in  spiritualibus  et  lemporalibus  plenarie  committendo, 
prout  in  nostris  inde  confectis  litteris  plenius  continelur.  Cum  itaque, 
fili  carissime,  sil  virtulis  opus  dei  ministros  benigno  fauore  prosequi,  ac 
eos  verbis  et  operibus  pro  Regis  eterni  gloria  venera ri,  niaiestalera  tuam 
Regiara  rogamus  et  horlamur  atiente  qualinus  eundem  Johannera,  Ele- 
ctuin,  et  ecclesiam  prediclam  sue  cure  commissam,  habens  pro  nostra  et 
apostolice  sedis  reuerenlia  propentius  commendalos,  in  ampliandis  et  con- 
seruandis  iuribus  suis  sic  eos  benigni  fauoris  auxilio  prosequaris,  quod 
ipse  Johannes,  Electus,  tue  celsitudinis  fullus  presidio,  in  commisso  sibi 
cure  pasloralis  oflicio  possit  deo  propicio  prosperan.,  ac  tibi  exinde  a  deo 
peremnis  vite  premium  et  a  nobis  condigna  proueniat  actio  gratiarum. 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  marcum,  Anno  Incarnationis  dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  octauo,  Nono  kalendas  Octobris,  Pon- 
lificatus  nostri  Anno  Quarto'. 


fSuEla  do  Papa  Paulo  III  dirigida  ao  Infante 
D.  Ilenricjue. 

1538 — Setembro  «3. 


Paulus  episcopus,  seruus  seruorum  dei,  Dilecto  filio  Henrico,  Electo 
Rracharensi,  Salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Romani  pontificis  prouidenlia  circumspecta  ecclesiis  et  monasle- 
riis  singulis,  que  vacalionis  incommoda  deplorare  noscuntur,  vi  guberna- 
torum  vtilium  fulcianlur  presidio,  prospicit  diligenter,  ac  personis  eccle- 
siasticis  quibuslibet,  presertim  pontificali  dignitate  preditis,  yt  in  suis 
opporlunitalibus  congruum  suscipianl  releuamen,  de  subuentionis  auxilio, 
prout  decens  est,  prouidet  opportuno.  Sane  sancti  Saluatoris  de  Tra- 
uanca,  et  sancti  Pelri  de  Pedroso,  ordinis  sancli  Benedicti,  Rracharensis 
et  Portugalensis  diocesium,  Monasteriis,  que  dileclus  filius  Emmanuel  de 
Sousa,  presbiter,  ex  concessione  et  dispensatione  apostólica  in  commen- 
dam  nuper  obtinebat,  commenda  huiusmodi,  ex  eo  quod  dictus  Emanuel 

1  Akch.  Nac,  Maco  24  de  Bullas,  n.°  25'. 


45i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

illi  hodie  in  manibus  nostris  sponle  et  libere  cessit,  nosque  cessionem 
ipsam  duximus  admiltcndam,  cessanle,  adhuc  eis,  quibus  dum  eidem 
Emanueli  commendala  fuerunt  vaeabant,  modís  vacantibus :  Nos  veros 
et  vltimos  diclorum  monasteriorum  vacationum  modos,  eliam  si  ex  illis 
queuis  generalis  reseruatio,  etiara  in  corpore  juris  clausa,  resultet,  pre- 
sentibus  pro  expressis  habenles,  ac  tam  eisdem  monasteriis  de  guberna- 
lore  vlili  et  idóneo,  per  quem  circumspecle  regí  et  salubriter  dirigí  va- 
leant,  quam  tibi  carissimi  in  christo  filii  noslri  Johannis,  Portugallie  et 
Algarbiorum  Regís  Illustris,  fralri  germano,  et  pro  quo  ídem  Johannes 
Rex  nobis  super  hoc  per  suas  lilteras  humililer  supplicauit,  vt  statum 
tuum  iuxta  pontiíicalis  dignilatis  exigentiam  decentius  (enere  vafeas,  de 
alicuius  subuenlionis  auxilio  prouidere  volcntes,  monasteria  predicta  sic 
vacantia  tibi,  per  te  quoad  víxerís,  eliam  vna  cum  ecclesia  Bracharensi, 
cui  preesse  dinosceris,  eliam  poslquam  munus  consecralionis  tibi  impen- 
sum  fuerit,  lenenda  regenda  et  gubernanda,  de  fralrum  nostrorum  con- 
silio,  apostólica  auctoritate  commendamus,  curam  régimen  et  administra- 
tionem  sancli  Saluatoris,  super  cuius  Yna  terlie  partís  omnium  illius 
fructuum,  reddituum  et  prouenluum  Guídoni  ascanio,  sanclorum  vili  et 
modesti  in  Macello  Martirum  diácono  Cardinali,  Carnerario  nostro,  ac  su- 
per cuius  fructibus  reddilibus  et  prouenlibus  alia  pensiones  annue  Cen- 
tum  et  Quinquaginla  ducatorum  auri  de  Camera  Duranli,  Electo  Alga- 
rensi,  dilectis  filiis  illas  annuatim  percipientibus  dicta  auctoritate  reseruate 
existunt,  que  in  ómnibus  et  per  omnia  salue  sint  et  illese  permaneant, 
sancti  Petri  Monasteriorum  eorundem  tibi  in  spiritualibus  et  temporalibus 
plenarie  commítlendo,  firma  spe  íiduciaque  conceplis  quod,  dirigente  do- 
mino, actus  tuos  Monasteria  predicta  per  lúe  diligentie  laudabile  studium  re- 
gentur  vtiliter,  et  prospere  diiigentur,  ac  grata  in  eisdem  spiritualibus  et 
temporalibus  suscipient  incrementa.  Volumus  autem  quod  propter  huius- 
modi  commendam  in  dictis  Monasteriis  diuinus  cullus,  ac  solilus  Mona- 
corum  et  ministrorum  numerus,  nullalenus  minuatur,  sed  illius  ac  dilecto- 
rum  filiorum  Conuenluum  eorundem  congrue  supporlentur  onera  consuela. 
Et  quod  oneribus  huiusmodi  debite  suppurtalis,  Necnon  Quarla  si  Abbatialis 
separata  et  seorsum  a  Conuentuali,  Si  uero  communis  inibi  mensa  fuerit, 
Tertia  parle  omnium  fructuum  reddituum  el  prouenluum  ipsorum  monasle- 
riorum,  in  restauralionem  illorum  fabricarum  seu  ornamentorum  emptíonem 
vel  fulcimcnlum,  aut  pauperum  alimoniam,  prout  maior  exegerit  etsuase- 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  455 

rit  necessilas,  ómnibus  alus  deduclis  oneribus,  Annis  singulis  impartila,  de 
residuis  fruclibus  redditibus  et  prouentibus  monasteriorum  huiusmodi  dis- 
ponere  et  ordinare  libere  et  licite  valeas,  sicuti  ipsorum  monasteriorum 
Abbates,  qui  pro  tempore  fuerunt,  de  illis  disponere  et  ordinare  polue- 
runt  seu  eliam  debuerunt,  Alienatione  tamen  quorumcunque  illorum  bo- 
norum  immobilium,  et  preciosorum  mobilium,  tibi  penitus  interdicta. 
Quodque  antequam  regimini  et  adminislrationi  dictorum  monasteriorum 
te  in  aliquo  immisceas,  in  manibus  venerabilium  fralrum  noslrorum  La- 
macensis  et  Visensis  Episcoporum,  vel  alterius  eorum,  fidelitatis  debite 
solitum  prestes  iuramentum,  iuxla  formam,  quam  sub  bulla  noslra  milti- 
mus  introclusam,  Quibus  et  eorum  cuiübet  per  alias  nostras  litteras  man- 
damos vt  ipsi,  vel  eorum  aller,  a  te  nostro  et  Romane  ecclesie  nomine 
huiusmodi  recipiant  seu  recipiat  iuramentum.  Quocirca  Discretioni  tue 
per  apostólica  scripla  mandamus  quatenus  curam  régimen  et  administra- 
tionem  Monasteriorum  huiusmodi  sic  per  le,  vel  alium  seu  alios,  gerere 
et  exercere  studeas  sollicile  fideliter  et  prudenter  quod  monasleria  ipsa 
gubernatori  prouido  et  fructuoso  administratori  gaudeant  se  commissa, 
Tuque,  preler  eterne  retributionis  premium,  nostram  et  apostolice  sedis 
benedictionem  et  gratiam  exinde  vberius  consequi  merearis, 

Datum  Rome,  apud  Sanctum  marcum,  Anno  Incarnationis  domi- 
nice  millesimo  quingentésimo  trigésimo  octauo,  Nono  Kalendas  Octobris, 
Pontificatus  nostri  Anno  Quarto1. 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  a  el-Rei. 


1538  —  Sctembr©  28. 


Paulus  Papa  III  Gharissime  in  christo  fili  noster  salutem  et  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecisli  quod  tu,  ut  ad  laudem  et  gloriam  omni- 
poteniis  Dei  Regna  et  Dominia  tua  melius  gubernare  et  administrare  va- 
leas,  et  in  causis  negociis  et  rebus  in  eisdem  tuis  Regnis  pro  tempore 

1  Abch.  Nac,  Mac.  23  de  Bullas,  n.°  11  . 


456  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

occurrentibus  maturius  procedatur,  sacrique  cañones  et  diurna  jura  non 
uiolentur  uel  postponantur,  sed  peramplius  obseruentur,  cupis  in  consi- 
lio  luo  personas  ecclesiasticas  gradúalas  uel  honoralas  interuenire  et 
adesse ;  sed,  quia  aliquae  ex  dictis  personis,  dubitantes  id  absque  sedis 
apostolicae  licentia  eis  non  licere,  se  in  hoc  diíüciles  reddunl,  nobis  hu- 
militer  supplicari  fecisti  ul  personis  ipsis  super  hoc  opportunam  licentiam 
concederé  et  imparliri  dignaremur.  Nos  igilur,  qui  christifidelium,  pre- 
sertim  catholicorum  Principum,  votis  a  bono  zelo  prouenientibus,  quan- 
tum cum  Deo  possumus,  satisfacere  summis  desyderamus  affectibus, 
huiusmodi  supplicationibus  inclinati,  ómnibus  et  singulis  dictorum  Re- 
gnorum  personis  ecclesiasticis,  etiam  in  sacris,  etiam  Presbiteratus,  ordi- 
nibus  constitulis,  etiam  quaecunque  quotcunque  et  qualiacunque  bene- 
ficia ecclesiastica  obtinenlibus,  ut  quam  diu  in  humanis  egeris  in  dicto 
luo  consilio  interuenire  et  inleresse,  et  Ciuiles  causas  in  eo  pro  tempore 
introductas,  non  tamen  ad  forum  ecclesiasticum  spectantes,  audire,  co- 
gnoscere,  el  prout  justitia  suadebit  terminare,  libere  et  licite  ualeant  au- 
ctorilate  apostólica  per  presentes  concedimus  et  indulgemus.  Non  obstan- 
tibus  constilutionibus  et  ordinationibus  apostolicis,  ac  quibusuis,  etiam 
juramento,  confirmatione  apostólica,  uel  quauis  firmitate  alia  roboratis 
slatutis  et  consuetudinibus,  caelerisque  contrariis  quibuscunque. 

Datum  Romae,  apud  sanctum  Petrum,  subAnnulo  Piscatoris,  Die 
xxviii  Seplembris  mdxxxvih,  Ponlificatus  Nostri  Anno  quarto.  —  Blo- 
sius  l . 


Carta  de  Pedro  de  Sonsa  deTavora  a  el-Itei. 


153 8  —  Novembro  29. 


Senhor.  —  Depois  que  a  Vossa  Alteza  escreuy  como  ho  papa  me 
concederá  todos  os  beneficios,  que  vagarom  pollo  bispo  bras  neto,  que 
déos  aja,  soube  que  n  isso  recebera  Vossa  Alteza  desgosto,  com  dizer  que, 
estando  eu  nesta  corle  em  cousas  de  seu  seruico,  nao  auia  de  empetrar 

1  Ahch.  Nac,  Ma$.  7  de  Bullas,  n.°  13. 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  4B7 

beneficios  sern  sua  licenca  ;  e  muilo  menos  na  tal  empetracao  derogar  ho 
indulto  do  Ifianle  Dom  Anrique  :  e  asy  estranhou  tambem  ser  a  dala  de 
minha  prouisao  do  dia  do  fallecimenlo  do  dito  hispo. 

Cerlo,  Senhor,  se  eu  soubera  que  Vossa  Alteza  desta  graea,  que  ho 
papa  me  fez,  nao  auia  de  ser  muy  contente,  nao  somente  a  nao  aceitara, 
mas  nao  me  passara  nunca  por  pensamento  fallar  n ella  ;  porem,  yudo 
eu  por  huma  estrada  que  me  pareceo  muy  trilhada  e  ehaa,  cay  em  huma 
coua  a  my  muy  encuberta,  porque,  nao  me  tendo  Vossa  Alteza  defíeso 
que  aceitasse  beneficios,  e  tendo  eu  uisto  e  sabido  que  todos  os  embaixa- 
dores  de  principes,  que  aqui  ouue,  e  os  de  Vossa  Alteza,  e  de  seus  an- 
tepassados,  empelrarom  gracas  e  beneficios  dos  papas,  a  que  erao  enuia- 
dos,  nao  podia  nem  deuia  imaginar  que,  por  me  Vossa  Alteza  ocupar  em 
seus  negocios,  ouuesse  de  ser  nesla  parle  de  menos  condicao  que  elles, 
ja  que  ho  era  no  nome  merces  e  prouisao ;  e  nao  somente  menos  que 
elles,  mas  que  todos  os  oulros  porluguezes  que  aqui  ha. 

A  sospensao  do  indulto  do  líTante,  que  la  prosopoe  que  eu  íiz,  he 
por  n;io  lerem  praliqua  do  estillo  de  qua,  porque  nisso  ho  papa  nao  fez 
senao  o  que  custuma  em  todas  as  gracas  que  faz,  que  quer  que  ajao 
effeito  sem  embargo  de  lodo  outro  empedimento  ;  e  islo  geralmente  sem 
nomear  a  ninguem,  quanlo  mais  que  nesla  geeralidade  nao  se  podia 
comprender  ho  indulto  do  líTante,  pois  era  notorio  a  lodos  ser  reuogado 
áquelle  tempo,  e  o  foy  depois  por  mais  de  seis  mezes  por  huma  regra 
de  cancelaría,  que  ho  papa  linha  feito  pubricar  muito  antes :  e  em  quanto 
ho  Iffante  teue  Indulto  me  guardey  eu  sempre  de  em  seu  arcebispado 
empelrar  beneficio  alguum,  e  nem  soomente  para  elle  quis  tomar  expe- 
ctativa sendo  de  sua  diócesi,  e  tomando  ha  muytos  oulros. 

O  mandar  me  ho  papa  de  seu  molu  proprio  dar  a  prouisao  do  dia 
da  morte,  he  cousa  que  toca.ao  papa,  e  nao  a  my  mandallo  e  podello 
fazer ;  e  n  estas  cousas  nao  ha  hy  contra  o  que  elle  quer  dispula  alguma. 
E  se  a  my  se  nao  derao  estes  beneficios,  outrem  asy  como  asy  os  ouuera 
d  auer  com  as  mesmas  clausulas  e  condicoes,  que  por  ventura  nao  fora 
tao  seruidor  de  Vossa  Alteza. 

E  se  Vossa  Alteza  os  pedio  para  outrem,  eu  nao  podia  ysso  adeui- 
nhar,  e  lenho  que  aja  la  muy  poucos  que  nem  por  sy  nem  a  Vossa  Al- 
teza os  merecao  milhor  que  eu  :  lodauia,  se  outra  cousa  lhe  parece  ou 
manda,  farey  eu  nisso  tudo  o  que  Vossa  Alteza  julgar  que  eu  boamente 

tomo  ni.  38 


458  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

possa.  Porem  he  necessario,  querendo  Vossa  Altesa  que  eu  desles  bene- 
ficios desponha  em  fauor  doutrem,  que  se  lembre  e  aja  consideracao  que 
sobre  elles  estao  postos  tresentos  e  cincoenta  ducados  de  pensao,  e  que 
mande  que  me  lyrem  desta  obrigacao  e  me  paguem  as  pensoes  que  tenho 
e  tyuer  pagas,  de  maneira  que  fique  eu  ao  menos  sem  daño,  se  Vossa 
Alteza  quer  que  outrem  leue  ho  proueiío, 

Ou,  se  a  Vossa  Alteza  parecer,  o  que  certo  seria  mais  chaa  e  licita 
cousa,  em  quanlo  n  isto  manda  tomar  alguum  meo,  mandar  tambem  que 
me  dem  a  posse  e  fruitos  d  estes  beneficios  para  que  eu  possa  comprir 
com  o  que  deuo,  e  asy  as  cousas  procederiao  por  sua  via,  pois  eu  nao 
ey  de  fazer  senao  o  que  Vossa  Alteza  quizer,  o  que  desta  maneira  seria 
sem  alguum  scrupolo  de  conciencia  e  como  deue,  e  sem  ninguem  poder 
dizer  que  neste  meu  seruico  ha  y  forca  algüa,  que  cerlo  quanto  a  meu 
desejo  de  hüa  ou  outra  maneira  he  sem  ella,  e,  ainda  que  seja  pequeño, 
he  de  minha  pobreza  todo  o  que  eu  posso. 

Beijarei    as   maos   de   Vossa   Alteza  auer  respeito   a   esta    minha 

ara  vontade  para  ho  seruir  e  aos  incom que  se  me  segueni 

grandes,  se  eu  nao  cumpro  com  o  papa  e  com  os  a  que  deu  estas  pen- 
sDes. 

E  nosso  Senhor  a  uida  e  real  estado  de  Vossa  Alteza  acrecenté  e 
conserue  com  toda  a  prosperidade  que  deseja. 

De  Roma,  xxix  de  Nouembro,  1538. 

Vasallo  e  seruidor  de  Vossa  Alteza,  que  suas  reaes  maos  beija.  — 
Pero  de  sousa  de  tauora  x. 


1  Arch.  Níc,  Corp.  Chion.,  Part.  II,  Mac.  6,  Doc.  58. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  459 


Breve  do  Papa  Paulo  III  dirigido  ao  Arcebispo 

do  Funchal. 

153$  —  Dczcmbro  22. 


Paulus  Papa  m.  Tenerabilis  frater  salulem  el  apostolicam  benedi- 
clionem. 

Cum  nuper  charissimus  in  christo  filius  noster  Joannes,  Portugalliae 
el  Algarbiorum  Rex  Illuslris,  nobis,  el  suis  lilleris  et  magna  eliam  ins- 
tanlia  sui  apud  nos  oratoris,  supplicassel  vt  libi,  cuius  opera  apud  se 
ualde  eget,  ne  ad  yniuersale  concilium  uenire  lenearis  indulgere  digna- 
remur :  Nos,  conlemplalionc  eiusdem  Regís,  id  libi  concederé  ea  Iege 
conlenli  fiiimus  vt  omnes  alii  Praelali  sui  Regni,  precipueque  et  anle 
omnes  Dileclus  filius  noster  Gardinalis  vlixbonensis,  omnino  uenirent. 
Quamobrcm,  supplicationibus  dicti  Regis  inclinati,  Tibi,  ul  pro  seruitio 
eiusdem  Regis  in  eius  Regno  absque  "vilo  censurarum  incursu  reraanere, 
nec  ad  ipsum  concilium  uenire  tcnearis,  auctoritale  apostólica  tenore 
presenlium  concedimus  et  indulgemus.  Non  obslanlibus  constitutionibus 
et  ordinationibus  apostolicis  ac  lilteris  nostris,  lam  sub  plumbo  quam  in 
forma  Rreuis,  generaliter  uel  spetialiter  contra  le  emanalis,  caelerisque 
contrariis  quibuscunque. 

Datum  Romae  apud  sanctum  Petrum,  sub  Annulo  Piscatoris,  Die 
xxii  Decembris,  mdxxxyiii,  Ponlificatus  Nostri  Anno  Quinto.  —  Blo- 
sius  l . 


1  Ahcb.  Nac.  Mac.  37  de  Bullas,  n.°  59. 

58 


160  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Carta  do  cardeal  Santicjuatro  a  el-Rei. 


1538  —  JDezembro  23. 


Senhor.  —  Nam  duuido,  antes  sou  cerlo,  dom  pedro,  enbaixador 
de  Vosa  Magestade,  lhe  escreuer  por  este  coreo  quanlo  pode  fazer  e  por 
mym  foy  feito  acerqua  do  negocio  das  dizimas,  e  por  esta  causa  pouco 
necesario  fora  o  meu  screuer ;  porem,  por  salisfazer  em  parte  ao  que 
deuo,  quis  eu  dar  aínda  a  Vosa  Magestade  particular  conla  d  iso,  a  qual 
saiba  que,  como  aquy  foy  chegado  o  seu  deradeiro  coreo,  e  o  embaixa- 
dor  vio  por  sua  carta  quanto  Vosa  Magestade  deseiaua  nao  se  pórem  as 
dizimas  em  seu  Regno,  e  quantas  rezoes  alcgaua  pera  se  nao  deuerem 
de  por,  apartadamente  primeiro  do  seu  embaixador,  e  despois  juntamente 
com  ele,  fiz  quanto  pude  pera  persuadir  a  yso  Sua  Santidade ;  mas  as 
suas  rezoes  em  contrayro  erao  tantas  que  me  pareceo  imposiuel  poderse 
alcancar  de  Sua  Santidade  quanlo  Vosa  Magestade  desejaua.  E  o  mesmo 
pareceo  ainda  ao  embaixador,  o  qua],  cuidando  despois  em  alguum  meyo 
pera  se  concertar  com  Sua  Santidade,  o  comunicou  comigo.  E  parecen- 
do  me  que  tinha  n  iso  bem  cuidado,  fiz  que  logo  lomásemos  juntamente 
a  Sua  Santidade  pera  lhe  dizermos  tudo  e  Irabalharmos  de  concruyr 
huum  de  qualro  partidos,  que  ele  tinha  cuidado ;  mas  ainda  ysto  nam 
aproueitou.  Os  partidos  erao  estes  : 

Ho  primeiro  fazer  huum  presente  a  Sua  Santidade  pera  que  nao 
pósese  dizimas  em  portugal. 

Ho  segundo  que,  quando  Sua  Santidade  pósese  as  dizimas  e  as  le- 
uase  pera  sy  nos  outros  Regnos  e  senhorios  de  christaos,  da  mesma  ma- 
neira  as  pósese  e  leuase  no  Regno  de  Portugal. 

Ho  terceiro,  querendo  todavía  por  as  duas  dizimas  em  porlugal, 
fosem  e  se  leuasem  pera  Vosa  Magestade;  e  que  ela  fizese  aquy  pagar  a 
Sua  Santidade  vinte  myl  ducados  douro. 

Ho  quarlo  que,  querendo  todavía  Sua  Santidade  participar  das  duas 
dizimas,  ouuese  das  tres  parles  a  bufia,  c  Vosa  Magestade  as  duas  par- 


RELACÓES  COM  A  CUBIA  ROMANA  461 

tes,  com  deputar  dous  Coleitores,  huum  por  Sua  Santidade  e  oulro  por 
Vosa  Magestade,  e  huum  depositario  comuum. 

Nao  aprazendo  a  Sua  Santidade  alguum  d  aqüestes  quatro  partidos, 
e  respondendo  ao  enbaixador,  e  o  enbaixador  repricando  pelo  que  toca  va 
a  Vosa  Magestade  asy  quenlemente  como  convinha  ao  desejo  que  lem  de 
servir  Vosa  Magestade,  pareceo  me  ser  necesario  por  me  no  meo  pera 
que  Sua  Santidade  e  o  enbaixador  podesem  sem  altcracíio  dizer  e  repli- 
car quanto  lhes  ocorese.  E  depois  de  se  muyto  descutir,  o  embaixador 
se  conlenlou  que  de  novo  proposese  ao  papa  em  scrito  o  que  Vosa  Ma- 
gestade verá ;  ao  que  o  papa  respondeu  tambem  em  scrito  o  que  asi 
mesmo  Vosa  Magestade  verá.  A  qual  reprica  nao  aprazendo  ao  enbaixa- 
dor, ajuntou  huum  capitulo,  o  qual  per  nenhuüa  maneira  o  papa  quis 
aceitar,  e  pos  outro  capitulo,  o  qual  aínda  nao  aprouue  ao  embaixador. 
O  que  visto  por  mym,  persuadió  a  que  se  contentase  d  este deradeiro par- 
tido, e  nao  íizese  instancia  de  mudar  ou!ro,  porque,  saliendo  o  papa,  se- 
ria duro  em  ludo,  ou  proporia  outras  cousas  menos  pera  Vosa  Mages- 
tade salisfazer. 

Ho  partido  he  que  as  duas  dizimas  se  recolhao  per  dous  coleitores, 
huum  do  papa  e  oulro  de  Vosa  Magestade.  E  que  todos  os  dinheiros  se 
deposilem  em  huum  depositario  de  fee  e  de  idónea  faculdade,  nomeado 
por  Vosa  Magestade  com  consentimento  do  nuncio  de  Sua  Santidade, 
com  dar  sempre  cédulas  duplicadas  aos  ditos  dous  coleitores  de  tudo  o 
que  receber ;  e  que  nao  pague  dos  ditos  dinheiros  nada,  senao  per  or- 
dem  de  Sua  Santidade  e  de  Vosa  Magestade  juntamente,  per  scritura  asi- 
nada  de  suas  proprias  maos. 

Este  partido  me  aprouue  mais  que  nenhuum  outro.  E  peco  a  Vosa 
Magestade  que  se  contente,  porque  tem  causa  de  se  contentar,  e  faca 
fauor  á  recadacao,  pois  que  déla  se  nao  ha  de  despoor  sem  vontade  de 
Vossa  Magestade.  A  qual  saiba  como  aos  vinte  mil  cruzados,  oferecidos 
polo  seu  enbaixador,  ofereci  eu  de  ajunlar  mais  cinquo  mil.  ítem  :  d  onde 
o  embaixador  oferecia  o  terco,  eu,  contra  sua  vontade,  oferecy  ao  papa 
a  metade.  Nao  foy  posiuel  alcancar  huum  nem  o  outro,  porque  sempre 
Sua  Santidade  insistió  em  querer  os  dous  tercos,  e  Vosa  Magestade  o 
terco.  Por  este  partido,  que  se  manda,  nao  se  declara  cousa  alguuma, 
senao  que  ludo  se  recolha  e  se  deposite  a  comuum  disposieao  de  Sua 
Santidade  e  de  Vosa  Magestade,  e  nao  em  outra  maneira.  A  qual  cuide 


462  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

naquylo  que  mais  Ihe  compre,  ou  tratar  a  composicao  com  o  nuncio, 
ou  aquy  com  o  papa  por  seu  enbaixador.  O  nuncio  averá  faculdade  am- 
plísima per  breue  chumbado  pera  poder  fazer  composicao  com  Vosa  Ma- 
gestade  :  querendo  em  oulra  maneira,  o  negocio  se  tratará  e  concluyrá 
aquy  segundo  a  comisao  de  Tosa  Magestade.  Á  qual  peco  que  se  queira 
concertar  com  Sua  Santidade,  pois  vee  a  necesaria  e  mais  que  necesaria 
causa  de  tal  imposicao,  porque,  certo,  o  aparato  e  movimento  do  papa, 
do  emperador,  e  dos  venezeanos,  co  ajuda  que  daa  o  chrislianisimo  Rey, 
lie  tal  que  dos  Romaos  pera  qua  nao  foy  feito  nem  visto  nem  ouuido, 
polo  qual  podemos  julgar  que  seja  causa  da  total  ruina  dos  Cristaós, 
que  déos  nao  queira,  ou  dos  infiees,  que  mais  s  espera.  A  despeza  do  di- 
nheyro  he  pera  nao  crcr;  nem  parece  ser  postad  que  os  principes  cris- 
taós o  posao  sofrer,  nao  contribuindo  o  Rey  cristianísimo  mais  que 
trinla  mil  cruzados  cada  mes,  e  nao  tendo  nisío  parle  alguüa  el  Rey  de 
Ingraterra  por  ser  de  todo  apartado  dos  Crislaos,  e  que  sem  ajuda  da 
clerezia  vniuersal  o  papa  posa  sofrer  o  peso  a  que  he  obrigado.  Quando 
Vosa  Magestade  viir  partir  o  emperador  despanha  e  viir  a  ñapóles,  seja 
certa  que  a  empresa  se  fará ;  e,  fazendo  se,  a  nenhuíía  cousa  he  mais  ne- 
cesario acudir  que  a  provisao  de  dinheiro,  o  qual  he  uerbo  da  guerra. 
Conheco  que  Vosa  Magestade  lem  muytas  necesidades  da  India  e  dafri- 
qua,  mas  que  déos  Ihe  tem  feylo  graca  de  as  poder  sofrer  sem  carega 
da  clerezia,  porque  pela  ventura  nunca  mais  em  nossos  tempos  se  acon- 
tecerá fazerse  huum  aparcebimento  da  pesoa  de  huum  emperador  de 
chrislaos  contra  o  turquo  quanto  ao  presente. 

Se  Vossa  Magestade  pódese  concertarse  co  papa  que  ouuese  a  me- 
tade,  certo  me  parecería  cousa  conviniente  por  huuma  parte  e  pela  oulra, 
ainda  que  por  esta  vez  pedise  a  Vosa  Magestade  nao  ouuese  por  graue 
dar  ao  papa  qualquer  oulra  cousa  de  mais,  nao  polas  dizimas  mas  pola 
concesam  da  Inquisicaó,  pela  qual,  mediante  Aluaro  mendez,  eu  oferecy 
a  Sua  Santidade  que  Vosa  Magestade  Ihe  faria  qualquer  graca  ;  na  qual 
ainda  que  Sua  Santidade  nunqua  me  falase,  quando  os  efeylos  respon- 
desem  ás  minhas  palauras  e  ás  d  aluaro  mendez,  cuido  que  Ihe  nao  será 
cousa  desagradauel.  Déos  sabe  que  tal  he  minha  tencao  pera  o  papa  e 
pera  Vosa  Magestade,  e  o  seu  embaixador  Ihe  poderá  dar  d  iso  mais 
conta.  E  n  islo  faco  fim  oferecendo  me,  e  encomendando  sempre  na  boa 
graca  de  Vosa  Magestade  meu  seruico ;  remetendo-me  em  toda  outra 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  4  63 

cousa  a  seu  embai\ador,  porque  sey  que  largamente  o  fará  por  sua  carta. 
E  benauenturadamenle  valeat. 

De  Roma  a  xxm  de  dezembro  de  1538. 

De  mao  do  cardeal  —  Todo  o  de  cima  do  deradeiro  capitolo  screuo 
de  mym,  sem  o  saber  noso  senhor,  o  qual  nao  quis  conceder  mais  a 
Vossa  Mageslade  que  o  terco.  Eu  farey  o  que  puder  por  seu  seruico, 
mas  ela  cuyde  quanlo  me  poso  prometer  de  Sua  Sanlidade  neste  negocio 
e  nesles  lempos. 

De  Vosa  Mageslade  humil  seruidor  A.  Cardeal  de  Sanliquatro  — 
Mayor  penelenciario  l. 


Carta  de  D.  Pedro  Masca  renhas  a  el-Rei. 


1538 — Dezembro  24. 


Senhor — Na  dilacao  desfe  correo  pode  Vossa  Alteza  bem  julgar 
quanto  Irabalhey  por  dilatar  este  negocio  das  decimas,  como  a  milhor 
cura  que  nelle  ha,  e  nom  por  falla  de  me  Sua  Sanlidade  aperlar  per 
inultas  vezes  na  concrusao  do  negoceo  :  mas  eu  me  aproueitey  de  todas 
as  dilacoes  que  pude,  ás  vezes  amostrando  querer  Iratar,  e  outras  com- 
fesando  nom  ter  comisao  de  Vosa  Alteza  pera  mais  que  o  que  lhe  de  sua 
parle  tinha  dito.  E  quando  semtia,  ou  mo  dauam  a  emtemder,  queryam 
despachar  a  seu  nuncio,  mouia  alguns  apontamentos,  delles,  que  eu  sa- 
bia que  me  nom  avyam  de  receber,  e  outros  mais  arrezoados,  proso- 
pondo  sempre  nom  ter  pera, o  tall  comycao  de  Vossa  Alteza,  senam  como 
quem  buscaua  meos  de  escusar  escandolos  e  poder  contentar  as  partes, 
quando  nom  em  todo,  em  parte,  ofrecendo  me  a  por  minhas  cartas  pro- 
suidir  Vossa  Alteza  que  Iho  parecese  asy  bem.  E  nisto,  senhor,  durey 
dous  meses,  que  á  ja  que  boroa  ca  chegou,  amostrando  sempre  querer 
despachar  estoutro  correo  cada  somana.  Relatar  per  estenso  tudo  o  que 
dise,  e  me  diseram,  em  quantas  vezes  faley  ao  papa  soo,  e  outras  acom- 


1  Traduccao  contemporánea  no  Abch.   Nac,   Corp.   Chron.,   Part.  I,  Mac.   63, 
Doc.  83. 

I 


i6i  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

panhado  com  sanliquatro,  e  oulras  santiqualro  sem  mym,  leixarey  por  es- 
cusar  prolixidade.  Somenle  direy  o  que  nom  poso  escusar  do  que  faz  ao 
caso,  por  honde  Vossa  Alteza  poderá  ver  que  me  nom  ficou  nada  por  fazer. 

Primeramente  na  primeira  fala,  que  liue  com  Sua  Sanlidade,  lhe 
dise  ludo  o  que  me  Vossa  Alteza  per  sua  carta  mandou,  e  todo  ho  mais 
que  mo  lempo  ca  deu,  que  seruia  á  malerya.  Ao  que  logo  me  respon- 
deu  com  ho  que  ja  me  tinha  dito  outras  muilas  vezes,  e  eu  tenho  es- 
prito  a  Vossa  Alteza.  E,  por  me  nom  ficar  o  cabo  cortado,  lornay  a  me- 
ter em  pnatica  peramte  Sanliquatro,  que  era  prezente,  o  que  lhe  ja  tinha 
dito  em  tibolle,  como  nom  pidia  a  Vossa  Alteza  algua  ajuda  de  armada 
em  fauor  da  lygua  ;  e  dar  lhe  as  décimas  pera  este  efeilo,  e  pera  as  mais 
comquistas  que  tinha  comtra  emfieies?  E  quanto  eu  mais  sabia  que  elle 
isto  menos  querya,  mais  rezoes  lhe  dey  por  onde  nenhuma  oulra  com- 
panhya  pudia  ser  mais  utile  á  armada  da  lyga  que  a  das  caravelas  de 
purlugall,  e  com  ellas  Sua  Sanlidade  poder  bem  escusar  hüa  boa  parte 
do  gasto,  que  fazia  com  as  suas  gales.  lio  cardeall  samtiquatro,  a  quera 
isto  pareceo  muy  bem,  tomou  a  mao  a  prosuidir  o  papa  que  nenhua 
oulra  cousa  lhe  podia  estar  milhor  nem  mais  proueitosa  pera  ho  mesmo 
feilo.  E  que  a  armada,  que  lhe  Vossa  Alteza  podia  mandar,  serva  pro- 
pia sua,  e  que  a  que  agora  Irazia,  aimda  que  ho  gaslo  era  seu,  ho  nome 
era  de  uenezeanos  polas  gales  serem  suas  e  fazerem  o  que  seu  general  1 
querya.  E  outras  rezoes  eficaces  pera  este  efeito. 

Ho  papa  nos  respomdeo  que  tudo  aquilo  asy  era ;  mas  que  Vossa 
Alteza,  pola  obrygacao  que  tinha  a  sy  mesmo  e  a  seus  amlepasados  e 
profisao  da  Coroa  de  purlugall,  sem  se  falar  ñas  decimas,  tinha  obryga- 
cao de  ajudar  e  fauorecer  tam  samla  empreza  como  esta  comlra  ho  lur- 
(juo,  mormente  ¡nido  nella  em  pesoa  o  emperador  seu  Irmao  e  Sua  San- 
lidade com  toda  sua  velhice:  e  mais  avendo  de  ser  nella  ho  Infante 
dora  Luis,  a  cuja  pesoa  só  Vossa  Alteza  deuia  mandar  a  tall  armada, 
onde  serya  tam  bem  e  milhor  empregada  que  na  jornada  de  tunes.  E 
que  elle  auia  mister  as  suas  decimas  da  igreja  pera  compryr  com  a  sua 
parte,  a  que  estaua  obrygado  pera  esta  comquysta  de  mar  e  de  lera  ;  e 
que  ho  nom  podia  emtemder  doutra  maneyra. 

E  por  Sua  Sanlidade  ás  eraras  me  dizer  o  que  ja  auia  dias  que  eu 
nelle  emlendia,  que  era  aver  por  cerlo  que  Vossa  Alteza  auia  de  man- 
dar sua  armada  com  o  emperador,  e  o  Infante  aver  de  uir  em  sua  com- 


RELACÓES  COM  A  CUHIA  ROiMANA  465 

panhya,  e  que  eu  Ihe  querya  meter  em  descorito  das  decimas  o  que 
Vossa  Alteza  asy  coma  asy  sem  ellas  auia  de  fazer,  pollo  tirar  d  aquella 
opiniam  Ihe  dise  que  Sua  Santidade  eslaua  mal  enformado,  e  que  daly 
uinha  nom  Ihe  parecer  bem  meu  conselho  ou  lenbranca  que  !he  fazia.  E 
porque  perdese  aquello  pensamento,  eu  Ihe  juraua  n  üa  vera  cruz,  que  tra- 
zia  ao  pescoco,  que  ale  aquella  ora  eu  nom  sabia  que  Vossa  Alteza 
oimese  de  mandar  nenhíía  armada  com  ho  emperador  nem  em  fauor  da 
lygua  ;  amtes  o  que  sabya  era  que  hüa  so  carauella  nom  uirya  de  pur- 
tugall,  senam  se  fose  em  seruico  de  Sua  Santidade,  polo  oferecimenlo 
que  da  parle  de  Vossa  Alteza,  Ihe  linha  feilo.  E  que  ainda  d  este  ofereci- 
mento  Sua  Santidade  querya  bem  desobrygar  Vossa  "Alteza  com  ho  bom 
Iratamenfo,  que  suas  cousas  amte  elle  rccebiam,  e  pouca  graca  que 
achaua  amte  Sua  Santidade  ñas  cousas  que  muy  justamente  Ihe  man- 
daua  requercr.  E  que,  quanto  ao  Infante  dom  luis  aver  de  uir  com  ho 
emperador,  isto  sabia  eu  mnito  menos;  amtes  sabya  que  elle  nom  farya 
senam  o  que  Ihe  Vossa  Alteza  mandase.  E  que  Vossa  Alteza  nom  eslaua 
em  lempo  de  trabalhar  mais  seu  Reino,  do  que  estaua,  em  jogo  alheo, 
lemdo  ao  presente  lautas  cousas  propias  abertas  a  que  acodir  com  seu 
eslado  e  com  ha  pesoa  de  seu  Irmao  quando  compryse,  as  quaies  nom 
eram  menos  inporlanles  á  crystimdade  que  esloutra  empresa  do  turquo, 
senam  quanto  estoutra  era  voluntaría  e  por  comquislar,  e  as  de  Vossa 
Alteza  eram  forsadas  e  por  defemder  o  ganhado,  e  tapar  as  portas  a  nom 
entra rem  os  mouros  em  espanha.  E  o  que  Vossa  Alteza  fazia  era  so  com 
as  despezas  de  sua  coroa  e  uasalos,  sem  ajutoryo  doutrem  ;  e  o  que  elles 
ca  faziam  era  de  companhyas,  em  que  cada  hum  delles  emtraua  por  seu 
particular  entérese,  aimda  que  ludo  jumto  fose  bem  comum  da  cristim- 
dade.  Que  eu  Ihe  dizia  e  alembraua  lodas  estas  cousas  pollo  que  deuia 
o  meu  carego ;  e  tambem  por  descarego  de  minha  comciencia,  asy  ao 
presemle  como  no  porvir.  E  que  sopricana  a  Sua  Santidade  que  quisese 
oulhar  milhor  o  que  me  linha  dito ;  e  que,  quando  nom  quisese,  que 
respomderya  a  Vossa  Alteza  o  que  me  Sua  Santidade  mandase,  que  eu 
sabia  certo  que  Vossa  Alteza  respondería  a  Sua  Santidade  conformándose 
com  ho  que  Ihe  parecese  mais  seruico  de  noso  senhor  e  bem  de  ambos 
de  dous. 

Com  este  meu  juramento  e  porlestacao  o  papa  amostrou  apertar 
hum   pouco  os  ombros,  e  me  dise  que  elle  querya  cuidar  no  que  Ihe 

TOMO  ni.  59 


466  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tinha  dito,,  e  dar  comía  de  sy  aos  parceiros  daMyga.  E  dise  ao  cardeall 
Samtiqualro  e  a  mym  que  nos  rogaua  que  nos  tambem  cuidásemos  no 
que  nos  linha  dilo,  e  nos  ajumlasemos  a  pralicar  o  negoceo  ;  e  que  de- 
poís  nos  ajumlariamos  todos  tres. 

N  este  cuidar  e  praticas  com  ho  cardeall  dilaley  os  dias  que  pude, 
ale  que  o  cardeall,  sobre  replicas  e  trepicas  que  liuemos,  mandado  do 
papa  me  dise  que  Sua  Santidade  se  resoluia  em  nam  querer  de  porlugall 
senao  dinhciro.  Eu  Ihe  dise  que  cu  nam  tinha  comisao  de  Vossa  Alteza 
pera  dar  dinheiro,  nem  oferecer  armada,  nem  cometer  partidos,  senam 
sopricar  a  Sua  Sanlidade  que  nom  quisese  agrauar  Vussa  Alteza  em 
Sua  Sanlidade  ser  o  primeiro  pomtifice,  que  empunha  decimas  em  pur- 
tugall  pera  as  Irazer  a  Italia,  esiamdo  ese  Reino  em  custume  de  lam- 
los  anuos  Ihe  nunca  serem  postas  senam  pera  a  defemsao  do  mcsmo 
Reino  e  quonquislas  comlra  Infieyes.  E  porque  Sua  Sanlidade  vyse  que 
a  temcao  de  Vossa  Alteza  nom  era  tirynisar  os  creligos,  como  em  oulras 
parles  se  fazia,  antes  defemdel  os  polos  muylos  ser u icos,  que  naquesas 
parles  a  noso  senhor  faziam  e  á  coroa  de  porlugall,  c  com  suas  despe- 
sas, quando  comprya,  ajudarem  Vossa  Alteza  comlra  os  Iníieies,  que  eu 
me  oferecia  dar  aquy  a  Sua  Santidade  dez  myll  crusados  morios,  com 
lamió  que  nem  pera  sy  nem  pera  Vossa  Alteza  métese  as  décimas. 

Com  esta  reposta  lornou  ho  Cardeall  Sainliqnatro  ao  papa,  com  me 
dizer  prymeiro  que  Sua  Sanlidade  a  nom  receberya.  Dcpois  me  tornou 
a  dizer  que  o  papa  nom  era  cnmtemte  de  minha  oferta,  e  que  lodauia 
querya  suas  decimas,  pois  de  I u re  erare  suas;  e  me  mandaua  pedyr  que 
eu  esprevese  a  Vosa  Alteza  que  Ibas  nom  quisese  empedir,  pois  elle  as 
nom  podia  escusar,  e  as  auia  de  precurar  per  todas  as  vías  que  a  elle 
eram  licitas.  Mesturado  com  islo  me  dise  o  cardeall  que  Ihe  parecía  que, 
comsemtindo  Vossa  Alteza  ñas  decimas,  que  ho  papa  Ihe  daria  nellas  a 
lerca  parle;  e  nom  que  ho  papa  Iho  disese,  senam  que  das  praticas  que 
tiueram  o  entendía  asy.  Eu  Ihe  respondí  que  Vossa  Alteza  nom  perlere- 
dya  senam  que  se  nom  reetesem  decimas  em  purlugall,  e  que,  quando 
as  comsenlise,  me  parecía  que  Sua  Sanlidade  tomarya  a  parle  que  Ihe 
desert  ;  mas  que  eu  ii  ya  responder  a  Sua  Santidade  ao  que  me  mandaua 
dizer.  Ao  cardeall  pareceo  que  era  asy  milhor. 

A  o  outro  día  fuy  ao  papa,  e  me  lemenley  da  reposta  que  Sua  San- 
tidade me  mandara  polo  cardeall  Samliquatro,  tornando  Ihe  a  terebrar 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  4fi7 

íudo  o  que  Ihe  ja  da  parle  de  Vossa  Alteza  linha  dito.  E  de  mym  lhe 
lorney  a  relatar  o  que  elle  obraua  nesla  parle  com  os  outros  Reies,  que 
estauatn  na  obidiencia  da  sé  apostólica,  c  o  que  querya  obrar  com  Vossa 
Alteza,  que  nom  era  menos  Rey  e  poderoso  em  seus  Reinos,  que  cada 
hum  dos  outros  nos  seus.  E  que  no  seruico  de  déos  e  obidiencia  da  sé 
apostólica,  sem  prejuizo  de  nenhum  dos  outros  Reies  católicos,  se  uia 
bem  o  que  Vossa  Alteza  fazia  com  quam  pouco  interese  seu  particular 
era.  E  que  Sua  Sanlidade  deuia  de  dar  mais  gracas  e  louuores  a  Vossa 
Alteza  de  suas  obras,  que  dar  lhe  malerya  descamdolos,  que,  segundo  eu 
vya,  se  nom  poderiam  escusar. 

E  que  lambem  alembraua  a  Sua  Sanlidade  que  neste  lempo,  em  que 
se  elle  fazia  lam  proue  pera  esta  empresa  do  lurquo,  daua  em  dolé  a 
seu  neto  quinhenlos  mili  cruzados,  amtre  o  dolé  e  despezas  desle  caza- 
mento  :  e  trataua  dar  oulros  duzenlos  mili  em  framca  com  outra  sua 
neta.  E  que  neste  mesmo  tempo,  por  fazer  so  juslica  a  huum  cavaleiro 
priuado,  linha  mouido  güera  ao  duque  dorbino,  pera  a  quall  auia  mis- 
ler  cada  mes  satenta  mili  cruzados,  e  duraría  o  tempo  que  déos  quisese. 
E  que  nom  parecya  cousa  justa  que,  podemdo  Sua  Santidade  fazer  lama- 
nhas  despesas  esturdinarias,  ouuese  com  nome  da  güera  do  turquo,  que 
tambem  era  voluntaria,  pedir  decimas  a  purlugall,  sem  ñas  ategora  pidir 
a  nenhum  oulro  Rey.  E  que  quanlo  ao  que  me  Sua  Santidade  linha  dito 
de  tambem  aver  de  leuar  as  decimas,  e  mais  que  decimas,  de  castella  e 
de  framca,  e  que  ja  as  la  linha  mandado  pralicar  com  os  Reies,  que  eu 
lhe  dezia  que,  posto  que  nesla  parte  Vossa  Alteza  deuia  ser  aceicoado 
dos  outros  Reies,  que  nom  linham  tam  comtinoa  güera  comtra  os  In- 
fieys,  como  Vossa  Alteza,  que,  polla  empresa  ser  lall  em  que  Sua  San- 
lidade quería  meler  sua  pesoa,  que  me  parecía  justo  Sua  Sanlidade  me- 
ter as  decimas  em  porlugall,  com  tanlo  que  nom  tirase  delias  pera  sy 
mais  que  outro  lanío  como  leuase  de  castella  e  de  framca,  e  leixase  a 
Vossa  Alteza  outro  tanlo  como  leixasse  ao  emperador  e  a  elrey  de  framca, 
respeitiuamente  ao  que  se  tirase  em  cada  Reino. 

Ho  papa  recebeo  com  paciencia  tudo  o  que  lhe  dise,  porque  eu  tam- 
bem o  fiz  com  todas  as  saluas  diuidas,  e  pedindo  lhe  liccmca  pera  lhe 
falar  craro  ludo  o  que  naquele  caso  emtemdia  e  comvinha  a  seu  seruico 
e  ao  de  Vossa  Alteza.  A  tudo  me  repricou,  comecando  que  elle  Un  ha 
Vossa  Alteza  e  a  suas  cousas  naquelle  grao,  que  se  deuia  a  sua  Real  I 

59  * 


468  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

pesoa  c  gramdeza  de  sua  coroa,  e  asy  Ihe  linha  o  mesmo  amor  sem  fa- 
zer aceicao  de  oulro  nenhum  primcepe.  E  que  em  cryslianysymo  e  bom 
seruidor  da  samla  sé  aposlolicn,  sem  ofensa  dos  oulros,  Vossa  Alteza  e 
sua  «oroa  de  amligamenle  fazia  vamlajem  a  muüos,  pollo  que  lambem 
da  Sé  apostólica  era  bem  merylo  amlre  os  oulros  Reies,  polas  mesmas 
rezoes  Vossa  Alteza  ñas  cousas  de  lamto  seruico  de  déos  e  aumento  da 
samta  Sé  apostólica  deuia  ser  o  primeiro,  e  com  quem  se  dése  emxem- 
pro  aos  oulros. 

E  quanto  a  seus  gastos  eslordinarios,  gastón  nislo  muilo  lempo  dam- 

do  me  mu  y  tas  rezoes,  que  lhe  a  elle  eslam  bem,  fumdado  que  por  amor 

d  estes  dois  princepes  se  fiarcm  mais  delle,  e  os  poder  Irazer  á  paz  em 

que  eslauam,  fora  nececario  fazer  seu  paremtado  com  ho  emperador.  E 

que  aimda  o  dote  de  sua  filha  o  emperador  o  con  ver  tía  nesla  empieza 

do  turquo.  E  quanlo  á  güera  dorbyno,  que  lhe  era  (oreada  pola  desobi- 

diencia   daquelle  seu   vasallo.  E  outras  rezoes  d  esta  catidade,  que  na 

Rota  de  parys  nom  sei  se  Ihas  amilariam.  E  quanto  a  eu  dizer  que  elle 

leuasse  das  decimas  de  purtugall  oulro  tanto  como  das  de  caslelfa  ou  de 

framca,  que  elle  era  comiente  ;  mas  que  na  segunda  parle  de  elle  dar  a 

Vossa  Alteza  oulro  lanío  dellas,  como  daua  ao  emperador,  que  isto  nam 

era  iguall,  porque  o  emperador  melia  na  empieza  a  pesoa  e  a  fazenda, 

tomado  so  sobre  sy  a  melade  de  lodo  ho  gasto,  e  que  asy  era  rezao  le- 

uar  lambem  a  mayor  parte  das  decimas,  o  que  nom  era  a  Vossa  Alteza 

ficando  em   seu  Reino  e  sem   meter  nenhum  gasto  na  jornada.  E  que, 

quanto  a  framca,  ale  as  cousas  da  paz  nom  acaba rem  d  asentar  de  lodo, 

como  desejaua  e  precuraua,  amtre  estes  dous  primeepes,  nom  ousaua 

forcallo  n  estas  cousas  da  Igreja,  porque,  lambem  falamdo  ludo,  eIRey 

de  framca,  em  quanto  o  emperador  nom  acabase  com  elle  dasemtar  sua 

paz,  a  quall  nom  podía  ser  verdadeira  senam  medeamle  alguns  casamen- 

tos,  e  damdolhe  miláo,  eIRey  nom  coinsemtyrya  tirar  de  seu  Reino  com 

que  a  parte  do  emperador  se  fizese  mor ;  e  que  por  vemlura  lhe  nom 

pesarya  ler  o  emperador  mais  necesidade  delle  pera  esla  empreza  do  que 

aimda  Ünha.  Asy  que  ao  presente,  no  das  decimas,  se  nom  podía  fazer 

comparacao  com  framca. 

Mas  que  elle  serya  comtemle,  se  Vossa  Alteza  quizese  leixar  meter 
as  decimas,  por  se  emtrelamlo  nom  perder  lempo  em  se  islo  auiryguar, 
que  se  metam  per  dous  coleitores,  hum  seu  e  oulro  de  Vossa  Alteza,  a 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  460 

quem  Sua  Santidade  dará  sua  aulurydade,  e  que  per  ambos  de  dous  se 
recolham.  E  tudo  o  que  se  recolher  se  deposyte  em  mao  de  huma  pesoa 
fiell  e  abonada,  quall¡¡- Vossa  Alteza  ordenar  de  parecer  de  seu  nució.  O 
quall  depositario,  depois  de  loda  a  soma  recebida,  dará  hum  conheci- 
mento  do  recebido  a  seu  nució,  e  oulro  tall  a  quem  Vossa  Alleza  por 
sy  ordenar,  no  qual  decrarará  a  comtia  que  liuer  recebida,  e  nom  aver 
de  dar  nem  gastar  algüa  cousa  dése  dinheiro  senam  da  uontade  e  man- 
dado de  Sua  Santidade  e  de  Vossa  Alleza  juntamente,  e  por  asynados  de 
suas  proprias  míos.  Ejque  este  deposyto  estará  ate  se  detreminar  amtre 
Sua  Santidade  e  Vossa;  Alteza  a  parle  que  cada  hum  ouuer  d  aver. 

Eu,  senhor,  lhe  respondí  que,  se  Sua  Santidade  mandaua  que  eu 
espreuese  nquilo  a  Vossa  Alleza  como  reposta  sua  ao  que  lhe  linha  dilo 
da  parte  de  Vossa  Alteza,  que  eu  o  tarta  ;  e  que  Sua  Santidade  mo  man- 
dase dar  por  esprilo  o  que  me  dezia,  pera  o  asy  mandar  a  Vossa  Alleza. 
Sua  Santidade  me  dise  que  era  comlemte  de  mo  mandar  dar  per  esprito, 
e  me  rogaua  que  ho  mandase  a  Vossa  Alleza,  e  que  lhe  notificase  per 
rninha  carta  as  causas,  que  o  forcavam  a  querer  estas  decimas.  E  que 
tamben)  pedise  a  Vossa  Alleza  que  a  reposta  d  es!e  seu  esprito  dése  la  a 
seu  nució,  a  quem  mandaua  poder  pera  se  tudo  por  em  obra,  e  nom  se 
perder  lempo.  Eu  promety  a  Sua  Santidade  que  tudo  o  que  lhe  linha 
dilo,  e  me  elle  dezia,  espreverya  a  Vosa  Alteza,  como  nesla  faco. 

Ho  esprilo  mando  com  esta.  Creo  que  oulro  tall,  com  a  mais  de- 
Ireminaeáo  de  sua  vonlade,  irá  ao  nució.  Eu  senhor  o  aceitey  como  ho 
milhor  meo,  que  nesla  cousa  de  ca  podia  mandar  a  Vossa  Alteza,  nom 
semdo  o  propio  que  Vossa  Alteza  pedia ;  porque,  pera  dilacao,  este  he 
o  caminho,  pois  tica  em  sua  mao  querer  ou  nam  querer,  e  estamdo  lhe 
bem,  no  modo  do  como  pode  dilatar  com  o  nució  quanlo  quizer,  que 
elle  se  comlemtará  com  lhe  abrir  querel  as  comsemtir  com  as  condieoes 
que  poser.  E  em  serení  asy  ou  asy  se  gastarám  oulros  dias.  E  em  quem 
será  o  coleitor  por  Vossa  Alteza  averá  oulra  demora.  E  no  recolher  das 
decimas  se  fará  com  o  vagar  que  Vossa  Alleza  quizer.  E  depois  de  reco- 
lhydas  e  deposytadas,  fica  o  leixal  as  tirar  pera  ca  lamto  á  desposicao  de 
Vossa  Alleza,  como  agora  está  ho  nom  leixal  as  meter.  Senam  quanlo 
lera  o  dinheiro  fora  do  poder  dos  crelegos  e  perlados,  que  am  mor  ruedo 
ás  escumunhoes.  E  des  que  o  dinheiro  esliuer  deposylado,  com  a  autu- 
rydade que  lhe  o  papa  dá  per  ese  seu  esprilo,  que  he  caise  contrato, 


Í70  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

em  mfio  de  Vossa  Alteza  íicará  lomar  e  dar  a  parle  que  quizer,  c  dila- 
tar quanto  poder  o  falar  na  parlilha.  E  ja  pode  ser  que  com  as  dilacoes 
acomlemcao  muilas  cousas  :  e  ao  menos  o  que  acomteceo  em  framca  a 
este  mesmo  papa  com  elRey,  que  llie  leixou  por  oulras  taies  decimas, 
deposytadas  de  permeo  pera  as  averem  de  parlyr  pola  metade ;  e,  alar- 
gando se  a  parlilha,  elRey  se  emposeou  de  toda  a  soma  quando  o  empe- 
rador quis  emtrar  em  framca,  dizemdo  que  o  quería  pera  defender  sua 
lera.  E  a  Vosa  Alteza  nom  lhe  fallará  oulro  cerquo  ou  rebales  de  fez  ou 
marocos,  ou  algua  armada  comtra  emfieys,  em  que  lhe  seja  justo  lo- 
mar sua  parle  pu  todo.  E  com  islo,  senhor,  acabo  de  lhe  dizer  o  que  ca 
pasey  e  meu  parecer  no  que  se  no  caso  deue  fazer. 

Noso  senhor  por  muitos  emfimdos  anos  tenha  em  sua  especiall  garda 
a  uida  e  Rcall  pesoa  de  Vosa  Alteza,  com  lamió  acrecenlamento  de  sua 
Reall  coroa  e  maiores  Reinos  e  senhoryos,  quanto  Vosa  Alteza  deseja. 

De  Roma,  aos  xxim  de  dezembro  de  U38.—Dom  pedro  Mascare- 
nhas  l. 


1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mar.  63,  Doc.  86.   Lc-se  em  urna  cota,  que 
tem  ñas  costas:  Recebida  a  xvn  de  Janeiro  em  lisboa. 


FIM  DO   TOMO  TERCEIRO. 


ÍNDICE 


1534  paü. 

Carta  d'cl-re¡  D.  Joao  III  ao  papa  Clemente  VII  acreditando 

D.  Henrique  de  Menezes,  que  ia  a  Roma  para  tratar,  juntamente 
com  D.  Martinho  de  Portugal,  do  estabelecimento  da  inquisieáo, 
e  da  revogaeáo  do  perdáo  gcral  concedido  aos  christáos  novos.  ...       1 

Projecto  de  instruccoes  aos  embaixadores  acerca  dos  dois  nego- 
cios sobredi  los 2 

Apontamentos  sobre  a  forma  em  que  el-rci  desejava  que  se  ex- 

pedisse  a  bulla  da  inquisieáo (> 

Allegaedes  propostas  pelos  embaixadores  contra  a  bulla  do  per- 
dáo geral 11 

Resposta  por  parte  da  curia  ás  allegacoes  precedentes 29 

Outras  respostas  dadas  pelos  theologos  romanos 47 

Marco  4.  Hulla  Gratiae  divinae  praemium  provendo  D.  Diogo  da  Silva 

no  bispado  de  Ceuta 63 

Abril  2.  líreve  Vcnü  ad  nos,  no  qual  Clemente  Vil  expoe  as  razocs,  que 
o  moveram  a  desattender  as  reclamacoes  dos  embaixadores  por- 
tuguezes  contra  o  perdao  geral 64 

Abril  8.  C;irta  de  D.  Martinho  de  Portugal  ao  secretario  de  Estado  ....     71 

Abril  8.  Iireve  Cum  sicut  absol vendo  el-rei  das  censuras  canónicas,  em 
que  livesse  incorrido  pelo  modo  porque  tinha  próvido  certas  com- 
mendas  da  ordem  de  Chrislo 72 

Abril  9.  Breve  Ex  litterarum  excmplo,  prohibindo  ao  nuncio  que  leve 

emolumento  algum  pela  applicacao  da  bulla  do  perdao  geral 7o 


472 


ÍNDICE 


1534 
Abril  10. 


Julbo  26. 


Agosto  19. 


Agosto  21. 

Setembro  3. 
Setembro  3. 

Setembro  3. 


Setembro  25. 


Outubro  4. 


Outubro  13. 


Outubro  13. 
Outubro  29. 


Outubro  29. 

Novembro  3. 
Novembro  3. 


Novembro  3. 
Novembro  3. 

Novembro  3. 


PAG. 

Carta  de  D.  Henrique  de  Menezcs,  na  qual,  alludindo  ao  breve 
de  2  de  abril,  declara  a  sua  opiniao  e  a  do  cardeal  Sanliquatro 
acerca  do  perdao  geral,  e  dá  algumas  noticias  da  Europa 76 

Traduccao  do  breve  Cum  inter  alia,  que  manda  cumprir  a  bulla 
do  perdao  gcral,  embora  nao  estivesse  aínda  publicada  em  Por- 
tugal   . 82 

Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes,  em  que  pede  a  el-rei  que  o 
mande  retirar  de  Roma,  e  lhe  participa  as  melhoras  do  papa,  a 
morte  de  diversos  cardeaes,  etc 84 

Outra  pedindo  novamenle  que  o  mande  recolber  ao  reino,  e 
dando  noticias  do  estado  melindroso  da  saude  do  papa 86 

Outra  ao  mesmo  respeito 87 

Projecto  de  instruccoes  aos  embaixadores  acerca  do  negocio  dos 
christaos  novos 88 

Instruccoes  ao  mesmo  respeito 90 

Novas  allegacoes  dos  letrados  portuguezes  contra  a  bulla  do 
perdao  geral 93 

Apontamentos  para  serem  apresentados  a  Sua  Santidade,  nos 
quaes  se  mencionam  as  modiíicacoes  que  el-rei  propunha  tanto  a 
respeito  da  inquisicao  como  do  perdao  geral 111 

Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  participando  a  el-rei  o  falíe- 
ei mente  de  Clemente  VII,  e  pedindo  instruccoes  para  tratar  com 
o  novo  pontífice 116 

Outra  a  respeito  das  exequias  do  papa;  da  próxima  reuniáo  do 
conclave;  da  diíliculdade  de  tirar  o  habito  de  Christo  a  Duarte 
de  Paz,  etc 117 

Outra  noticiando  o  encerramento  do  conclave;  a  tomada  de  Tu- 
nes por  Barba-roxa;  e  os  apercebimentos  do  imperador  contra 
elle 119 

Outra  participando  ter  sido  eleilo  papa  o  cardeal  Farnesi 120 

Outra  relatando  o  que  elle  e  D.  Martinho  de  Portugal  tinham 
passado  com  o  novo  papa,  Paulo  III,  a  respeito  dos  christaos  no- 
vos, e  principalmente  em  relacao  ao  breve  de  26  de  julho 121 

Outra  acerca  das  razoes  secretas,  que  tinham  movido  Clemente 
VII  a  conceder  aquelle  breve 124 

Monitoria  do  nuncio  suspendendo  a  execucao  do  mesmo  breve.  125 

Bulla  Aequum  reputamus,  concedendo  ao  infante  D.  Henrique 
a  administracao  dos  mosteiros  de  S.  Salvador  de  Paco  de  Souza, 
S.  Miguel  de  Bustcllo,  e  S.  Salvador  de  Moreira 126 

Bulla  Aequum  reputamus  crigindo  o  bispado  de  Angra 129 

Bulla  Gratiae  divinac  praemium  provendo  D.  Agostinho  Ribeiro 
no  bispado  de  Angra 139 

Bulla  Aequum  reputamus  erigindo  o  bispado  de  S.  Thomé. ...  140 


ÍNDICE 


573 


1534  PAG. 

Novembro  3.  Bulla  Gratiae  divinae  praemium  provendo  D.  Diogo  Ortiz  no 

bispado  de  S.  Thomé 1 50 

Novembro  3.  Bulla  Aequum  reputamus  instituindo  o  bispado  de  Goa 151 

Novembro  3.  Bulla  Dudum  felicis  recommendando  a  el-rei  o  infante  D.  Hen- 
rique  como  administrador  dos  tres  mostciros  concedidos  pela  bulla 
da  mesma  data 161 

Novembro  3.  Bulla  Cum  dudum  auctorisando  o  arccbispo  de  Lisboa  e  obispo 
de  S.  Thomé  a  tomarem  o  juramento  de  fidelidade  ao  infante 
D.  Henrique 162 

Novembro  5.  Carta  de  D.  Henrique  de  Menezcs  participando  a  el-rei  a  coroa- 
cao  do  papa  Paulo  ni,  e  que  se  estava  lavrando  o  breve  que  sus- 
pendía o  outro  de  26  de  julho 163 

Novembro  6.  Outra  a  respeito  da  proteccao  que  Duarte  de  Paz  encontrava 

em  Roma,  e  aconselhando  el-rei  a  vir  a  um  accordo  com  o  papa..  16i 

Novembro  10.        Breve  Cum  venerabilem  renovando  os  poderes  do  nuncio  Marco 

della  Ruvere 165 

Novembro  15.  Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  a  el-rei  a  respeito  do  perdao 
geral  e  da  inquisicao,  dizendo  que  o  papa  comettera  a  dois  car- 
deaes  o  exame  de  ambos  os  negocios,  etc 165 

Novembro  16.  Outra  ao  mesmo  respeito,  e  participando  que  Duarte  de  Paz  nao 
quería  comparecer  perante  os  embaixadores,  apesar  das  repelidas 
intimacoes 1 66 

Novembro  22.        Breve  Sacrum  ordinem  recommendando  a  el-rei  a  ordem  de 

Malta 168 

Novembro  26.  Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  acerca  da  inquisicao,  e  di- 
zendo que  o  privilegio  concedido  por  el-rei  D.  Manuel  aos  chris- 
taos  novos  tornava  muito  difficil  a  negociacao  de  que  estava  en- 
carregado,  etc 1 69 

Novembro  26.  Breve  Romanus  Pontifex  suspendendo  o  de  26  de  julho 171 

1535 

Fevereiro  12.  Breve  Ex  tuis  amantissimis  no  qual  o  papa  agradece  a  el-rei  as 

felicitacoes,  que  lhe  mandara  pela  sua  elevacao  ao  pontificado.  . .  17í 

Fevereiro  13.  Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  dizendo  a  el-rei  que  Sanli- 
quatro  lhe  escrevia  a  respeito  dos  relapsos ;  que  elle  tencionava  tam- 
bem  fazel-o  mais  de  espaco  quando  se  resolvesse  o  negocio  da  in- 
quisicao, etc 175 

Fevereiro  15.  Fragmento  de  urna  carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  ao  Conde 
de  Vimioso  queixando-se  de  o  infamarem  impunemente,  e  dizendo 
que  D.  Henrique  de  Menezes  era  muito  suspeitoso 176 

Marco  14.  Carta  do  cardeal  Santiquatro  relatando  o  que  se  passára  acerca 
do  perdao  geral  e  da  concessao  do  tribunal  da  fé,  e  pedindo  a  el- 
rei  que  acceitasse  a  resolucao  tomada  por  sua  santidade 177 

Marco  14.  Carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  remetiendo  a  el-rei  as  deci- 

TOMO  Ilf.  00 


174 


IiNDIGE 


1535  pac. 

soes  finaes  da  Curia;  dando  noticias  do  novo  papa,  e  do  seu  modo 

de  reger  a  ¡greja,  etc 181 

Projecto  de  bulla  de  perdao  geral  aos  christaos  novos 190 

Resolucoes  dos  commissarios  pontificios  a  respeito  da  inquisicao .  202 

Marco  17.  Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  a  respeito  do  modo  por  que 
tinham  sido  resolvidos  os  dois  negocios  sobreditos,  e  lembrando 
a  el-rei  alguns  alvitres  para  neutralisar  os  cffeitos  do  mallogro 
das  negociacoes 210 

Marco  17.  Breve  ínter  cadera,  no  qual  sua  santidadc  expoc  a  el-rei  os  mo- 
tivos, que  o  moveram  a  desattendcr  as  reclamacoes  dos  seus  em- 
baixadores, e  o  exhorta  a  aeccitar  a  resoluciío  que  tomara  no  ne- 
gocio dos  christaos  novos 216 

Marco  17.  Breve  Dudum  postquam  mandando  ao  nuncio  que  promova  a 

execucao  da  bulla  Sempiterno  Regi,  de  7  de  abril  de  J533 218 

Julho  20.  Breve  Cum  sicut  concedendo  aos  christaos  novos  a  liberdade 
de  escolherem  para  seus  procuradores  e  defensores  as  pessoasque 
quizerem 220 

Julho  26.  Breve  Non  dubitamus  narrando  o  procedimento  criminoso  do 
rei  de  Inglaterra  Henrique  vm,  e  pedindo  o  concurso  d'el-rei 
para  tornar  efficazes  as  medidas  de  rigor,  que  ia  tomar  contra 
aquelle  soberano 223 

Carta  d'el-rei  a  D.  Henrique^dc  Menezes  mandando-o  demorar 

por  mais  tres  mezes  na  corte  de  Roma,  para  dar  cumprimento  ás 
novas  instruccoes  que  remettia 225 

Outra  a  D.  Martinho  de  Portugal  aecusando  a  recepcao  dassuas 

cartas,  e  indicando-lhe  o  modo  de  se  servir  das  instruccoes  que 
mandava 226 

Instruccoes  aos  embaixadores  para  incetarem  novas  negociacoes, 

tanto  a  respeito  do  perdao  geral,  como  da  inquisicao 228 

Carla  de  crenca  para  os  embaixadores  pedirem  a  retirada  do 

nuncio 237 

Instruccoes  aos  embaixadores  sobre  a  maneira  de  pedirem  a  re- 

mocao  do  nuncio 238 

Relacao  dos  abusos  commeltidos  pelo  bispo  de  Sinigaglia 239 

Setcmbro  13.  Carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  a  el-rei  aconselhando-lhe  a 
fundacao  de  alguns  conventos  da  Cartuxa,  e  tratando  de  varios  ou- 
tros  negocios 242 

Setembro  13.         Outra  relativa  aos  negocios  dos  christaos  novos,  e  pedindo  a 

el-rei  que  fizesse  sair  de  Roma  Duarte  de  Paz 245 

Outubro  6.  Outra  de  D.  Henrique  de  Menezes  acerca  das  pretencoes  de 

D.  Martinho  de  Portugal  ao  cardcalado 250 

Outubro  12.  Breve  Illius  vices  concedendo  perdao  geral  aos  christaos  no- 
vos  254 


ÍNDICE 


471 


1535 

Novembro  1. 

Dezembro  10. 

Dezembro  16. 

Dezembro  17. 

Dezembro  17. 

Dezembro  27 

1536 

Janeiro  17. 

Fevereiro  3. 

Marco  1. 

Maio  2. 

Maio  3. 

Maio  23. 

Maio  26. 

Maio  28. 
Junho  2. 
Junho  10. 

Junho  12. 


PA6. 

Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  a  respeito  das  pretencoes  de 
D.  Martinho  de  Portugal ;  da  remocao  do  nuncio,  etc 274 

Carta  do  cardeal  Sanliquatro  assegurando  a  el-rei  que  D.  Mar- 
tinho de  Portugal  nao  alcancaria  o  capello  de  cardeal,  que  pre- 
tendía   278 

Oulra  dizendo  que  D.  Martinho  de  Portugal,  a  occultas  do  scu 
collega  e  d'elle  cardeal,  aconselhára  sua  santidade  a  mandar  pu- 
blicar o  perdao 279 

Outra  participando  a  el-rei  que  D.  Martinho  de  Portugal  pos- 
suia  um  breve  concernente  ao  cardcalado,  passado  em  vida  do  papa 
Clemente  vn 280 

Breve  Hodie  dilcctus  (Mus  pedindo  a  el-rei  que  empregasse  a 
sua  influencia  para  resolver  o  imperador  a  mandar  partir  sem  de- 
mora a  expedicao  contra  o  turco 281 

Carta  de  Alvaro  Mendes  de  Vasconcellos  participando  a  el-rei 
a  chegada  de  D.  Henrique  de  Menezes  a  Ñapóles,  e  o  que  ambos 
tinham  passado  com  o  imperador  a  respeito  da  inquisicao 283 

Outra  de  D.  Henrique  de  Menezes  ao  mesmo  respeito 286 

Fragmento  de  urna  carta  de  Alvaro  íMendcs  de  Vasconcellos. . .  288 

Carta  do  bispo  de  Sinigaglia  (talvez  a  Ambrosio  Ricalcali,  se- 
cretario particular  do  papa)  a  respeito  de  certo  contracto  secreto 
que  fizera  com  os  christaos  novos 290 

Carta  do  cardeal  Santiquatro  a  el-rei  a  respeito  de  diflerentes 
negocios  de  que  tratara 298 

Carta  de  D.  Henrique  de  Menezes  a  el-rei  acerca  do  provimenlo 
de  varios  beneficios  ecclesiasticos 301 

Bulla  Cum  ad  nihil  magis  estabelecendo  definitivamente  a  in- 
quisicao   302 

Breve  Cum  dilectus  ftlius,  no  qual  sua  santidade  dá  a  el-rei  os 
pezames  pela  morte  de  um  íilho;  falla  ñas  esperancas  que  tinha 
de  que  Henrique  vm  voltasse  ao  gremio  da  egreja  catholica  ;  e  re- 
commenda  D.  Henrique  de  Menezes,  que  recolhia  ao  reino 307 

Carta  do  cardeal  Sanliquatro  a  el-rei  acerca  da  revisao  do  pro- 
cesso  da  legilimidade  de  D.  Martinho  de  Portugal,  etc 309 

Bulla  Ad  dominici  gregis  annunciando  a  abertura  do  concilio 
geral  em  Mantua  para  o  dia  23  de  maio 312 

Carta  de  Alvaro  Mendes  de  Vasconcellos  participando  a  el-rei  a 
concessao  do  tribunal  da  fé;  pedindo-lhe  que  escolhesse  urna  pes- 
soa  importante  para  representar  Portugal  na  corte  de  Roma;  etc. .  316 

Breve  Exponi  nobis  fecit  commettendo  aos  bispos  de  Lamego, 
Sant'Iago  e  S.  Thomé,  a  decisáo  da  causa,  em  que  D.  Martinho 
de  Portugal  tentava  provar  a  legitimidade  do  seu  nascimento. ...  318 

60* 


i  76 


LNDICE 


1536  pag. 

Julho  20.  Carta  d'el-re¡  participando  a  sua  santidade  a  lomada  de  Dio. . .  322 
Outra  ao  cardeal  Santiquatro  agradecendo-lhc  a  parte  que  to- 
mara na  resolucao  do  negocio  da  inquisicao;  desculpando-se  de 
nao  Ihe  fazer  a  vontade  no  que  dizia  respeito  aDuartede  Paz,  etc.  329 

Outra  recomtnendando  a  Pedro  de  Souza  de  Tavora  que  procu- 

rasse  obter  com  brevidade  a  dispensa  necessaria  para  o  casamento 

do  infante  D.  Duarte  com  D.  Isabel  filha  do  duque  de  Braganca.  .  333 

Outra  ao  mesmo  para  promover  o  bom  despacho  de  certas  cou- 
sas, que  pedia  a  sua  santidade 334 

Agosto  25.  Bulla  Gregis  dominici  desmembrando  do  arcebispado  do  Fun- 

chal  as  igrejas  pertencentes  á  vigararia  de  Thomar 336 

Setembro  5.  Breve  da  penitenciaria  apostólica  absolvendo  cl-rei  das  censuras 
canónicas,  em  que  tivesse  incorrido  por  mandar  demolir  urna  ca- 
pella  em  Evora  para  poder  passar  o  acqueducto 345 

Dezembro  24.        Breve  Praeter  eam  curam,  no  qual  Paulo  m  pede  a  el-rei  que 

dé  crédito  ao  que  da  sua  parte  lhe  disser  o  nuncio  Ricenati 347 

Dezembro  24.  Breve  Licet  quemadmodum,  no  qual  sua  santidade  participa  a 
el-rei  que  remette  pelo  nuncio  a  bulla  da  convocaeao  do  concilio, 
e  lhe  pede  que  faca  concorrer  a  elle  os  seus  embaixadoies  c  os 

prelados  do  reino 347 

1537 

Janeiro  9.  Breve  Cum  nos  te  auctorisando  o  nuncio  a  fiscal isar  o  procedi- 
menlo  dos  inquisidores,  avocando  a  si  qualquer  processo,  contra 
o  qual  houvesse  fundadas  reclamacoes,  etc 318 

Janeiro  27.  Breve  da  penitenciaria  apostólica  dispensando  o  parentesco  do 

infante  D.  Duarte  com  a  filha  do  duque  de  Braganca 350 

Janeiro  31 .  Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  dizendo  a  cl-rei  que  sua  san- 
tidade expedía  um  correio  com  a  resposla  acerca  das  duas  decimas 
impostas  nos  rendimentos  ecclesiasticos 351 

Fevereiro  7.  Breve  Superioti  anno  (?)  no  qual  o  pontífice  promelte  a  el-rci 
demorar  até  á  chegada  do  nuncio  a  Lisboa  qualquer  providen- 
cia, que  houvesse  de  tomar  a  respeito  da  inquisicao,  contra  a  qual 
recebia  continuas  qucixas 352 

Fevereiro  7.  Breve  Dilecíus  ftlius  no  qual  sua  santidade  pede  ao  infante 

D.  Affonso  que  acredite  o  que  o  nuncio  lhe  disser 353 

Fevereiro  7.  Breve  Quoniam  in  negotio  dando  ampios  poderes  ao  nuncio  para 
fiscalisar  o  procedimento  do  tribunal  da  fé,  c  até  para  suspen- 
dcl-o,  se  lhe  disputar  a  competencia 353 

lnslrucc,oes  ao  nuncio  Ricenati  acerca  da  inquisicao 354 

Fevereiro  17.  Outras  ¡nslruccoes  sobre  o  modo  de  se  apresen  lar  na  corte,  e 

de  tratar  os  differentcs  nc^ocioj  de  qi:e  vinha  cncarregado 355 

Abril  11.  Bulla  Ilegimini  universutis  ecclesiuc  pro\cndo  D.  Joao  d'Albn- 

querque  no  bispado  de  Coa S61 


ÍNDICE 


4T 


1537  pAG. 

Abril  12.  Carta  do  Pedro  de  Souza  de  Tavora,  na  qual  falla  da  repugnan- 
cia com  que  o  pontífice  provera  D.  Joao  d'Albuquerque  no  bis- 
pado  de  Goa;  diz  que  o  concilio  já  nao  se  reunía  em  Mantua;  e 
dá  varias  noticias  das  guerras  de  Italia 368 

Abril  20.  Outra  com  differentes  noticias  políticas,  e  transcrevendo  o  dis- 
curso fcito  por  sua  santidade  em  consistorio  a  respeito  dos  moti- 
vos, que  impediam  a  reuniao  do  concilio  em  Mantua 372 

Abril  23.  Breve  Non  dubitamus  adiando  para  o  1.°  de  novembro  a  reuniao 

do  concilio  geral 377 

Abril  24.  Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  dizendo  a  el-rei  que  Ihe 
remettia  urna  carta  escripta  por  Francisco  i  aos  eleitores  do  Im- 
perio   , 379 

Abril  24.  Breve  da  penitenciaria  apostólica  concedendo  varias  faculdades 

ao  bispo  de  Goa 379 

Maio  18.  Outro  dando  varios  poderes  ao  mesmo  bispo 384 

Julho  12.  Bulla  Considerantes  et  animo  revolventes  impondo  duas  decimas 

nos  rendimentos  ecclesiasticos 386 

Julho  19.  Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  a  el-rei  a  respeito  da  guerra 
de  Italia;  das  versoes  que  corriam  acerca  do  casamento  do  infante 
D.  Luiz,  etc 393 

Julho  19.  Outra  relatando  os  movimentos  do  turco,  segundo  as  informa- 

cocs  que  lhe  dera  um  captivo  fúgido,  chamado  Alvaro  Madeira.. .  396 

Julho  29.  Outra  recommendando  o  mesmo  Alvaro  Madeira,  que  partia 

para  o  reino 398 

Agosto  24.  Bulla  Gratiae  divinae  praemium  provendo  D.  Goncalo  Pinheiro 

no  bispado  de  Saphim 398 

Agosto  30.  Breve  Recepimus  litteras  desculpando-se  de  nao  poder  conceder 
a  el-rei  a  liberdade  de  escolher  os  prelados,  que  deviam  concor- 
rer ao  concilio,  c  pedindo-lhe  que  fizesse  partir  os  que  nao  tives- 
sem  absoluta  impossibilidade 399 

Agosto  30.  Breve  Superioribus  diebus  pedindo  a  el-rei  que  désse  ao  nuncio 
todo  o  auxilio  necessario  para  verificar  a  arrecadacao  das  duas  de- 
cimas impostas  nos  rendimentos  ecclesiasticos 401 

Agosto  31.  Breve  Dudum  a  nobis  revalidando  e  explicando  o  de  20  de  julho 

de  1535 402 

Outubro  18.  Breve  Prorogaíionem  universalis  concilii annunciando  para  o  pri- 

meiro  de  maio  futuro  a  abertura  do  concilio  geral  em  Viccnza. .  404 

Novembro  15.  Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  relatando  a  el-rei  o  que 
passara  a  respeito  da  imposicao  das  duas  decimas,  e  dando  noti- 
cias da  guerra  de  Italia,  etc 406 

Dezembro  29.         Cartas  de  crenca  e  inslruccoes,  que  levou  o  novo  embaixador 

D.  Pedro  Mascarenhas. . . , , 412 


Í78 


ÍNDICE 


1538 
Janeiro  7. 


Janeiro  20. 


Abril  10? 


Abril  26. 
Maio  22. 

Maio  31. 


Setembro  1  6. 
Setembro  16. 

Setembro  23. 
Setembro  23. 
Setembro  23. 

Setembro  28. 
Novembro  29. 


PAG. 

Bulla  Dudum  ad  fidei  explicando  o  sentido  de  outra  de  Leáo  x, 
que  concederá  a  el-rei  D.  Manuel  e  seus  succcssorcs  as  decimas 
dos  fructos,  que  se  colhessem  no  paúl  de  Muge,  e  cm  outros 
quaesquer  que  reduzissem  a  cultura 429 

Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  a  respeito  da  prizao  do  se- 
cretario particular  do  papa;  dos  esforcos  que  sua  santidade  fazia 
para  congracar  o  imperador  com  o  rei  de  Franca;  e  dasduas  deci- 
mas ecclesiasticas 432 

Carta  d'el-rei  a  D.  Pedro  Mascarenhasencarregando-o  de  pedir 
ao  pontífice  que  lhe  permittisse  dispor  do  producto  das  duas  de- 
cimas, e,  por  tres  annos,  de  todas  as  rendas  dos  beneficios  que  va- 
gassem;  bem  como  que  o  auctorisasse  a  vender  a  jurisdiccao  de 
vassallos,  que  tinham  os  arcebispados,  bispados,  e  conventos  do 
reino,  e  a  converter  em  prazos  fateosins  os  prazos  em  vidas  per- 
tcncentes  ás  mesmas  corporacoes 433 

Breve  Quarto  jam  scribimus  instando  pela  partida  do  infante 
D.  Affonso  para  o  concilio 437 

Breve  Dicet  magestati  tuae,  no  qual  o  pontífice  pede  a  el-rei 
que  dé  crédito  ao  que  o  nuncio  lhe  disser  a  respeito  da  partida 
dos  prelados  para  o  concilio 438 

Bulla  Personara  tuam  provendo  o  infante  D.  Henrique  no  prio- 
rado  do  mosteiro  de  S.  Martínho  de  Cáramos 439 

Carta  d'el-rei  a  D.  Pedro  Mascarenhas  recordando  as  instruc- 
coes  anteriores  a  respeito  da  applicacao  do  producto  das  duas  de- 
cimas; da  escolha  dos  prelados,  que  deviam  concorrer  ao  conci- 
lio ;  do  provimento  dos  beneficios  que  vagassem,  etc 442 

Breve  Personam  tuam  provendo  o  infante  D.  Henrique  no  prio- 
rado  de  S.  Martinho  de  Cedofeita 447 

Bulla  Hodie  dilecto  filio  mandando  ao  bispo  de  Caserta  e  aos  vi- 
garios  geraes  do  Porto  e  de  Evora,  que  deem  posse  ao  infante 
D.  Henrique  do  mosteiro  de  Cedofeita 450 

Bulla  Gratiae  divinae  praemium  provendo  D.  Manuel  de  Souza 
no  bispado  de  Sihes 451 

Bulla  Gratiae  divinae  praemium  provendo  D.  Joao  no  bispado 

de  Sant-Iago  de  Cabo-verde 452 

Bulla  Romani  J'onti/icis  concedendo  ao  infante  D.  Henrique  a 
administracao  dos  mosteiros  de  S.  Salvador  de  Travanca  e  de  S.  Pe- 
dro de  Pedroso 453 

Breve  Exponi  nobn  nuper  perniittindo  aos  ccclesiaslicos  exer- 
cerem  as  funecoes  de  desembargadores  do  Pac,o 455 

Carta  de  Pedro  de  Souza  de  Tavora  a  el-rei  defendendo-sc  de 
ter  acceitado  os  beneficios  vagos  por  morte  do  bispo  D.  BrazNeto, 
dos  quaes  sua  santidade  lhe  fizera  mcrce 456 


ÍNDICE  479 

1538  pac. 

Dezembro  22.  Breve  Cuín  nuper  dispensando  o  arcebispo  do  Funchal  de  con- 
correr ao  concilio 459 

Dezembro  23.  Carta  do  cardeal  Santiquatro  a  el-re¡  relatando  o  que  se  passára 
cotn  o  papa  acerca  da  imposicao  das  duas  decimas  nos  rendimen- 
tos  ecclesiasticos,  e  da  applicacao  das  sommas  que  ellas  produ- 
zissem 460 

Dezembro  24.        Carta  de  D.  Pedro  Mascarenhas  dando  conta  do  modo  porque 

cumprira  as  suas  instruccoes 463 


ERRATAS. 

PAG.      LIN.     EM  LOGAR  DE  LÉA-SE 

18  30    at et 

20  3    acculta occulta 

22  8    et di 

28  6    Inquisizione Inquisitore 

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57  21    consitio consilio 

69  29    voluissimus voluissemus 

71  12    tua tuae 

111  15    bem  suas bem  de  suas 

139  1     Breve *. Bulla 

150  6    Breve Bulla 

151  10    quingentésimo  quarto quingentésimo  trigésimo  quarto 

161  1     Breve Bulla 

162  1     Breve Bulla 

170  Nota  Arch.  Nac.  Part Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Parí. 

171  27    ragionis regionis 

175  Nota  1  Reynaldo Raynaldo 

178  21     igni ogni 

184  11     nom non 

216  26    charissimes charissime 

217  15    quisset quisisset 

»  19    iuta uita 

219  11    intentebamus intendebamus 

234  17    santto sancto 

240  7    nomeáram nomearám 

242  31    com  a com  as 

290  13     Cnristiane Cliristiani 

307  Nota       Fica  de  nenhum  valor  a  obsérvamelo  relativa  á  remessa  da  bulla, 
em  vista  do  breve  de  26  de  mato  do  mesmo  anno. 

326  25    itut itaut 

327  36    Magores Mogores 

328  29    dignitatus dignatus 

336  28    iugitur iugiter 

350  3    ceterisque ceterisque 

»  9    Illustribns Illustribus 

351  7     Ceterisqne Ceterisque 

358  18    riccherze ricchezze 

365  25    lurgitur largitur 

367  7  e  8  domino  nostrum  nostro domino  nostro 

375  23    nosso nossa 

398  21     Saphienis Saphiensi 

»  22    Saphiensi Saphiensis 

400  8    commetti committi 

410      17    apitetos 1 apetitos 

448  15    enmmunem. cummunem 

NB.  Nao  se  corrigiram  os  erros  de  pontuacao. 


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i 


JX  Academia  das  Sciencias  de 

821  Lisboa 
A4         Corpo  diplomático 

t.3  portugués 


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